terça-feira, 7 de setembro de 2010

Nova dieta de vacas promete reduzir flatos

30/06/09 - 05h30 - Atualizado em 30/06/09 - 05h30

Nova dieta de vacas promete reduzir flatos que aceleram aquecimento global
Principal iniciativa é aumentar presença de ômega-3 na dieta bovina.
Resultados podem ser de 30% menos gases-estufa vindos do rebanho.

Ruminando em uma recente manhã ensolarada, Libby, uma vaca Holstein, pausou para fazer sua parte na batalha contra o aquecimento global: emitir um arroto aromatizado. Libby, com seis anos de idade, e as outras 74 vacas leiteiras da fazenda de Guy Choiniere estão no centro de um experimento para determinar se uma mudança na alimentação pode ajudá-las a expelir menos metano, um potente gás retentor de calor, associado às mudanças climáticas.

Desde janeiro, vacas em 15 fazendas de Vermont têm seus depósitos de grãos adaptados para incluir mais plantas como alfafa e linhaça – que, ao contrário do milho e da soja, imitam as gramas da primavera. Os animais evoluíram, há muito tempo, para comê-las. De acordo com a última medição, em meados de maio, a liberação de metano pelo rebanho de Choiniere caiu 18%. Enquanto isso, a produção de leite se manteve a mesma.

O programa foi iniciado pela Stonyfield Farm, fabricante de iogurte, nas fazendas de Vermont fornecedoras de leite orgânico. Choiniere, criador de gado leiteiro da terceira geração, que virou orgânico em 2003, disse sentir que o resultado seria bom, mesmo antes de receber os resultados. "Elas estão mais saudáveis", disse ele, referindo-se às suas vacas. "A pele está mais brilhosa e o hálito, mais doce."

Adocicar o hálito das vacas é uma questão urgente, afirmam cientistas do clima. Esses animais possuem bactérias digestivas no estômago, que fazem os bichos expelirem metano, o segundo gás retentor de calor mais significativo, depois do dióxido de carbono. Apesar de ser muito menos comum na atmosfera do que o dióxido de carbono, sua capacidade de retenção de calor é 20 vezes maior.

Inventário
Frank Mitloehner, professor da Universidade da Califórnia que coloca vacas em tendas cercadas e mede "erupções" dos animais, afirma que uma vaca normal expele – grande parte através de arrotos, mas também por flatulência – de 90 a 180 quilos de metano por ano.

Em um cenário mais amplo, com o crescimento da produção mundial de leite e carne previsto para o dobro nos próximos 30 anos, as Nações Unidas consideraram os rebanhos como uma das ameaças de curto prazo mais sérias para o clima do planeta. Um relatório de 2006 analisando o impacto ambiental das vacas no mundo todo, incluindo o desmatamento de florestas para a criação de pastos, estimou que esses animais podem se tornar mais perigosos para a atmosfera da Terra do que caminhões e carros juntos.

Nos Estados Unidos, onde a produção média de leite por vaca mais que quadruplicou desde a década de 1950, menos vacas são necessárias para produzir um litro de leite. Assim, o total de emissões de gases do efeito estufa pela indústria leiteira americana, por galão, é relativamente baixo em relação às emissões de países menos industrializados. A Dairy Management Inc., braço promocional e de pesquisa da indústria de laticínios, afirma corresponder a apenas 2% das emissões do país de gases retentores de calor – a maior parte é o metano das vacas.

Ainda assim, Erin Fitzgerald, diretora de consultoria social e ambiental da Dairy Management, afirma que a indústria quer evitar a possibilidade de que os clientes possam igualar produtos lácteos a, digamos, uma mina de carvão. A instituição iniciou o programa da "vaca do futuro", buscando formas de reduzir as emissões totais da indústria em 25% até o final da próxima década.

Análise completa
O professor William Wailes, chefe do departamento de ciência animal da Universidade do Colorado, envolvido no projeto da vaca do futuro, afirma que os cientistas estão analisando tudo, da genética – vacas que, naturalmente, expelem menos metano – a adaptações das bactérias no estômago das vacas. No curto prazo, disse Wailes, mudanças na alimentação têm sido mais promissoras.

