quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O Livro Derradeiro - Cruz e Sousa - Parte 3 de 4


O Livro Derradeiro - Cruz e Sousa - Parte 3 de 4

O Livro Derradeiro - Cruz e Sousa



Levantai-vos potentes

Altanados, ingentes




E fazei-vos Criseus!
Só quem pode vergar-vos
E pensar obumbrar-vos
Mais ninguém -- é só Deus!

Não fiqueis ignavos
Que o futuro dá bravos
Vos dizendo -- estudai!
Sois humanos -- portanto
Se há de trevas um manto
Apressai-vos, rasgai!

Nossa pátria querida
Necessita mais vida,
Necessita crescer!
É preciso contudo
Que tenhais como escudo
Quem vos mostra o saber!

E de obreiros altivos,
Que sereis redivivos
Que sereis imortais,
Achareis vossos nomes
Vossos grandes renomes
Nas mansões divinais!

Perdoai-me estas flores
Que tão murchas, sem cores
Nada podem valer!
São ofertas sinceras
Arrancadas deveras
Para vir vos trazer!

Palinuros -- à frente
Esse trilho é ridente
Dás-vos honra, louvor!
Quem o braço vos guia
Nunca, nunca entibia --
-- É artista... e pintor!

É a vós a quem falo
E se hoje eu não calo
Estas vãs expressões!
É que a louca alegria
Em minh'alma irradia
Com fulgentes clarões!



[Linha 5050 de 10004 - Parte 3 de 4]


O trabalho enobrece
Glorifica, engrandece
Aos artistas quais vós!
Que zombando da sorte
Têm a tela por norte
Os pincéis por faróis!

Eia! nessa carreira
Qual a nau sobranceira
Indo o mar a fender!
Quando há negros abrolhos,
Mil cachopos, escolhos
É mais belo o vencer!

Se o lutar é dos grandes
Que são gêmeos dos Andes
Que não sabem tombar!
Colhereis uma glória
Mais suprema memória,
Trabalhando, a lutar!

Deus, o Deus sublimado
Disse ao homem num brado,
Da sidérea mansão!
-- Vai depressa arrimar-te
Aos arcanos da arte,
Que terás um bordão!

Onde há braços d'artista
E seu ponto de vista
Decepar escarcéus!
E seu gládio seguro
Vai cavar o futuro
Vai rasgar negros véus!

E lá quando os vindouros
Vos c'roarem de louros
Vos erguerem docel!
Bradarão altaneiros:
-- Exultai brasileiros,
Ressurgiu Rafael!

Não temais os insanos,
Insensatos humanos
Bajulantes e maus!
Trabalhai muito embora!
Há de vir uma aurora
P'ra arrancá-los do caos!

Away, estudantes


[Linha 5100 de 10004 - Parte 3 de 4]


Sois vergônteas pujantes
A lauréis tendes jus!
Caminhai com coragem,
Qu'esta é a romagem
Dos apóstolos da luz!!!...


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AO DECÊNIO DE CASTRO ALVES
 Quem sempre vence e o porvir!

No espadanar das espumas
Que vão à praia saltar!
Nos ecos das tempestades
Da bela aurora ao raiar,
Um brado enorme, profundo,
Que faz tremer todo o mundo
Se deixa logo sentir!
E como o brado solene,
Ingente, celso, perene,
É como o brado: -- Porvir!

Pergunta a onda: -- Quem é?...
Responde o brado: -- Sou eu!
Eu sou a Fama, que venho
C'roar o vate, o Criseu!
Dormi, meu Deus, por dez anos
E da natura os arcanos
Não posso todos saber!
Mas como ouvisse louvores
De glória, gritos, clamores,
Também vim louros trazer.

Fatalidade! -- Desgraça!
Fatalidade, meu Deus!
Passou-se um gênio tão cedo,
Sumiu-se um astro nos céus!
As catadupas d'idéias,
De pensamento epopéias
Rolaram todas no chão!
Saindo a alma pra glória
Bradou pra pátria -- vitória!
Já sou de vultos irmão!

Foi Deus que disse: -- Poeta,


[Linha 5150 de 10004 - Parte 3 de 4]


Vem decantar a meus pés.
Na eternidade há mais luz,
Dão mais valor ao que és.
Se lá na terra tens louros,
Receberás cá tesouros
De muitas glórias até!
Terás a lira adorada
C'o divo plectro afinado
De Dante, Tasso e Garret!

Então na terra sentiu-se
Um grande acorde final!
O belo vate brasíleo
Pendeu a fronte imortal!
O negro espaço rasgou-se
E aquele gênio internou-se
Na sempiterna mansão.
A sua fronte brilhava
E o áureo livro apertava
Sereno e ledo na mão...

E o mundo então sobre os eixos
Ouviu-se logo rodar!
É que ele mesmo estremece
A ver um vulto tombar.
É que na queda dos entes
Que são na vida potentes,
Que têm nas veias ardor,
Há cataclismos medonhos
Que só sentimos em sonhos
Mas que nos causam terror!...

E o coração s'estortega
E s'entibia a razão!
No peito o sangue enregela
E logo a história diz: -- Não!
Não chore a pátria esse filho,
Se procurou outro trilho
Também mais glórias me deu!
E quando os séculos passarem
Se hão de tristes curvarem
Enquanto alegre só eu?...

Oh! Basta! Basta! Silêncio!
Repousa, vate, nos Céus!
Que muito além dos espaços
Os cantos subam dos teus!
Se nesta vida d'enganos
Não são bastante os humanos
Pra te render ovações!


[Linha 5200 de 10004 - Parte 3 de 4]


Perdoa os fracos, ó gênio,
Que pra cantar teu decênio
Somente Elmano ou Camões!


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ENTRE LUZ E SOMBRA
 Ao dia 7 de Setembro
 Libertas Lux Dei!!...

Surge enfim o grande astro
Que se chama Liberdade!...
Dos sec'los na imensidade
Eterno perdurará!...
Como as dulias matutinas
Que reboam nas colinas,
Nas selvas esmeraldinas
Em honra ao celso Tupá!...

Eram só cinéreas nuvens
Os brasíleos horizontes!
Curvadas todas as frontes
Caminhavam no descrer! --
As brisas nem murmuravam...
Os bosques nem soluçavam...
Os peitos nem se arroubavam...
-- Estava tudo a morrer!...

De repente, o sol formoso
Vai as nuvens esgarçando.
As almas vão palpitando,
Cintilam magos clarões!...
E o Índio fraco, indolente
Fazendo esforço potente
Dos pulsos quebra a corrente,
Biparte os acres grilhões!...

Por terra tomba gemendo
O vão, atroz servilismo...
Rui a dobrez no abismo...
Eis a verdade de pé!...
Enfim!... exclama o silvedo
Enfim!... lá diz quase a medo
Selvagem, nu Aimoré!...



[Linha 5250 de 10004 - Parte 3 de 4]


Assim, brasílea coorte,
Falange excelsa de obreiros,
Soberbos,.almos luzeiros
De nossa gleba gentil,
Quebrai os elos d'escravos
Que vivem tristes, ignavos,
Formando delas uns bravos
-- P'ra glória mais do Brasil!...

Lançai a luz nesses crânios
Que vão nas trevas tombando
E ide assim preparando
Uns homens mais p'ro porvir!
Fazei dos pobres aflitos
Sem crenças, lares, proscritos,
Uns entes puros, benditos
Que saibam ver e sentir!...

Do carro azul do progresso
Fazei girar essa mola!
Prendei-os sim, -- mas à escola
Matai-os sim, -- mas na luz!
E então tereis trabalhado
O negro abismo sondado
E em nossos ombros levado
Ao seu destino essa cruz!!...

Fazei do gládio alavanca
E tudo ireis derribando;
Dormi, co'a pátria sonhando
E tudo a flux se erguerá!
E a funda treva cobarde
Sentindo homérico alarde,
Embora mesmo que tarde
Curvada assim fugirá!...

