Mostrando postagens com marcador produção. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador produção. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Da Fordlândia ao encerramento da produção de veículos, a trajetória da Ford no Brasil

Da Fordlândia ao encerramento da produção de veículos, a trajetória da Ford no Brasil

A Ford anunciou mês passado (11/01/2021) que encerraria a produção de veículos em suas fábricas no Brasil. 

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Pesquisa aponta que 35% dos brasileiros não confiam na ciência

Pesquisa aponta que 35% dos brasileiros não confiam na ciência


Uma estudo realizado em 144 países avaliou a opinião das pessoas sobre a ciência. 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O que é o antropoceno - A era geológica marcada pela ação humana

O que é o antropoceno - A era geológica marcada pela ação humana

'Era dos humanos' é chamada de antropoceno — Foto: BBC

Apesar de os seres humanos não habitarem a Terra há muito tempo, já deixaram uma marca difícil de apagar.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

As máquinas que fizeram a Revolução Industrial


As máquinas que fizeram a Revolução Industrial


Da força das mãos e dos braços à força das máquinas.

sábado, 1 de abril de 2017

IMAGINÁRIO – SÉRIE LEVA PARA O YOUTUBE O QUE HÁ DE MAIS ASSUSTADOR NO FOLCLORE BRASILEIRO


IMAGINÁRIO – SÉRIE LEVA PARA O YOUTUBE O QUE HÁ DE MAIS ASSUSTADOR NO FOLCLORE BRASILEIRO

O Curupira

Escondidos num banheiro abandonado da escola, os garotos aceitam o desafio: apertar as descargas, ligar as torneiras e chamar pelo nome proibido – tudo ritualmente repetido por três vezes. No espelho, um vulto se anuncia. É o fim.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Cientistas produzem petróleo a partir do esgoto


Cientistas produzem petróleo a partir do esgoto


Já pensou em encher o tanque do carro com esgoto? Em breve, isso será possível. Cientistas descobriram como transformar os resíduos que seguem vaso sanitário abaixo em combustível.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Microsoft vai parar de fabricar X360 - veja 3 jogos marcantes do videogame



Microsoft vai parar de fabricar X360 - veja 3 jogos marcantes do videogame


Nos últimos dias a Microsoft anunciou o fim da produção do Xbox 360 no Brasil e no resto do mundo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Os 10 melhores filmes de ficção científica de todos os tempos



Os 10 melhores filmes de ficção científica de todos os tempos


Nesta seleção estão em destaque os 10 melhores filmes de ficção científica de todos os tempos. Usamos como base alguns critérios, que envolve a impressionante produção, o significativo impacto sobre o gênero, histórias e idéias com importância sobre o que a produção de filmes possa ser, e a reação da cultura pop, originalidade e escolha do editor. São grandes obras que mudaram para sempre o que conhecemos da ficção científica. Estes filmes são inspirações de vários sucessos de bilheterias atuais e influenciaram gerações.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Top 10 melhores comerciais da década (videos)


Top 10 melhores comerciais da década (videos)


Para saber quais foram os melhores comerciais dos últimos 10 anos, reunimos especialistas que compilaram esse top 10 que mudou o mundo do marketing e propaganda, muitos tentaram mais eles foram únicos.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Eólicas podem suprir 19% da demanda global de energia até 2030


Eólicas podem suprir 19% da demanda global de energia até 2030


Usina de energia eólica da Pattern Energy Group, novo empreendimento no Texas que recebeu investimento de US$ 75 milhões do Google. 

Capacidade instalada de energia eólica pode crescer 530% em 16 anos.Estudo foi divulgado por organizações nesta terça-feira (21).

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Abelhas de aluguel - Agricultura


ABELHAS DE ALUGUEL - Agricultura



Apicultores brasileiros começam a descobrir a polinização por colméias, a técnica para elevar a produção agrícola que tomou conta dos Estados Unidos e da Europa.

sábado, 3 de agosto de 2013

Nicolelis diz que recebeu autorização para teste de exoesqueleto no Brasil


Nicolelis diz que recebeu autorização para teste de exoesqueleto no Brasil


O cientista Miguel Nicolelis (à direita) observa macaco caminhando em esteira durante experimento (Foto: Reprodução)

Anúncio sobre projeto 'Walk Again' foi feito em redes sociais.
Pesquisador não deu maiores detalhes sobre tipo de licença.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Fã cria máquina que reúne 15 consoles em apenas um aparelho


Fã cria máquina que reúne 15 consoles em apenas um aparelho

Com retrocompatibilidade, a Unity roda jogos de 18 consoles diferentes


O modder Bacteria, que é especialista em alterar hardware para games, realizou o sonho de inúmeros jogadores nostálgicos espalhados pelo mundo. Ele criou console "retrô" definitivo, combinando 15 consoles em apenas uma máquina, que pode ser operada com apenas um controle.

domingo, 7 de abril de 2013

As 10 Novelas Brasileiras mais vendidas


As 10 Novelas Brasileiras mais vendidas

Ninguém pode negar que as novelas são umas das 10 maiores paixões dos brasileiros, mas o que impressiona, é o numero de países que tem a mesma preferência. Pode não ser umas das paixões nacionais desses países, no entanto, as novelas da Rede Globo prendem a atenção milhões de pessoas no mundo inteiro.
A emissora já se tornou referência no meio, e segue uma linha diferente da Televisa (maior produtora de novelas do mundo), com conceitos mais modernos, , a Globo, vende os direitos televisivos após exibição no Brasil. A campeã de vendas em 2012 foi “Insensato Coração”, exibida em 2011. Foi vendida para 60 países, mas nem todos iniciaram a exibição da novela.


As 10 Novelas Brasileiras mais vendidas
Rank Novela Ano Autor N° de Países
Da cor do pecado 2004 João Emanuel Carneiro 100
Terra Nostra 1999 Benedito Rui Barbosa 95
O Clone 2002 Glória Perez 91
Caminhos das Índias 2009 Glória Perez 90
Escrava Isaura 1976 Gilberto Braga 79
Laços de família 2000 Manoel Carlos 77
Por amor 1997 Manoel Carlos 74
Mulheres de areia 1993 Ivani Ribeiro 67
Anjo Mau 1997 Cassiano Gabus Mendes 67
10° Sinhá Moça 1986 Benedito Ruy Barbosa 60





domingo, 30 de dezembro de 2012

O Desafio do Superarroz - Agricultura


O DESAFIO DO SUPERARROZ - Agricultura



Mais resistentes às pragas e às secas, de caule mais forte e grãos mais polpudos, as novas variedades desse alimento milenar prometem colheitas à altura da fome de seus fãs-mais de 3 bilhões de pessoas no mundo.

