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segunda-feira, 18 de julho de 2022

Eterna juventude - Cientistas conseguem rejuvenescer em 30 anos a pele de uma mulher

Eterna juventude - Cientistas conseguem rejuvenescer em 30 anos a pele de uma mulher

O relógio biológico das células de uma mulher de 53 anos foi retrocedido até a idade de 23 anos com uma técnica similar à usada para clonar a célebre ovelha Dolly.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Cérebros em miniatura criados em laboratório ajudarão a entender neandertais


Cérebros em miniatura criados em laboratório ajudarão a entender neandertais


Com o objetivo de estudar as diferenças entre o homo sapiens e o homem de neandertal, cientistas estão se preparando para criar "cérebros em miniatura" em laboratório. 

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Cientista alega ter encontrado sinais de universo paralelo


Cientista alega ter encontrado sinais de universo paralelo


Uma pequena amostra de um universo paralelo colidindo contra o nosso foi descoberto por astrônomos. Cientistas alegam ter identificado sugestivos sinais dos confins do espaço que indicariam que o tecido do nosso universo está sendo rasgado por um outro muito diferente. 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A Vitoriosa Trama dos Polímeros - Tecnologia


A VITORIOSA TRAMA DOS POLÍMEROS - Tecnologia



O esforço da Engenharia Química na criação de fibras sintéticas melhores que as naturais deu resultado. A nova geração de tecidos tem propriedades que superam as do algodão, da seda e da lã.

