domingo, 17 de junho de 2012

Vírus Ameaçam os Computadores - Informática


VÍRUS AMEAÇAM OS COMPUTADORES - Informática

 

Eles são introduzidos sub-repticiamente nos programas. Mais tarde, sob determinadas condições, começam a agir, fazendo piadinhas ou apagando tudo que estiver registrado na memória. Contra eles já se mobilizam governos e corporações, em busca de antídotos e vacinas. Ele está programado para destruir. Para isso, aloja-se entre os milhares de linhas algorítmicas que instruem a ação da computador. Quando ninguém espera, ele toma conta do cérebro eletrônico e destrói toda a inteligência que está armazenada. Numa fração de segundo, uma poderosa máquina de processamento de dados se apaga. Sua memória se esvazia. Por incrível que pareça, tal poder de destruição está contido em umas poucas linhas de instrução de um programa de computador - ou software. Todos os computadores estão sujeitos à infecção, mesmo os maiores, mais sofisticados e modernos. Isso justifica o alarme dos cientistas e técnicos de grandes empresas, como a IBM, e órgãos de defesa estratégica das grandes potências. Eles se preparam para um novo conceito de guerra, uma guerra que não mobiliza soldados nem canhões nem mísseis. Uma guerra silenciosa e rápida, mas que pode pôr o mundo num verdadeiro caos. É a softwar. Se algum dia for desencadeada, pode parar todo o sistema de telecomunicações de um país, levar à falência grandes conglomerados financeiros, interromper os meios de transporte de massa e até mesmo apagar todo o conhecimento científico armazenado em bancos de memória eletrônica. Enfim, parar tudo, como se desligasse uma chave de força. Os computadores são, a rigor, máquinas de cálculo que utilizam falsas chaves de liga (on) e desliga (off) como meio de linguagem para entender e processar dados. On é representado pelo número 1 e off pelo número 0. É o que se chama linguagem binária. Uma seqüência de oito zeros e uns é utilizada para expressar cada letra, número ou pontuação existente no teclado do computador. Cada um desses zeros e uns é chamado bit. Cada seqüência de oito bits é chamada byte. Uma das razões de os primeiros computadores terem sido tão grandes a ponto de ocupar o espaço de grandes salas é que era preciso uma válvula eletrônica para cada bit. Certa vez, uma mariposa voou para dentro de um daqueles velhos gigantescos computadores - e o colocou fora do ar. Daí se originou o termo bug, que em inglês também significa inseto pequeno. "Bug" hoje em dia é o termo utilizado para indicar que há um problema em um programa. E "debugging" é a arte de limpar um programa. Um computador é uma máquina ignorante e sem qualquer utilidade, a menos que seja minuciosamente instruído. Só assim ele mostrará suas extraordinárias qualidades: a capacidade de armazenar informações (memória) e uma grande velocidade para trabalhar com elas. A inteligência dessa máquina está apenas no programa (ou software) que lhe damos, isto é, nas instruções que "ensinam" a máquina a fazer um trabalho. Os termos software e hardware já se confundem nos modelos mais modernos, que saem da fábrica com um programa armazenado em seu interior. São chamados firmware. Cada novo avanço obtido na técnica da computação aumenta sua utilidade para a sociedade. Computadores controlam o tráfego nas grandes cidades, os metrôs, os bancos, as redes telefônicas, as grandes lojas e os supermercados. Hoje nossa vida depende mais de um computador do que ontem e certamente dependerá ainda mais no futuro. Não existe volta. A sociedade de hoje não seria o que é sem a ajuda de centenas de milhares de computadores espalhados pelo mundo. Todos eles, independentemente de quem os fabricou e que configuração tenham, trabalham da mesma forma. São máquinas que executam tarefas numa velocidade cada vez maior, alimentadas por programas que qualquer pessoa pode criar. E aí está seu ponto fraco. Nada impede, teoricamente, que alguém instrua o computador do metrô a "esquecer" os freios quando chegar na estação final. Ou que, na calada da noite, "entre" no programa do computador do banco e o instrua a somar mensalmente todos os centavos de milhares de contas e depositá-los na sua própria conta. Ou então, pior: instrua os computadores do Banco Central a destruir suas memórias em determinado dia e hora. Seria o caos. Crimes desse tipo já vêm acontecendo há algum tempo - felizmente ainda em pequena escala. A arma utilizada são os chamados "programas destrutivos", ou "vírus" de computador. A primeira aparição desse tipo de software, ou softbomb, como alguns o chamam, aconteceu no início dos anos 70. Certo dia se descobriu que o sistema computadorizado de comunicações do Departamento de Defesa dos Estados Unidos estava infiltrado por um pequeno programa-vírus, apelidado de "creeper" (aquele que se move furtivamente). Para acabar com o creeper foi escrito um programa destinado a procurar e destruir, apelidado de "reaper" (ceifador). Mais tarde surgiram os "cavalos de Tróia", programas que, quando introduzidos num grande sistema de computação, funcionam como uma bomba-relógio, esperando que alguém digite determinada palavra-chave que detona uma instrução maligna para o computador. A forma mais avançada desses vírus foi criada por Fred Cohen, da Universidade de Cincinnati, Ohio (EUA). Quando era aluno de pós-graduação, em 1983, ele demonstrou como um programa-vírus atuaria. Mais tarde, chegou a discutir seus conceitos durante uma conferência sobre segurança na International Federation of Information Processing Societies, em Toronto (Canadá). Em Israel, onde já ocorreram algumas "infecções" violentas, esses programas destruidores estão sendo chamados agora de software-AIDS. Tais programas, que podem ocupar o espaço de algumas linhas da tela de um monitor, são "inoculados" geralmente via telefone. De posse de um micro e um modem (pequeno aparelho que conecta o computador à linha telefônica), uma pessoa pode fazer um vírus chegar a um grande computador localizado em qualquer parte do mundo. Basta que tenha um programa-vírus, o número telefônico da instituição na qual quer entrar e um pouco de paciência. Inicialmente o que se processa é uma pequena apresentação entre os dois computadores. Quando se disca o número desejado, o micro na verdade vai bater à porta do computador visado. Este, ao abri-la, isto é, ao atender à chamada, estará perguntando quem deseja entrar. Essa pequena conversação inicial já é o bastante para que se tenha acesso ao sistema primário do computador. Para ir adiante, ter acesso aos arquivos confidenciais, é necessário conhecer uma senha, que em muitos lugares é alterada semanalmente. Aí é que começam a atuar os programas-vírus. Por meio de um comando faz-se com que o grande computador grave na sua memória primária - aquela que começa a funcionar logo que ele é chamado - um pequeno programa que imita a tela de apresentação do sistema. É como se você quisesse entrar num determinado lugar e precisasse dizer ao porteiro uma senha. Como você não a tem, um recurso é você colocar um amigo no lugar do porteiro a fim de que ele anote as senhas das pessoas que têm autorização para entrar. A mesma coisa acontece no caso do programa-vírus. Quando alguém autorizado tenta entrar no sistema, vê aparecer em sua tela de computador o mesmo de sempre - uma saudação e o pedido para que digite sua senha. O usuário faz isso - no nosso caso, em vez de dizer a senha ao porteiro, na verdade ele a diz ao amigo do pilantra que quer invadir o sistema. Depois de recebida a senha, o programa pirata faz cair a ligação - um acidente razoavelmente comum em toda parte - e então o usuário precisa começar tudo de novo, sem desconfiar de nada. Naturalmente, o programa pirata não vai importuná-lo de novo, pois já possui a senha. Ao final de alguns dias, o vírus está de posse de uma coleção de senhas. O programador criminoso, então, liga para o computador e, por meio de um comando que só ele conhece, faz com que o vírus relacione todas as senhas registradas. O resto é como tirar pirulito de uma criança. Tendo acesso a vários arquivos reservados, basta introduzir em suas linhas de comando novos vírus que agirão como bombas-relógio: detonarão quando acionados por um determinado comando ou informação prestada ao computador. Há alguns meses, por exemplo, todos os usuários do computador Macintosh, da Apple Computer, se assustaram quando o ligaram e viram surgir na tela uma mensagem de feliz aniversário. Naquele dia, a marca Macintosh fazia cinco anos e os programadores da Apple Computer haviam colocado na memória residente da máquina - no chip do computador que já sai da fábrica com um programa operacional que não pode ser apagado - uma mensagem de feliz aniversário, programada para surgir na tela quando o relógio eletrônico do computador marcasse a data. Pessoas familiarizadas com sistemas de grandes computadores já conhecem o poder destrutivo de outro vírus aquele que já vem gravado em disquetes "envenenados". Bancos, companhias de seguro e instalações militares americanas vivem com medo de que um funcionário despedido tenha envenenado algum disquete como forma de se vingar dos ex-chefes. Estima-se que, apenas nos Estados Unidos, já foram gastos 30 bilhões de dólares (9,5 bilhões de cruzados ao câmbio de julho) para cobrir prejuízos que certas instituições tiveram com danos causados por esse tipo de sabotagem. A evidência de que esse problema é mais sério do que parecia a princípio é que várias empresas e instituições governamentais de alguns países já têm equipes de técnicos dedicados integralmente ao trabalho de criar defesas contra esse inimigo invisível. Quais são as "vacinas" que podem imunizar um sistema contra esses vírus? Um dos projetos de vacina considerados mais interessantes pelos especialistas é o da empresa americana Sophco, que decidiu criar uma vacina depois que ela própria sofreu danos causados por um vírus. O computador da Sophco "pegou" o vírus ao acessar um BBS - Boletim Board System, um banco de recados e programas de domínio público. Ao copiar um programa chamado SEX.EXE, que ao ser rodado reproduzia graficamente a imagem de um casal fazendo amor, não sabiam que trouxeram junto algumas linhas de um programa-vírus. O programa SEX.EXE ficou gravado num disco rígido - disco com grande capacidade de memória, que pode armazenar centenas de programas. Depois de uma semana, quando o programa foi reativado, começou a apagar todo o conteúdo do disco rígido. A Sophco então desenvolveu três vacinas: Syringe.EXE, Canary e Infect. A primeira é uma vacina propriamente dita, que impede qualquer alteração na estrutura de um programa sem prévia autorização. A segunda é um programa que põe de quarentena um disco suspeito de infecção. A terceira é um vírus benigno usado para testar outros programas. A rigor, este último é que faz o trabalho mais curioso, utilizando a técnica do "debugging", isto é, percorre linha por linha do programa procurando um "corpo estranho". É um trabalho semelhante ao de um contador, que refaz todas as contas de um livro-caixa para saber se o resultado final está certo. Nem mesmo a grande IBM ficou imune a essa epidemia. No ano passado, apareceu um vírus no sistema de comunicação internacional da companhia e se autocopiou em todos os sistemas que pôde infectar. Quando ativado, ele desenhava uma árvore de Natal na tela e pedia que uma tecla fosse digitada para apagar o desenho. A IBM se viu obrigada a deslocar vários técnicos para fazer um trabalho manual de limpeza do sistema. E algumas software-houses - empresas que fazem e vendem software - já estão oferecendo gratuitamente programas-vacina, como a CompuServe, com seu C4Bomb. Mas o operador de sistemas da própria CompuServe faz um alerta: os programas-vacina não são infalíveis. Como a imaginação é um ingrediente essencial para um programador criminoso "bolar" um vírus, fica difícil se antecipar à forma como ele vai se introduzir e se esconder entre os milhares de linhas de um programa de computador. Assim se conversa com um computador Existem várias linguagens utilizadas para escrever programas e rodá-los nos computadores. Diz-se rodar um programa porque ele vem gravado em disquete. A linguagem mais simples na informática e chamada Basic e se parece muito com essa seqüência de instruções:01 Limpe a tela02 Desça o cursor três linhas, e horizontalmente ande cinco espaços03 Escreva "Qual o seu nome?" e permaneça na mesma linha. Espere pelo que será digitado pelo teclado e guarde na memória como se fosse N$04 Escreva na tela o que foi digitado como N$05 Escreva "Seu nome está correto? (S/N)". Espere pelo S ou N. Pegue a resposta e guarde na memória como se fosse A$06 Se a resposta for N, então você começa tudo de novo. Portanto. volte à linha 0207 Se a resposta não for N, então o nome deve estar certo; portanto, escreva na tela "Foi um prazer conversar com você". Escreva o nome N$, espere na mesma linha e escreva um ponto (.)Todas essas instruções, escritas em Basic, ficariam assim:10 HOME20 VTAB 3: HTAB 530 PRINT "QUAL O SEU NOME?";: INPUT N$40 PRINT N$50 PRINT "SEU NOME ESTÁ CORRETO? (S/N)";: INPUT A$ 60 IF A$ = "N" THEN GOTO 20 70 PRINT "FOI UM PRAZER CONVERSAR COM VOCÊ,"; N$; "."Agora, se alguém entrasse num computador que tivesse esse programa e digitasse35 IF N$ = "PEDRO" THEN PRINT "VOCÊ É IDIOTA" o computador colocaria essa linha de instrução entre as de números 30 e 40. Ela ficaria armazenada e sem ação até o dia em que o usuário do programa se chamasse Pedro. Coitado dele.