Cinco em cada seis habitantes do planeta, na hora de escolher o ingrediente básico de seu cardápio, preferem um pequeno grão da cor do leite e sabor leve, que vai bem com quase todos os alimentos, doces e salgados. E, caso se queira, a refeição pode ser acompanhada de vodca e saque, feitos a partir do mesmo alimento - o arroz. O gosto por esse cereal, é claro, varia de país a país: o europeu, por exemplo, degusta a ínfima fração de 3 quilos de arroz ao ano, mas o brasileiro come o peso de uma saca, 60 quilos, e o asiático, nada menos que 180 quilos. Mas, embora freqüente a mesa dos homens há pelo menos 5 000 anos, o arroz, atualmente, transformou-se num dos maiores desafios da agricultura.
Gerar colheitas à altura de um consumo tão disseminado é um jogo duríssimo, pois as terras disponíveis já estão quase todas em uso e a população mundial- especialmente a asiática - cresce sem parar. Em vista disso, opinam os especialistas, a saída é apelar para as artes da  Biotecnologia e criar uma planta inteiramente nova no tubo de ensaio. Dotado de ramos mais fortes, mais clorofila nas folhas, raízes vigorosas e resistência contra uma multidão de insetos e micróbios, o superarroz, espera-se, poderá vencer a corrida contra a superpopulação. Não se trata, dessa vez, de um simples aprimoramento da planta original, como vem sendo feito, com certo sucesso, desde o fim da Segunda Guerra.
A primeira variedade de arroz altamente produtiva, denominada IR-8, nasceu em 1966, do casamento de um arroz anão chinês com uma vigorosa planta indonésia. Já era um organismo revolucionário, pois o uso crescente de fertilizantes, nessa época, propiciava grãos maiores-tanto que a planta tradicional tombava ao solo, incapaz de suportar o peso. Apenas com a chegada da IR-8, de caule curto e firme, foi possível levar aos arrozais as modernas técnicas de adubação artificial. O mérito por essa façanha coube ao IRRI, Instituto Internacional de Pesquisa de Arroz, situado nas Filipinas e o mais importante do mundo em seu gênero. O mesmo instituto criaria, em 1982, a variedade IR-36, filha de nada menos que treze pais das mais variadas estirpes.
Em compensação, tinha defesas orgânicas apuradas contra uma dúzia de pragas e crescia mais rápido que seus avós: em 110 dias, em vez dos seis meses de praxe, estava pronto para a colheita. Não admira que tenha se tornado atualmente, a mais disseminada variedade nos campos de cultura do mundo inteiro. Seu criador, o geneticista Gurdev Khush, aposta que a IR-36 ainda está longe de pendurar as chuteiras e poderá ampliar a produção mundial em cerca de 25%, nos próximos dez anos. Apesar disso, a corrida contra a explosão demográfica é incerta e aconselha que se tomem medidas imediatas para prevenir um futuro avanço da fome.Mais importante ainda: nos últimos quatro anos, os cientistas deslindaram complicados quebra-cabeças genéticos que bloqueavam a pesquisa de novas plantas. E possível, portanto, começar a pensar numa variedade que suplante todas as anteriores. O primeiro passo, dado em 1988, foi mapear os doze cromossomos do arroz. Isto significa separar os genes uns dos outros e tentar descobrir o que faz cada um deles- por exemplo, qual torna o caule mais firme, qual permite à planta viver com pouca água e assim por diante. Ainda não existe nada tão preciso, mas os cientistas selecionaram, de saída, 135 pontos de interesse nos cromossomos.
De lá para cá, o número de pontos selecionados subiu para 300, o que reduzirá o tempo necessário para criar novas variedades, atualmente da ordem de cinco a dez anos. O trabalho exige cruzar plantas já existentes, replantar suas mudas, esperá-las crescer e checar se têm qualidades úteis. Com o mapeamento, não é preciso esperar as mudas crescerem: basta analisar seus cromossomos para saber se os genes de interesse estão ou não presentes. A expectativa, então, é cortar a demora pela metade. Mas o feito recente que causou maior entusiasmo nos pesquisadores foi a regeneração do arroz-isso significa que é possível arrancar um mero fragmento da folha ou da raiz de uma planta e fazê-la voltar à vida na forma de um novo broto. Um fenômeno trivial em muitos vegetais, a regeneração simplesmente não funcionava no arroz e em diversas plantas importantes, como o milho e o trigo. E o problema se tornava ainda mais grave porque o objetivo não era apenas regenerar a planta, mas também abrir suas células e mexer em seus cromossomos - isto é, inserir-lhes novos genes e assim alterar suas características.Para abrir uma célula vegetal, no entanto, é preciso primeiro extirpar sua parede, uma casca protetora de celulose, inexistente nos animais. Daí o nome protoplasto - célula da qual foi removida a parede. Desde 1990, diversas equipes científicas conseguiram, com sucesso, obter plantas férteis de arroz a partir de protoplastos geneticamente reformados. O próximo passo foi aprimorar a técnica de reforma: agora, é possível introduzir um gene estranho no corpo de uma bactéria que infesta o arroz. Assim, quando a bactéria penetra na célula de arroz, leva consigo o gene, que acaba incorporado aos cromossomos. Depois disso, sempre que se reproduzir, o vegetal regenerado repassa o novo gene para seus descendentes. O arroz foi o primeiro cereal em que essa técnica teve êxito. Uma das reformas genéticas que se quer impor ao arroz é a reprodução por semente. Atualmente, o plantio é feito com mudas, o que provoca considerável desperdício de tempo e trabalho. Assim, o superarroz imaginado por Khush deverá ter sementes capazes de brotar. Outro objetivo é reduzir os ramos da touceira de arroz, normalmente em número de 20 ou 25 ramos, dos quais apenas 15 geram grãos. A planta ganharia em produtividade, dizem os especialistas do IRRI, se tivesse três ou quatro ramos somente, mas bem fornidos de grãos. Alta produtividade, nesse caso, significa colher de 13 a 15 toneladas por hectare, em vez das atuais 8 ou 9 toneladas, em média.
Tais mudanças terão o sabor de uma irreverência, pelo menos nas diversas culturas em que o arroz é tradicionalmente venerado. No Japão, por exemplo, o próprio imperador é visto como uma espécie de encarnação do espírito do arroz. Na mitologia hindu, teria sido ordem expressa do deus Indra que a humanidade iniciasse o seu cultivo. Na China, sentimentos parecidos aparecem na linguagem, pois o nome chinês da planta, "mi", significa "o bom grão da vida". E não admira que seja assim, visto que o arroz selvagem é originário da Ásia-nasceu nas chamadas terras de Assam, pequeno território encravado entre a Índia e a Birmânia. Daí, ele pode ter chegado à Europa pelas mãos dos árabes e, mais tarde, os portugueses o trouxeram ao Brasil. Não seria à toa que a palavra portuguesa arroz deriva do termo árabe "ruz", acrescido do artigo "al". O evidente sucesso desse alimento entre os brasileiros infelizmente não se traduz em alta produção. Basta ver que, em média, ao longo de doze meses, cada americano consome apenas 5 quilos de arroz, mas seu país colhe 8 milhões de toneladas ao ano. No Brasil, embora o consumo seja dez vezes maior-entre 50 e 60 quilos-, a produção não é muito superior à americana, pois alcança 12 milhões de toneladas anuais.
Esse número é quinze vezes menor que o da China, campeã mundial em colheitas, com 170 milhões de toneladas. Os especialistas brasileiros acreditam que o esforço para mudar esse quadro é relativamente modesto, inclusive por causa do alto custo das pesquisas de engenharia genética. Isso, é claro, não significa que não se faz pesquisa de genética clássica, como demonstra o trabalho do japonês naturalizado brasileiro Akihiko Ando, da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), em Piracicaba, SP. Formado em Agronomia pela Universidade de Tóquio, ele há trinta anos busca um híbrido capaz de competir em rendimento e resistência com plantas japonesas e filipinas. O seu desafio, depois de cruzar esses vegetais com o arroz brasileiro, é dar estabilidade à prole resultante: apesar de os filhos desse casamento herdarem as virtudes dos pais, os netos voltam a perdê-las. Demorada, essa investigação poderia ser acelerada se houvesse mais recursos. "Na falta deles, usamos a técnica chinesa da paciência", brinca o pesquisador.De qualquer forma, os cruzamentos não tomam todo o seu tempo, parte do qual ele passa no Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura), também em Piracicaba. Esse caminho Ihe foi sugerido pela própria história pessoal: quando soube da devastação causada pela bomba de Hiroxima, em agosto de 1945, Ando decidiu dedicar sua vida ao uso pacífico do átomo. No Cena, ele emprega uma bomba de cobalto para bombardear sementes de arroz com raios gama, uma forma de luz gerada pela desintegração nuclear do cobalto, mas tão violenta que provoca mutações genéticas nas sementes. Naturalmente, Ando não sabe o que vai nascer dos grãos mutantes, mas depois de descartar as inúmeras aberrações, sempre sobram plantas de alta qualidade. "Perdi a conta dos novos tipos mutantes que ajudei a batizar, mas foram muitos", orgulha-se.Produção elevada não é o único objetivo dos melhoristas de plantas, já que, depois de sobreviver às pragas e adversidades do clima, o cereal tem ainda de vencer o desafio dos fogões e panelas. Sob a ditadura das donas de casa, o alimento precisa ter um perfil para cada paladar. Os orientais, por exemplo, gostam dos grãos empapados e de um tipo chamado cateto, largo e curto, que absorve e retém bastante água. Essas qualidades dependem da quantidade de amido e amilopectina em cada tipo de planta. "O mercado é pobre, mas exigente", conta Geraldo José Aparecido, agrônomo e professor da Esalq. Fascinado pelo arroz desde a infância quando passeava pelas fazendas dos avós, ele acredita que os hábitos alimentares modernos não são razoáveis."É um desperdício raspar a camada escura que cobre os grãos não beneficiados porque as pessoas não apreciam seu gosto. Ela é muito nutritiva, contém gordura, proteína, vitaminas e sais minerais, mas vai para os porcos." A nutricionista Flora Spolidoro concorda: "O arroz polido é mais rico apenas em amido", ensina. Misturando os sotaques trazidos das suas viagens pelo mundo, ela se preocupa principalmente com a lisina, um componente de muitas proteínas, com baixo teor no grão beneficiado. "Essa carência pode comprometer o crescimento normal de uma criança", opina. Por sorte, no Brasil esse problema é contornado, já que o feijão, inseparável companheiro de prato do arroz, contém bastante lisina.
Um curioso problema gerado por hábitos alimentares é o arroz vermelho. Da mesma espécie que o branco- batizado Oryza sativa-e igualmente rico em proteína, ele não é bem aceito pelas pessoas. Pior, transformou-se em planta daninha, pois disputa o solo com o parente. Suas sementes desprendem-se fácil do caule, o que não ocorre com o arroz branco, e ficam no solo até dez anos, infestando a terra. No Rio Grande do Sul, dizem os agrônomos, ele causa perda de quase 8 milhões de sacas ao ano. Seja como for-pelo menos em princípio-, os avanços atuais viabilizam as mais profundas transformações dos seres vivos, sejam plantas ou animais. Pintar de branco um grão vermelho, por exemplo, ou somar lisina às suas reservas protéicas não seriam metas particularmente difíceis de atingir. Resultados desse tipo não são para amanhã, ou mesmo depois de amanhã. Mas não há dúvida que, dentro de poucos anos, o arroz será bem diferente daquele cereal que o homem conheceu nos primórdios da civilização. 

