segunda-feira, 13 de maio de 2019

Uma era de extremos - 10 relatos chocantes de quem encarou a Segunda Guerra Mundial

Uma era de extremos - 10 relatos chocantes de quem encarou a Segunda Guerra Mundial


O medo da morte, a luta pela vida e o sofrimento de passar fome são iguais dos dois lados do front quando se vive uma guerra. Isso pode ser comprovado nos chocantes relatos retirados de diários de pessoas que passaram pela Segunda Guerra, um conflito que tirou a vida de mais de 40 milhões de pessoas.


Será que um kamikaze queria mesmo dar sua vida pelo imperador japonês? Um atirador alemão realmente não sentia remorso ao puxar o gatilho contra gente indefesa, que foi obrigada a cavar a própria cova na qual seu corpo seria jogado? Confira abaixo o que se passava na cabeça dessas pessoas que encararam a Segunda Guerra Mundial.


Imagens da Segunda Guerra Mundial


* nota: Era dos Extremos do título é uma homenagem ao famoso livro do prestigiado historiador Eric Hobsbawm, em que aborda a Segunda Guerra.


Relatos: 


- Michihiko Hachiya, um morador de Hiroshima
6 de agosto de 1945

“Nós começamos a andar, mas depois de 20 ou 30 passos, eu tive que parar. Minha respiração ficou difícil, meu coração disparou e minhas pernas não aguentavam mais. Uma sede avassaladora tomou conta de mim e eu implorei a Yaeko-san para que encontrasse um pouco de água para mim. Mas não havia água. Depois de algum tempo, consegui recuperar minhas forças e nós pudemos prosseguir.

Eu ainda estava nu e, embora não sentisse o mínimo de vergonha, eu fiquei aflito ao perceber que o pudor havia me deixado... Nossa caminhada em direção ao hospital foi interminavelmente lenta, até que, finalmente, minhas pernas, duras de sangue seco, se recusaram a me levar mais adiante. A força, e até mesmo a vontade de continuar me abandonaram, então, eu disse a minha mulher, que estava tão gravemente ferida quanto eu, para seguir sozinha. Ela se opôs, mas não havia escolha. Ela tinha que continuar e encontrar alguém para nos ajudar.” 





-Zygmunt Klukowski, médico polonês
21 de outubro de 1942

“De manhã cedinho até de madrugada, presenciamos coisas indescritíveis. Soldados armados da Schutzstaffel, gendarmes e a “polícia azul” percorriam a cidade à procura de judeus. Judeus foram amontoados no mercado. Judeus foram tirados à força de suas casas, celeiros, porões, sótãos e outros esconderijos. Ouvimos tiros durante todo o dia. Às vezes, granadas eram jogadas nos porões. Judeus foram espancados e pisoteados; não fazia diferença se eram homens, mulheres ou crianças pequenas.

Todos os judeus foram fuzilados. Entre 400 e 500 foram mortos. Poloneses foram obrigados a cavar túmulos no cemitério judaico. Baseado em informações que recebi, cerca de 2.000 pessoas estavam escondidas. Os judeus presos foram colocados em um trem na estação ferroviária, para serem conduzidos a um local desconhecido.

Foi um dia aterrorizante. Eu não posso descrever tudo o que aconteceu. Você não pode imaginar a barbárie dos alemães. Eu estou completamente acabado e perdido.”





- Lena Mukhina, moradora de Leningrado (atual São Petersburgo)
3 de janeiro de 1942

Estamos morrendo que nem moscas aqui por causa da fome, mas, ontem, Stalin deu mais um jantar em Moscou, em homenagem a (embaixador britânico, Anthony) Eden. Isso é ultrajante. Eles enchem a barriga lá, enquanto nós não temos sequer um pedaço de pão para comer. Eles brincam de anfitriões, fazendo recepções pomposas, enquanto nós vivemos como homens das cavernas, como toupeiras cegas.”




- Felix Landau, oficial da Schutzstaffel
12 de julho de 1941

“Às 6h da manhã, eu fui acordado repentinamente de um sono profundo. Comparecer a uma execução. Ok, então eu só vou fazer a função de carrasco e, depois, a de coveiro. Por que não? Não é estranho? Você ama a batalha, mas é obrigado a atirar em pessoas indefesas. Vinte e três tiveram que ser fuzilados – entre eles, duas mulheres. Eles são inacreditáveis. Eles se recusam até mesmo a aceitar um copo de água vindo de nós.

Eu fui designado como atirador e era obrigado a atirar em qualquer fugitivo. Nós dirigimos por um quilômetro ao longo da estrada para fora da cidade e então viramos para a direita e entramos em uma floresta. Havia apenas seis de nós naquele momento, e nós tivemos que encontrar um local adequado para atirar neles e enterrá-los. Depois de alguns minutos, nós encontramos um lugar. Os candidatos à morte receberam pás para cavar suas próprias sepulturas. Dois deles estavam chorando.

Os outros certamente têm uma coragem incrível. O que diabos passa pelas suas cabeças nesse momento? Eu acho que cada um deles nutre uma pequena esperança que, de alguma forma, não será fuzilado. Os candidatos à morte são organizados em três turnos, já que não há muitas pás.

Estranho. Eu estou completamente impassível. Sem piedade, nada. É assim que as coisas funcionam e, então, está tudo acabado. Meu coração bate só um pouco mais forte quando, involuntariamente, eu me lembro dos sentimentos e pensamentos que eu tive quando eu estive em uma situação parecida.”