Enfim!... os vales soluçam
Enfim!... os mares rebramam
Enfim!... os prados exclamam
Já somos livre nação!!...
Quebrou-se a estátua de gesso...
Enfim!... -- mas não... estremeço,
Vacilo... caio, emudeço...
Enfim de tudo inda não!!...


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[Linha 5300 de 10004 - Parte 3 de 4]




SETE DE SETEMBRO

Liberdade! Independência!...
Eis os brados grandiosos
Que quais raios luminosos
Fulguraram lá nos céus!...
Eis a mágica -- Odisséia
Que duns lábios rebentando,
Foi o povo transformando,
Foi rompendo os negros véus!...

As colinas, prados, montes,
As florestas seculares
-- Os sertões, os próprios mares
Exultaram com fervor!
E os brados retumbaram
Pela lúcida devesa,
Pela virgem natureza
Com homérico clangor!...

Qual artista consumado,
Qual um velho estatuário
Do Brasil no azul sacrário,
Essa data vos traçou,
-- O triunfo mais pujante,
A eleita das idéias,
A major das epopéias
-- Q'inda igual não se gerou!...

Mas embora, meus senhores
Se festeje a Liberdade,
A gentil Fraternidade
Não raiou de todo, não!...
E a pátria dos Andradas
Dos -- Abreu, Gonçalves Dias
Inda vê nuvens sombrias,
Vê no céu fatal bulcão!...

Muito embora Rio Branco,
Esse cérebro profundo
Que passou por entre o mundo,
Do Brasil como um Tupã!...
Muito embora em catadupas
Derramasse o verbo augusto,
Da nação no enorme busto
Inda a mancha existe, há!...

É preciso com esforço,


[Linha 5350 de 10004 - Parte 3 de 4]


Colossal, estranho, ingente,
Ir o cancro, de repente
Esmagar que nos corrói!...
É preciso que essa Deusa,
A excelsa Liberdade,
Raie enfim na Imensidade
Mais altiva como sói!...

Sai da larva a borboleta
Com as asas auriazuis
E um disco vai -- de luz
A deixar onde passou!
No entanto o grande berço
Das façanhas de Cabrito
Inda espera um novo grito
Como o -- Basta -- de Waterloo!...

Eu bem sei que Guttemberg
Que esse Fulton primoroso
Faust, Kepler grandioso
Trabalharam té vencer!
Mas embora tropeçassem
Acurando os seus eventos,
Tinham sempre tais portentos
A vontade por poder!...

Eia! sim! -- p'ra Liberdade
Irrompei qual verbo eterno,
Como o -- Fiat -- superno
Pelos ares a rolar!
Eia! sim! -- que nossa pátria
Só precisa -- mas de bravos...
E em prol desses escravos
Seu dever é trabalhar!!...

Somos filhos dessa gleba
Majestosa aonde o gênio
Como o astro do proscênio
Solta as asas, mui febril!
Dos selvagens Tiaraiús
E dos brônzeos Guaicurus...
Somos filhos do Brasil!...

Esperemos, tudo embora!...
Pois que a sã locomotiva,
Do progresso imagem viva
Não se fez a um sopro vão!.
Aguardemos o momento
Das mais altas epopéias,
Quando o gládio das idéias


[Linha 5400 de 10004 - Parte 3 de 4]


Empunhar toda a nação!...

Esperemos mais um pouco
Q'inda há almas brasileiras
Que se lembrarão, sobranceiras,
Que é preciso progredir!...
Inda há peitos valerosos
Que combatem descobertos
Por florestas, por desertos,
Mas c'os olhos no porvir!...

Inda há lúcidas falanges
Lutadores denodados
Que se erguem transportados
Burilando a sã razão!...
Inda há quem se recorde
Do Egrégio Tiradentes
Que do sangue as gotas quentes
Derramou pela nação!!...

Já nas margens do Ipiranga
Patrióticos acentos
Vão alados como os ventos
Pelos páramos azuis!!...
Vamos! Vamos! -- eia! exulta,
Jovem pátria dos renomes...
-- Vibra a lira, Carlos Gomes!
Bocaiúva, espalha luz!!...


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TRÊS PENSAMENTOS

Nasceste no Brasil -- filha d'América,
Tu sabes conservar nas débeis veias
No lúcido pulmão
O sangue efervescente e purpurino
A força de subir ao céu da história.
As lutas da razão!...

Nasceste no Brasil -- em meio às plagas
Da grande natureza mais pujante
E cheia de arrebol!...
E sabes obumbrar os astros fulvos
E lanças raios mil por toda a parte,


[Linha 5450 de 10004 - Parte 3 de 4]


Soberba como o sol!...

Nasceste no Brasil e o eco ovante
Das glórias sublimadas que tu colhes
Por este céu azul,
Vem férvido, viril e acentuado
Assaz repercutir com mais verdade
Aqui... aqui no sul!...


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PARANAGUADAS

Que importa que tu fales
Que importa que tu files
Que importa que não cales,
Que importa que tu fales
Que importa que te rales,
Que importa-me essa bílis
Que importa que tu fales
Que importa que tu files.


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QUESTÃO BROCARDO

-- Pife, pufe, pafe, pefe
Pafe, pefe, pife, pufe --
A cacholeta no chefe --
-- Pife, pufe, pafe, pefe
Estoure como um tabefe
E o ventre de raiva entufe --
-- Pife, pufe, pafe, pefe
Pafe, pefe, pife, pufe!


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[Linha 5500 de 10004 - Parte 3 de 4]



SEMPRE

Se é certo que o amor é um bem profundo
Se é certo que o amor é um sol ardente,
Eu hei de amar-te sempre neste mundo
E sempre, sempre, sempre -- eternamente.


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BEIJOS

Nesta Tebaida infinita
Da vida, na sombra oculto,
Eu gosto de olhar o vulto
De uma criança bonita.

Porque afinal as crianças,
Como eu deslumbro-me ao vê-las,
Cintilam como as estrelas,
Florescem como esperanças.

Dentro de mim se projeta
A luz cambiante dos prismas
E batem asas as cismas
Qual passarada irrequieta.

E batem asas e ruflam,
Pelas artísticas plagas,
As auras que as grandes vagas
Dos fundos mares insuflam.

E digo, ó mães, se uma aurora
Fosse a minh'alma sincera,
Os clarões todos eu dera
A uma criança que chora.

Porque se a luz fortalece
Arbustos e as andorinhas,
Também por certo às criancinhas
Conforta, avigora, aquece.

E eu que aplaudo e que rimo
Tudo isso que a luz se regre,
Na vibração mais alegre
As criancinhas estimo.


[Linha 5550 de 10004 - Parte 3 de 4]



Portanto, assim, sem refolhos
Beijando a Olga, beijando
Meus sonhos vão, irradiando,
Se derramar em seus olhos!


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QUESTÃO BROCARDO

Triolé fura essa pança
Do Delegado -- es um russo,
Revolução n'esta dança...
Triolé fura essa pança,
Fura, fura como a lança
Ou como no boi um chuço;
Triolé fura essa panca
Do Delegado -- és um russo.


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__________

Pinto, pinta -- ponta à ponta
Tanta ponta, Pinto pinta
Que pinta se pinta a pinta
Pinto -- pinta -- ponta à ponta.
Pinto é ponto mas não ponta
Mas se pinta por um pinto
E já que o Pinto se pinta
Eu pinto-lhe a pinta ao Pinto.


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PIRUETAS

 Finou-se um tal inglês


[Linha 5600 de 10004 - Parte 3 de 4]


 Gastrônomo e patife
 Que tanto -- de uma vez
Comeu, comeu e esparramou-se em bife;
 Que um dia de jejum,
Pela pança rotunda e quixotesca,
 Teve um parto... comum,
Um feto original... de came fresca.


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AS DEVOTAS

I
Enquanto o sino bimbalha,
Bimbalha, bimbalha e tine,
Lançai do olhar a migalha
-- Enquanto o sino bimbalha --
À raça que se amortalha
No horror que não se define...
Enquanto o sino bimbalha
Bimbalha, bimbalha e tine.

