sábado, 21 de maio de 2022

HSTF Carioca - Rio / RJ

 HSTF Carioca - Rio / RJ
(meu breve conto de 2005 / 2006)


Difícil pensar em um Rio de Janeiro em pleno apocalipse, mas ele costuma ser o refugio para muitos que adoram a prática do turismo internacional, e esta gente turista carrega todo tipo de agente biológico viajando o mundo todo e distribuindo as mazelas da humanidade.






Me chamo Adam, tenho 25 anos, atualmente estou morando no Rio - RJ, eu gosto daqui pois é bem calmo e tranquilo.

Já se passam 4 meses desde que eu retornei ao Brasil. Aos 18 eu tomei coragem e fui me alistar no exército Americano para no final do serviço ganhar um GreenCard, servi 2 anos e graças a isso consegui. Saí do exército e fui tentar entrar para a SWAT de uma cidadezinha na Flórida. O resultado: 5 anos de serviços prestados à SWAT. Passou mais um tempo e eu já não sentia mais vontade de ficar nos states, foi ai que resolvi voltar para minha pátria.

Moro no mesmo apartamento em que eu estava antes de sair do país, quando cheguei vi que seu estado era crítico, pois o pó e a sujeira tinham tomado conta do lugar, mas consegui limpar e ainda mobiliá-lo. Não estou trabalhando aqui no Brasil pois estou vivendo com as economias que fiz, e trocar dólar pela moeda local está dando o triplo, acho que vou conseguir escapar de trabalho por um bom tempo.

Essa foto é do uniforme que usei no período em que eu estava na SWAT, ele salvou minha vida uma vez, parou uma bala que acertou meu peito, hoje tenho ele guardado como recordação pela sorte que me deu.



Ago 30, '04 - Mais um dia
Acordei cedo, lá pelas 7 da manhã, me acostumei a acordar nesse horário por causa da SWAT. Tomei meu banho, fiz um café da manhã, não tenho nada para fazer, acho que vou limpar minhas armas. Eu tenho 2 armas atualmente, uma Glock 17 que chamo de Beth e uma M4A1 Carbine que chamo de Helena. Não me pergunte como eu consegui uma M4 no Brasil com todas essas leis contra armas, só dou uma dica: "contrabando". E ainda consegui um kit para ela chamado SOPMOD com silenciador, mira laser, lanterna e várias coisas mais. Falando em armas preciso comprar balas.



Ago 31, '04 - Munição
Ontem fui procurar uma loja de armas, peguei minha Ford Ranger e fui até o centro da cidade. Na lista telefônica tinha o endereço de uma, achei fácil o local. Entrei na loja e vi armas de caça na parede, produtos de pesca também. O dono do local era bem simpático, se chamava Pedro, aparentava uns 40 anos de idade, me fez um desconto por levar 10 caixas de 5.56mm e 10 caixas de 9mm, cada caixa traz 100 balas, ou seja, 1.000 balas para 5.56 e 9mm, vou poder treinar em Clubes de tiro por um bom tempo. Ainda comprei uma faca de caça, e me apaixonei por uma Taurus PT609, 9mm compacta bem engraçadinha, acabei comprando.



Set 01, '04 - Velhos Amigos
Acordei cedo novamente, dia bonito, preciso sair para ir até o super mercado comprar alguns produtos e comida, fica perto, dobrando aqui na esquina e andando até o meio da outra quadra. Não tem como se perder, tem escrito Nacional bem grande na frente, entrei e vi como era enorme lá dentro, para minha sorte estava com poucas pessoas. Comprei tudo e fui até o caixa. Já quando estava pagando pelos produtos notei que uma garota não tirava os olhos de cima de mim, eu olhava novamente e lá estava ela com seu olhar fixo para mim, era linda, cabelos pelo queixo, bem morenos, alta, com pele branquinha e com poucas sardas no nariz, até me preocupei se eu estava sujo ou com cara de babaca, nem dei bola, peguei as compras e já ia saindo quando me tocam o ombro ... eu viro e para meu espanto era a garota que me olhava.
-Olá, vc não é o Adam?
-Hein ... ah sim, sou eu, desculpe, quem é vc?
-Não acredito que vc esqueceu de mim!
-Ah me desculpe, estive fora do Brasil por vários anos.
-Vou dar uma pista, cabelos bem longos, aparelho, cdf do 2º Grau.
-Laura???
-Hahaha, sabia que ia se lembrar seu bobo.
Nossa, é a Laura, foi minha colega no 2º grau, chegamos até a namorar. É uma garota legal, sabe aqueles momentos que bate uma sensação de paz ao lembrar do passado? Me ocorreu agora. Conversa vai, conversa vem, e acabamos marcando um encontro, vou sair com ela hoje à noite.

Espero que ela não tenha se transformado em uma garota mandona, senão terei que comprar outra arma e dar um nome ... nao contei essa história? Nos EUA tive algumas garotas, mas eu não tenho sorte com mulheres, elas sempre eram mandonas e bravas, era um terror total, resolvi botar o nome delas nas armas por grau de poder de fogo hahahaha, então pode ter certeza de que a Helena era muuuuuuito brava, nem rende lembrar. Bom preciso me arrumar está quase na hora, uma boate chamada Luna existe aqui na cidade, dizem que é bom, vamos ver.

Set 02, '04 - Solar Power
Não me lembrava de acordar à 1 hora da tarde faz um bom tempo, a noite foi boa, Laura é muito linda além de quente se é que você me entende. Liguei para ela, disse também ter dormido até tarde e queria sair denovo qualquer dia desses, está marcado.

Fim de ligação alguem toca minha campainha, fui atender a porta e era o Antonio, meu vizinho da porta em frente, ele é síndico daqui e veio me comunicar que todos condôminos do prédio haviam ajudado com dinheiro para instalar um grande painel de energia solar no fundo do edifício, o motivo são as altas taxas da conta de luz por causa de um racionamento. Ele me mostrou a planta do painel, o negócio vai ser grande. Bem não entendo muito disso mas Antonio parece entender, ele é engenheiro, me perguntou se eu queria ajudar e ter uma parte do uso dessa energia, não exitei e aceitei na hora, tudo que me ajude a gastar menos é sempre bem vindo, Antonio ainda me convidou para assistir um futebol em sua casa algum dia, vai ser bom para fazer uma amizade.



Set 03, '04 - Dorminhoco
Oi. Adam está dormindo, fiz uma visita à ele ontem de noite, e foi muito legal, ele ainda dorme tranquilo em sua cama, vou preparar um almoço surpresa para ele, beijinhos.
Ass: Laura.

Set 03, '04 / 4:15 PM - Angra II explode
Nossa, uma notícia na TV acaba de mostrar que o reator nuclear Angra II acabou de explodir, todos engenheiros e empregados morreram na hora, os técnicos no assunto dizem que o raio da radiação vai ser enorme, e as cidades mais próximas estão sendo evacuadas, que loucura hein. Estou saindo agora para fazer um cooper, faz tempo que não faço exercícios.

Set 05, '04 - Dia de descansar
Hoje acordei com muita preguiça, quero passar o dia fazendo coisas legais, decidi almoçar fora. Aqui dobrando a outra esquina, de frente para a praça, existe um restaurante chamado Casa Pueblo, faz uns lanches uruguaios bem gostosos.

Almocei bem e voltei para casa. O painel solar do prédio já está instalado e funcionando, nem dá para sentir diferença, a diferença vai vir é no final do mês quando eu ver que não existe mais conta de luz. Laura apareceu aqui em casa , alugamos um DVD para assistir, comemos pipocas, jogamos videogame, nos divertimos muito, o dia foi muito bom e ela resolveu que vai dormir aqui hoje.

Set 06, '04 - It can't rain all the time
Quanta chuva, parece que o céu ta caindo, mas foi divertido acho que regredi até a infância agora a pouco quando a Laura me levou la embaixo para tomar banho de chuva, hehehe, é bom às vezes esquecer o stress da vida adulta.

Novas notícias lá do Rio, a radiação regrediu, bom sinal para o ambiente, cidades vizinhas relataram uma Gripe forte em sua população, talvez seja algo haver com a explosão.

Vou passar 2 dias fora viajando, vou até Rio Grande, cidade onde eu nasci, para dar uma passeada. Estou levando a Helena com um silenciador, vou treinar um pouco la na praia do Cassino, mas claro longe de pessoas, sou consciente, vou dar uns tirinhos nas dunas hahaha. Até mais.



Set 08, '04 - Gripe se espalha
Voltei de viagem hoje. A praia estava bem vazia, não é época de verão ainda, mas serviu pra tirar saudade de praia, e ver a Laura de biquini foi bem legal também. Almocei vendo TV e me espantei com as notícias, casos da mesma Gripe do RJ foram relatados em São Paulo, Minas e Espírito Santo, medicos deram entrevistas dizendo que não é uma gripe normal e que é extremamente contagiosa.

Epidemias pequenas ocorrem à toda hora, me lembro que na minha infância a Cólera era o problema, ouvi também falar que a pouco tempo o Brasil lutou contra a Dengue, e agora essa Gripe, mas acho que nao deve ser nada demais. Isso é um trabalho para os especialistas.

Set 09, '04 - Pratica do Bom Vizinho
Dia de sol hoje pela manhã, almocei com a Laura e ela teve que trabalhar, voltei pra casa ja ia entrando quando Antonio, o vizinho da frente, saiu da porta para falar comigo.
-Olá Adam, como vai?
-Bem, e você Antonio?
-Também, hoje tem jogo da Seleção, se lembra que te convidei para ver aquele dia, pois é, se tiver livre vem aqui depois, a gente toma uma cerveja e bate um papo.
-Okey, vou aceitar, eu ia fazer nada mesmo detarde.
Sempre é bom dar uma distraida do cotidiano, Antonio é um sujeito legal, deve ter uns 40 anos ou pouco mais, da para perceber pelos cabelos um pouco grisalhos, vimos futebol, tomamos várias cervejas, falamos sobre mulheres, hahaha que tarde de amigos isso seria sem conversar sobre garotas?

Antonio me contou que era divorciado e que seu filho estava em São Paulo trabalhando com empresas, me contou também que gosta de mexer com eletrônica e coisas do tipo.

A prática do bom vizinho deu certo, nos tornamos amigos, proximo jogo da seleção ja esta marcado e dessa vez será aqui no apartamento, eu vo ter que financiar a bebida, hahaha tudo bem, ele merece, é muito camarada.

À noite assisti o jornal para ver mais informações sobre Angra ou sobre a tal Gripe, nada novo, acho que está se estabilizando. A única notícia que me chamou atenção foi de um suposto ataque canibal no Rio de Janeiro, um casal foi encontrado morto em sua casa com mordidas pelo corpo, e um deles foi completamente mutilado. E eu pensando que o Brasil fosse um lugar calmo.

Set 10, '04 - When shit hits the fan ...
Agora sim eu estou com medo, o Presidente do Brasil, Lula, acaba de aparecer na TV em todos canais no horário nobre, falando o seguinte:

"Amigos e Amigas do Brasil, venho comunicar que a Gripe Angra, como chamamos ela agora, atingiu toda a extensão do país, casos foram relatados por todos cantos da nossa nação, médicos confiáveis ja estao unidos trabalhando para tentar encontrar uma cura para essa doença que atinge nosso humilde lar. Quero pedir a todos que fiquem em suas casas, com sua família e não saiam na rua para nada, em pouco tempo espero que nossos médicos tenham sucesso e que o Brasil volte a normalidade. Obrigado."

Isso vai dar o que falar, me lembro bem do ataque ao WTC, algumas pessoas começaram a saquear lojas e residências, não vou ficar de braços cruzados, vou me estocar de coisas e me trancar dentro do apartamento.

Set 11, '04 - Quarentena
Já que essa gripe esta atacando o Brasil eu vou é ficar dentro de casa, preciso me estocar. Peguei a Ranger e fui até o supermercado aqui dobrando à esquina, vou encher de coisas. Quando entrei no mercado não acreditei no que vi, muitas pessoas estavam lá fazendo o mesmo que eu. Corri para pegar um carrinho de supermercado para começar minha compra.

Minha sorte foi que as pessoas não estavam pensando direito, estavam brigando por frutas e comidas que não duram muito, fui direto para a seção de enlatados e não-perecíveis, consegui lotar 2 carrinhos, paguei e lotei a traseira da Ranger.

Depois fui para os liquidos e denovo tive sorte, as pessoas na correria estavam comprando refrigerantes e garrafas de água medias, fui direto para os galões de água mineral, tinham exatamente 6, botei 5, quando estava pegando o sexto uma senhora pegou ele da minha mão, estava muito irritada, me xingou de varias coisas, eu deixei ela levar, afinal, por mais que tudo isso esteja acontecendo eu ainda vou continuar educado. Estou contente, cada galão tem 20L de água, isso me deixa com exatos 100 litros.

Próxima parada, Serralheria, vou comprar portões de ferro para minha porta e para a porta de acesso à escadaria do meu apartamento, se algum assaltante entrar no prédio para roubar coisas pelo menos no meu hall de entrada que não vai ser.

Cheguei em casa e descarreguei tudo, meu celular toca e era o Pedro, dono da loja de armas, me disse que tinha algo para me vender nesse tempo de crise e reclusão, eram barras nutritivas para exército, ele tinha caixas e caixas com várias dessas rações para missões militares. Eu me lembro que no exército quando tinha treinos na mata eu levava barras dessas.

Comprei as caixas, são 5, com varias latas dentro, não sei o número exato de rações dentro delas mas duram muito tempo mesmo, estou preparado para aguentar aqui trancado em casa até tudo se resolver no país. Espero não ver saqueadores até o fim disso.



Set 13, '04 - Exodo Urbano
Hoje eu estava na janela tentando esfriar a cabeça por causa das notícias atuais, que ironia do destino, justo quando volto ao Brasil essa merda acontece, hauhauhhuahuaha, só rindo mesmo. As pessoas do meu prédio correm igual loucas enchendo seus carros com pertences importantes para fugirem da cidade, acho que vão para o campo, ou passar pelas fronteiras tentando ir para outro País. Aqui perto tem o Uruguai, talvez estejam indo para lá, mas o que adianta fugir?

Acho que a essa hora os países vizinhos como Uruguai, Argentina, Paraguai e outros fecharam suas fronteiras para os Brasileiros não levarem a gripe para seus territórios, certo fazem eles, que a merda fique no Brasil, mas tenho certeza que mais cedo ou tarde a cura vai aparecer. Até lá vou ficar aqui esperando e rindo das pessoas que vão ficar presas na Fronteira hahauahhau.

Set 14, '04 - Semblantes
Não consegui dormir ontem, várias viaturas da polícia para lá e para cá, ouvi tiros bem longe daqui, cara esse negócio está muito estranho.

Hoje estava olhando pela janela e vi uma figura andando meio diferente até o fim da rua, parecia estar bêbado, quem beberia em uma hora dessas quando o país esta indo pelo buraco?

Ontem liguei para Laura, ela disse estar bem e que não queria vir para cá pois estava cuidando de sua mãe que está doente ... eu perguntei se era a gripe, Laura ficou em silêncio mas logo falou que era outra coisa. Droga, espero que ela fique bem.

Set 15, '04 - Notícias
12:15 PM
O Jornal hoje na TV passou cenas de vários cantos do país mostrando militares e policiais atirando em pessoas, isso vai dar o que falar para os grupos de ajuda social. Pareciam saqueadores mas andavam meio grogues, pareciam estar tontos, meio estranho, mais estranho é ver o caminhão do exército empilhando corpos na traseira, isso ta ficando muito louco, ta mais que na hora de instalar as grades na minha porta e na porta de acesso ao meu apartamento.

5:30 PM
Grades instaladas, tem fechadura e tudo, nem 5 homens vão conseguir arrombar isso, botei muito cimento hahaha, sou muito prevenido. Escutei vários gritos na rua de trás, passados minutos uma viatura chegou lá e eu consegui ouvir exatamente 8 tiros, realmente o Brasil está indo pro poço.

8:30 PM
Jornal fala sobre ataques brutais pelas cidades do Brasil , dizem ser cometidos por pessoas diferentes do normal. O negócio ta esquentando.

Set 17, '04 - The Dead Walk
Não acredito, isso não é verdade, não pode ser ... Presidente Lula entrou ao vivo na TV para comunicar uma notícia que pode parecer loucura mas que dita pelo Presidente só pode ser verdade:

"Caros companheiros do Brasil, infelizmente venho comunicar algo muito perturbador, atenção, a Gripe Angra atingiu um novo estado. Primeiro ela atinge o hospedeiro, em seguida as febres fortes e dores, depois vem a morte, ... (o presidente para, olha para o chão, volta o olhar na câmera e continua falando) ... só para levantar novamente em estado de frenesi para atacar e se alimentar dos vivos ... se alguem que você conhece está com a gripe afaste-se imediatamente, fiquem em suas casas, o exército Brasileiro não vai se entregar, espero voltar com boas notícias nos próximos dias, aguentem amigos, pois somos brasileiros e não desistimos nunca."

Caralho, mas que merda. Todos os jornais voltam mostrando imagens de pessoas correndo dos mortos pelas ruas, carros pegando fogo, caos, pânico, será que todo Brasil esta assim? As manchetes só dizem "Os Mortos Andam", ah nao, Laura, preciso ir na casa dela rapido.

Set 19, '04 - Adeus
As notícias não colaboram comigo, tenho que ver com meus próprios olhos o que está acontecendo. Fui até a garagem e estava toda vazia, parece que só eu vivo nesse prédio agora, fui até onde estava a Ranger e entrei, respirei fundo e botei água de uma garrafa no banco passageiro em minhas mãos e molhei meu rosto para ver se eu acordava desse pesadelo, mas infelizmente não é um sonho e está na hora de agir.

Saí do prédio pelo portão e percebi que a rua estava vazia, sem pessoas e sem carros, acelerei até a esquina e olhei para a esquerda onde existe um posto da Texaco, apenas carros parados sem pessoas, essa parte da cidade parece estar deserta e nem sinal de algum desses mortos que tanto falam, já estou pronto para acreditar que tudo não passa de ..... BAMMMMMMM

Dei um pulo de susto no banco, olhei para o lado de onde veio o estouro, uma pessoa estava com o rosto prensado no vidro do passageiro batendo sem parar tentando ganhar acesso para chegar até mim, nunca vi uma aberração igual a essa em toda minha vida, pele pálida, olhos brancos como leite, sangue pela boca e nos dentes, seu terno rasgado mostra algumas mordidas. Esse som que ele faz com a boca, um gemido assustador que da muito medo, acelerei a pickup, dobrei a esquina à direita e segui reto pela rua, na próxima esquina é a avenida.

A avenida está um caos, parece uma guerra, pessoas correndo fugindo de alguns zumbis, carros acelerando a toda para fugir, dá para escutar tiros e eles estão vindo do lado esquerdo, lá fica o prédio da Polícia Militar, eles devem estar tentando se defender dos mortos. Não esperei muito tempo e segui em frente, ainda tem poucos mortos pelas ruas e tenho que aproveitar enquanto esse número está baixo.

Consegui chegar no edificio de Laura sem muitas complicações, as casas vizinhas estão fechadas, algumas tem madeiras nas janelas e portas para evitar alguém de entrar, parece que não sou o único que vai tentar ficar e lutar em vez de fugir.

O Edifício tem apenas 3 andares, ela mora no 2º, a porta estava aberta e as escadarias estavam escuras, não escuto barulho nenhum isso não é bom sinal, Glock em mãos criei coragem de começar a subir, degrau por degrau e já estou no 2º andar. Andei pelo corredor até chegar na porta de Laura e bati 2 vezes na porta, nenhuma resposta, bati denovo e nada, tentei olhar pelo olho mágico da porta e ver se existia algum movimento do outro lado, nenhum sinal, resolvi forçar a porta um pouco e ela se abriu isso garantiu acesso para a sala do apartamento, estava tudo escuro, TV desligada, comida sobre o sofá, cortina fechada deixando apenas um pouco da luz solar entrar, até que algo chama minha atenção, um cheiro forte de podridão chegava às minhas narinas e vinham do quarto de Laura que esta ao meu lado, me viro bruscamente para o quarto e vejo uma figura em pé de costas para mim, olhando fixamente para a parede, estava de vestido longo branco, manchas de sangue nas costas, eu não conseguia me mover, o medo tomou conta do meu corpo, 1000 pensamentos vinham ao mesmo tempo em minha cabeça, será esta a minha Laura? Está Morta? E se estiver? Eu terei que tomar conta dela? Não aguentei e murmurei baixinho:

-La ... Laura?

A pessoa se virou bem devagar até ficar de frente para mim, me olhando, me analisando, era Laura mas ao mesmo tempo não era a Laura que eu costumava conhecer. Esses olhos nublados sem fundo, esse rosto pálido como boneca de porcelana, minha Laura é um deles e agora caminha para mim, mas não me vê mais como namorado, mas sim como comida.

Arma em punho, a decisão lógica a se fazer não vence o lado emocional, não consigo atirar nela, corri até a porta e ela se atirou mas eu fui mais rápido e consegui fechar a porta e deixa-la trancada dentro de seu quarto. Fui até o banheiro vomitar, lavei meu rosto na pía e sentei no corredor de frente para outro quarto, estou tentando me recompor mas algo chama minha atenção novamente, no quarto em frente uma pessoa esta deitada na cama com uma faca em sua testa, era a mãe de Laura.

Agora tudo faz sentido, Laura me falou no telefone que sua mãe estava doente, e estava com essa gripe, Laura me mentiu e agora é um deles. Sua mãe deve ter se transformado e atacado a própria filha que logo depois teve que apagar sua própria mãe com uma faca de cozinha. Pensei e cheguei a uma conclusão, preciso deixar o espírito de Laura descansar, e para isso preciso acabar com essa nova forma de vida. Fui até o quarto de Laura, abri a porta e a olhei bem nos olhos ...

-Descanse em paz ...

POW

Set 21, '04 - Sem Sentido
As horas passam e eu não saio do mesmo lugar ou faço um mínimo movimento sutil. Depois do que tive que fazer eu perdi totalmente meu rumo e sentido. Foi um choque sem comparação com algum outro que ja tive, até mesmo se for comparado com o tiro que quase me matou no passado. Enrolei os corpos de Laura e sua mãe em lençóis e os coloquei na área de serviço que fica atrás da cozinha. Mas mesmo assim o cheiro ruim permanece.

Resolvi levantar e me preparar para voltar ao meu apartamento mas esse plano foi drasticamente interrompido quando escutei muito barulho na rua.

Olhando pela janela eu vejo eles, são várias dessas criaturas, e estão batendo na porta da casa em frente. Olhando com mais atenção eu consegui ver movimento dentro da casa, por isso eles estão loucos assim para entrar. Preciso pensar em uma maneira de salvar quem está la dentro, minha mente já pesa com o que fiz com Laura, preciso me redimir, mesmo sabendo que ela ja não era mais humana.

Set 23, '04 - Ghost Assault
Esperei a noite cair para tomar minha ação, vou aproveitar que ainda são 9 deles. O plano não é nenhum bicho de 7 cabeças mas acho que vai funcionar. Só as luzes dos postes iluminam a rua, a casa onde eles estão está meio que escura mas consigo ver suas posições.

Tomei coragem e dei inicio ao plano, abri a janela do apartamento e joguei uma caneca de vidro no meio da rua, a reação deles foi incrivel, todos olharam ao mesmo tempo para o local do barulho, isso mostra que eles possuem uma audição muito boa. Agora que eles estão andando até o barulho e estão dispersando vou até la.

Desci até o primeiro andar, abri a porta da frente, olhei pela fresta e lá estavam já 2 deles meio que abobalhados por não encontrar a fonte do ruído. Pow Pow, 2 tiros de Glock no peito de 1 deles, que logo após cai no chão, Pow, bem no pescoço do segundo que cai também. Os restantes olham em minha direção e soltam aqueles gemidos de dor e começam a caminhar lentamente em minha direção. Vou caminhando devagar para chegar mais perto quando algo pega meu pé e me derrubou no chão, rapidamente ele saltou pra cima de mim e tentou me morder, peguei ele pela garganta com minhas 2 mãos e lutei contra ele, eles tem muita força quando sabem que tem um jantar bem na frente deles. Com uma mão procurei minha arma pelo chão, quando encontrei encostei ela na cabeça dele e apertei o gatilho, seus miolos voaram e pintaram a rua de vermelho escuro, foi quando percebi que a unica maneira de destrui-los era com um tiro direto no cérebro.

Levantei, e olhei rapido para o outro corpo que eu tinha acertado, ele já estava levantando mas acabei com sua tentativa com apenas um tiro bem dado no crânio. Um dos outro conseguiu me alcançar, me pegou pelos ombros e tentava me deitar, botei a arma em baixo de seu queixo e atirei, menos 1. Depois foi apenas acertar os restantes. Preciso entrar na casa rápido pois ja vejo mais 5 deles no fim da outra rua, devem ter escutado os tiros.

Arrombei a porta da frente e entrei na casa, a sala estava toda revirada como se alguem tivesse ido embora. Uma escada no fim da sala revelava o segundo andar, subi com cuidado e na frente tinha um quarto aberto, entrei e la estava no canto uma garotinha encolhida com medo, cabelos longos loiros, parecia ter 14 anos.

-Olá, não tenha medo. Vim lhe ajudar.

Ela não respondia, tem muito medo, fui chegando perto aos poucos e ela começou a chorar.

-Precisamos ir, aqui não é seguro, tem mais alguém aqui?

Ela respondeu um não com a cabeça, a segurei no colo e corri para a porta, chegando no portão da casa os malditos zumbis já estavam bem perto e aqueles múrmuros infernais já chegavam aos meus ouvidos. A Ranger estava parada na frente do apartamento de Laura desde aquele dia. Abri a porta do passageiro e larguei a menina lá, eles estão mais perto mas não vou atirar pois a garota já está com muito medo. Liguei a Ranger dei um retorno na esquina e acelerei para voltar ao meu ap.

A situação na avenida está feia, tem vários deles por lá agora, parece um arrastão, atropelei um deles na esquina com o super mercado Nacional. Cheguei no prédio e consegui entrar com o carro sem nenhum problema, minha rua ainda está sem eles por perto. Peguei a garota pela mão e a guiei até a entrada do meu andar. Subi as escada devagar e ela atrás de mim, pois ja passou um tempo sem eu voltar e não sei se está seguro meu prédio ainda quando um barulho forte e logo depois uma dor no meu braço, cai no chão segurando o braço. Era Antônio, tinha dado um tiro em mim.

-Adam? É você? Cacete, me desculpa achei que você era um desses monstros que a TV andou falando.

Ontem o dia realmente foi cheio de adrenalina. O tiro foi só de raspão, para minha sorte. Antônio está aqui em casa e não para de se desculpar a cada 10 minutos hehehe. A garota dorme em meu quarto e ainda não falou 1 palavra desde que eu a encontrei, espero que isso mude ao passar dos dias.

Set 26, '04 - Dia calmo
Um dia de sol lá fora, Antônio está aqui em casa, estamos conversando sobre os últimos dias e como tudo foi tão rápido. A garota está no sofá e só nos observa, não falou nada desde aquele dia.

Antônio me contou que tentou sair da cidade mas todas as estradas estavam com muito trânsito então resolveu voltar e se preparar para o pior. Contei para ele que tive a mesma ideia na cabeça de ficar e tentar ver no que ia dar. Infelizmente deu no pior.

Assistindo TV eu percebi que a Rede Globo está fora do ar, talvez porque esteja localizado no RJ e foi lá que tudo começou. Passei para a SBT e estava com programação especial mostrando reportagens sobre os Mortos. Mostrou um vídeo amador filmado em uma avenida de São Paulo, a cena era horrível, carros pegando fogo e uma multidão de mortos, parecia um show de rock, cabeças e mais cabeças juntas.

Set 28, '04 - Sara
Estava assistindo TV para ver se conseguia mais informações, a SBT está passando muita informação sobre cidades tomadas, número de vítimas e endereço de centros de ajuda onde os militares vão proteger as pessoas. Eu olhei para a garota e perguntei: "Quer ver alguma coisa?" ela olhou para mim e disse "N...não, obrigada" Tomei um susto, a menina finalmente falou.

-Legal, você fala.
-...
-Pelo menos 1 frase hehehe.
-Me ... desculpe.
-Você tem um nome?
-... Sara.
-Prazer Sara, eu sou Adam.

Ela sorriu de leve e voltou a ficar calada, eu até a entendo, e vou deixar assim mesmo, só o tempo pode curar as coisas más que talvez ela tenha visto.

Set 29, '04 - Reunião
Antônio me chamou bem cedo hoje para ir ali no apartamento dele para conversar. Cheguei la e ele ofereceu um café e me pediu para o seguir. Ele me levou até uma sala onde tinha muita parafernálias eletrônica, tinha até um rádio amador. Antônio sentou e então conversamos.

As ideias dele realmente eram boas. Ele tinha várias câmeras de vigilância para instalar no prédio para podermos monitorar tudo daqui de dentro do apartamento. A outra era invadir todos os apartamentos do prédio, já que talvez somos os ultimos que moram nele, só para garantir que não teremos surpresas com zumbis circulando aqui dentro.

Amanhã vamos organizar tudo e marcar um dia para começar a vistoria do Prédio Joaquim Alano, agora nossa fortaleza.





Out 01, '04 - Fortaleza
Aproveitamos a noite ontem para instalar as câmeras pelo edifício. Demorou muito para instalar elas e a fiação toda mas conseguimos. Tivemos a sorte grande de não sermos descobertos por nenhuma criatura pois minha rua acho que não as atrai, sua concentração está é na avenida 1 quadra acima de onde estou.

Testando os monitores na casa de Antonio foi uma surpresa ver que ele realmente conseguiu fazer essa idéia funcionar. Temos 2 câmeras na frente do prédio, 1 na lateral e 1 no fundo em direção para a garagem. É a primeira fase para fazer desse prédio uma fortaleza para se viver.

Hoje pela manhã eu estava tendo um sonho onde eu estava curtindo uma praia com meus amigos, tudo normal como antes, acho que agora deve ter zumbis até nas areias das belas praias, mas o sonho não durou muito pois alguém me acordou. Era a Sara me pedindo café da manhã. Sim, ela já fala algumas frases mas não está recuperada, não vou forçá-la a me contar o que aconteceu, talvez eu nunca tenha coragem de perguntar.



Out 02, '04 - Lembranças
Hoje acordei e não sai da cama. Fiquei relembrando o primeiro encontro que tive com o caos que ronda la fora e como tive que lidar com isso, sim, estou lembrando de Laura, sei que tive que fazer o que era certo, deixar a alma dela descansar, mas foi um choque para mim ter que ver ela naquela condição. Um trauma.

Levantei, lavei o rosto, me olho no espelho, eu tento esquecer mas não consigo. "Pare Adam, ela se foi, e você ajudou ela a descansar". Por mais que eu tente falar isso para mim acho que não vou me perdoar.

Fiz um cereal para Sara e tomei um café. Tudo tranquilo se não fosse pelo barulho que acabou de ocorrer no corredor. Sara olhou para mim com medo. Peguei a pistola e corri até a porta, abri e sai pro corredor, quando escuto alguem gemendo de dor. "Ai, Ai". Olho para baixo e lá está Antonio todo contorcido.

-Ai, que queda, malditos tênis desamarrados.

Sara e eu caimos na risada, Antonio também, ele foi o salvador do meu dia, eu estava precisando de um pouco de alegria.

Out 03, '04 - Domingo é dia de descanso
Antigamente no domingo, quando as ruas não tinham mortos-vivos nelas, as pessoas da cidade gostavam de passear pela avenida. Familias com seus carros estacionavam pela passarela no centro da avenida enquanto outras familias davam voltas de lado a lado, muitos a pé também gostavam de passear lá. Hoje quem passeia lá são eles, os mortos.