Na tarde do dia 23 de abril do ano passado, milhares de pessoas vibravam com os carros de Fórmula 1 que corriam pelo Grande Prêmio de San Marino, numa das menores e mais antigas repúblicas do mundo, encravada nos montes Apeninos da Itália. De repente a vibração do público se transformou em sobressalto. O piloto austríaco Gerhard Berger perdeu o controle de sua Ferrari numa suave curva para a esquerda e bateu no muro de concreto armado, a 270 quilômetros por hora. O bólido vermelho capotou por uns 100 metros e em seguida começou a queimar. Enquanto as chamas cresciam, o público engolia em seco, temendo que Berger estivesse sendo consumido pelo fogo. Depois que os bombeiros extinguiram o incêndio e retiraram o piloto do carro, viu-se que ele sobreviveu quase ileso.
Sua vida esteve literalmente por um fio, isto é, por uma fibra chamada Nomex ou Clevyl, conforme o fabricante, que tem excepcional resistência ao fogo e com a qual se faz o tecido dos macacões que os pilotos vestem. Tecidos leves e muito resistentes como este, confeccionado com uma fibra sintética criada em 1967 pela multinacional americana Du Pont, são o produto acabado de uma tecnologia relativamente jovem, a Engenharia Química, que nasceu no final do século passado, foi descoberta pela indústria têxtil logo em seguida e já proporcionou uma variedade de artigos definitivamente incorporados à vida moderna, a começar do náilon. Esta nova geração de fibras parece representar o limite das possibilidades atuais do setor-depois de um percurso e tanto.
Na Antigüidade, com efeito, o homem só tinha nos pêlos de animais, como a lã da ovelha, e nas fibras vegetais, como o algodão, a fonte de matérias-primas para a confecção de roupas.
Depois, os chineses exploraram a fibra firme e ao mesmo tempo suave que o bicho-da-seda produz e com a qual constrói seu casulo. Desde então, até os tempos modernos, ficou sem resposta a questão de como reproduzir e melhorar as tramas naturais. Todas as fibras que existem na natureza são feitas de longas cadeias de moléculas alinhadas no sentido do comprimento - os polímeros. A celulose, por exemplo, é um polímero composto de milhares de moléculas de açúcar.
No início dos anos 20 alguns cientistas começaram a estudar essas cadeias de moléculas, descobrindo as propriedades que as mantêm tão unidas. A conclusão foi imediata: é possível criar fibras sintéticas, bastando juntar em seqüência as moléculas certas, uma após a outra. "Os primeiros pesquisadores das fibras começaram a manipular as moléculas da celulose como se fossem contas coloridas, unidas por um cordão para fazer um colar ao gosto do freguês", lembra o professor Atílio Vanin, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo. Foi assim que em 1922 se criou o rayon, uma seda artificial à base de celulose. Essas primeiras vitórias levaram à produção de fibras completamente isentas de produtos naturais.
A mais conhecida delas, o náilon (poliamida), foi descoberta pelo químico W. H. Carothers, nos Estados Unidos, em 1934. O produto revolucionou a indústria têxtil porque pela primeira vez reunia propriedades tão distintas como elasticidade e resistência, suavidade ao tato e secagem quase instantânea. Qualquer fibra é formada por outras inumeráveis fibras microscópicas. Mas nem sempre elas estão alinhadas. Na maioria das fibras naturais o emaranhado é irregular. Por isso não são muito fortes. Só quando as moléculas estão bem alinhadas é que se pode explorar ao máximo a força física que as mantém unidas. Nas fibras sintéticas, este fator de resistência pode ser controlado.
Depois de trabalhar com polímeros feitos de moléculas de fibras naturais, os cientistas descobriram que os hidrocarbonetos, extraídos do petróleo, são mais fáceis de manipular-e bem mais baratos. Destes, os mais simples são o etileno e o propileno, nos quais a coesão entre as moléculas é quebrada com calor. Unindo 10 mil moléculas de etileno se obtém um polímero chamado polietileno. Da mesma forma que de 50 mil a 200 mil moléculas de propileno formam o polipropileno. "A configuração dessas cadeias moleculares determina as propriedades dos polímeros", explica Rudy Pariser, que foi diretor de pesquisa da Du Pont americana.
Polímeros do tipo do polietileno formam, como dizem os químicos, uma massa cristalina, translúcida e termo-plástica, isto é, quando aquecidos adquirem a forma pastosa. Esta é transformada em fios espremendo-a através de uma fiandeira - uma máquina muito parecida com a que se faz macarrão. Quando o fio sai pelos orifícios da fiandeira, ainda é um amontoado desordenado de filamentos moleculares, a exemplo das fibras naturais. "Para obter uma fibra resistente é preciso estirá-la, porque só assim o emaranhado se converte em uma estrutura quase cristalina", explica Ulrich Schwair, diretor de produção da Hoechst do Brasil. A maior parte dos tecidos no mercado é formada por uma mescla de fibras naturais e sintéticas. O que favorece a criação de dois tipos básicos de estruturas: amorfas e soltas, de um lado, e cristalinas e fortes, de outro. A combinação entre ambas dá ao tecido a resistência e a elasticidade desejadas.
"Conforto é a meta dos laboratórios de pesquisa das grandes indústrias de fiação", informa o químico Jean Alfred Eisenzimmer, da Rhodia, em São Paulo. Desde que foram recrutados pelas indústrias, os engenheiros químicos têm buscado um fio sintético que seja tão macio como o algodão e a lã, mas que os supere em matéria de resistência, absorção de umidade e custo. Uma das melhores novidades é um fio sintético mais fino que uma fibra de algodão. Conhecido pelo nome de Trevira micronesse, está sendo lançado na Europa pela multinacional alemã Hoechst, que deve lançar fios de microfilamentos no mercado brasileiro a partir deste mês de junho. O polímero do micronesse é o poliéster, cujas moléculas são formadas por anéis de benzol, um hidrocarboneto hexagonal, alinhados com átomos de carbono.
