Por que tanta gente ainda acredita em atividade paranormal
Psicólogos suspeitam que algumas ilusões são criadas pela mente em reação a traumas
Pouco depois da Segunda Guerra Mundial, o ex-premiê britânico Winston Churchill disse ter visto o fantasma do ex-presidente americano Abraham Lincoln em uma visita à Casa Branca. Depois de tomar um banho - acompanhado de uísque e cigarro - Churchill conta que cruzou com o fantasma quando estava nu.
O ex-premiê britânico teria dito: "Boa noite, senhor presidente. Você parecer ter me pego em uma situação de desvantagem." Churchill diz que o fantasma de Lincoln apenas sorriu e desapareceu.
Essa história coloca Churchill em uma lista de pessoas ilustres que dizem ter tido experiências sobrenaturais. O escritor Arthur Conan Doyle, criador do personagem Sherlock Holmes, costumava "conversar com fantasmas" através de médiums. O britânico Alan Turing, um dos pais da computação moderna, acreditava em telepatia.
Pesquisas mostram que eles são a maioria. Um estudo recente indicou que três em cada quatro americanos acreditam em atividade paranormal. Um em cada cinco disse ter visto um fantasma.
Psicólogos se debruçam sobre o tema há anos para entender algumas destas crenças. Parte delas são facilmente explicadas. Alguns tipos de danos cerebrais, em particular no hemisfério direito do cérebro, que é responsável pelo processamento da visão, podem causar sensações como a visualização de objetos que não existem. Alguns dos "fantasmas" vistos seriam apenas problemas nessa parte do cérebro.
A combinação de diversos fatores - como exaustão, drogas, álcool ou "truques" de iluminação - pode ampliar esta sensação, talvez explicando a experiência de Churchill. Mas ainda assim, nem tudo pode ser atribuído a apenas estes fatores.
Proteção
Psicólogos que estudam religiões suspeitam há anos que a crença em mundos espirituais pode proteger as pessoas das duras realidades da vida.
Três em cada quatro americanos acreditam em fantasmas
Quando algum trauma acontece na vida de uma pessoa - como morte, catástrofe natural ou desemprego, por exemplo - o cérebro tenta "embaralhar" as informações, buscando algum sentido no caos.
Em alguns estudos, a psicóloga Jennifer Whitson, da Universidade do Texas, descobriu que a mera menção de eventos traumáticos foi suficiente para despertar ilusões e visões "paranormais".
Algumas pessoas passam a indentificar padrões diversos onde não há nada - como na bolsa de valores, por exemplo. Seriam esses padrões ilógicos que teriam dado origem a superstições - como bater na madeira para ter sorte.
Outro sintoma comum é o antropomorfismo - ver contornos humanos em objetos e animais. Assim, muitas pessoas veem "espíritos" em fenômenos como tempestades.
"Nós criamos a crença nos fantasmas porque não podemos lidar com o fato de que o universo é aleatório", diz Adam Waytz, da Universidade Northwestern.
O psicólogo Tapani Riekki, da universidade de Helsinque, tenta descobrir se algumas pessoas são mais propensas a buscar explicações paranormais. Recentemente, ele fez uma experiência mostrando animações com sombras, e analisando o cérebro dos voluntários com um tipo de ressonância.
As pessoas que haviam declarado crer em atividades paranormais foram as que identificaram algum tipo de "intenção" por trás dos movimentos da animação - que eram totalmente aleatórios. Riekki também descobriu que essas pessoas tendem a ver "rostos escondidos" em fotos.
O psicólogo concluiu que os que acreditam em atividades paranormais possuem uma "inibição cognitiva" mais fraca do que os céticos. Essa inibição é responsável por "abafar" pensamentos não-desejados. Isso sugere que todo mundo tem medo de coincidências e padrões estranhos, mas que os céticos reagem melhor ao descartar esses sentimentos. Um exemplo clássico é de pessoas que pensam em suas mães - e poucos minutos depois ela telefona. Muitos resistem à ideia de que isso é apenas uma coincidência.
Benefício
Mas os pesquisadores dizem que os céticos não devem criticar exageradamente as pessoas que acreditam em atividades paranormais, pois há alguns benefícios nisso.
Churchill, Conan Doyle e Turing também disseram acreditar no sobrenatural
Um estudo mostrou que os "crentes" têm mais confiança em suas decisões, mesmo diante de informações inconclusivas a respeito de um determinado tema.
Outro estudo revelou que pessoas que acreditam em um talismã podem ter desempenhos melhores em determinadas atividades. A crença na sorte trazida pelo talismã reduz o nível de ansiedade, e melhora a concentração.
Mesmo aqueles que se dizem céticos não devem subestimar o poder da sugestão. Michael Nees, do Georgia Institute of Technology, recentemente pediu que seus alunos ouvissem o som que foi gravado por um programa de televisão americano de "caça-fantasmas". Mesmo aqueles que se disseram céticos foram capazes de ouvir mais sons do que o que estava gravado. Aparantemente a mera expectativa de ouvir algo parecido como uma experiência sobrenatural foi suficiente para "aguçar" o cérebro dos céticos, fazendo com que eles também tivessem algumas ilusões.
Segundo Jennifer Whitson, mesmo pessoas que não acreditam em superstições ou fantasmas podem ter ideias elaboradas que não correspondem à realidade. É o caso de pessoas que acreditam em teorias de conspiração envolvendo governos ou pessoas que acham que estão sendo perseguidas por colegas.
"É fácil pensar em si mesmo como o dono da racionalidade, mas é mais sábio entender que todo mundo está sujeito a cometer erros quando sentimos que não estamos no controle da nossa vida", diz
Whitson.
Até mesmo mentes astutas, como Churchill, Turing e Conan Doyle, cederam a esses impulsos menos racionais de tempos em tempos.
Leia a versão original desta reportagem em inglês no site BBC Future.
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