II
Perto da Igreja a senzala,
O Cristo junto aos escravos
E, pois, deveis visitá-la,
Perto da Igreja, a senzala
E procurar transfarmá-la
Da luz às palmas, aos bravos!...
Perto da Igreja a senzala,
O Cristo junto aos escravos.

III
E tão-somente por isto
Enquanto o sino bimbalha,
Bem antes de terdes visto
-- E tão-somente por isto --
Todo o martírio do Cristo,
O vosso amor que lhes valha,
E tão-somente por isto,
Enquanto o sino bimbalha.


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[Linha 5650 de 10004 - Parte 3 de 4]





__________

De claque, casaca e luva,
De luva, casaca e claque
Ao rendezvous da viúva,
De claque, casaca e luva,
Tu vais -- arrostas a chuva
No macadam -- plaque, plaque...
De claque, casaca e luva,
De luva, casaca e claque.


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[MEUS ESPLÊNDIDOS...]

Meus esplêndidos desejos
Emigram, como beijos,
Pelo azul espaço, em curvas,
Rasgando essas brumas turvas;
Pelo sol das primaveras,
Batendo as asas brancas,
Como, batem, quimeras...
...............................................
Voai, andorinhas francas!


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__________

Nunca se cala o Callado
E sempre o Callado, fala
Callado que não se cala,
Nunca se cala o Callado,
Callado sem ser calado,
Callado que é tão falado...
Nunca se cala o Callado
E sempre o Callado, fala.




[Linha 5700 de 10004 - Parte 3 de 4]


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__________

Estoure como o champagne
O triolé -- pule e salte
E como os gatos arranhe,
Estoure como o champagne
E a cara dos erros lanhe
E como o sol nunca falte...
Estoure como o champagne
O triolé -- pule e salte.


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__________

Parece um céu estrelado
Esta vida de nós dois
Depois d'aquele passado...
Parece um céu estrelado
Largo, puro, undiflavado
Depois do pesar, depois,
Parece um céu estrelado
Esta vida de nós dois.


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__________

Levantem esta bandeira
Da posição de farrapo;
Da terra azul brasileira
Levantem esta bandeira
Que sente o horror da esterqueira
Da escravidão -- negro sapo.
Levantem esta bandeira
Da posição de farrapo.



[Linha 5750 de 10004 - Parte 3 de 4]



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OLHARES

Teus traquinantes olhinhos
Continhas, Ziza, parecem;
Zigzagam sempre, tontinhos
Teus traquinantes olhinhos;
Tão pretos, tão redondinhos
Olhinhos que me embevecem,
Teus traquinantes olhinhos
Continhas, Ziza, parecem.


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__________

Nas explosões de bons risos
Os triolés petulantes
Chocalhem, tinam, precisos
Nas explosões de bons risos,
Tilintem como mil guisos
Sonoros, raros, vibrantes
Nas explosões de bons risos,
Os triolés petulantes.


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__________



Triolé -- pega estes zotes
E dá-lhes de baixo acima
Preso ao trapézio da rima
Na mais artística esgrima
D'estouros e piparotes,
Preso, ao trapézio da rima
Triolé -- pega estes zotes.


[Linha 5800 de 10004 - Parte 3 de 4]




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GRITO DE GUERRA
 Aos senhores que libertam escravos

Bem! A palavra dentro em vós escrita
Em colossais e rubros caracteres,
É valorosa, pródiga, infinita,
Tem proporções de claros rosicleres.

Como uma chuva olímpica de estrelas
Todas as vidas livres, fulgurosas,
Resplandecendo, -- vós tereis de vê-las
Rolar, rolar nas vastidões gloriosas.

Basta do escravo, ao suplicante rogo,
Subindo acima das etéreas gazas,
Do sol da idéia no escaldante fogo,
Queimar, queimar as rutilantes asas.

Queimar nas chamas luminosas, francas
Embora o grito da matéria apague-as;
Porque afinal as consciências brancas
São imponentes como as grandes águias.

Basta na forja, no arsenal da idéia,
Fundir a idéia que mais bela achardes,
Como uma enorme e fulgida Odisséia
Da humanidade aos imortais alardes.

Quem como vós principiou na festa
Da liberdade vitoriosa e grande,
Há de sentir no coração a orquestra
Do amor que como um bom luar se expande.

Vamos! São horas de rasgar das frontes
Os véus sangrentos das fatais desgraças
E encher da luz dos vastos horizontes
Todos os tristes corações das raças...

A mocidade é uma falena de ouro,
Dela é que irrompe o sol do bem mais puro:
Vamos! Erguei vosso ideal tão louro
Para remir o universal futuro...



[Linha 5850 de 10004 - Parte 3 de 4]


O pensamento é como o mar -- rebenta,
Ferve, combate -- herculeamente enorme
E como o mar na maior febre aumenta,
Trabalha, luta com furor -- não dorme.

Abri portanto a agigantada leiva,
Quebrando a fundo os espectrais embargos,
Pois que entrareis, numa explosão de seiva,
Muito melhor nos panteões mais largos.

Vão desfilando como azuis coortes
De aves alegres nas esferas calmas,
Na atmosfera espiritual dos fortes,
Os aguerridos batalhões das almas.

Quem vai da sombra para a luz partindo
Quanta amargura foi talvez deixando
Pelas estradas da existência -- rindo
Fora -- mas dentro, que ilusões chorando.

Da treva o escuro e aprofundado abismo
Enchei, fartai de essenciais auroras,
E o americano e fértil organismo
De retumbantes vibrações sonoras.

Fecundos germens racionais produzam
Nessas cabeças, claridões de maios...
Cruzem-se em vós -- como também se cruzam
Raios e raios na amplidão dos raios.

Os britadores sociais e rudes
Da luz vital às bélicas trombetas,
Hão de formar de todas as virtudes
As seculares, brônzeas picaretas.

Para que o mal nos antros se contorça
Ante o pensar que o sangue vos abala,
Para subir -- é necessário -- é força
Descer primeiro a noite da senzala.


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__________

Da Lua aos raios prateados
Que no horizonte se espargem,
Como fulguram os prados


[Linha 5900 de 10004 - Parte 3 de 4]


Da lua aos raios prateados,
Há vagos silfos alados
Do rio azul pela margem
Da lua aos raios prateados
Que no horizonte se espargem.


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__________

Teus olhos belos por dentro
De grandes colorações,
Parecem ter pelo centro
Teus olhos belos por dentro
A luz vital onde eu entro
E saio imerso em clarões...
Teus olhos belos, por dentro
De grandes colorações.


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ADALZIZA

Tens um olhar cintilante,
Tens uma voz dulçurosa,
Tens um pisar fascinante,
Tens um olhar cintilante
Cheio de raios, faiscante
Ó criatura formosa,
Tens um olhar cintilante,
Tens uma voz dulçurosa!...


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[TEUS OLHOS]

Teus olhos -- esses carinhos,
Esse casal de ilusões
Tão doces como os arminhos,


[Linha 5950 de 10004 - Parte 3 de 4]


Teus olhos -- esses carinhos
Parecem ser os dois ninhos
Das minhas consolações,
Teus olhos -- esses carinhos
Esse casal de ilusões!...


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SER PÁSSARO

Ah! Ser pássaro! ter toda a amplidão dos ares
Para as asas abrir, ruflantes e nervosas,
Dos parques através e dos moitais de rosas,
Nos floridos jardins, nas hortas e pomares.

Ser pássaro, cantar, subir, voar na altura,
Pelos bosques sem fim, perder-se nas florestas,
Das folhagens do campo em meio da espessura,
Das auroras de abril nas cristalinas festas.

Tecer no tronco seco ou no tronco viçoso
O quente lar do amor, o carinhoso ninho,
De onde sairá mais tarde o pipilar mavioso
De um outro mais gentil e meigo passarinho.

Não temer o verão e não temer o inverno
Para tudo alcançar na leve subsistência,
No contínuo lidar, no labutar eterno,
Que é talvez da alegria a mais feliz essência.

Viver, enfim, de luz e aromas delicados
Nascido dentre a luz, gerado dentre aromas,
Sonorizando o azul, sonorizando os prados
E dormindo da flor sob as cheirosas comas.