A Stonyfield, que começou como um braço de levantamento de fundos para uma escola sem fins lucrativos de laticínios orgânicos e ainda tem uma tendência progressista, tem trabalhado no problema há mais tempo que a maioria.

Nancy Hirshberg, vice-presidente de recursos naturais da Stonyfield, autorizou uma avaliação completa do impacto de sua empresa nas mudanças climáticas, em 1999, que se estendeu às emissões de alguns de seus fornecedores. "Fiquei chocada quando recebi o relatório", disse Hirshberg, "pois ele apontava a produção de leite como nosso principal impacto. Não era a queima de combustíveis fósseis para o transporte e a embalagem, mas a produção de leite. Ficamos no chão". A partir daquele momento, Hirshberg começou a buscar uma forma de fazer as vacas emitirem menos metano.

Uma solução potencial foi oferecida pelo Grupo Danone, fabricantes franceses do iogurte Danone e da água Evian, que comprou ações majoritárias da Stonyfield, em 2003. Cientistas que trabalham com o Grupo Danone estavam estudando por que suas vacas eram mais saudáveis e produziam mais leite na primavera. A resposta, determinaram os cientistas, é que o pasto da primavera é mais rico em ácidos graxos ômega-3, capazes de ajudar o trato digestivo das vacas a operar de forma mais suave.

O milho e a soja, alimentos que, graças à ajuda governamental pós-guerra, se tornaram dominantes na indústria leiteira, têm um tipo completamente diferente de estrutura de ácido graxo. Quando os cientistas começaram a colocar concentrações maiores de ômega-3 na comida das vacas durante todo o ano, os animais ficaram mais robustos, o trato digestivo funcionava melhor e as vacas produziam menos metano.

Na França
A nova alimentação é usada em 600 fazendas na França, segundo Julia Laurain, representante da Valorex SAS, empresa francesa produtora de aditivos alimentares e que trabalha com a Stonyfield para trazer o programa aos Estados Unidos.

A razão pela qual os fazendeiros gostam de milho e soja é que eles são uma fonte abundante e barata de energia e proteína – e isso pode levar a alguma resistência a substituí-los por outros elementos. No entanto, Laurain afirmou que o linho custa menos que a soja, apesar da flutuação do preço dos grãos. Mesmo assim, o linho, cultivado no Canadá, é geralmente aquecido para liberar o óleo em sua semente e conceder o máximo benefício à vaca. Por enquanto, é caro, pois não existe fábrica para processar o linho nos Estados Unidos, e ele está sendo enviado da Europa.

Se o programa-piloto fosse expandido, disse ela, uma instalação de aquecimento seria construída nos Estados Unidos, e os custos de processamento seriam reduzidos. Laurain sustenta que, mesmo que a alimentação tenha preço mais alto, ela permite economia de custos, pois a produção de leite aumenta cerca de 10% e os animais crescem mais saudáveis, vivem mais e produzem leite por mais tempo.

Os resultados da redução de metano têm sido muito mais significativos na França do que o piloto de Vermont – cerca de 30% –, pois o alimento é distribuído aqui não só para fazendas orgânicas, onde os animais já comem pasto pelo menos metade do ano, mas também para grandes fazendas industriais.

Fazendas do programa da Stonyfield, como a de Choiniere, também dependem do método da Valorex para medir a redução de metano, que envolve a análise de ácidos graxos no leite das vacas. Wailes, da Universidade do Colorado, acredita que o método para analisar a redução das emissões de metano é promissor. "Acredito que isso é totalmente possível", disse ele.

Entretanto, Choiniere afirma que, independente dos resultados dos testes, ele planeja continuar com o novo sistema de alimentação. "Elas estão mais saudáveis e felizes", disse ele, referindo-se às suas vacas, "e é isso que realmente importa para mim".

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