MUNDO BRANCO - Lugares

 

Antártida: 14 milhões de quilômetros quadrados, 10 por cento de toda a terra do planeta, centenas de espécies animais. Antártida. O próprio nome já causa confusão (não seria Antártica?). Os gregos chamavam o pólo norte de Artikos, ou seja, "da ursa", pois a constelação da Ursa Maior fica naquela direção. O pólo oposto era, então, o Antartiko. Na evolução da língua portuguesa, o substantivo grego Antartiko virou Antártida. Mas o adjetivo permaneceu grego, como em vento antártico, por exemplo. Apesar do nome antigo, é um dos últimos lugares do planeta ainda relativamente inexplorados. Sua área é pouco menor que a da, América do Sul, metade da área da África, o dobro da Austrália e pouco maior que a Europa. Tendo-se originado de uma fragmentação do supercontinente de Gondwana, há 250 milhões de anos, a Antártida possui características geológicas comuns aos demais continentes do hemisfério sul. O solo antártico parece conter jazidas de berílio, níquel, cobre, manganês, cobalto, platina, prata, titânio e ouro, os mesmos minerais existentes na cordilheira dos Andes e na África do Sul. Da mesma forma, seus vulcões ativos, como os da ilha de Decepção e o monte Erebus, fazem parte do chamado círculo de fogo do Pacífico. Nos Vales Secos, as condições climáticas são semelhantes às de Marte, daí sua importância para pesquisas. São regiões tão frias e secas que uma bolha de sabão congela-se no ar. Por enquanto, é economicamente inviável a exploração das riquezas antárticas, pelo rigor do clima. É uma pena: contendo quase 95 por cento da água doce do mundo, na forma de gelo, a Antártida poderia servir de fonte a todos os rios da Terra. Eles correriam durante mil anos, antes de esgotar essa imensa reserva. Só para ter uma idéia, um único iceberg (massa de gelo flutuante), fotografado em 1977, media 2275 quilômetros quadrados (equivalentes ao dobro da área do Rio de Janeiro). Apenas esse iceberg poderia fornecer água para uma cidade como o Rio de Janeiro durante três anos. À medida que o continente antártico se afastava dos trópicos, aproximando -- se do pólo sul, a temperatura e o clima também se modificavam. Os animais tiveram de se adaptar às novas condições. As focas de hoje descendem de animais terrestres que viveram próximo ao mar há mais de 30 milhões de anos. Junto com os cetáceos, os pinípedes, ou seja, animais com os pés em forma de barbatana, são os mamíferos que melhor se ajustaram à água e ao frio. Algumas focas chegam a possuir uma camada de gordura, que serve de isolante térmico, de 7,5 centímetros de espessura. O frio intenso obriga também os animais a obedecer rigorosamente às estações do ano, tendo as crias quando as condições climáticas se tornam mais favoráveis e o alimento é mais abundante. As fêmeas de alguns animais polares possuem um mecanismo de implantação retardada: apenas quando começa a melhorar o clima é que o óvulo fecundado anteriormente se implanta na parede do útero, iniciando a gravidez. No começo da primavera, os elefantes-marinhos machos (Mirounga leonina), que são as maiores focas antárticas, delimitam o território, à espera das fêmeas. O grupo é formado por vinte ou trinta fêmeas e um macho. Em outubro nascem as crias, pesando cerca de 35 quilos, resultantes do acasalamento do ano anterior; logo depois, os adultos voltam a se acasalar. O elefante-marinho é o maior de todos os pinípedes - um macho adulto pode medir 7 metros de comprimento e pesar 4 toneladas. Existem, na Antártida, 45 espécies de focas . Uma delas - a foca de Weddell (Leptonychotes weddelli) - é considerada pelos cientistas uma das melhores mergulhadoras criadas pela natureza: capaz de permanecer submersa por uma hora e dez minutos e de atingir profundidades superiores a 540 metros, seu mecanismo de mergulho pode proporcionar inesperados conhecimentos para o homem. Das 52 espécies de aves da Antártida, os pingüins (dezoito espécies) são a sua marca registrada, já que todos os existentes hoje habitam o hemisfério austral (o pingüim ártico foi extinto). São aves marinhas por excelência, incapazes de voar, mas extremamente ágeis na água. Diferem de outras aves marinhas na sua camada de gordura e na penugem especialmente adaptada para o mergulho (o pingüim-imperador pode atingir a profundidade de 265 metros, permanecendo submerso até nove minutos). Em terra, são desajeitados ao caminhar e freqüentemente escorregam pela neve quando fogem assustados. Como as aves petréis, os pingüins possuem uma glândula, acima do bico, que elimina o excesso de sal ingerido. Isso é fundamental numa região onde não existe água doce em estado líquido. O petrel-gigante (Macronectes giganteus) é a maior ave que faz ninho na Antártida - pesa quase 4 quilos e tem 2 metros de envergadura. Desde o nascimento, essas aves necrófagas são alimentadas com restos de animais mortos. A principal defesa dos filhotes é um tipo de vômito, de odor extremamente desagradável, que expelem quando se sentem ameaçados. Mas nem sempre essa tática funciona contra a agressiva skua, ou gaivota-rapineira (Catharacta lonnbergi). A skua ataca filhotes e ovos de outras aves, assim como aves adultas de menor porte. Defende com bravura e agressividade o próprio ninho; tanto o macho como a fêmea fazem vôos rasantes sobre qualquer um que se aproxime. Migram até a América Central e no Brasil já foram avistados no litoral maranhense. Mas o grande viajante é o albatroz-errante (Diomedea exulans), talvez a maior ave marinha do mundo, chegando a ter uma envergadura de 3,5 metros, o que lhe permite dar a volta ao mundo em busca de alimentos. Desajeitado em terra, seu vôo é um dos mais belos espetáculos da natureza. Gosta de acompanhar os navios, planando em ziguezague. Um continente em três cores - preto, branco e azul. Foi assim que os primeiros exploradores descreveram a Antártida, no século XVI. Demorou muito até se descobrir que havia terra debaixo do manto gelado; esperava-se encontrar apenas uma calota de gelo, flutuando no mar como no Ártico. A tentativa de se alcançar o pólo sul geográfico, o ponto arbitrário aonde todos os paralelos e meridianos convergem, foi uma das mais trágicas páginas da história das explorações, em que o sucesso da expedição do norueguês Roald Amundsen, em dezembro de 1911, ficou para sempre ligado ao desastre da operação comandada pelo inglês Robert Falcon Scott, no mês seguinte. Quando Scott finalmente chegou ao pólo, no dia 17 de janeiro de 1912, Amundsen já tinha voltado ao acampamento-base, depois de 99 dias de viagem, ainda com víveres e nove cães (havia partido com 52 cães e quatro trenós). A opção de Amundsen pelos valentes cães foi talvez a mais acertada - Scott escolheu os pôneis da Manchúria, que, além de não agüentarem os rigores antárticos, necessitavam de feno para se alimentar; já os cães podiam comer a carne dos companheiros sacrificados. Scott e seus homens morreram de frio e fome a 20 e poucos quilômetros do acampamento, quando voltavam. Hoje, um avião gasta apenas três horas no percurso de ida e volta entre o antigo acampamento-base e a base americana Amundsen-Scott. A presença da tecnologia pode alterar o delicado equilíbrio ecológico da Antártida, onde não existem sequer bactérias no ar e os alimentos abandonados no início do século ainda podem ser comidos, sem problemas. Do mesmo modo, todo lixo ali deixado estará à espera, intacto, das gerações futuras. Olha o passarinho! Fotografar na Antártida requer certos cuidados que, se não forem seguidos à risca, podem inutilizar as fofos ou o próprio equipamento. O fotógrafo deve ter sempre em mente que vai encontrar as mesmas condições de temperatura do interior de um freezer. Preparar a câmera - O óleo que lubrifica o mecanismo do obturador (dispositivo que determina o tempo de exposição) tende a ficar mais espesso com o frio, o que dificulta ou até impossibilita a foto. Muitas vezes é preciso trocar este óleo. Condensação - Se a câmera sair nua do calor do alojamento para o ar livre, a neve se derreterá ao tocá-la, congelando-se em seguida numa fina película. A solução é voltar para o abrigo. Ao sair, a câmera deve permanecer num estojo até atingir a temperatura do ar. O corpo de metal supergelado traz outros problemas: condensa a respiração do fotógrafo numa película de gelo e pode causar feridas se a pele do rosto ou da mão encostar no metal - ela gruda, como num freezer. Ao voltar para o alojamento, a umidade se condensa na câmera gelada, por dentro e por fora, trazendo a ferrugem. Para evitá-la, a câmera deve ser colocada num hermético saco plástico, antes de o fotógrafo entrar. Filme e baterias - O frio intenso transforma o filme em uma afiadíssima faca, obrigando o uso de luvas. É também preciso avançar lentamente cada chapa, pois o filme se rasga à toa. As pilhas e as baterias deixam de funcionar e, com elas, os fotômetros. Alguns fabricantes criaram um estojo onde as pilhas ficam aquecidas dentro da roupa do fotógrafo, ligadas por um fio ao equipamento.


Sexos Opostos - Biologia


SEXOS OPOSTOS - Biologia

 