Voar, voar, voar, voar eternamente,
Extinguir-se a voar, no matinal gorjeio,
E ser pássaro, é ter em cada asa fremente
Um sol para aquecer o frio de algum seio.


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[Linha 6000 de 10004 - Parte 3 de 4]


O BOTÃO DE ROSA
 A uma atriz

O campo abrira o seio às expansões frementes
Das árvores senis, dos galhos viridentes.

Caía a tarde fresca
Loira, gentil, vivaz como a canção tudesca.
A iluminada esfera
Calma, profunda, azul como um sonhar de virgem,
Dava um brilho-cetim às verdes folhas d'hera.
No ar uma harmonia avigorada e casta,
No crânio uma vertigem
Duma idéia viril, duma eloqüência vasta.

Tardes formosíssimas,
Ó grande livro aberto aos geniais artistas,
Como tanto alargais as crenças panteístas,
Como tanto esplendeis e como sois riquíssimas.

Quanta vitalidade indefinida, quanta,
Na pequenina planta,
No doce verde-mar dos trêmulos arbustos,
Que misticismo, justos,
Bebia a alma inteira ao devassar o arcano
Das árvores titãs, das árvores fecundas
Que tinham, como o oceano,
Febris palpitações intérminas, profundas.

Esplêndidas paisagens
Opunhas o largo campo às vistas deslumbradas.
As múrmuras ramagens,
À luz serena e terna, à luz do sol -- que espadas
De fogo arremessava, em frêmitos nervosos,
Pelo côncavo azul dos céus esplendorosos,
Tinham falas de amor, segredos vacilantes
Finos como os brilhantes.

A música das aves
Cortava o éter calmo, em notas multiformes,
Límpidas e graves
Que estouravam no ar em convulsões enormes.
Aqui e além um rio
Serpejava na sombra, em meio de um rochedo
Áspero e sombrio.
O olhar perscrutador, o grande olhar, sem medo
E o espírito mudo,
Como um herói gigante avassalavam tudo...

Nuns madrigais risonhos


[Linha 6050 de 10004 - Parte 3 de 4]


Abria-se o país fantástico dos sonhos.
Alavam-se os aromas
Leais, inexauríveis
Das largas e invisíveis
Selváticas redomas.

A seiva rebentava
Em ondas -- irrompia
Na doce e maviosa e plácida alegria
De uma ave que cantava,
Dos belos roseirais
Que ostentavam a flux as rosas virginais.

E as jubilosas franças
Dos árvoredos altos,
Rígidos, atléticos,
Derramavam no campo uns fluidos magnéticos
Dumas vontades mansas.

A doce alacridade ia explosindo aos saltos.
E toda a natureza
Robusta de saúde e estrênua de grandeza
Libérrima e vital,
Erguia-se pujante, audaz e redentora,
No gérmen material da força criadora,
Dentre a vida selvagem mística, animal...

Dos roseirais preciosos
Nos renques primorosos,
Numa linda roseira abria castamente,
Como um sonho de luz numa cabeça ardente,
O mais belo, o mais puro entre os botões de rosa.
Tinha essa cor formosa,
Tinha essa cor da aurora,
Quando ensangüentada em rubro a vastidão sonora

Era um botão feliz
Sorrindo para o Azul, zombando da matéria.
Tinha o leve quebranto e a maciez etérea
Que uma estrofe não diz.
Das pétalas macias,
Das pétalas sanguíneas,
Doces como harmonias
Brandas e velutíneas
Uns perfumes sutis se espiralavam, raros,
Pela mansão do Bem, pelos espaços claros.
Perfumes excelentes,
Perfumes dos melhores,
Perfumes bons de incógnitos Orientes.



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Matéria, não deplores
O viver natural dos vegetais alegres;
Eles são mais ditosos
Que os nababos e reis nos seus coxins pomposos;
E por mais que tu regres
Ó matéria fatal, a tua vida inteira,
No rigor da higiene;
E por mais que a maneira
Do teu grande existir, desse existir -- perene
De ironias e pasmos,
Explosões de sarcasmos
Tu completes, matéria -- ó humanidade ousada --
Com a ciência altanada;
E por mais que no século,
Tu mergulhes a idéia, o prodigioso espéculo,
Será sempre maior e exuberante e forte,
Ó matéria fatal,
Essa vida tão rica
Que se corporifica
Na valente coorte
Do poder vegetal.

Era um botão feliz,
Cuja roseira, impávida,
Ébria de aromas bons, ébria de orgulhos -- ávida
De completa fragrância,
Palpitava com ânsia
Desde a própria raiz.

E entanto o sol tombara e triunfantemente
Como um supremo Rubens,
Jorrando à curvidade etérea do poente,
O ouro e o escarlate, aprimorando as nuvens,
Numa distribuição simpática de cores,
De tintas e de luzes
De galas e fulgores
Rubros como o estourar dos fervidos obuses.

O cérebro em nevrose,
No pasmo que precede a augusta apoteose
De uma excelsa visão perfeitamente bela,
De uma excelsa visão em límpidos dóceis,
Exaltava o acabado artístico da Tela
E o gosto dos pincéis.

Caíam da amplidão em névoas singulares
Os pálidos crepúsculos.
Os fúlgidos altares
Do homem primitivo -- a relva, o prado, o campo
Onde ele ia buscar a força de uma crença


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Que então lhe iluminasse a alma escura e densa
Morriam de clarões -- os poderosos músculos
Da fértil mãe de tudo -- a natureza ingente --
Deixavam de bater. -- O olhar do pirilampo
Oscilava, tremia -- azul, fosforescente.

As sombras vinham, vinham
Lembrando um batalhão d'espectros que caminham
E a casta nitidez sintética das cousas
Tomava a proporção das funerárias lousas.

Completara-se então o mais extraordinário,
O mais extravagante
Dos fenômenos todos:
A noite. -- Enfim descera a treva do Calvário,
A treva que envolveu o Cristo agonizante.

Coaxavam negras rãs nos charcos e nos lodos.
A abóbada espaçosa, a física amplitude,
Mostrava a profundez da angústia de ataúde
De um operário pobre,
Quando se escuta o dobre
Amplíssimo e funéreo,
Sinistro e compassado,
Rolar pela mansão gloriosa do mistério,
Assim com um soluço aflito, estrangulado.

Devia ser, devia
Por uma noite assim,
Como esta noite igual,
Que derramou Maria
A lágrima da dor, -- que o célebre Caim
Sentiu do crânio as convulsões do Mal.


Mas o botão de rosa,
Traído pelo estranho zéfiro da sorte,
Rolou como uma cisma
Intensa e luminosa
Ardente e jovial em que a razão se abisma
E foi cair, cair no pélago da morte,
Em um dos mais raivosos,
Em um dos mais atrozes
Rios impetuosos,
Cheios de surdas vozes,
Sozinho, em desamparo, assim como um proscrito,
Em meio à placidez
Dos astros no infinito
E a mesma irracional e fúnebre mudez.



[Linha 6200 de 10004 - Parte 3 de 4]


Depois e além de tudo,
Além do grave aspecto inteiramente mudo,
Ao tempo que morria
O cândido botão -- em um dos tantos galhos
Virentes da roseira -- alegre no ar se abria
Um outro que ostentava as pétalas sedosas,
As pétalas gracis de cores deliciosas,
De cores ideais.

As auras musicais
Passavam-lhe de leve,
Nos tímidos rumores,
De um ósculo mais breve

E dentre a exposição das delicadas flores,
Das rosas -- o botão
Aberto ultimamente as cúpulas austeras,
As plagas da esperança, a irmã das primaveras,
Pendido um quase nada, esbelto na roseira,
Mostrava aquela unção,
A ínclita maneira
De quem se glorifica
Subindo ao céu azul da majestade pura,
Da eterna exuberância,
Da fonte sempre rica,
Da esplêndida fartura
Da luz imaculada -- a egrégia substância
Que faz das almas claras
Pela fecundidade olímpica do amor,
Magníficas searas,
De onde se difunde a vida sempiterna,
A vida essencial, a lei que nos governa,
A idéia varonil do poeta sonhador.