Prato bem quente

Campos alagados, cultivados com arroz, são uma importante fonte de gás metano e, por extensão, contribuem decisivamente para o aquecimento do planeta por meio do efeito estafa. Avalia se que esses campos têm uma participação de 14% no aumento já medido na temperatura da Terra. Agora, cientistas americanos e chineses sugerem que a porcentagem pode ser bem mais alta. O motivo é simples: os dados que deram origem a esse cálculo foram obtidos em arrozais europeus e americanos, que são bem menores e geram metano em proporção bem menor que os chineses. A China produz nada menos que 36% de todo o arroz do mundo e seus campos podem gerar até 10 vezes mais metano que os ocidentais. Medidas feitas em quatro lavouras, durante duas estações de plantio, na vila de TuZu, província de Sczhuan, indica que cada metro quadrado dos alagados produz 60 miligramas de metano por hora. Essa massa de gás é cinco vezes maior que a dos arrozais americanos e quinze vezes maior que a dos espanhóis. 


Sexo, nem Pensar

Antes de começar a ser cultivado, há cerca de 5 000 anos, o arroz selvagem estava bem armado para a reprodução. Suas sementes e o pólen, por exemplo, se acomodavam junto a um grande espinho, de nome arista e até 5 centímetros de comprimento e isso Ihes permitia pegar carona nas penas dos pássaros, fãs incondicionais do cereal, e voar para longe da planta-mãe. Como conseqüência diferentes plantas intercambiavam seus patrimônios genéticos, o que já não ocorre com o acomodado arroz cultivado. A culpa disso cabe ao homem, especula o agrônomo Giancarlo Xavier Oliveira, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.O arroz selvagem, diz ele, brotava na beira de rios e lagos, de modo que as sementes, ao soltarem-se, geralmente se perdiam na lama. Em vista disso, o homem só podia colher as sementes que, por algum motivo, permaneciam mais tempo ligadas ao cacho. E, quando passou a replantá-las, começou, sem querer, a disseminar um tipo raro de arroz, cujas sementes não se desgarravam facilmente do ramo. Essas plantas inseguras são classificadas como autógamas, pois suas flores só se abrem depois de consumir o próprio pólen -ou seja, depois de fecundarem a si mesmas. "Sexo, para elas, nem pensar", diz o agrônomo.Ele conta que levou um baile na tentativa de forçar o cruzamento de variedades de arroz. Para impedir a autofecundação de urna das plantas, ele inicialmente extirpava as anteras, os órgãos masculinos, produtores de pólen, e mantinha apenas o pistilo, o órgão feminino. Depois, trazia pólen de uma planta vizinha e espalhava sobre a flor privada de anteras. Acabou driblando os hábitos sexuais do arroz moderno, mas fracassou inúmeras vezes até descobrir que, após desprender-se da planta, o pólen precisa juntar-se ao pistilo em menos de nove minutos, ou não sobrevive. 

C=203.233


Haja Papel - Tecnologia


HAJA PAPEL - Tecnologia



Com auxílio até de computadores, as modernas indústrias papeleiras fabricam toneladas de folhas por
dia. Há, porem, o desafio de conseguir matéria-prima para a demanda gigantesca.