Homens e mulheres são ainda mais diferentes do que se imaginava: a desigualdade começa na concepção. Responda depressa: quais são as principais diferenças entre o homem e a mulher? A resposta provavelmente não é a que você está pensando ou, ao menos, não é apenas o que você pode estar pensando. Mas, se passou por sua cabeça a distribuição dos cromossomos no núcleo celular, o funcionamento do hipocampo cerebral, a velocidade das cordas vocais e da respiração, a largura da bacia, a proporção de gordura, a mucosa do estômago e a quantidade de suor e de lágrimas derramadas, então você acertou. Pois todas estas são grandes diferenças entre o homem e a mulher. E, claro, não são as únicas. Igualdade entre os sexos, ao pé da letra, nunca existiu. Desde a concepção, homem e mulher são diferentes. No óvulo existem 23 cromossomos, todos iguais, com a forma parecida à de um X, em quanto entre os 23 cromossomos do espermatozóide pode haver um cromossomo com a forma de Y. É o homem, portanto, quem determina o sexo: a união de um cromossomo Y com o X do óvulo gera um menino; X com X faz nascer menina. Mas a diferença também é quantitativa pois a loteria desse casamento de cromossomos parece favorecer os homens: estatisticamente, para cada 100 meninas que vêm o mundo são concebidos 105 meninos. Em compensação, meninos tendem a morrer mais que meninas -- o que mantém o equilíbrio entre os sexos na população. Em primeiro instante, o sexo cromossômico de uma pessoa só se manifesta no embrião entre a sétima e a décima semana de vida. Até então, menino e menina se parecem. Mas, nesse período, o cromossomo Y faz com que certos tecidos, cuja tendência seria formar ovários ou glândulas sexuais femininas, se transformem em testículos, as glândulas sexuais masculinas. "Uma pequena produção de hormônios no feto", explica o endocrinologista Jairo Hidal, da Escola Paulista de Medicina, "de alguma maneira deixa no cérebro uma marca (ainda não localizada) que o faz trabalhar ou à maneira masculina ou feminina." A forma de trabalhar, por sinal, é a única divergência entre o cérebro masculino e o feminino. Durante muito tempo falou-se, para alegria dos homens, na diferença de tamanho: de fato, o cérebro da mulher pesa em média 1,150 quilo e o do homem chega a 1,400 quilo. Mas hoje os cientistas sabem que o tamanho do cérebro não documenta necessariamente inteligência. "Na realidade, nem homem nem mulher usam todos os seus neurônios, de maneira que o tamanho do cérebro dá e sobra tanto para um como para outro", pensa o neurologista José Levy, da Faculdade de Medicina da USP. "A única diferença importante ocorre na região cerebral do hipocampo, que trabalha de forma contínua nos homens e ciclicamente nas mulheres." Ou, como prefere o endocrinologista Hidal, "o hipocampo feminino atua de modo mais sofisticado". O hipocampo governa a hipófise - a glândula-mãe situada no cérebro, na altura das sobrancelhas que comanda as demais glândulas do organismo. Todas elas, aliás, já funcionam na criança, com exceção das gônadas, as glândulas sexuais, para as quais a hipófise acorda num belo dia - é o início da puberdade. No caso do homem, começa então a haver uma comunicação contínua entre a hipófise e os testículos. A hipófise manda dois hormônios pela circulação até que os testículos comecem a produzir testosterona, o hormônio masculino. Já na mulher, a hipófise primeiro ordena que os ovários fabriquem uma série de hormônios do grupo chamado estrógeno. No pico dessa produção, há uma queda brusca; então, a hipófise determina que os ovários produzam um segundo hormônio, a progesterona. É como se existisse um relógio no organismo feminino: ao longo do mês, a taxa hormonal do homem é sempre a mesma; na mulher, varia conforme o dia do ciclo menstrual. Pois o corpo feminino está continuamente se preparando para a gravidez. A diferença na regulação dos hormônios produz efeitos onde menos se espera. "A mulher tem a necessidade de respirar ligeiramente mais depressa que o homem", informa o pneumologista Flávio Tavares Martins, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. Respirar mais rápido, porém, não significa ter mais fôlego. A capacidade pulmonar do homem é que é maior (de 25 a 33 por cento). Isso lhe garante um desempenho melhor, por exemplo, em exercícios aeróbicos. A vantagem no fôlego tem lógica: o homem possui mais massa muscular, que precisa de oxigênio para trabaIhar. A massa muscular é fruto da ação, na puberdade, dos hormônios masculinos, os andrógenos. Tão essenciais são esses hormônios que até as mulheres os têm, embora em proporção consideravelmente menor- cerca de 6 por cento do total masculino. Sem eles, não haveria academia de ginástica capaz de proporcionar às damas músculos mais desenvolvidos. Aos 17 anos, pouco mais da metade do peso do rapaz corresponde aos músculos; já na moça, a massa muscular eqüivale a 40 por cento do peso. A mulher, em compensação, tem mais tecido gorduroso concentrado principalmente na região das coxas e dos quadris. Uma das hipóteses para explicar o fato de a mulher ter mais gordura e o homem mais músculo é a de que em tempos primitivos a função do sexo feminino era exclusivamente a maternidade. A gordura, supõem os cientistas, seria uma fonte adicional de energia, necessária para levar uma gestação até o final. Já o homem precisava ter mais força para correr em busca de alimento e literalmente lutar pela vida da família. Com tanto músculo, é natural que um homem adulto seja mais consumista: ele deve ingerir 2 700 calorias diariamente, enquanto a mulher precisa somente de duas mil. Essa diferença eqüivale a uma xícara cheia de açúcar. O homem, portanto, sente mais fome-a não ser quando a fome feminina é apenas fruto de ansiedade. "Mas as mulheres têm mais necessidade de comer carne do que os homens", nota a nutricionista Midore Ishii, da Faculdade de Saúde Pública da USP, "porque elas precisam mais de ferro, um mineral essencial à formação de glóbulos vermelhos, para repor as perdas da menstruação." Engana-se, porém, quem pensa que as formas femininas são determinadas exclusivamente pela distribuição de gordura no corpo. É que os ossos também têm sexo. "A bacia da mulher é bem mais larga que a do homem, porque um bebê deve passar por ela", explica o antropólogo Daniel Munoz, da Faculdade de Medicina da USP. A abertura infrapúbica na mulher fica em torno de 90 graus e no homem se limita a 60. No homem, o sacro- osso da parte de trás da bacia-é mais retilíneo, de forma que, ao se observar a sua bacia por cima, vê-se que o canal pélvico é quase fechado. Na mulher não existe a barreira do sacro, que se curva para trás, conferindo-lhe por tabela um bumbum mais arrebitado. "Como a distância entre os joelhos é a mesma em homens e mulheres, o fêmur também passa a acusar o sexo", aponta Munoz. Na verdade, como a bacia da mulher é mais larga, o fêmur acaba ficando inclinado; no homem, porém, sua posição é mais reta. O crânio também difere conforme o sexo, embora não se saiba por quê. A mulher tem o osso frontal da testa mais reto, o ângulo nasal mais aberto. Já o homem tem uma protuberância na altura das sobrancelhas e arcos nasais mais fechados. O hormônio masculino, provavelmente pelo mesmo motivo que provoca o desenvolvimento de músculos, torna os ossos mais fortes nos homens. Além disso, comparando-se um homem e uma mulher da mesma altura, pode-se notar que o homem tem pernas e braços mais longos-talvez porque a mulher devesse reservar espaço no tronco para a gestação. Os ombros femininos são estreitos, o que deixa os braços da mulher naturalmente mais encostados na cintura-um trejeito usado e abusado por atores quando interpretam personagens femininas. Mas o fato de o corpo do homem ter proporções maiores que o da mulher acaba resultando numa diferença que só pode ser percebida pelo ouvido: a voz. Por uma lei da Física, quanto maior for o chamado trato vocal- o tamanho da laringe, das caixas de ressonância e das articulações-mais grave será a voz. "Podemos comparar a voz do homem a um violoncelo e a da mulher a um violino", diz a fonoaudióloga Leny Cristina Kyrillos. Até a adolescência, as vozes masculinas e femininas têm um mesmo tom. Mas depois os hormônios provocam o desenvolvimento da laringe e das cordas vocais-e aí o tom é outro. Nos rapazes, o período da muda vocal, como é chamada, demora cerca de cinco meses e causa a formação do pomo-de-adão-que na verdade é o ângulo das cordas vocais-, além de alterar uma oitava a tonalidade da voz. Ou seja, após a muda, a voz masculina fica oito notas musicais mais grave. Nas mulheres, a muda dura apenas três meses. No final do processo, a voz só estará duas ou três notas mais grave. Por mais fino que um homem fale, porém, suas cordas vocais vibram, no máximo, 130 vezes por segundo. Já por mais grossa que seja a voz, as cordas vocais femininas vibram, no mínimo, 190 vezes por segundo. "O tom das vozes do homem e da mulher só torna a se encontrar na velhice, quando se aproxima ao do sexo oposto", explica Leny. Além da voz, o olfato também parece não ser o mesmo em homem e mulher. Uma pesquisa realizada no ano passado revelou que as mulheres não só acreditam que sentem cheiros melhor como do fato sentem. Como a sensação de sabor é parcialmente proporcionada pelo cheiro da comida, seria natural que a mulher também tivesse um paladar mais refinado. No entanto, os maiores cozinheiros do mundo são homens. Outra diferença marcante entre os sexos é a distribuição de pêlos. Os pêlos pubianos na mulher formam um triângulo e no homem um losango. E, como é notório, o homem é bem mais peludo, possuindo até barba, graças à ação de hormônios. "Conseqüentemente, sua pele tende a ser mais oleosa", explica o dermatologista Mauro Yoshiaki Enokihara, da Escola Paulista de Medicina, "pois cada pêlo está ligado a uma glândula sebácea." Recentemente, um estudo com atletas americanos provou que os homens também transpiram mais. Parece vantajoso, mas não é: as mulheres, suando menos, conseguem manter o equilíbrio da temperatura corporal em climas quentes. Daí os cientistas concluíram que o organismo feminino deve ter controles de temperatura mais eficientes, embora não se saiba o motivo. Também mais eficiente parece ser o sistema imunológico feminino-ao menos a julgar pelos números das reações a transplantes: em pacientes mulheres é de 55 por cento; em pacientes homens cai para 28 por cento. Em compensação, as mulheres tendem mais a sofrer de doenças auto-imunes, como a artrite, que faz cinco vezes mais vítimas femininas. De qualquer forma, a mulher vive em média de quatro a dez anos mais que o homem - um bom motivo para falar em sexo forte no feminino. Talvez haja uma predisposição genética para isso, segundo recentes hipóteses levantadas nos Estados Unidos. A cada dia, por sinal, surgem novos estudos para explicar o fato. Fala-se, por exemplo, no papel desempenhado pelos hormônios. Por causa deles, o homem teria mais colesterol - uma comprovada causa de infartos. Mas as aparências podem enganar: embora os homens tenham sete vezes mais infartos que as mulheres, a razão pode estar no comportamento. "Quanto mais moderna a sociedade, mais a mulher começa a adquirir hábitos como fumar e beber, entrando na dança dos problemas cardíacos", observa Charles Mardy, cardiologista do Incor. Uma coisa é certa: os hormônios masculinos estimulam a acidez no aparelho digestivo, deixando os homens mais sujeitos a úlceras. "Ao contrário, os hormônios femininos comprovadamente protegem a mucosa do estômago", explica o gastrenterologista Moacir da Pádua Vilela, da Escola Paulista de Medicina. Mas as mulheres, após os 45 anos, têm uma tendência muito maior a engordar do que homens da mesma idade. "Uma mulher em cada cinco mulheres nessa faixa etária desenvolve um problema de tireóide em que o metabolismo diminui. Isso é raro em homens", compara o endocrinologista Geraldo Medeiros. Além de afetar tanto a fisiologia quanto a anatomia de ambos os sexos, os hormônios exercem marcada influência sobre o comportamento. "Os andrógenos, atuando no cérebro, deixam os homens naturalmente mais agressivos", diz Medeiros. "Todos sabem que um cavalo castrado é dócil, comparado a um garanhão", observa. Já nas mulheres, parece que a progesterona pode provocar irritabilidade ou melancolia, daí a chamada tensão pré-menstrual quando esse hormônio entra em ação. Uma pesquisa do bioquímico americano William Frey revelou que a prolactina-hormônio que estimula a produção de leite-deixa as mulheres mais choronas: é que a prolactina também estimula as glândulas lacrimais (embora em matéria de risos e sorrisos homens e mulheres tenham a mesma capacidade). Sendo assim tão diferentes, como homens e mulheres conseguem viver juntos? Alguém poderia sentir-se tentado a responder que não conseguem mesmo-mas não seria exato. A resposta certa está na ação dos andrógenos, horrnônios que têm a notável propriedade de provocar algo em comum em homens e mulheres: o desejo sexual. E homens e mulheres quase sempre desejam o sexo oposto - aquele que Ihes é tão diferente. Falsas diferenças Muitas vezes, quando falam de sexo, as pessoas citam diferenças onde o que existe é igualdade ou então trocam as bolas - geralmente em prejuízo da mulher. São as falsas verdades que aparecem ao se comparar características masculinas e femininas. Alguns exemplos: Meninas adoecem mais do que meninos As estatísticas mostram o contrário: os meninos não só adoecem mais (embora não se saiba exatamente por quê) como estão mais sujeitos a acidentes (o que é fácil de entender). Mulheres têm mais tendência a engordar do que homens Antes dos 45 anos, a mulher tem tanta tendência a ganhar quilos quanto o homem. Quem come mais do que precisa e não faz exercícios engorda-sexo não tem nada com isso .A mulher tem menos sensibilidade ao calor nas mãos A quantidade de sensores de temperatura na pele do homem e da mulher é equivalente. Se o homem mexesse tanto com panelas como a mulher, também suportaria mais o contato com objetos quentes. O organismo da mulher tem mais água A mulher, na época da menstruação, retém mais água, por causa do aumento de hormônio progesterona. Ora, esse hormônio também conduz sal para o intestino. E, como se sabe, sal retém água. Mas, na verdade, o organismo masculino possui 10 por cento mais de água do que o feminino, por causa da maior massa muscular. Onde o homem é mais homem coração: mais sujeito a infarto, porque a taxa de colesterol é maior pulmão: a capacidade é entre 25 e 33 por cento maior glândula sudoríparas:produzem mais suorpele:tende a ser mais oleosa músculos: são mais robustos e sua massa corresponde a mais da metade do peso do corpo pernas: são mais longas O argumento da força Nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, dois recordes foram quebrados na prova de 200 metros rasos: a americana Valerie Hooks cobriu o percurso em 22s03; o americano Carl Lewis, porém, marcou 19s80. Nenhuma originalidade nisso. As marcas masculinas são sempre melhores do que as femininas. Por quê? "Porque os homens são mais fortes, mais rápidos e mais resistentes", responde o professor de Educação Física José Medalha, vice-técnico da seleção de basquete masculino que disputa as atuais Olímpiadas de Seul A resposta pode parecer sumária. É disso mesmo, porém, que se trata. Em média, a força muscular da mulher corresponde a 70 por cento da força do homem. A maior diferença está no músculo flexor do antebraço, que nos permite erguer pesos. Sua força, na mulher, eqüivale a menos da metade da força no homem. Já a menor diferença-22 por cento-está nos músculos envolvidos na mastigação, o que, infelizmente para as mulheres, não faz diferença nenhuma na vida esportiva. Que as mais fracas desculpem, mas a força é fundamental no esporte. "No basquete, por exemplo, é preciso ter força nos músculos para correr na quadra. Por isso as equipes não podem ser mistas", comenta o professor Medalha. Para correr, aliás, o homem conta com outra vantagem: seus ossos são proporcionalmente maiores, e ossos servem de alavanca para os músculos. O fato de também a capacidade respiratória ser diferente não pode ser esquecido. Mas, embora a do homem seja maior, as mulheres atingem o auge de sua capacidade cerca de três anos antes dos homens, aos 14-16 anos. Por isso, acreditam alguns pesquisadores, as adolescentes se saem melhor em provas de natação do que os rapazes com a mesma idade. A mulher tem ainda muito mais flexibilidade e coordenação motora. "Por mais que um homem se esforce, nunca chegará a alcançá-la", acredita Medalha. Daí porque, nas modalidades esportivas em que a força não predomina, a mulher pode sair-se melhor: por exemplo, na patinação ou na ginástica olímpica, que, ao requerer jogo de cintura, beneficia a mulher, por causa de sua bacia larga. Onde a mulher é mais mulher cérebro: o hipocampo funciona a intervalos regulares, por comandar a produção de hormônios diferentes glândulas lacrimais: produzem mais lágrimas voz:a freqüência das cordas vocais é maior estômago: possui mucosa mais resistente bacia:é mais larga coxas:além de uma concentração maior de gordura nessa região, o osso fêmur é mais inclinado

O Mistério do Grande Atrator - Universo


O MISTÉRIO DO GRANDE ATRATOR - Universo

 

