CIÊNCIA SOB MEDIDA - Tecnologia
A maior instituição científica da Europa tem 47 centros de pesquisa na Alemanha, que atuam em áreas tão diversas quanto informática, medicina e novos materiais, mas com algo em comum: todos trabalham para as indústrias.
No laboratório do Instituto de Organização e Engenharia Industrial de Stuttgart, um cientista trabalha dentro de um cenário fictício que aparece na tela: o interior de um prédio em construção. Para comunicar-se com o computador, ele usa óculos e luvas em lugar do teclado ou do mouse. Movimentando a cabeça e as mãos, o cientista, como se realmente estivesse dentro de uma futu-ra casa, caminha, abre portas e muda os móveis de lugar. Quando os pesquisadores tiverem dado os últimos retoques a este sistema, qualquer arquiteto que o utilize verá suas obras de uma forma quase real antes mesmo que elas saiam do chão, com a vantagem de detectar no próprio local os defeitos de construção e de projeto.
A apenas 300 quilômetros dali, no Hospital de St. Marien, em Düren, um médico realiza uma operação de rotina: implanta um pequeno chip no ouvido de um paciente surdo. Este aparelho, produto do Instituto de Sistemas e Circuitos Microeletrônicos, já curou a surdez de centenas de pessoas. Enquanto isso, em Berlim, no Instituto de Sistemas de Produção e Tecnologia de Design, constroem-se robôs para trabalhar na linha de montagem das indústrias ou na soldagem do casco de navios.
Essas pesquisas são apenas algumas amostras da imensa atividade do Instituto Fraunhofer, a mais importante fundação européia de pesquisa aplicada. Criado em 1949, o Fraunhofer tem hoje 47 centros espalhados por toda a Alemanha, que trabalham em campos tão vastos e diversos como microeletrônica, informática, automação, novos materiais, química, energia, meio ambiente, saúde, física, laser.
O objetivo do Instituto Fraunhofer é atender às necessidades tecnológicas das indústrias. Protagonista de primeira hora do milagre alemão a reconstrução do país depois da derrota na Segunda Guerra Mundial -, é o supermercado a que os empresários recorrem quando precisam de alguma técnica inovadora, como informatização ou automação da linha de produção. É feito um contrato entre a empresa e um dos centros do Instituto que fará a pesquisa, estabelecendo-se custos e prazos. Graças a este contrato, o empresário, que não dispõe de equipe própria de pesquisa, obtém todos os benefícios tecnológicos que sua companhia necessita para enfrentar as evoluções do mercado e a concorrência.
O Fraunhofer trabalha sob enco-menda. E a descentralização entre os 47 diferentes centros é tão grande que cada um deles depende economicamente dos contratos que realiza com as respectivas indústrias. Por isso, os responsáveis de cada centro estão sempre em contato com os setores comerciais que podem se interessar por sua pesquisa. E todos os diretores, incluindo os cientistas de cada sede, sabem a quais empresas podem interessar suas linhas de trabalho. Com este peculiar sistema de busca de clientes, o Fraunhofer movimentou no ano passado mais de meio milhão de dólares.
Em algumas áreas, o governo é o principal cliente. O Departamento de Meio Ambiente e Saúde do Instituto Fraunhofer dispõe de cinco diferentes centros de trabalho, e a maior parte de sua atividade tem sido encomendada pelo governo alemão. O Ministério de Pesquisa e Tecnologia financiou um estudo sobre aerossóis em Hannover para medir o efeito da poluição nas infecções respiratórias. Os especialistas analisam o papel das altas concentrações de fuligem e ozônio no ambiente - fato comum nos pólos industriais - e sua relação com o sistema imunológico pulmonar. Provavelmente, nenhuma empresa privada teria gasto dinheiro numa pesquisa como esta.
Em outros campos, porém, as indústrias são as mais interessadas, como no projeto de espumas metálicas desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Aplicada de Materiais de Bremen. Obtidas a partir de alumínio, essas espumas podem se tornar um material ideal para a indústria aeroespacial, graças à combinação de resistência e pouco peso.
Outra área em que a indústria costuma investir é nas novas formas de geração de energia, como a solar. No Instituto de Sistemas de Energia Solar de Friburgo, o maior da Europa, os cientistas pesquisam células fotovoltaicas - lâminas cobertas com silício que transformam a luz do sol diretamente em eletricidade - cada vez mais eficientes.
As novas tecnologias eletrônicas também são pesquisadas no Fraunhofer. O Instituto de Circuitos Integrados, de Erlangen, desenvolveu um sistema que permite a transmissão de som digital através das ondas de rádio. Com isso, evita-se que os sons digitais percam qualidade quando são transmitidos através das emissoras comerciais. Esta pesquisa foi, em parte, financiada por grandes empresas de comunicação como a Thompson, da Alemanha, e AT&T, dos Estados Unidos.
A superfundação deve seu nome a Joseph von Fraunhofer, um físico alemão que viveu entre 1787 e 1826 e possuía especial habilidade para combinar suas duas vocações de cientista e homem de negócios. Quando, em 1949, os 150 principais responsáveis da indústria, da pesquisa e o governo da Alemanha decidiram criar um centro para unir os esforços desenvolvidos na economia e na ciência, não tiveram dúvidas em dar-lhe o nome de Instituto Fraunhofer. Em apenas alguns anos, essa fundação participou ativamente no renascimento da indústria alemã. Suas transferências de tecnologias ajudaram a levantar setores econômicos até aquele momento estagnados.
Desde então, o Instituto, que conta com 7 600 funcionários e só pode ter lucros para reinvesti-los, cresceu e ocupou um papel importante na pesquisa européia. Hoje, é vis-to como exemplo de uma perfeita relação entre ciência aplicada e indústria ao serviço do desenvolvimento de um país. É uma idéia transparente até nos folhetos de divulgação do Instituto: "Quando quiser melhorar seus produtos, trabalhar com novas tecnolo-gias ou assegurar a vantagem competitiva no mercado internacional, contactenos. Confidência assegurada".
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