Separam-se os filamentos de um vegetal qualquer para misturá-los com água até que assim, em suspensão, possam se emaranhar sobre um molde poroso. Depois de prensar e secar a massa, obtém-se uma película fina de celulose. Simples, a receita básica do papel, criada há quase dois milênios. é cada vez mais aplicada. Algumas pessoas chegaram a imaginar que o enorme consumo global desse produto diminuiria com a incorporação, no dia-a-dia, de recursos como a Informática. Mas quem arriscou esse palpite acabou fazendo um papelão, porque, de fato, a última década fechou gastando o dobro de celulose em relação à anterior.
Na realidade, o que se observa são trocas de papéis: os balanços das empresas, por exemplo, vêm dispensando as tradicionais folhas sulfites para serem impressos em metros dos formulários contínuos de computadores: já o papel timbrado das cartas pode ser substituído pelo papel térmico do fax. Engordando a demanda, as campanhas ambientalistas muitas vezes triunfam no sentido de aposentar o plástico das embalagens, cuja vida se aproxima do infinito, promovendo o retorno do reciclável papel cartão. Se insistir nesse ritmo de crescimento, a necessidade de papel no ano 2000 será cinco vezes maior do que a atual, uma projeção que aflige os pesquisadores. Pois, com os indíces vigentes de reposição de árvores, não há fibra no planeta que dê conta de toda essa papelada. Ao menos, por enquanto. Hoje, a madeira representa 95% da matéria-prima fibrosa usada pela indústria papeleira. No entanto, os cientistas começam a examinar com atenção fontes alternativas, como folhas de carnaúba, palmito e, mesmo, bagaço de cana. Além disso, laboratórios americanos e japoneses desenvolvem papéis de fibras sintéticas - feito o náilon -, embora seu preço ainda seja proibitivo.
De certo modo, a história se repete: não é a primeira vez que o homem se vê obrigado a buscar novos suportes à escrita. A pedra, em que os egípcios relatavam episódios importantes há mais de 6 500 anos, foi provavelmente o primeiro deles. três mil anos mais tarde, porém, os babilônicos criaram a tábua de argila-entre eles, a educação era obrigatória, ou seja, quase todo mundo escrevia e não era nem um pouco prático fazê-lo em monolitos. A popularização da escrita, aliás, levou os povos mediterrâneos a desenvolver tabuletas portáteis cobertas de cera, que podiam ser polidas e, desse modo, grafadas repetidas vezes. Já os orientais, em geral, empregavam folhas- daí essa palavra ser sinônimo de páginas-costuradas feito livros. Os antigos gregos e romanos, contudo, preferiam gravar em chapas metálicas, até que os egípcios inventaram o papiro, no início da era cristã, trançando fatias finíssimas de uma planta com o mesmo nome, das margens do rio Nilo.
No século II, o papiro fazia tanto sucesso entre os gregos e os romanos, que os mandatários do Egito decidiram proibir sua exportação, temendo a escassez do produto. Isso disparou a corrida atrás de outros materiais e não tardou que, na cidade de Pérgamo, na Antiga Grécia (hoje, Turquia), se encontrasse o pergaminho. obtido da parte interna da pele do carneiro. Grosso e resistente, ele era ideal para os pontiagudos instrumentos de escrita dos ocidentais, que cavavam sulcos na superfície do suporte, o quais eram, depois, pacientemente preenchidos com tinta. O pergaminho, entretanto, não era liso e macio o suficiente para resolver o problema dos chineses, que praticavam a caligrafia com o delicado pincel de pêlo, inventado por eles ainda no ano 250 a.C.-só lhes restava, assim, a solução nem um pouco econômica de escrever em tecidos como a seda. E tecido, naqueles tempos antigos, podia sair tão   caro quanto uma pedra preciosa.
Provavelmente, o papel já  existia na China desde 0 século Il a.C., como indicam os restos em uma tumba, na província de Shensi. Mas o fato é que somente no ano 1 05 A C. o Oficial da corte. T´sai Lun anunciou ao imperador a sua invenção. Tratava-se, afinal, de um material muito mais barato do que a seda, preparado sobre uma tela de pano esticada por uma armação de bambu. Nessa superfície, vertia-se uma mistura aquosa de fibras maceradas de redes de pescar e cascas de árvores. "No fundo, fazer papel ainda é molhar as fibras, socar e deixar secar", resume a museóloga paulista Lourdes Cedran presidente da Associação Brasileira de Papel Artesanal (Abrapa), que reúne 45 sócios, dispostos a colocar literalmente as mãos na massa, imitando a velha técnica que, aliás, os chineses esconderam por 600 anos 
Aproximadamente no ano 750 d.C., dois artesãos da China foram aprisionados pelos árabes. na antiga cidade de Samarkanda, aos pés das montanhas do Turquestão, hoje território soviético. A liberdade só lhes seria devolvida com uma condição-se eles ensinassem a fabricar o papel, que assim iniciou sua viagem pelo mundo. No século X, foram construídos moinhos papeleiros em Córdoba, na Espanha. "Os demais países da Europa, fervorosamente cristãos, demoraram para aceitar o produto oferecido pelos árabes", nota Lourdes. "Usava-se como desculpa a fragilidade do papel em comparação ao pergaminho."
Para diminuir essa desvantagem, os italianos da cidade de Fabriano começaram a fabricar papéis, por volta de 1268, à base de fibras de algodão e de linho, além de cola-substancia que, ao envolver as fibras, tornava-as mais resistentes às penas metálicas com que escreviam europeus. Quanto ao preço, no entanto, papel e pergaminho empatavam, pois era muito difícil conseguir roupas velhas para extrair a celulose. Quando, na Renascença, o advento da imprensa fez o consumo de papel aumentar terrivelmente, os ingleses chegaram a determinar que as pessoas só poderiam ser enterradas com trajes de lã, a fim de poupar os trapos de algodão, deixados compulsoriamente de herança para os papeleiros.
Já não se faz papel como antigamente, embora os especialistas reconheçam que o algodão oferece as melhores fibras. Economicamente é mais interessante que essa matéria-prima seja encaminhada à indústria têxtil. Mas até hoje o papel-moeda, por exemplo, não dispensa esse nobre ingrediente, que por ter fibras longuíssimas faz um produto difícil de se rasgar e de grande longevidade. O algodão demorou para ser substituído. Somente em 1719, o entomologista René de Réaumur (1683-1757) sugeriu trocá-lo pela madeira. Ele observou vespas construindo ninhos com uma pasta feita a partir da mastigação de minúsculos pedaços de troncos. Sob lentes de aumento, a obra das vespas e a dos artesãos papeleiros eram muito parecidas.
A idéia de Réaumur foi mal recebida, por questão estética: a celulose extraída da madeira dava origem a uma pasta de cor parda. Até o final do século XVIII, escrever em uma folha branca era um verdadeiro luxo-já era difícil conseguir qualquer pedaço de pano e essas folhas, particularmente, só podiam ser obtidas de tecidos igualmente alvos . Em 1744, porém, uma descoberta iria impulsionar a fabricação do papel com a celulose de árvores: o químico sueco Karl Scheele (1742-1786) isolou a molécula do cloro e revelou seus efeitos alvejantes. Ou seja, daí em diante, era possível produzir papel branco com qualquer madeira, que se tornou a protagonista do processo.
"São necessárias poucas horas desde o momento em que a árvore tomba no chão para que se comece a extração da celulose", conta Antonio dos Santos, o Riska, apelido que ganhou no time de futebol da escola primária e pelo qual é conhecido na Ripasa, uma das maiores indústrias de celulose e papel do país. Ali, ele é o gerente de produção, embora nunca tenha entrado na faculdade. "Trabalho há trinta anos no setor papeleiro", orgulha-se ele, capaz de escalar as imensas máquinas da empresa, que as vezes alcançam  10 metros de altura, para explicar cada detalhe de seu mecanismo. Em alguns segundos, equipamentos descascam os troncos de eucalipto, a espécie preferida pelos brasileiros para a extração de celulose. "As cascas são aproveitadas em caldeiras, e se transformam em combustível", diz Riska.
Outro equipamento pica as toras já descascadas com a precisão de um exímio cozinheiro, em cubos de 1,5 a 2 centímetros de espessura, nem mais, nem menos. "Esses pedaços de madeira, os cavacos, devem ser todos o mesmo tamanho para que se consiga celulose de boa qualidade", determina o gerente de produção. Faz sentido: dali, após serem lavados para não sobrar um grão de areia ou da terra, os cavacos passam para gigantescas panelas de pressão, os digestores, onde são cozinhados numa temperatura de 170 graus Célsius. "Se fossem de tamanhos diferentes, alguns cavacos ficariam no ponto antes de outros", explica Riska.  O cozimento costuma demorar somente duas horas, porque esses toquinhos são mergulhados em um caldo leitoso, o licor branco, que combina soda cáustica e sulfeto de sódio, entre outros ingredientes. Essas substâncias são catalisadoras, isto é, aceleram certas reações que, no caso, provocam  a dissolução na água de tudo o que não é celulose, como a lignina - outro componente da madeira, cujas propriedades vêm sendo estudadas, para seu uso industrial como adesivo ou aromatizante.
Outra lavagem com água fresca separa a celulose do restante-agora um caldo escuro, a lixívia negra, que pode ser reciclada para que os componentes formem novamente o licor branco do início do processo, em vez de poluirem rios. "A massa de celulose serve diretamente para se fazer papel pardo ou papelão", conta Riska. Ou é tratada com cloro para se tornar branca."
Na hora de fabricar o papel propriamente dito as laminas de celulose são molhadas em água, dentro de liquidificadores tamanho família. Nessa fase, misturam-se também aditivos, conforme a finalidade. "Acrescentamos sabões à base de resina vegetal, quando queremos um papel que dificilmente se desmanche em água, como o dos coadores descartáveis de café", exemplifica Riska. Indispensável, porém, é a adição do amido, que funciona como um adesivo entre as fibras de celulose.