A arte especialmente, esse prodígio, atriz,
Como o botão de rosa
Tão meigo e tão feliz,
Pode ser arrojada e brutalmente, ao pego,
Na treva silenciosa,
Onde o espírito vai, atordoado e cego,
Cair, entre soluços,
Como um colosso ideal tombado ao chão de bruços,
Ou pode equilibrar-se em admirável base
Estética e profunda,
Assim, bem como o outro, a mais radiosa altura.

Deves sondá-la bem nesta segunda fase.
Precisas para isso uma alma mais fecunda.
Precisas de sentir a artística loucura.



[Linha 6250 de 10004 - Parte 3 de 4]



Índice



__________

Ó Adalziza dos sonhos;
Estrela dos firmamentos
Dos meus cantares risonhos
Ó Adalziza dos sonhos
Rasga esses véus enfadonhos
Dos teus louros pensamentos,
Ó Adalziza dos sonhos,
Estrela dos firmamentos.


Índice



__________

Enquanto este sangue ferve
Com força, com toda a força,
Palpite a fibra da verve
Enquanto este sangue ferve
Esmague-se o que não serve
Na treva o Mal se contorça,
Enquanto este sangue ferve,
Com força, com toda a força.


Índice



__________

Como um cisne, est'alma frisa
O mar de luz de teus olhos,
Ó simpática Adalziza
Como um cisne, est'alma frisa,
Vagueia, paira, desliza
Sem naufragar nos escolhos
Como um cisne, est'alma frisa
O mar de luz de teus olhos.


Índice


[Linha 6300 de 10004 - Parte 3 de 4]





__________

Merece o bom do Vidal
Que é mesmo um Joca de truz,
Ter também com o seu Fiscal,
Merece o bom do Vidal
Um banquete bambual,
De cem milhões de bambus
Merece o bom do Vidal
Que é mesmo um Joca de truz!


Índice



__________

Zulmira dos meus amores,
Zulmira das minhas cismas,
Resplandece como as flores,
Zulmira dos meus amores
Abre os olhos sedutores
Nos quais a minh'alma abismas,
Zulmira dos meus amores,
Zulmira das minhas cismas.


Índice



__________

Deixai que a minh'alma escassa
De luz -- aos astros emigre
Como gaivota que passa
Deixai que a minh'alma escassa
De amor -- na plúmbea desgraça
De atrozes garras de tigre,
Deixai que a minh'alma escassa
De luz -- aos astros emigre.


Índice




[Linha 6350 de 10004 - Parte 3 de 4]



__________

Quando ela está de colete,
Espartilhada, irradiante
Vestida de azul-ferrete
Quando ela está de colete
Em mim cruzando o florete
Do seu olhar -- que elegante
Quando ela está de colete,
Espartilhada, irradiante.


Índice



__________

Ó cintilante Quiquia,
Menina dos meus olhares,
Flor azul da simpatia,
Ó cintilante Quiquia,
Rasga este céu da alegria
Dos meus risonhos cantares,
Ó cintilante Quiquia,
Menina dos meus olhares.


Índice



__________

Olhos pretos, sonhadores
Ó celeste Carolina,
Como são esmagadores
Olhos pretos sonhadores,
Como vibram dos amores
A noss'alma cristalina,
Olhos pretos, sonhadores,
Ó celeste Carolina.


Índice



__________


[Linha 6400 de 10004 - Parte 3 de 4]



Se estala a estrofe de fogo,
Se explose a estrofe do Bem,
Como o verbo demagogo
Se estala a estrofe de fogo,
Não ceda o espírito ao rogo
Do Mal que os erros contêm,
Se estala a estrofe de fogo,
Se explose a estrofe do Bem!


Índice




AMOR!!...
 Oferecido à Ilma. Sra. D. Pêdra
 como prova de imensa amizade e profundo amor
 que lhe consagra.
    O Autor.

Amor, meu anjo, é sagrada chama
Que o peito inflama na voraz paixão,
Amo-te muito eu t'o juro ainda
Deidade linda que não tem senão!

Virgem formosa, d'encantos bela,
Gentil donzela, meu amor é teu.
Vou consagrar-te mil afetos tantos
Puros e santos qual também Romeu!

Flor entre as flores, a mais linda, altiva
Qual sensitiva, só tu és, ó sim.
Esses teus olhos sedutores, belos
De mil anelos, me pedirão a mim.

Anjo, meu anjo, eu te adoro e amo.
Por ti eu chamo nas horas de dor.
Sem ti eu sofro; um sequer instante
De ti perante só me dás valor.

Meu peito em ânsias só por ti suspira
Como da lira a vibrante voz!
Te vendo eu rio e senão gemendo
Vou padecendo saudade atroz!

Amor ardente de meu coração
Santa paixão em todo peito forte
Eu hei de amar-te até mesmo a vida


[Linha 6450 de 10004 - Parte 3 de 4]


Deixar, querida, e abraçar a morte!


Índice



__________


Ó Flora, ó ninfa das rosas,
Ó frescura dos morangos,
Abre as pupilas radiosas,
Ó Flora, ó ninfa das rosas,
Dá-me as estrelas formosas
Do olhar repleto de tangos,
Ó Flora, ó ninfa das rosas,
Ó frescura dos morangos.


Índice



__________

Morena dos olhos pretos
Dos olhos pretos, morena,
Escuta os vagos duetos
Morena dos olhos pretos,
Faremos ambos, tercetos,
Com esta esfera serena,
Morena dos olhos pretos,
Dos olhos pretos, morena.


Índice



__________

Embora eu não tenha louros
Como esses grandes heróis
E nem da idéia os tesouros,
Embora eu não tenha louros,
Talvez nos tempos vindouros
Traduza o poema dos sóis,
Embora eu não tenha louros
Como esses grandes heróis.


[Linha 6500 de 10004 - Parte 3 de 4]




Índice



__________

Ó Alzira, Alzira, Alzira,
Estrela resplandecente,
Resplandecente safira,
Ó Alzira, Alzira, Alzira,
As vibrações desta lira,
Acorda do sono ardente,
Ó Alzira, Alzira, Alzira,
Estrela resplandecente.


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__________

Aos relâmpagos sulfúreos
Na esfera zigue-zagando
Como esses pobres tugúrios,
Aos relâmpagos sulfúreos
Se douram, brilham purpúreos
Fulguram de quando em quando,
Aos relâmpagos sulfúreos
Na esfera zigue-zagando.


Índice



__________

À sombra espessa de um álamo
Quando nasceu-me a paixão,
Crescendo aos beijos do tálamo
À sombra espessa de um álamo
Que de harpas senti, que cálamo
Por dentro do coração
A sombra espessa de um álamo
Quando nasceu-me a paixão.




[Linha 6550 de 10004 - Parte 3 de 4]


Índice




ROSA
 a A. Moreira de Vasconcelos

 Et, rose, elle a vécu ce que vivent les roses,
 l'espace d'un matin.
    (Malherbe)

Rosa -- chamava-se a estrela
Daquelas flóreas paragens;
Era escutá-la e era vê-la
Metida em brancas roupagens

Todas de pregas e tufos,
De laçarotes e rendas,
Ou mesmo ouvir-lhe os arrufos
Ou surpreender-lhe as contendas

Nas lindas tardes radiadas
Por cores de silforamas
E sentir logo, inspiradas
Do amor, as férvidas chamas.

Ela era um beijo fundido
Ao cintilar de uma aurora,
Um sonho eterno espargido
Nos belos sonhos de Flora.

E tinha uns longes sublimes
De grande força lasciva,
A transudar, como uns crimes
Do sangue, da carne altiva.

Contava tudo... mas tanto,
Em turbilhões, em cascata,
Que recordava esse canto
Uma garganta de prata.

E quando os poetas, rapazes,
A viam passar, vibrante,
Mostrando as curvas audazes,
Do corpo todo radiante,

Diziam de entre os primores
De estrofes mais dulçurosas:
-- Tu és a gêmea das flores,


[Linha 6600 de 10004 - Parte 3 de 4]


Das rosas, perfeitas rosas.