Mas é domingo, dia de descanso e folga, vou improvisar. Chamei Antonio e resolvemos fazer uma sessão de cinema, deixamos a sala escura e ele trouxe a sua TV de 29 polegadas. Fiz a pipoca e Sara fez um milk shake de chocolate. O Pagamento, Duplex e Ligado em Você, essa foi a ordem, nos divertimos muito. Hoje eu vejo que ter comprado DVDs foi uma boa opção. Por momentos esquecemos o que está acontecendo la fora.

Denoite durante um jantar que fizemos Antonio me falou que conseguiu ouvir alguém pelo rádio amador, mas foi por poucos segundos, ele disse que vai tentar denovo mais tarde.

Amanhã é o dia. Vamos pesquisar todos apartamentos do edificio para ter certeza de que estamos seguros. Espero que esteja.

Out 04, '04 - Fortaleza Fase 2 / Parte 1
Antonio almoçou aqui hoje para esquematizar nosso plano de revistar todos apartamentos. Depois que concluirmos essa missão vamos poder dormir mais tranquilos sabendo que somos os únicos habitantes vivos ou mortos que existem aqui. Hoje vamos vasculhar a 1ª e 2ª entrada do Bloco A.

Botei minha antiga roupa da SWAT, botas, capacete, empunhei a Glock e estou pronto. Antonio saiu da sua porta com uma cartucheira .12 nas mãos, pensei que ele não tinha armas mas me enganei. Estamos dando um tempo na escadaria para tomar coragem e começar a busca.

-Ahh, vamos logo senão vou perder a Sessão da Tarde. - disse Antonio -Hahahaha, seu senso de humor é muito bom.

Saindo pela porta e olhando para os lados do corredor vimos que estamos seguros, caminhamos até a 1ª entrada do Bloco A. Esqueci que as chaves de cada entrada são diferentes, mas mais a frente está a guarita onde os rondas do prédio ficavam, lá deve ter as chaves. Infelizmente a porta da guarita também estava fechada, mas com um belo tijolo que encontrei no canto eu quebrei o vidro. O barulho foi grande mas tudo tranquilo na rua, nenhum sinal deles. Achei uma argola com todas chaves do prédio, corri até a entrada e testei todas até que uma delas abriu. Entrei na escadaria e Antonio logo atrás. O prédio tem 4 andares nos dois Blocos e 2 apartamentos em cada andar, a porta de entrada de cada apartamento de frente uma para a outra na escadaria. Estamos no 1 andar e temos já 2 apartamentos para vasculhar. Arrombamos o primeiro, vasculhamos e nada, nem de alguém ou de algo util para usar, totalmente vazio. O ap. da frente também, só tinha móveis.

Segundo andar também nada de util nos 2 aps, no 3º andar um dos apartamentos tinha vários aparelhos que Antonio pegou, entre eles um notebook e um par de walk-talk. No 4º andar nada de importante. A 1ª entrada do Bloco A está segura, hora da 2ª, onde eu e Antonio temos nossos apartamentos. O 1º andar está seguro e conseguimos mais DVD's para nossa coleção. O 2º andar é nosso. No 3º andar também nada, parece que todas pessoas levaram coisas uteis quando fugiram. No 4º andar o primeiro ap não tinha nada, saindo dele escutei o barulho de um copo quebrando no ap da frente. Antonio levantou a 12, mandei ele se acalmar pois a porta estava fechada. Não sabemos se os mortos conseguem abrir portas mas aposto que não.

Tomei coragem de abrir a porta, pedi para Antonio ficar com a 12 em punho e mirando pra qualquer coisa que sair de dentro. Abri a porta e esperei, empurrei com toda força e pulei para trás ... nada, mas Antonio viu algo vindo pelo chão e mandou eu ficar longe. Quando o que vinha apareceu na luz era apenas um cachorro, um husky que devia estar trancado la dentro a dias. Que dono deixaria seu cão assim sozinho quando a merda acontece la fora. Levei o cachorro para meu ap. Sara o viu e ficou muito alegre, brincou o resto do dia com seu novo amigo e ele parece mais agitado agora que voltou a ver pessoas.

Amanhã é a vez da 3ª entrada do bloco A e a 1ª do bloco B. Vou dormir cedo para ter energia de sobra. Sara escolheu um nome para nosso novo companheiro, vai se chamar Nanuke, sim, o husky do filme Os Garotos Perdidos.

Out 05, '04 - Fortaleza Fase 2 / Parte 2
Acordei com o barulho da campainha, era Antonio me chamando para agilizar a busca de hoje. Tomei um banho, comi alguma coisa, me arrumei com o equipamento de sempre, arma em punho e sai pela porta. Antonio ja estava me esperando com a 12 nas mãos.

-Pronto. Vamos indo, 3ª porta do Bloco A. - falei para Antonio.
-Sim senhor policial. - Antonio bateu continência.
-Hahahaha. Descansar.
-Agora sério, to com um mal pressentimento.
-Calma Antonio, é só irmos com calma.

Chegando na 3ª entrada conseguimos abrir com uma das chaves da argola que achamos ontem. Entramos e subimos para o 2º andar pois o 1º dessa entrada não tem apartamentos, apenas a bomba de água. No 2º andar arrombamos os aps e somente achamos móveis e roupas, a unica coisa que prestava eram as panelas elétricas que poderiamos usar. Subimos ao 3º quando viramos para o lado foi aquele susto, um vulto no fim da escadaria, mas era apenas uma planta. Antonio até botou a mão no coração e respirou fundo, eu até dei uma risada meio que de alivio. Nada de importante também nesse andar. No 4º e ultimo não tivemos problemas, pensamos ter ouvido algo mas era um passarinho na janela.

Saimos da terceira entrada, demos a volta pela garagem e estamos no Bloco B, vamos começar com a 1ª entrada desse bloco que é lá na frente. Abrimos a porta da primeira entrada com a chave correspondente. Entrei primeiro e Antonio logo depois. Um barulho de corpo caindo ao chão veio dos andares acima, acho que nossa movimentação chamou atenção de algo ou alguém. Armas em punho pedi para Antonio ficar e eu continuei subindo, passo a passo, degrau por degrau, senti as batidas do coração aumentarem em ritmo acelerado, o cheiro de podre chega as minhas narinas, o medo toma conta, é agora que vou encontrar com o corpo. E foi quando eu o vi, era um deles, um zumbi. Seu estado de decomposição não era muito avançado mas o fedor já era insuportável. Mas algo o impedia de vir até mim, foi quando eu vi que seu moleton estava preso ao corrimão das escadas. Pedi para Antonio subir. Ele ficou com um nó no estômago ao sentir o cheiro. Antonio resolveu tirar fotos da criatura, os flashs da câmera digital fizeram ele ficar louco e agitado, se debatendo sem parar, até que se desprendeu do corrimão e veio rolando escada abaixo caindo em cima de mim que por efeito dominó caí em cima de Antonio. Lutei para ficar em pé rapidamente sem ele me pegar. Quando consegui ele já tinha pego o pé de Antonio e ia dar uma dentada. POW POW. Dois tiros da minha Glock em sua cabeça fizeram os miolos dele sujarem uma boa parte da parede com tons escuros de sangue dos mortos. Antonio me agradeceu, respondi com um gesto de sim com a cabeça.

O resto do andar estava tranquilo e conseguimos achar vários livros legais para ler e passar o tempo, entre eles várias obras de Stephen King. Antonio enrolou o corpo do garoto em um saco e eu ajudei a carregar até a garagem. Lá jogamos o corpo para o outro lado do muro. O dia foi muito agitado hoje, vamos descansar. A 2ª e ultima entrada vai ficar para amanhã. Não quero brincar com a sorte pela segunda vez em um mesmo dia.



Out 06, '04 - Fortaleza Fase 2 / Parte Final
Eu ja estava pronto para a última tarefa antes de concluir que o prédio esteja seguro. O que ocorreu ontem ficou marcado, bobeira de hoje em diante nunca mais. Atiro primeiro e olho depois.

Antonio me chamou e eu ia saindo e vi Sara com o olhar meio preocupado, eu disse que ia ficar tudo bem e ela sorriu de leve. Peguei minha arma e desci até o corredor então fizemos a volta no prédio até chegarmos na 2ª entrada.

Porta aberta, entramos dessa vez muito atentos a tudo, aqui o primeiro andar só tem 1 apartamento, arrombamos e vasculhamos tudo em busca de algo importante. Só achamos várias pilhas alcalinas, um aparelho de VHS, 2 computadores e uma TV de 20 polegadas. Subimos para o 2º andar e procuramos pelos 2 aps e nada também. No 3º andar estava tudo vazio só restavam móveis, quadros, roupas e cheiro de casa fechada.

No 4º andar o cheiro característico da morte chega a nós. Senti os cabelos atrás do pescoço subir. Antonio se ofereceu para ir mas insisti que não, afinal sou eu que tenho treinamento de infiltração, mas sou eu também que estou com o maior medo. Respirei fundo e decidi entrar no melhor estilo exterminador do futuro, arrombei a porta e entrei em um único pulo com a arma na mão. Nada, apenas o cheiro pútrido de algo apodrecendo. Segui o cheiro já com uma grande vontade de vomitar. Chegando ao local vi que era um quarto e que o cheiro vinha de um corpo na cama. Era um homem que aparentava ser jovem mas não posso afirmar pois o que restou de sua cabeça está espalhada pela cama e pela parede. Um tiro de escopeta ao céu da boca causou essa cena horrível. Saí do quarto e fui até a janela mais próxima para respirar ou iria perder meu almoço.

Fui até o outro quarto ver se estava tudo okey e o que vi foi pior. Uma mulher e uma menina pequena, as duas mortas. Sangue por todo lado, nunca pensei que iria ver isso na vida, um filme de terror a um palmo de meu nariz. Fechei a porta desse quarto e voltei para onde o corpo do rapaz estava. Reparei que em uma de suas mãos tinha um retrato e do lado um papel. Peguei a foto e vi os 3 nela, uma familia perfeita que não existe mais. Antonio chegou e perguntou se estava tudo bem e ao ver o corpo deu um pulo para trás, falou que ia me esperar no corredor. Agarrei o papel e comecei a ler.

"Não acredito o que aconteceu com nossas vidas depois que aquele sujeito estranho mordeu você pequena Barbara. Você começou a ficar com febre e um tempo depois desmaiou. Quando acordou atacou sua própria mãe, minha linda Karine, e tentou vir me atacar. Você não era mais o anjinho do papai que me esperava chegar do trabalho todo dia com um sorriso enorme no rosto. E o mais triste foi o que tive que fazer. Por isso não me perdôo, mas espero que você sim me perdoe, pois tenho certeza que vamos nos encontrar no céu, onde as pessoas boas vivem depois da morte. Estou indo ao encontro de vocês queridas. E Barbara, me perdoe, me perdoe."

Senti uma tristeza muito grande dentro de mim. Esse homem teve que ser muito forte para libertar sua própria filha. Eles merecem um enterro digno, infelizmente não tenho como fazer isso, mas vou tentar alguma coisa. Enrolei os corpos com lençois e puxei para a sala. Antonio e eu ficamos parados ao lado em silêncio, até que ele começou a rezar pelas almas dessas pessoas. Cobrimos com um grande tapete e resolvemos lacrar o apartamento, aqui eles moraram e aqui vão continuar. Fechamos a porta e riscamos uma cruz nela.

Já em meu apartamento o jantar teve um ar meio pesado. Hoje o meu emocional foi muito afetado, preciso de uma boa noite de sono.

Out 07, '04 - Rádio Amador
Está muito frio lá fora hoje. Dá para dormir mais tranquilo sabendo que o prédio está seguro, mas ainda lembro de ontem. É difícil esquecer cenas fortes como aquela, mas sei que com o tempo vou me acostumar, pois é nesse mundo que eu estou vivendo e tenho uma pessoa para cuidar, a Sara.

Antonio me chamou para ir até a casa dele para tentarmos conversar com a pessoa que apareceu no rádio esses dias. Após várias tentativas frustradas, finalmente conseguimos achar o sujeito. Seu nome era Ricardo, é um médico e vive em São Paulo. Disse que lá a coisa ta feia, tem multidões de mortos nas ruas. Também disse que está hospedando a família de um amigo, são 3 pessoas. Eu conversei com ele bastante pois ele gosta de armas, passamos horas falando disso.

Sara dorme sossegada na sala e Nanuke do lado. Agradeço por ter encontrado esse cachorro, assim Sara pode se distrair um pouco do mundo atual.

Out 09, '04 - TV
Ficamos o dia todo na cobertura do prédio. Descobrimos que a entrada estava no apartamento do 4º andar. Lá em cima é muito legal, tem até churrasqueira. E o bom é que fica ao ar livre. Também dá para ir de um canto ao outro da extensão do prédio aqui em cima, eu consegui olhar a rua daqui.

Mais tarde assistindo a SBT vimos mais cenas de ataques das criaturas e de cidades tomadas por multidões de zumbis que mais pareciam ser um monte de formigas. A SBT mostra o dia inteiro, repetidas vezes, uma lista com endereço de Abrigos onde militares estão cuidando de pessoas.

Bom saber que tem mais pessoas vivas e que o exército está ajudando o povo a superar essa crise, espero que eles tenham sorte.

Out 11, '04 - Abrigo
Eu estava com Nanuke no corredor, para ele passear um pouco e pegar um ar. Foi quando eu escutei um barulho vindo do fim da rua e que logo ia passar na frente do meu prédio. Fui até o corredor e escondi Nanuke, fiquei só com a porta aberta para dar uma pequena espiada.

Eram 3 tanques do exército, um atrás do outro, e tinham militares na metralhadora superior. O ultimo dos tanques trazia uma caixa de som com uma gravação em loop que dizia:

"Atenção, se você está sem mordidas e arranhões feitos pelos mortos, venham até nós. O 9° BIMtz está cuidando do Abrigo no Colégio Gonzaga. Temos comida, água e espaço para todos."

Bom saber que tem um abrigo aqui. Antonio desceu e veio conversar sobre o que escutamos. Decidimos ficar aqui mesmo que já temos tudo organizado. Estamos pensando em entrar em contato por rádio com eles.

Out 12, '04 - Eles estão aqui
Droga, o que eu temia aconteceu. A frota de tanques Cascavel e todo barulho feito pela mensagem de audio, atrairam vários mortos para a minha rua.

Subi rapidamente para a cobertura, fui até a ponta para olhar a rua sem ser percebido. São muitos, e como os tanques passaram rápido esses mortos um pouco lentos não conseguiram acompanhar e acabaram desistindo e ficando na minha rua.

Eles andam, outros ficam parados, outros se olham, e alguns tentar perseguir um pobre gato que está correndo pela calçada. Mas o pior de tudo é esse maldito gemido que eles fazem.

Out 13, '04 - Convivência
Qualquer horário do dia esses mortos não dão sussego. Esses gemidos e sons agonizantes enchem o saco. Sara está com muito medo, eu abraço e conforto ela e tento dizer que está tudo bem, mas não consigo enganar nem a mim.

Antonio teve a bela idéia de colocarmos um armário de madeira no corredor para que os mortos não possam nos ver caminhar para a garagem nem para a 1ª entrada do Bloco A. Tinha um armário perfeito para isso aqui no apartamento de baixo, vimos ele no dia que vasculhamos o prédio.

O armário era pesado, mas com a ajuda do Antonio não foi muito difícil carregar. Coloquei o armário bem no início do corredor. Ficou perfeito, não da para ver a rua e nem quem está na rua pode ver quem está no corredor.

Infelizmente nossa ação teve um expectador, o descobrimos quando ele gemeu em frente a grade. Ficamos parados atrás do armário pois sabiamos que ele não podia nos ver. Ele gemeu novamente. Percebi que Antonio ja estava suando frio. Até que escutamos ele se arrastando para longe, acho que ele desistiu.

-Essa foi por pouco Adam, quase borrei minhas calças.
-Calma Antonio, vamos analizar. Ele não enxergou nossos pés por baixo do armário, sua visão deve ser ruim. O que o atraiu foi o barulho que nós fizemos.

Mais tarde em meu apartamento, falei para Antonio do dia que salvei Sara e comparei com hoje. Os Mortos são atraidos mais pelo som do que pela visão. Antonio deu a idéia de testarmos isso algum dia, eu concordei. Vamos planejar como fazer o teste.

Out 14, '04 - Silêncio
Acordei hoje meio que ainda sonhando pois eu não estava escutando mais gemidos de mortos, nem seus gritos perseguindo cachorros e gatos vira-latas. Só conseguia escutar o barulho de pingos, e folhas balançando com o vento. Corri até a janela e vi que estava chovendo.

O barulho da chuva está abafando os mortos. Que tranquilidade, adoro chuva, vou preparar café para Sara que daqui a pouco ela ja estará acordada. Nanuke está dormindo bem encolhido no canto da sala onde fica a janela, a chuva realmente veio para acalmar a todos.

Tudo pronto, vou dormir. Mais tarde vou pensar em algo para acabar com esses defuntos ambulantes antes que criem problemas.

Out 15, '04 - Limpeza
É isso, hoje acordei disposto e com uma idéia para acabar com esses cadáveres na minha rua. Como não pensei nisso antes? Estava na frente do meu nariz o tempo todo.

Bati na porta de Antonio para chamar ele mas só escutei ele gritando de longe: "Eu to dormindo!". Vou deixar ele descansar, porque eu posso fazer isso sozinho. Eu vou atirar em todos zumbis com minha M4A1 usando silenciador.

Fiquei na beirada da cobertura só olhando para os zumbis la embaixo, caminhando sem rumo. Coloquei o silenciador e a mira telescópica. Pop, Pop, Pop, o barulho dela com silenciador parece pipoca estourando. Cabeças explodindo, corpos caindo, assim foi, 1 por 1. O bom é que com silenciador o barulho é minimo, não dá para escutar nem a 3 metros de distância.

Estava compenetrado na tarefa, até que alguem toca em meu ombro, tomei o maior susto que até apertei forte o gatilho e destrocei o zumbi que eu estava mirando. Era apenas a Sara, falou que queria me acompanhar. Continuei atirando, faltavam mais de 20 ainda.

-Eu posso tentar?

Eu quase não acreditei quando ela falou isso. Entreguei a arma para ela, e dei umas dicas básicas de como manusear. O primeiro tiro acertou em cheio a pobre testa de uma senhora com chapéu, o seu corpo todo mordido e com roupas ensanguentadas caiu ao chão deixando de vagar nessa nova realidade. Sorte de principiante eu pensei, até o segundo tiro fazer o mesmo com um zumbi que aparentava ser bem jovem com suas roupas de skatista. O terceiro acerta um que parecia ser bem elegante com sua jaqueta de couro, mas sua pele toda pálida por estar morto fazia um contraste estranho com a jaqueta.

-Você já treinou em clube de tiro ou algo assim antes?
-Não, nunca.
-Nossa, você é boa mesmo.

Só pode ser um dom natural, a garota parece ter a manha de atirar com armas. Deixei ela continuar, e em meia hora a rua estava limpa, nenhum morto mais andando, e o importante: ela acertou todos com apenas 1 tiro certeiro na cabeça. Ela nasceu para ser sniper.

Voltamos para o apartamento para fazer um lanche e perguntei para ela se queria aprender mais sobre armas, ela respondeu que sim. Eu fiquei feliz em ver que ela está disposta a aprender mesmo. Nesse novo Brasil é sempre bom ter ajuda de alguém que saiba atirar.

Out 16, '04 - Contato com o Abrigo
Fui acordado pela Sara tão repentinamente que dei um pulo da cama, ela pediu para me acalmar e disse que era o Antonio que estava me chamando para ir no apartamento dele. Me arrumei e fui até lá.

Ele me recebeu e pediu para que rapidamente eu fosse até a sala do radio amador. Chegando lá eu escutei o que ele queria me mostrar. Era um rapaz falando sobre o abrigo do Colégio Gonzaga. Ele disse ser o soldado encarregado de operar o rádio e pediu para quem tivesse escutando retornar a mensagem. Antonio olhou para mim com um sorriso no rosto, aquele sorriso de criança com brinquedo novo, me perguntou se devemos retornar, pensei um pouco e resolvi que sim.

-Colégio Gonzaga, Câmbio. Aqui fala um sobrevivente na Rua Doutor Amarante.
Alguns segundos se passaram e o soldado retorna:
-Nossa, passamos por ae esses dias e tudo parecia deserto. Qual seu nome senhor? Câmbio.
-Antonio, mas por favor não me chama de senhor que me sinto velho.
-Desculpe Antonio. Eu me chamo Ramirez.

Antonio disse que estava com mais 2 sobreviventes e que vimos os tanques passarem, Ramirez ofereceu ajuda militar para irmos até o Colégio, mas falamos para ele que estamos seguros aqui. Ramirez conversou com a gente por um bom tempo. Nos revelou que o Quartel do 9º BIMtz no bairro Fragata foi invadido por uma horda de mortos e a maioria dos militares foram mortos. Os que restaram conseguiram tanques e armamentos e tomaram o Colégio Gonzaga como novo QG.

Contou que todo dia um grupo saia com os tanques por certas ruas da cidade procurando sobreviventes. Encontraram pessoas em situações difíceis, disse que um dia encontrou gente escondida dentro de esgotos. Nos falou que o total la dentro é de 152 civís e 35 militares. Ramirez se despediu disse ter que cumprir uma tarefa, mas prometeu entrar em contato novamente.

Não creio que de 300.000 habitantes nessa cidade apenas 152 lutaram por sua sobrevivência. Não pode ser, deve ter alguém como nós, vivendo em sua própria casa, com medo da própria sombra, e em silêncio para não chamar atenção. Desejo muita sorte a todos.

Out 17, '04 - Dia de conversa
Conversamos a tarde toda com Ramirez, sujeito muito legal. Começou a contar sobre as tarefas do Abrigo. O General pede para que 2 soldados cuidem de cada esquina pelas janelas do colégio. As ruas estão trancadas com carros estacionados na horizontal para que os mortos não entrem, mas ele disse que os mortos estão concentrados atrás dos carros tentando entrar na rua, pois eles escutam o barulho das pessoas la dentro.

O General autorizou uso das armas para matar alguns dos mortos antes que a multidão deles cresça e isso comece a empurrar os carros de alguma forma, fazendo com que eles tenham acesso para entrar na rua.

Ramirez ainda contou que a situação no Brasil está feia. Quase 85% do Brasil está sofrendo com os mortos. Vários abrigos militares foram instalados por toda a extensão do país, mas a cada dia que passa ele falou que perde comunicação com alguns deles, tem medo de que o motivo seja uma invasão dos mortos aos abrigos.

Depois Ramirez teve que se despedir pois o General pediu que ele fosse ajudar na cantina do colégio. Combinamos de conversar novamente amanhã.

Out 19, '04 - Trauma
O treino de Sara vai bem, ela é boa mesmo. Os alvos são pequenos objetos da rua, carros estacionados, lixo, as placas de propaganda do pequeno estádio de futebol aqui da frente. Ela atira muito bem, e com meu treinamento ela vai virar uma sniper perfeita.

Sara: Obrigada por me ensinar a atirar.
Adam: Tudo bem, você tem o dom, so estou o aperfeiçoando.
Sara: E obrigada por ter me salvo aquele dia.
Adam: ... Tudo bem.
Sara: Meus pais, tinham saido de carro para procurar meu irmão, dias passaram e eles não voltaram, eu descobri tudo que estava acontecendo com aquelas coisas batendo na minha porta. - a expressão no rosto de Sara é bem triste.
Adam: Eu ... sinto muito.
Sara: Tive que me virar sozinha, me esconder, e escutar aquelas batidas na porta e aquele barulho que eles fazem, fiquei com muito medo, e você apareceu, obrigada.

Continuamos conversando e Sara me contou outras coisas. Ela tem 16 anos mas ja é super forte para sua idade, pois está aguentando bem essa nova realidade. Agora sei porquê ela não falava, perder os pais deve ser difícil. Preciso ser como um Pai para ela agora. Me sinto como protetor da Sara, vou cuidar bem dela, isso eu prometo.

Out 20, '04 - Perigo na Praça
O treino de Sara vai bem. Antonio e eu estamos aqui na cobertura acompanhando a garota. Ela acerta longe, já sabe montar e desmontar a arma e como limpar. Ainda falta umas coisas para ensinar mas ela já esta na metade do caminho. Tudo ia calmamente até escutarmos um barulho de longe, vinha de nossa direita pela rua.

Era um carro a toda velocidade vindo a algumas quadras de distância. Pedi para Antonio e Sara se abaixar pois não sabemos quem pode ser. O Carro continua vindo, já está na quadra da Praça aqui na esquina. Até que um zumbi se atirou na frente do carro fazendo o motorista perder a visão, o carro roda na rua e acaba batendo de frente com um poste na esquina da praça. A buzina do carro está tocando sem parar, isso vai atrair muitos mortos para o local. O sentimento de ajuda corre por minhas veias, e eu não consigo evitar.

Adam: Antonio, eu vou ajudar. Se eu deixar essa buzina ligada capaz de todos mortos desta região virem para cá e isso não vai ser nada bom.
Antonio: Okey, eu vou com você.
Adam: Não. Eu vou sozinho, se acontecer algo quero que você cuide da Sara.
Sara: Não vá, por favor!
Adam: Calma Sara, juro que vou me esforçar para voltar.

Dei um abraço em Sara, apertei a mão de Antonio e fui para meu apartamento. Peguei a Glock 17, 4 pentes de munição e minha faca de caça e sai rapidamente pelo corredor até o portão de entrada. Sai do prédio e corri até a esquina. Olhei para os lados e ja avistei varios mortos andarilhos vindo para o local, pelo menos são poucos ainda.

Atravessei a rua e cheguei até o carro, é um Fiat Uno azul. Arma em punhos cheguei no vidro do motorista e vi um senhor que aparenta estar na casa dos 50 anos, seu rosto grudado no volante com muito sangue, até que percebi o pior, seu pescoço está quebrado, está morto.

Do lado passageiro havia uma mulher bem vestida, parece ter 30 e poucos anos, e no banco traseiro um garotinho que parecia ter 10 anos me olhava com medo.

Adam: Olá, não tenha medo. Você está bem?
Garotinho: Urrum ...
Adam: São seu pai e sua mãe?
Garotinho: Não, é o Vô e a minha Mãe.

Eu olho para a praça por cima do carro e vejo o pior, mais de 30 mortos vindo para cá, estão vindo da avenida. Não posso atirar para não assustar o garoto. Por sorte a senhora que estava no banco da frente acordou e está se recompondo. Eu fui até o outro lado ajuda-la a sair pela porta. Consegui tira-la e a levei para a frente do carro. Os mortos estão mais perto, a uns 40 metros.

Adam: Senhora você está bem? Qual seu nome? Idade? - fiz perguntas para ela se orientar e voltar a si.
Senhora: ... Estou bem ... Cintia, 34.
Adam: Okey Cintia, precisamos ir, depressa.
Ela olhou para o senhor e começou a chorar.
Cintia: Paiii, nãoo, paiiiii.
Adam: Eu sinto muito pelo seu pai, mas se não sairmos daqui agora ... - nesse momento eu aponto para os mortoss que estão a 30 metros de nós, Cintia olha e se apavora.
Garoto: Mamãe, os homens mortos estão aqui!

Eu olho para trás do carro e vejo que mais 10 estão vindo e estão muito mais perto que os outros. Não exitei, comecei a atirar, 1,2,3 cairam, comecei a andar para mais perto deles e atirando, 4,5,6,7, os 3 agora estavam bem perto de mim, fui atirar no mais próximo e ele investiu um pulo e pegou do meu pé, tentei sair de suas mãos mas ele me segurava forte sabendo que a comida estava tão perto, pisei bem forte com o outro pé na sua cabeça, ela se esmagou fazendo escorrer sangue pela rua. Mais dois tiros e os outros 2 ja eram.

Quando me virei para o carro vi Cintia com o garoto no colo, e os mortos chegando perto, mas o que eu vi foi ainda pior, varios mortos chegaram pela rua de trás, nos cercando pela frente, bem na rua que eu tenho que voltar para o prédio, e não são poucos, são mais de 20 além dos que estão vindo pela praça.

... CONTINUA

Out 21, '04 - Perigo na Praça / Parte 2
Os mortos cercaram a minha rua, para voltar ao prédio preciso atravessar uma gangue de 22 mortos. Fui até Cintia e pedi para que ela me acompanhe. A minha idéia é descer pela rua, dar a volta por trás dessa quadra e subir pela rua de trás do meu prédio, assim vamos despistar a maioria dos mortos que pelo barulho vieram parar aqui.

Comecei a correr, Cintia com o garoto no colo estavam logo atrás, dobrei a esquina e senti que hoje não era meu dia. No final dessa rua mais mortos vinham para esta direção.

Adam: Mas que merda. Cintia, fique bem atrás de mim. Vou tentar abater o máximo que der e depois corremos pelo meio deles.
Cintia: S...Sim

Recarreguei a pistola e mandei bala neles, ao mesmo tempo que eu caminhava ia atirando, errei vários, mas de 2 tiros 1 zumbi sempre caía.

Voz: HEYYYYYYY! Aqui!!!!

Eu olhei para os lados procurando de onde vinha essa voz, até que percebi que tinha uma pessoa na janela de uma das casas desta rua.

Voz: Venham, entrem aqui, rápido!

Corri muito até a casa do rapaz, até que escutei um grito, olhei para trás e era Cintia, um morto com roupas rasgadas, parecia um mendigo saiu de trás de uma caixa grande de reciclar lixo e pegou o garoto dos braços de Cintia e já ia morde-lo.

Usar a arma era muito arriscado pois eu poderia acertar a pobre criança. Sai correndo pra cima do cadáver e apliquei uma chave de braço nele assim ele não vai morder a criança. Gritei para Cintia pegar o garoto. Ela conseguiu e correu para dentro da casa.

O Zumbi estava brigando para sair da chave de braço, ele se debatia sem parar, acho que essa força surge quando eles estão perto de pessoas vivas. Ele tentou morder meu braço e tive que solta-lo. Mal soltei e ele se virou rapidamente e se atirou em cima de mim. Segurei o queixo dele com as duas mãos mas ele não desistia e mais forçava para me morder, até que derrepente escuto um barulho de algo quebrando e o corpo desse maldito cai para o lado. O rapaz da casa tinha aplicado um golpe na cabeça do zumbi com um pedaço de madeira.

Adam: Muito obrigado... esses mortos são fortes.
Rapaz: Eu sei amigo, mas venha rápido.

O rapaz me ajudou a levantar e corremos para sua casa, fechamos a porta, colocamos um sofá e muito peso emcima para aguentar. Minutos depois os desgraçados já estavam batendo na porta, sabiam que sua grande refeição estava aqui dentro, mas se depender de mim eles vão morrer de fome. O rapaz nos levou até sua sala, lá tinha mais um jovem.

Rapaz: Escutei os tiros e fui ver quem era, e resolvi ajudar vocês. Meu nome é Jorge, e aquele sentado ali é o Daniel.
Adam: Olá, eu sou Adam, e esta é Cintia. Cara, muito obrigado mesmo.
Jorge: Certo.

Já é noite, as batidas na porta continuam, mas não estão gemendo nem fazendo barulho com a boca, será que é para não atrair mais mortos e ter que dividir a comida que já é pouca?



Out 22, '04 - Seguros por um momento
Passamos a noite na casa de Jorge. Ele tinha comida e água para nos oferecer. Contou que Daniel tem 18 anos e é seu vizinho, morava sozinho e veio pedir para ficar com Jorge e tentarem sobreviver juntos, pelo que dá pra ver eles estão se saindo bem.

Cintia nos apresentou seu filho Iago que tem 10 anos. Contou que sairam de casa por ela não ser muito segura e estavam indo para o abrigo do Colégio Gonzaga até que tudo aconteceu. Cintia ao se lembrar do que ocorreu a seu pai começou a chorar. Jorge a ajudou a se acalmar, depois ela foi colocar Iago para dormir.

Perguntei se Jorge tinha telefone e ele disse que sim. Fui até o aparelho para ver se estava funcionando. Está com linha, não sei até quando essas coisas irão funcionar sem manutenção humana. Liguei para o número do Antonio.