A Terra e os demais planetas, as constelações e as galáxias, tudo se move pela imensidão do espaço a estonteantes velocidades e numa mesma direção, como sob efeito de uma força estranha e invisível. É uma autêntica odisséia no espaço. O planeta Terra está se movendo em desabalada carreira através do Universo- e um dos grandes desafios da ciência moderna é justamente determinar qual é, afinal, o destino definitivo dessa incrível viagem. O curto tempo necessário para ler esta página basta para mostrar que a viagem, além de incrível, é assustadora. Pois, sem perceber, quando terminar a leitura, um terráqueo terá se deslocado por uma distância imensa: cerca de 400 mil quilômetros, ou dez vezes a circunferência do planeta, segundo as últimas contas apresentadas pelos astrônomos e astrofísicos, os homens que investigam o céu. O que eles não sabem é explicar a causa desse movimento, o qual, traduzido em grandes números, indica que a Terra voa a cerca de 2 milhões de quilômetros por hora, vinte vezes mais veloz que as mais lépidas naves já lançadas. Os cientistas imaginam que estamos sendo arrastados por uma inesperada e formidável concentração de estrelas, em algum ponto do espaço, na direção da constelação do Cruzeiro do Sul, mas certamente muito além dela. Incapazes de divisar o vasto vulto dessa massa de estrelas, que permanece nos confins do Cosmo, oculta dos telescópios, os cientistas se contentam em lhe dar um nome portentoso: o Grande Atrator. É possível até que não haja estrela nenhuma na reta final da corrida: o Grande Atrator pode revelar-se um personagem muito mais estranho e incomum do que os prosaicos sóis conhecidos pela ciência. As mais notáveis candidatas ao título de Grande Atrator ainda são as estrelas, ou melhor, as grandes concentrações de estrelas, como as galáxias e os grupos de galáxias, chamados aglomerados ou superaglomerados, dependendo do seu tamanho. É instrutivo observar esses colossos siderais para entender como nasceu o enigma do Grande Atrator. O périplo terrestre começa com o Sol, o mais próximo centro de força gravitacional que influencia o movimento do planeta. A portentosa massa solar exerce uma atração constante sobre a Terra, fazendo-a girar à sua volta a 100 mil quilômetros por hora. Mas isso não é tudo: em seguida é preciso acrescentar o movimento do próprio Sol, que se move levando consigo todo o séquito de planetas a rodopiar no céu. A situação é curiosa, pois, quando os dois movimentos se somam, a Terra acaba realizando uma infindável espiral no espaço, algo como um descomunal saca-rolha. Na verdade, é difícil visualizar a tortuosa trajetória da Terra, já que o Sol não corre em linha reta, mas gira a cerca de 1 milhão de quilômetros por hora em torno do centro da galáxia, a Via Láctea-levando quase 200 milhões de anos para completar o percurso. Sob a forma de um grande redemoinho, onde se agitam nada menos de 200 bilhões de estrelas- das quais alguns milhares enfeitam as noites terrestres-, também a Via Láctea está sendo arrastada. Junto com outras 21 galáxias próximas, denominadas coletivamente Grupo Local, ela arremete na direção de um distante aglomerado de galáxias, conhecido como Virgem. "Nesse ponto, é inevitável nos sentirmos como uma colônia de micróbios na ponta da asa de uma andorinha", compara o astrofísico brasileiro Augusto Daminelli, do Instituto Astronômico e Geofísico (IAG) da USP. Nessa metáfora, cada andorinha representa uma galáxia. "Então, a hercúlea tarefa do astrônomo é tentar prever o destino de todo o bando de aves", descreve Daminelli. Não se deve esquecer que a Terra, assim como o Sol e as outras estrelas, acompanha o movimento das galáxias e aglomerados. A sua revoada cósmica, por essa razão, se torna terrivelmente complexa. Além disso, as galáxias muitas vezes se emaranham umas nas outras em épicas confusões-é o que astrônomos chamam "canibalismo cósmico". "A própria Via Láctea, neste momento, parece estar dilacerando uma dessas vizinhas menores", provoca o astrofísico Daminelli. Trata-se da Pequena Nuvem de Magalhães, situada a apenas 150 mil anos-luz de distância (cada ano-luz representa 9,5 trilhões de quilômetros; em comparação, a mais próxima grande galáxia, Andrômeda, situa-se a 2,2 milhões de anos-luz). Assim, as partes mais próximas da Nuvem de Magalhães estão sendo tragadas pelo puxão gravitacional da Via Láctea. E certo que algumas colisões cósmicas podem envolver centenas de galáxias, gerando um híbrido imenso e deformado, com mais de 1 trilhão de estrelas- algo que soa natural apenas a uma íntima fração do gênero humano, os astrofísicos. No entanto, o fato de sermos simples micróbios em escala galáctica tem as suas vantagens: "Essas colisões são muito grandes para nos afetar", ensina Daminelli. De fato, se a Via Láctea caísse na goela de um canibal do espaço, as nossas estrelas apenas mudariam de posição-não haveria choque com as invasoras porque os astros estão geralmente muito afastados uns dos outros. Além desse efeito, notaríamos apenas, milênio após milênio, um vagaroso aumento do número de estrelas no céu. O primeiro passo para a descoberta do Grande Atrator, nesse agitado ambiente intergaláctico, foi dado por dois pesquisadores americanos, Brent Tully e Marc Aaronson (este, falecido no ano passado e o primeiro trabaIhando na Universidade do Arizona). A sua proeza foi determinar, há mais de dez anos, o movimento das 22 galáxias do Grupo Local na direção do aglomerado de Virgem, a 900 mil quilômetros por hora. Essa violenta fisgada se explica porque, embora a 70 milhões de anos-luz de distância, o aglomerado de Virgem contém centenas de galáxias e ainda um avantajado canibal bem no seu centro. Mas Virgem não permaneceu muito tempo com o título de Atrator: em 1977, descobriu-se que a Terra tinha outra direção no espaço além dessa. O planeta parecia estar se dirigindo rumo ao superaglomerado de Hidra-Centauro, duas vezes mais distante e-a julgar por sua força- dez vezes maior do que Virgem. A surpresa foi grande, pois não se esperava que houvesse outra enorme concentração de matéria capaz de competir com aquele aglomerado. Mas a novidade foi cuidadosamente checada e confirmada. Os grandes telescópios revelaram que na direção da parte da Via Láctea ocupada pelas constelações da Hidra e do Centauro, mas a 120 milhões de anos-luz, há um gigantesco enxame de estrelas, como nunca se tinha visto antes. A descoberta deixou os cientistas desconfiados; afinal, como ter certeza de que no futuro não se achariam novas causas para o rocambolesco movimento da Terra? Era preciso imaginar um meio de dar um xeque-mate na questão-e foi com essa meta que se reuniram, há cerca de cinco anos, os membros de um grupo de elite da comunidade astronômica, que atende pelo respeitável apelido de Os Sete Samurais. Fiéis à fama, os americanos Alan Dressler, David Burnstein, Roger Davis, Sandra Faber, e os ingleses Donald Lynden-Bell, Robert Terlevich e Garry Wegner decidiram lançar mão dos mais modernos instrumentos de investigação celeste para levar a cabo a missão. Suas armas de pesquisa são as mais sofisticadas do planeta, como os telescópios estrategicamente situados nos Andes chilenos, Estados Unidos, incluindo Havaí, Austrália e África do Sul. A grande vantagem desses instrumentos é a disponibilidade de tempo: podem ser empregados por longos períodos no mapeamento do céu. A eles, os Sete Samurais acrescentaram detectores eletrônicos capazes de registrar oitenta de cada cem partículas de luz que recebem-um avanço espantoso em relação aos filmes fotográficos, que acusam uma única partícula a cada cem. Enfim, vêm os computadores. Diretamente ligados aos telescópios, analisam e corrigem incessantemente as imagens captadas, transformando sinais distorcidos em fonte segura de informação. Após cinco anos de trabalho, os Sete Samurais expuseram o resultado da caçada: o próprio superaglomerado de Hidra-Centauro está sendo arrastado. Ou seja, não é ele. ainda, o Grande Atrator. Apresentada no final do ano passado, a notícia causou grande agitação entre os cientistas. Primeiro, porque o mapeamento dos Sete Samurais foi extremamente amplo, medindo a posição e a velocidade de 400 galáxias num raio de 400 milhões de anos-luz.. O segundo motivo de agitação é mais complexo. A partir de 1977, inventou-se novo método-muito preciso -para medir a velocidade da Terra, utilizando para isso nada menos que o brilho apagado do Big Bang, a grande explosão que deu origem ao Universo. Essa luz fóssil, gerada entre 15 e 20 bilhões de anos atrás preenche por igual todo o Cosmo e chega à Terra vinda ao mesmo tempo de todas as direções. Ela agora se encontra na forma esmaecida de microondas, semelhante à radiação empregada nos fogões modernos. É o fato de ser idêntico em todas as direções do espaço que torna a luz do Big Bang um bom meio de medir a velocidade da Terra. Pois, se a Terra se move numa certa direção, a radiação primitiva será um pouco mais forte nessa direção -quebrando a uniformidade original do brilho cósmico. As medições realizadas até agora são taxativas: há realmente um ponto no céu onde a radiação se acentua, enquanto no rumo exatamente oposto ela se reduz a um mínimo. Esse seria o movimento definitivo da Terra- medido em relação ao próprio espaço e não em relação a outras estrelas e galáxias. Descontadas todas as piruetas, a Terra estaria avançando a cerca de 2 milhões de quilômetros por hora rumo à constelação de Hidra. É de perder a respiração. Durante toda a história da humanidade, a sensação de movimento sempre provocou um certo desconforto. Quando o astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) descobriu a revolução da Terra em torno do Sol-foi a primeira vez que se admitiu que a Terra não estava em repouso sereno-, a reação dos conservadores foi violenta, como se vê pelo destino do filósofo italiano Giordano Bruno (1548-1600), queimado por defender a existência de infinitos mundos em permanente correria cósmica. Lentamente, a noção de movimento acabou se impondo, mas mesmo assim resta uma certa inquietação. Esta se revela, no caso do Grande Atrator, diante da possibilidade de que o Universo não seja tão bem organizado quanto se pensava. "As grandes concentrações de galáxias perturbam a imagem que temos do Cosmo", observa Daminelli. Feitas todas as contas, explica ele, os cientistas esperavam encontrar uma escala de distância onde as concentrações desapareceriam: o excesso de galáxias em alguns lugares seria compensado pela ausência de matéria em outros. Os mais recentes mapeamentos do céu deixam dúvida, porém, quando à existência de tal escala: 400 milhões de anos-luz é uma porção considerável do espaço e mesmo assim continua apresentando desigualdade na distribuição dos astros. Por que será que o Universo apresenta uma face luminosa tão uniforme, enquanto a matéria se mostra tão heterogênea? Esta é a monumental pergunta que o Grande Atrator coloca aos cientistas empenhados em caçá-lo. Da resposta pode resultar mais uma reviravolta no conhecimento humano sobre o infinitamente grande. O Universo por um fio O céu é habitado por uma vasta coleção de seres estranhos e inesperados - pelo menos nas teorias que buscam explicar o cósmico tropel de galáxias relacionado com o Grande Atrator. Segundo um desses vôos de imaginação científica, talvez a Terra não esteja sendo atraída por um gigantesco vespeiro de estrelas, e sim pela força de objetos pré-históricos - e ponha-se pré-histórico nisso -, como, por exemplo, aquilo que os estudiosos resolveram chamar de cordas. Naturalmente, essas exóticas figuras das equações cosmológicas nunca foram avistadas no céu, mas alguns teóricos crêem que elas teriam surgido 1 segundo depois da grande explosão que deu origem ao Universo. Durante o resfriamento que se surgiu ao inferno primordial, parte da energia ficou cristalizada sob a forma de fios imensos, finíssimos e pesadíssimos. Um único centímetro de um fio desses pesaria tanto quanto uma montanha, embora as cordas supostamente fossem quatrilhões de vezes mais finas que o núcleo de átomo. Em junho último, uma equipe do Laboratório de Los Alamos, nos Estados Unidos, sugeriu que o Grande Atrator poderia ser um novelo de cordas pesando 10 quatrilhões de vezes mais do que o Sol. Outros pesquisadores, como o americano Jeremiah Ostriker, acreditam até que as cordas talvez tenham sido a semente que fez surgir as próprias galáxias. Como se sabe, as galáxias são estruturas bem organizadas e bem delimitadas no espaço-por isso mesmo, os cientistas não sabem explicar como elas se formaram a partir do caldo indiferenciado de matéria e energia existente nos primórdios do Cosmo. O professor Ostriker vai ainda vai mais longe: ele sustenta que as cordas criaram a inesperada sucessão de vazios e grandes concentrações de galáxias observada no Universo. Os vazios se assemelham a bolhas em cuja superfície monumental se acomodam as galáxias e os aglomerados de galáxias. Essas bolhas, sugere o cientista, seriam conseqüência da pressão de radiação emitida pelas cordas. "Se as cordas existirem, elas deverão alterar a própria forma do espaço-tempo", deduz o veterano cosmologista americano Joseph Silk. Seja como for, não se chegará muito mais perto do Grande Atrator antes disso. Mesmo que o Universo fosse estático-se a distância entre as galáxias não se ampliasse continuamente, como pontos na superfície de um balão inflando-, ainda assim levaríamos 30 bilhões de anos para chegar até essa misteriosa entidade. É um tempo mais que suficiente para decifrar o grande enigma.

Máquina do Tempo - História


MÁQUINA DO TEMPO - História



Poucos inventos moldaram tanto o mundo moderno como o relógio mecânico, surgido no século XIV. Ele tornou possível a civilização industrial e fixou a idéia de desempenho na atividade humana.