Para se ter uma idéia de como reage a estrutura dessa cadeia, imagine-se uma roda de crianças que se dão as mãos e não querem se soltar. "É uma união que se fortalece quando se tenta rompê-la", ressalta Rex Delker, gerente do departamento de desenvolvimento da Hoechst do Brasil. O mesmo acontece quando se estica a fibra de poliéster e os anéis de benzol se juntam entre si. Quando as moléculas estão a 10 mícrons (milésimos de milímetro) umas das outras, as forças laterais de coesão entre elas alcançam seu ponto máximo - da mesma forma que, ao se tentar abrir a roda das crianças, elas se agarram com mais força, trocando as mãos pelos braços. Esse é o motivo pelo qual o poliéster não enruga.
Apenas 2 quilos de pasta de poliéster produzem um filamento que poderia dar a volta no planeta. Basta observar a medida técnica usada pelas indústrias, o decitex: 75/30 decitex, por exemplo, significa que com 75 gramas de pasta de poliéster se produzem 10 mil metros de um fio composto com a união de 30 fibras microscópicas. O micronesse pode alcançar a medida de 75/128 decitex.
Uma tecelagem com esse fio, numa trama que lembra a da palha num artefato de junco, produz uma superfície cujos poros são 50 vezes menores que o diâmetro de um fio de cabelo, ainda assim o suficiente para a passagem de uma molécula de suor em forma de vapor.
"Daqui para a frente, os laboratórios de pesquisa dificilmente criarão um novo polímero", prevê Antonio Buriola, gerente de fibras importadas da Du Pont do Brasil. "As inovações acontecerão na tecnologia que vai aperfeiçoar o uso dos polímeros já existentes." Uma prova de que isso já está acontecendo é o Tyvek, que combina as melhores qualidades da película plástica, do material têxtil e do papel. Na verdade, o Tyvek é um não-tecido, feito de milhões de minúsculas fibras de polietileno prensadas da mesma forma que as fibras de celulose das quais se origina o papel. Sua superfície,  portanto, filtra mais de 99 por cento das partículas maiores de 0.5 mícron, sendo uma excelente proteção contra a passagem de pós químicos, como chumbo, fibra de vidro ou amianto. Roupas feitas com esse material já são usadas por empregados de usinas nucleares ou pessoas que manipulam produtos tóxicos em geral. Outra possibilidade é utilizar como matéria-prima o Teflon, o mesmo material antiaderente das frigideiras. Esse hidrato de fluorcarbono é resistente ao calor, ao ácido e à ruptura, tanto que se pode compará-lo a um metal nobre como a platina. Suas propriedades resultam da força extra que o flúor dá às cadeias de carbono. Ele é laminado até se conseguir uma membrana de centésimos de milímetro de espessura. Mesmo possuindo 1,4 milhão de poros em cada milímetro quadrado, preenchidos por ar, é mais estável que o aço.
Um teste demonstrou que um tecido de Teflon é capaz de sustentar uma coluna de água de até 80 metros de altura, sem que escape uma gota sequer. Como os jardineiros que melhoram as rosas realizando enxertos com talos de distintas espécies, também os engenheiros químicos podem combinar diferentes matérias-primas. Com um aparelho laser de alta energia, por exemplo, soldam outras cadeias moleculares nos pontos de união das moléculas dos polímeros, ampliando as propriedades dos materiais compostos dessa forma. O polímero adquire uma configuração que se pode comparar à espinha de um peixe: a coluna dorsal é a fibra principal, enquanto as espinhas laterais são as substâncias acrescentadas. Estas podem ser até mesmo essências aromáticas, se se quiser que o tecido tenha sempre, digamos, um frescor de lavanda. A próxima grande inovação no uso das fibras sintéticas para vestuário sairá dos laboratórios da Secretaria da Agricultura dos Estados Unidos. Trabalhando com substâncias politérmicas-muito sensíveis a pequenas mudanças de temperatura-, seus técnicos impregnaram um tecido comum de poliéster com um composto chamado polietilenglicol. A mistura alcança um ponto próximo ao da fusão quando absorve calor superior a 20 graus Celsius, o que num tecido acarreta uma expansão na malha dos fios. Mas, quando é posta a uma temperatura abaixo de 20 graus, a mistura se solidifica e emite o calor que antes havia absorvido, isto é, a malha se contrai e aquece o corpo de quem a está vestindo. Impregnada com essa substância, portanto, uma camiseta pode se converter em uma peça de vestuário apropriada a qualquer temperatura.
Como segurança também é conforto, os engenheiros químicos preocupados com a resistência dos tecidos buscaram um fio sintético que suportasse também o fogo. A roupa que salvou a vida do piloto Gerhard Berger é feita de uma poliamida aromática que a Du Pont vende como Nomex e a Rhodia como Clevyl. Um tipo diferente de polímero é o polibenzimidazol, ou PBI. Quando se põe fogo num tecido como esse, a quantidade de nitrogênio liberada inibe a ação das chamas, evitando que elas se propaguem. Um tecido antifogo ainda mais revolucionário é o Trevira CS, que a Hoechst acaba de lançar. É feito com um polímero fosforado, que atua como um escudo contra o calor. O fósforo reage ao fogo absorvendo o oxigênio, sem o qual não existe combustão.
Mas as vantagens dessas fibras resistentes ao fogo não se destinam apenas ao corpo humano. Atualmente são feitos com elas tecidos para forrar móveis de hotéis, escolas, escritórios e até objetos de uso de bebês - medida de segurança obrigatória nos Estados Unidos no Japão e em alguns países da Europa. Seu emprego em aviões já mostrou o que vale. A 31 de agosto de 1988, um Boeing 727 da empresa americana Delta caiu em Dallas. Embora um incêndio tenha consumido boa parte do avião, os passageiros sobreviveram graças aos novos tecidos usados na forração dos assentos, que retardaram a ação do fogo, dando tempo para que as pessoas pudessem escapar.
Não obstante a busca das indústrias químicas e têxteis por um tipo de tecido que funcione cada vez melhor de acordo com as necessidades de quem o vista, tudo indica que o próximo passo marcante nesse campo será a fabricação de uma roupa biodegradável. "Todos os fios sintéticos são resistentes a traças, bem como a outros parasitos, ao contrário das fibras naturais", lembra Delker, da Hoechst do Brasil. "É por ai que a Biotecnologia vai fazer sua entrada no setor." Espera-se que em futuro bem próximo seja possível confeccionar um tecido que, ao ser descartado, sofra com o tempo um processo natural de destruição, ou uma biodegradação, como acontece com as fibras naturais. Então, quem começou copiando a natureza, como a Engenharia Química, terá superado seu modelo ao imitá-la no que tem de melhor.