Antonio: Alo?
Adam: Antonio, é o Adam, estou bem, achei sobreviventes que nos abrigaram.
Antonio: Adaaaaammmm, que susto você me deu quando sumiu da rua, eu estava preocupado demais.
Adam: Pode ficar tranquilo, mas estamos trancados aqui e os desgraçados estão na porta da frente tentando entrar.

Tarde demais, a legião de mortos na porta era muito maior do que a resistência que ela oferecia, e a porta acabou arrebentando, os mortos 1 por 1 vão entrando dentro da casa e vindo pelo corredor até nós na sala de estar.

Adam: Droga Antonio, eles entraram!
Antonio: Eu vou pensar em algo aqui, aguenta firme ae.
Jorge: Venha, vamos para o quintal, lá a gente sobe no teto com a escada de madeira que eu tenho.

Saímos correndo até o fim do corredor onde tem a porta para o quintal. Jorge abriu e nos levou até a varanda, lá ele colocou uma escada encostada no telhado para subirmos. Os gemidos e uivos dos mortos já estavam na metade do caminho até nós. Comecei a atirar no arrastão de mortos que vinham no corredor, mas as baixas do exército deles não faz diferença em sua vantagem sobre nós.

Cintia e Iago já estavam no telhado seguros, eu vi que tinham caixotes por perto e comecei a colocá-los na porta para atrasar eles assim que chegarem aqui. Daniel já subiu e Jorge falou que era minha vez, quando comecei a subir os zumbis já estavam nos caixotes, eram dezenas, cada um se atirava por cima do outro para chegar primeiro até nós, e isso resultou nos caixotes quebrando e os mortos caindo no chão.

Cheguei no telhado e dei minha mão para Jorge e o ajudei a subir, um dos mortos pegou ele pelo pé enquanto um outro veio e mordeu sua perna, mais outro chegou e começou a puxar. Daniel veio me ajudar a puxar Jorge para cima, eu pude ver nos olhos de Jorge a dor das mordidas. Infelizmente eram 6 zumbis puxando Jorge como se fosse uma fruta saborosa pendurada em uma árvore, e a sua mão escapou da minha. Ele caiu na multidão. O que veio a seguir não foi uma visão muito agradável.

Vários zumbis começaram a rasgar a barriga de Jorge como se fosse papel, arrancando-lhe os intestinos e orgãos internos e se alimentando como porcos famintos. Uns cortaram o braço esquerdo dele e foram para o canto brigar por pedaços. Os gritos agonizantes de Jorge são como um pesadelo daqueles que a gente não consegue acordar, era como se eu podese sentir a dor, não vou deixar ele sofrer mais. Dei um tiro em sua cabeça e fiz o sinal da cruz, se há alguém lá em cima que me perdoe.

... CONTINUA

Out 23, '04 - Seguros por um momento / Parte 2
Estamos no telhado da casa de Jorge, e os zumbis ainda estão lá embaixo se alimentando do que resta dele, apenas ossos e sangue por todo o chão de seu quintal. Cintia levou Iago para a outra ponta daqui de cima para não olhar essa brutalidade. Daniel está apavorado com a voracidade dos zumbis.

É mais um fato para adicionar a minha atual lista de coisas horriveis que presenciei desde o inicio. Estou tentando pensar em como é que vamos escapar daqui de cima, tem mais de 30 deles lá embaixo sem contar os que devem estar lá dentro pela casa. E o pior vai ser quando o banquete acabar e eles perceberem que a sobremesa está aqui em cima. É meio louco falar assim depois do que aconteceu, mas nessa nova realidade é melhor se acostumar, pois é assim que eles nos vêem, como mero alimento.

Horas passam e a fome começa a bater, mas a comida ficou la dentro. Daniel sem querer quebrou uma telha e o barulho atraiu a atenção de um zumbi, era uma garota loira com pele pálida e uniforme escolar. Ela levantou os braços para nós e gemeu. Logo após vários outros olharam para cima e nos viram aqui. Em pouco tempo todos eles ja estavam cientes da nossa presença e começaram a fazer muito barulho. Então escutamos uma buzina vindo da rua.

Fomos até o outro lado do telhado e vimos uma Ford Ranger parada na rua, de dentro sai uma pessoa. Era Antonio, ele veio nos ajudar.

Antonio: Que vocês estão fazendo ai em cima?
Adam: Eles estão aqui dentro, cuidado, sua buzina deve ter chamado a atenção deles.
Antonio: Putzzzz.

Vi Antonio olhando para os lados, procurando algo, ele caminhou até a grande lixeira de reciclagem e começou a empurrar até a porta da casa. A lixeira conseguiu bloquear a porta perfeitamente, mas acho que só vai aguentar poucos mortos. Logo depois ele entrou na Ranger e subiu a calçada e estacionou bem colado com a parede.

Antonio: Agora sim, pule você primeiro na caçamba e ajude os outros.

Tenho que admitir que eu não teria pensado nisso, Antonio teve uma grande idéia. Pulei na caçamba da Ranger e pedi para Cintia me alcançar Iago. O garoto ja estava seguro dentro da Ranger e então foi a vez de Cintia, Daniel a ajudou e eu a segurei. Os mortos já estavam na porta forçando a lixeira, ela está balançando muito, vai sair do lugar a qualquer momento e todos esses zumbis vão correr direto para mim. Daniel conseguiu descer e eu bati com a mão no vidro do carro para avisar Antonio. Ele saiu acelerando e fez um balão para retornar e passamos pela frente da casa, foi quando a lixeira foi empurrada e eles vieram em nossa direção.

Por sorte a Ranger foi muito mais rápida e conseguimos despistá-los. Dobramos a esquina e continuamos em direção ao meu prédio. Ao passar pelo carro de Cintia tive que tapar os olhos dela. Os mortos cercavam o carro e alguns se alimentavam do pai dela. Uns com ossos na mão, outros comendo orgãos e alguns mastigando sua carne. Pelo menos ele já tinha morrido e não teve que sofrer sendo dilacerado vivo.

Chegamos seguros no prédio. Trancamos os portões e estacionamos a Ranger. Mostrei o prédio para os novos moradores. No apartamento embaixo ao meu vão ficar Cintia e seu filho Iago. Daniel vai ficar no da frente. Antonio e Sara se apresentaram e todos jantamos em meu apartamento. Todos já devem estar dormindo, menos eu. As imagens da morte de Jorge não saem da minha cabeça e estão assombrando meus sonhos.

Out 24, '04 - Pensamentos
Estou olhando a chuva cair pela janela. Isso me acalma, me faz ficar em paz por algum tempo e esquecer do que está em volta, esquecer que agora não tenho liberdade, sou um prisioneiro para poder sobreviver, esse prédio é minha prisão, minha fortaleza, aqui dentro estou seguro, lá fora está a morte, rondando cada esquina, cada canto escuro, pronto para me emparedar e cobrar por minha vida.

A morte se fantasia, chegando mais perto sua face aparece, um morto, zumbi, chame como quiser, é essa criatura que ronda minha cidade, ronda o estado, o país. Quantas pessoas devem estar como eu, quantas morreram e quantas estão correndo e se escondendo para continuar vivendo? Não sei.

Por que estou vivo? Para sofrer vendo pessoas que gosto partirem nas mãos do exército da morte? Ou estou vivo pois sou um escolhido para ajudar outras pessoas? Isso é um castigo ou uma catástrofe? Tantas perguntas, nenhuma resposta.

Out 25, '04 - Outro dia
Entrei em depressão e comecei a questionar as coisas, crise de existência, quem nunca teve? Mas já estou melhor, devolta ao normal, se é que se pode dizer isso atualmente vendo mortos levantarem e perseguindo os vivos.

Os novos moradores já se adequaram ao nosso modo de vida aqui dentro do prédio. A única lei aqui dentro é a do silêncio: não faça barulho para não atrair os mortos. Até agora essa lei deu certo. Cintia pediu para eu deixar Nanuke ficar no apartamento deles certas horas do dia pois Iago adora brincar com cachorros. Eu deixei, afinal esse cachorro talvez ajude esse pobre garoto a não ter que encarar o mundo lá fora tão cedo, se bem que o quanto mais cedo souber melhor.

Pelo menos hoje depois de tanta depressão eu consegui sorrir. E o pior é que foram 2 mortos que me fizeram rir. Eu estava na cobertura olhando para a rua e vendo os mortos caminharem. Eles estão aqui na rua novamente, foi a buzina do carro aquele dia que os atraiu. Olhei para um deles que vestia roupas coloridas, tinha uma barba grisalha e era gordinho. Ele estava parada olhando para um outro morto que vinha caminhando. Este morto estava com uniforme de segurança, tinha um rosto pálido e um olhar branco, parecia mal encarado. Ele veio e parou bem na frente do morto de barba, os dois ficaram se encarando por um tempo, se olhavam, eu me segurei para não rir muito alto. Os dois pareciam que a qualquer momento iriam brigar, mas o segurança foi embora e o de barba continuou ali parado.

Eu queria entender o que faz eles perseguirem gente viva, e o que faz eles caminharem sem rumo em vez de ficarem parados esperando morrer novamente, e o melhor, saber como o vírus fez eles voltarem a vida.

Out 27, '04 - Time is on my side, yes it is
Estou jogando futebol com o Antonio e o Daniel aqui na cobertura, passar o tempo, tempo é o que mais temos dentro deste prédio, mas futebol sem fazer barulho e sem gritar alto é meio sem graça. Sara agora brinca com Iago e Nanuke fica em volta pulando, bem alegre por ter uma criança por perto para lhe dar atenção.

Cintia é uma boa cozinheira, preparou um grande almoço para todos, comi demais. Conversamos bastante sobre várias coisas, menos sobre passado e sobre eles, os mortos. Assim esquecemos um pouco de tudo isso e podemos relaxar.

Eles continuam pela minha rua, caminhando e procurando vítimas, a lei do silêncio está funcionando muito bem. Antonio conversou com Ramirez hoje mais cedo. Ele tinha informações que encontraram sobreviventes no bairro Areal, mais de 15 dentro de uma casa bem reforçada.

Agora a pouco pensei ter escutado coisas. Um barulho de gente batendo em portão de ferro. Talvez seja minha mente inventando coisas, mas acho que deve ter vindo de dentro do prédio. Vou verificar mais tarde.

Out 28, '04 - Grando susto
Um grande barulho no fundo do prédio. Antonio bateu na minha porta assustado e pediu para irmos ver o que aconteceu. Peguei minha arma e Antonio sua 12. Chegamos na porta de nossa escadaria, tomamos fôlego, abrimos a porta e saimos pelo corredor até o fundo, lá de onde veio o barulho.

Chegando mais ao fim do corredor a nossa surpresa, um gemido e barulho de passos se arrastando pelo chão. Paramos e olhamos um para a cara do outro muito assustados. Foi quando ele apareceu aos poucos dobrando o fim do corredor. Era um zumbi, mas como esse maldito entrou aqui dentro?

Mirei em sua cabeça e atirei, o medo fez eu errar, ele veio caminhando até nós com os braços levantados, louco para chegar logo e nos devorar por completo. BAMMM, só vi sua cabeça explodindo. Antonio acertou a cabeça dele com um tiro de 12, que estrago. O corpo do zumbi caiu no chão e começou a tremer de leve. Um rio de sangue escuro começou a percorrer as lajotas do piso.

Antonio olhava para os lados para entender de onde ele veio, e me mostrou que a porta de metal na casa do vizinho estava aberta. Essa porta é do 2º andar da casa, e dá acesso para a sala de serviços. Esse morto devia estar batendo na porta e conseguiu abrir, por isso o barulho que escutei ontem. Ele deve ter andado até o fim da sacada dessa casa e se atirado pra dentro do nosso prédio, é uma bela queda de 1 andar e meio, foi esse o grande estouro que escutamos.

Assim como ele chegou aqui outros mortos também podem chegar, acho que vou ter que dobrar a esquina e ir nessa casa fechar essa entrada. Sei que é difícil isso ocorrer novamente mas não quero correr o risco de encontrar outro zumbi metido a acrobata.



Out 29, '04 - A casa vizinha
Esperei a noite cair para ir naquela casa tentar bloquear a porta por onde aquele zumbi saiu para o teto vizinho. Me vesti com o uniforme, M4 com silenciador nas mãos e a Glock como arma secundária na perna, dessa vez não vou só de pistola como aquela vez, vou armado até os dentes.

Todos já estavam dormindo, e também nem falei para eles o que eu faria para não amedronta-los, se eu tivesse contado para Sara ela ia ficar muito preocupada, só Antônio sabia. Estamos agora no nosso corredor lateral, vou subir o muro para entrar no terreno vizinho e subir no telhado de uma garagem para chegar na sacada da casa. Não vou pelo portão da frente e dobrar a esquina porque iria chamar a atenção dos mortos que estão na rua.

Subi no muro com a ajuda de Antônio e desci no gramado do terreno vizinho.

Antônio: Boa sorte.
Adam: Obrigado.

Me abaixei perto da grama e olhei para todos os lados, está muito escuro mas não escutei nenhum barulho. Fui até a garagem do terreno, ela não tem portão apenas um telhado segurado por estacas de madeira. Consegui subir no telhado, agora é só subir para a sacada do 2º andar da casa alvo. Pronto, subi sem problemas, agora consigo ver o caminho que o zumbi fez para cair no nosso prédio, ele seguiu reto até o fim da sacada onde tem um piso de cimento sem encosto, por isso ele caiu.

Metralhadora na mão, liguei a lanterna que coloquei nela, vasculhei pelas janelas da área de serviço da casa e não vi movimento. Entrei pela porta que estava aberta e bati nela de leve, vi que o barulho era o mesmo que escutei aquela noite. A vontade de só fechar essa porta e sair fora é grande, mas a curiosidade fala mais alto, resolvi entrar dentro da casa e pesquisar. Dobrei o corredor da área de serviço e segui reto até achar uma escada que leva para o primeiro andar. Desci com cuidado e vi que era uma sala bonita com plantas nos cantos, quadros, uma grande TV e estantes com livros. Vi uma entrada que era um corredor, segui por ele e achei 4 portas. Abri a primeira e vi que era um escritório, nada de útil aqui. A segunda porta era um banheiro. Terceira porta era um quarto de casal, tinha retratos no criado mudo em um lado da cama, fui até lá olhar. Eram 3 pessoas, um homem, uma mulher e um garotinho, uma foto da família.

Na última porta era um quarto infantil, era do garoto da foto, aqui estão sua cama, seu armário e sua estante. Fui até a estante onde tinham mais fotos. Ele era moreno, parecia ter 12 anos, e nas fotos sempre tinha um rosto alegre, um garoto feliz. BLAMM! Olhei para trás e algo tinha saído do armário, subiu na cama e se atirou em cima de mim. Caí no chão e olhei melhor, era o garoto das fotos, só que estava sem um olho, a mandíbula aparecendo e o nariz destruído por mordidas, não dava para pegar a metralhadora pois eu teria que tirar meus braços dele então ele poderia me morder. Continuei segurando ele e com uma das mãos tirei minha faca da perna e perfurei sua cabeça pela orelha em direção ao cérebro com muita força.

Fiquei parado olhando para o corpo da criança que agora está deitada em cima de seu próprio sangue, pobre garoto que não pôde terminar sua infância, foi vítima de um erro. O pior é saber que esses malditos zumbis não escolhem suas presas, apenas atacam qualquer ser vivo que estiver pela frente, independente de sua idade. Cobri seu corpo com o lençol de sua cama, limpei minha faca no colchão e decidi ir embora, já tinha visto demais.

Chegando na sala eu vejo no canto direito longe de mim uma mulher de cabelos loiros longos, camisola branca com manchas de sangue, seu olhar branco como leite, uma mordida no pescoço, era a mulher da foto parada me olhando, parece que sabia o que eu tinha acabado de fazer com seu filho. Me olhou por mais um tempo, parece que não percebeu que sou humano, talvez por eu estar com uma máscara de tecido onde só os olhos aparecem. Não esperei mais e dei um tiro nela, seu corpo caiu no chão sem fazer muito barulho. Agora eu percebi que o zumbi que caiu no prédio era o homem desta família. Sentei no sofá da sala e descansei, ver um garoto zumbi foi difícil mas acho que já estou me acostumando com a nova realidade.

Me levantei e cobri o corpo da senhora com um tapete, procurei pela sala as chaves da casa, encontrei elas do lado do telefone que ficava em uma mesinha no canto. Subi as escadas e saí pela porta da sacada, tentei todas as chaves na fechadura e encontrei a que servia, tranquei a porta desci pelo mesmo caminho que cheguei aqui em cima. Pulei o muro do terreno para voltar ao prédio e Antonio estava me esperando. Então voltei para meu apartamento contando tudo o que aconteceu para Antonio, ele disse que não iria conseguir se defender ao ver uma pobre criança transformada em zumbi. Sei que é difícil mas este é o novo mundo.



Out 30, '04 - Jogos
Não dá, ainda me lembro do rosto do garoto, todo destruído. Lembro da sua mãe também, com seus olhos nublados sem foco. Uma família inteira vítima desse caos. Sou humano, é normal ter sentimentos, mas é mais um dia pela frente e preciso ocupar minha cabeça para não começar a perder a sanidade.

Daniel deu a ideia de passar o tempo brincando com jogos de tabuleiro. Antônio e Cintia prepararam um lanche enquanto Daniel, Sara, Iago e eu estávamos entretidos jogando War. A tarde foi regada com muito Banco Imobiliário, Detetive e Passa ou Repassa.

Agora estou sentado no sofá da sala, vendo minha TV que tem apenas um canal "ao vivo", merda, que péssima hora do meu humor negro aparecer e criar esse trocadilho sem graça. Acho que vou dormir cedo, o sono ta batendo.




Nov 01, '04 - Feridas profundas
Os mortos continuam na rua, andando pra lá e pra cá, parecem formigas perdidas. Sara e Daniel estavam na sala vendo TV e conversando, eles estão se dando bem. Agora caiu a ficha, a faixa etária é igual, acho que vai surgir algo disso. Hehehe, não falei que ia proteger a Sara? Já estou com pensamentos de pai coruja.

Fui até o apartamento do Antonio para fazer algo e deixar eles conversarem. Bati na porta e Antonio falou para eu entrar. Entrei e vi ele com uma cara de choro sentado em seu sofá no meio da sala. Vi que em sua mão estava uma foto dele com seu filho.

Adam: Ei, tudo bem?
Antonio: Não, estava aqui imaginando o que pode ter acontecido com meu filho. Acho que perdi ele para sempre.
Adam: Eu sinto muito. Todos nós perdemos alguém especial.
Antonio: É eu sei. Mas por mais que eu tente parecer calmo todo dia antes de dormir eu choro pensando nele.
Adam: Deve ser difícil mesmo.
Antonio: Muito.
Adam: Mas pense que ele está em um lugar melhor agora Antonio, um lugar muito melhor.
Antonio: ...
Adam: Eu perdi a mulher que amava, você o seu filho, Sara um pai e uma mãe... todos nós perdemos alguém mas estamos aqui juntos, unidos tentando sobreviver, somos uma grande família.
Antonio: ...
Adam: Não é verdade?
Antonio: É, você está certo. Temos que dividir nossas tristezas e ajudar um ao outro.
Adam: Exatamente amigo.
Antonio: Obrigado cara.

Apertei a mão de Antonio e deixei ele sozinho. Esse mundo tirou algo de cada um de nós que não vai voltar, mas todos estamos juntos e vamos nos ajudar, superar e viver.

Nov 02, '04 - Dia dos Mortos
Coincidência? Hoje é o dia dos mortos e hoje tem uma multidão deles na minha rua, alguns até nas grades do prédio se segurando, mas só sei que são mais de 100, todos aglomerados pelas calçadas e no meio da rua.

Tudo isso aconteceu por causa de uma gangue de motoqueiros que passou pela rua mais cedo, eu estava na cobertura olhando quando mais de 50 motos de todos os tipos e 2 bestas KIA passaram, todos sobreviventes, mas todos bem armados, por isso fiquei com medo em fazer contato, não sei se eles são amigáveis ou estão saqueando lojas e casas para viver.

Minutos depois que eles passaram a minha rua foi tomada por uma legião de mortos que estavam seguindo o barulho das motos. Vi passar mais de 2.000 mortos pela rua e descendo ela. Uns foram embora ainda perseguindo só o som pois os motoqueiros são rápidos. Uns desistiram e ficaram para trás e agora estão em minha rua, lotando ela com suas carcaças e corpos podres. A lei do silêncio está com força total hoje.

Nov 03, '04 - Quarta-Feira
E os mortos continuam aqui na rua. É incrível o barulho chato que eles fazem, esses gemidos e uivos, parecem que estão sempre com dor. Cintia não consegue deixar Iago calmo, ele sempre pergunta: "Mamãe, os homens mortos podem entrar?". Sinto pena do garoto, tão pequeno e tendo que conviver com isso.

Antonio conseguiu conversar denovo pelo rádio com Ramirez. Ele contou que os mortos na barricada de carros aumentaram muito, as pessoas dentro do colégio são tantas que o barulho já está atraindo vários mortos. Contou também que perderam contato com o abrigo de Porto Alegre. Cada dia que passa mais acredito que é o fim do Brasil, se o exército que é bem equipado não consegue aguentar quem é que vai?

Nov 04, '04 - Descobertos
Droga, os mortos nos descobriram. Estão muito loucos balançando as grades para poder entrar. Mais de 50 tentando entrar, tenho muito medo de que eles consigam arrebentar a grade, se isso acontecer eles vão infestar os corredores do prédio.

Tudo aconteceu quando eu fui levar o lixo até o fundo do prédio pelo corredor onde nós colocamos o armário para bloquear a visão que se tem do corredor pela rua. No momento que abri a porta não vi Nanuke sair, ele correu até o armário e ficou latindo muito, o barulho dos mortos talvez o tenha provocado. Todos os mortos vieram para as grades frontais do prédio. Preciso pensar em algo para acabar com eles antes que chamem mais atenção.

Nov 06, '04 - Acabando com os problemas
Eu pensei em uma grande idéia para acabar com os mortos no portão. Chamei o Antonio para me ajudar a achar algumas facas de cozinha bem afiadas pelos apartamentos do prédio. Minutos depois Antonio voltou com umas 5 facas. Ele me perguntou o que eu pretendia fazer com tantas facas, pedi para ele esperar e ver. Na sala dos faxineiros que tem aqui no prédio eu achei várias vassouras que iam ajudar no meu plano.

Arranquei os cabos das vassouras, peguei fita isolante e prendi bem forte as facas nas pontas de cada cabo. Pronto, lanças caseiras. A idéia é matar todos os mortos na grade mesmo, atrair eles e furar seus crânios com a lança, assim não precisamos ir para a rua e estaremos seguros pela grade do prédio.

Adam: A idéia é perfurar o crânio deles com as lanças.
Antonio: Bom, será que funciona?
Adam: Espero que sim. Vamos estar de frente para eles, vão ficar loucos ao nos ver e não sei se a grade vai aguentar. Preciso de sua opinião, vamos ou não fazer isso?
Antonio: É arriscado, mas vamos, não aguento mais esse barulho.

Peguei uma das lanças e dei outra para Antonio, saimos pelo corredor dos carros até o portão, na metade do caminho eles ja tinham nos visto, o barulho aumentou, eles começaram a uivar e gemer alto, seus braços entre as grades tentando nos alcançar, aquele olhar branco que eles possuem. Admito que tenho medo, muito medo.

Chegamos até as grades, estamos a poucos passos dos braços deles. Eles estão muito loucos, a grade está balançando muito, eles nos querem, querem nossa carne. Andei para mais perto de um e com toda força cravei a lança em sua cabeça, quando tirei a lança o seu corpo caiu no chão, agora está realmente morto. Funciona.

Um por um eles foram indo, Antonio estava me ajudando. No meio da multidão de mortos um se destacava, uma mulher alta, longos cabelos ruivos, estava toda arrumada com um longo preto, colares e jóias, talvez foi atacada em alguma festa, não sei, em vida ela foi muito linda, mas agora é apenas mais um deles com seu olhar nublado. Me distraí olhando pra ela e um dos mortos me agarrou pelo braço e me puxou para a grade e sua cabeça já se aproximava para me morder.

Adam: AhhH!
Antonio: ADAM!

Antonio veio correndo e acertou a cabeça do zumbi com a lança. Quando me soltei dos braços dele caí no chão.

Antonio: Você está bem?
Adam: Obrigado cara, foi por pouco.
Antonio: Tome mais cuidado.

Levantei e continuei com o serviço. Horas depois nós conseguimos matar todos os zumbis. A calçada se transformou em um rio de corpos, muito sangue e um cheiro muito forte. Antonio falou que deixar os corpos atirados pela rua só vai fazer mais fedor além de chamar muita atenção, então vamos jogar os corpos por cima do muro do estadio de futebol que tem aqui na frente. Daniel veio nos ajudar a jogar. Algum tempo depois nós ja tinhamos jogado todos os mortos para o outro lado do muro, ao todo foram 67 zumbis.

Estou muito cansado, Antonio também por isso já foi para seu apartamento dormir, vou tomar um banho agora pois sinto o cheiro dos zumbis em mim além de ter sangue na minha roupa e nos meus braços, depois vou dormir. Pelo menos estou tranquilo agora que a rua está vazia novamente e não temos que escutar mais os desgraçados gemendo.

Nov 07, '04 - Tranquilidade
Como é bom conseguir dormir sem aquele maldito barulho que os mortos faziam. Quando não se tem silêncio e depois ele retorna nós lhe damos muito mais valor.

Cintia fez um grande café da manhã para todos, tomar café e comer enlatados pode não ser bem um café da manhã, mas como não tem mais padarias isso está mais do que bom. Falando em alimentos daqui a alguns dias vou ter que procurar mais. Quando eu fiz as compras para ficar trancado dentro de casa eu nunca imaginei que ia ter que dividir com mais pessoas.

Nov 08, '04 - Más Notícias
A SBT continua no ar, dizem que estão abrigando sobreviventes de São Paulo e que tem recursos para suportar bastante gente, dizem também terem seguranças bem armados para proteger o local e por isso que continuam vivos e transmitindo informações.

Mas hoje as notícias não foram boas, foram péssimas. Isso não está acontecendo só no Brasil. A América do Sul está tomada. A gripe se espalhou rápido por todo o continente logo depois que surgiu no Brasil. Quando o país descobriu seus efeitos já era tarde para o resto, já estavam contaminados. Os EUA com o seu poderio militar fecharam o canal do Panamá para que pessoas infectadas não passem e também para impedir zumbis de chegarem perto.

Eu já me sentia mal em pensar que sou um sobrevivente em um país que é enorme, agora sou em um amplo continente, que droga.

Nov 09, '04 - Outro sobrevivente
Demorei para aceitar que a América do Sul está na mesma situação. Uma nova notícia saiu dizendo que os EUA estão construindo um muro de concreto no canal do Panamá que vai bloquear o acesso para a América do Norte. O mundo todo está discutindo sobre o que vem acontecendo aqui, estão chamando esse novo continente de Zona Morta.

Desliguei a TV e fui até o apartamento de Antonio, ele havia me chamado. Ele conseguiu contato por rádio com outro sobrevivente, seu nome era CJ, disse ter 23 anos e que mora em Santa Cruz do Sul. Diz também que está com outras 9 pessoas em um apartamento seguro. Conversamos durante um tempo e ele contou que tem uma pessoa mordida trancada em um dos quartos. Pedi para ele tomar cuidado mas me falou que estava ciente do que ocorre por isso trancaram ela. Nos despedimos e prometi entrar em contato com ele outra vez para conversar e passar o tempo.

Estou me preparando pois amanhã bem cedo vou sair para buscar mais alimentos, não sei se vou sozinho ou se peço ajuda para Antonio, tenho medo de arriscar a vida de outra pessoa além de arriscar a minha própria.

Nov 10, '04 - Em busca de alimentos
Estou pronto para a busca de alimentos, estou com meu uniforme da SWAT, minha Glock como arma secundária presa do lado de minha perna e a metralhadora M4A1 como primária. Parei no espelho e tentei relaxar, mas não dá, ter que sair da segurança deste prédio e correr riscos lá fora só me deixa tenso. Más é preciso, a comida está quase acabando.

Fui até a garagem pegar a Ford Ranger, quando cheguei todos estavam lá. Cintia com Iago no colo, Antonio, Sara e Daniel.

Cintia: Boa Sorte.
Daniel: Se cuida cara.
Sara: Por favor, tome muito cuidado.
Antonio: Tem certeza que não quer que eu vá junto?
Adam: Obrigado pessoal, podem ficar calmos. Não Antonio, você precisa ficar aqui com os outros, você sabe que o prédio fica em suas mãos quando eu preciso sair.
Antonio: Okey
Adam: Até logo pessoal.

Entrei na Ranger, acenei para todos e saí pelo corredor, abri o portão do prédio com o controle remoto e fui embora pela rua, estava bem tranquila sem sinal de mortos. Dobrei a esquina e segui até a avenida. O supermercado que tem aqui na rua não deve ter nada, me lembro quando vim aqui comprar os mantimentos bem no início de tudo, o supermercado deve estar todo vazio. O plano então era procurar algo pela avenida.

Dirigindo pela avenida se via alguns mortos vagando sem direção, na maioria sozinhos, as vezes um grupo de 2 ou 3. O abrigo do colégio Gonzaga fica aqui perto. Acho que boa parte deve estar lá como Ramirez tinha me falado. Continuei dirigindo até encontrar um posto de gasolina, nele tem uma loja de conveniências. Estava sem mortos pela volta então resolvi parar em frente da loja. A entrada da loja é toda de vidro, dá pra ver o interior, está tudo vazio, parece ótima para procurar alimentos.

A porta de vidro da loja está fechada, se eu quebrar vou atrair alguns mortos para o local mas acho que dá tempo. Dei 2 tiros com a metralhadora no vidro que o quebrou. O barulho não foi tão grande mas os mortos parecem ter boa audição. Entrei dentro da loja e tudo estava vazio, as estantes não tinham muita coisa. Fui atrás do balcão e também não tinha nada. Olhei melhor para os lados e encontrei uma porta dentro da loja, fui até ela e abri. Beleza, é um depósito e está cheio de caixas.

Abri uma das caixas e vi que estavam cheias de enlatados, alimentos não-perecíveis e também desidratados. Deve haver mais de 40 caixas. Vou colocar o máximo que eu conseguir dentro da Ranger. Peguei uma caixa na mão e saí pela porta do depósito e vi que pela porta da frente da loja estava entrando um morto. Ele estava com camisa de um time de futebol, uma calça jeans e estava sem um dos braços, ele me viu e levantou seu unico braço para mim e começou a caminhar em minha direção. Larguei a caixa deixando ela cair no chão, tirei a metralhadora das costas, mirei na cabeça do zumbi e atirei, o tiro perfurou sua testa o fazendo cair no chão, menos um deles no mundo.

Vi que tinham mais zumbis atravessando a rua em direção ao posto, estavam meio longe mas em pouco tempo me alcançariam. Peguei 2 caixas e coloquei na caçamba da pickup, falta muito espaço ainda. Consegui colocar 8 caixas e ainda posso colocar mais em cima dessas. Agora os mortos que vinham já estavam em uma distância perigosa. M4 em mãos acabei com os 3 usando apenas 1 tiro em cada um. A barra está limpa pela volta. Pronto, 16 caixas na caçamba, amarrei com uma corda para garantir que não caia pelo caminho. Tinha mais espaço dentro da Ranger e lá coloquei mais 6 caixas. Acho que vai durar mais alguns meses toda essa comida. Tranquei a porta do depósito e empurrei uma das estantes da loja para a frente dessa porta, assim fica escondida e eu posso vir buscar as caixas que faltam quando eu precisar.

Voltei para a Ranger e vi que minha pequena diversão com os mortos atraiu mais amigos afim de brincar, mais de 15 zumbis mas bem espalhados pela rua vindo em minha direção, estão longe não vou perder meu tempo. Entrei na ford, liguei e fui embora, ainda passei bem perto de um deles e vi pelo retrovisor ele virando e com os braços tentando tocar o carro.