Certa vez, ao explicar como escreveu seu livro O nome da rosa, o italiano Umberto Eco revelou que as cem primeiras páginas do romance continham um truque. De propósito, ele as fez arrastadas, demoradas, difíceis de serem vencidas. Quem quisesse ler o livro tinha de superar essa barreira. Por quê? Porque, à medida que ultrapassava essas linhas, o leitor fazia outra travessia: a passagem do mundo moderno para um tempo ido, em que não havia segundos nem minutos e as horas escoavam como a vida. Enfim, um tempo sem relógios.
O nome da rosa se passa na Idade Média. Até então, o tempo era percebido como uma coisa natural. Ao inverno seguia-se a primavera, o verão; a manhã vinha depois da madrugada, que por sua vez sucedia à noite. Não havia precisão: a contagem do tempo se fazia por longos períodos - meses e anos, materializados nos calendários. Nos conventos, especialmente, nem hora existia. O dia era dividido de acordo com o ritual dos ofícios. Como não havia uma medida universal, cada convento tinha sua hora, assim como cada cidade vivia segundo seu ritmo. 
Mais ou menos na época em que se desenvolve O nome da rosa, na primeira metade do século XIV, o relógio mecânico vai ser descoberto. Antes, os instrumentos para medir o tempo eram notavelmente precários. Havia o relógio de sol, mas quando não havia sol ele não funcionava. Havia o relógio hidráulico, mas quando era inverno a água congelava. Cada um, a sua maneira, tinha um inconveniente. E todos tinham o inconveniente comum da inexatidão. O advento do relógio mecânico fará muito mais do que corrigir as imperfeições técnicas de seus antepassados. Como disse o pensador americano Lewis Mumford, "o relógio não é apenas um instrumento para seguir a marcha das horas; é também um meio de sincronizar as ações dos homens". 
Segundo o historiador, também americano, David Landes, autor de Revolução no tempo: os relógios e a formação do mundo moderno, ainda não traduzido em português, o relógio figura entre as supremas invenções da humanidade: "Ela talvez não se compare à do fogo e da roda, mas é da mesma ordem que a da imprensa, por suas conseqüências revolucionárias em relação aos valores culturais, às mudanças técnicas, à organização política e social e à personalidade". De fato, a partir do momento em que medir o tempo deixou de ser privilégio dos poderosos e passou a ficar ao alcance de qualquer um, as relações entre as pessoas e entre os diversos grupos sociais mudaram. Com o relógio criou-se a base de uma disciplina do tempo, em lugar da obediência ao tempo. "Foi o relógio que tornou possível, para o bem e para o mal, uma civilização atenta ao tempo, portanto à produtividade e ao desempenho", diz Landes. 
Não se sabe exatamente quando surgiu o relógio mecânico nem quem foi seu primeiro criador-o ancestral de uma linhagem de técnicos e artesãos cujos trabalhos seriam muitas vezes autênticas obras de arte. O certo é que datam da metade inicial do século XIV os primeiros documentos que tratam inequivocamente de relógios mecânicos. São dessa época, por exemplo, as descrições do complicado mecanismo-relógio criado pelo abade inglês Richard de Wallingford, em Saint Albans, e do relógio construído em 1344 pelo físico e astrônomo Giovanni di Dondi para a  cidade  Italiana de Pádua. Tão precisa é a descrição feita por cada um deles de suas obras, que é possível ver no Time Museum da cidade de Rockford, em Illinois, Estados Unidos, duas réplicas daqueles aparelhos, montadas exclusivamente a partir das instruções deixadas pelos inventores. 
E o que diferenciou tecnicamente o relógio mecânico dos que o antecederam? Antes de mais nada, o relógio mecânico é movido por um peso. A energia da queda desse peso é transmitida através de um trem de engrenagem, formado por rodas dentadas que se encaixam umas nas outras e movimentam as agulhas do mostrador. O problema é que uma força aplicada continuamente produz uma aceleração. Logo, se nada se opusesse à descida do peso, ele imprimiria um movimento cada vez mais rápido à engrenagem. O que os sábios da Idade Média descobriram foi justamente um dispositivo de retardamento capaz de bloquear o peso e frear o movimento das rodas e agulhas, de modo a criar um movimento de oscilação com um batimento regular-o vaivém continuo característico dos relógios. 
Isso foi possível graças a uma pecinha composta de duas palhetas presa a um eixo horizontal móvel, que se engrenam alternadamente sobre uma roda em forma de coroa dentada (chamada roda de encontro), localiza da verticalmente sobre um eixo que se move sob o efeito do peso. Os impulsos alternados provocados pela roda de encontro fazem a pecinha oscilar sobre seu eixo de maneira regular; este movimento, então, é transmitido ao trem de engrenagem, que movimenta as agulhas. O aparecimento, dos primeiros relógios mecânicos causou uma febre nas cidades européia que começavam a sacudir a modorra medieval. Cada burgo queria ter seu relógio-não apenas por uma questão de prestígio, mas também porque a atração trazia viajantes, portanto dinheiro, para a localidade. 
Já para os operários das cidade mais desenvolvidas, principalmente na Itália e em Flandres, onde já existiam uma florescente indústria têxtil, um movimentado comércio, a novidade não era assim tão boa. O relógio. passou a encarnar a autoridade que impunha as horas de trabalho e mais importante ainda-exigia de terminada produtividade ao longo da jornada. Em algumas cidades, os operários chegaram a se rebelar contra isso. Por exemplo, em Pádua, em 1390, a torre que abrigava o relógio de Dondi foi atacada. 
Mas, se a delimitação da jornada de trabalho era ressentida pelos trabalhadores, por outro lado a existência do relógios trazia um beneficio nada desprezível: permitia separar o tempo que pertencia ao patrão daquele que pertencia a eles próprios. Em todo caso, a grande mudança na forma de medir e controlar o tempo só ocorreu no século XV, quando o relógio a mola tornou possível reduzir drasticamente o tamanho dos aparelhos.  
No relógio a mola, o motor não mais acionado pelo peso e sim pela força da mola, enrolada em forma de espiral. Ou seja, o motor desses novos aparelhos passou a ficar dentro deles, permitindo que os relógios se tornassem portáteis. No início, eles não eram tão pequenos como o atuais relógios de pulso, mas suas dimensões diminuíram o suficiente para poderem ser carregados no bolso ou como um broche. O primeiro europeu cujo nome é citado como construtor de relógios portáteis é um artesão de Nuremberg, Alemanha, Pete Healein. Em 1512, ele fabricava pequenos relógios que funcionavam por quarenta horas e podiam ser carregados no pescoço ou dentro de uma bolsa. 
Menos de meio século depois, em 1551, o francês Jacques de La Garde faz um relógio em forma de bola com apenas 8 centímetros de diâmetro Não se sabe por que, mas, naquele tempo, todos os relógios portáteis soavam as horas. Um código de boas maneiras publicado na França em 1644 alertava os gentis-homens da época para o que seria uma grande falta de educação: "Aqueles que usam relógios onde vêem as horas, as meias horas e os quartos de hora, podem servir-se deles algumas vezes para medir a duração de sua visita. No caso dos relógios soantes, eles são muito incômodos, porque interrompem a conversa. Por isso é preciso usar certos relógios novos, onde a marcação das horas e das meias horas é em alto-relevo e, tocando com o dedo, podemos reconhecê-las". 
A multiplicação dos relógios, observa o historiador David Landes, tornou possível uma nova organização das atividades coletivas. "Mas foi particularmente em dois domínios", escreve ele, "que a medida de tempo abriu novas perspectivas: os transportes e as comunicações, de um lado, e a guerra, de outro." De fato, preocupados em acelerar a circulação de passageiros e mercadorias, as companhias de transporte da Europa, em plena Revolução Comercial, passaram a estabelecer horários fixos de partidas e chegadas. Ao mesmo tempo, o modo de guerrear também mudou. A partir do momento em que os generais puderam predeterminar a hora H de uma ofensiva, a estratégia militar nunca mais seria a mesma. Até então, as ações eram limitadas geograficamente porque o controle era feito com base em sinais auditivos ou visuais (gritos, bandeiras, coros). 
Em 1656, na cidade de Haia, Holanda, Christian Huygens concebeu um relógio de pêndulo, que substituiu o fuso como instrumento regulador da força da mola. Ao contrário dos outros progressos da relojoaria, porém, essa invenção foi antes de tudo teórica. No lugar do fuso regulador da mola-motor, Huygens imaginou um pêndulo, suspenso livremente por um cordão ou um fio. Esse achado reduziu a margem de erro dos relógios de cerca de quinze minutos por dia para meros dez ou quinze segundos no mesmo período Para todos os efeitos práticos, o relógio se tornara enfim um instrumento realmente confiável para medir o tempo. 
Poucos anos depois, um novo tipo de peça veio dar ainda maior precisão ao relógio: a âncora. Como o nome indica, é uma peça em forma de âncora de navio, cujos braços serviam para bloquear e libertar a roda de encontro. A âncora tornou obsoletos todos os modelos anteriores de relógios. A Revolução Industrial do século XVIII na Inglaterra deu uma nova importância à hora. As relações de produção passaram a se fazer de maneira mais sistematizada, com a reunião dos operários dentro de fábricas. 
A vida nas usinas era regida pela disciplina dos ponteiros do relógio, a começar pelo relógio de ponto, cujos primeiros modelos são dessa época. "O relógio e não a máquina a vapor", afirma Lewis Mumford, "é a máquina vital da era industrial moderna." Nessa nova organização, virtualmente impessoal, os trabalhadores tinham de se apresentar ao serviço numa certa hora, cumprir uma jornada de trabalho predeterminada e até descansar e alimentar-se conforme o relógio. Habituados ainda a trabalhar segundo seu próprio ritmo, de acordo com a tradição herdada das corporações de ofício dos artesãos medievais, os operários se revoltaram contra as implacáveis máquinas do tempo. 
Foi, de certa maneira, uma reedição daquilo que, séculos antes, ocorrera entre os trabalhadores da indústria têxtil, na Holanda e na Itália. Além disso, desconfiados de que os patrões "roubavam" no horário, atrasando ou adiantando os relógios das fábricas de acordo com seus interesses, os operários passaram a comprar, eles mesmos, seus relógios, para ter algum controle sobre a duração real da jornada de trabalho. Foi exatamente essa demanda que transformou os britânicos, no século XVIII, em comandantes da indústria relojoeira: nos 25 anos finais daquele século, a Grã-Bretanha produziu de 150 mil a 200 mil relógios-pouco mais da metade da produção mundial à época. 
Os relógios estavam definitivamente incorporados à sociedade. Com a fabricação em série, passaram a ficar ao alcance de todos, por um preço cada vez mais acessível. A descoberta de novos materiais os transformou em objetos mais resistentes, podendo ser usados até debaixo da água, o que fez com que se tornassem companheiros inseparáveis do homem. Nada, porém, popularizaria tanto o relógio como uma descoberta de 1880. Os irmãos Pierre e Jacques Curie, cientistas franceses, descobriram que um pedaço de cristal de quartzo, cortado na forma de uma lâmina ou de um anel e colocado a vácuo num circuito elétrico e em baixa temperatura, vibra 32 758 vezes por segundo, como um pêndulo ultra-rápido. 
A primeira utilização dessa descoberta foi a instalação das freqüências hertzianas, para a radiocomunicação. Em 1925, pesquisadores dos Laboratórios Bell, nos Estados Unidos, construíram o primeiro oscilador a quartzo. Mas, então, os relógios a quartzo eram ainda quase tão grandes quanto uma geladeira-e assim permaneceriam por muito tempo. Pode-se considerar o 9º. Congresso Internacional de Cronometria, em Paris, em setembro de 1969, como a verdadeira data de nascimento da indústria do relógio a quartzo. Pois foi ali que a empresa japonesa Seiko apresentou seu primeiro modelo eletrônico. A partir de então, o mecanismo não cessou de evoluir- e, com ele, a indústria. No Japão, a produção de relógios eletrônicos passou de 1,8 milhão em 1974 para 19,7 milhões em 1978. 
O relógio a quartzo tinha dado um golpe mortal na indústria relojoeira clássica-assim como o relógio atômico a césio tiraria do observatório de Greenwich, na Inglaterra, o privilégio de fornecer a hora oficial do mundo. Enquanto o consumo de energia dos relógios a quartzo baixava em 60 por cento, os produtores apresentavam modelos ainda mais eficientes e econômicos. A principal mudança, porém, seria a quantidade de outras funções anexas à de marca, a hora: calendário, despertador, calculadora, agenda de telefones-enfim, toda a parafernália disponível nos relógios de última geração, que torna o homem moderno absolutamente dependente deles. Num mundo assim, nada mais natural que o cuidado do escritor Umberto Eco em preparar o espírito dos leitores de seu O nome da rosa. Pois, na era das máquinas digitais de contar as horas, quem ainda sabe como se dividia o tempo nos conventos? 