Vestindo a terra sob medida

Uma das mais recentes aplicações das fibras sintéticas são os chamados geotecidos. Feitos de polímeros muito resistentes, como o poliéster, são usados para diversos fins. Na agricultura, servem para evitar a erosão, deixando passar a água enquanto seguram a terra. Na construção civil, mantêm no lugar morros e barrancos, evitando que caiam sobre estradas e pontes. Em algumas ferrovias na Europa foram colocados logo abaixo dos trilhos para amortecer o ruído e impedir deslizamentos. Os habitantes da ilha espanhola de Tenerife, na costa noroeste da África, foram beneficiados por uma especial ousadia: um forte tecido de poliéster impermeabilizante foi usado para revestir o interior de um vulcão extinto, transformando-o numa supercaixa d7rsquo;água, abastecida constantemente pelas chuvas.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Bicho do Homem - Bicho da Seda



BICHO DO HOMEM - Bicho da Seda



Domesticado há milhares de anos, submetido a incontáveis cruzamentos, o bicho-da-seda não mais existe em estado natural: é um morto-vivo, incapaz até mesmo de reproduzir-se em liberdade.

O cultivo do bicho-da-seda e da abelha existe há milênios. Esses dois tipos de inseto quase nada têm em comum além de terem sido intensamente multiplicados pelo homem. Seus modos de vida também são tão divergentes que o longo processo de domesticação a que foram submetidos praticamente não afetou as abelhas; mas, por outro lado, transformou os bichos-da-seda em verdadeiros monstrengos, tornando-os incapazes de sobreviver em liberdade. O drástico processo degenerativo que os atinge começou quando os primitivos habitantes da Ásia Central descobriram que os fios produzidos pelas lagartas de uma espécie de mariposa eram excelentes para a confecção de cordões e tecidos.
A partir de então - e durante 4 mil anos - as lagartas tecedoras ou bichos-da-seda passaram a ser incessantemente recolhidas da natureza e introduzidas em recintos destinados à proliferação, locais onde encontravam com fartura a sua única fonte de alimento: folhas de amoreira. Naqueles ambientes artificiais, completavam todo o seu ciclo vital (em que o cobiçado casulo de seda representa apenas a fase intermediária entre a lagarta e o inseto adulto). Em todas as borboletas e mariposas a reprodução se dá por meio do acasalamento na fase adulta, pois na fase de larva (como lagartas ou taturanas) elas são desprovidas de órgãos sexuais.
Os bichos-da-seda não escapam à regra. Suas lagartas, segundo desenhos chineses elaborados há mais de 3 mil anos, transformavam-se em mariposas de grandes asas esbranquiçadas e esvoaçavam em torno das lanternas à noite. Elas foram catalogadas cientificamente como Bombix mori. No entanto, aquela antiga descrição chinesa ficou bastante distanciada do que realmente são hoje os bichos-da-seda em sua forma adulta. Atualmente, não existem em estado nativo e se desconhece a época em que desapareceram das florestas da China. E possível que isso tenha ocorrido há mais de 2 mil anos.
Pouco a pouco, introduzidas em grandes quantidades nos viveiros de criação, as lagartas do bicho-da-seda passaram a ficar protegidas de seus inimigos naturais. O mesmo aconteceu com as mariposas que, a partir de então, não precisaram mais escapar dos ataques de pássaros ou morcegos. Isso deve ter sido o bastante para que os genes responsáveis pelo exercício das funções fundamentais de autodefesa do animal deixassem de desempenhar papel decisivo na sua sobrevivência.
Ao mesmo tempo, foram criadas pelos sericicultores novas raças de lagartas que atendessem exclusivamente aos interesses da produção da seda. Isso era conseguido mediante cruzamentos artificiais que selecionavam os indivíduos com tendência a fornecer apenas maior quantidade e melhor qualidade em seus fios. Quando a indústria da seda atingiu finalmente seus objetivos, apurando as raças que lhe assegurariam um notável rendimento, os bichos-da-seda já haviam sido transformados em animais degenerados. Todas as atuais mariposas descendentes das antigas Bombix mori, que agora só podem ser encontradas em poder dos sericicultores, dos quais, fiéis operárias, são desajeitados insetos com pesados abdomes e asas atrofiadas, incapacitados para o vôo e, portanto, sem condição alguma de se reproduzirem novamente em liberdade, pois, entre as mariposas, tanto as manobras de acasalamento como de postura dos ovos são tipicamente aéreas. Assim, o bicho-da-seda foi transformado num verdadeiro morto-vivo na listagem atual das espécies; extinto em sua terra de origem, mas mundialmente preservado em cativeiro.
A melhor hipótese até agora formulada para explicar o desaparecimento do bicho-da-seda em estado selvagem é a que admite que tenha acontecido um tipo de "contaminação genética" das populações selvagens por parte das domesticadas. Era difícil conceber que os chineses houvessem erradicado por completo aquele inseto, principalmente nas regiões montanhosas onde era tão comum. Teria sido impossível, por exemplo, capturar toda uma população de Bombix mori sediada ao longo dos vales escarpados onde floresciam as amoreiras silvestres, o alimento natural das lagartas.
Depois de vários séculos de cultivo, as populações domesticadas já haviam sofrido incontáveis cruzamentos induzidos pelos criadores. Mas, assim mesmo, para os indivíduos que conseguissem escapar, deveriam surgir chances de acasalamento com seus parentes selvagens. Nesses encontros, os genes responsáveis pela degeneração da espécie passavam para as populações selvagens. O resultado óbvio de tais contaminações se revelaria, mais cedo ou mais tarde, como uma total inaptidão às rigorosas condições da luta pela sobrevivência. Assim, pouco a pouco, os bichos-da-seda passaram a percorrer o desastroso caminho da extinção.
Se, por um lado, o verdadeiro bicho-da-seda foi banido da natureza pela mão do homem, por outro acabaram por ser encontradas, em várias partes do mundo, muitas outras espécies de lagartas tecedoras, em estado selvagem, que ainda não foram devidamente aproveitadas para a obtenção da seda em escala industrial. Já estão relacionadas quarenta espécies produtoras de seda em todo o mundo; quatro delas vivem em território brasileiro. O principal motivo pelo qual ainda não foram utilizadas pelos sericicultores é o pouco investimento que habitualmente se faz em pesquisa. Provavelmente, seria necessário que durante alguns anos essas espécies recebessem especial atenção, algo que foi concedido ao bicho-da-seda durante séculos, para que surgissem novas e promissoras indústrias de seda.
Hoje, as seleções artificiais responsáveis pelo aprimoramento genético de animais e plantas são concluídas com muito maior rapidez do que há 4 milênios, quando os chineses se preocuparam em caprichar nas qualidades de seu bicho-da-seda. Um relacionamento biológico coloca, por exemplo, o gênero de mariposas conhecido como Antheraea quase no nível de grande produtora de seda das tradicionais Bombix. Pelo menos na Índia, esse tipo de mariposa já é responsável por uma notável indústria de seda montada sobre o que ali se denomina mariposa do tussah.
Os fios tecidos por suas lagartas são considerados de qualidade inferior aos produzidos pelas Bombix, não só pela coloração mais parda como também pela menor resistência. Mas isso não impediu que a Índia chegasse a faturar 10 milhões de dólares anuais nesta década só com a participação de indústrias tipicamente artesanais, que trabalham com os conhecimentos adquiridos ao longo de várias gerações em sociedades tribais. Atualmente, mais de 100 mil famílias se ocupam da fabricação do tussah, que serve para a confecção de um tecido muito difundido com o nome de shantung. Aproximadamente 1 milhão de famílias encontra emprego na indústria do shantung.
A distribuição geográfica das mariposas do gênero Antheraea se estende por todo o sudeste da Ásia e noroeste da Austrália, saltando depois para a América, desde o sul do Canadá até a Colômbia e uma pequena parte da Amazônia brasileira. As florestas que abrigam as populações da Antheraea estão sendo dizimadas para abrir espaço a pastagens e fornecer madeira de lenha, duas atividades menos lucrativas que a da produção de seda bem orientada numa mesma área. Aqui no Brasil apenas uma das quatro espécies de bicho-da-seda foi experimentada em cultivo.
A primeira notícia que se conhece da existência de seda brasileira data de 1810 e se refere a "uma boa seda produzida por um bicho indígena", provavelmente a Rothschildia aurota, vulgarmente conhecida por borboleta-espelho devido às quatro placas transparentes que possui nas asas. A resistência dos fios da aurota é superior à de muitas espécies da Antheraea, mas a tecelã brasileira perde para as demais porque enrola de maneira muito irregular a seda em torno do casulo e com isso impossibilita um perfeito desfiamento. Ainda assim, existem estudos para o aprimoramento de raças mais viáveis de bichos-da-seda brasileiros. Uma das grandes vantagens desse cultivo seria a sua integração com as plantações de mandioca, mamona, cajueiro, pessegueiro ou laranjeira, pois as lagartas se alimentam de todas essas plantas.