-Leslie Skinner, capelão do Exército Britânico
4 de agosto de 1944

“A pé, localizei tanques. Apenas cinzas e metal queimado no tanque de Birkett. Procurei nas cinzas e encontrei restos de ossos pélvicos. Em outros tanques, ainda há três corpos dentro. Fui incapaz de tirar os corpos, depois de muito esforço. Negócio desagradável. Me sinto mal.

É um trabalho assustador pegar pedaços e remontá-los para a identificação e colocá-los em cobertores para o enterro. Sem infantaria para ajudar. O chefe do esquadrão me ofereceu alguns homens para ajudar. Recusei. Quanto menos homens que vivem e lutam em tanques tiverem que lidar com esse lado das coisas, melhor. Meu trabalho. Isso foi mais que o suficiente para me deixas enjoado. Estou muito mal – vomitando.”





- David Koker, prisioneiro do campo de concentração
4 de fevereiro de 1944

“Um homem pequeno, de aparência insignificante, com um rosto um tanto quanto bem-humorado. Chapéu pontiagudo, bigode e óculos pequenos. Eu penso: se você quisesse reviver todo o sofrimento e horror em apenas uma pessoa, seria ele. Em volta dele, vários colegas com os rostos cansados. Homens muito grandes, fortemente vestidos. Eles se dirigem para qualquer lado que o homem segue, como um enxame de abelhas, trocando de lugar entre si (eles não ficam parados por nem um momento) e se movendo como se fossem uma coisa só. A impressão que passam é fatalmente alarmante. Para qualquer direção que eles olham, há algo a ser focalizado.”




George Orwell, escritor, autor do livro 1984 e Revolução dos Bichos, residente de Londres
15 de setembro de 1940

“Esta manhã, pela primeira vez, vi um avião abatido. Ele caiu lentamente das nuvens, embicado, como um alvo que tivesse sido baleado lá no alto. Uma euforia incrível entre as pessoas que assistiam a ele, intrigadas com a pergunta: 'Tem certeza de que é alemão?'. Tão enigmáticas são as instruções dadas, e tantos os tipos de avião, que ninguém sequer sabe quais são os aviões alemães e quais são os nossos. Meu único palpite é que, se um bombardeiro é visto sobre Londres, deve ser alemão, enquanto um avião de combate é mais provável que seja nosso.”

George Orwell - Escritor




- “Ginger,” moradora de Pearl Harbor
7 de dezembro de 1941

“Eu fui acordada às 8h da manhã por uma explosão em Pearl Harbor. Levantei-me pensando que algo surpreendente, provavelmente, estava acontecendo por lá. Mal sabia eu! Quando cheguei à cozinha, toda a família, à exceção de meu pai, estava observando o Arsenal de Marinha. Ele estava sendo consumido por fumaça preta e mais explosões enormes… Então, eu fiquei extremamente preocupada, assim como todos nós.

Mamãe e eu fomos à varanda principal para ver melhor, e três aviões passaram zunindo sobre nossas cabeças, tão perto que nós poderíamos quase tocá-los. Eles possuíam círculos vermelhos em suas asas. Foi aí nos demos conta! Nesse momento, bombas começaram a cair por toda Hickam. Nós nos pusemos nas janelas, não sabendo o que mais poderíamos fazer, e observamos os fogos. Era exatamente como os cinejornais da Europa, só que pior.

Nós vimos um grupo de soldados vindo dos quartéis correndo a toda em nossa direção, e, logo em seguida, uma fileira de bombas caiu atrás deles, derrubando-os todos no chão. Nós ficamos imersos em uma nuvem de poeira e tivemos que correr que nem loucos para fechar todas as janelas. No meio tempo, um grupo de soldados havia entrado em nossa garagem para se esconder. Eles foram totalmente pegos de surpresa, e a maioria deles não tinha sequer uma arma ou qualquer coisa parecida.”




- Wilhelm Hoffman, soldado alemão
29 de julho de 1942

“O comandante disse que as tropas russas estão completamente enfraquecidas e não podem aguentar por muito mais tempo. Chegar ao rio Volga e ir em direção a Stalingrado (atual Volgogrado) não é tão difícil para nós. O Führer sabe qual é o ponto fraco dos russos. A vitória não está longe.

Os cavalos já foram comidos. Eu comeria um gato; eles dizem que sua carne também é saborosa. Os soldados parecem cadáveres ou lunáticos, à procura de algo para colocar em suas bocas. Eles já não se protegem mais dos bombardeios russos; eles não têm mais força para caminhar, correr ou se esconder. Maldita guerra!”




- Hayashi Ichizo, piloto kamikaze japonês
12 de março 1945

“Para falar a verdade, eu não posso dizer que o desejo de morrer pelo imperador é genuíno, que vem do meu coração. No entanto, é decidido por mim que eu devo morrer pelo imperador. Eu não terei medo no momento da minha morte. Mas tenho medo de como o medo da morte poderá perturbar a minha vida…

Mesmo para uma vida curta, existem muitas memórias. Para alguém que teve uma vida boa, é muito difícil se desapegar dela. Mas cheguei a um ponto onde não há mais volta. Eu devo me lançar sobre um navio inimigo. À medida que a preparação para a decolagem se aproxima, sinto uma forte pressão sobre mim. Eu não acho que eu possa encarar a morte… Eu tentei o meu melhor para escapar, em vão. Então, agora que eu não tenho mais escolha, eu devo enfrentar meu destino de forma corajosa.”





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