O resto do caminho até o prédio foi tranquilo, apenas os mortos pela avenida, os carros abandonados, sujeira e o silêncio da morte, um visual digno de um filme de terror. Já dentro do prédio Antonio me ajudou a descarregar as caixas e as colocar dentro de seu apartamento. Sara quando me viu chegar veio correndo e me deu um grande abraço, estava feliz por eu ter voltado. Hoje não teve complicações, acho que eu estou mais atento, é, talvez seja isso mesmo, ou sorte. Tudo que desejo agora é um bom banho e um pouco de descanso.

Nov 11, '04 - Casal
Sair do prédio ontem me tirou do tédio de ficar trancado aqui dentro. Sei que é perigoso mas a adrenalina sobe quando sabemos que podemos ser mortos a qualquer momento por algum erro que possa acontecer. Mas agora é mais um tempo aqui trancado, já temos comida suficiente e ainda temos água nos canos.

Hoje peguei Sara e Daniel se beijando no sofá da sala, eles me viram e ficaram com vergonha. Daniel veio se explicar mas eu disse que estava tudo bem e que era para ele relaxar. Saí da sala e fui até a cobertura pegar um ar e também para deixar os dois sozinhos. Tudo bem que estou protegendo Sara e admito que estou com um ciúmes de pai surgindo dentro de mim, mas é bom para os dois se conhecerem melhor e esquecer um pouco de onde estamos.

Nov 12, '04 - Intervenção Internacional
Hoje a SBT passou algumas notícias importantes. A muralha do canal do Panamá já começou a ser feita. Os EUA estão com muito medo que os mortos possam atingir a América Central e logo depois a do Norte. Uma reunião do G7 (grupo dos sete países mais ricos) aconteceu ontem em Paris, e o presidente Lula teve permissão de participar.

Bush, o presidente dos EUA, conseguiu formar uma coligação com a Inglaterra e a França. Essa coligação irá mandar vários porta-aviões com militares e médicos para a costa atlântica da América do Sul. Eles irão formar bases de operações pelo litoral para resgatar sobreviventes.

Não estamos conseguindo contato por rádio com o abrigo do Colégio Gonzaga. Antonio já está preocupado que possa ter acontecido algo. Estou pensando em uma maneira de ir conferir isso, esse colégio não fica longe daqui, dá para ir a pé com bastante cuidado. Acho que amanhã vou ir lá.

Nov 13, '04 - O Abrigo
Ramirez continua não respondendo por rádio. É isso, vou ter que ir lá. Antonio pediu para eu não ir que talvez eles estejam ocupados por isso não respondem, mas já faz 2 dias e nada. Vou ir para ver com meus olhos se está tudo bem. Fui no meu apartamento, me vesti com o uniforme, peguei meu rifle M4, 3 pentes e minha Glock com 2 pentes reservas. Quando eu ia saindo pela porta Sara veio e me segurou.

Sara: Não vá Adam, você já se arriscou por nós quando foi pegar comida.
Adam: Calma Sara, eu tenho que ir, aquilo é um abrigo, tem pessoas lá dentro, quero ver o que aconteceu. E Ramirez é nosso amigo.

Abracei Sara e disse que vou voltar logo. Saí pelo portão do prédio e em direção à praça, vou descer a rua por ali que depois da avenida já é o colégio Gonzaga onde fica o abrigo. Vou a pé pois assim posso me esconder fácil e ainda não fazer barulho. Passei pela avenida meio agachado sem nenhum problema, os mortos estavam separados, caminhando, outros parados, tinha um deitado no chão olhando o céu, será que eles se lembram de algo?

Depois da avenida, continuei descendo essa rua com cuidado, muitos carros abandonados por todo lado, outros destruídos porque bateram. Cheguei perto da esquina onde está o abrigo, me escondi atrás de um carro parado e o que eu vi me chocou. A rua do abrigo estava cheia de mortos, o que aconteceu era o que Ramirez disse ter medo, a barreira de carros que os militares colocaram na rua estava obstruída. Um dos 4 carros que formam a barreira foi empurrado pela multidão de mortos e eles conseguiram entrar na rua, e o pior, o portão de entrada do colégio Gonzaga está aberto e os mortos estão entrando e saindo, como se estivessem procurando algo.

Olhei melhor e vi sangue pela calçada em frente do portão. Oh Droga, os corpos de 2 militares estão no chão, e estão mutilados. Eu preciso entrar, para ver se há sobreviventes ou se todos foram mortos. Tenho que pensar em como vou tirar esses zumbis da rua, não consegui contar mas é uma multidão, mais de 200, e eu não tenho balas para acabar com todos.

Tive uma grande idéia. Saí de trás do carro e comecei a gritar feito louco, e a disparar meu rifle contra os mortos, acertei alguns e errei outros, mas consegui o que eu queria: a atenção deles. Todos aos poucos se viraram para minha direção e começaram a fazer seus gemidos e a caminhar. Continuei a fazer barulho e fui recuando para a avenida, e eles me perseguindo. Eu não parava de atirar, já tinha derrubado uns 15 deles. Quando cheguei na avenida dobrei e esperei eles me alcançarem. Eles chegaram e continuei atirando e gritando. Estavam me seguindo, estou levando eles comigo para algumas quadras de distância. Consegui trazer eles sem problemas por 4 quadras da avenida, agora sim, vou descer outra rua e correr até o colégio que agora deve estar com poucos mortos.

Correndo eu consegui deixar a multidão de mortos sem saber para onde eu fui na avenida, eles podem ser numerosos mas ainda temos uma vantagem sobre eles, a inteligência. Cheguei até a esquina do abrigo por uma outra rua e agora só vejo mais ou menos 20 mortos bem afastados um dos outros. Corri pelo meio deles e fui até o portão do colégio, entrei e rapidamente fechei o portão.

Quando virei meu corpo para o pátio do colégio eu vi uma grande carnificina. Corpos de pessoas mutilados por todos os lados, sangue no chão e nas paredes, pedaços dos corpos pelo chão, zumbis comendo entranhas, braços e pernas, um banquete dos mortos. O cheiro estava horrível e com o barulho dos mortos comendo se misturava o das moscas. Caminhei pelo pátio até a escada que leva para o andar superior onde fica as aulas, sem nenhum problema, os mortos estavam distraídos com sua refeição.

Já no segundo andar dobrei para continuar procurando quando dou de cara com um zumbi que levantou os braços na hora para me pegar mas eu me abaixei bem rápido e ele só pegou o ar, dei uma rasteira nele e com a coronha do rifle arrebentei sua cabeça. Continuei procurando por todos as salas de aula, só via colchões espalhados pelo chão, restos de comida e roupas, as aulas estavam sendo usadas para as pessoas se abrigarem. Esse colégio é enorme, tem muitas salas, mas todas vazias, o sangue está por toda parte, as vezes pedaços de carne, uma cena de embrulhar o estômago.

Quando subi as escadas para o 3º e último andar de salas escutei uma porta se fechando. Olhei para os lados e não vi nada. Procurei sala por sala neste andar e não tinha nada, achei a sala com o rádio pelo qual Ramirez se comunicava, mas ele não estava aqui. Comecei a pensar que todos já foram mortos, mas não é possível, ele me falou que tinha mais de 100 sobreviventes, mais da metade está espalhado pelo colégio, mortos, mas todos é demais. Sobrou uma sala que fica no canto do corredor, fui até lá e tentei abrir. A porta está trancada, quando tentei arrombar ouvi um barulho, parece um choro, um choro bem fraco.

Arrombei a porta com o pé, a porta bateu forte na parede, TAK TAK TAK, me atirei no chão, os tiros passaram bem perto. Foram tiros de metralhadora, foi por pouco, quando me levantei e olhei o que era vi um mulitar, olhando melhor a sala vi muitas pessoas abraçadas e sentadas pelo chão, crianças choravam, os adultos as consolavam, estavam todos com medo.

Militar: Merda, me desculpe, pensei que eram eles.

O militar me ajudou a levantar, ele era de estatura mediana, com pele meio morena, e com um sotaque espanhol que não me é desconhecido.

Adam: Ramirez?
Ramirez: Da onde você me conhece?
Adam: Você não respondeu mais no rádio para o Antonio então vim ver o que aconteceu.
Ramirez: Adam!!!

Ramirez fechou a porta, e colocou uma mesa para ajudar a trancar. Contei para ele como tirei a multidão de mortos da rua e ele falou que eu fui muito corajoso. Perguntei como essa tragédia tinha acontecido e ele respondeu o que eu já suspeitava, o número de mortos na barreira cresceu tanto que eles começaram a empurrar os carros até que um saiu do lugar e eles conseguiram entrar, depois foi um massacre. Só as pessoas que estavam aqui na sala sobreviveram, 27 civís e 9 militares incluindo Ramirez.

Tem espaço de sobra no prédio para todos, só preciso é pensar em algo para tirar eles daqui sem problemas. Vou passar a noite aqui pensando junto com os militares em uma maneira segura.

Nov 14, '04 - O Abrigo / Parte 2
Os militares passaram a noite acordados para vigiar a porta. Os malditos zumbis que estavam dentro do colégio escutaram o barulho dos tiros ontem e subiram até aqui, estão batendo na porta feito loucos, as pessoas estão com muito medo. Ramirez ficou a noite toda pensando em um jeito de nos tirar daqui, e conseguiu, teve uma grande idéia.

Ramirez: Vamos sair usando o ônibus militar que está no pátio.
Adam: Será que tem lugar para todos?
Ramirez: Apertando acho que dá.
Soldado: O problema é ir para o pátio com esses mortos aí na porta.
Adam: Isso é fácil, acabamos com eles.
Ramirez: To começando a achar que você é louco.
Adam: Loucura é esperar aqui até que eles entrem e depois você sabe o que acontece.
Soldado 2: Ele tem razão Ramirez.
Ramirez: Tudo bem, mas como vamos fazer isso?
Adam: Um de vocês vai deixar a porta entreaberta com a mesa atrás, assim eles vão entrar 1 a 1, tiro na cabeça e espera o próximo.
Soldado: Mas e se a força deles empurrar a mesa e a porta se abrir?
Adam: A porta é pequena, no máximo vão entrar de 2 a 3, então você e Ramirez me ajudam a atirar, certo?
Soldado: Tudo bem.
Ramirez: Beleza.

O soldado abriu um pouco a porta e deixou a mesa atrás, o primeiro morto começou a entrar, seu rosto pálido olhava para o soldado que estava na porta, ele entrou e foi até o soldado mas já era tarde, caiu ao chão com um furo na testa, Ramirez que atirou. O próximo entrou e teve o mesmo fim, assim como o seguinte, e os outros também. O plano funcionou, só tinham 14 zumbis na porta, agora estão espalhados pelo chão da sala de aula. Os militares ajudaram as pessoas a levantar e a se preparar para correr até o pátio.

Saí pela porta e olhei pela sacada do 3º andar para o pátio, lá estava um micro ônibus de cor verde. Em volta vários zumbis comendo restos das pessoas mortas. Mas uma cena chamou a atenção, alguns dos corpos das vítimas estavam se levantando, se transformaram. Temos que sair rápido antes que um exército de zumbis se crie.

Ramirez e eu fomos na frente, logo atrás as pessoas e os militares, fomos em fila descendo as escadas para o segundo andar e depois para o pátio. No pátio Ramirez abriu fogo contra os mortos que estavam espalhados se alimentando, eu e mais outro soldado ajudamos na tarefa. A barra estava limpa, corremos até o micro ônibus e as pessoas começaram a entrar, ficou meio apertado mas conseguimos. Entrei e logo depois Ramirez sentou ao volante e ligou o ônibus. Os militares que estavam dando cobertura começaram a entrar também.

Quando o último soldado estava entrando um zumbi saiu de trás de um dos pilares de concreto e o agarrou pelas costas e mordeu seu pescoço arrancando uma boa parte de carne. O soldado caiu no chão segurando o pescoço mas o sangue jorrava muito, e o zumbi foi pra cima dele para morder novamente. Um dos soldados saiu do ônibus e atirou no zumbi, logo depois atirou na cabeça do militar caído, fez o sinal da cruz e voltou para dentro.

Ônibus ligado, todos a bordo, mas o portão estava fechado. Desci e fui abrir o portão. Ao abrir, vários zumbis entraram pelo portão, eram muitos, quando me viram caminharam com os braços abertos pra cima de mim. Comecei a recuar e a atirar em alguns. Ramirez buzinou e eu corri para dentro do ônibus, ele fechou as portas bem na hora que os mortos chegaram, eles começaram a bater nas janelas do ônibus com muita força. Ramirez acelerou com tudo e saímos rapidamente pelo portão, atropelamos alguns zumbis e isso deixou o vidro todo sujo de sangue.

Na esquina esquecemos a barreira de carros, mas Ramirez acelerou e pediu para todos se protegerem, então passou pela barreira, bateu em 2 carros, o ônibus tremeu mas conseguimos passar. Continuamos subindo a rua em direção a avenida. Na avenida tudo tranquilo, eu olhei pela janela para ver onde estava a multidão de mortos que guiei ontem, eles estavam bem longe e já meio dispersados um dos outros, a avenida já não está mais segura agora.

Minutos depois chegamos no meu prédio. Antonio nos viu e desceu para abrir o portão. Colocamos o ônibus na garagem do Bloco B. Os militares ajudaram as pessoas a descer. São 27 pessoas de crianças a idosos, o prédio agora é um novo abrigo. Eu ajudei a colocar as pessoas pelos apartamentos do Bloco B. Espaço não é problema, tem de sobra, só estou preocupado com a comida que agora tem que ser maior. Vou me reunir com os militares depois para pensarmos em como conseguir mais mantimentos para todas essas pessoas.

Nov 15, '04 - Segunda-Feira
Todas as novas pessoas que estão no prédio passaram bem esta noite. A 2ª entrada do Bloco B teve apartamentos suficientes para todos, o espaço foi bem dividido. Das 27 pessoas: 4 são idosos, 14 adultos, 5 adolescentes e 4 crianças. Sem contar com os 8 militares, eles fizeram dos apartamentos da 1ª entrada do Bloco B seu novo QG.

Desde ontem quando cheguei, que Sara não sai da minha volta. Ela disse que ficou muito preocupada por eu ter sumido 1 dia. Eu me sinto mais útil por saber que ela tem essa preocupação comigo. Cintia e Daniel estão ajudando a fazer comida para os novos moradores. Antonio veio falar comigo no apartamento, queria saber como foi minha aventura lá fora. Tudo está tranquilo.

Ramirez apareceu mais tarde em meu apartamento para agradecer o que eu fiz por eles. Ele foi um grande amigo nos dando informações sobre a situação do Brasil, entre outras coisas. Antonio e eu fizemos uma amizade com ele, eu simplesmente não poderia ficar aqui parado sem saber ao menos o que tinha acontecido, por isso fui até lá. Ele marcou uma reunião com os militares hoje à noite, para decidirmos algumas coisas.

Nov 17, '04 - Reunião com os militares
Ontem à noite teve a reunião com os militares. Ramirez me apresentou aos outros soldados. José, Carlos, Roger, Mathias, Tomas, Alberto e Samuel, esses eram os nomes, todos muito jovens. Todos eram novos recrutas, alistados no ano passado, por isso escolheram Ramirez como seu novo líder, porque ele tem mais tempo dentro do exército.

Na reunião decidimos que vamos voltar ao Colégio Gonzaga. Eles precisam ir até lá para buscar mais armas, eles só vieram com fuzis FAL. Também vamos para buscar mais roupas para as pessoas, e para pegar um pouco do estoque de comida enorme que eles disseram estar lá. A equipe que vai ir já foi decidida: Eu, Ramirez, Roger, que é bem forte para ajudar a carregar tudo, e Mathias que vai ser nosso motorista.

Hoje pela manhã passei nos apartamentos das pessoas perguntando se estava tudo bem, elas não paravam de me agradecer e falar que o prédio é muito bom, e mais confortável que as salas de aula onde estavam lá no abrigo. Fico feliz de saber que eles estão gostando. Amanhã vamos voltar no abrigo para buscar as coisas, espero que tudo ocorra bem.

Nov 18, '04 - Assalto ao Abrigo
Estamos prontos, nos despedimos de todos e entramos no micro ônibus. Vamos voltar para o colégio e resgatar algumas coisas importantes para transformar meu prédio em um novo abrigo. Mathias está dirigindo e vai ficar dentro do ônibus o tempo inteiro. Ramirez, Roger e eu vamos procurar tudo.

Tudo tranquilo pela avenida, continuamos até a entrada do colégio Gonzaga. Passamos na barreira pelo rombo que nossa fuga anterior fez nos carros. O portão do colégio está aberto, tem poucos mortos na rua, acho que eles devem estar lá dentro.

Mathias entrou com o ônibus pelo portão do colégio, Ramirez e eu descemos rapidamente para fechar o portão. Roger desceu também e começou a atirar em alguns mortos que estavam pelo pátio. Comecei a ajudar atirarando com meu rifle M4, eram bastante mortos, devem ser as vítimas que tinham se transformado. Todos caíram com tiros certeiros em suas cabeças, enquanto umas só perfuravam, outras explodiam. Mathias fechou a porta do ônibus e buzinou, este era o sinal, vamos buscar os objetos.

Nós 3 subimos para o 2º andar onde Ramirez disse estarem as armas. Nenhum sinal de mortos aqui, corremos até a sala das armas e entramos. Essa sala está parecendo uma loja de armas, tem arma pra todo lado. Resolvemos pegar uma caixa com fuzis Parafal e uma caixa com pistolas Imbel M973, que são 9mm. Levamos tudo para o ônibus e voltamos para pegar caixas com munição 7,62 para os fuzis e de 9mm para as pistolas.

Agora é a vez da comida que está no 3º andar. A comida estava na sala onde ficamos trancados aquela vez, onde os militares e as pessoas ficaram escondidas. Entrando lá o cheiro estava horrível. As moscas eram tantas que as vezes atrapalhavam a vista. Tudo isso é por causa dos cadáveres no chão, são os zumbis que matamos da outra vez.

Quando comecei a ir até as caixas algo me pegou pelo pé, era um dos zumbis, não estava morto. Abriu a boca e mordeu com força a parte de cima do meu pé. Ramirez viu aquilo e rapidamente deu com a coronha de seu fuzil na cabeça do maldito, que parou de se mecher.

Ramirez: Você... foi mordido?
Adam: Não, ainda bem. As botas me salvaram.

Os dentes fortes do zumbi não foram páreos para minha bota, ainda bem. Mas mesmo assim tomei um grande susto, isso vai me ensinar a ficar mais atento. Achamos as caixas de mantimentos e começamos a levar para o ônibus. Tem muita comida mesmo, também, era comida para alimentar mais de 100 sobreviventes, agora é para menos, vai durar bastante. Conseguimos colocar boa parte dos alimentos dentro do onibus, faltou bem pouco, mas o que estamos levando vai durar meses.

Ramirez ainda quer pegar o radio que está em uma das salas. É um radio militar que deve ser mais avançado que o nosso. Resolvi ir ajudar. Subimos até a sala, pegamos o rádio e voltamos. Na volta tinha 2 zumbis saindo da sala ao lado, quando nos viram começaram a vir até nós. Deixei Ramirez segurando o rádio e atirei em um deles, acertei bem em cima de seu olho esquerdo e ele caiu duro no chão. Atirei no outro e acertei também, ele se desequilibrou e caiu pela sacada do 3º andar fazendo um barulho quando alcançou o chão. Fui até a beirada olhar para o pátio e lá estava o corpo do zumbi, todo quebrado e com uma poça de sangue se formando em sua volta.

Voltamos para o ônibus com o rádio. Está tudo cheio de caixas de armas, de alimentos, e sacolas com roupas para as pessoas. Tudo pronto. Mathias ligou o ônibus e saímos pela rua em direção à avenida. Chegamos sem problemas no prédio. Deixamos o ônibus na garagem e algumas das pessoas nos ajudaram a descarregar as caixas. Me despedi de Ramirez e dos outros soldados então voltei para meu apartamento.

Sara me recebeu com um abraço. Me disse que tinha preparado algo para eu comer e que estava na cozinha, agradeci e fui comer. Agora vou tomar um banho e descansar. Tentar esfriar a cabeça pelo susto que tomei do zumbi. Por pouco eu não fui mordido, melhor esquecer.

Nov 19, '04 - Sexta-Feira
Tudo tranquilo aqui no prédio. As pessoas agora tem suas roupas e muita comida por um bom tempo. Os militares já distribuiram as armas e até me ofereceram também, mas disse que não precisava e mostrei para eles meu pequeno arsenal. Ficamos conversando sobre armas por um bom tempo, são todos bem amigáveis.

O rádio militar já esta funcionando, mais tarde eles vão tentar contato com os abrigos de uma lista que Ramirez tem. Roger deu a idéia de bloquear a rua com carros igual no abrigo. Não concordei por ter medo de que o mesmo que ocorreu lá possa vir a acontecer aqui. Mas ele me convenceu com um bom argumento: esse prédio fica bem no meio da quadra, e as pessoas já ficam dentro de apartamentos, o barulho é mínimo, então não tem como se escutar algo nas esquinas. Talvez isso possa ser verdade.

Voltei para o apartamento e convidei Antonio, Daniel, Cintia e Iago para jantar, como nos tempos em que eram apenas nós no prédio. Conversamos e rimos muito. Daniel e Sara realmente estão se dando bem, pude perceber isso. Fico feliz pelos dois. Foi um ótimo jantar, bem divertido, bom para escapar da realidade.

Nov 20, '04 - Bloqueando a rua
Roger conseguiu me convencer, vamos bloquear a minha rua. Não posso pensar só em mim, temos pessoas para cuidar e acho que elas vão se sentir mais seguras com o bloqueio. Roger e Tomas foram até a rua para medir ela, voltaram sem problemas e falaram que vão ser 4 carros para cada esquina, vamos ter que achar 8 carros. Montamos 2 grupos que vão buscar os carros: Roger e Tomas, Ramirez e Eu.

Eu vou com Ramirez dobrar a esquina onde tem o Posto de gasolina, lá deve ter alguns carros estacionados. Enquanto isso, Roger e Tomas vão para a rua da praça. Desejamos sorte uns aos outros e partimos. Ramirez foi rapidamente comigo até a esquina, olhamos para um dos lados e não vimos movimento de mortos por perto, tinham 2 mas a quase 4 quadras de distância, e pelo outro lado é 1 quadra enorme até a avenida, sem problemas. O posto está bem na nossa frente, fomos correndo até lá.

Para nossa sorte tinham muitos carros parados pelo posto, tanto nas bombas como no estacionamento do lava-rápido. Vamos pegar 4 carros e empurrar eles até a esquina para não fazer barulho com motor. Fomos até o estacionamento e procuramos carros com as portas abertas. Para nossa sorte quase todos estavam, conseguimos 5 carros. Entrei no primeiro e tirei o freio de mão, saí e Ramirez me ajudou a empurrar até a esquina. O segundo carro também foi fácil, agora faltam apenas dois. Voltamos para o posto quando, BLAMMM, um zumbi com roupa de frentista está batendo com as mãos no vidro da loja que tem no posto. Ele está trancado lá dentro e deve ter nos visto, agora está louco pra sair e nos pegar. Esse barulho que ele está fazendo pode atrair outros zumbis.

Falei para Ramirez abrir a porta da loja, vou entrar e resolver tudo isso. O zumbi ficou mais agitado quando viu nós andarmos para perto da loja. Ramirez colocou a sua mão na porta.

Ramirez: Pronto?
Adam: Sim.

Ramirez abriu a porta e eu entrei rapidamente, olhei para o lado e lá estava ele na sala onde ficam as estantes com produtos. Ele me viu e veio até mim. Quando levantei o rifle para atirar lembrei que estava sem silenciador, o tiro ia fazer barulho, o tempo que perdi pensando em atirar ou não foi o suficiente para ele chegar até mim, pronto para me agarrar. Ele me pegou pelo braço, seu rosto pálido e meio apodrecido veio morder meu pulso com seus dentes amarelados. Com muita força puxei meu braço e consegui me soltar dele, no reflexo dei com a coronha do rifle na testa do zumbi, ele caiu no chão e tentava se levantar novamente. Coloquei meu pé no rosto dele e chutei, quebrando seu pescoço.

Saí da loja e continuei a levar os carros. Pronto, 4 carros em fila horizontal na esquina da minha rua. Assim ninguem consegue entrar nela, só pulando, acho que os mortos não são capazes disso. O barulho do zumbi não atraiu mais nenhum, tivemos muita sorte. Voltamos até o prédio e vimos que na outra esquina o trabalho de Roger e Tomas também já estava terminado, e eles estavam voltando.

Ramirez: Eae, como foi? Sem problemas?
Tomas: Tudo tranquilo, a rua aqui de trás tinha bastante carros abandonados, foi barbada.
Adam: No posto também tinha.
Ramirez: E também havia algo mais.
Roger: Como assim?
Adam: Um deles estava dentro da loja e começou a fazer barulho quando nos viu.
Tomas: Eles estão em todo lugar, malditos.
Adam: Vamos voltar, se um deles passar vão nos ver no meio da rua.
Ramirez: É mesmo.

Dentro do prédio me despedi dos soldados e voltei para o apartamento. Falei para Antonio que agora está tudo mais seguro, as esquinas da quadra estão bloqueadas com a fila de carros, assim os mortos não vão vagar pela rua. Voltei para o ap. e peguei um papel, escrevi uma frase nele e colei na porta do meu quarto: "Não esqueça do silenciador".



Nov 21, '04 - Blindados
A barreira de carros veio em uma boa hora. Como é bom poder caminhar pelo corredor do edifício e pegar um ar. Nanuke está adorando, ele corre e brinca com Iago. Vi que 4 soldados saíram para a rua, todos armados. Fui até lá conferir mas era tarde, eles já estavam dobrando a esquina da praça. Logo depois Ramirez apareceu na sacada do 2º andar, onde fica o apartamento dos militares.

Ramirez: Ei Adam, aonde esses doidos foram?
Adam: Não tenho a mínima idéia. Eu ia perguntar pra você.

Fui até o ap. de Ramirez para saber o que estava acontecendo. Ele me contou que viu José, Carlos, Alberto e Samuel conversando em um canto da sala, depois eles tinham ido embora. O tempo passou até que começamos a escutar um barulho vindo pela rua, meio fraco mas está aumentando, o que significa que está chegando perto. Saímos correndo pelas escadas e chegamos no corredor, fomos até o portão e quando olhamos para a esquina da praça vimos Carlos tirando um dos carros da barreira, e depois mais outro.

O que estava fazendo barulho dobrou a esquina e entrou pelo espaço que Carlos fez entre os carros, eram 2 tanques. Os soldados tinham ido buscar os tanques que estavam no abrigo. Eles desceram e vieram falar com Ramirez.

José: Agora sim Ramirez, estamos mais seguros com os tanques.
Ramirez: Você é maluco??? Se arriscou por 2 tanques!
José: Mas eles são blindados, podemos fugir neles algum dia.
Adam: Você não pensou em uma coisa, eles fizeram muito barulho. Vai trazer os mortos direto pra cá.
Ramirez: É mesmo, e ainda por cima vocês nem pediram autorização. Afinal quem está no comando? Eu ou você José?
José: Você senhor!
Ramirez: Bom, vocês quatro vão prestar serviços para as pessoas por toda essa semana. Agora coloquem os carros de volta na barreira e depois comecem os serviços.
José: Sim senhor!

Eles colocaram os carros na barreira e voltaram para o prédio para começar a tarefa deles. Ramirez e eu voltamos também. Ele me falou que está com medo que os mortos fiquem na barreira e consigam invadir, igual ao que aconteceu no abrigo. Falei para ele não esquentar a cabeça com isso. Talvez nem apareçam, mas se aparecerem nós vamos ter que fazer algo.



Nov 29, '04 - Segunda-Feira
Felizmente o que esperavamos não aconteceu, os mortos não seguiram o barulho, a barreira de carros nas 2 esquinas está perfeita. Os soldados que trouxeram os tanques estão prestando serviços para as pessoas do prédio, uma tarefa por causa da bestera que fizeram. Eles ajudam com comida, distribuição das roupas e limpeza dos apartamentos. Não posso negar que é até engraçado ver eles limpando tudo.

Ter os corredores do prédio livres para andar e conversar é uma maravilha. Sara brinca com Iago de pega-pega e Nanuke fica pulando na volta deles. Antonio parece bem contente com a presença de mais pessoas, já fez amizade com quase todos. Eu não conheço eles ainda, sou meio fechado, mas todos me comprimentam quando me vêem, acho que me consideram seu salvador. Não acho que mereço todo esse reconhecimento, apenas fiz o que todo mundo que tem bom caráter faria quando pessoas desaparecem por muito tempo e não dão resposta.

Passei a tarde escutando música no apartamento do Antonio. De tudo um pouco, nossos gostos não são os mesmos, ele gosta de uma boa música clássica enquanto eu sou mais alternativo. Mas foi bom para conversar e fazer o tempo correr. O que eu não daria por uma cervejinha. Esse é o mal de estar no meio de uma catástrofe de grandes proporções, as coisas comuns da vida ficam de lado, algumas somem. Na próxima vez que eu sair para a rua e buscar mantimentos não vou me esquecer disso.

"Acho que amanhã vai chover", foi o que disse Cintia sobre o calor que está fazendo, uma chuva seria bem refrescante. Agora a pouco jurei ter escutado tiros vindos de alguns quarteirões atrás da minha rua, não sei dizer se foi coisa da minha cabeça ou se foi real, se acontecer denovo vou me arriscar para ir ver.

Nov 30, '04 - Terça-Feira
Cintia acertou, está chovendo muito. Estou na janela vendo os pingos caindo nas folhas das árvores. Sempre me dá uma tranquilidade olhar para o pátio do vizinho, e com chuva é melhor ainda. Vi Daniel, Sara e Iago saindo para o corredor, todos estão se divertindo tomando banho de chuva. Isso me lembra de quando eu fiz o mesmo com Laura, a alegria dela me faz falta, talvez eu esteja um pouco morto por dentro, ela me completava. Não me culpo mais pelo que fiz, o tempo convivendo nessa nova realidade me mostrou que eu fiz o que era certo.

Mais tarde Ramirez veio me falar que o rádio deles está funcionando. Eles entraram em contato com uma base de operações que o exército brasileiro montou em Fernando de Noronha. Lá eles estão cuidando de sobreviventes e reabastecendo navios e aviões militares. Mais informações dizem que o Presidente Lula e muitos outros políticos fugiram para os EUA. Os militares estão sendo comandados pelo Ministro da Defesa que ficou no Brasil. Ele diz que vai organizar os militares que ainda não tiveram baixa pelas mãos dos zumbis para retomarem controle de algumas cidades. Bom saber que o Brasil não se entregou ainda, espero que o Ministro tenha sorte com suas ações.

Quando estava terminando de falar com Ramirez eu escutei os tiros novamente, dessa vez foram 6 tiros seguidos, vieram de quadras aqui de trás.

Ramirez: Você escutou?
Adam: Sim.
Ramirez: O que vamos fazer?
Adam: Eu vou ir até lá ver o que é.
Ramirez: Vou junto.
Adam: Não. Em dupla vamos chamar muita atenção.
Ramirez: E se for alguém hostil?
Adam: Vou só observar, pode ser alguém precisando de ajuda.
Ramirez: Okay.

Tomei coragem, vou ir até lá, a chuva vai ajudar a abafar o som dos meus passos pela rua. A curiosidade que está me motivando.




Dez 02, '04 - Vítimas
Uniforme no corpo, máscara de tecido preto no rosto, estou pronto para ir. Já ia sair do quarto quando vi o bilhete que escrevi e deixei na porta: "Não esqueça o silenciador". Foi por pouco, coloquei o silenciador no meu rifle e saí pela porta. Ramirez e Antonio estavam me esperando no corredor e me desejaram sorte. Ainda bem que Sara está no apartamento de Daniel, ela poderia fazer um escândalo ao saber que vou sair denovo.