A seda verde da China.

A história da seda e dos bichos que a produzem está repleta de surpresas. A última delas aconteceu há pouco mais de uma década num território situado no noroeste da China, a Manchúria. Ali, junto às margens de um lago, foi encontrada uma nova espécie de bicho-da-seda que apresenta a notável característica de tecer seu casulo com fios de coloração esverdeada. O fio verde, que a princípio pareceu representar uma desvantagem frente ao exigente mercado da seda, acabou se revelando uma grande qualidade daquelas lagartas chinesas. Além de sua resistência superior à do fio tradicional, a seda verde conquistou de saída um lugar de destaque por enriquecer a indústria com novas possibilidades de combinações de fios em tecidos decorados.
Considerando a milenar história do cultivo da seda, a descoberta da nova espécie de lagarta tecedora ainda pode ser considerada recente. E, possivelmente, o comércio da seda verde ainda não atingiu a expressão que poderá conquistar no futuro. Na América do Sul, dentro de uma extensa região que compreende o noroeste da Amazônia, vivem algumas espécies de bichos-da-seda em estado selvagem. Talvez em breve tenhamos a surpresa de vê-los incluídos entre os mais cobiçados produtores de fios de seda do planeta.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Mundo de Jeans - Comportamento

MUNDO DE JEANS - Comportamento



De um tecido rústico para cobrir barracas, surgiu a roupa mais universal já inventada pelo homem. Adotadas pela juventude, as calças jeans tornaram-se símbolo de uma nova maneira de viver.