Convulsionado e sem regra
O coração nos palpita;
Andas alegre e se alegra
A gente quando te fita.

Tens umas coisas estranhas
Nas refrações da pureza...
Umas finuras tamanhas...
Uma sutil gentileza...

Ficas rosada se um tico
Alguém te diz, de mais franco...
Mas como fica tão rico,
Tão belo o rubro no branco,

Nesse grácil e tão claro,
Sereno e cândido rosto
Que é mesmo um céu puro e raro
Das alvoradas de agosto.

Depressa cobre-te o pejo
A face nova e adorada,
De sorte que sem desejo
És -- Rosa e ficas rosada.

Dos risos colhes a messe
E és doce como o conforto,
És casta como uma prece
Gemida ao lado de um morto.

Para que a dor não te obumbre
A glória de flores junca
Tua vida e, por isso, nunca
Nas mágoas terás vislumbre.

Permita o bom sol que inunda
De luz os bosques -- permita
Que sejas sempre fecunda
De gozo e sempre bonita.

Agora, quando alguém passa
Por onde a estrela morava,
Olhando pela vidraça
Bem junto da qual bordava,

Repara um silêncio triste
Na sala -- em crepes envolta,
Onde parece que existe


[Linha 6650 de 10004 - Parte 3 de 4]


Profunda lágrima solta.

E sente por dentro d'alma
Aquela angústia que esmaga
Bem como em noites sem calma
A vaga esmaga outra vaga.

Apenas as flores lindas
Que vendo Rosa morriam
Com brejeirices infindas
De invejas que renasciam,

Sem mais inúteis ciúmes,
Abrem os frescos pistilos,
Jogando aos céus, em perfumes,
Os seus melhores sigilos.

No entanto a luz soberana
Do amor desfilam as rimas
Dos poetas -- como um hosana
A quem já goza outros climas.

Rosa -- chama-se a estrela
Daquelas flóreas paragens;
Era escutá-la e era vê-la
Metida em brancas roupagens,

Para exclamar: -- Dentro dela
Existe a fibra gloriosa...
Ninguém viu coisa mais bela
Nem Rosa... tão bela rosa!...


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__________

Quando estás de laçarotes
E de plissês e fichus,
De rendas e de decotes,
Quando estás de laçarotes,
Toilette de chamalotes,
Quanto esplendor, quanta luz,
Quando estás de laçarotes
E de plissês e fichus.


Índice


[Linha 6700 de 10004 - Parte 3 de 4]





__________

Da idéia nos mares jônios
A barca das tuas cismas
Soprada por bons favônios
Da idéia nos mares jônios,
Vai livre dos maus demônios,
Batida da luz dos prismas,
Da idéia nos mares jônios
A barca das tuas cismas.


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__________

-- Como um assombro de assombros
A rapariga -- um rainúnculo,
Da serra pelos escombros
Como um assombro de assombros,
Quando vê de enxada aos ombros
O noivo -- lembra um carbúnculo,
Como um assombro de assombros
A rapariga -- um rainúnculo.


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__________

-- Como fortes gargalhadas
Por um templo de cristal,
Sonoramente vibradas,
Como fortes gargalhadas,
Sinto idéias baralhadas
N'um frágil descomunal
Como fortes gargalhadas
Por um templo de cristal.


Índice




[Linha 6750 de 10004 - Parte 3 de 4]



__________

Da bruma pelos países
Pelos países da bruma,
Longe dos astros felizes,
Da bruma pelos países,
Tu vais perdendo os matizes
Da luz e da glória em suma,
Da bruma pelos países,
Pelos países da bruma.


Índice



SAUDAÇÃO
 Ao Liceu de Artes e Ofícios

Como esta luz é serena,
Como esta luz é sincera;
Como eu vejo a primavera
Num lápis e numa pena.

Que prismas de luz ardente,
Que prismas de luz suave;
Como eu sinto um canto de ave
Em cada boca inocente.

Sim! Que o estudo é como a aurora
Que nos entra pela casa,
Num vivo fulgor de brasa,
Vibrante, alegre, sonora.

Ele rasga a treva espessa,
Num só momento -- cantando;
Vai estrelas semeando
Em cada tenra cabeça.

Tira os crânios do letargo
Da ignorância -- pois entra
Como um sol e se concentra
Num esplendor muito largo.

Quem, ó Arte imaculada,
Medisse o ser da criança,
Pela alma de uma esperança
Pela alma de uma alvorada.



[Linha 6800 de 10004 - Parte 3 de 4]


Quem aos páramos subindo,
Eternamente pudesse,
Dos astros a loura messe
Arrancar -- depois abrindo

Os peitos das criancinhas
Jogá-los dentro e beijá-las
Cheias de pompa e das galas
Que a luz concede às rainhas!...

Pois que a treva entre fulgores,
É como, dentre ataúdes,
Rebentar como virtudes,
As mais simpáticas flores.

Ah! Ninguém sabe, por certo,
Quanto é bom, quanto é saudável,
Sentir a crença adorável
Como um clarão sempre aberto.

Ver os germens do futuro
No campo eterno da escola
Brilhando como a corola
De um lírio cândido e puro.

Ver morrer -- como uns invernos
Da vida, os velhos colossos
E ver erguerem-se os moços
Como verões sempiternos.

Mães, ó mães tão estremosas,
Dos vossos ventres fecundos
Saem todos esses mundos
Das idéias fulgurosas.

Tudo isso quanto há escrito
De pensamento e crenças
Saiu das fontes imensas
De um grande amor infinito.

E desde a escrita a leitura
E desde um livro a uma carta,
A bondade sempre farta
Das mães -- esplende e fulgura.

Bom dia ao mestre que é guia
Das belas crianças louras!
Bom dia às mães porvindouras,
À mocidade -- Bom dia!



[Linha 6850 de 10004 - Parte 3 de 4]



Índice




FRÊMITOS

I
Ó pombas luminosas
Que passais neste mundo eternamente
Só a cantar os madrigais de rosas,
Atravessados de um luar veemente,
Inundados de estrelas e esplendores,
De carinhos, de bênçãos e de amores.

II
Ó virgens peregrinas,
De meigo olhar banhado de esperanças,
Que perfumais com lírios e boninas
A aurora de cristal das louras tranças,
Que atravessais constantemente a vida
Do sol eterno, da visão florida.

III
Amadas e felizes
Gêmeas da luz das frescas alvoradas,
Vós que trazeis nas almas as raízes
Do que é são, do que é puro -- ó vós amadas
Prendas gentis do paternal tesouro,
Iriados corações de fluidos de ouro.

IV
É para vós que eu quero
Engrinaldar de tropos e de rimas,
Num doce verso artístico e sincero,
Esgrimir com belíssimas esgrimas
A estrofe e dar-lhe os golpes mais seguros
Para que brilhe como uns astros puros.

V
É só a vós, apenas,
Que eu me dirijo, límpidas auroras,
Que pelas tardes plácidas, serenas,
Passais, galantes como ingênuas Floras,
Coroadas de flor de laranjeira,
Noivas, sorrindo à mocidade inteira.

VI
Porque é de vós que deve,


[Linha 6900 de 10004 - Parte 3 de 4]


De vós que o sonho eterno dulcifica,
Partir o lume quando cai a neve,
Surgir a crença poderosa e rica.
Porque afinal, o que se chama crença,
Senão o amor e a caridade imensa?

VII
Os tristes e os pequenos
Em quem descansam brandamente os olhos,
Esses humildes, rotos Nazarenos
Que vivem, morrem suportando abrolhos,
Senão nos grandes entes piedosos
Que dão-lhes força aos transes dolorosos?

VIII
Oh, sim que a força eterna
Parte dos corpos rijos da saúde,
Perante a lei da vida que governa,
O nobre, o rei, o proletário rude;
Parte dos seres fartos de carinhos
Como de paz e de alegria os ninhos.