Olhando-se um papel no microscópio, vê-se que essas fibras nem sempre se dispõem homogeneamente-ora estão mais unidas; ora, mais separadas. "Sem o amido. tapando os buracos dessa superfície, o papel daria sempre a impressão de estar engordurado, com partes mais transparentes e partes mais opacas" descreve Riska. A pasta de celulose é finalmente derramada na máquina de papel, que surgiu ainda em 1799, criada por dois ingleses, os irmãos Fourdrinier. Ela se divide em três seções: formação, prensas e secagem.
"As máquinas modernas produzem 1 200 metros de papel por minuto", informa José Luiz Malerbi gerente de marketing da Voith, empresa alemã que está entre os três maiores fabricantes mundiais de equipamentos para a indústria papeleira. "Essa velocidade é para compensar os dois anos que elas demoram para ficar prontas", brinca. Uma máquina é sempre desenhada de acordo com as características da encomenda. "Com mais de 125 metros de comprimento é 10 metros de altura, só vale a pena montá-la em seu endereço definitivo", conta Malerbi.
Os equipamentos mais recentes, como os que se encontram na fábrica da Ripasa, em Americana, interior de São Paulo, são monitorados por computador. Na tela, o técnico pode ver o desenho do tanque de celulose e conferir se ele está cheio da pasta. Com aparência de coalhada, ela se derrama em jatos na chamada mesa formadora-o que também pode ser visto na telinha -, cujo comprimento é comparável ao de uma piscina olímpica. A massa é jorrada em alta velocidade-para haver o mínino de turbulência, o que provocaria ondulações no papel-, através de inúmeros tubinhos, dispostos na mesma direção em que se pretende deixar as fibras. Isto é, no papel de boa qualidade, esses microscópicos fios de celulose não se espalham ao acaso, mas enfileiram-se longitudinal ou transversalmente.
Ao sair da mesa formadora, a composição da folha é 80% água e 20% sólidos. Parte dessa água será retirada por pesadas prensas de aço, revestidas com feltros de fibras sintéticas. O revestimento, idéia que os alemães tiveram ainda em 1829, ajuda a alisar a folha, aumentando seu brilho. No final da seção de prensagem, apenas seis em cada dez moléculas do papel, que viaja a 60 quilômetros por hora na esteira do equipamento, são de água. Durante o percurso, o líquido é sugado por rolos perfurados e, então, escoados até um tanque sob a máquina.
"Essa água é filtrada para ser novamente aproveitada", conta Eduardo Antonio Mambrim, gerente de meio ambiente da Ripasa. Depois de trabalhar trinta anos na produção de papel, ele se anima com o desafio de arrancar dessa indústria a fama que sempre teve - a de destruir florestas para conseguir matéria-prima, ser poluidora, despejando, por exemplo, o cloro do branqueamento nos rios e, ainda, consumir água indiscriminadamente. Segundo Mambrim, graças a um sistema fechado, que não permite muita perda do líquido cada máquina gasta apenas cerca de 420 000 litros de água por dia o equivalente a cerca de três banheiras comuns cheias.
Na parte final da prensagem, a folha passa por cilindros aquecidos com vapor, até ficar com 4 a 5% de água. "Nesse setor, ela pode receber ainda banhos de substâncias específicas na superfície", explica Mambrim. Por exemplo, o papel que embala seringas descartáveis são revestidos com camadas de bactericidas, servindo assim de barreira, que evita a contaminação do produto embrulhado. Cada máquina moderna fabrica entre 400 a 600 toneladas de papel por dia. No ano passado as indústrias brasileiras, juntas, produziram 1 321 000 toneladas de papel para escrever e imprimir; 246 000 toneladas de papel de imprensa para jornais; 2 269 000 toneladas de papel para embalagem; 404 000 toneladas de papel sanitário; 487 000 toneladas de cartões e cartolinas; 116 000 toneladas de papéis especiais, como os dos passaportes. Contudo, apenas um terço de todo esse papel é reciclado-isso é metade do que reaproveitam países como o Japão, a França e a Alemanha.
Para conseguir fibras para essa montanha de papel novinho em folha, a Aracruz, por exemplo, que lidera o mercado nacional de celulose, derruba 11 900 eucaliptos por dia, aproximadamente. "Para evitar danos à natureza, não basta um simples programa de reflorestamento", adverte Leopold Rodés, ex-diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, que hoje dá consultoria à Klabin, a maior fabricante brasileira de papel. "É preciso plantar aquelas árvores com maior quantidade de madeira e mais resistentes às pragas." Para Rodés, com isso as indústrias poderiam manter a produção de papel, serrando menos eucaliptos. Segundo o engenheiro florestal José Zani Filho, da Ripasa, no Brasil o eucalipto cresce em menos de sete anos, graças a um feliz casamento de clima e solo: "No Hemisfério Norte e o mesmo na Austrália, o período de amadurecimento é de 20 a 25 anos", compara. "Podemos acelerar um pouco mais o crescimento, verificando a influência de cada componente do solo". A paixão de Zani, no entanto, é passar o dia trancafiado na estufa, em Araraquara, interior de São Paulo, onde crescem milhões de mudas de eucaliptos dentro de tubetes, feito provetas. "Escolhemos as melhores sementes sob lentes de aumento", conta. "No ano passado, plantamos 20 milhões de eucaliptos, 2 milhões a mais do que cortamos", comemora.

O nobre bagaço da cana

Fazer papel com a celulose extraida do bagaço de cana-de-açúcar começa a se tornar possível, com resultados semelhantes aos dos processos que utilizam madeiras. Pesquisas realizadas por Priscila Benar, do Instituto de Química da Unicamp, SP, mostram que o rejeito das usinas de açúcar e álcool pode ser aproveitado pelas indústrias de papel, com a vantagem de não prejudicar o ambiente. Graças a esse trabalho, ela ganhou o Prêmio Jovem Cientista de 1990, no último mês de junho.
A extração da celulose foi baseada em um método europeu que, no caso, combina madeira de pinus e solventes orgânicos, como etanol e acetona. Com um processo parecido, Priscila, primeiro, separou os componentes do bagaço, atacando-o com ácido acético, o popular vinagre, e catalisadores capazes de adiantar a obtenção da polpa de celulose. Esses reagentes são reaproveitados, numa escala de 90 a 95%, evitando a poluição ambiental.
Depois, a química de 23 anos desenvolveu um projeto, inspirado na planta piloto de uma fábrica de celulose alemã. "Nela, o espaço físico ocupado é dez vezes menor que o de uma indústria papeleira convencional, mas o rendimento é o mesmo", conta Priscila, entusiasmada. Se comprovada a eficiência do modelo criado por Priscila, o setor se beneficiará com a possibilidade de montar pequenas indústrias, nas vizinhanças das usinas de álcool e açúcar. Bolsista da Fapesp-Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Priscila ainda não produziu papel com a celulose do bagaço: "Será a última etapa do trabalho", explica. "O lixo e a queima em caldeiras, para geração de energia, são finalidades pouco nobres para uma matéria-prima tão rica", afirma a pesquisadora.
Marcelo Afini


Arte do lixo

A garagem da casa antiga, no bairro do Sumaré, em São Paulo, abriga tachos, varais, ferros de passar. É nesse espaço que a artista plástica e museóloga Lourdes Cedran faz pequenos cartões, folhas coloridas, livros, cadernos, telas, cúpulas de luminárias, trabalhos que, hoje, estão expostos na Suíça. "Fazer papel se tornou um vício", diz ela, entre meia dúzia de gatos siameses, que passeiam pelo ateliê. A apixão surgiu em uma viagem ao Japão, quando Lourdes trouxe alguns exemplares de papel artesanal. "Tive pena de usá-los. Eles continuam intactos na gaveta", conta. Desde então, ela estuda técnicas de preparar papel, em que a máquina é substituída por moldes, os cilindros secadores, por ferros de passar roupa. O mais interessante porém, é a matéria-prima usada para esses papéis: cascas de legumes e galhos de árvores podado pela prefeitura. "O melhor desse trabalho é transformar lixo em arte", conta a artesã, que agora prepara um livro e um curso, sob encomenda da Unesco.


A fabricação do dinheiro vivo

Pode ser o pagamento de uma dívida de jogo, de drogas ou mesmo de um resgate. Na cena, comum em filmes policiais, bandido que se preza só aceita dinheiro vivo, feito com o inimitável papel-moeda. Afinal, o bom falsário engana, mas seu trabalho jamais atinje a perfeição, tamanha a tecnologia por trás de uma cédula. Além de usar fibras especiais, como as de algodão, que dão maior durabilidade às notas, esse papel especial apresenta o que se chama itens de segurança.
Basta colocar 50 cruzeiros contra a luz, por exemplo, para ver o desenho sombreado e a linha que corta a cédula verticalmente conhecido como marca-d´água, esse efeito é obtido com uma moldagem no papel, quando a massa não está completamente seca. Além disso, o dinheiro exibe inúmeras fibras coloridas, espalhadas aleatoriamente, impossíveis de ser reproduzidas em um papel depois de pronto. Há apenas treze anos, o Banco Central parou de importar o chamado papel-moeda. O Brasil, no entanto, não tinha tecnologia para fabricar o próprio dinheiro. Por isso, foi aberta uma licitação internacional: a proposta vencedora, então, foi a do Grupo Simão em parceria com o francês Arjomari, prevendo não só o repasse de tecnologia como sua instalação no Brasil.
A fábrica, fruto dessa parceria, fica no miolo do prédio de uma indústria que produz outros tipos de papéis especiais, como os dos vales-refeições. É como se uma fábrica servisse de segundo muro ou barreira para a outra duplicando a segurança", explica Michel Giordani, o neto de franceses que dirige a Arjomari no Brasil. Isso, no entanto, não dispensa circuitos de televisão, guardas e cães treinados, que cercam o edifício em Salto, no interior de São Paulo. 
"Há apenas uma entrada, que também serve de saída. As paredes de cimento são capazes de resistir até a explosão de bomba", contra Michel Giordani.
Até certo ponto, a fabricação do papel-moeda é semelhante à do papel comum. Uma máquina transforma a pasta de celulose em folhas secas, que são cortadas, conforme especificações da casa da moeda. Primeiro, é feita uma contagem manual, por mulheres que verificam nota por nota, observando eventuais deformações ou bordas nas folhas, que comprometeriam a segunda contagem. Esta é realizada por máquinas: o número de folhas deve ser exato - não podem existir notas a mais nem a menos. Finalmente, o papel é transportado por caminhões-baús, enviados pelo próprio cliente, lacrados e escoltados por viaturas de seguranças armados, até o município de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, onde fica a casa da moeda. "Tinta impressão e numeração, por exemplo, são fatores menores na hora de separar o falso do verdadeiro. Só o papel responde por 70% da autenticidade de uma nota", garante giordani. O Brasil exporta esse produto para quase todos os países da América Latina. "Infelizmente, porém, os brasileiros não tratam bem suas notas. Armafanhadas em bolsos e carteiras, elas acabam se deteriorando mais rápido", lamenta Giordani. "Isso não ocorre em países onde a inflação é menor. A duração de uma nota costuma acompanhar a do valor estampado em sua face".  