Saí do prédio e fui até a esquina de cima, onde fica o posto. Passei pela barreira entrando pela porta do carro e saindo pela outra. Olhei para os dois lados e nenhum sinal de zumbis por perto. Os tiros vieram das quadras de trás do prédio, preciso ir por essa rua do posto. Fui andando pela calçada meio agachado, a chuva está bem forte e está me ajudando com o barulho dos pingos para abafar o dos meus passos.

Já passei 1 quadra e ainda não vi sinal de vida, só o mesmo cenário de sempre, carros abandonados pela rua, lixo pelo chão, papéis voando, algumas manchas de sangue já secas em paredes e nas calçadas. E no meio da rua estavam vindo 2 mortos, não me viram ainda pois estou atrás de uma árvore, estão a uns 30 metros e vindo em minha direção. Se eu deixar eles chegarem perto o negócio vai complicar, vou atirar neles. Saí de trás da árvore em direção para a rua quando eles me viram, levantaram os braços e começaram a caminhar para mim, a expressão nos rostos deles é uma mistura de fome com dor. Chega a dar pena mas eu sei o que eles fazem, não posso me enganar. Apertei o gatilho e acertei a testa do primeiro, que caiu direto ao chão. Atirei no segundo e errei por pouco, arrancando a orelha dele, na segunda tentativa acertei bem olho.

Voltei para a calçada e continuei andando. Passei mais 2 quadras e quando ia entrar na esquina da 3ª quadra eu vi de longe mais 4 zumbis, eles estavam dentro dos portões de uma casa, bem no pátio que fica na frente, e a porta da casa estava aberta. Essa casa era de apenas 1 andar e bem larga. Cheguei mais perto e me escondi atrás de um carro parado. Observei mais a casa e vi pela porta aberta que tinha algum movimento lá dentro, devem ser mais mortos. Vou arriscar um palpite de que tem algo lá, tem muitos mortos em uma mesma casa, é estranho. Vou entrar.

Comecei a atirar nos zumbis que estavam no pátio, enquanto isso eu já estava atravessando a rua e sem parar de atirar, consegui abater os 4, mas não tenho certeza quantos estão lá dentro. Entrei pelo portão e prestei atenção em todo o pátio para ver se tinha algum zumbi, não estou afim de tomar sustos hoje. Tudo tranquilo, segui até a porta da casa. Entrei e matei um zumbi que estava na sala, tem uma porta onde é um corredor, fui por esse corredor e cheguei em um quarto. O quarto estava com corpos de 5 zumbis pelo chão, todos com tiros na cabeça. Quando olhei melhor por todo o lugar vi 2 zumbis do outro lado de uma cama de casal, agachados no chão comendo alguma coisa. Atirei nos dois, não tive problemas eles estavam tão concentrados que nem me perceberam no quarto.

O que os 2 zumbis estavam comendo era o cadáver de um homem que devia ter 35 anos ou mais, estava com um tiro na cabeça, e na mão caida ao chão uma pistola. Agora entendi os tiros que escutei, ele estava tentando acabar com os zumbis, algo deve ter acontecido, uma mordida, não sei, e ele acabou se suicidando. Mais uma vítima da nova realidade. Peguei o lençol da cama e cobri o corpo dele. Procurei pela casa algo que pudesse me contar mais sobre ele. Achei uma condecoração da Polícia Militar, seu nome era Roberto. Ele poderia ter sido uma grande ajuda para nós no prédio. Droga, eu poderia ter vindo antes e tido a chance de salvar sua vida, que merda, tudo por que eu queria mais provas.

Fechei a porta da casa, e do portão, assim nenhum zumbi pode entrar e o corpo de Roberto pode ter um descanso. Voltei para o prédio sem problemas, poucos mortos na rua, mas não me viram. Contei tudo para Ramirez e Antonio, eles me pediram para eu não me culpar, que não tem nada haver, mas não consigo, sinto que eu tenho uma dose de culpa no que aconteceu. Só quero subir e dormir, esquecer essa situação, esquecer esses malditos zumbis.

Dez 03, '04 - Sexta-Feira
Droga, aconteceu, os mortos invadiram o prédio, mataram todos, só eu escapei pelo que parece. Estou na janela de meu apartamento no segundo andar, olhando para o corredor lá embaixo. Vejo todos eles transformados em zumbis. Antonio, Ramirez, Cintia, Iago, Daniel e até Sara. Também vejo Roberto, merda, como ele chegou aqui?

Sara está com as roupas ensanguentadas, perdeu um braço, e seu rosto lindo agora é branco, e seu olhar não tem mais vida. Ela me olha, não me reconhece mais como um amigo, como um irmão, ou até como um pai. Ela me olha como um alimento, e ela quer saciar sua fome. Até que ela abriu a boca e falou...

Sara: Adam...
Sara: Acorda Adam.
Adam: Hmmm!! O que?
Sara: Calma você estava tendo um pesadelo.

Nesse momento abracei Sara bem forte, e não soltei por um bom tempo.

Sara: O que foi?
Adam: Nada, só prometo que vou sempre te proteger.
Sara: Tá bom, eu hein.
Adam: Hehehe.
Sara: Vou fazer o café.

Ela se levantou e foi para a cozinha. Foi tudo um terrível pesadelo. Foi muito real, estou até suando. Mas parecia que eu estava vendo o pior acontecer, será que é uma premonição? Não, não acredito nisso, e vou tentar de tudo para que não aconteça.

Dez 05, '04 - Domingo
Aquele pesadelo me deixou meio paranóico, fiquei com medo de que fosse uma premonição ruim. Peguei uma daquelas lanças que criamos aquele dia e fui até lá na rua checar as barreiras de carros. Como eu suspeitava, haviam poucos mortos em cada uma delas. Fui primeiro na da esquina de cima e cravei a lança na cabeça dos mortos, eram apenas 3. Pulei por cima dos carros, olhei para os lados e vi que a rua estava tranquila. Puxei os corpos deles até o posto e deixei lá, para não chamar a atenção na barreira.

Voltei e fui na outra esquina com barreira. Aqui só tinham 2 deles. Fiz tudo bem rápido e puxei os corpos deles para a esquina da praça. Olhando em volta eu vi poucos zumbis, estavam bem longe, uns no fim da rua e outros no meio da praça. Felizmente minha ação não chamou a atenção deles. Voltando para o prédio vi Ramirez no portão.

Ramirez: Cara, o que você estava fazendo?
Adam: Acabando com eles enquanto ainda são poucos.
Ramirez: Você vai chamar mais atenção.
Adam: Melhor lidar com os zumbis agora do que acordar no outro dia e ver uma orda.
Ramirez: Você está precisando de um descanso.
Adam: É?
Ramirez: Vamos, eu assumo o prédio por uns dias e você descansa cara, capaz de você pirar se não descansar.
Adam: ... Tudo bem Ramirez, obrigado.

Bom, um descando acho que vai cair bem. Ramirez está certo, mais um pouco e eu posso pirar, aí seria meu fim, ficar perdido, louco, não quero nem pensar. Foi culpa dos últimos dias, após descobrir sobre o policial militar e também o pesadelo. Foi tudo em sequência que quase pirei mesmo. Uns dias de descanso vão me curar.

Dez 07, '04 - Pássaro na gaiola
Começaram meus dias de descanso. Estou relaxado no sofá, ouvindo meus CD's e vendo minha coleção de DVD's. Antonio vai vir aqui para jogarmos carta e conversar um pouco. Sara está me tratando bem, como se eu estivesse hospitalizado. Esse paparico já está ficando meio ridículo pro meu gosto. Mas eu vou aguentar, eles devem estar pensando que eu vou pirar assim de uma hora pra outra.

Ramirez veio conversar comigo. Disse que os soldados estão organizando uma saída para ir buscar medicamentos e água para as pessoas que estão no prédio. Eu concordei, pois uma coisa que eu me esqueci de ir procurar foi medicamentos, e agora como temos várias pessoas para cuidar vamos precisar de muitos remédios.

Parece que amanhã eles vão sair, um grupo com 4 soldados irá buscar uma farmácia pela avenida. O bom dessa região é que a avenida é bem extensa e tem muitas lojas de todo tipo por ela, assim não precisamos nos arriscar para ir mais longe na cidade. Pena que eles não me deixaram ir junto, se eu pirar é porque fiquei muito tempo aqui dentro.

Dez 09, '04 - O Resgate
Mal meu descanso começou e ele já terminou. Ramirez veio falar comigo, algo aconteceu com os soldados que foram procurar a farmácia. Parece que eles acharam, mas se descuidaram e não viram que a farmácia estava com mortos lá dentro. Ramirez me contou que eles estão trancados no escritório que fica dentro da loja e pediram ajuda por walk talk. Como Ramirez não quer arriscar a vida de mais soldados ele vai ir até o local, e pediu minha ajuda.

Sara pediu para eu tomar cuidado, abracei ela e saí com Ramirez pelo corredor até o portão e de lá saímos para a esquina. Passamos por dentro de um carro na barreira e fomos até a avenida. Na esquina para a avenida nos escondemos atrás de um carro. Ramirez olhou e viu alguns mortos perambulando.

Ramirez: Okey Adam. Os zumbis são muitos mas estão dispersados, dá pra correr e desviar de alguns.
Adam: Beleza, e onde fica a farmácia?
Ramirez: Umas quatro quadras descendo pela avenida. Fica do lado de um restaurante que tem letreiros bem grandes.
Adam: Vamos lá.

Começamos a correr, tem muitos mortos mas estão todos bem espalhados, desviamos de alguns e atiramos em outros que estavam mais perto. Já passamos por 3 quadras sem problemas, a pouca velocidade dos mortos é uma vantagem mas quando eles estão em grande número a coisa pode complicar. Encontramos o restaurante que os soldados falaram, e tem uma farmácia bem ao lado com a entrada aberta. Ramirez se encostou na parede ao lado da porta de entrada para a farmácia e deu uma pequena espiada. Olhou para mim e com os dedos mostrou o número 4, ele viu 4 zumbis lá dentro.

Ramirez fez um sinal com a cabeça, vai entrar. Ele entrou pela porta e já foi atirando, eu entrei logo após e ele já tinha acertado 2 deles. Mirei em um zumbi com roupa branca e atirei, a bala furou sua testa, ele devia ser um dos atendentes desta farmácia. Ramirez conseguiu abater o último. Um barulho de várias pessoas batendo em algo está vindo do fundo da loja. Ramirez e eu caminhamos entre as estantes com remédios até o fim. Lá encontramos o barulho, eram vários mortos batendo em uma porta.

Soldado: Aqui dentro! Aqui dentro!

Atiramos nos zumbis, 1, 2, 3 caídos, mas faltavam 4 e o barulho do fuzil de Ramirez chamou a atenção, eles começaram a vir, recuamos um pouco e atiramos novamente, todos mortos. Abrimos a porta e os soldados estavam lá: José, Carlos, Alberto e Samuel.

José: Muito obrigado Ramirez e Adam. Eu já pensava que ia virar comida de zumbi.
Ramirez: Todos estão bem?
Carlos: Sim, nenhum arranhão ou mordida.
Ramirez: Beleza, vamos embora porque os tiros devem ter chamado atenção dos que estão pela avenida.

Preparamos mochilas com remédios e começamos a sair andando entre as estantes de medicamentos, quando escutamos um grito. Olhando para trás vimos 2 braços saindo pelo meio de remédios nas estantes e pegando Alberto pelo pescoço. Mas era tarde demais, os braços puxaram Alberto um pouco mais e o zumbi colocou a cabeça entre a estante, dando uma mordida que arrancou um grande pedaço do pescoço de Alberto. O sangue saltava, respingou por todo o lugar. Carlos colocou o cano do fuzil na testa do zumbi e apertou o gatilho, BAM, menos um zumbi no mundo. Alberto caiu no chão já desacordado.

Carlos: E agora?
Adam: Ele foi mordido. Está perdendo muito sangue vai morrer a qualquer minuto. E o pior, ele vai voltar.
Samuel: Mas que droga, nos descuidamos. Que merdaaa!!!
Ramirez: ... Vamos liberar ele desta maldição. Concordam?
Samuel: Sim.
Carlos: ... Tudo bem.
José: Sim.
Ramirez: Adam?
Adam: Claro.

Ramirez tirou a pistola da cintura, colocou na cabeça de Alberto e atirou. Era o fim de um amigo soldado, ele morreu ajudando as pessoas, um grande sujeito. Carlos cobriu o corpo de Alberto com uma roupa branca de funcionários da loja, que ele achou atrás de um balcão. Nos despedimos do corpo do grande companheiro e saímos da farmácia rapidamente, os mortos estavam vindo nesta direção mas não chegaram a tempo, nossa ação foi bem veloz.

O caminho de volta foi tranquilo, os mortos vinham atrás mas como estavamos correndo eles desistiam um tempo depois. Nenhum nos seguiu pela rua que leva até a barreira de carros. Entramos no prédio e todos descansamos sentados no chão, foi uma correria e tanto. Todos estão tristes pela perda de um amigo, cada um foi para o seu apartamento sem falar muitas palavras, apenas um "Até amanhã".

Dez 11, '04 - Sábado
Hoje falei um pouco com os militares. A perda do amigo está pesando muito, dá pra sentir. Ramirez está trancado no apartamento desde quando voltamos da farmácia. Carlos me falou que Ramirez está se culpando por ter organizado uma busca onde um companheiro acabou falecendo. Resolvi ir até lá falar com ele. Fui até o apartamento dele e bati na porta. Alguns minutos depois Ramirez abriu a porta, ele parecia cansado e triste.

Adam: E ae camarada, não vai me convidar para entrar?
Ramirez: Entra.
Entrei e sentei no sofá que fica encostado na parede da sala.
Adam: Tudo bem cara?
Ramirez: Não.
Adam: Não está achando que foi culpa sua a morte do Alberto, ou está?
Ramirez: Acho que foi, uma saída muito mal organizada. Droga.
Nesse momento Ramirez pega um copo que estava em um pequeno móvel e o atira na parede, se quebrando em vários cacos de vidro que se espalharam pelo chão.
Adam: Ei, calma.
Ramirez: ...
Adam: Não foi culpa de ninguém. Ninguém viu aquele maldito zumbi atrás da estante.
Ramirez: Mas deviamos ter checado o local antes.
Adam: Iamos perder tempo e ser cercados pelos mortos que estavam vindo.
Ramirez: Não, foi uma bobagem que cometi.
Adam: Não tenho mais o que argumentar. Só sei que não temos culpa em nada. O mundo lá fora agora é imprevisível, essas criaturas rondam todo canto a nossa espera, e qualquer momento elas dão o bote. Lá fora é cada um por si, se não tomar cuidado dança. Vou te deixar sozinho pensando nisso. Até mais.

Saí pela porta do apartamento e fui para o corredor que leva para a garagem, fui pegar um ar. Ramirez está com a cabeça meio perturbada, só o tempo vai tirar esse peso da consciência dele. Eu sei disso mais do que ninguém.



Dez 13, '04 - Segunda-Feira
Parece que Ramirez já está mais tranquilo. Hoje na janela vi ele caminhando com Carlos pelo prédio, fazendo uma vistoria. Conheci uma das pessoas sobreviventes pela manhã. Eu tinha ido levar Nanuke para dar uma volta pelos corredores e vi um senhor de idade caminhando. Ele me comprimentou e me agradeceu por ter salvo eles aquela vez no abrigo. Seu nome era Miguel, conversamos um bom tempo. Ele me contou como foi seu primeiro contato com os zumbis. Ele estava em casa com sua mulher, como assistiam bastante TV já sabiam das notícias, mas tudo foi tão rápido e em poucos dias as criaturas que viram pela TV já estavam nos portões de sua casa.

Perguntei se ele e sua mulher estavam gostando do apartamento, mas ele ficou meio triste e me falou que na fuga para o abrigo do colégio Gonzaga, os mortos pegaram sua esposa e foram muito cruéis no ataque, e ela acabou falecendo. Eu pedi desculpas pela pergunta, afinal, eu não sabia. Ele disse que estava cansado e ia voltar para dormir. Eu disse a ele que quando estivesse com vontade de conversar que poderia contar comigo. Miguel agradeceu e foi embora para seu quarto. Voltando ao meu ap, vi Antonio subindo com vários baldes pelas escadas.

Adam: Pra que tanto balde?
Antonio: Olá Adam, vai ter chuva hoje, vamos pegar água. Já achei vários baldes pelos apartamentos aqui no prédio. Vamos colocar eles lá na cobertura para pegar a água da chuva. Depois nós filtramos, eu tenho um aparelho.
Adam: Legal, eu te ajudo com os baldes.

Fomos até a cobertura e colocamos muitos baldes por toda parte. Ficou um visual bem estranho, vários baldes coloridos pelo chão. Mas a idéia de Antonio é muito boa, pois não sabemos quando a água encanada pode acabar. É bom garantir uma reserva de água.

Dez 15, '04 - Pedido de Socorro
Antonio acertou, ontem teve chuva. Subimos até a cobertura para ver a situação dos baldes, todos estavam cheios. Vi um sorriso aparecer no rosto de Antonio, sorriso de "viu como funcionou". É não posso discordar, a idéia foi muito boa. Ele me pediu ajuda para levar os baldes com a água para dentro do seu apartamento. Lá colocamos a água dentro de garrafas. Também despejamos água na banheira e cobrimos com a cortina do box, e o que sobrou ficou nos baldes mesmo. Já estava indo embora do apartamento de Antonio quando escutei alguém gritando meu nome no corredor. Abri a janela e vi que era o Carlos.

Carlos: Adam, venham vocês 2 rápido, alguém está se comunicando pelo rádio.

Carlos voltou correndo para o outro bloco. Antonio e eu descemos as escadas e fomos pelo corredor até o Bloco B do prédio, e lá entramos no apartamento dos militares. Ramirez e os soldados estavam falando com alguém pelo rádio.

Ramirez: Onde você se encontra? Câmbio.
Voz: Estou em Canguçu, somos só minha filha e eu. Estamos em cima da nossa casa por causa das criaturas, elas tomaram conta do interior da casa. Por favor, acho que não tem mais ninguém vivo aqui.
Ramirez: Fique tranquilo, iremos fazer algo, só não saia daí. Diga o seu endereço. Câmbio.

A voz parecia ser de um senhor, ele deu o endereço para Ramirez. Canguçu é uma cidade vizinha, não fica muito longe, mas leva um bom tempo indo de carro. Ele disse se chamar Marcelo, e também falou que tem poucas balas para seu revólver 38. Ramirez pediu para ele não sair do teto de sua casa pois iria mandar alguns soldados para buscar os 2.

Ramirez: Quem pode ir?

Os soldados se olharam, dava pra sentir que todos estavam com medo. Uma pequena cidade toda transformada em zumbis, e talvez apenas esses 2 vivos. Alguns abaixaram a cabeça enquanto outros olharam para mim, Ramirez também olhou para mim, depois disso já senti o que eles queriam.

Adam: Okey Okey.

Dez 16, '04 - Destino: Canguçu
Sobrou pra mim, mas até que eu gostei, preciso sair um pouco dessa rotina de ficar no prédio. Sei que é arriscado, mas é essa adrenalina que me impulsiona, e além disso são pessoas que devem ser salvas, se eu conseguir vou me sentir muito bem depois. Arrumei minha mochila, nela coloquei alguns MRE (refeições prontas para comer), 2 garrafas com 1 litro de água cada, 2 pentes reservas do rifle M4A1 e 3 pentes da pistola Glock. Coloquei o uniforme, Glock na perna, rifle nas costas. Fui até a sala e Sara estava lá, ela veio me abraçar.

Sara: Se cuida.
Adam: Pensei que você ia reclamar.
Sara: Eu sei que não adianta.
Adam: Tudo bem, vou ficar bem atento e vou voltar logo, não se preocupa.

No corredor encontrei Ramirez, Antonio, Cintia, Daniel e os soldados. Todos me desejaram boa sorte e me acompanharam até a garagem, lá entrei na Ford Ranger. Já na rua, Carlos e Ramirez tiraram um dos carros da barreira para eu passar com a Ranger. Acenei para os 2 e fui embora. Peguei a avenida e fui até o fim onde se encontra a estrada para Canguçu.

Já se passou alguns minutos. O bom das estradas é que não tem sinal de nenhum zumbi, só no inicio eu vi 2, pareciam perdidos sem rumo, mas agora que já estou longe da cidade só vejo as vacas e alguns cavalos pastando pelos campos. Esse cenário até me confunde um pouco, me faz acreditar que tudo está normal, pelo menos a natureza se salvou de tudo isso.

Falta só mais um pouco para chegar. Estou acelerando bastante para não perder muito tempo, não sei até quando aquelas pessoas vão aguentar em cima do teto. BAMMMMMM, eu escutei um barulho enorme, o carro está perdendo controle, acho que foi um dos pneus. Droga o carro está em zigue-zague, saiu da pista, só vejo tudo girar, está capotando, tudo gira...


Dez 17, '04 - A Casa Fantasma
Aos poucos meus olhos se abriram e vi tudo de cabeça para baixo. Eu ainda estava dentro da Ranger e ela estava tombada fora da pista. Sinto uma forte dor na testa, coloquei a mão e vi que estava sangrando, era um corte. Tirei minha faca que coloco na perna e cortei o cinto de segurança, caí de costas no teto do carro que agora era o piso, já que ele está capotado. Me arrastei e saí pela janela. Sentei no chão e me encostei na Ranger para descansar um pouco e organizar as idéias.

Peguei uma camisa em minha mochila e rasguei um pedaço de pano, depois amarrei na testa. Olhei o relógio e vi que fiquei sem consciência por 2 horas. Daqui a pouco vai anoitecer e não vai ser bom ficar aqui fora no escuro total, sem poder ver a área ao meu redor. Preciso achar algum lugar para passar a noite, preciso primeiro me recuperar para depois pensar nas pessoas. Peguei minha mochila, rifle na mão e voltei para a estrada, caminhando em direção a Canguçu.

Depois de meia hora caminhando achei uma casa pequena, aquelas casas de beira de estrada, deve ser de alguma família que cuidava de animais, pois vejo um estábulo mais ao fundo. Só não vejo sinal de vida, nenhum carro e a casa está toda fechada. Ela está meio sinistra assim, e o silêncio do campo só colabora para me dar mais medo. Segurei bem forte o rifle e entrei pelo portão, depois fui até a porta da casa. Bati nela para garantir se não há ninguém.

Ninguém responde, pelo menos vivo. Agora a pior parte: invadir e checar se não há mortos. Dei um chute na porta com toda força e ela abriu, batendo com força na parede. Entrei rapidamente e só vi o vazio da sala. A casa é bonita, tem móveis de madeira e tapetes bem cuidados. Andando pela casa só escuto meus passos no chão, me sinto em um filme, e o pior é que estou achando que em qualquer momento um zumbi pode sair de algum lugar e me pegar. Chequei cozinha, quartos, banheiro, quintal e até o estábulo, nada, tudo vazio. O local é perfeito para passar a noite.

Fechei a porta da frente e coloquei um sofá atrás, sei que estou no meio de uma estrada deserta, mas como diz o ditado: o seguro morreu de velho. Vou dormir e amanhã bem cedo vou até Canguçu. Como estou a pé preciso reformular meu plano, pois a cidade deve estar infestada de zumbis.

Dez 18, '04 - Resgate em Canguçu
Passei uma boa noite nesta casa, só se ouvia os barulhos dos grilos. Acordei as 7 da manhã com o sol já no céu. Coloquei minha mochila nas costas e peguei o rifle. Chegando na porta olhei pela janela para conferir se tudo estava tranquilo, nenhum sinal de perigo, tirei o sofá e saí da casa. Fechei a porta pois não sei se vou precisar passar outra noite aqui na volta, e já que ela está segura é melhor deixar que ela continue assim. Na estrada comecei minha caminhada até Canguçu, não está muito longe, acho que vai levar 1 ou 2 horas.

Demorou mas cheguei, estou na frente da placa que dá boas vindas a Canguçu. Tomei um pouco de água, peguei a M4A1 na mão e comecei a caminhar em frente. A entrada principal da cidade está vazia, a cidade parece ser bem pequena, tem casas uma ao lado da outra e ruas estreitas. Tem carros parados pela rua, sujos de areia. Mais em frente vejo um grupo de mortos caminhando, me escondi rapidamente atrás de um carro.

Pelo que Ramirez me disse, tenho que dobrar à direita na terceira rua na entrada principal, e descer até achar uma casa com portão verde, mas eu vou saber de longe que casa é só vendo os 2 em cima do teto. Saí de trás do carro e corri por algumas quadras, tive que desviar de alguns zumbis, mas cheguei na 3ª rua. Da esquina eu já via uma multidão de zumbis em frente a uma casa. Daqui não consigo contar, mas são muitos, preciso de um plano.

O plano é o seguinte: vou pegar um carro e começar a buzinar na frente da casa, sim, o velho truque de fazer os zumbis perseguirem o som. Tem vários carros abandonados pela rua, entrei no primeiro mas ele não ligava, acho que a bateria morreu. Quebrei o vidro do segundo carro e abri a porta, esse ligou. Desci a rua no carro em direção aos mortos. Já consigo ver 2 pessoas em cima da casa onde os mortos estão aglomerados. Na esquina comecei a buzinar, passei pela multidão atropelando alguns mortos, fiz um sinal com a mão para Marcelo esperar ali mesmo.

A maioria dos mortos está seguindo o carro, estou dirigindo com pouca velocidade para que eles não desistam da perseguição. Levei eles até o fim da rua, já estou a umas 4 quadras longe da casa. Abri a porta e saí do carro, os mortos estavam muito perto, esse foi meu erro. Um conseguiu chegar em mim, me pegou pelo pescoço mas meu rifle foi mais rápido. Outro veio e tentou me pegar, mas atirei nele também. Fui até a calçada da rua e corri, escapando de toda a concentração deles. Corri sem parar até a casa de Marcelo.

Agora no portão da casa sobraram 23 mortos. Na esquina da rua eu comecei a mirar na cabeça deles e a atirar, é mais seguro bancar o sniper do que enfrentar cara a cara. Eu só via os corpos caindo, tombando no chão. Parece que cada tiro que dou em um deles eu concentro toda minha raiva, por eles terem matado pessoas que eu gostava. Pronto, os 23 já eram, corri até a frente da casa e comecei a falar alto com o Marcelo.

Adam: Oi Marcelo, eu sou o Adam.
Marcelo: Você é amigo do Ramirez?
Adam: Sim, eu vim buscar vocês.
Adam: Quantos deles estão dentro da casa?
Marcelo: Não tenho idéia.
Adam: Eu vou entrar, se preparem para voltar dentro da casa.
Marcelo: Tudo bem.

Entrei pelo portão da casa, e fui até a porta, ela estava aberta, mal sinal, devem ter muitos aqui dentro. Entrei pela porta e me deparei com uma sala bem grande, e nela tinham uns 7 zumbis. Atirei em 3, o sangue deles sujava os móveis da casa. Caminhei para perto de um e dei com a coronha do rifle na sua cabeça. Quando eu ia matar outro não vi que veio um por trás de mim, me pegou pelo ombro e já ia morder meu pescoço, mas dei uma cotovelada com toda força na barriga dele e consegui me soltar de seus braços. Virei e atirei na testa do infeliz. Só faltam 2, mirei no próximo mas algo aconteceu, minha visão começou a embaçar, uma dor forte na cabeça, caí no chão e um dos mortos veio pra cima de mim. Segurei ele com os dois braços, mas ele lutava muito, minha visão cada vez mais embaçada, até que escutei um tiro e o morto que lutava comigo caiu para o lado com um buraco na cabeça. Outro tiro e o zumbi que restava caiu também. Olhei para o lado e vi uma pessoa chegar.

Marcelo: Você está bem?
Adam: Uma dor de cabeça, minha visão está mal.
Marcelo: Eu tenho um carro na garagem, mas tem alguns zumbis lá, por isso não tentei fugir antes.
Adam: Você parece saber atirar, pega minha pistola na cintura e faça o serviço. Eu não vou conseguir.
Marcelo: Tudo bem.

Marcelo pegou minha Glock e foi para a garagem, sua filha ficou cuidando de mim. Escutei 6 tiros e logo depois Marcelo voltou. Ele conseguiu derrubar os zumbis. Ele me ajudou a levantar e a caminhar até o carro. Fiquei no banco de trás e ele foi dirigindo. Eu senti que a dor de cabeça só aumentava.

Adam: Marcelo, pega a estrada principal e acha uma casa que tem um estábulo ao fundo, ela está segura. Preciso descansar, estou muito mal.
Marcelo: Pode deixar.

Falei isso para Marcelo rapidamente, a dor de cabeça era muita, eu sabia que a qualquer momento eu iria desmaiar, e foi isso que aconteceu.

Dez 19, '04 - Repouso
Quando eu acordei estava em uma cama, olhei bem o quarto em minha volta e percebi que era a casa que achei aquele dia. Do lado da cama em um sofá estava sentada a filha do Marcelo, ela estava dormindo. Minha testa parou de doer. Só me lembro de ter desmaiado no carro quando estavamos fugindo de Canguçu. A filha do Marcelo é bem bonita, deve ter quase a minha idade, é morena, cabelos longos, me lembro de ter reparado que ela tinha olhos azuis.

Ja estou com o corpo dolorido de ficar deitado aqui, acho que passei um bom tempo nesta cama, vou levantar e ir ao banheiro. O barulho da cama fez a garota acordar.

Garota: Não, não levante, você precisa ficar em repouso.
Adam: Preciso ir no banheiro.
Garota: Pra isso colocamos esse balde do lado de sua cama.
Adam: Ah, e você vai ficar olhando?
Garota: ... Claro que não. Estou indo, se precisar de algo me chama.
Adam: Eu não sei seu nome para chamar.
Garota: É Alessandra. E o seu?
Adam: Adam, prazer.
Alessandra: ... Obrigada por ter nos salvo.
Adam: De nada.

Ela saiu do quarto e consegui aliviar minha bexiga. Alguém está batendo na porta, é Marcelo, ele pediu para entrar. Ele entrou e sentou no sofá.

Marcelo: Tudo bem? Alessandra me disse que você tinha acordado.
Adam: Sim, estou bem. Obrigado por ter vindo até a casa.
Marcelo: Era o minimo que eu poderia fazer por você, afinal, você nos salvou.
Adam: Antes de resgatar vocês sofri um acidente de carro na estrada e bati forte com a cabeça, por isso o corte na testa. Só descansei 1 dia e já fui buscar vocês. Acho que toda a correria e agitação da luta contra os zumbis me fez perder as energias.
Marcelo: Por isso não sei nem como agradecer, mesmo machucado você foi e nos ajudou.
Adam: Tudo bem.
Marcelo: Eu trouxe comida no carro quando nós fugimos. Não tenha pressa para sair dessa casa, descanse bastante.
Adam: Okey, obrigado.

Marcelo se levantou e foi embora. Pelo menos essa casa é segura, no meio do campo. Assim que eu recuperar as energias volto para o prédio. Todos devem estar preocupados comigo. Espero que eles estejam bem.

Dez 25, '04 - É Natal
E pensar que hoje é Natal. Eu quase tinha me esquecido. Claro, o país nessa situação como eu iria me lembrar de datas comemorativas? Quem lembrou foi Alessandra. Ontem quando passou da meia noite, Marcelo e ela entraram no quarto com pratos de comida enlatada. Me abraçaram e me desejaram um feliz natal.

Ficamos conversando a noite toda, acabamos comendo demais e indo dormir quase as 4 da manhã. Como será que meus amigos no prédio estão? Espero que eles estejam bem. Devem estar muito preocupados comigo, só vamos ficar mais um dia e depois vamos partir.

Meu ultimo Natal foi nos Estados Unidos, passei com a turma da SWAT. Todos muito legais, tomamos muita cerveja e falamos bobagem a noite toda, foi também uma festa de despedida, logo depois eu iria voltar para o Brasil.

Voltei e aconteceu isto. Uma epidemia de gripe que matou milhões de pessoas e as transformou em zumbis que devoram os coitados que acabaram sobrevivendo. Todo mundo perdeu pessoas queridas, e mesmo assim conseguem ter energia e bondade para fazer uma pequena festa de Natal, adorei o gesto da Alessandra. Acredito muito em destino, acho que o meu era voltar para o Brasil e ajudar todas essas pessoas que salvei.