IX
Eu peço para todos
E peço a vós que sois as fortalezas
Da esperança, da fé -- a vós que os lodos
Da miséria, do vício, das baixezas,
Não denegriram essas consciências
Castas e brancas como as inocências.

X
Nem se esperar devia
Que eu tentasse bater a outras portas,
Quando vós sois o exemplo de Maria;
Não andais mudas, regeladas, mortas
Pela noite voraz da sepultura
E escutareis os dramas da amargura.

XI
Não julgueis que eu vos peça,
Uma alvorada feita de um sorriso;
A minh'alma garante e vos confessa
Que se crê nas mansões do Paraíso,
É porque vós reinais por sobre a terra
E o Paraíso dentro em vós se encerra.

XII
A vós, a vós compete
A glória do dever -- porque assim como
A luz do sol na lua se reflete,


[Linha 6950 de 10004 - Parte 3 de 4]


Também das aflições no duro assomo,
Da pobreza refletem-se nas almas,
Vossas imagens, como auroras calmas.

XIII
Portanto, a mocidade
Vossa, terá de ser de hoje em diante,
Enquanto a esmagadora atrocidade
Da peste -- nos vorar d'instante a instante,
Quem se há-de encarregar desta manobra
Do galeão da vida que sossobra.

XIV
E para isso, ó rainhas
Da juventude -- tendes as quermesses
Que dão bons frutos assim como as vinhas;
As matinées de cânticos e preces,
Os cintilantes, pródigos bazares
Onde a luz salta extravasando em mares.

XV
Enquanto a mim, na arena
Da heroicidade humana que consola,
Oh, faz-me bem a vibração da pena,
Pelo amor, pelo afago, pela esmola,
Como um radiante e fulgido estilhaço
De sol febril no mármore do Espaço!


                                               

GUSLA DA SAUDADE
 A Santos Lostada
 pela morte do seu velho pai.

Nunca mais, nunca mais esses teus olhos
Palpitarão nos olhos seus honestos
Nem hão de vê-lo em ânsias por escolhos.

Ele morreu, morreu -- e os mais funestos
Lutos da dor feriram como abrolhos
Teu lar e os teus -- serenos e modestos.

Que incalculável explosão de prantos
Não inundou as almas preciosas
Dos teus irmãos, da tua mãe -- uns santos

Que peregrinam nestas lacrimosas
Sendas da vida, em mágoas, sem encantos
Como sem luz e sem orvalho as rosas.


[Linha 7000 de 10004 - Parte 3 de 4]



Ah! formidável lei cruel da vida,
Lei da matéria, da mudez das lousas,
Da eterna noite atroz, indefinida;

Tens o segredo intérmino das cousas,
E nessa dura e tenebrosa lida,
Oh! nem sequer um dia só repousas.

Quem sabe, ó morte, ó lúgubre, quem sabe
O teu poder fatal, desapiedado
Onde se oculta e se resume e cabe.

Pois nem que o céu puríssimo, azulado
Cair aos pedaços, tombe e se desabe
Na profundez do abismo ilimitado

E a crença humana espavorida, em gritos,
Palpando o nada, esquálida, gemendo
Rasgue a amplidão de estranhos infinitos,

Nunca da morte saberão o horrendo
Mistério rijo e surdo dos granitos
Os corações que vivem combatendo?!...

Não! A Ciência penetrou, o estudo
Do pensador, abriu mais horizontes
Nesse problema silencioso e mudo.

O pensamento constelou as frontes,
Deu a razão o mais brunido escudo
E construiu as luminosas pontes

De onde se vai, com grande olhar, seguro,
Atravessar as regiões sonoras
Dos Ideais que irrompem do Futuro;

E sem contar dos séculos as horas,
E sem temer as mil visões do Escuro,
Alegremente ao fresco das auroras.

Mas entretanto, ó meu amigo, escuta,
Toda a saudade, a grande nostalgia
Nos deixa frios, mortos para a luta.
Porque, olha, a morte é sempre uma agonia!



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[Linha 7050 de 10004 - Parte 3 de 4]





SMORZANDO

O véu da tarde cai pelas quebradas
Das serras altaneiras;
As aves condoreiras
Rompem da mata em místicas risadas
O largo espaço intérmino cindindo.

A livre natureza,
Humildemente, pura, vai caindo,
Caindo de joelhos
Como esse denso véu
Cai na viril e rútila grandeza
Do sol que desce em borbotões vermelhos
Como uma mancha tropical no céu.

E vibra a Ave-Maria
Como um soluço, estranho, indefinido;
Talvez como um gemido
Dentre a escalvada e agreste serrania.

E desce e desce e desce
De toda a imensidade
A salutar carícia de uma prece,
O eflúvio da saudade
Que alaga o nosso peito heroicamente
Como o luar de um treno
Mavioso e emoliente,
Mais doce que o sorrir do Nazareno.



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GIULIETTA DIONESI
 (Desterro)
 Ao seu violino

Ah! Giulietta! Os sons do teu violino
Choram, suspiram, rugem como o leão
Lembram sonoro rio cristalino
E tem soluços como um coração.

Ó da harmonia divinal sereia!


[Linha 7100 de 10004 - Parte 3 de 4]


Rosas e estrelas e canções de ninhos
Nas cordas do violino que gorjeia
Passam cantando como os passarinhos.

Não sei que estranho espírito sereno
Para a harmonia essa alma te inspirou
Que dentro dum violino tão pequeno
A música do espaço concentrou!

Ah! peregrina do país do sonho
Flor luminosa de região sonora,
No teu suave coração risonho
Vibram triunfantes os clarins da aurora.

Tudo dentro de ti gorjeia e trina,
Como trina e gorjeia o rouxinol
Nas paisagens silvestres da campina,
Aos esplendores siderais do sol.

Quem não há de chorar e rir não há de
De amor, de saudade e de esperança,
De assombro, vendo que na tenra idade
Já és tão grande, sendo uma criança?!

Os astros do cerúleo firmamento,
As meigas flores, o infinito mar
Que digam como tu nesse instrumento
Sabes sorrir e sabes soluçar...

Domadora feliz do som profundo,
Deusa imortal de ignotas harmonias,
Vai triunfar nas vastidões do mundo,
Da glória nas eternas sinfonias.



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FILETES
 (Desterro)

I
Ó pérola nitente,
Ó pérola do amor,
Ó imã redolente
Das pétalas da flor;



[Linha 7150 de 10004 - Parte 3 de 4]


Ó lágrima sutil,
Ó lágrima ideal,
Do côncavo de anil
Caída no cristal

Do lago transparente,
Harmoniosamente,
Aos flocos do luar...

Tu és como as essências,
Conheces as ciências
Ocultas... de matar!

II
Cintila a estrela-d'alva
Bem como o olhar do crente!
Perpassa no ambiente
O fresco olor da malva.

Um tic de lirismo,
Simpático e harmônico,
Derrama no sinfônico
Riacho -- um misticismo.

Há músicas supremas,
Um mundo de problemas
Nos montes seculares.

E como um lírio roxo,
A alma em canto frouxo
Emigra para os ares.



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VERSOS À INFÂNCIA
 (Desterro)

Nos roseirais, ao vir da madrugada,
Desabrocham no val todas as rosas,
Nos galhos cheios de uma luz doirada,
Meigas e frescas, rubras, perfumosas,
Nos roseirais, ao vir da madrugada.

Como em bocas cheirosas e vermelhas
Pousam beijos de amor e de ventura,


[Linha 7200 de 10004 - Parte 3 de 4]


O mel lhe sugam todas as abelhas
Pousando em cima da corola pura
Como em bocas cheirosas e vermelhas.

Desde os campos, o bosque, até aos montes
Tudo renasce num jardim de flores;
E pelo azul do céu, nos horizontes,
Há os mais vivos, raros esplendores,
Desde os campos, o bosque, até aos montes.

Pelos ninhos sonoros, delicados,
Cantam e trinam muitos passarinhos
Nos altos arvoredos enflorados,
A margem verdejante dos calminhos,
Pelos ninhos sonoros, delicados.

