A emergência climática e os peixes da Amazônia - O que a ciência ensina para impedirmos uma perda catastrófica de biodiversidade
Durante a seca de 2024, o Lago Tefé, no norte do Estado do Amazonas, perdeu cerca de 75% de sua superfície e registrou temperaturas de até 41°C, um risco extremo para a biodiversidade local.
O estado do Amazonas já está enfrentando uma nova era de extremos climáticos. Secas severas e temperaturas elevadas quebraram recordes históricos entre 2023 e 2024, com impactos imediatos nas comunidades amazonenses e ainda outros, não totalmente compreendidos, que ameaçam a biodiversidade amazônica, em especial dos rios, lagos e igarapés.
A bacia amazônica abriga a maior diversidade de peixes de água doce do mundo, com mais de 2.300 espécies descritas. Essa riqueza biológica faz dos peixes uma das principais fontes de nutrientes na região, especialmente para comunidades ribeirinhas que dependem da pesca como sustento e têm acesso limitado a outras formas de alimentação.
Recentemente, estudos têm investigado como secas extremas são um risco de homogeneização das populações de peixes em toda a bacia. Esse fenômeno se soma a outros fatores que já pressionam os ecossistemas aquáticos, como a sobrepesca e a construção de barragens. Entre essas pesquisas, as que investigam a fisiologia dos peixes têm ganhado destaque: afinal, é urgente saber se esses animais são capazes de se adaptar ao aumento das temperaturas e à perda de habitat provocada por eventos extremos.
O Lago Tefé: antes e depois
O Lago Tefé, no Amazonas, compõe a paisagem da Reserva Mamirauá, uma área de mais de 1 milhão hectares entre os rios Solimões e Japurá. O encontro desses rios alaga toda a região por, pelo menos, 4 meses por ano. O resultado disso é uma abundância de nutrientes, vindos de rios diferentes, que possibilita uma riqueza de espécies de peixes, inclusive de grande valor para a pesca da região: são 541 espécies diferentes identificadas.
Essa abundância, porém, está ameaçada. A região foi atingida pela seca histórica em 2023, seguida de uma enchente abaixo do comum em 2024, atingindo níveis de água ainda mais baixos e estabelecendo novos recordes e um aumento alarmante nos incêndios. Além disso, o desmatamento acelerado, agravado após a pandemia, também contribui para a redução de umidade no bioma, prolongando o evento de seca.
Em 2023, o Lago Tefé, foi uma das regiões mais afetadas, com temperaturas da água ultrapassando 40°C. Águas assim tão quentes resultam em uma mortandade em massa de várias espécies aquáticas, incluindo peixes e botos. Em 2024, o lago perdeu cerca de 75% de sua superfície — de 379 para 95 km² —, registrou temperaturas de até 41°C e com extensas áreas com profundidade inferior a 0,5 m.
Peixes conseguem sobreviver a eventos como este?
Muitos peixes amazônicos possuem mecanismos para resistir a variações ambientais, mas sua capacidade de adaptação está sendo testada como nunca e em um espaço de tempo curtíssimo. O aumento da temperatura reduz a quantidade de oxigênio dissolvido na água, que os peixes respiram, ao mesmo tempo que exige que os animais gastem mais energia para manter-se vivos. Para muitas espécies, essa combinação pode ser fatal.
Em estudos conduzidos em Tefé, averiguou-se como uma espécie de peixe bastante consumida no Amazonas, o aracu (Schizodon fasciatus), é severamente prejudicada por esta combinação. O estresse ambiental modificou a estrutura das células do animal, com capacidade de danificar o seu DNA, causando possíveis mutações.
Já outras espécies, como o papaterra (Satanoperca jurupari), mostram melhores capacidades de lidar com as adversidades da seca. Mas em um cenário em que essas secas se tornam mais intensas e mais frequentes, todas as espécies são afetadas negativamente de alguma maneira: seja por transformações na cadeia alimentar dos rios e lagos, por maior competição de recursos, por maiores índices de parasitismo, dentre outras possibilidades. Com isso, estaríamos diante de um processo de seleção daquelas espécies mais resilientes e uma queda na biodiversidade.
Para a Amazônia, menor biodiversidade também quer dizer perda de qualidade de vida para nós, as comunidades humanas que aqui residem e que se beneficiam do bioma. Em especial, comunidades ribeirinhas já estão enfrentando a redução de estoques pesqueiros e dificuldades logísticas relevantes, impactando a segurança alimentar e a economia local. Além disso, a mortandade em massa de peixes, observada em diversas regiões do Amazonas, compromete a qualidade da água e pode desencadear surtos de doenças.
Ações possíveis
Algumas ações podem ser implementadas em curto e médio prazo para antecipar próximos eventos extremos. A instalação de sensores para medir temperaturas, oxigênio e outros parâmetros pode fornecer dados cruciais para prever períodos críticos e orientar políticas de mitigação com antecedência.
O Brasil também carece de um modelo de conservação específico para áreas úmidas que garanta a sobrevivência de espécies vulneráveis contra os riscos sinérgicos impostos por mudanças climáticas, sobrepesca, obras de infraestrutura, desmatamento e mineração. Adicionalmente, projetos de reflorestamento e conservação de áreas úmidas ajudam a regular a temperatura da água e a garantir as suas fontes naturais de oxigênio.
Reconhecer os rios como unidades de conservação é essencial não apenas para preservar a vida aquática, mas para garantir alimento e água para as comunidades humanas. Comunidades locais devem ser envolvidas nesses esforços como agentes com poder de decisão, desde a elaboração metodologias de monitoramento e na gestão de recursos hídricos, e não apenas como beneficiários destas ações.
Os estudos científicos deixam claro: os riscos são iminentes, mas as soluções estão ao alcance da sociedade brasileira. Coletivamente, precisamos avançar com uma agenda ambiental, contemplando alguns dos pontos acima, capazes de reverter os caminhos do país rumo a catástrofes climáticas que ameaçam o bem-estar das nossas comunidades.
*Susana Braz-Mota é doutora em Biologia de Água Doce, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
*Tiago da Mota e Silva é doutor em Comunicação e Semiótica, bolsista CNPq no INCT-ADAPTA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
**Este texto foi publicado originalmente no site do The Conversation Brasil.
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