Feliz Natal.



Jan 02, '05 - Predio tomado
Pronto, deixamos passar mais alguns dias, o que foi bom, já estou melhor, agora é só voltar. Marcelo preparou o carro, colocamos os alimentos que sobraram dentro dele. Fechei a porta da casa e fiquei parado olhando para ela, como se eu estivesse me despedindo de alguém. Esta casa foi como um milagre, me ajudou muito. Entrei no carro e seguimos pela estrada, em algumas horas já estaremos em Pelotas.

Chegamos, já entramos no inicio da avenida Bento Gonçalves, como sempre está com bastante zumbis. Marcelo está tentando desviar mas alguns se metem na frente tentando nos pegar e acabam sendo atropelados. Dobramos na esquina da praça e ja consigo ver a barreira de carros que tem na rua onde está meu prédio. Mas tinha algo estranho, os carros da barreira estavam meio fora de posição e o pior, vários zumbis estavam na fileira, batendo nos carros, tentando entrar na rua. Mandei Marcelo continuar descendo por esta rua e desviar dos zumbis. Passamos pela frente da barreira e eu tentei olhar para o meio da rua, onde fica o prédio. Vi várias motos estacionadas na frente do edifício.

Pedi para Marcelo dar a volta na quadra por trás, para ver se tem mortos na outra barreira que fica na esquina onde tem o posto de gasolina. Marcelo parou o carro no posto, tudo seguro, nenhum zumbi pela volta e nem na barreira. Peguei o rifle e desci do carro, corri rapidamente até a barreira e me abaixei atrás de um dos veículos. Olhei para o prédio e vi as motos, são várias motos personalizadas, até triciclos, e também vi uma besta KIA. Olhando para a grade do prédio eu vi algo que me chocou, o corpo de um soldado estava amarrado na grade, e tinha 3 tiros no peito. Eu reconheci o corpo, era Samuel, um dos militares do grupo de Ramirez. Droga, será que os motoqueiros mataram ele? Ele era um rapaz muito legal. Preciso ver o que está acontecendo lá dentro.

Me lembrei daquela casa de onde aquele zumbi caiu dentro do prédio, dessa casa eu posso ir até o telhado q fica ao lado e pesquisar o que acontece. Voltei para o carro e pedi para Marcelo e Alessandra me acompanharem, eles pegaram os alimentos e me seguiram até a casa. A porta estava aberta, entramos e tranquei ela. Alessandra se assustou com o tapete cobrindo um corpo no canto da sala, é o corpo daquela mulher que ficou me olhando quando eu entrei nesta casa. Vasculhei tudo e vi que está totalmente segura, pedi para os 2 ficarem aqui me esperando.

Subi até o segundo andar, onde fica a área de serviço que leva para o telhado do vizinho e então até o muro do meu prédio. Abri a porta da área e saí para a sacada, da sacada desci para o telhado do vizinho, aqui agachei e fui até a beirada. Consigo ver todo o corredor do prédio. A porta C que fica no final do corredor está tranquila, mas a porta B que é onde fica meu apartamento está sendo vigiada por um cara barbudo com jaqueta de couro, ele está com uma cartucheira na mão.

Ainda bem que está escuro, ele não vai me ver. Percebi que a janela do meu quarto no 2º andar está aberta e com a luz acesa. O cara que estava vigiando entrou pela porta e foi subir as escadas, o corredor agora está vazio. Me equilibrei no muro do prédio e fui até onde está a minha janela, e olhei para dentro. Eu não acredito nisso, na cama do meu quarto estão amarradas Cintia e Sara, as duas semi-nuas e com uma mordaça para não gritarem. Sara olhou para a janela e meu viu, ela começou a chorar com uma expressão de alegria no rosto por me ver novamente, mas misturado com um rosto cheio de marcas de espancamento. Cintia viu Sara olhando pela janela e também virou o rosto, assim me vendo ali em cima do muro.

Agora estou com raiva, primeiro eles mataram Samuel, agora eu vi que estão abusando delas, quem faz uma coisa dessas não merece perdão, mesmo sendo humano. Um cara magro, com uma toca na cabeça e óculos escuros entrou no quarto das duas. Elas viraram o rosto e começaram a tentar gritar, mas a mordaça não deixava. O sujeito começou a tirar a calça jeans rasgada e ficou só de cueca. Cintia olhou para mim. O homem percebeu e olhou pela janela, e me viu em cima do muro. Mas já era tarde para ele, meu rifle silenciado estava apontado para sua cabeça, eu abanei para ele e apertei o gatilho, Pop, um buraco no vidro e na testa dele. Vou reconquistar meu prédio.

Jan 03, '05 - Reconquista
Sara e Cintia choram de alegria, o cara que abusava delas foi morto bem na sua frente. Sem nenhum barulho, um tiro limpo. O corredor está vazio, pulei para o chão, e entrei pela porta da entrada B, onde fica meu apartamento, o cara que estava vigiando deve estar por aqui. Entrei com cuidado e subi pelas escadas até meu apartamento. Encostei o ouvido na porta e escutei 2 homens conversando e parecem estar bêbados, dando risada e falando besteira.

Arrombei a porta com o pé e rolei para dentro da sala, um dos homens era o vigia que eu tinha visto lá em baixo, ele apontou sua cartucheira para mim mas eu fui mais rápido, dei 2 tiros em seu peito, ele voou e caiu no sofá. O outro muito bêbado ficou olhando para o cadáver do companheiro e sacou um revólver 38 do bolso, na mesma hora eu atirei na mão dele, fez um furo na mão e ele deixou cair a arma, dei outro tiro em sua cabeça. Por sorte meu rifle está com silenciador e eles não conseguiram atirar, assim não fez nenhum barulho que possa chamar a atenção.

Fui até meu quarto e lá estavam elas na cama, Sara e Cintia. Tirei a mordaça delas, e devolvi suas roupas que estavam atiradas pelo chão do quarto.

Sara: Adammmmmm... nós pensamos que você...
Adam: Não fale, estou aqui agora.
Cintia: Esses canalhas... eles iam...
Adam: Quer dizer que eles não abusaram de vocês?
Cintia: Ainda não, ia ser hoje, eles estão festejando.
Adam: Deu para ver, ainda bem que eles não tocaram em vocês.
Cintia: Mate todos...
Adam: Não sei se posso, por mais que sejam vândalos eles são humanos.
Cintia: Eles mataram um dos soldados, e...
Adam: E?
Cintia: Vá até a garagem e veja você mesmo, e depois acabe com eles na cobertura do prédio, eles estão lá bebendo e comendo.
Adam: Okey, quero que vocês duas se tranquem aqui no quarto.

Saí do quarto, e vi o barulho da chave trancando a porta, elas vão ficar seguras. Desci as escadas e segui pelo corredor do prédio até o fundo, onde fica a garagem. Assim que entrei na garagem um cheiro podre feio até minhas narinas, pelo chão estavam vários corpos em fila, e eu conheço essas pessoas, eram os sobreviventes do abrigo, aqueles que estavam aqui no prédio. Droga, não acredito que eles fizeram isso com elas, e parece ter sido por diversão, pois os corpos estão com camisas pintadas com tinta, fazendo um desenho em forma de alvo, e todos os corpos com vários tiros pelo corpo.

Só contei 15 mortos, e não vejo o corpo de nenhum dos militares, nem de Daniel, Antonio e Ramirez. Eles devem estar em algum apartamento do prédio, preciso resgatar todos. Agora todos os anos de treino que tive na SWAT vão aparecer novamente. Uma fúria incontrolável toma conta de mim, eu vou acabar com eles, 1 por 1, e vou fazer eles sofrerem. Como alguém em um mundo que já sofre com os zumbis tem a capacidade de se divertir com sobreviventes? Eu vou acabar com essa festa, e vai ser agora.

Jan 03, '05 - 9:35 PM - Reconquista / Parte 2
Aqui na garagem eu consigo ver todo o Bloco B, e em um dos apartamentos as luzes estão ligadas, talvez tenha alguém lá. O apartamento fica na segunda porta de entrada do bloco. Cheguei até a porta e a abri, subi as escadas até o segundo andar, é aqui que o apartamento fica. Estou na frente da porta do aparmento, o "olho mágico" da porta mostra que lá dentro tem luz. Arrombei a porta, entrei rapidamente e me atirei atrás de um sofá, mas não tem ninguém aqui na sala.

Estou escutando gemidos vindo de algum quarto, andei pela passarela que tinha ao lado da sala e fui até de onde vinham os ruídos. Abri a porta desse quarto e vi as pessoas amarradas e com mordaças, uma ao lado da outra pela parede e algumas deitadas ao chão. São as pessoas que restam, e os soldados estão aqui também. Desamarrei todos.

Carlos: Adam, você está vivo.
Adam: Todos estão aqui?
Carlos: Eles levaram Antonio e Ramirez lá para a cobertura.
Adam: Droga, preciso de ajuda, vamos invadir essa festinha.
Carlos: Pode contar comigo.
José: Comigo também.
Roger: É isso ae.
Mathias: Hora do troco.
Tomas: Nossas armas estão na sala ao lado. Vamos lá pegar.

Os soldados vão me ajudar na invasão. Falamos para as pessoas continuarem ali na sala, vamos trancar elas para ficarem seguras. Trancamos a sala e fomos até a outra onde estão as armas. Os militares pegaram seus fuzis Parafal e saímos do bloco B para ir até o A. No A, subimos pelas escadas da segunda entrada, onde fica meu apartamento. No fim das escadas dessa entrada tem um apartamento onde uma porta dá acesso a cobertura do prédio, é lá que eles estão fazendo sua festa.

Os soldados e eu invadimos o apartamento, ninguém aqui, continuamos andando até a cozinha, na cozinha está a porta, já conseguimos escutar o barulho deles, estão rindo e falando alto. Me encostei na parede e espiei bem rápido pela porta.

Adam: Pelo que vi eles estão em um pouco mais de 10, todos sentados em cadeiras bem no meio da cobertura, a uns 6 metros desta porta. Eu entro primeiro e vou um pouco pra esquerda, logo depois vocês entram e vão para a direita, e se escondam atrás de uns caixotes de bebida que eles deixaram ali.
Carlos: Você conseguiu ver tudo isso com 1 só espiada?
Adam: Hehehe, treinamento da SWAT. Percepção.
Carlos: Okey.

Entrei pela porta, e os soldados logo após, tudo como planejado, os motoqueiros não nos perceberam. Vejo Ramirez e Antonio amarrados em cadeiras, bem longe dos arruaceiros, parece que iam ser os novos alvos desta noite.

Adam: Vocês todos, larguem as armas e se rendam!!!

Eles olharam para mim, deram risada, pegaram as armas, mas nessa hora os soldados se levantaram de trás dos caixotes e começaram a atirar. 1,2,3 vandalos a menos. Eu me agachei no chão e atirei também, acertei um deles bem na barriga, ele tropeçou e caiu sobre um companheiro. Senti um vento passar pela minha orelha, droga, foi por pouco. Rolei para o lado e atirei em outro, pegou bem no braço que ele segurava a arma, o rifle dele voou para longe e Carlos acertou ele bem no nariz, fazendo sangue jorrar para os lados. Um dos arruaceiros acertou de raspão o braço de José, mas de troco ele acertou as partes baixas do cara, que caiu gritando de dor no chão, com as mãos entre as pernas e muito sangue escorrendo. Acertei no olho de outro, um pouco de seu cérebro saiu por trás junto com a bala.

Só sobraram 4, e eles largaram as armas, levantaram as mãos e se entregaram. Conseguimos vencer, e sem nenhuma baixa. Amarramos os 4 juntos, um ao outro, para não tentarem fugir ou pegar em armas. Cortamos as cordas que prendiam Ramirez e Antonio, e tiramos as vendas que eles tinham nos olhos.

Ramirez: Adam!!!!!
Antonio: Que bom ver você amigo.
Adam: Digo o mesmo de vocês. Como tudo isso aconteceu?
Ramirez: Longa história.

Agora vamos vasculhar o prédio para ver se não tem mais nenhum, os presos garantem que só eram eles, mas não custa nada pesquisar isso. Depois vamos ajudar as pessoas a se recomporem do trauma e descansar um pouco. Também tenho que buscar Marcelo e Alessandra, eles ainda estão na casa aqui ao lado.

Jan 06, '05 - Julgamento
Já passam 3 dias desde que retomamos controle do prédio. Sara está bem quieta, está traumatizada com o que aconteceu e com o que poderia ter acontecido. As pessoas sobreviventes estão mais chocadas ainda por terem visto seus amigos serem massacrados sem motivo, por pura diversão. Agora só restam 12 das pessoas que salvei do abrigo, sem contar os soldados. Esses marginais chegaram até a matar uma criança.

Hoje pela manhã falei com Ramirez, os soldados estão sentindo a falta do amigo Samuel. José se recupera do raspão que levou no braço. Discutimos sobre qual o destino dos 4 prisioneiros que fizemos. Ramirez me falou para conversar com cada pessoa e ver o que eles desejam. Depois de algum tempo eu já havia tido uma conversa com todos moradores, e a resposta foi sempre a mesma: morte. Não culpo ninguém, bandidos desse tipo não merecem perdão, e eu vou cumprir o que todos querem.

Pedi ajuda para Ramirez, Carlos e Antonio. Fomos até a cobertura onde trancamos os motoqueiros que se renderam. Ao entrarmos, um dos 4 se mijou de medo.

Carlos: Agora vocês estão com medo não é seus otários? Dias atrás vocês matavam gente inocente e davam risada.
Ramirez: Calma Carlos, o pessoal já decidiu o julgamento deles.
Arruaceiro 1: Hey Hey, o que vocês vão fazer? Nos desculpem.
Adam: Hahahaha. Diz isso para os cadáveres das pessoas mortas na garagem.

Levantamos os 4 e fomos levando eles para fora do apartamento. Descemos as escadas, andamos pelo corredor, e saímos pelo portão da frente. Continuamos até a esquina, passamos pela barreira de carros e levamos os presos para o meio da praça. Tudo estava tranquilo, nada de zumbis muito perto, mas vejo eles mais ao fundo na avenida. Ramirez tirou a pistola do bolso.

Arruaceiro 2: Não, não atirem.
Ramirez: Só uma pergunta, no inicio vocês nos renderam com um monte de companheiros, mas quando nós atacamos vocês lá na cobertura só tinha a metade. Onde estão os outros?
Arruaceiro 3: Eles foram para Camaquã. E depois vão voltar para Porto Alegre.
Arruaceiro 2: Babaca, não era pra falar.

Ramirez deu 5 tiros para o alto, só para fazer barulho.

Adam: Até mais.

Voltamos correndo para a esquina, verificamos a barreira de carros e continuamos até o prédio. Foi isso o que as pessoas pediram, e eu também. Olho por olho, dente por dente. O ruim foi ter que escutar os gritos deles a tarde toda, sendo devorados aos poucos por uma tropa de zumbis.

Jan 09, '05 - Domingo
O clima ainda está pesado no prédio. Acho que vai demorar muito até esquecerem tudo que se passou. Ontem fazendo uma vistoria com Antonio pelo prédio, achei Nanuke trancado e um dos apartamentos, sem comida e sem água. O coitado quando nos viu veio correndo e ficou em nossa volta latindo, todo alegre.

Ramirez deu a idéia de organizarmos um enterro para todas as vítimas. O terreno do vizinho ao lado tem espaço para enterrarmos os corpos. Com a ajuda dos militares pulamos o muro e cavamos buracos durante toda a tarde. Enrolamos os corpos em lençois e continuamos com o enterro. Quando terminamos, as pessoas vieram para ver, e prestar uma última oração aos mortos.

Eu voltei para meu apartamento e tomei um banho, não gosto do clima pesado. Os motoqueiros nos deixaram uns presentinhos, suas 8 motos e uma besta KIA cheia de alimentos e armas. Os soldados querem dar essas armas para as pessoas que restaram e ensiná-las a atirar. Achei uma ótima idéia, assim eles vão saber se defender dos zumbis e também de humanos loucos.

E também tenho pensado seriamente sobre ir atrás dos arruaceiros que foram para Camaquã, o chefe deles deve estar nesse bando e ele merece uma lição. É, vou sim. Pode ser uma atitude meio de Rambo, mas o que eles fizeram não é perdoável.

Jan 14, '05 - Febre
Tive uma febre nesses últimos dias, isso arrasou totalmente com meus planos de ir atrás dos motoqueiros. Sara está cuidando de mim, me trazendo remédios e fazendo a comida. Antonio apareceu para conversar.

Antonio: Oi Adam. Como se sente?
Adam: Oi, estou melhor.
Antonio: Que bom.
Adam: Você não disfarça bem Antonio, sei que ainda está triste pelo que aconteceu.
Antonio: Sim, acertou. E você?
Adam: Eu muito mais, eu poderia ter vindo bem antes, mas fiquei muitos dias em Canguçu.
Antonio: Pensamos que você estava morto.
Adam: Como Marcelo e Alessandra estão?
Antonio: Bem, estão morando aqui no apartamento de baixo, junto com Cintia.
Adam: É que ainda não tive muito tempo de conversar com eles desde que cheguei.
Antonio: Entendo, aqueles olhos azuis dela conquistam qualquer um.
Adam: Não, nada disso, não fala besteira.
Antonio: Hahahaha.

Conversamos por mais um tempo e depois Antonio teve que ir. Ontem Ramirez começou o treino das pessoas com as armas, sem balas por enquanto, só como segurar, mirar, recarregar e todo o básico. Ele me disse que com mais umas aulas todos vão ficar aptos a atirar. Não aguento mais ficar na cama, quero que essa febre vá embora logo.

Jan 16, '05 - Uma surpresa
Já estou melhor, ainda bem, não aguentava mais ficar de cama. Ontem ajudei Ramirez a ensinar para as pessoas como usar armas. Elas já estão bem informadas, o próximo passo é treinamento prático, Ramirez disse que quer levar todos no furgão KIA para alguma rua e lá vão usar munição real em zumbis. É uma boa idéia, porém muito perigosa, mas confio no Ramirez.

Sara e Iago brincam com Nanuke pelo corredor, Cintia deve estar preparando alguma coisa para comer pois sinto um cheiro muito agradável. Alguém bateu na minha porta, fui atender e era Carlos, pediu para eu o seguir. Indo atrás dele chegamos no apartamento dos militares, todos estavam de pé olhando para o rádio. Alguma pessoa estava se comunicando por ele.

Voz: Câmbio, aqui é Tom, preparem as cervejas estamos voltando com comida, armas e algumas pessoas que achamos por aqui hahaha. Dentro de 2 dias iremos chegar.

Adam: É quem eu penso?
Ramirez: Sim, um dos motoqueiros, eles vão voltar.
Adam: Isso é bom.
Carlos: Como é bom?
Adam: Vamos pegar todos eles.
Ramirez: Precisamos de um plano, eles são muitos.
Adam: Temos tempo para pensar, vocês precisam é treinar um pouco mais as pessoas.
Carlos: Deixa comigo, você e Ramirez pensam em algo.
Ramirez: Tudo bem.

A coisa vai esquentar, todos os motoqueiros estão voltando, eles pensam que os companheiros ainda estão vivos. Vamos pensar em uma estratégia para baixar o número deles, temos algum tempo. É hora da vingança.

Jan 18, '05 - O Ataque / Parte 1
Junto com Ramirez consegui pensar em um plano, vamos atrair zumbis para as barreiras de carros nas 2 esquinas, assim os motoqueiros para entrar vão ter que driblar esse problema, e vamos ter tempo de organizar nossas posições. As pessoas que sabem atirar vão ficar na cobertura do Bloco A, para dar apoio aos militares que vão ficar nas sacadas do terceiro andar, na frente do prédio.

Ontem os soldados deram as últimas instruções para todos. Dizem eles que as pessoas não poderiam estar mais preparadas. Passei o dia com Antonio, emprestei para ele minha Taurus PT609, ele já tem uma cartucheira 12. Eu como sempre fico com meu rifle M4A1 e a pistola Glock.

Pela noite ajudei Carlos e Ramirez na função de atrair os mortos para as barreiras. Não foi muito difícil, foi só fazer bastante barulho e ficar gritando por um tempo. Em minutos já tinha mais de 30 em cada esquina, isso vai dificultar as coisas para eles.

Agora Antonio está aqui conversando comigo. Sara, Cintia, Iago e Daniel estão trancados no apartamento do 1º andar. Foi quando a conversa com Antonio foi interrompida por um forte barulho de motos vindo pela rua de trás. Esse é o momento, saímos pela porta do apartamento, descemos as escadas e fomos pelo corredor até a frente do edifício. Ramirez fez um sinal para nós, vimos todos os soldados preparados na sacada do 3º andar do Bloco B.

Antonio e eu vamos ficar na sacada de mesmo andar, mas no Bloco A. Subimos as escadas da 1º porta de entrada desse bloco. No terceiro andar abrimos a porta do apartamento e corremos para a sacada. A visão daqui de cima é muito boa, podemos ver toda a rua e as 2 esquinas. Os motoqueiros chegarem na esquina da direita, que é onde fica a praça. Tiros, muitos tiros, eles estão lutando com os zumbis para poder alcançar a barreira. São muitas motos, eles ficam andando em circulos e atirando nos zumbis.

Eles conseguiram deter os zumbis, mas perderam 2 deles. Tiraram um dos carros do lugar e estão entrando pelo espaço. São muitas motos, os soldados começaram a atirar, acertaram 1 motoqueiro que voou de sua moto, os outros viram e ficaram surpresos. Alguns pularam de suas motos se esconderam atrás delas e começaram a atirar, outros se esconderam atrás da barreira. Vamos precisar de sorte.







Fev 02, '05 - Quarta
Tudo calmo aqui no prédio. No dia que cheguei com as 4 pessoas, Ramirez me cumprimentou. Disse que eu fiz um ótimo trabalho, e admitiu que ele estava errado e que se eu por acaso tivesse o escutado essas pessoas poderiam ter ficado sozinhas por mais tempo. Mostrei todo o prédio para eles. Também apresentei eles para os sobreviventes que já estavam aqui. Depois dei 1 apartamento para Luís e seu filho Murilo, e 1 para Juliana e a pequena Bruna.

Os soldados tiveram que limpar a van, muito sangue dos zumbis na sua frente. Quando cheguei em meu ap, Sara veio me abraçar. Parece um ritual: eu vou para fora do prédio, ela fica preocupada, eu volto e ela me abraça, contente por eu voltar pra casa. Antonio veio até aqui mais tarde nesse dia, conversamos muito. Contei pra ele a aventura pela cidade, como tudo está destruído e que quem comanda as ruas são os zumbis. Depois tomei aquele belo banho, para logo em seguida me atirar na minha cama macia. Agora são 24 sobreviventes civis e 6 militares, sem contar comigo.

Hoje estou entediado, a SBT saiu do ar. Espero que não tenham sido atacados, pois eles mesmos disseram que estavam ajudando pessoas que sobreviveram. Seria uma perda e tanto. Comecei a ler um livro que Antonio me emprestou: Christine, de Stephen King. Até que alguém bateu na porta. Era Alessandra, veio conversar. Poxa, agora que me toquei de quanto tempo que eu não falei com ela. Logo quando ela chegou ao predio tivemos aquele problema com os motoqueiros, depois eu fiquei meio distante.

Conversamos bastante, vimos um DVD, fizemos um lanche, nos divertimos muito. Ela me lembra a Laura, por ser alegre e contar muita piada. Ainda bem que já superei o passado. Alessandra tem os cabelos bem escuros, longos até um pouco abaixo do pescoço, um lindo rosto e bonitos olhos azuis, aqueles do tipo que olham pra você e hipnotizam. Nossa, será que estou apaixonado? Acho que estou.

Estava ficando tarde, ela disse que ja ia embora. Levei ela até a porta e me agradeceu pelo grande dia que tivemos. Logo depois ela me deu um beijo, não um beijo no rosto ou na testa, mas sim na boca, um belo beijo por sinal. Sorriu e foi para seu apartamento. Eu fiquei paralisado por um tempo, foi muito bom. Falei para mim mesmo: "Okey Adam. Volte ao normal, feche a porta e vá dormir!". Hahaha.

Fev 08, '05 - Terça
Está rolando, Alessandra e eu estamos namorando. É incrível como ela me faz esquecer desse mundo de caos que ronda lá fora. Ela é muito alegre e uma boa companheira. Todos os dias passamos juntos, dando muita risada e curtindo um ao outro.

Hoje um sol bem forte apareceu, está muito calor. A pequena Bruna brinca com Iago pelos corredores, e junto deles está Nanuke tentando lamber um dos dois. Antonio diz que sente falta de praia, agora não temos mais essas diversões. Alguém bateu na porta, era Ramirez, veio falar comigo.

Ramirez: Oi Adam.
Adam: Olá Ramirez.
Ramirez: Cara, tenho uma ótima notícia.
Adam: Diga.
Ramirez: Lembra da base militar em Fernando de Noronha que tivemos contato por rádio algumas vezes?
Adam: Lembro, claro.
Ramirez: O Ministro da defesa estava comandando eles para conquistarem pequenas cidades, mas tudo deu errado e o número deles caiu pela metade.
Adam: Que merda.
Ramirez: Sim, o caso é que eles cansaram do Brasil. Não tem mais esperança aqui, são muitos zumbis. Eles conseguiram permissão para entrar nos EUA com todos sobreviventes que puderem levar.
Adam: Legal, mas e daí?
Ramirez: Daí que eles me perguntaram por rádio se éramos mais de 15, falei que somos 31.
Adam: E?
Ramirez: Eles vem nos buscar.
Adam: Não acredito, sério?
Ramirez: Vão chegar em alguns dias em um navio da Marinha, vão ficar no porto de Rio Grande e pediram para irmos até lá quando eles derem o sinal pelo rádio.
Adam: Estamos salvos amigo.
Ramirez: É isso ai. Vamos arrumar as coisas e ir embora.
Adam: Certo, mas temos que ver se é isso que os outros querem. Vamos fazer uma reunião geral e ver quem quer ir.
Ramirez: Certo.

Mais tarde reunimos todas as pessoas do prédio na cobertura e falamos sobre a notícia. Perguntamos a cada um se queriam ir, todos disseram que sim. Pude perceber que todos ficaram contentes, estavam felizes por essa chance de se salvar, eu também. Vamos deixar o Brasil que um dia foi nosso lar, mas que hoje é um lugar onde você pode morrer a qualquer instante. Temos que nos organizar para partir logo.

Fev 11, '05 - Sexta
Droga. Já fazem 3 dias e nenhum sinal do navio que ia vir nos buscar em Rio Grande. Eles iriam entrar em contato pelo rádio quando chegassem no porto. E tudo já está arrumado para irmos ao sinal deles. Arrumamos os 2 tanques com água, comida e munição. Prontos para partir a qualquer minuto, e com espaço de sobra para todo mundo, além de serem tanques blindados, muito melhor para nos proteger dos mortos. Só que até agora nada deles.

Eu penso o pior, que algum sobrevivente estava com uma mordida e embarcou no navio. Durante a viagem ele morreu e voltou a não-vida transformado em um zumbi. Começou a matar um por um, e a contaminação se espalhando, as vítimas levantando como zumbis e se juntando ao primeiro. Em horas todo o navio sucumbiu nas mãos dessa legião recem surgida, e agora é nada mais que um navio fantasma à deriva no oceano. Merda, que pensamento cretino, é claro que isso não deve ter acontecido. Bom, pelo menos eu espero que não.

Ruim é andar pelo prédio para tomar um ar e ver mudar as expressões nos rostos das pessoas. O que antes era de felicidade por ver uma chance de sair dessa terra de desgraça, agora se torna em uma expressão de preocupação, rostos tristes e preocupados. Isso me da uma pena terrível. Não deviamos ter contado sobre o navio tão cedo assim, esse pessoal já sofreu muito. Encontrei com Ramirez na frente do edifício e parei para conversar.

Adam: Oi.
Ramirez: Fala Adam.
Adam: Já não passou bastante tempo? Não era para eles já terem dado um sinal?
Ramirez: Não, acho que é cedo. Tentei falar com eles pelo rádio e não responderam. Já devem estar em alto mar.
Adam: Tomara.
Ramirez: Fica tranquilo, eles vão vir. Não acredita na força dos militares brasileiros?
Adam: Acredito, e muito. Vocês aqui são prova viva disso. Já nos ajudaram muito.
Ramirez: Valeu.
Adam: Mas é que não quero decepcionar todas as pessoas.
Ramirez: Sim.
Adam: É difícil demais dar uma esperança para eles e depois não acontecer nada.
Ramirez: Eu sei, mas acho que é só uma demora. Existem tantas cidades. Eles devem estar resgatando outras pessoas como nós.
Adam: Pode ser isso.

Apertamos as mãos, Ramirez acendeu um cigarro e continuou sentado na frente do prédio. Voltei para o apartamento, pois além de eu não gostar da fumaça de cigarro, eu precisava ver Alessandra. Vamos passar mais uma grande tarde juntos. Bom, agora é esperar e ver o que acontece.

Fev 14, '05 - Supermercado
Ainda nenhuma chamada por rádio do tal navio dos militares. Agora sim estou acreditando bastante na minha louca teoria de que algo saiu errado. Ramirez continua batendo na mesma tecla de que eles estão resgatando outras pessoas por todo litoral até chegar no sul do país. Bom, pode até ser, mas as pessoas não estão gostando da demora.

Bom, não podemos depender dos outros. Aqui no prédio sempre nos viramos sozinhos, temos que continuar assim. A comida ia acabar em alguns dias, era hora de ir fazer uma grande coleta de alimentos. Ontem passei a tarde com Ramirez e Carlos, bolando um plano de onde poderíamos conseguir muitos mantimentos. A idéia era trazer muita coisa em um caminhão do próprio supermercado. Ramirez disse que o supermercado Lunatel na rua Barão de Santa Tecla era uma boa opção. Concordamos com ele.

Eu me lembro da Lunatel, algumas vezes eu comprava lá, pois tinha uns preços camaradas quando tudo ainda funcionava na cidade. Junto comigo vão Ramirez e Carlos. Entramos na van KIA que deixamos estacionada na frente do prédio e seguimos para a barreira. José e Roger, 2 soldados, tiraram um dos carros da barreira para nós. Seguimos descendo a rua da praça até a esquina com a rua Barão de Santa Tecla.

Quando chegamos na rua, dobramos para a esquerda e continuamos até a Lunatel, uma loja grande de cor azul, com o logotipo em branco escrito acima da entrada. Paramos a van na frente da porta de entrada que está toda destruida, e também os vidros estão quebrados. Talvez sofreu saques bem no início da contaminação.

Adam: Okey, nenhum zumbi por perto, vejo alguns sozinhos andando mais em frente, mas estão bem longe.
Ramirez: Uma ação rápida então.
Adam: Sim.
Carlos: Não vejo nenhuma van ou caminhão de transporte do supermercado.
Adam: Vamos usar nossa própria van.
Carlos: Beleza.
De repente alguém saltou de trás de um banco no fundo da van.
Murilo: É isso ae, vamos lá.
Adam: Murilo???
Ramirez: Merda!
Carlos: Ei garoto, como você entrou aqui?
Murilo: Entrei escondido quando ela estava na frente do prédio. Ah qual é gente, vamos para a ação.
Adam: Você está louco? Isso aqui não é videogame.
Ramirez: Você pode morrer se descuidar aqui fora. Tu tem merda na cabeça não é?
Murilo: Poxa, eu só queria ver vocês em ação.
Adam: Droga, o que a gente faz agora?
Ramirez: Vamos levar ele, assim ele carrega umas caixas e ajuda.
Adam: Okey. Vamos nessa, e muito cuidado.

Descemos da van com os rifles na mão e muita cautela, Murilo vem atrás. Entramos pela porta quebrada do supermercado, está um pouco escuro, a luz do sol que entra pelos vidros ajuda um pouco e deixa um cenário meio fantasmagórico, com pouca luz e muitas sombras. Estamos andando com cuidado igual a um grupo especial de reconhecimento. Passamos pelos balcões paralelos das caixas registradoras, depois pelos corredores de produtos até o fim do estabelecimento, onde fica o depósito.

