terça-feira, 16 de novembro de 2010

Navegador dos sete mares - Amyr Klink

ENTREVISTA: NAVEGADOR DOS SETE MARES



A bordo do veleiro Paratii2, o navegador Amyr Klink e tripulação acabam de concluir uma volta ao mundo sem escalas. Admirado por enfrentar águas geladas e pelo sucesso de seus projetos, o comandante diz levar uma vida normal.

Você acaba de concluir, com sucesso, uma nova circunavegação polar. como foi?

Maravilhosa. Cruzamos todos os meridianos - uma volta ao mundo dentro da convergência antártica - e vencemos, sem escalas, os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. Foi uma viagem de muitos riscos, pois ocorreu numa região sem registros de navegação. É legal ver que vencemos o desconhecido. Mas também é uma alegria que dura pouco. Já estou pensando em novos projetos.

Quais foram os momentos mais marcantes dos 76 dias de viagem?

Foi interessante colocar em prática tantas novidades que tínhamos pensado para o barco e foi também uma viagem surpreendente. Eu já tinha passado mais de dez vezes pelo estreito de Lemaire, mas nunca tinha visto uma série de coisas que vi agora. Sofremos congelamento de água salgada sobre o barco, navegamos em campos oceânicos de gelo e vimos as explosões de auroras austrais.

O desejo de explorar é inerente ao homem?

Sim e não. Todos temos tendência de ser exploradores, mas muitos apagam essa vocação. É triste que ao longo da vida a curiosidade de conhecer coisas novas desapareça, pois ela é essencial no espírito da exploração. Na viagem ficou claro isso. Tivemos ao todo nove tripulantes, entre os quais estiveram os dois piores com os quais já viajei até hoje. A falta de curiosidade fez com que se entregassem ao medo.

O que leva as pessoas a fazer coisas inéditas?

Acho que é a curiosidade, o interesse que traz consigo a coragem para enfrentar obstáculos.

Há quem diga que só a ciência confere valor a uma expedição. do contrário, é excursão.

Sem dúvida. Concordo plenamente com essa afirmação. Eu mesmo fiz mais excursões que expedições. Hoje procuro ter uma atitude científica desde antes da viagem propriamente dita. Meus projetos exigem investigação técnica, pesquisa, planejamento. É uma pena que no Brasil se dê tão pouco valor ao modo como se faz. Só se procura saber o resultado. Eu me orgulho muito de todo o processo de preparação e planejamento das minhas viagens, pois é ele que garante um resultado positivo no final. Ou seja, é fundamental.

Existe espaço para a improvisação?

Sim. Minhas viagens não são um processo totalmente científico nem completamente linear. Não acho ruim a improvisação. O risco é contar com ela, se apoiar nela. A gente tem improvisado com sucesso, porque gastou tempo se preparando.

Quando você decidiu ser um navegador?

Na infância. Sou filho de pai libanês e mãe sueca e em casa falávamos muitos idiomas. Ainda pequeno decidi que queria aprender inglês e francês e comecei a estudar com afinco. Além de literatura, passei a ler relatos marítimos e assim descobri histórias de muitos barcos que eu havia visto passar por Paraty, região que freqüentava. Naquela época, ainda adolescente, eu já tinha o sonho secreto de construir um veleiro para ir à Antártida.

Hoje, você também é escritor. tem alguma outra atividade que gostaria de fazer?

Se eu tivesse todo o dinheiro do mundo, estaria fazendo exatamente o que faço. Ao contrário do que muitos pensam, levo uma vida comum. Tenho 48 anos, sou casado, tenho três filhas, declaro Imposto de Renda, pago conta. O que pode ser que eu tenha de diferente é a oportunidade de levar uma vida simples, mas não monótona. Exerço muitas profissões nos meus projetos. Só poderia trabalhar em outra coisa que tivesse todas essas características. Quem sabe, na construção civil.

Amyr Klink

- Desde os 10 anos coleciona canoas antigas

- Economista, fazia análises financeiras num banco antes de virar aventureiro

- Casou-se em 1996 com Marina Bandeira, mãe de suas três filhas
- Com o pai, empresário libanês, aprendeu a não ter apego pelos bens materiais

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