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sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Rios que matam e morrem
RIOS QUE MATAM E MORREM
Os números são alarmantes. Segundo a ONU, há cerca de 1,1 bilhão de pessoas sem acesso adequado a água, ou 18% da população do planeta. Se nada for feito, esse número deve chegar a 3 bilhões em 20 anos. A contaminação das águas é responsável por mais de 10 milhões de mortes por ano causadas por doenças como cólera e diarréia, principalmente na África. No Haiti, um dos países mais miseráveis do planeta, muita gente mata a sede com o esgoto que corre a céu aberto. Alguns especialistas chegam a prever que as próximas guerras serão travadas pelo controle da água, em vez do petróleo. Não seria uma novidade. No Antigo Egito, o controle das enchentes do Nilo serviu de pretexto para a conquista de civilizações e territórios. Hoje, a maior expressão de luta armada envolvendo a água está no conflito entre Israel e Palestina, que tem como pano de fundo o estratégico vale do Rio Jordão.
Parece incrível que a água seja motivo de tanta disputa. Afinal, a Terra não é chamada de "planeta água"? De fato, as águas cobrem 77% da superfície do planeta, mas somente 2,5% são de água doce. E menos de 1% do total está acessível ao uso pelo homem. Embora a água existente na Terra seja suficiente para todos, há a dificuldade de distribuição, a população mundial não pára de crescer e a ação humana vem alterando drasticamente o sistema hídrico. O desmatamento e a impermeabilização do solo nos centros urbanos, por exemplo, quebram o ciclo natural de reposição da água, secando rios centenários. Alguns rios, como o Colorado, nos Estados Unidos, e o Amarelo, na China, muitas vezes secam antes de chegar ao mar. Isso sem falar nos freqüentes acidentes, como vazamentos de óleo, que causam verdadeiros desastres ambientais.
Para uma boa qualidade de vida, estima-se que sejam necessários 1 000 metros cúbicos de água per capita por ano. Cerca de 40 países vivem com menos do que isso - os Estados Unidos gastam o dobro. Até 2025, dois terços da população mundial deverão viver em países com moderada ou severa escassez de água. De acordo com a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizado na África do Sul em 2002, se forem mantidos os atuais níveis de investimento, o acesso universal a água de boa qualidade não deverá se concretizar antes de 2025 na Ásia, de 2040 na América Latina e Caribe e de 2050 na África.
A situação é preocupante, mas, com algumas mudanças no comportamento de empresários, do governo e da população, é possível reverter o quadro em pouco mais de uma década, segundo o geólogo Aldo Rebouças, professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo e um dos organizadores do livro Águas Doces no Brasil (Escrituras, 2002). As metas sugeridas por Rebouças podem ser assim resumidas: a agropecuária, responsável por 67% da água utilizada no mundo, deve reduzir seu consumo em 20%; a indústria deve diminuir em pelo menos 50% o esgoto lançado na natureza; e o governo deve fazer a manutenção adequada do sistema de distribuição de água.
Nas zonas rurais, muitos produtores aplicam água em excesso ou fora do período de necessidade das plantas. A eficiência da irrigação nos países em desenvolvimento fica entre 25% e 40%. "O resto é desperdício", diz Rebouças. Por parte dos governos há também muito desperdício. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) perde 40% da água que trata, por falta de manutenção das adutoras ou por não fiscalizar as ligações clandestinas. Quanto às indústrias, bastaria que seguissem a lei: 80% dos resíduos industriais nos países em desenvolvimento são despejados clandestinamente em rios, lagos e represas.
Já o usuário doméstico, embora represente a menor fatia do consumo, pode, com sua atitude, influenciar os volumes consumidos pela indústria e pela agropecuária. Para isso, basta que cada um siga algumas recomendações simples, como varrer a calçada em vez de lavá-la com a água da mangueira, não lavar a louça ou escovar os dentes com a torneira aberta e não transformar o banho diário em uma atividade de lazer.
Tendências
- ESCASSEZ
Cerca de 40 países vivem hoje com menos água do que é necessário para uma boa qualidade de vida. Até 2025, dois terços da população mundial deverão viver em países com escassez de água.
- LONGO PRAZO
O acesso a água segura para beber para toda a população não deverá se realizar antes de 2025 na Ásia, antes de 2040 na América Latina e antes de 2050 na África. Essas três regiões representam mais de 80% da população do planeta.
- SAÍDA
É possível impedir o agravamento desse quadro por meio de uma gestão mais adequada dos recursos hídricos e da racionalização do consumo por parte da agricultura, da indústria e dos usuários domésticos.
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