O ano é 1853. Começam as hostilidades entre o Império Otomano e a Rússia, que desembocarão na guerra da Criméia. Giuseppe Verdi compõe os acordes finais da ópera La Traviata. Uma nova Constituição é promulgada na Argentina. A seringa hipodérmica para injeção subcutânea acaba de ser usada pelo médico escocês Alexander Wood. No Brasil, o marquês de Paraná organiza o Ministério da Conciliação, o Paraná separa-se de São Paulo e o barão de Mauá supervisiona os estudos para a primeira estrada de ferro. Nos Estados Unidos, caravanas cruzam sem cessar os territórios indígenas, em direção ao Oeste, onde fervilham as escavações de minas e os sonhos de riqueza. É a corrida do ouro.
Só naquele ano, a sedução do ouro despeja 33 mil pessoas na cidade de São Francisco, na Califórnia, aumentando a população para 78 mil habitantes. Há ouro, mas falta quase tudo. As mercadorias vindas do Leste custam até cinco vezes mais caro. No meio desse tumulto, chega à cidade um judeu alemão de 24 anos chamado Claude Levi Strauss, que desembarcara ainda criança na América para trabalhar com um cunhado. O camelô Levi Strauss traz mercadorias que no Oeste são gêneros de primeira necessidade - toldos para carroças e um tecido rústico para cobrir barracas.
Um mineiro, os bolsos cheios de pepitas, aproxima-se do vendedor: "O que você tem aí?" Ao ver os artigos, faz uma careta: "Não é disso que preciso. Quero calças para o trabalho. Nenhuma delas resiste. É impossível encontrar uma que dure". Levi Strauss não se abala. Põe o tecido destinado às barracas debaixo do braço e vai com o mineiro até um alfaiate. Pouco depois, seu freguês sai de lá com calças novas. Diz a lenda que, à noite, devidamente embriagado, o mineiro gabava-se nos bares de ter as calças mais resistentes do Oeste. Acabava de nascer algo ainda melhor - o jeans, ou, simplesmente, o mais universal tipo de roupa já inventado pelo homem, símbolo e companhia de movimentos que transformaram os costumes e o modo de pensar de milhões de pessoas neste século.
Feito originalmente para durar, o jeans suporta até hoje um interminável envelhecimento. Nos seus 135 anos de história, já foi moda, resistiu à erosão própria à moda, pareceu ter morrido e continua aí, movimentando uma indústria que costura bilhões de dólares pelo mundo afora, ignorando fronteiras geográficas, regimes políticos, diferenças de classe, sexo, idade e religião. Desde que o homem passou a se vestir não só para proteger o corpo, mas também para exibir sua posição social, jamais houve roupa capaz de passar uma mensagem tão bem-acabada de igualdade.
Nesse tempo, o jeans tornou-se uma forma de expressão - linguagem intimamente identificada com a cultura popular moderna. Depois de conquistar o Oeste norte-americano e estabelecer-se nas lavouras e fábricas, foi adotado pelos beatniks, os chamados rebeldes sem causa dos anos 50 - encarnados no cinema por James Dean e Marlon Brando -, e esteve, sucessivamente, com os hippies que pregavam a paz e faziam o amor ao ar livre; nas marchas de protesto contra a guerra do Vietnã e nos movimentos de contestação que sacudiam as universidades nos anos 60.
"O jeans é uma roupa-memória. Ele carrega abertamente a sua história e se deixa envelhecer", teoriza o sociólogo francês Daniel Friedmann, que publicou recentemente Une histoire du blue-jeans. Mas hoje em dia não se pode associar o jeans a um código único. A liberdade de combinações em torno dele é tanta que se transformou em elemento-base para uma série de estilos. Assim, é usado por tipos tão diferentes como o jovem surfista gênero Kadu Moliterno, o intelectual que freqüenta festivais de cinema e o yuppie que administra empresas.
No princípio o jeans não era azul, mas de uma cor entre o bege e o marrom-claro, pois essa era a cor da fazenda original, fabricada na cidade italiana de Gênova. O próprio nome jeans, por sinal, vem de Gênova, com as devidas adaptações e erros de pronúncia. Mas isso durou pouco. Logo, Levi Strauss adotou um tecido ainda mais resistente e mais flexível que o italiano para costurar calças compridas. Era uma espécie de estopa bem trançada, de algodão, fabricada na cidade francesa de Nîmes - daí denim. Essa fazenda era tingida com índigo, uma tinta vegetal azul conhecida séculos antes de Cristo.
O uso das tachinhas de cobre nos bolsos também foi resultado de um acaso. Em 1870, o alfaiate Jacob Davis, judeu nascido na Letônia, trabalhava perto de São Francisco, fabricando mantas para cavalos e tendas para barracas. Freqüentemente, ouvia os fregueses reclamarem de que os bolsos de seus macacões não resistiam ao peso das coisas que carregavam. Isso lhe deu a idéia de prender os bolsos com a mesma tacha de cobre que usava para prender as correias dos cavalos às mantas. O sucesso foi enorme. Com medo de ser passado para trás por algum imitador, ele procurou Levi Strauss e, juntos, patentearam a invenção.
A união de Levi Strauss e Jacob Davis não poderia ser mais bem-sucedida. No final de 1873, eles haviam produzido 1800 dúzias de peças. No ano seguinte, 5 875 dúzias. Nessa época, o jeans Levi Strauss já tinha as costuras duplas e os dois arcos pespontados nos bolsos de trás - que representavam as montanhas Rochosas norte-americanas - em fio cor de laranja para combinar com a cor de cobre das tachas. Depois de dezoito anos de bons e leais serviços, em 1890 expirou a patente para a fabricação da calça modelo 501 - o número do primeiro lote de tecido importado por Levi Strauss - e os concorrentes tomaram de assalto o mercado. Mas, a essa altura, a parte do leão dos lucros da companhia já nem vinha do jeans, embora ele continuasse a ser fabricado.
Foi a crise econômica de 1929, nos Estados Unidos. que transformou a 501 em imitação de calça de trabalho: com a crise, que derrubou os preços do boi, os grandes fazendeiros do Oeste abriram suas propriedades ao turismo e os ricos americanos do Leste embarcaram nessa nova onda de lazer. As butiques chiques de Nova York passaram a encomendar a 501. E suplementos de moda ensinavam os turistas a "levar roupas velhas ou comprar um par de macacões Levi´s".
Mas o jeans ainda não estava na moda - era usado para temporadas no campo, portanto numa situação especial. Foi em maio de 1935 que um lance do departamento de publicidade da Levi Strauss fez do jeans a roupa típica de um folclore, o símbolo de uma moda. Num anúncio publicado na revista Vogue - uma das mais elegantes dos Estados Unidos já naquela época -, duas damas do Leste passeiam num rancho vestidas com calça Levi´s. Sobre o desenho, lê-se: "O chique do Oeste foi inventado pelos cowboys, e se você esquecer este princípio estará perdida".
O anúncio conquistou fregueses e despertou ainda mais a concorrência. No ano seguinte, pela primeira vez em toda a história do vestuário, a marca da confecção aparece no lado externo da roupa - em vez de ser costurada, discretamente, no interior. Para diferenciar-se dos competidores, a Levi´s resolveu costurar no bolso traseiro sua célebre etiqueta vermelha. Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, outro lance da publicidade elevou o antigo macacão de trabalho a símbolo de ascensão social. Não se sabe por que os alunos do segundo ano de uma universidade do longínquo Estado de Oregon resolveram adotar o jeans como emblema de sua condição, proibindo o uso aos calouros.
Com isso, o direito à roupa passou a representar ali uma espécie de rito de passagem - não só um privilégio, mas uma distinção. Se a crise de 29 foi um presente para o jeans, a Segunda Guerra Mundial foi seu passaporte para a fama. A produção da calça 501 tornou-se nos Estados Unidos "indústria essencial": só os operários que trabalhavam para a indústria da defesa tinham direito a ela. "Para equipar nossos combatentes, a Marinha precisa de grandes quantidades suplementares dessas roupas. Vossos esforços para produzirem-nas são tão vitais para nós quanto os dos operários que fabricam munições de guerra", escreveu, numa carta dirigida a Levi Strauss, o contra-almirante W.B. Young, chefe da Intendência da Armada.
O jeans invadiu a Europa no dia seguinte, por assim dizer, ao da vitória dos Aliados, na primavera de 1945. As primeiras lojas que vendiam excedentes americanos de guerra foram abertas, mas a oferta de calças não era suficiente para atender à demanda. Assim, junto com as recém-inventadas meias de náilon para mulheres e os cigarros Lucky Strike, Camel e Chesterfield, o jeans passou a ser um dos artigos mais procurados no florescente mercado negro que se estabeleceu na devastada Europa do pós-guerra. Enquanto isso, nos Estados Unidos, a Levi´s acaba com os botões da frente, imitando a Lee, que substituíra pelo zíper. As tachas de cobre maciço são trocadas por outras, apenas folheadas de cobre.
A desmobilização dos soldados aumenta a clientela do jeans. Ela irá crescer vertiginosamente na década seguinte, acompanhando o salto no aumento da população norte-americana, em conseqüência do período de prosperidade que se seguiu ao fim da guerra. Mas nada nem ninguém fez o jeans tornar-se o que é como o ator James Dean. No célebre filme Juventude transviada, ele vestia Levi´s e representava um personagem símbolo dos jovens da periferia das grandes cidades, que levavam uma vida desesperadamente monótona em meio ao conforto material e ao vazio social e afetivo. A morte de James Dean, em 1955, num desastre de carro, transformou-o numa trágica figura romântica.
A partir de então, e durante quase vinte anos, as palavras jeans, jovem e contestação não mais se separariam. O começo da década de 80, no entanto, deu a impressão de anunciar a morte do jeans. Em 1979, o surgimento do stone washed - tecido envelhecido e desbotado artificialmente por meio de pedras - fez com que o velho jeans se apresentasse como algo obsoleto. Por volta de 1982, os sinais de decadência pareciam definitivos. As lojas foram tomadas por calças confeccionadas com tecidos semelhantes ao do jeans, mas muito mais leves.
O azul cedeu lugar a cores tão diversas como o ocre e o branco. Apareceu de tudo: calça baggy, com botão, sem botão, com bolso, sem bolso, com passadores nas pernas, elásticos na cintura. O culto do corpo jogou nas ruas os agasalhos para jogging. Nos Estados Unidos e na Europa as vendas de jeans caíram e os anúncios desapareceram das revistas e emissoras de TV. Mas, num par de anos, o blue-jeans começou a renascer, ostentando desta vez as mais prestigiadas griffes e com uma variedade de modelos e padrões capaz de satisfazer o gosto de todo tipo de consumidor. Não será tão cedo, ao que tudo indica, que o jeans deixará de ser a roupa universal.