Sol, água e areia

O mais antigo instrumento para medir a duração do dia foi o relógio solar, como o gnômon egípcio, datado de 3500 a 3000 a.C. Consiste em um mastro vertical ficando sobre uma base. O tempo é medido de acordo com a sombra projetada pelo mastro. Por volta do século VIII a.C., esses instrumentos se tornaram mais preciosos, à medida que marcas passaram a ser inscritas na base onde se projetava a sombra. Os gregos integraram os relógios solares a sistemas de considerável complexidade, nos quais se mediam os momentos do Sol, da Lua e das estrelas. Nasceu assim o relógio astronômico. 
Os progressos na Astronomia ajudaram a aprimorar a medição do tempo. Com a invenção do astrolábio, por Ptolomeu, no século II d.C., tornou-se possível calcular, de acordo com a posição do Sol, a duração do dia ou da noite, assim como prever o levantar e o cair de um astro no firmamento e a hora do crepúsculo e da aurora. Media-se o tempo pelo ritmo de escoamento de um líquido. Os relógios de água eram usados pelos egípcios para marcar o tempo à noite, ou quando não havia sol. No Museu do Cairo existe um exemplar, fabricado na época do faraó Amenófis III, em 1400 a.C. 
Era um recipiente cheio de água, com um pequeno furo no fundo, que deixava escorrer o líquido para outro recipiente, marcado com escalas. De acordo com o nível da água, podia-se saber a hora. 
Esses instrumentos foram aperfeiçoados por mecanismos que tornavam constante a pressão da água que escoava; por exemplo, a colocação de canos que jogavam continuamente líquido no primeiro reservatório. Um dos mais bem elaborados sistemas da Antigüidade foi a Torre dos Ventos, construída em 75 a.C. aos pés do Partenon, em Atenas-uma torre de 20 metros de altura, com nove quadrantes solares, um catavento, uma clepsidra (o nome do relógio a água), além de outros instrumentos. Também os chineses apreciavam esse tipo de relógio. O que foi feito, já no ano de 1090, para o imperador Su Sung indicava as doze horas do dia, tinha um sino que soava a cada quarto de hora e era enfeitado com autômatos. 
Mas foi só no primeiro século da era cristã que surgiu o mais conhecido dos medidores de tempo anteriores ao relógio mecânico: a ampulheta. Ela mede o tempo de acordo com a passagem da areia de um recipiente de vidro para outro, através de uma estreita ligação. Nos séculos XVI e XVII, foram feitas ampulhetas para funcionar durante períodos de quinze e trinta minutos. E, embora poucos exemplares desse tipo tenham sido construídos, havia alguns com quatro ampulhetas, ligadas de modo que todas fossem visíveis. Cada uma marcava um período de tempo: um quarto de hora, meia hora, três quartos e a hora inteira.   


Hora certa para inglês ver

Os progressos da relojoaria cravaram na paisagem das principais cidades do mundo verdadeiros monumentos à arte e ciência de marcar o tempo. Certamente o mais famoso deles é o Big Ben, de Londres-símbolo por excelência do lendário gosto pela pontualidade que se atribui aos britânicos. Ao contrário do que se imagina, porém, Big Ben é o nome do maior dos cinco sinos da torre de Santo Estêvão, e não propriamente do relógio. Este, por estranho que pareça, foi projetado por um advogado, Edmund Denison, barão de Grimthorpe, e instalado, aí sim, pelo arquiteto Frederick Dent. Suas primeiras badaladas foram ouvidas em 31 de maio de 1859. Naquela época, dois homens tinham a ocupação de. três vezes por semana, dar corda no relógio, o que durava nada menos de seis horas. 
Pelo que contam os londrinos, o nome Big Ben é provavelmente uma homenagem a Sir Benjamin Hall, parlamentar da Câmara dos Comuns, encarregado de supervisionar a construção do relógio. Outra história afirma que o som de seu carrilhão é baseado numa frase musical do compositor alemão naturalizado inglês Georg Friedrich Haendel (1685-1759). Mas a fama do Big Ben vem acima de tudo, de sua inabalável precisão. As raríssimas vezes em que atrasa ou adianta são corrigidas colocando-se ou tirando-se pequenos pesos de uma bandeja presa a um pêndulo. Uma moeda de 1 penny, por exemplo, adianta o relógio em 2/5 de segundo, em 24 horas. Nada mais improvável para um londrino do que ver o Big Ben parado. Uma das raras vezes em que isso aconteceu foi por ocasião da morte do estadista Winston Churchill, em 24 de janeiro de 1965. No dia dos funerais, das 9h45 à meia-noite, os ingleses fizeram o tempo parar. 


Júlio Verne - Inventor do Futuro


JÚLIO VERNE, INVENTOR DO FUTURO



Em quase uma centena de livros, o pai da ficção científica antecipou as conquistas tecnológicas do século XX em histórias de suspense e aventura.

O ano é 1873. Correspondentes dos principais jornais europeus e dos Estados Unidos em Paris relatam a aventura do explorador Phileas Fogg na sua viagem ao redor do mundo. Cada etapa é avidamente acompanhada por centenas de milhares de leitores. Só que Phileas Fogg não existia era apenas mais um dos personagens cria dos pela mente exuberante do escritor francês Júlio Verde, então no auge da fama. O livro A volta ao mundo em 80 dias foi inicialmente publicado como folhetim no jornal parisiense Le Temps. 
No final, a aparente decepção: o herói, depois de uma infinidade de peripécias, tinha levado 81 dias para completar o percurso, perdendo assim as 20 mil libras que apostara com os companheiros do Reform Club, em Londres. Mas surpresa os jornais do dia em que Fogg volta à Inglaterra estavam datados do que ele imaginava ser o dia anterior. Viajando em direção ao leste, acabou ganhando um dia, pois tinha visto o Sol nascer 81 vezes, uma a mais do que as pessoas que tinham ficado em casa. O fenômeno já era conhecido desde 1522, quando os marinheiros da expedição de Fernão de MagaIhães perderam um dia no calendário, viajando para o oeste. 
Mas é o uso que Júlio Verne dá a esse conhecimento, entre outros tantos, que faz dele o pai da ficção científica. Verne escreveu histórias que não apenas prendem o leitor pelo suspense e o ritmo da aventura como também antecipam invenções que só apareceriam no século XX, como o helicóptero, o submarino, o aqualung, a televisão e a conquista do espaço. São histórias verossímeis e emocionantes. Tudo o que Verne escrevia parecia viável, embora a explosão científica de seu tempo ainda não fosse suficiente para produzir as maravilhas tecnológicas de que ele falava. 
Muitos contemporâneos chegaram a pensar que ele próprio fosse uma ficção e que seus livros eram produzidos por uma equipe de redatores. Em 1895, dez anos antes de morrer, uma celebridade de temperamento discreto e hábitos reclusos, Verne chegou a ser visitado, na cidade de Amiens, onde vivia, à beira do rio Somme, pelo escritor italiano Edmondo De Amicis (1846 1908), interessado, em saber se o colega francês realmente existia. Fisicamente, era um homem típico de sua época e de sua classe social. Membro da burguesia média, vestia-se com ternos em estilo redingote, colarinhos engomados, gravata de laço e uma infalível bengala. 
A cabeleira espessa lhe dava ares de compositor; barba e o bigode compactos, a expressão respeitável dos homens de bem. O trabalho era para ele um prazer comparável apenas ao de navegar nos seus iates, Saint-Michel II e III, a bordo dos quais revivia o gosto pela aventura que vinha da infância. 
Na cidade de Nantes, na região francesa da Bretanha, onde nasceu a 8 de fevereiro de 1828, havia também um rio, o Loire, em cujas margens ele e seu irmão Paul (um ano mais jovem) gostavam de brincar e conversar com velhos marinheiros, ouvindo histórias de países distantes. Tanto essas histórias o fascinavam que, aos 11 anos de idade, Júlio Verne fugiu de casa para ser marujo e conhecer o mundo. Não foi longe. Seu pai, Pierre Verne, um advogado de muito prestígio, conseguiu impedir que a ousadia se consumasse, apanhando o rapazinho na primeira escala do navio, no porto de Paimboeuf. Monsieur Verne, muito conservador, sonhava ver seus dois filhos seguindo a carreira de advogado -jamais a de marujo. Ao resgatar Júlio, aplicou-lhe uma memorável surra de chicote. 
De volta aos bancos escolares, o garoto transferiu a paixão pelo desconhecido para o estudo de Geografia. A imaginação transportava o aluno para os países que os professores iam descrevendo, e seus cadernos estavam repletos de esboços e mapas. Mas nada estimularia tanto a sua imaginação como a visita que fez com o pai às fundições e estaleiros de Indre, perto de Nantes, onde os novos barcos a vapor estavam sendo construídos. 
O adolescente ficou deslumbrado. Não era para menos: as máquinas a vapor eram a grande sensação da época. Símbolos da Revolução Industrial, que começara na Inglaterra no século anterior, elas impulsionariam uma série de portentosas transformações na sociedade européia, naqueles meados do século XIX. De um momento para o outro, tudo seria possível. A ciência parecia ter respostas para tudo-e essas respostas se materializavam em máquinas, engrenagens, aparelhos que tornavam a vida diária um paraíso de conforto, em comparação com tudo aquilo que os europeus se haviam habituado a conhecer. 
Mas, apesar da paixão pelo rio, que poderia sugerir uma carreira semelhante à do irmão, que se tornou -ele sim-marinheiro, ou do interesse pelas máquinas, que o encaminhava para a engenharia, Júlio Verne, aos 16 anos, foi mesmo se preparar para a Escola de Direito. Em 1848, aos 20 anos, ele chega a Paris apenas para cumprir um desejo do pai. Seis décadas após a Revolução Francesa e 27 anos após a morte de Napoleão, o país vivia turbulentos conflitos políticos e sociais. 
A Revolução de fevereiro de 1848 derruba o rei Luís Felipe, que tinha subido ao poder em 1830, e proclama a Segunda República, com Luís Napoleão sendo eleito presidente meses mais tarde. Quatro anos depois, um golpe restaura a monarquia e o presidente se transforma em Napoleão III. Mas não foi a política que seduziu o jovem provinciano de Nantes, e sim o espírito boêmio e cultural de Paris, onde reinavam figuras como os escritores Alexandre Dumas e Victor Hugo. Na interpretação do neto do escritor, Jean Jules Verne, "ele era um idealista e um verdadeiro anarquista". De qualquer forma, jamais teve militância partidária-nem mesmo em 1888, quando foi eleito vereador em Amiens: ninguém conseguiu explicar por que seu nome foi apresentado pela extrema esquerda. 
Ainda jovem estudante de Direito, é convidado ao castelo de Alexandre Dumas, em Saint-Germain. Fica impressionado pelo uso que o autor de Os três mosqueteiros faz dos temas históricos para criar uma novela ou peça teatral. A partir de então, começa a fazer planos literários. Sem muito sucesso, uma peça de Verne, Les pailles rompues ("Contratos anulados"), é encenada em 1850 Não seria esse o caminho pelo qual se tornaria famoso. Embora já formado em Direito, emprega-se de 1852 a 1854 como secretário do Teatro Lírico. Nessa época conhece uma viúva com duas filhas, Honorine-Anne de Vianne, com quem se casaria em 1857. Honorine não tinha nenhum interesse pela literatura. Gostava, isso sim, da vida social de Paris, preocupada em morar bem, vestir-se bem e freqüentar as grandes recepções. Foi uma presença secundária na vida do marido. Júlio e Honorine tiveram um fiIho, Michel, em 1861. 
Logo após o casamento Júlio arranja um emprego de-quem diria- corretor na Bolsa de Paris, onde trabalharia nove anos. Mas não tirava da cabeça a idéia de fazer com a Geografia o que Dumas fizera com a História: escrever romances e novelas que popularizassem o conhecimento do mundo e da tecnologia. Assim publica em 1851 um pequeno conto cujo tema são as viagens marítimas Conhece então o jornalista, fotógrafo e aventureiro Félix Nadar, um entusiasta dos balões. Paris vivia na época uma verdadeira mania pelo balonismo. No Campo de Marte, de onde Santos Dumont decolaria com seu 14-bis, eram comuns as ascensões diárias de uma enorme variedade de balões. 
Santos Dumont, como ele mesmo contou certa vez, inspirou-se na obra de Verne para construir seus apareIhos. As façanhas cada vez mais arriscadas do fotógrafo Nadar culminaran com o acidente com o Géant, o gigantesco balão que levou Nadar, a mulher e mais nove passageiros para um tumultuado passeio de dezesseis horas. No pouso, Nadar quebra pernas. Tudo isso aumenta em Verne a paixão pela idéia do que se poderia chamar o romance da ciência. Devora revistas de atualidades e publicações científicas, querendo saber tudo sobre máquinas e invenções. Tinha 35 anos quando conhece o editor Jules Hetzel. O encontro, acertado por Nadar, seria decisivo em sua vida. 
Tímido Verne estava bastante nervoso quando Ihe entregou os primeiros originais-uma aventura a bordo de balões em homenagem ao amigo fotógrafo. O editor, depois de ler atentamente o calhamaço, comentou: "Como narração histórica está bom. Mas quem quer História? Volte para casa e escreva de novo. Escreva aventuras emocionantes. O povo divertimento, não aulas". Verne ficou atordoado, mas obedeceu. Duas semanas depois, entregava o texto reescrito a Hetzel. O editor sorriu satisfeito, era aquilo que desejava: sonho, aventura, e fim, uma leitura que dava prazer. 
O livro chamava-se Cinco semanas num balão e descrevia uma aventura na África. Foi um sucesso. Verne assinou então um contrato, pelo qual comprometia a escrever dois Iivros por ano pelos próximos vinte anos (mais tarde, o contrato foi ampliado, para toda a produção futura), ganhando 10 mil francos por livro- uma fortuna, na época, que Ihe permitiu libertar-se da Bolsa parisiense. Verne cumpriria o contrato rigorosamente durante quarenta anos. 
Hetzel teria um papel fundamental na obra do escritor: no texto das Viagens extraordinárias, uma coleção de aventuras publicadas em forma de folhetim, o editor acompanhava cada frase como um produtor de televisão acompanha o trabalho do autor de uma novela. Ele próprio era um viajante de marca. Além de cruzeiros pelo mar do Norte e pelo Mediterrâneo, atravessou o Atlântico rumo Nova York, em 1867. Era também um entusiasta do meio de transporte mais revolucionário de sua época: o trem. Em 1880, atravessou a Inglaterra e a Escócia. Durante as viagens, preocupava-se em fazer copiosas anotações que depois serviriam de referência para seus livros. Para o público francês, ler Verne era então a única oportunidade de aventurar-se por uma ficção decididamente incomum. 
Verne era minucioso na descrição de cenários. Transportava os leitores dos pólos gelados aos desertos africanos, das aldeias da Rússia e da Ásia a nada menos que o centro da Terra. Além disso, nas suas narrativas havia referências às últimas invenções da época-as lâmpadas de arco e fluorescentes-como também às máquinas a vapor, ao telégrafo e ao cabo submarino. Mas são as projeções futuríticas que surpreendem até hoje. Quando projetou o submarino Nautilus, comandado pelo Capitão Nemo, Verne estava a par do que se publicava sobre as mais recentes tentativas de se construir um barco submersível. 
Mas não são apenas máquinas que habitam seus livros. A descrição do fundo do mar, em Vinte mil léguas submarinas (1870), é tão fascinante que o oceanógrafo Jacques Cousteau considera Verne uma das leituras fundamentais de sua infância, indicando-lhe o caminho de explorador dos mares.
Instalado numa magnífica mansão em Amiens, ao norte de Paris, procura a tranqüilidade para escrever que a capital não Ihe proporcionava, de tanto que era assediado. Além do refúgio de um quarto na torre da mansão, passava boa parte do tempo a bordo de seu barco, com o qual ia a Paris, subindo o Sena. O menino que amava navegar, explorando as ilhas do Loire, se realizava como capitão do iate Saint-Michel, onde guardava magníficos mapas, livros e revistas. Escrevia dois ou três livros ao mesmo tempo-primeiro a lápis, num caderno onde só usava a página da direita; a esquerda, em branco, serviria para as correções. Os originais mostram que sua redação era fluente e que ele raramente modificava a versão inicial. Levava, em média, seis meses para completar um livro. 
Do ponto de vista literário, foi sempre considerado um escritor para o público juvenil, sem maiores pretensões. O poeta francês Guillaume Apollinaire (1880-1918) costumava dizer que a grande virtude do estilo de Verne era a ausência de adjetivo. É bom lembrar que seus livros foram todos escritos sob contrato e obedeciam a exigências específicas. Considerados como o melhor presente de Natal para os adolescentes do século passado, não podiam ferir, por exemplo, a sensibilidade católica dos leitores-ou a de seus pais. A febre que acompanhava a publicação dos capítulos seriados da Volta ao mundo... induziu as companhias de navegação a Ihe oferecer verdadeiras fortunas para que os personagens fizessem a última etapa num dos seus navios- uma autêntica jogada de merchandising. 
No inicio da noite de 8 de março de 1886, Verne voltava para casa, quando dois tiros o atingiram no pé direito. O escritor ainda chegou a ver a silhueta de um homem, com a pistola na mão. Mais tarde, na cama, enquanto os médicos tentavam inutilmente tirar as balas do pé, saberia que o atacante era Gaston. o sobrinho preferido, filho do irmão Paul. A família jamais esclareceu adequadamente o obscuro episódio. Ficou a versão de que Gaston havia enlouquecido. 
Julio Verne jamais se recuperaria. Desde então, passou a mancar e teve que desistir dos seus passeios de barco, pois perdia o equilíbrio no convés. Na virada do século, estava possuído por uma tristeza sem remédio -perdera o mar, o amigo e editor Hetzel e o irmão Paul, por quem tinha verdadeira paixão. Com o filho único, Michel, era severo e pouco afetuoso-talvez por causa do comportamento contestador do jovem. 
Intransigente, Verne o mandou para um reformatório e, mais tarde, chegou a denunciá-lo à policia, para imperdir que se casasse com uma cantora de cabaré. Anos depois, gastaria um bom dinheiro para pagar as dívidas do filho pródigo. 
Em compensação, dedicou muito afeto ao jovem Aristide Briand (1862-1932), a quem conheceu no ginásio onde Michel estudava. Briand (Prêmio Nobel da Paz em 1926) foi incorporado à obra literária de Verne como Briant, personagem principal do livro Dois anos de férias (1888). Apesar das atribulações da velhice, não desiste de escrever-queria chegar à centésima obra, como declarou em 1902. Então, as viagens extraordinárias, somadas às peças e outros livros, faziam o total ficar bem próximo da meta. 
Aos 74 anos, continua escrevendo pela manhã e lendo à tarde. Como não podia mais ir à biblioteca, os livros vinham a ele. Do alto de sua torre, sonhava com um futuro ainda mais fantástico que o descrito nos livros anteriores. No Senhor do mundo de 1902, cria um veículo, mistura de automóvel, barco, submarino e avião. Por que não sonhar? No começo de 1905 publica uma história em que o mar Mediterrâneo e o deserto do Saara são ligados por um canal, para transformar o deserto num grande lago. Júlio Verne jamais saberia da repercussão do livro. 
Na noite de 24 de março de 1905, aos 77 anos, deitado em sua estreita cama, pediu o volume das Vinte mil léguas submarinas. Não chegou a abri-lo. O livro caiu-lhe das mãos. Perguntou então pela mulher e os filhos e fechou os olhos. 