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Incansáveis Operários de Metal - Robótica


INCANSÁVEIS OPERÁRIOS DE METAL - Robótica



Cada vez mais versáteis e inteligentes, os robôs ocupam espaço nas fábricas e em postos de trabalho inacessíveis ao homem, como o fundo do mar

O homem é o mais eficiente e mais versátil animal já inventado pela natureza. Capaz de converter em força de trabalho até 20% das calorias que consome - contra apenas 10% do segundo colocado nessa categoria, o cavalo -, o organismo humano, além disso, retém o bom desempenho nas mais diversas circunstâncias, dos desertos ardentes aos pólos gelados. Mas talvez nem precise fazer isso por muito mais tempo. pois vem se encarregando de criar trabalhadores ainda melhores, os robôs. Equipados com tecnologia cada vez mais sofisticada, os novos operários enfrentam, incansáveis e sempre disponíveis, as tarefas complicadas, estressantes ou perigosas que o homem, por diversos motivos, não pode ou não deve encarar. Eles prometem, por exemplo, revolucionar a exploração do fundo do mar, que se quer transformar num permanente canteiro de obras e de pesquisas, ocupado por milhares de robôs submarinos. "Será como nos dias do Velho Oeste", entusiasma-se o empresário americano Graham Hawkes. Fundador da firma Deep Ocean Engineering, ele conta ao jornal The New York Times que está preparado para produzir e vender máquinas especializadas em serviços nas profundezas.Algumas delas já estão trabalhando em verdadeiras expedições caça-tesouros cujo objetivo é recuperar objetos valiosos que, no passado, tenham afundado com navios, aviões ou mesmo mísseis. Ainda mais promissores, no entanto, são os robôs empregados na indústria petrolífera Não é preciso ir longe para descobrir o motivo. Basta visitar os poços que a Petrobrás perfura em alto-mar, junto à costa do Rio de Janeiro. Obrigada a realizar suas atividades no leito oceânico, em profundidades que vão até os 1 000 metros, a empresa já não pode prescindir da mão-de-obra dos robôs. O maior deles atende pelo nome de Triton. Baixinho e atarracado - tem 1,32 metro de altura, 1,20 de largura e 1,42 de comprimento -, pesa 1,9 tonelada e é capaz de carregar 227 quilos de equipamentos em seus braços. A escuridão impenetrável, reinante abaixo dos 200 metros, é um problema sério, mas contornável. O Triton enxerga, antes de mais nada, por meio de duas câmaras de televisão - uma em cores e outra em preto-e-branco - e para isso tem que iluminar os objetos com quatro lâmpadas de 250 watts cada uma. Esses instrumentos, no entanto, só são eficazes quando estão bem próximos de seu alvo. "A mais de 5 metros do objetivo, o robô está completamente perdido", aponta o engenheiro mecânico José Antônio Galarza. A saída, então, é apelar para o sonar, um olho que vê o som - trata-se de um aparelho que emite ondas sonoras contra um obstáculo e, em seguida, capta os sinais refletidos por ele. De acordo com esse eco, pode desenhar as formas que encontra pela frente. Os mesmos instrumentos equipam o Scorpio, outro funcionário exemplar da Petrobrás.A diferença é que o Triton é um pouco mais forte, pois tem um motor de 50 HP, que Ihe permite enfrentar correntezas de até 3 nós, cerca de 5,5 quilômetros por hora. Já o Scorpio, com uma potência de 40 HP, não se arrisca quando o mar exige velocidade acima dos 2,5 nós. Idiossincrasias à parte, ambos conhecem bem os serviços de rotina nas grandes plataformas, como controlar o fluxo de combustível nos oleodutos abrindo e fechando suas válvulas. Ou então, fazer reparos gerais, como apertar parafusos, carregar e fixar hastes metálicas, ou desenrolar cabos elétricos e hidráulicos no leito oceânico."Teoricamente, eles podem fazer tudo o que um homem faz", explica o engenheiro eletrônico Antônio Cláudio Sant´anna. É claro que certas comparações são muito desfavoráveis. O braço mais forte do Scorpio, por exemplo, consegue realizar, no máximo, cinco movimentos diferentes, como erguer-se, girar, dobrar e assim por diante. O outro braço, chamado manipulador, é um pouco mais fraco e um pouco mais ágil, pois faz até sete movimentos diferentes. Mas, mesmo assim, fica muito aquém do braço humano, que detém a marca insuperável - pelo menos por enquanto - de 27 tipos de movimentos. Por outro lado, nenhum homem é capaz de trabalhar eficientemente a cerca de 300 metros de profundidade.Nesse caso, os robôs saem-se bem melhor que os operários, conforme se viu num teste efetuado pela Petrobrás. A experiência consistiu em fixar uma das chamadas árvores de natal", apelido que se dá ao complicado conjunto de válvulas usado para abrir e fechar os poços submarinos. Embora dois mergulhadores humanos trabalhassem nada menos que quatro horas e meia para terminar o serviço, o Scorpio, sozinho, aprontou tudo em 35 minutos. "Fez mais depressa e mais bem feito", resume Carlos Vilarinho da Costa, especialista em robótica da empresa. O teste dá uma idéia das limitações do corpo humano e, por extensão, ilustra o grande potencial do trabalho com robôs. Os poços da Petrobrás já estão no nível dos 1 000 metros, e é provável que se vá ainda mais longe Mas a marca de 320 metros é considerada como o limite de resistência dos mergulhadores, pois a pressão torna-se equivalente a 30 quilos sobre cada centímetro quadrado do seu corpo. Para evitar problemas, eles têm que ser preparados, antes da descida, durante onze longos dias Mesmo assim, não podem demorar no fundo mais que oito horas e, depois de voltar à tona, levam mais dez dias recuperando-se. As máquinas, em vez disso, são tão insensíveis à pressão da água quanto às reivindicações salariais.Podem, portanto, ampliar a exploração racional nas imensas, e ainda desconhecidas, planícies submarinas. "Mais de 90% do leito oceânico já estão acessíveis aos robôs", opina o especialista americano Robert Wernli. Ele deve saber, pois é um dos dirigentes do Centro de Pesquisas Oceânicas, da Marinha dos Estados Unidos, cujos estudos começaram ainda nos anos 60. Em 1965, um dos aparelhos projetados no Centro desceu a 26 metros e, de lá, trouxe para a superfície velhas peças de artilharia afundadas.Um ano mais tarde, o mesmo engenho realizou a proeza de recuperar uma bomba atômica que, por acidente, havia caído sob 77 metros de água, na costa da Espanha. Hoje, acreditam os pesquisadores, há pelo menos 600 robôs capazes de cumprir a mesma missão e com muito mais facilidade. Muitos deles podem mergulhar mais de 1000 metros e, além de capturar objetos, podem ainda fazer perfurações no subsolo, soldar metais ou cortar cabos. Em outras palavras, as máquinas tomaram-se mais versáteis e mais inteligentes. Isso se deve, em grande parte, aos circuitos eletrônicos acoplados às suas engrenagens. Assim, por meio de comandos mais simples, foi possível obter maior ganho de força nos braços-guindastes e de agilidade nos braços manipuladores. Outra novidade importante foram os novos materiais, como o kevlar, um plástico que tem a resistência do aço; ou o titânio, um metal forte e muito leve, que dificilmente se deixa corroer pelo sal. Os robôs que operam no Brasil empregam algo diferente - uma notável resina recheada de minúsculas esferas ocas de vidro, chamada espuma sintática. As esferas têm apenas 1 milímetro de diâmetro e, em grande quantidade, parecem um talco muito fino, cuja função é tornar mais leves as peças construídas com ela. Desse modo, pode-se contrabalançar o peso das partes de metal, que são os músculos da máquina.Afinal, enquanto fazem suas tarefas, os robôs submarinos têm que flutuar e nadar, ao contrário de seus primos da indústria, que são fixos. Essa habilidade sofisticou-se muito quando entraram em funcionamento as fibras óticas, ampliando os canais de comunicação entre o fundo mar e a superfície. São acondicionadas dentro do mesmo cabo que os operadores empregam para dirigir e acionar os robôs. A diferença é que, em vez de comandos elétricos, transportam grande quantidade de sinais eletrônicos, responsáveis pelas imagens de televisão e de sonar.Foram essas tecnologias que, a partir da década de 70, capacitaram os robôs para tarefas pretensiosas, como as que executam nas plataformas de petróleo. Ou as que podem vir a executar, dentro de mais alguns anos, em muitos outros setores. A França, por exemplo, já construiu inúmeros protótipos com o objetivo de recolher minerais raros no leito oceânico. É difícil prever se os robôs avançarão mais velozmente no mar ou nas indústrias de terra firme, nas quais vêm assumindo tarefas tais como apertar parafusos e fazer pontos de solda, num ritmo de milhares de operações ao dia. Desde 1982, por exemplo, eles desembarcaram na linha de produção da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, SP, e acabaram tornando-se fundamentais para a empresa.Das 24 máquinas existentes na fábrica, quatro modelos, denominados R30 mais espertos. Dotados de sensores magnéticos e de calor, localizam e soldam com precisão 72 pontos diferentes na carroçaria dos carros Santana, Voyage e Fox. O capricho é tanto, que o R30 não se limita a fazer o serviço: também registra o número e a posição dos pontos de solda. Trata-se de um detalhe decisivo, pois o relatório apresentado por ele - com rigor e rapidez inigualáveis - é aceito no exterior como comprovante de qualidade. Por esse motivo, tornou-se indispensável na montagem de carros para exportação. "É uma garantia de alta homogeneidade de trabalho", confirma o engenheiro de manufatura Carlos Daniel Kibrit.Além disso, acrescenta, a máquina não reclama de insalubridade, não sofre com os acidentes de trabalho e adapta-se de imediato às mudanças, muito comuns nas modernas linhas de montagem. Embora seja cego, surdo e burro - expressão empregada por Kibrit -, o R30 está alterando toda a fábrica, pois permanece fixo em um local. Em vista disso, montou-se um verdadeiro autorama capaz de levar os carros até ele - são correias de transporte automáticas, guiadas por comandos eletrônicos. Toda a precisão é pouca, diante das rapidíssimas reações do robô, cujo cérebro eletrônico capta uma mensagem em apenas meio segundo - e, naturalmente, manda executar as tarefas com presteza equivalente.Cada gesto seu, ao longo da jornada, obedece a uma programação predeterminada, à qual obedecem, também, muitos outros equipamentos à sua volta, em perfeita sincronia. Levando isso em conta, não há como duvidar do sucesso dos novos operários - a Volkswagen, que já possui 24 máquinas, está importando outras catorze, mais sofisticadas, da Alemanha. É certo que, fora da indústria automobilística, a modernização é mais lenta, mas nem por isso deixa de existir. Já no país 48 robôs em atividade nos mais variados ramos de negócio, de acordo com a estimativa de Roberto Camanho, diretor da Sobracon, Sociedade Brasileira de Comando Numérico e Automação Industrial.Camanho diz que também aumenta o número de fabricantes brasileiros. entre os quais destacam-se empresas como a Villares-Hitachi, Metrixer e a Romi. Elas decidiram começar pelos modelos mais simples. Os mais habilidosos robôs da Petrobrás, por exemplo, são estrangeiros - o Triton é americano e o Scorpio, canadense. Seus preços oscilam entre as ponderáveis quantias de 700 000 e 1 milhão de dólares, razão por que não são comprados, mas sim alagados. Os menores, equipados apenas de urna câmara, saem por 1 200 dólares ao dia; os maiores, dotados de braços, por 2 500 dólares.Como exceção, existem nas plataformas duas simpáticas máquinas brasileiras, trabalhando a todo o vapor. Construídas pela firma Consub e batizadas de Tatuí, vêem por meio de câmaras de TV, enfrentam correntes de 2 nós e descem até os 1 000 metros. Estão preparadas para tarefas rotineiras de inspeção ou reparo de cabos. Mais importante que isso, no entanto, é seu papel simbólico, como os primeiros representantes de uma indústria de vanguarda no país. 