Adam: Limpo.
Ramirez: Beleza, mãos à obra.

Para nossa sorte ainda tem muitos enlatados, não perecíveis e produtos desidratados. Fomos colocando uma caixa de cada vez na van. O fundo foi lotando aos poucos. Antes eu achava feijão enlatado ruim, hoje em dia é como um jantar de classe alta. Murilo carregava galões com 20l de água. As coisas pelas prateleiras acabaram, fomos procurar no depósito. Lá tem muita coisa ainda guardada. São montanhas de caixas, é bastante mesmo. Começamos a carregar algumas para a van. Já está quase cheia, só deixando espaço para nós 4. Voltamos para pegar só mais uma e escutamos um grito, parece ser o Murilo.

Olhei para Ramirez e saímos correndo pelos corredores, pulando por carrinhos de supermercado tombados e cestas jogadas no chão. Quando chegamos na rua vimos Murilo deitado no chão, ao lado da van, e um maldito zumbi com uma camisa xadrez rasgada e suja de sangue em cima do garoto. Agarrei o zumbi e o joguei para longe. Ele tinha o rosto seco e acinzentado, dentes tortos e sujos em uma boca que o lábio inferior não existia mais, mostrando a gengiva.

Ele começou a se levantar então dei um tiro em sua testa, a bala atravessou a cabeça e o cérebro se espalhou pelo asfalto, parece uma geléia rosada e com muito sangue. Murilo se apoiou no chão e vomitou. Entramos todos na van, está bem apertado mas é só por um tempo. Ramirez guiou a van em direção à rua que leva ao nosso prédio.

Adam: Você está bem, garoto?
Murilo: Sim, um pouco enjoado mas estou bem.
Adam: Okey, você foi bem lá, nos ajudou. Parabéns.
Ramirez: É isso ae garoto.
Murilo: Hehe, valeu.

No prédio, os outros soldados nos ajudaram a descarregar toda a van. Trouxemos muitas coisas, acho que vai durar 1 mês tranquilo. Luís veio buscar Murilo, e o levou devolta para o apartamento puxando sua orelha. Ramirez e eu rimos, ver um pai puxar o filho de 17 ou 18 anos pela orelha é engraçado. Hoje tivemos sorte, principalmente o garoto. Me deu vontade de preparar uma daquelas latas de feijão, acho que vou fazer isso agora.

Fev 17, '05 - O Garoto
Eu já desisti da idéia de fugir do Brasil nesse navio da marinha, simplesmente porque eles ainda não apareceram. É melhor continuar na nossa rotina pois estamos seguros aqui dentro do prédio. Uma idéia que eu tive era roubar um navio do porto em Rio Grande e ir para algum lugar, mas o plano não tem futuro já que ninguém aqui no prédio sabe navegar. Também ficar em um návio ancorado um pouco longe do porto era uma boa, zumbis não nadam, estariamos seguros em alto mar. Quando acabar a comida era só pegar uma lancha e ir do navio para o porto, lá pegar um dos nossos tanques e ir para a cidade buscar mantimentos. Mas não tem motivo para fazer isso ainda, estamos bem aqui.

Ramirez agora começa a se preocupar. Já faz muito tempo que não vem um contato por rádio. Fernando de Noronha se tornou uma das últimas defesas militares do Brasil. E pelo que eu sei, eles desistiram e vão deixar o Brasil para trás, prometeram vir aqui nos buscar, mas nada. Mais uma idéia me surgiu, eles podem ter nos deixado para trás também. Droga, a quem estou tentando enganar? Acho que quero sair desse inferno mais que todo mundo junto, por isso estou me preocupando tanto com esse atraso.

Ouvi uma gritaria no fundo do prédio, nos apartamentos dos sobreviventes. Fui até a janela para ver o que era mas só vi as pessoas pelo corredor com medo. Peguei minha pistola Taurus e desci as escadas rapidamente e saí para o corredor. Luís veio correndo até mim.

Luís: Adam, me ajude!
Adam: O que foi?
Luís: É o Murilo, rápido!
Adam: Okey.

Corremos para a porta de entrada C do meu bloco, é no fundo do prédio, e é lá que os sobreviventes moram. Quando começamos a subir as escadas escutei gemidos altos e alguém batendo em uma porta. Entrei no apartamento de Luís e ele vinha logo atrás.

Adam: O que aconteceu?
Luís: Murilo, ele ... ele é um deles!
Adam: Droga, ele virou zumbi?
Luís: Sim, ele estava com uma febre, achei que não era nada demais. Pela manhã entrei no quarto e ele estava de costas, quando me escutou entrar se virou para mim e eu vi aqueles olhos brancos. Ele levantou e veio em minha direção, só deu tempo de fechar a porta do quarto.
Adam: Merda.
Luís: Meu único filho não, nãooooo.
Adam: Eu sinto muito Luís, sinto mesmo. Mas não podemos deixar ele continuar desse jeito aqui no prédio. Se ele escapar vai morder as pessoas e vamos todos virar zumbis.
Luís: ...
Adam: Entenda, agora ele não é mais seu filho, é apenas um corpo reanimado querendo matar outras pessoas.
Luís: ... sim. Meu filho foi para um lugar melhor.
Adam: Acredito que sim.
Luís: Tudo bem.
Adam: Você quer cuidar disso?
Luís: Sim, deixa comigo.
Adam: Eu vou abrir a porta e você faz a sua parte. Okey?
Luís: Pode ser.

Abri a porta do quarto, e o garoto estava lá, com a pele pálida, a boca bem aberta mostrando os dentes, como se ele já estivesse preparado para morder alguém, seus olhos brancos nublados sem vida. Luís levantou a arma que emprestei em direção ao Murilo, mas exitou em puxar o gatilho. Começou a chorar um pouco, baixou a cabeça, mas logo em seguida a levantou e deu um tiro certeiro na cabeça do zumbi. O corpo caiu para trás, parado. Luís caiu de joelhos, chorando muito.

Mais tarde, Ramirez e Antonio me ajudaram a enrolar o corpo do garoto em um lençol. Pulamos para o terreno vizinho e lá enterramos Murilo. Luís estava lá também. Ele rezou um pouco pelo filho perdido, e nós parados nos sentindo culpados, pois descobrimos que o garoto tinha se transformado por uma mordida em suas costas. Foi naquele dia do supermercado Lunatel, o garoto devia estar de costas e o zumbi o pegou, depois quando chegamos ele já estava no chão com o zumbi. Murilo escondeu a mordida de nós. Isso tudo me fez sentir uma grande pena do garoto, e mais ainda do Luís. Descanse em paz Murilo.



Fev 20, '05 - Mistério
Uma chuva forte cai lá fora. Estou na janela para sentir o cheiro de terra molhada. Isso me acalma, meu calmante natural é uma boa chuva. Vejo que não estou só nessa idéia, posso ver Luís na janela do seu apartamento também. Ele não para de olhar para a cruz feita de madeira cravada no terreno vizinho, é lá onde Murilo está enterrado. Coitado, deve estar muito abalado. Acho que temos uma certa dose de culpa nisso, pois não cuidamos direito do garoto lá na hora da ação. Droga, mas o que passou na cabeça dele de querer ir escondido. Não vou me culpar, já me culpei por muita coisa antes.

Senti alguém me abraçar e me dar um beijo no rosto, foi Alessandra. Eu estava tão longe pensando em várias coisas que nem vi ela chegar. Tivemos um momento para nós dois, mas por pouco tempo. Vi Ramirez vindo pelo corredor com uma capa de chuva, entrou na porta B, ele só pode estar vindo aqui falar comigo. Logo depois uma batida em minha porta, eu sabia. Abri a porta e Ramirez entrou, ele tirou a capa e se sentou, então colocou a mão no bolso e tirou um gravador.

Ramirez: Adam, acabei de gravar isso que escutei no rádio amador. Escute.
Ramirez ligou o gravador e a voz de um homem apareceu.
Voz: "... Se alguém estiver vivo e ouvir essa mensagem, por favor, me ajude. Eles pegaram minha família e acho que eu sou o próximo. Já não basta essas criaturas na rua, agora temos mais um problema por aqui. Eles usam um manto, e são muitos... acho que hoje vão vir atrás de mim ..."
Ramirez: Do que será que ele está falando?
Adam: Não tenho idéia, mas ele parece ter muito medo.
Ramirez: Eu anotei o endereço que ele deu, é em Bagé. Não fica muito longe. Vamos deixar assim ou fazer algo?
Adam: Eu vou até lá.
Ramirez: Mas é arriscado ir para uma cidade que você não conhece só para ajudar uma pessoa.
Adam: Não vou tolerar ficar aqui sabendo que deixei alguém morrer por eu ter medo de ajudar, você não acha?
Ramirez: Você está certo.
Adam: Não quero esse peso em minha consciência.
Ramirez: Eu vou com você.
Adam: Não companheiro, quero que você e Antonio cuidem bem do prédio.
Ramirez: Tem certeza?
Adam: Tenho, acho mais fácil atuar sozinho, menos barulho e me escondo melhor.
Ramirez: Boa sorte cara.
Adam: Obrigado.

Apertei a mão de Ramirez e fui pegar minhas coisas. Meu uniforme, o rifle M4, a Glock como arma de apoio e a faca na perna. Peguei uma mochila e coloquei várias barras militares de comida, 2 litros de água, walk talk, lanterna e binóculo. Nunca se sabe quando vai precisar de alguma coisa, é melhor previnir. Os amigos se reuniram no corredor para me desejarem boa sorte.

Sara chorava, não queria que eu fosse, ela se preocupa muito comigo e eu a considero como uma filha. Abracei ela e dei um beijo em sua testa, olhei para Daniel, os dois ainda estão firmes namorando, e disse: "Cuide dela para mim enquanto estou fora garoto". Ele respondeu um sim com a cabeça e apertou minha mão. Alessandra estava triste, eu podia ver em seu rosto. Ela me pediu para tomar muito cuidado e me deu um grande beijo. Cintia me deu um abraço, me desejou muita sorte e sucesso na missão. Antonio brincalhão como sempre só disse: "Traga um presente para mim". Depois apertou minha mão e me deu um forte abraço. Ramirez e os soldados estavam em fila, eles bateram continência e eu retribuí.

Saí do prédio e fui até a barreira, dobrei e fui até a avenida. Me escondi atrás de um carro todo quebrado na esquina. Muitos zumbis pela avenida, mais a minha frente uns 5 andam sem rumo. O que eu quero fazer é descer essa rua, a Gonçalves Chaves, até uma loja de carros, a Satte Alam, onde tem carros da marca Ford. Levantei e corri pelo meio dos zumbis, quando eles perceberam minha presença já era tarde, eu já estava na outra esquina. Passei pela avenida, sempre tenho mais medo de passar por ela pois é onde tem a maior concentração de zumbis, eles ficam andando de um lado para outro sem rumo, nas 2 ruas e na passarela que tem no meio das ruas, onde antigamente funcionava os trailers de lanches.

Desci correndo umas 5 ou 6 quadras e dobrei para a direita em uma rua. Já consigo ver na outra esquina a Satte Alam, é uma grande loja azul com enormes vitrines que mostram os carros. Dois zumbis estavam na rua, driblei os dois, não vou gastar munição. Tem muitos carros lá dentro, todos 0 Km, só que a loja está toda fechada com cadeados. Dei 3 tiros com o rifle em um dos vidros da vitrine, aquele vidro se despedaçou todo e caiu pelo chão fazendo um grande barulho. Com isso atraí a atenção daqueles 2 zumbis e de mais 6 que estavam em outra esquina, agora eles estavam vindo nessa direção.

Entrei rapidamente e vi muitos Fiesta bem novos, mas achei o que eu queria lá no fundo da loja, bem ao lado do balcão de atendimento. Uma Ford Ranger preta, é essa. Olhei o número de identificação que estava colado na janela e entrei por uma porta atrás do balcão. Era a sala do gerente, ví na parede uma caixa prateada. Abri a caixa e achei as chaves de todos os carros que estão à mostra na vitrine. Peguei a chave que corresponde ao número na janela da Ranger e voltei para entrar no carro.

Os 2 zumbis que eu driblei na rua ao lado já estavam dentro da loja. Um deles estava bem perto, dei um tiro certeiro em sua testa e ele caiu para trás, amassando a porta direita de um Focus. Entrei na Ranger e virei a chave, ligou. Que sorte o tanque está cheio, talvez fosse para usar em test drives. Acelerei e atropelei o outro zumbi, ele voou e caiu todo torto no meio da rua. Saí pelo grande espaço que o vidro quebrado da vitrine deixou e segui em frente.

Meia hora depois e já estou fora da cidade. Estou na estrada para Bagé. Tudo tranquilo, só campo em minha volta, vacas pastando, muitas árvores, pássaros, e aquela sensação de paz que só o campo transmite. Mas logo tudo isso vai ter que acabar, vou chegar em uma cidade para ajudar alguém que está com medo de alguma coisa além dos zumbis, e isso está me deixando um pouco nervoso.

Fev 20, '05 - 7:30 PM - Mistério / Parte 2
Já estou chegando na entrada de Bagé. O campo que fica em cada lado da estrada é todo florido, muito bonito. Uma placa dá as boas vindas. Peguei uma rua principal asfaltada, com prédios pequenos em cada lado, e muitas casas. Essa cidade tem casas antigas bem bonitas, e pelo jeito foram restauradas a alguns anos atrás. Agora duvido ter alguém por ai se preocupando em cuidar delas.

Li no papel que Ramirez me deu, o endereço que a pessoa falou, é aqui perto. Peguei uma rua menor, várias casas antigas e árvores pelas calçadas. Passei pela frente de uma escola e pelo pátio vi muitos zumbis. Continuei pela rua até uma pequena praça onde havia um Coreto, dobrei em outra pequena rua e segui reto. As ruas tem zumbis, mas não em bastante número. Já é noite e isso dificulta para enxergá-los. Estou vendo a casa que o homem falou, uma casa bege com grades cinzas, ao lado de uma loja de cor verde.

Parei a Ranger na frente da casa, desci com o rifle na mão. Quatro zumbis da esquina estavam vindo para cá, o barulho da Ranger que os atraiu. Subi na calçada e fui em direção da grade da casa. Estava aberta, entrei e fechei a grade. Segui por uma escadinha até a porta da casa. Bati algumas vezes, e ninguém respondeu. Tentei abrir a porta e consegui. Entrei e estava tudo escuro, levantei o rifle e continuei por um pequeno corredor com quadros antigos e fotos de família. No final dobrei para a esquerda e encontrei a sala, tinha tapetes grandes no chão, sofás de madeira, grandes estantes e uma TV. Passei pelo meio da sala e vi uma porta em frente, e na minha direita um outro corredor que leva para mais aposentos da casa.

Resolvi ir pelo corredor, esse mais escuro que o da entrada. Vejo vasos de flores em uma mesinha, e 3 portas ao longo do corredor. Foi quando ouvi passos saindo da sala e vindo até mim, virei rapidamente e só vi um vulto e senti uma grande pancada um pouco acima da orelha. Caí no chão e vi alguém em um manto marrom, depois desmaiei.

Acordei meio tonto, e aos poucos fui recuperando a visão. É uma sala pequena, parece ser um porão. Estou amarrado em uma cadeira. A única luz da sala é uma lâmpada que não para de balançar. Minhas mãos estão bem atadas. Olhei melhor para a sala e vi mais 5 pessoas na mesma situação, todas amarradas, e um corpo no chão. É uma mulher com um tiro na testa, mas não parecia ser zumbi, acho que foi executada. Agora sim estou com medo. As pessoas amarradas eram três homens, uma mulher e uma garota.

Adam: Psssss, alguém acordado? Olá?
O homem ao meu lado acordou e virou a cabeça para mim.
Homem: ... Quem é você?
Adam: Sou Adam, recebi uma mensagem por rádio de alguém pedindo ajuda aqui em Bagé. Eu vim verificar e acabei aqui.
Homem: Pensei que ninguém ia escutar meu pedido de socorro, obrigado por ter vindo.
Adam: Então foi você que mandou?
Homem: Sim, me chamo Pedro.
Adam: Eu fui na sua casa e alguém me deu uma pancada forte, então desmaiei.
Pedro: Sim, eles foram lá me buscar, eu era o último na casa. Você chegou depois e acabaram pegando você também.
Adam: Droga, se eu chegasse mais cedo tinha pego ele em flagrante.
Pedro: Sim.
Adam: Mas afinal, quem ou o que são eles?
Pedro: Apenas fanáticos religiosos. Com toda essa coisa acontecendo dos mortos voltarem a vida, eles acham ser o fim do mundo, o apocalipse. Eles só saem à noite, com mantos marrons e as vezes pretos, e sempre com capuz na cabeça.
Adam: Merda. E por que eles capturam pessoas?
Pedro: Eles acham que quem sobreviveu teve uma chance e que devem se converter para continuar vivendo, quem não se converte é sacrificado.
Adam: Loucos.

A porta do porão se abriu e um cara de manto começou a descer pela pequena escada de madeira, e depois ficou parado na nossa frente. Tinha o rosto pálido e uma barba branca.

Homem: Eu sou o Padre João da Nova Ordem. Deus lançou o apocalipse em nós, só os merecedores sobreviveram. E para continuar vivendo sem medo das criaturas do mal que andam lá fora vocês têm que se converter. A Nova Ordem Apocalíptica está tendo a ajuda do Senhor para sobreviver no novo mundo. Quem se converte é bem acolhido, tem alojamento, alimentação e tudo mais. Quem não se converte é oferecido aos céus, para salvação, pois se soltar o não convertido na rua logo depois ele se tornará mais uma criatura do mal.
Adam: Que bela visão do novo mundo.
João: Sarcasmo é um instrumento do mal, jovem. Você é infiel? Você é mais uma das criaturas do mal que estão lá fora?
Adam: Infiel é você matando pessoas inocentes, Deus não tem nada haver com suas ações, você se perdeu. E se eu fosse uma criatura já tinha te mordido.
João: Vocês todos ainda tem tempo. Amanhã na hora do almoço um convertido irá vir aqui perguntar se vocês querem salvação. Quem não quiser será amarrado em postes na praça, para que seu sacrifício nas mãos das criaturas do mal sirvam para garantir a vocês um espaço nos céus.

Ele se virou e foi embora, fechando a porta do porão. Olhei para Pedro e vi que ele estava chorando. A coisa é séria, preciso pensar em algo para me soltar desta cadeira, senão vou virar almoço de zumbi.



Fev 21, '05 - Mistério / Parte 3
Eu estava muito cansado, acabei dormindo depois que aquele homem saiu do porão ontem, acordei e escutei pássaros lá fora, deve ser bem cedo. Olhei para o lado e vi que Pedro também já estava acordado, e parece bem triste.

Adam: Desculpa, acabei dormindo.
Pedro: Tudo bem, só não durmo porque não consigo.
Adam: Ontem enquanto ele falava eu pensei em um modo de me soltar, só que acabei pegando no sono.
Pedro: Sério??? Vamos escapar?
Adam: Calma, fala baixo, eles podem escutar.
Pedro: Desculpa.
Adam: Assim, eles só amarraram nossas mãos para trás e nossa barriga no encosto da cadeira. Os pés estão soltos. Vou me levantar com a cadeira e me atirar de costas no chão, talvez isso irá quebrar a cadeira.
Pedro: Boa.

Me levantei com a cadeira amarrada em minhas costas, ela é pequena e não pesa muito, acho que vai dar certo. Peguei impulso e dei um grande pulo me atirando para trás. Quando cai no chão senti a cadeira se quebrando e uma grande dor nas costas. Consegui me livrar da cadeira mas as mãos continuam amarradas.

Adam: Agora um velho truque que aprendi na polícia.

Estiquei bem os braços para baixo e consegui sentar em cima da corda que amarra as mãos, passei bem devagar por baixo das pernas até sair pela frente dos pés. Sim o velho truque dos filmes de passar as mãos algemadas de trás para frente por baixo dos pés funciona.

Adam: Pronto.
Pedro: Incrível.
Adam: Agora vou desamarrar vocês.

Desamarrei primeiro o Pedro, depois ele me ajudou a acordar e soltar as outras 4 pessoas. Um dos homens disse se chamar Caio, e que a mulher morta no chão era sua irmã. Ele estava irritado demais com esses fanáticos, pedi para ele se acalmar para não chamar atenção. O outro homem se chama Denis, a mulher Lisiane e a garota se chama Vanessa.

Pedro: Adam, escute! São passos, alguém está vindo.
Adam: Vocês todos sentem nas cadeiras e finjam estar dormindo.

Corri para baixo da escada e fiquei lá escondido. A tranca da porta fez um barulho, alguém a destrancou. A porta se abriu e um homem de manto preto desceu, ele segurava uma bandeja com vários pratos. Quando ele chegou na frente das cadeiras e percebeu que todos estavam sem as cordas eu corri e dei um golpe em sua nuca. Ele caiu no chão. Pedro e Caio se levantaram e me ajudaram a amarrar o homem na cadeira. Colocamos uma mordaça nele para não gritar.

Agora era hora de fugir, subimos todos pela escada do porão e saímos em um corredor azul com 3 portas, uma na esquerda, uma na direita e outra no final do corredor. Entrei pela porta da esquerda, é um depósito. Aqui tem várias caixas e muitos objetos. Encontrei minhas armas em cima de um balcão da sala, por sorte carregadas, e minha mochila estava ao lado. Perguntei se alguém sabia atirar, Caio disse que sabia, entreguei a Glock para ele e fiquei com o rifle.

Entrei pela porta da direita quando 2 braços tentaram me pegar, recuei para o lado assustado e virei o rifle rápidamente. O que vi me chocou, tem 3 zumbis presos na parede por correntes. Olhei melhor para a sala e ví que era um pequeno laboratório. Tinha papéis com anotações esquisitas, tubos de ensaio e microscópios. Agora entendo a mordaça nos zumbis, é para não morder esses malucos, eles estão fazendo experiências com os mortos-vivos. Os zumbis estão com vários cortes pelo corpo. Olhei pela mesa e peguei uma das anotações para ler.

"A visão das criaturas não é muito boa. Os sentidos mais aguçados que eles possuem depois que voltam à vida são a audição e o olfato. Qualquer pequeno barulho que ocorra eles logo procuram a fonte, são curiosos. Descobri também que eles não se atacam pois se diferenciam dos vivos pelo cheiro. Fiz uma experiência hoje, coloquei uma boa quantidade de sangue deles em meu corpo, coloquei um manto por cima e fiquei na frente deles. Nada, nem reagiram, ficaram me olhando como se estivessem com dúvida. Eles perderam a inteligência mas não toda, são primitivos."

Voltamos pelo corredor e saímos pela última porta. É um altar, estamos em uma igreja, logo em frente vejo os bancos e depois no final uma grande porta.

Pedro: Essa é a Igreja de São Sebastião.
Adam: Eles ainda tem coragem de usar uma igreja para essas loucuras.
Caio: Vamos embora logo.

Corremos pela passarela entre os bancos e chegamos até a porta, abrimos ela e saímos para a rua. Na rua algo mais assustador. Tinham 6 pessoas amarradas em troncos, estavam mortas a punhaladas. As várias marcas de faca pelo corpo mostram que foram torturadas.

Adam: Droga, o que é isso.
Pedro: O ritual de conversão, quem não se converte para a nova ordem eles matam.
Adam: Loucos. Vamos embora.
Pedro: Venham, vamos correr para minha casa, não fica longe daqui.

Chegamos na casa de Pedro sem nenhum problema. Ajudei Lisiane e Vanessa a se deitarem na cama para descansar. Enquanto isso Pedro, Caio e eu discutiamos sobre como fugir da cidade. Mas Pedro disse que é só cair a noite e eles virão até aqui nos buscar, mas dessa vez para nos sacrificar em um ritual. Pedro disse que eles só saem pela noite, por isso não tivemos problemas para fugir da igreja. Bom, se eles vão vir atrás de nós eu quero dar uma surpresa, vou pensar em algo.

Fev 21, '05 - 4:25 PM - Mistério / Parte 4
O tempo voa, logo será noite e os fanáticos virão até nós. Hoje pelo meio dia eu pensei em uma grande tática e pedi ajuda para Pedro e Caio. Pedi para os 2 irem até um minimercado ou supermercado mais próximo e pegarem tudo que escrevi em uma lista. Enquanto eles foram fazer isso eu peguei a Ranger e voltei até a Igreja.

Tudo estava calmo, parece que eles só se aventuram pela rua de noite. Essa igreja fica em um lugar onde não tem muitos zumbis. Só vi 3 deles pela volta, mas a uma distância que não oferece perigo. As pessoas mortas nos postes já estão cheirando mal. Malditos fanáticos, qual o porquê disso tudo? Matar pessoas inocentes só porque não quiseram fazer parte de uma loucura. Eu poderia ter só saido da cidade e deixado eles para trás, mas eu gosto de dar o troco. Agora eles se meteram com o cara errado. Segui com meu plano e deixei um papel com um recado na porta da Igreja. Nele dizia: "Querem nos pegar?" e logo abaixo o endereço da casa de Pedro.

Voltei para a casa e Pedro já tinha chegado. Ele e Caio conseguiram todos os itens da lista que fiz. Perguntei se Pedro tinha um aparelho de som em casa, ele me trouxe um daqueles portáteis que tocam cds. Peguei o aparelho e um cd e saí para a rua. Atravessei a rua e coloquei o aparelho no muro de uma casa. Coloquei pilhas, um CD e liguei no volume máximo. Peguei a Ranger e levei ela para a rua de trás da casa de Pedro. Voltei rápido para dentro da casa e fechei o portão.

Agora a segunda parte, Lisiane e Vanessa estavam com o primeiro item da lista, os balões de festa. Pedi para os enxer com bastante água. Caio pegou garrafas usadas e fez pequenos coquetéis Molotov, eu ensinei a ele como fazer. Depois Pedro e eu usamos o segundo item da lista para a última parte do plano, mangueiras de jardim nas torneiras da casa. Logo depois que todos fizeram suas partes no plano, nos sentamos na sala de estar para conversar.

Pedro: Okey Adam, fizemos tudo. Agora explica.
Adam: Bom, o som na casa da frente foi para chamar os mortos. Pelos gemidos na rua acho que já devem ter alguns lá foram. Quando acabar as pilhas o som vai acabar e os zumbis que escutaram vao vir até o local, lotando toda a rua.
Caio: Você quer nos matar seu louco! Como vamos fugir?
Adam: Fala baixo, senão eles vão mudar da casa da frente para cá e aí sim vamos ficar em má situação.
Pedro: Então continue explicando.
Adam: Os fanáticos vão ter que se preocupar com os zumbis além de nós.
Pedro: Você leu aquela anotação, sabe que eles podem andar entre os zumbis, e isso é verdade pois eu já vi.
Adam: Sim, por isso as bexigas com água e as mangueiras. Vamos molhar os mantos para tirar o sangue de zumbis que tem neles. Então os zumbis terão um alvo.
Caio: E o molotov?
Adam: Vamos jogar neles também, o manto vai pegar fogo e vão ter que tirar, e no manto que está o cheiro. Se não tirarem os mantos eles vão se queimar, e se tirar são comida de zumbi.
Pedro: Muito bom, ótima idéia cara.
Adam: São 5 e meia, daqui a pouco escurece e eles virão. Lisiane, você e a Vanessa fiquem trancadas no quarto.
Lisiane: Tudo bem. Vamos Vanessa.
Adam: Pedro,Caio e Denis, vocês ficam aqui nas janelas atirando as bexigas e usando as mangueiras.
Pedro: Pode deixar.
Adam: Eu vou ficar no telhado da casa, atirando os molotovs.

Já são 7 horas da noite, está escuro. Abrimos as janelas devagar para não chamar a atenção dos zumbis. Quando olhamos para a rua tomamos um susto, a casa da frente estava tomada, eram mais de 50 zumbis pela rua. A rua como era pequena parecia que estava tendo uma passeata de zumbis. Subi para o telhado da casa e fiquei escondido atrás da chaminé olhando para a rua.

Até que vi dobrando na esquina da rua uma turma de manto preto e capuz, alguns com tochas nas mãos, outros com revólveres e cartucheiras. Eram só 14. Eles caminham devagar talvez para não chamar atenção. Todos pararam e o que vinha na frente deles caminhou mais um pouco até para perto da nossa casa.

Fanático: Eu sou João, líder da Nova Ordem Apocaliptica. Entreguem-se ou serão castigados pelo poder que tenho. Nós somos abençoados, podemos andar entre os amaldiçoados, vocês poderão também se vierem se converter.

Os mortos estão bem em frente dele e parecem confusos. Olham para os lados tentando saber de onde está vindo a voz. Consigo ver que no manto dele tem muitas manchas de sangue. Acendi o molotov, saí de trás da chaminé e atirei no líder. O molovov foi direto no peito dele e explodiu em chamas. O manto começou a pegar fogo, ele gritava muito e não pensou duas vezes, tirou o manto e o jogou longe, queimando um pouco as mãos. Mas se esqueceu de algo, e só percebeu o erro que fez quando escutou uma sinfonia de gemidos em suas costas. Os zumbis tombaram ele no chão e começaram o banquete. Abriram sua barriga com as mãos e se alimentaram dos intestinos, outros queriam o pescoço. Em seguida ele morreu.

Os vários fanáticos olhavam a cena com medo. Três deles ficaram com muita raiva e correram até a frente da casa atirando para o alto em minha direção com seus revólveres. Eu me atirei para trás da chaminé e escutei o barulho dos tiros batendo.

Adam: Agora pessoal!!!

Pedro e Caio apareceram na janela com as mangueiras, e deram um banho muito forte nos três fanáticos. Denis ainda atirou várias bexigas que quando tocavam no corpo deles estourava molhando muito a roupa. Deu para perceber que a água que pingava do manto deles no chão estava vermelha, funcionou, está lavando o manto. Zumbis que estavam na volta do líder sem conseguir um espaço para dar uma mordida olharam para a cena confusos, mas em seguida avançaram para dois deles, que não puderam fugir. Rasgaram os mantos e logo depois a pele. O terceiro vendo tudo tentou correr, só para cair nos braços de mais zumbis.

Os outros fanáticos não pensaram duas vezes e fugiram correndo, cada um por um lado, sem ajudar o outro. É nessas horas de aperto que se ve quem realmente é unido. A rua agora estava cheia dos mortos, alguns fazendo seu jantar nos corpos dos 4 fanáticos enquanto outros tentavam achar um espaço para entrar e conseguir uma mordida.

É hora de partir. Todos fomos para o pátio dos fundos da casa. Pulamos o muro e chegamos na rua de trás. A Ranger está bem ao lado. São 9 horas da noite e já estamos na estrada, voltando para minha cidade. Os amigos no prédio devem estar preocupados com minha demora. Ainda bem que consegui salvar Pedro e o pessoal todo. Eles ajudaram muito esta noite.

Fev 23, '05 - Um dia pesado
No dia em que chegamos fomos muito bem recebidos pelo pessoal do prédio. Todos se apresentaram para os novos moradores. Pedro disse que achou o pessoal bem simpático. Pela noite fizemos uma pequena festa na cobertura do prédio, com direito a muita bebida e diversão. Antonio e Ramirez até se arriscaram em um Karaokê, foi muito engraçado porque Nanuke ficava uivando para os dois. Sara estava muito feliz, dançou bastante com Daniel. Acho os dois um casal muito legal. Antonio fez um festival de piadas, eu nunca ri tanto na vida, e acho que os outros também.

Cintia disse que sabia cantar e que precisava de alguém para tocar um violão, Carlos disse que sabia e os dois tocaram algumas músicas pela madrugada. Admito que fizeram uma boa dupla, tocaram até algumas calmas para dançar, Alessandra gostou pois estava com saudade de mim. Luis que estava estranho durante a festa. Estava parecendo triste, sempre com a cabeça baixa, e não comeu nada. Amanhã vou tentar falar com ele. A festa foi até o sol nascer, todos se divertiram e depois foram dormir, um descanso bem merecido, eu ainda tive tempo para um momento a sós com Alessandra.