Da Terra à Lua, em 1865 e 1969

Em nenhum de seus livros, Júlio Verne é mais desconcertantemente profético do que em Da Terra à Lua, escrito em 1865. Depois que os americanos chegaram à Lua, em julho de 1969, os cientistas ficaram espantados, porque parecia que Verne havia descrito, 104 anos antes, o vôo dos astronautas Armstrong, Aldrin e Collins na Apolo 11. Tanto a Apolo como a cápsula de Verne levavam três tripulantes. As dimensões das duas cápsulas eram aproximadas -a concha de alumínio, em forma de bala, de Verne media 4,8 m de altura e 2,7 m de diâmetro; a Apolo media 3,7 m de altura e 3,9 m de diâmetro. 
Os locais de lançamento foram quase idênticos-Verne escolheu um lugar na Flórida a aproximadamente 27 graus de latitude; cabo Kennedy, de onde subiu a Apolo, também fica na Flórida, na latitude de 28 graus. A viagem da ficção durou 97 horas, 13 minutos e 20 segundos. Os astronautas americanos levaram 103 horas e 30 minutos para chegar à Lua. Antes do pouso, as duas cápsulas circularam a Lua diversas vezes, tirando fotografias e observando a superfície do satélite. Os homens de Verne chegaram a traçar um mapa do mar da Tranqüilidade, onde Armstrong e Aldrin fariam seu passeio. E, finalmente, ambas as cápsulas, de volta à Terra, desceram no oceano Pacífico.  


Assim no céu como no mar

Previu Júlio Verne que o caminho para a aviação seria um aparelho mais pesado que o ar - como a nave Albatroz, da história Robur, o conquistador, de 1886. Com a fuselagem de papel laminado, mantinha-se no ar por meio de 74 pás  giratórias, que lembram os helicópteros de hoje. Essas hélices eram movidas por motores elétricos, alimentados por uma série de acumuladores. Por sua vez, o Nautilus, do livro Vinte mil léguas submarinas, de 1870, supera tudo o que se imagina em matéria de engenharia naval-tinha um corpo perfeitamente hidrodinâmico, com 70 metros de comprimento e 8 m de diâmetro, deslocando 8 toneladas. A quilha era de dupla camada, podendo ser enchida ou esvaziada por poderosas bombas. A tripulação respirava ar comprimido, armazenado em cilindros de metal. Uma câmara estanque possibilitava aos mergulhadores entrar e sair do barco, mesmo submerso. E janelas de observação permitiam fotografar a vida debaixo da água. Tudo igual a um moderno submarino.  

Nasce o Homem - Paleontologia


NASCE O HOMEM - Paleontologia

 