Imagens muito Especiais - Tecnologia


IMAGENS MUITO ESPECIAIS - Tecnologia



Monstros e espaçonaves, trens que explodem e carros que voam são criações típicas dos magos dos efeitos especiais. Agora munidos de computadores, eles estão mudando até o modo de fazer cinema

Os carros de bombeiros da LucasArts estavam a postos no fundo do desfiladeiro. Ao longo dos paredões de pedra, as equipes de cinegrafistas entrincheiravam-se como em ninhos de metralhadoras. Faltava um minuto para o desastre de trem. Embora fosse um filme de Steven Spielberg, era a LucasArts Entertainment que cuidava dos efeitos especiais. E todas as 55 pessoas presentes naquele desfiladeiro do norte da Califórnia olhavam fixamente para o alto do penhasco, onde um viaduto ferroviário estranhamente pequeno projetava-se no ar.-Vamos lá... atenção!A voz do supervisor de efeitos visuais, Ken Ralston, amplificada por um alto-falante, ecoou com uma ressonância à altura do tríplice ganhador do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinomatográficas de Hollywood. Ele estava prestes a detonar uma grande bolada de dinheiro de Spielberg. -Câmeras, ação!Silenciosamente, uma locomotiva-anã arremessou-se através do viaduto - para fora dele. Mergulhou em vôo de pássaro e despencou no desfiladeiro, explodindo em fumaça e clarões. No dia seguinte, os empregados da LucasArts reuniram-se numa sala de projeções para ver o que as câmeras haviam registrado. Por sorte, não apareceu no filme nenhum abutre para denunciar com seu tamanho as verdadeiras dimensões do trem condenado, quatro vezes menor do que um de verdade. Os maquetistas haviam copiado uma elegante locomotiva dos tempos dourados da Estrada de Ferro Sierra, miniaturizando-a ao ponto limite, além do qual as chamas e a fumaça já pareceriam esquisitas. Na tela, uma locomotiva antiga aparentemente em tamanho natural, perfeita em todos os detalhes, mergulhava para a perdição.Após seis meses de preparo, estava concluída uma parte de uma única tomada para De volta para o futuro III. Duraria apenas um momento na tela, mas proporcionaria uma imagem de grande impacto - e um espetáculo de trucagem artística. Os responsáveis eram alguns dos 300 peritos da Industrial Light & Magic, a divisão de efeitos visuais da LucasArts. A ILM, como é chamada, é uma virtuose da prestidigitação cinematográfica: produz maquetes em escala de espaçonaves, extraterrestres de látex, Tibetes pintados a óleo. Já ganhou dez Oscars, dois Emmys (o Oscar da TV americana) e seis prêmios da Academia Britânica.Os magos da ILM trabalham invisíveis, puxando cordéis e acionando pedais para projetar imagens intensas em nossos cérebros - de máscara negra. Darth Vader respira como um buldogue com bronquite, enquanto Luke Skywalker brande sua espada luminosa: Indiana Jones despenca montanha abaixo a bordo de um vagonete de mina; Michael J. Fox conduz seu DeLorean incrementado de volta para o futuro; e a nave estelar Enterprise, deformada pela velocidade, vai intrépida ali aonde ninguém foi antes.Mesmo escondida 640 quilômetros ao norte do centro da indústria cinematográfica de Los Angeles, numa insípida rua comercial de San Rafael, na Califórnia. a ILM faz mais negócios do que as cinco maiores concorrentes juntas. Apenas alguns de seus doze prédios têm letreiros, mas neles se lê "Kerner Optical", um disfarce para manter à distância jovens à caça de protótipos de espadas luminosas. Dessas plácidas construções saíram os reluzentes extraterrestres de Cocoon e o lodo espectral de Os caça-fantasmas II. Numa das alas estão expostos os cartazes dos mais de 50 filmes para os quais a ILM criou efeitos visuais, desde as trilogias do próprio Lucas, Guerra nas estrelas e lndiana Jones, até Uma cilada para Roger Rabbit, E. T., o extra-terrestre e A caçada ao Outubro Vermelho.Os cartazes abarcam menos de quinze anos, mas nesse tempo a ILM mudou a maneira de fazer cinema.Foi na virada do século que um mágico francês transformado em cineasta, George Méliès, inventou os "efeitos especiais" - o uso de miniaturas mecânicas, fundos pintados e da exposição múltipla de películas para enganar o olho do espectador. Por volta de 1920, os departamentos de "truques" passaram a fazer parte normal dos estúdios de cinema. A partir dos anos 50, entraram em voga as filmagens no próprio local onde se passa a história. As oficinas de efeitos dos estúdios fecharam, e os truques de cinema virtualmente se extinguiram. Os comerciais de TV e um filme ocasional do gênero 2001 - uma odisséia no espaço mantiveram vivas algumas das antigas técnicas.Então aconteceu de as ambições automobilísticas de um jovem chamado George Lucas evaporarem-se num acidente. Decidindo apostar seu entusiasmo pela fotografia numa carreira de documentarista, ele ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade do Sul da Califórnia. Por fim, tornou-se assistente do diretor Francis Ford Coppola e chegou ao sucesso com seu próprio Loucuras de verão (American graffiti). Em 1975, começou a trabalhar num conto de fadas que se passaria num passado remoto, numa galáxia longíngua. E denominou "Industrial Light & Magic" à equipe de barbudos de blue jeans, reunidos para o projeto. Tão marcantes foram as técnicas de produção de imagens desenvolvidas pela ILM em Guerra nas estrelas que hoje, quando o arquivista da LucasArts Don Bies leva o visitante para um passeio ao acervo onde se acumulam 1 200 trajes, maquetes, criaturas e fundos pintados de filmes datando desde 1975, as próprias relíquias parecem patéticas. "Aqui está o elmo de Darth Vader", mostra Bies. O objeto é tão negro, reluzente e ameaçador como no filme, mas não passa de um plástico leve, como uma máscara infantil. Ao colocá-lo se descobre que o portentoso Vader tinha uma visão estreita do mundo, enxergando através de minúsculos furinhos.Tudo começa no departamento de arte da ILM, composto de oito pessoas. "Até que eles recebam o resultado de nosso trabalho, tudo permanece vago", diz TyRuben Ellingson, ele mesmo filho de artistas. Cita Os caçadores da arca perdida: "Tudo