O que ontem foi um momento alegre e descontraído, hoje pela manhã tudo mudou para um dia pesado e triste. Luis se suicidou. Bem cedo escutei um grande barulho no corredor entre os dois blocos, que é para os carros irem até a garagem. Fui até a janela e vi o corpo de Luis todo torto e quebrado no chão, uma roda de sangue começava a se formar em sua volta. Ele se atirou da cobertura no 4º andar. Ramirez estava na sacada de seu apartamento e me viu na janela. Fiz um sinal para ele descer.

Chegamos rápido até o local e cobrimos o corpo de Luis. Pelo menos o resto do prédio não viu, é muito cedo. Ramirez e eu levamos o corpo até o terreno vizinho. Cavamos um buraco ao lado da cova de seu filho, o Murilo. Enterramos Luis e colocamos outra cruz feita de madeira para sinalizar que ali tinha alguém. Fizemos um minuto de silêncio e voltamos para o prédio.

Pedi para Ramirez avisar as pessoas sobre a morte de Luis, pois eu não estava com ânimo para isso. Ele disse para eu não me preocupar e ir descansar um pouco, que Carlos o iria ajudar a limpar o sangue do chão. Uma hora depois Ramirez veio até meu apartamento com um papel na mão. Era a nota de suicídio de Luis. Nela estava escrito:

"Desculpas a todos, mas eu não consigo. Esse mundo é muito cruel, tirou meu filho de perto de mim. Não sei como explicar mas essa é uma dor muito grande que eu não estou conseguindo segurar mais. Preciso me juntar a ele novamente, e para isso preciso me suicidar. Antes agradeço a Adam por ter me salvo aquele dia, a Antonio por alguns momentos de alegria, a Cintia pelas comidas, Ramirez pelos treinos, e a todo pessoal do prédio por serem tão amáveis. Adeus a todos, lembrem-se de mim."

O dia ficou pesado pra mim, vou tomar um banho, comer algo e deitar.




Mar 07, '05 - Oportunidade
Eles chegaram, os militares que vinham no navio já estão em Rio Grande, a cidade vizinha. Ramirez veio me contar hoje pela manhã que recebeu o contato por rádio que eles prometeram. Fiquei muito feliz pela notícia, vamos poder sair desse caos que se tornou o país. Eles pediram para nós partirmos logo da cidade. Rio Grande é perto, nem chega a ser 1 hora de viagem.

Ramirez e Carlos avisaram o pessoal para se arrumarem, só levarem poucas roupas, pois mantimentos teria nos tanques. Para levar todos em segurança vamos usar os 2 tanques Urutu que os soldados trouxeram aquela vez, nunca pensei que eles seriam úteis para algo. Antonio me ajudou a arrumar minhas coisas pois ele já tinha levado as suas para o tanque.

Antonio: Depois de meses sobrevivendo vamos embora e deixar tudo isso para trás.
Adam: Você não quer ir?
Antonio: Não é isso, é que já tinha me acostumado com tudo, parece loucura, mas eu já estava achando tudo normal.
Adam: Eu também amigo, eu também.
Antonio: Esse prédio nos protegeu, com o tempo foram chegando novos moradores que também foram se adequando ao lugar. Conhecemos pessoas legais e suas histórias.
Adam: Eu te entendo. Por mais que tudo la fora esteja desse jeito, esse prédio pareceu um acampamento de verão, uma comunidade de amigos sobrevivendo. Claro que com seus momentos tristes, como na semana passada.
Antonio: Sim, e pessoas próximas que perdemos.
Adam: Todos perdemos.
Antonio: Cada um ajudou o outro a superar tristezas. Agora essa notícia parece coisa do destino, parece uma recompensa pelo que fizemos para ajudar pessoas.
Adam: É mesmo.
Antonio: Mas mesmo assim me dá um aperto no coração saber que vou deixar o Brasil.
Adam: Também estou com essa sensação amigo, e não é boa. Mas temos que prezar nossas vidas e pensar no futuro.
Antonio: Você tem razão.
Adam: Vamos lá, estou pronto.

Apertei a mão de Antonio e depois dei um grande abraço. Esse cara foi um grande amigo desde o início. Levei minhas coisas para o tanque e voltei para ajudar Alessandra.

Alessandra: Nossa eu estou muito feliz querido.
Adam: Com essa notícia?
Alessandra: Sim, vamos nos salvar. Você não está?
Adam: Um pouco. É como Antonio me disse agora a pouco, eu já estava me acostumando com a situação.
Alessandra: Credo.
Adam: Sim, parece loucura.
Alessandra: Tudo bem, eu te entendo. Você morava aqui.
Adam: É, parece estranho deixar tudo para trás, mas preciso lembrar que essa é uma ótima oportunidade.

Ela me beijou e depois me abraçou. Não consigo entender o que acontece comigo, é como deixar tudo para trás. Mas preciso ir, também para ajudar as outras pessoas, elas não querem ficar. Eu sempre me guiei pelo bem dos outros, sempre saindo para salvar alguém que precisava. E agora vou deixar o prédio, a cidade, o país para trás, pelo bem das pessoas que estão aqui.

Tudo pronto para partir, os tanques saíram pelo portão e já estão na esquina, Carlos e Ramirez tiraram os carros da barreira para que os tanques pudessem passar, enquanto isso eu voltei para fechar o portão e colocar correntes com cadeado. Fiquei por um momento parado olhando para o prédio e relembrando momentos que passamos nele.

Ramirez: Adam, vamos lá!

Olhei uma última vez para o prédio e depois corri até os tanques. Dentro dos tanques está bem apertado, eu tive que ficar em cima do primeiro tanque junto com Ramirez e Carlos. José estava dirigindo. No segundo tanque Mathias dirigia e em cima estavam Tomas e Roger. O plano dos soldados de ficarem em cima dos tanques é para atirar em zumbis que tentarem alguma coisa.

Passamos pela avenida cheia de zumbis, eles batiam com as mãos nos tanques e vinham caminhando atrás de nós, mas não acompanhavam a velocidade um pouco maior dos tanques. Depois seguimos pela Av. Duque de Caxias, no bairro Fragata, até outra rua onde leva para a estrada. Daqui a uma hora estaremos em Rio Grande, lá iremos até o porto para encontrar os militares.



Mar 07, '05 - 3:20 PM - Rio Grande
A viagem pela estrada foi tranquila. Tinha alguns carros quebrados pelo caminho e também alguns zumbis mas só no inicio. A velocidade dos tanques é boa, o único ponto baixo da viagem foi ficar no teto do tanque por causa de não ter mais espaço dentro. Peguei muito vento na cara.

Estamos na entrada de Rio Grande, passamos pelo monumento de boas vindas que parece um arco, foi feito com grandes pedras. São duas ruas de paralelepípedos e com uma pequena linha de grama separando as duas. Dos lados de cada rua muitas casas e lojas. Tem muitos zumbis por aqui, eles tentam perseguir os tanques, mas não conseguem. Tomas e Roger no segundo tanque estão atirando em alguns, para não formarem uma multidão vindo atrás de nós.

Entramos pelo meio da cidade, passando por edifícios se misturando com casas antigas, uma cidade que eu lembro ser bem calma e tranquila quando tudo era normal, mas agora apenas mais uma que sucumbiu como todas as outras. Passamos pela praça Tamandaré, que é considerada a maior praça do interior do Estado. Antes tão bonita, agora com zumbis junto ao monumento sobre Bento Gonçalves.

Quase perto do Porto de Rio Grande começamos a escutar um barulho que vinha crescendo a cada momento. Quando chegou mais perto percebemos que estava vindo pelo céu. Olhamos para cima e vimos um helicóptero se aproximando. Passou bem baixo por nós e um soldado estava naquela porta onde fica uma metralhadora. Ele fez um sinal com a mão, apontando para o Porto. Na cauda do helicóptero dizia Marinha. São eles, os militares de Fernando de Noronha.

Seguimos o helicóptero até o Porto. Chegamos e o que vimos não foi muito agradável, a rua estava tomada por zumbis que batiam no portão de entrada para o Porto. Podemos ver 3 helicópteros pousados em um pier logo bem longe atrás do portão. Lá estavam alguns soldados em pé olhando para nós. Acho que eles estão com medo dos mortos no portão. O barulho das aeronaves atraiu todos esses zumbis para o local. Alguém entrou em contato com o rádio do tanque.

Voz: Pessoal dos tanques, identifiquem-se.
Ramirez: Somos os sobreviventes que vocês vieram resgatar.
Voz: Ah, os do prédio. Bem, a boa notícia é que os helicópteros são para vocês, e a má é que o único meio de vocês entrarem aqui é pelo portão. E da pra perceber a situação dele.
Ramirez: Deixa comigo, quando todos sairem do portão venham abrir rapidamente.
Voz: Okey.

Ramirez: Adam, você que sabe como tirar multidões deles de um lugar, pode fazer denovo?
Adam: São muitos, mas vou tentar.
Ramirez: Carlos, pode ir com ele?
Carlos: Sim.

Carlos e eu descemos do tanque e corremos da esquina para a frente do portão enorme com muros amarelos que cercam os galpões do Porto. Atrás do portão o caminho para os piers, e no primeiro pier que consigo ver desta distância há 3 helicópteros pousados. Mas o problema é que o portão está bem guardado por uma massa de zumbis, deve ter mais de 100.

Adam: Carlos, o plano é atirar feito louco neles, chamar toda a atenção possível e começar a recuar. Temos que atrair eles para outra rua.
Carlos: Legal.
Adam: Agora!!!

Começamos a atirar na legião de zumbis que estava ali, cada um tentando passar por cima do outro para chegar até o portão e talvez conseguir entrar por ele, para chegar nos soldados e ter uma boa refeição. Aos poucos os olhares deles se desviaram para nós, a cada tiro disparado o foco de atenção dos mortos mudava para nós dois. Recuamos um pouco e eles começaram a caminhar em nossa direção, um por um, enquanto os tiros derrubavam vários de seus companheiros de caça. Conseguimos abater talvez uns 35 do número total, mas aquela onda de cabeças apodrecidas continuava grande, era como um arrastão.

Carlos e eu corremos para uma rua pequena ao lado, com depósitos antigos para cargas do Porto. Os mortos continuam em nossa perseguição, com seus braços levantados e gemidos de fome misturados com de raiva por ter o almoço em sua frente mas não em suas mãos. Já passamos em boas quadras desta pequena rua, e os mortos fecharam ela toda com seu grande número, só vejo aquelas filas vindo em nossa reta. Zumbis de todo tipo, uma cidade de zumbis. Todos com aqueles olhos brancos nublados, esses malditos gemidos me dão calafrios. Descarreguei outro pente de balas na horda e pedi para Carlos me seguir.

Dei a volta na quadra pela rua de trás e saí em outra esquina bem de frente ao Porto, agora com o portão limpo, só com 4 zumbis que ficaram para trás. Carlos deu conta deles. Alguns soldados vieram correndo e abriram o portão. Os dois tanques entraram e seguiram até o pier. Eu ia ajudar os soldados a fecharem o portão quando algo que vi me fez ficar com muito medo, fiquei gelado e com o corpo tremendo. Os zumbis não caíram no plano, estão voltando todos pela rua em que os levei, e estão caminhando com mais vontade.

Adam: Vamos fechem isso logo!

O nervosismo dos soldados fizeram eles emperrarem o maldito portão. Saí correndo em direção dos helicópteros e os soldados também. Olhei para trás e uns 6 já estavam entrando pelo portão. Eu gritei bem alto para todos.

Adam: LIGUEM OS HELICÓPTEROS, RÁPIDO!!!

Vi as pessoas saindo dos tanques e com medo no rosto, olhei para trás novamente e vi toda a manada de zumbis já dentro do portão, caminhando atrás de mim, a apenas 30 metros. Acho que não vai dar tempo, o medo cada vez toma mais conta de mim. As hélices dos helicópteros já começaram a rodar, os soldados estão ajudando todos a embarcar. Um soldado fez sinais para nós irmos em direção do terceiro helicóptero, os outros 2 já estavam cheios. Corri como nunca havia corrido antes e consegui chegar.

Quando subi o primeiro e o segundo helicóptero já tinham partido. Os mortos já estavam a 20 metros e cada vez caminhando com um pouco mais de velocidade, talvez a vontade de se alimentar esteja os deixando loucos.

Piloto: Droga, deu pane nessa merda.
Adam: Porra, faz essa droga funcionar logo!
Piloto: Estou tentando!

O helicóptero não queria sair do chão, os zumbis já estavam a 10 metros e com os braços bem levantados em nossa direção, alguns com a boca bem aberta loucos para apreciar nossa carne. Abri fogo contra eles e Carlos também, mas não parava o avanço dessa massa. Eles passavam por cima do corpo dos que caíam com os tiros, eles querem muito nos devorar.

Piloto: Consegui, segurem-se!

Senti o helicóptero tremer e vi ele saindo do chão, foi quando senti uma mão pegar meu pé, um deles conseguiu chegar em mim. Dei com a coronha do rifle no rosto do zumbi e ele caiu com os dentes quebrados no chão. O helicóptero já estava a uma boa altura e começou a se distanciar do pier. Lá embaixo a legião de zumbis olhava para cima, vendo a refeição ir embora.

Nunca senti tanto medo antes, me encostei na parede de metal do helicóptero e fechei os olhos para descansar. Ainda sinto a adrenalina correndo pelo corpo, preciso me acalmar, estou bem e as pessoas estão salvas. Agora vou conhecer o navio e quem está nele. Carlos deu uma batida no meu ombro e eu respondi que estava tudo bem. Mas que dia.


Mar 12, '05 - Alto Mar
Estamos todos no navio da Marinha, sãos e salvos. Estou em uma cabine especial que o General Hamilton me ofereceu. Meus amigos do prédio estão nessa ala do navio também, para não nos separarmos. Aquele dia da fuga no helicóptero ainda está em minha cabeça, foi muita adrenalina e o coração batendo demais, o medo de virar comida de zumbis. O helicóptero nos levou até alto mar, uns kilômetros longe da costa, lá estavam vários navios. O que chamava mais atenção era o maior, A12 São Paulo, um navio aeródromo, um porta-aviões.

Pousamos nele e reagrupamos com todas as pessoas do prédio que os outros 2 helicópteros tinham deixado ali. Abracei Alessandra, Sara, Antonio e Ramirez. Carlos cumprimentou seus colegas soldados, Tomas, Roger, Mathias e José.

Ramirez: Adam, olha o tamanho desse navio.
Adam: É muito grande. Quantos aviões e helicópteros estão por aqui.
Antonio: Você ainda não viu os outros navios que estão pela volta.
Adam: Que legal.

Foi quando escutamos aplausos, olhei para os lados e vi que todos soldados pela volta, os pilotos que nos resgataram, pessoas que estavam por ali também, ajudantes, marinheiros, enfim, todos estavam batendo palmas e olhando para nós. Eu não entendi o porquê disso mas vi que um senhor de cabelos brancos e com um uniforme da marinha com insígnias e distintivos vinha em minha direção.

Senhor: Olá, eu sou o General Hamilton, é um prazer ter vocês aqui.
Adam: Oi, eu sou Adam, prazer.
Hamilton: O prazer é meu em conhecer o homem que aguentou meses em uma cidade cheia de zumbis e ainda conseguiu ajudar esse grande número de pessoas.
Adam: Muito obrigado.
Hamilton: Essas palmas são para vocês. O maior número que já resgatamos.
Adam: É mesmo?
Hamilton: O maior foi um grupo de 24 em Salvador. Vocês são 38, junto com o cachorro.
Adam: Hahaha.

Depois de uma pequena apresentação para os soldados à bordo, e também para outros sobreviventes, tivemos um ótimo jantar no refeitório do navio. Parece que somos conhecidos por aqui, quando eu passo por alguém eles me cumprimentam com um grande sorriso. Ontem perguntei para o General o motivo disso, ele me contou que algumas histórias que aconteceram no prédio já circulam pelo navio, e que o pessoal me considera um grande soldado.

A cabine em que estou não é grande como era meu quarto no prédio, mas é confortável. Já estou começando a sentir saudades de lá, mas era um lugar perigoso, zumbis por toda volta, agora no mar é sem perigo. Alessandra ficou comigo pela manhã, depois almoçamos todos juntos no refeitório e cada um contou o que estava achando do navio e do pessoal aqui. Antonio contou que várias pessoas perguntam pra ele sobre nossas aventuras pela cidade. Eu acho que o pessoal está exagerando. Ramirez contou que o General conseguiu integrar ele e os outros soldados do nosso grupo nas operações dentro do navio. Sara e Daniel estão felizes com a paz no navio. Saber que não tem zumbis por perto deixa todos bem aliviados.

Fui até a pista de decolagem dos aviões para pegar um ar, é muito confinado o interior do navio, muitos corredores pequenos. Aqui em cima é enorme, um visual muito bonito, o azul da água em nossa volta, um ar puro. Vi Cintia parada um pouco mais em frente, Iago brincava com Nanuke, parecem felizes. Caminhei até ela para conversar um pouco.

Adam: Oi Cintia.
Cintia: Adam. Tudo bem?
Adam: Sim, vejo que você está contente.
Cintia: É claro. Tirando o barulho dos soldados sempre trabalhando, isso aqui é uma tranquilidade. Não ter que se preocupar mais com uma criatura daquelas é muito bom.
Adam: Eu concordo, e só de ver o pequeno Iago feliz já fico de acordo com essa nova vida.
Cintia: Ainda não esqueceu do prédio, não é?
Adam: Sim, mas acho que mais algum tempo e já entro nesse novo ritmo.
Cintia: Vou torcer por você Adam, você merece muito, te devo minha vida.
Adam: Que nada Cintia.

Não entendo porquê todos me agradecem sempre, não gosto muito de atenção assim, só fiz o que qualquer outro homem de boa índole faria caso visse alguém em perigo. Mas sinto que essa admiração que as pessoas sentem por mim é um sentimento puro e verdadeiro, isso é bom. Agora vou descansar um pouco, o General Hamilton disse que queria falar comigo sobre algo sério, estou preocupado.



Mar 14, '05 - O Pedido
Além do navio A12, o porta-aviões, há outros navegando junto. Um navio de transporte de tropas que está abrigando pessoas também, um navio tanque que carrega combustível e outras coisas, três fragatas com tropas e sobreviventes, e um navio de desembarque de carros, que leva tanques e outros veículos militares.

Estou pegando um ar aqui na pista dos aviões. Ver o azul do mar me acalma. Os dias tem sido muito entediantes dentro do navio. Muito jogo de carta entre Ramirez, Antonio, Carlos e eu. Temos autorização para ver filmes na sala com projetor e ouvir música em nossas cabines. Mas mesmo com todas essas atividades ainda sinto tédio. E o que me resta é ficar relaxando aqui olhando para o mar.

Mas o tédio vai acabar, ontem falei com o General Hamilton, ele me fez um pedido. Ele me explicou a demora para chegar aqui no sul, é que ele organizou vôos de reconhecimento por outros estados para achar mais sobreviventes. E ele quer organizar algumas no Rio Grande do Sul, já que é o último estado. E o pedido foi para eu liderar uma das equipes, pois ele acha que sei muito sobre zumbis. Pensei por um momento e acabei aceitando, mas com a condição que eu monte minha equipe, ele concordou. Escolhi Ramirez, Carlos e Tomas para o time, convivi com eles no prédio e sei que são capazes. Nossa primeira missão é daqui a pouco, o helicóptero já está sendo ligado.

2:30 PM
Estamos sobrevoando com o helicóptero a cidade de Santa Vitória do Palmar. Ramirez está na beirada da porta do helicóptero olhando para as ruas, prédios, e casas, tentando perceber alguma atividade. A única coisa que eu vejo são os mortos dominando a cidade, tudo é deles, são os donos, cada vez sinto mais ódio dessas criaturas. Difícil é pensar que todos esses zumbis um dia já foram os habitantes dessa cidade, felizes com suas vidas, agora vagando atrás de carne fresca.

3:20 PM
Chuí não está diferente, só eles pela cidade. Antes essa cidade era muito movimentada, porque faz fronteira com o Uruguai. Muitos Free Shops para se gastar um bom dinheiro. Agora quem olha as vitrines são os mortos.

Adam: Ramirez.
Ramirez: Sim?
Adam: Você acha que vamos conseguir achar alguém com esses vôos?
Ramirez: Tenho fé amigo.
Adam: Vendo essas cidades por cima, com todos esses zumbis dominando as ruas, não tenho muita esperança.
Ramirez: Bom, nossa cidade era igual e conseguimos sobreviver, deve haver alguém por aí que também conseguiu.
Adam: Eu espero que sim.
Carlos: Não desista, vamos achar alguém, nosso Estado é muito grande.
Tomas: É isso aí, e quando acharmos alguém vamos descer matar alguns cadáveres fedorentos e salvar a pessoa.
Carlos: É.
Adam: Hahaha, okey.

4:10 PM
Recebemos um comunicado da Equipe 2 que está com missões no norte do Estado. Eles acharam sobreviventes em Torres. Nós estamos agora em Herval, uma cidade pequena que não devia ter mais de 5.000 habitantes. Depois de várias voltas não encontramos uma alma viva. Até que vi Ramirez levantar o rifle.

Adam: O que foi?
Ramirez: Ali! A lata de lixo virou!

Olhei para onde ele me apontou e vi que uma lata de lixo estava rolando, ela antes estava encostada na esquina de um Bar. Ficamos na expectativa para ver o que era, e da esquina aparece um zumbi com camisa xadrez ensanguentada, o rosto pálido, com mordidas na orelha e nos braços. Ele chutou o latão novamente, e de dentro saiu correndo um gato, que depois sumiu entre duas casas do outro lado da rua. O zumbi ficou olhando por um momento e depois caminhou para outro lugar.

Ramirez: Droga.

O piloto do helicóptero, que se chama Marcos, disse que o combustível estava acabando, era hora de voltar para o navio. Deixamos a cidade e seguimos em direção ao litoral.

Pousamos no porta-aviões e fomos bem recebidos pelos soldados. Eles aplaudem equipes que voltam sem baixas, mesmo que não achem sobreviventes. Alessandra estava lá me esperando, com uma expressão de preocupada, me deu um forte abraço e um longo beijo. Peguei minhas coisas e estava indo para minha cabine mas o General me parou para conversar.

Hamilton: Como foi Adam?
Adam: Infelizmente nada.
Hamilton: Entendo.
Adam: Cidades totalmente tomadas pelos zumbis.
Hamilton: Mas é melhor saber que elas estão vazias vendo com os próprios olhos, não é?
Adam: Sim, por isso aceitei as missões, para sair do país sabendo que não ficou ninguém para trás.
Hamilton: Muito bem.

Me despedi e segui para a minha cabine. Fui até o vestiário, tomei um banho rápido e depois jantei no refeitório. Uma boa noite de sono agora vai ser ótimo. Amanhã é outro dia e mais missões, espero ter sorte.



Mar 16, '05 - Ilusões
Ontem eu tive uma pequena discussão com Alessandra. Ela pediu para eu sair da equipe de busca, mas recusei dizendo que eu queria ajudar na procura. Ela ficou irritada me disse algumas coisas e saiu da cabine. Estou um pouco triste com isso, mas tenho certeza que uma hora ela vai entender. Olhei para o relógio e vi que estava na hora de sair para mais um vôo. Peguei minhas coisas e corri até a pista. Encontrei os rapazes lá.

Carlos: Ae Adam, pronto para mais uma?
Adam: Olá. Sim, estou.
Ramirez: O dia promete ser longo.
Tomas: Ainda bem que almocei, com a barriga cheia é mais fácil.
Adam: Hahaha.

O piloto ligou o helicóptero e pediu para todos entrarem. Alguns minutos depois já estavamos sobrevoando a primeira cidade do dia, São José do Norte. Infelizmente não encontramos nada, seguimos para Jaguarão. A situação lá não era diferente, estava tomada por zumbis. Sobrevoamos por mais tempo e nenhum sinal, resolvemos ir para outra cidade. Sarandi é um pequeno município, mas bem conhecido por sua água mineral que era consumida em todo Estado, um bom supermercado tinha que ter garrafas de água mineral Sarandi. Uma cidade bem simples e calma, bem, seria calma se não tivesse tantos zumbis nela.

Ramirez: Opa, eu vi algo na janela daquela casa!
Adam: Tem certeza?
Ramirez: Sim.
Piloto: Vão descer?
Adam: Vamos.

Peguei meu rifle e coloquei nas costas, Glock na perna, faca na outra, estou pronto. Carlos e Tomas também checaram seus rifles, Ramirez pegou uma pistola 9mm e colocou na cintura. O piloto desceu o helicóptero um pouco, está a 15 metros do chão. Jogamos a corda e Ramirez desceu por ela primeiro, logo depois Tomas, Carlos e por final eu desci. O helicóptero saiu do local para não atrair zumbis com o barulho, quando precisarmos dele chamamos com uma granada de fumaça amarela.

Estamos bem no meio de uma rua, uma rua de pedras, carros antigos parados nas calçadas, casas bem antigas e desgastadas, e junto desse cenário um bando de zumbis, pela frente e por trás de nós. Ramirez correu em direção de uma casa branca, e nós fomos com ele, atirando em alguns zumbis que se aproximavam. Ele chegou na porta da casa e com um forte chute a arrombou. Pedi para Tomas e Carlos ficarem na porta atirando nos zumbis que chegassem mais perto. Ramirez entrou pela casa e se esqueceu de fazer um reconhecimento antes.

Entrei para ir atrás dele e vi que já estava na sala da casa, por todo canto tinha grandes estantes com livros, uma poltrona de descanso, uma TV bem antiga em uma mesinha de madeira. Ramirez olhava para a janela, em pé na frente de um grande sofá amarelo.

Adam: O que foi?
Ramirez: Droga, eu juro que vi alguém acenar por esta janela.

Foi quando um corpo se levantou de trás do sofá perto de Ramirez, era uma senhora com parte do rosto faltando e o olho pendurado para fora. Ela botou as mãos no pescoço de Ramirez e se atirou por cima dele, o fazendo cair e quebrar uma mesa de madeira com as costas, e ela por cima indo morder a testa de Ramirez. Corri e dei um chute na cabeça da zumbi, ela rolou para o lado dando gritos irritantes.

Ramirez: Deixa comigo.

Ramirez pegou a pistola colocou na cabeça da zumbi e atirou, o chão foi pintado com o vermelho forte. Ele suspirou e caminhou para a porta da casa. Eu dei uma rápida vistoria no local e não achei nada, voltei para porta e Carlos já tinha jogado a granada de fumaça, o barulho do helicóptero estava bem perto. Zumbis vinham pelos dois lados, muitos deles, os tiros de fuzil chamaram a atenção. Ajudei a atirar em alguns, eles se aproximavam mais, mas ainda estavam em uma distância sem perigo. O helicóptero chegou e jogou a corda. Eu subi primeiro, depois Ramirez, Carlos e Tomas. Quando Tomas estava subindo um zumbi o pegou pelo pé, e puxava com todas as forças tentando dar uma mordida.

Adam: Tomas, se vire um pouco para a direita!

Tomas fez o que falei e consegui ter visão do zumbi. Mirei a testa do zumbi com meu rifle e atirei, ele caiu como um saco de areia para trás e Tomas conseguiu subir. Verifiquei a perna dele e estava tudo bem, nenhuma mordida ou arranhão. Era hora de voltar para o navio, já estava escurecendo.

Pousamos no navio e logo que descemos do helicóptero eu pedi para ninguém falar sobre o que tinha acontecido, para não assustar as pessoas. Eles concordaram e foram para seus aposentos descansar. Se a Alessandra descobre o susto que tomamos hoje, vai ficar uma fera comigo. Vou para minha cabine relaxar um pouco e depois jantar no refeitório.

Mar 18, '05 - Pouso Forçado
Me sinto mais alegre hoje, tudo por causa da Alessandra, ela veio me pedir desculpas. Disse que era só preocupação comigo, e ela já estava meio irritada com outras coisas então acabou se excedendo. Passamos a noite juntos. De manhã fui até o refeitório e encontrei Antonio. Ele tinha um prato com 4 sanduíches nas mãos, perguntei se ele ia levar isso para uma tropa, ele riu e respondeu que era para ele e mais alguém. Deve ser uma mulher, fico muito feliz por ele, é um sujeito legal que teve muitas tristezas.

Sara veio na minha cabine passar um tempo comigo, Nanuke veio junto e não parava de lamber minha mão, adoro esse cachorro. Fomos até a sala de projeção para ver algum filme. Logo nossa diversão foi interrompida. Era o General Hamilton, ele queria falar comigo.

Hamilton: Preciso de um favor Adam, urgente.
Adam: Fale.
Hamilton: Estou mandando um helicóptero de apoio para a equipe 2 que está em Santa Maria. Eles encontraram sobreviventes, mas são muitos zumbis para uma equipe só atuar. A equipe de apoio já tem 3 integrantes precisamos do quarto, você aceita ir?
Adam: Claro, vou pegar minhas coisas.
Hamilton: Obrigado Adam, sabia que podia contar com você.

Me despedi de Sara e ela sentiu o que era, ficou triste e com medo. Pedi para ela se acalmar e falei que eu ia voltar logo. Corri para minha cabine e coloquei meu uniforme, peguei minha mochila, faca, Glock e a M4A1 com silenciador. Subi pelos decks até a saída para a pista de vôo, vi um helicóptero funcionando e com soldados dentro, fui até lá.

Levantamos vôo e partimos para o litoral. Depois de alguns minutos já estavamos quase perto de Santa Maria. Os soldados são legais, conversaram comigo sobre zumbis e como se sair bem contra vários deles. Perguntei se eles sabiam sobre a boa audição dos zumbis, eles falaram que sim. Isso é bom sinal, mostra que eles sabem enfrenta-los, mesmo assim sinto falta de Ramirez, Carlos e Tomas, a minha equipe. De repente uma luz vermelha começou a piscar dentro do helicóptero, parece sinal de emergência.

Piloto: Pessoal, temos falha na hélice lateral!
Soldado 1: Ohhh droga.
Adam: E agora?
Piloto: Vou fazer um pouso forçado! Tem um campo aberto em frente.

Coloquei um cinto e me segurei bem forte no banco. Senti o helicóptero tremer e depois uma batida forte, foi o encontro com o solo. O helicóptero deslizou por um tempo e tombou para o lado fazendo a hélice de cima se destroçar e voar para longe, a carcaça começou a rolar, um dos soldados bateu com a cabeça no teto. O helicóptero rolou mais algumas vezes até parar.

...

O susto passou e consegui me mover, tirei o cinto e caí para o lado, a carcaça do helicóptero está tombada para a esquerda. Levantei e vi que o piloto estava morto, os soldados estão atirados no canto. Toquei e balancei cada um deles para ver se acordavam, nenhum deu sinal de vida. Joguei minha mochila pela porta do helicóptero, subi pelo banco e saltei para fora. Olhei para a carcaça e fiquei 1 minuto em silêncio pelos soldados. Droga, eles eram jovens como eu, é uma grande perda. O cinto salvou minha vida.

Olhei para os lados e só vejo campo aberto, a grama está um pouco alta, alguns morros no horizonte, e uma pequena floresta em frente. Acho que estou perdido. Coloquei a mochila nas costas e fui até as árvores que vi em frente. Sentei no chão e me encostei em uma delas, abri a mochila e vi que tinha 1 garrafa de água e algumas rações militares de comida, os MREs.

Comi uma delas e tomei um pouco de água, preciso racionar pois não sei quando vou encontrar algo. Depois de um pouco de descanso me lembrei que vi uma estrada não longe daqui quando estava voando no helicóptero, passamos por cima, só não sei para qual lado ir agora. Tive uma ideia, o helicóptero antes de cair deslizou, deve ter ficado uma marca no chão, é só seguir para o sul dessa marca e vou chegar na estrada. Ótimo, vou tentar.




.
.
...



Nenhum comentário:

Postar um comentário