As borboletas brancas e amarelas,
Azuis, cor de ouro, cor de prata e brasa,
Leves, ligeiras, tênues e singelas,
Abrem a fine talagarça da asa,
As borboletas brancas e amarelas.

Tudo no val acorda de desejos
À musica dos cantos mais risonhos;
E as aves soltas, peregrinos beijos,
Dizem, cantando, que através de sonhos
Tudo no val acorda de desejos.

II
Na alma da infância, tal e qual roseiras,
Abrem festões de límpida fragrância
Os sonhos e as quimeras passageiras
Que são mais próprias do vergel da infância,
Na alma da infância, tal e qual roseiras.

O pequenino coração ditoso
Canta canções de uma ave pequenina;
E é um encanto ver assim radioso
No peito de uma cândida menina
O pequenino coração ditoso.

A existência de sol das criancinhas
Lembra um pomar de frutas bem serenas,
Por onde os colibris e as andorinhas
Gozam amores sacudindo as penas,
A existência de sol das criancinhas.

Não sei dizer se adore mais crianças
Ou mais também as flores de um arbusto;
Nessas tão puras, castas semelhanças


[Linha 7250 de 10004 - Parte 3 de 4]


Eu, para ser bem carinhoso e justo,
Não sei dizer se adore mais crianças.



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TRISTE
 (Desterro)

Em junho, que é mês do frio,
Perdes todo o colorido,
Tens um tom vago e sombrio
De dor, de mágoa e gemido.

Não sei que tristeza é essa
De tão doloroso cunho
Que perdes a cor depressa
Assim que vem vindo junho.

Ficas branca e desmaiada,
Lembrando a lua serena,
Fraca, pálida e gelada,
Como frágil açucena.

Vão-se-te as rosas da face
Emurchecendo e sumindo
Num crepúsculo vivace
De tudo o que estas sentindo.

Ai! no entanto pelos prados
Onde os dias resplandecem
Risonhas como noivados
Em junho as rosas florescem...



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FONTE DE AMOR

Trago-a à tua presença
Para que vejas a imensa
Mágoa atroz que a devorou.


[Linha 7300 de 10004 - Parte 3 de 4]



E saibas, ó flor das flores,
Que a fonte dos seus amores
Eternamente secou.

Foste à fonte buscar água
E tinha secado a fonte.
Aí, flor azul do monte,
Tiveste a primeira mágoa.

Porém se uma alma na frágua
Das dores sem horizonte
Queres ver, sentir defronte
Dos olhos, manda que eu trago-a.



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NAUFRÁGIOS
 (Desterro)

I
O Mar! O mar! Quem nunca viajasse...
Quem nunca dentre dúvidas sentisse
O coração e ai, nunca embarcasse...
Oh! quem do mar as cóleras punisse!

Ora o mar e sereno, e calmo, e manso,
As vagas são melódicos arpejos
Dando à embarcação leve balanço,
Como um afago maternal de beijos.

Ora o mar franco, livre e transparente,
Tão tranqüilo que está, tão brando, rindo,
Que até parece, que até cuida a gente
Que os corações podem boiar, dormindo.

Ora ferve, rebenta, estoura, estala,
Rude, feroz, em convulsões; profundo,
Abrindo a corpos pavorosa vala
E mundos de agonia num só mundo!

II
Filho! Filho! Adeus, querido,
Vou viajar para além,
Sejas de Deus protegido...


[Linha 7350 de 10004 - Parte 3 de 4]


Que sempre me queiras bem.

Vou deixar-te nesta terra,
Entregue aos destinos teus;
Filho, o que este adeus encerra
Só o pode saber Deus.

Levo as crenças em pedaços,
Como pedaços de céus.
Vou ver mar, vou ver espaços
Ver temporais, escarcéus.

Filho amado, vou deixar-te
Cá na terra, pelo mar;
Porem, crê, de qualquer parte,
Crê, meu filho, hei de voltar.

III
Adeus, noiva, vou-me embora,
Vou-me com Deus, é preciso.
Que colhas em cada aurora
Muita messe de sorriso.

Sou soldado, o meu destino
É viver bem longe, é certo,
Longe do canto divino
Da tua voz, sol aberto.

Custa bem esta partida
A mim que entanto sou forte.
Ninguém sabe o que é a vida
Para quem vive da morte.

Da morte, sim, pomba amada;
Que as minhas crenças já mortas
Tu, com essa alma estrelada
Sem tu sequer me confortas.

Perdi pai, perdi carinhos
De mãe, de irmãos e de todos.
Eu sou como a flor de espinhos
Nascida por entre lodos.

Tu vieste, ó noiva, apenas,
Como um íris de esperanças,
Dar-me alvoradas serenas,
Encher-me de confianças.

Só em ti confio, espero
Com ardor, com fé veemente,


[Linha 7400 de 10004 - Parte 3 de 4]


Pomba de luz que eu venero,
Doce vésper do oriente.

Adeus, pois chegou a hora,
Vou-me com Deus, minha filha;
Não chores, que o mar não chora:
-- Olha, vê que canta e brilha.

IV
Adeus, esposa estremosa,
Vou-me, não sei para quando
Voltar -- minh'alma saudosa
Por meus filhos vai chorando.

Ficam-te eles no entretanto
Pra tirarem-te os pesares,
Para enxugarem-te o pranto
Que há de ser maior que os mares.

Maior que os mares, não minto,
Não exagero tão pouco,
Porque ai, só tu e só eu sinto
O nosso amor como é louco.

Vou-me às viagens, aos dias
Passados entre horizontes
E mares e ventanias
Sem arvoredos, sem montes.

Os dias de céus eternos
E de mar ilimitado,
Com tempo de atroz infernos
Com tempo de sol doirado.

Adeus! Cá dentro do peito
Há dois corações unidos;
Sobre um o mar tem direito,
Sobre outro -- os filhos queridos.

V
Eis as canções e adeuses de saudade
Que as desgraçadas almas palpitantes
Soluçam na sombria imensidade
Desta vida de angústias lacerantes.

Ao mar! Ao mar! Frescas aragens puras
Aflam nas ondas maviosamente.
Que balada de plácidas venturas,
Que sinfonias, que gemer dolente!



[Linha 7450 de 10004 - Parte 3 de 4]


Os céus abertos, claros, luminosos
Lembram a candidez branda das virgens.
Vítreos ares, magníficos, radiosos
Onde o sol arde em férvidas vertigens.

Lindíssimos painéis, bela paisagem
Abre na vista do viajante o ouro
Da luz que salta como uma homenagem
De oriental, esplêndido tesouro.

Vai bem, vai muito bem, mesmo, o navio.
As vagas desenrolam-se de leve.
Parece um berço por de sobre um rio
Manso, prateado, espúmeo, cor de neve.

Vive-se a bordo como em terra. -- As vagas
Nunca foram tão doces e tão meigas,
Como em desertas, viridentes plagas
É doce e meigo o mole chão das veigas.

Viver assim, na realidade, é gozo
Que até parece não haver na terra!
Tão belo é o mar, tão calmo e bonançoso,
Tal confiança nos semblantes erra!

Vogando assim a embarcação, quem pensa
Ir acordado afora pela Vida?!
Tudo é um sonho de esperança imensa
Um bom sonho de aurora indefinida.

VI
Súbito os ares enchem-se de noite
E grita e zune, zargunchando o vento
Que esbraveja, morde com rijo acoite
O mar que espuma e empola num momento.

Não estrugem os raios pela treva
Não ha trovões bravios rebentando
Como canhões que estouram, -- mas se eleva
Do oceano um vendaval que vai urrando

Com fúrias e com cóleras enormes
Como potros sanhudos relinchando
Em pinotes e berros desconformes.

Caiu talvez no mar o etéreo espaço,
Toda a cúpula azul tombou, quem sabe?
Céus! há lutas ali, de braço a braço.
Horror! Crível sera que o mundo acabe?

Ninguém calcula o que será tudo isso...
Mas os ventos elétricos, largados
Nas amplidões do mar antes submisso,
Rugindo vão como desesperados.



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