Jeans também é cultura.

O sociólogo francês Daniel Friedmann teve seu primeiro encontro com uma calça jeans aos 13 anos de idade. "Eu era escoteiro e resolvi ir às reuniões usando jeans, em vez de botar o uniforme", lembra ele. "Isso de certa maneira me valorizava, me tornava diferente dos outros." De lá para cá, Friedmann não largou mais suas calças velhas, azuis e desbotadas. É com elas que, aos 42 anos, passeia por Paris em companhia da mulher e dos dois filhos ou atravessa os compridos corredores que o levam até a sala de trabalho, no Instituto de Pesquisas e Estudos das Sociedades Contemporâneas, órgão ligado ao Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) do governo francês.
Ali, em meio a dezenas de outros cientistas sociais, ele se dedica a estudar o comportamento na sociedade atual. Em fins de 1981, teve a idéia de escrever um livro sobre o blue-jeans. Na época, ele se encontrava na Califórnia fazendo uma pesquisa sobre a moda das novas técnicas de psicoterapia, como a bioenergia e a gestalterapia, que pipocavam por toda a costa Oeste dos Estados Unidos. Friedmann se interessou, também, pela história do judaísmo no Oeste norte-americano - e foi aí que topou com a figura de Levi Strauss, o inventor do jeans. Daí para o jeans propriamente dito foi um passo. "Descobri que ninguém havia pesquisado a fundo seu significado na cultura contemporânea", diz o sociólogo. "Achei que esse era um aspecto cultural de nossa história que merecia ser estudado."
Ao mesmo tempo, ele interessou a Editora Ramsay em publicar um livro a respeito do assunto. Lançado recentemente o produto do seu trabalho - Uma história do blue-jeans - já vendeu 6 mil exemplares na França. Embora tenha escrito 380 páginas, Friedmann acha que ficou faltando falar das virtudes mágicas e terapêuticas atribuídas ao índigo - a tinta usada para tingir o jeans - pelas antigas civilizações que o utilizaram. Ele acredita que a cor azul das calças jeans foi um fator decisivo para seu sucesso: "Séculos antes do jeans, já havia tendência ao azul no vestuário, suplantando o vermelho, mais usado anteriormente".

No país da "calça Lee".