 A busca das origens da espécie é uma das mais emocionantes aventuras da ciência moderna. Pesquisadores refazem o passado remoto do homem e propõem teorias surpreendentes. Uma delas: no começo, éramos todos escuros. Nuvens de chuva começavam a esconder o Sol, insinuando o fim da seca que fizera definhar os arbustos da savana. A paisagem estava enegrecida pela fumaça do vulcão que, vez ou outra, expelia um pouco de cinza sobre o terreno ao redor. A chuva caiu densa e breve. Surgindo de trás de uma árvore, uma figura com feições de macaco, a pele escura, se distraía olhando os pés afundarem na lama acinzentada. Logo atrás, outro indivíduo, algo menor, divertia-se colocando os pés nas pegadas do primeiro. Uma terceira figura, ainda menor, saltitava ao lado dos outros, quando alguma coisa lhe chamou a atenção. Deteve-se, olhou para a esquerda e voltou a seguir os companheiros. As nuvens, de novo rarefeitas, deixam passar os raios de sol. A lama seca. Mais uma vez o vulcão ronca e despeja lava. Em pouco tempo, o céu torna a escurecer e o vento traz uma chuva mais forte. Uma cena como essa deve ter ocorrido há mais de 3 milhões de anos num local hoje chamado Laetolil, perto do vulcão Sandiman, na planície de Serengeti, a uns 40 quilômetros da garganta de Olduvai, na Tanzânia, Sudeste da África. Ali, a antropóloga inglesa Mary Leakey, viúva do cérebre arqueólogo queniano Louis Leakey, fez em 1978 uma autêntica viagem no tempo: o piso de lama, petrificado e preservado por uma combinação de raras circunstâncias naturais ocorridas ao longo dos milênios, permitiu-lhe vislumbrar um flagrante da vida de três espécimes de um ramo há muito extinto dos antepassados do homem, o Australopithecus - ou macaco da região Sul, em latim. As pegadas fossilizadas encontradas pela pesquisadora - cuja equipe já havia, dois anos antes, literalmente tropeçado em traços de outros seres, como rinoceronte, girafas e hienas, igualmente preservados - foram um presente dos céus para o estudo das origens do homem. Cálculos anatômicos, feitos a partir daquelas marcas, revelaram entre outras coisas que os três primatas mediam entre 1,20 m e 1,40 m e andavam sem auxílio das mãos, apenas com as pernas. Mary descreveria mais tarde sua emoção ao reconstituir a passagem pelo lugar daqueles hominídeos: "Seguir a trilha dessas criaturas produziu em mim um pungente arrebatamento. Em dado momento, uma delas parou, virou-se para olhar rapidamente algum possível perigo e continuou. Esse movimento tão intensamente humano, transcende o tempo: três milhões e setecentos mil anos atrás, um ancestral remato havia experimentado um instante de dúvida". Aventuras científicas como essa têm ocorrido em vários lugares do mundo, alimentadas por um humaníssimo sentimento de ansiedade em relação aos quandos, ondes e porquês da primitiva história da espécie. Nessa interminável busca das origens, cada novo achado, no entanto, parece aumentar a área de controvérsia entre os especialistas. Basta que um fóssil seja desenterrado ou-mais recentemente -que uma experiência genética em laboratório dê certo, para mexer com o edifício de hipóteses sobre a evolução da raça humana. De qualquer forma, quanto mais espécies são reveladas e quanto mais datas são preenchidas, mais se percebe que a evolução do homem resulta de um lento, gradual e sobretudo complexo processo de mudanças. Por isso é muito difícil dizer quando termina uma espécie e começa outra. Cerca de 35 milhões de anos atrás, numa época que a Geologia chama Oligoceno, um pequeno animal que se alimentava de frutos vivia nas árvores do Nordeste da África. Era o Aegyptopithecus (macaco do Egito), uma criatura de 4 quilos. A densa floresta em que habitava transformou-se numa região desértica, a depressão Fayum, a sudoeste do Cairo. Ele talvez seja o mais antigo ancestral, não só do homem como de todos os outros primatas antropóides (macacos, orangotangos, gorilas, chimpanzés e gibões). Uma bruma de mistério, porém, separa o Aegyptopithecus do Australopithecus, cerca de 30 milhões de anos mais moço. Candidatos a ancestrais intermediários não faltam. O que faltam são provas irrefutáveis. A árvore genealógica do homem é um desenho longe de estar completo. Mesmo a utilização de uma árvore- e não de uma escada-, para configurar a trajetória da evolução, tem sido motivo de discussão científica. Até a década de 70 pensava-se que a linhagem fosse uma escada de três degraus: Australopithecus africanus (de 4 milhões a 1,5 milhão de anos atrás), Homo erectus (de 1,5 milhão a 400 mil anos) e, desde então, Homo sapiens. Em 1938, porém, uma nova espécie de Australopithecus, o robustus, foi identificada. Trinta e quatro anos depois, o antropólogo queniano Kamoia Kimeu, da equipe dos Leakey, deu início a uma radical reavaliação do problema, ao batizar de Homo habilis uma nova descoberta fóssil na África. Louis acreditava que o habilis fosse um contemporâneo mais humano, daí o nome, dos australopitecíneos. Richard Leakey, filho de Louis e Mary, conhecido pelo grande público por seus livros atraentes e por uma não menos bem-sucedida série de TV sobre as origens do homem, anunciou em 1973 a descoberta de um crânio capaz de comportar um cérebro quase duas vezes maior do que se atribui aos Australopithecus. O crânio data de 2 a 3 milhões de anos-portanto, contemporâneo daqueles. Como escreveria o celebrado paleontólogo Stephen Jay Gould, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, "o Homo habilis não era mais uma quimera da imaginação de Louis Leakey". Hoje, os cientistas tendem a acreditar que a evolução humana se processa por meio da ramificação de uma linhagem a partir do tronco principal da árvore genealógica-e não por uma mudança dos próprios grandes troncos. "O Homo sapiens não é o produto de uma escada que sobe diretamente em direção ao nosso estado atual, mas, sim, constituímos tão-somente a ramificação que sobreviveu de um arbusto outrora exuberante", afirma Jay Gould. "O processo evolutivo é cego, não envolve uma finalidade específica de desenvolvimento por parte das espécies", diz por sua vez Richard Leakey. "Os australopitecíneos não devem ser vistos como um fracasso numa grandiosa corrida evolutiva rumo à condição humana", argumentada. "Eles foram espécies bem-sucedidas, com um estilo de vida estável durante milhões de anos." E, no entanto, eles se extinguiram há 1,5 milhões de anos - e talvez nunca se venha a saber por quê. De todo modo, com seu desaparecimento, restou apenas um gênero hominídeo: Homo. O que mais chama a atenção a respeito tanto do erectus como do habilis - o primeiro, por conseguir a postura ereta; o segundo, por ser capaz de fazer utensílios de pedra - são as mudanças de comportamento, graças às quais puderam dispersar-se por territórios nunca dantes percorridos por hominídeo algum. Em toda a ciência da evolução humana provavelmente não há capítulo tão fascinante como esse que trata, com o muito pouco que se sabe, do advento da cultura - quando, já de pé, o Homo faz, de uma lasca de pedra, um instrumento para cortar carne. Há mais de um milhão de anos, grupos de Homo erectus teriam começado a migrar da África para a Europa e Ásia. O seu registro fóssil permanece até por volta de 400 mil anos atrás, quando desponta o ancestral em linha direta do homem moderno - o Homo sapiens. Num belo dia de novembro de 1974, numa expedição a Hadar, no norte da Etiópia, o antropólogo americano Donald Johanson e um estudante de pós-graduação na Universidade de Chicago, Tom Gray, exploravam uma ravina seca à procura de fósseis. A manhã não tinha sido produtiva e fazia um calor de rachar. Os homens já começavam a voltar ao acampamento quando Jobanson distinguiu um pedaço de osso num barranco erodido. Era um pedaço de um braço. Olhando mais detidamente, vislumbraram outro fóssil, parte de um crânio. De repente, daquele declive pareciam brotar fósseis-aqui um pedaço de pélvis, ali uma mandíbula, mais adiante um par de vértebras. Três semanas de pesquisas revelariam mais de uma centena de ossos fossilizados. Quando foram postos juntos, recompondo 40 por cento do esqueleto, descobriu-se que faziam parte de um indivíduo apenas-uma mulher que devia medir 1,10 m e pesar cerca de 30 quilos. O esqueleto recebeu o nome de Lucy (porque se ouvia a canção Lucy in the sky with diamonds, dos Beatles, no toca-fitas de um pesquisador na noite da descoberta). Lucy é o mais antigo e completo hominídeo encontrado até agora, com idade estimada em 3,3 milhões de anos. O achado permitiu reconstituir o perfil do que foi chamado Australopithecus afarencis em alusão ao Triângulo de Afar, região próxima a Hadar. As fêmeas teriam sido substancialmente mais baixas do que os machos. A cor da pele certamente era escura, uma adaptação evolutiva para o clima tropical. Os adultos seriam mais peludos que os humanos atuais. A descoberta de Lucy proporcionou munição para os defensores da teoria de que a humanidade evoluiu, apenas recentemente, do Australopithecus, como sustenta o próprio Donald Johanson, em oposição a Leakey, para quem o processo foi mais antigo. Lucy e seus semelhantes mais se pareciam com macacos. Alimentavam-se basicamente de sementes, verduras, tubérculos; quando possível, comiam os restos de animais deixados pelos carnívoros. Mas, assim como os achados de Mary Leakey em Laetolil, as descobertas em Hadar reafirmam a adoção precoce (em termos evolutivos) do andar ereto-"muito antes da expansão do cérebro", nota Johanson, fulminando uma antiga crença. De fato, não há indícios de cérebros volumosos nos hominídeos antes de 2,5 milhões de anos. O parentesco entre os hominídeos e os símios é com certeza a questão mais emocionalmente polêmica da história do estudo da evolução. Já no século passado, atribuiu-se a Charles Darwin a afirmação de que o homem descende do macaco-na verdade, ele disse que homens e macacos têm a mesma origem, o que a ciência moderna pôde reforçar com o Aegyptopithecus de 35 milhões de anos. Até recentemente, porém, se acreditava que a família dos humanos não se confundia com a de chimpanzés e gorilas, apesar da semelhança anatômica entre estes últimos e os hominídeos. Hoje, os cientistas tendem a aceitar que todos fazem parte de um único grupo, no qual homem e chimpanzé são parentes próximos, ao passo que gorilas e orangotangos são primos evolutivos mais afastados do gênero Homo. Essa convicção se fundamenta nos resultados de pesquisas que se realizam em ambientes não só distantes como muito diferentes dos acampamentos dos paleontólogos no coração da África. Em refrigerados laboratórios, dois bioquímicos da Universidade da Califórnia, Vincent Sarich e Allan Wilsom fizeram um estudo comparativo entre proteínas humanas e de chimpanzés para ter uma idéia aproximada do tempo transcorrido desde que uns e outros se separaram do ancestral comum. Os dados coletados pelos bioquímicos sugerem que esse divórcio ocorreu há não mais de 5 milhões de anos-um período relativamente curto no calendário evolutivo. No final do ano passado, veio a público uma conclusão científica ainda mais surpreendente: o mais antigo ancestral de todos os homens e mulheres da Terra, a partir do qual surgiram os modernos humanos, seria uma mulher de cabelos pretos, pele escura, que teria vivido nas savanas da África entre 290 mil e 140 mil anos atrás. Essa Eva pré-histórica, diz o paleontólogo Jay Gould, "nos faz compreender que todos os seres humanos são membros de uma mesma família, que teve uma origem recente em apenas um lugar". Para descobrir Eva, a geneticista Rebecca Cann, da Universidade do Havaí, trabalhando com colegas da Universidade de Berkeley, recorreu a amostras, colhidas em várias partes do mundo, de DNA, a molécula da hereditariedade. O DNA utilizado foi o que reside num compartimento da célula chamado mitocôndria, responsável pela produção da energia que permite à célula viver. O DNA mitocondrial é útil para traçar árvores genealógicas porque contém apenas a herança da mãe e só é alterado por mutações que apenas a família da mãe tenha sofrido. Comparando as amostras coletadas dos mais diversos grupos étnicos, os cientistas verificaram serem pequenas e triviais as diferenças entre as raças. A cor da pele, por exemplo, é resultado de mera adaptação ao clima-negra na África, para se proteger do sol forte; branca na Europa, para facilitar a absorção dos raios ultravioleta, que ajudam a produzir vitamina D. Ou seja, se as pesquisas estiverem certas, antes da dispersão dos homanídeos da África, éramos todos escuros. Grandes figuras do álbum de uma família complicada O Australopithecus afarensis é a mais antiga espécie hominídea conhecida. A idade de Lucy, por exemplo, é calculada em cerca de 3,3 milhões de anos. Peludos, de pele escura, os afarensis comiam basicamente vegetais. Mas já andavam apenas com as pernas. O Australopithecus robustus, como o nome indica, era uma espécie bem mais encorporada. Pelo menos é que sugerem os fósseis de crânios e mandíbulas encontrados no Sul da África. Tudo indica que se extinguiu, sem evoluir, há cerca de 1,5 milhão de anos. O Homo habilis, que vivia no Leste da África, parece ter sido a primeira espécie hominídea capaz de fabricar objetos rudimentares a partir de lascas de pedra. Pelos achados fósseis, o cérebro do habilis seria duas vezes maior que o dos Australopithecus. O Homo erectus, descendente do habilis, produzia utensílios algo menos toscos. Também sabia usar o fogo, embora não soubesse como fazê-lo. Há mais de 1 milhão de anos começou a migrar para a Europa e Ásia. Viveu até 400 mil anos atrás.O Homo sapiens, em sua forma arcaica, começa a aparecer entre 400 e 300 mil anos atrás, mais ou menos na época em que cessam os registros fósseis do Homo erectus. O sapiens primitivo deve representar uma transição do erectus para formas posteriores. O Homo sapiens sapiens, ou seja o homem anatomicamente moderno, é mais velho do que se pensava: segundos achados fósseis recentes em Israel, já existia há pelo menos 92 mil anos. Até então, sua origem era estimada em não mais de 40 mil anos atrás. Mãos de artesão O antepassado mais troncudo do homem, o Australopithecus robustus, era um autêntico troglodita- vivia à base de uma dieta vegetariana só porque seu diminuto cérebro não Ihe sugeria lascar pedras para usá-las como facas e trinchar animais. Essa clássica imagem talvez seja falsa, a julgar por uma recente descoberta numa caverna sul-africana: ossos fossilizados da mão de um robustus, datados de 1,8 milhão de anos, indicam que ele estava apto a fazer e usar ferramentas. De acordo com Randall Susman da Universidade de Nova York, os dedos encontrados têm uma configuração semelhante à do homem moderno e podem muito bem ter sido flexíveis o bastante para transformar pedras e ossos em facas e martelos. A descoberta reacende a polêmica sobre a supremacia do Homo em relação ao Australopithecus. Pois aquele já não seria necessariamente o primeiro a transformar a natureza em benefício próprio. Mais do que isso, fica em xeque a teoria de que foi justamente o poder de produzir utensílios a adaptação crucial que garantiu a sobrevivência do Homo e não do Australopithecus. Mas, nesse caso, o que explica o desaparecimento da linhagem robusta dos hominídeos? A partir do estudo de dentes fósseis, sugere-se que a espécie nutria-se de raízes, sementes e fibras. Quando o clima da savana foi ficando mais frio e seco, tais alimentos começaram a sumir. De nada Ihes serviu ter ferramentas para cavar a terra em busca de raízes. Já o Homo, incluindo carne na dieta, sobreviveu. Dé pé, contra o sol Dos muitos mistérios que ainda recobrem a história dos primeiríssimos hominídeos, um dos mais fascinantes diz respeito ao bipedalismo-como se designa a exclusiva característica que permite à espécie humana locomover-se apenas sobre dois membros, os pés. Sabe-se que nossos ancestrais já andavam eretos antes mesmo de possuir um cérebro desenvolvido. Mas não se sabe a razão pela qual eles deixaram de andar de quatro. A teoria mais aceita até recentemente afirmava que isso aconteceu em conseqüência do manuseio de utensílios e ferramentas - as mãos precisavam ficar livres para segurar objetos. Mas essa atraente hipótese caiu por terra quando se descobriu que o andar ereto antecedeu em 2 milhões de anos a manufatura de ferramentas. Os achados fósseis retiram também o sustento da idéia de que os hominídeos precisavam das mãos livres para levar comida para casa - ou como se chame o lugar onde suas companheiras ficavam tomando conta dos filhotes enquanto os machos iam atrás do pão de cada dia. O cenário é plausível, mas ao que tudo indica irreal. Estavam as coisas nesse pé quando meses atrás um professor da Escola Politécnica de Liverpool, Inglaterra, Pete Wheeler, compareceu ao debate com a revolucionária teoria de que a causa decisiva do bipedalismo foi o sol. Isso mesmo: segundo Wheeler, os antepassados do homem passaram a caminhar apoiados apenas nos pés para diminuir a área do corpo exposta ao causticante sol africano e assim proteger o órgão mais vulnerável ao aumento da temperatura - o cérebro. A maioria das espécies sobrevive à dose diária de calor graças a seus eficientes sistemas fisiológicos de refrigeração, que mantêm em níveis toleráveis a temperatura do sangue que se dirige ao cérebro. Desprovidos desse recurso natural, os ancestrais humanos trataram de se erguer para se proteger. Pelos cálculos de Wheeler, um hominídeo em pé ao meio-dia absorvia 60 por cento a menos de calor do que estando de quatro. "Ficar em pé", diz o cientista, "é a maneira ideal de se manter frio nas caminhadas pela desguarnecida paisagem equatorial." Pobre homem das cavernas De todos os mais recentes hominídeos nenhum foi tão desprezado como o Neandertal, o caricato homem das cavernas, cujo primeiro fóssil, achado na Alemanha em 1856, forneceu a pista inicial para a busca da ancestralidade humana. Durante muito tempo, os cientistas recusaram-se a aceitar o Neandertal como antepassado do homem, tão grotesco ele lhes parecia com seu crânio levemente encurvado e salientes sobrancelhas. Somente cem anos após a descoberta se comprovou que o Neandertal foi nosso parente no processo evolutivo. Ele surgiu na Europa há 125 mil anos e sumiu abruptamente entre 40 mil e 30 mil anos atrás. Acredita-se que um grupo de Homo erectus deu origem ao Neandertal, assim como outro teria dado origem a uma variante Primitiva de Homo sapiens, mais conhecida como CroMagnon. Milhares de anos depois, algo favoreceu a sobrevivência deste em detrimento daquele. Meses atrás, foram descobertos em Israel fósseis de Homo sapiens de 92 mil anos, prova de que o homem moderno não só foi contemporâneo como pode até ter convivido com o homem do rio Neander.