Jeans no Brasil é coisa séria: 68% de todo o vestuário fabricado no país. Cerca de 100 milhões de peças são vendidas por ano, o que torna o Brasil o segundo maior mercado de jeans do mundo - os Estados Unidos são o primeiro. Em 1987, a indústria brasileira faturou 1 bilhão de dólares, dos quais 200 mil com exportações. De trinta a quarenta modelos chegam às lojas todo ano, cinco dos quais emplacam. E tem mais: o Brasil é o único país onde se pode comprar o tecido denim índigo a metro, para ser transformado em calças, camisas, saias ou vestidos.
Foi uma longa trajetória desde 1948, quando a Roupas AB lançou a primeira calça de brim azul, a Rancheiro. A novidade não agradou muito: o brim era duro demais. Numa época em que as festas ainda eram embaladas ao som açucarado de Ray Conniff e as moças de boa família usavam banlons, vestidos leves de saia rodada ou calças justas de helanca, o tecido das "rancheiras" era no mínimo grosseiro. Aquele Brasil de 55 milhões de habitantes era mesmo muito diferente do atual: mais gente morava no campo que nas cidades. E nem no Rio ou em São Paulo, com seus pouco mais de 2 milhões de pessoas, os jovens tinham a importância de hoje como consumidores e fazedores de modas. O jeans teria que esperar.
Em 1956, a posse de Juscelino Kubitschek na presidência e sua promessa de fazer cinqüenta anos em cinco põem no ar um clima de mudanças. A construção de Brasília e a implantação da indústria automobilística mudam a face do país. Naquele ano, a Alpargatas lança a Far West, a "calça que resiste a tudo", como diziam os anúncios. O forte do jeans ainda era o trabalho, mas a calça já começava a acompanhar o lazer dos jovens de classe média. No começo da década de 60, quem tinha meios trazia do exterior ou comprava de contrabandistas as famosas calças Lee, made in USA, que desbotavam.
Lee virou sinônimo de jeans. Tanto que durante muito tempo se dizia "calça Lee" no lugar de jeans. A indústria de confecções não tardou a perceber de que lado soprava o vento - e começaram a brotar marcas de jeans com forte apelo de vendas aos jovens. As etiquetas Calhambeque, Tremendão e Ternurinha, por exemplo, identificavam o jeans com os ídolos da juventude da época, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Vanderléa.
No começo dos anos 70, o Brasil é o país do milagre econômico e da ditadura política - e também da acelerada transformação no comportamento dos jovens. Fala-se a toda hora em conflito de gerações e revolução sexual. Em 1972, é lançada a US Top, com verdadeiro indigo blue, a primeira calça brasileira que desbota como a Lee americana. Dois anos depois, a Levi´s adapta o corte do jeans aos gostos nacionais - calças justas na frente para os homens e atrás para as mulheres. E a Ellus introduz a moda dos stone washed.
Depois virão as griffes - em nenhum país do mundo há tantos nomes famosos assinando jeans como no Brasil. E, enfim, uma publicidade cada vez mais provocativa, que por suas alusões ao erotismo volta e meia é objeto de discussões. Uma campanha de TV do tipo do "Louco por Lee", que entrou no ar em novembro último, em que uma garota recebe - e parece apreciar - telefonemas eróticos, recebeu fortes críticas. Defende-se Eva Lazar, da McCann Erickson, agência responsável pela campanha: "A publicidade do jeans tem de ser vanguardista. Um jovem de 18 anos não vai usar o que não for moderno e descontraído".

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Rio de Janeiro ganha salão de tecnologia em feira de moda

24/12/2010 07h00 - Atualizado em 24/12/2010 07h00

Rio de Janeiro ganha salão de tecnologia em feira de moda
Rio Fashion Business apresentará lançamentos tecnológicos para lojistas.
Área de 2 mil m² reúne expositores e compradores em bolsa de negócios.


Salão tech em feira de moda no Rio de Janeiro.
(Foto: Divulgação)Criado para apresentar aos lojistas de moda os lançamentos de produtos e serviços que agregam o que há de mais moderno em tecnologia, o Salão Tech do Senac Rio Fashion Business reúne numa área exclusiva de 2 mil m² nada menos que 60 expositores.

É nesse espaço que os expositores e compradores da maior bolsa de negócios da moda, de 10 a 13 de janeiro na Marina da Glória, conhecerão as novas tendências do comércio.


Veja algumas das novidades que serão apresentadas na 17ª edição do evento em 2011.

MFace
Uma das novidades que promete sucesso é o sistema MFace, da empresa Milongas, que oferecerá aos lojistas a possibilidade de rastrear o cliente: é o Big Brother chegando ao comércio. Em segundos, uma câmera registra a imagem do consumidor, que diz seu nome, telefone e e-mail. O sistema fornecerá informações sobre as lojas da rede que mais visitou, por onde ele passou, que compras fez ou deixou de fazer, quanto gastou. Informações preciosas para o comerciante, obtidas num piscar de olhos.

Slim Tile
A tecnologia pode estar, também, a serviço da natureza. A Duo Design Studio acaba de lançar o Slim Tile, azulejo plástico com 3,5 mm de espessura que além de ser um produto sustentável, facilita a vida de quem está fazendo uma reforma em casa. O cliente pode personalizar o ambiente e montar seu próprio painel, escolhendo entre estampas ousadas ou clássicas, nas cores que serão a tendência em 2011.

Manequim Espelho
Se você é do tipo que hesita em comprar um vestido por falta de tempo para experimentar a peça, seus problemas acabaram. O Manequim Espelho, tecnologia inovadora, sem similar nacional ou importado, tem um espelho fixado na cabeça, de forma que a consumidora se vê na vitrine com o vestido desejado. Se a altura for diferente, comandos controlados pela própria cliente adaptam a estatura do manequim. Ou seja: o manequim sobe ou desce para que a consumidora se sinta "dentro" dele.


Estampas projetadas em manequim permitem escolher as melhores opções de vestido sem precisar confeccioná-los. (Foto: Divulgação)Vitrines interativas
Vitrines totalmente estáticas fazem parte do passado. Loja "antenada" usa vitrines interativas, como as adotadas nos Estados Unidos em lojas da Nike. Com temas relacionados a datas comemorativas, a exemplo do Natal e dos dias das Mães ou dos Namorados, a vitrine vira um grande painel de 9 metros de frente no qual os produtos são projetados por trás de imagens que cobrem o espaço por inteiro. Basta o consumidor tocar na vitrine que as imagens (folhas, desenhos geométricos ou o que a imaginação criar) abrem brechas para que o produto apareça, como num misterioso toque de mágica.

Top model virtual
A top model Isabeli Fontani não desfilará no evento. Mas estará em forma de manequim para o lojista que desejar incluí-la em sua vitrine. A inovadora tecnologia E-Models, criada pela empresa paulista Expor Manequins, permite que a modelo seja ‘escaneada’ e sua imagem vira um manequim tridimensional Uma perfeita reprodução de uma modelo na forma de manequim, em diferentes poses e atitudes.