que o roteiro dizia era: "Eles abrem a arca e desencadeiam as forças infernais ". Imaginar vários tipos de inferno é a idéia de paraíso dos artistas da ILM. Alguns diretores levam ao departamento de arte seus storyboards - uma seqüência das cenas esboçadas como numa história em quadrinhos. "Spielberg esquematiza o filme todo em storyboard", comenta Doug Chiang, um artista da ILM que estudou Cinema na Universidade da Califórnia em Los Angeles, depois de fazer seus próprios filmes com efeitos visuais no colegial. Agora, Chiang e seus colegas transformam as idéias dos diretores em desenhos que determinam todo o visual do filme.Para De volta para o futuro II, cuja história se passa em 2015, a idéia era criar um clima dos anos 50, mas com um toque futurista. Chiang apresentou uma pré-produção, desenhada pelo colega John Bell, para uma futura lanchonete McDonald&7rsquo;s, servida por robôs. Outra ilustração mostra um táxi do futuro, um Citroën 1959 - voador. Os principais produtos do departamento de arte - além de idéias - são os storyboards detalhando cada tomada que a ILM produzirá. Num filme carregado de efeitos, os storyboards podem chegar a 1 000 páginas. Eles orientam os artistas que criam as pinturas de fundo, painéis chamados mattes. Em Indiana Jones e o templo da perdição, o arqueólogo-herói emerge de um túnel para um penhasco. A vista inteira era um painel, com um trecho sem pintura. a abertura da caverna. Ali os técnicos poderiam projetar o filme com Harrison Ford e os outros atores, enquanto a câmera filmaria tanto o painel quanto a imagem projetada. No filme pronto, o ator parece estar na borda de um alto penhasco. "Não é uma ilustração; a técnica é um jogo sutil de luz", diz Ed Jones, diretor de pós-produção da ILM, que ganhou um Oscar por combinar desenhos animados e atores em Uma cilada para Roger Rabbit. Os storyboards são também enviados às oficinas de maquetes e de criaturas da ILM, que podem ter um aspecto surrealista.Ali, numa tarde recente, duas artesãs costuravam cabelo sintético, misturado com pêlo de camelo num urso de espuma de látex que se tornaria um touro para um comercial de TV. Ao lado, três submarinos de A caçada ao Outubro Vermelho jaziam no chão. Dois homens transportando um avião de carreira para Duro de matar II passaram andando por uma réplica à altura dos joelhos do metrô de Manhattan que aparece em Ghost - do outro lado da vida. Para produzir reflexos no diminuto metrô quando as câmeras estivessem em ação, os maquetistas molharam os trilhos com álcool - água poderia ter formado gotas grandes o suficiente para trair as dimensões do trem.O supervisor de projetos da oficina de maquetes, Lorne Peterson, um veterano de Guerra nas estrelas, de barba grisalha, explica que o tamanho da miniatura depende de considerações como a profundidade de campo requerida para determinada filmagem e a massa necessária para, digamos, fazer um desastre de avião parecer verdadeiro. Algumas miniaturas devem ser suficientemente grandes para conter motores elétricos, baterias e luzes, e requerem ventiladores ou ar condicionado para evitar o superaquecimento.Para O império contra-ataca, os maquetistas criaram um planeta coberto de neve. feito de fermento e de microbalões (minúsculas esferas de vidro usadas na fabricação de plásticos). A maior parte das tomadas foi pelo sistema quadro a quadro, em que a câmera filma um quadro e os técnicos movem parte de uma miniatura ou de uma figura (como um braço) alguns centímetros. A câmera então dispara outra vez e o braço é movido um pouco mais. Quando o filme é passado na velocidade normal, a miniatura parece ganhar vida.Freqüentemente, o equipamento imaginário tem fundamento na vida real. Uma vez George Lucas sugeriu basear o desenho de um cruzador espacial num motor de popa Evinrude. E os maquetistas encarregados de criar uma gargantilha de couro simplesmente mandaram alguém à loja mais próxima para comprar uma coleira comum para cachorro. Numa cena de impacto de Indiana Jones e o templo da perdição, Jones tinha de enfrentar um vilão numa escada de cordas enquanto crocodilos nadavam lá embaixo. Por causa dos detalhes técnicos envolvidos na superposição do filme, a tomada requeria crocodilos pretos contra um fundo branco. Lorne Peterson lembrou-se de que um mecânico local criava filhotes de crocodilo como bichos de estimação e foi pedi-los emprestado. "Colocamos os filhotes em um grande tanque e o enchemos com leite em pó, que não Ihes faria mal". diz Peterson. "Então pusemos a câmera no teto, enquanto algumas pessoas ficavam nos lados do tanque, agitando galinhas mortas para fazer os crocodilos se mover."Os artistas de efeitos especiais de hoje ousam mais do que os antigos, porque o público está mais sofisticado. Imagens obtidas quadro a quadro (stop-motion), como as de King Kong, por exemplo, costumavam mover-se aos trancos, mas não saíam tremidas. Ora, como qualquer coisa filmada em movimento apresenta-se levemente tremida, a ILM desenvolveu o go-motion, em que um computador move tanto a câmera quanto a maquete, para criar um tremor realístico.A arte de construir modelos também evoluiu desde a primeira encarnação de King Kong. O fazedor de criaturas Tad Krzanowski, formado  em Geofísica em sua Polônia natal e detentor de um prêmio da Academia por seu trabalho na ILM, apresentou um buldogue que está desenvolvendo para um seriado de TV: é recheado de fios, motores minúsculos e transístores. "O truque todo é fazê-lo mover-se como um animal, não como um robô", diz. No caso de alguns modelos, o operador senta se em uma cadeira repleta de fios e, quando move um braço, uma perna ou a cabeça, o robô duplica o movimento.Em um estúdio da ILM, um trem está voando. Enquanto um técnico trabalha num computador, a locomotiva em miniatura - sustentada por uma armação motorizada - executa uma dança suave diante de uma tela azul. É outra tomada para De volta para o futuro III, mas esse trem vai subir como um falcão, em vez de se arrebentar numa ravina. E a miniatura mais complicada que a ILM já construiu. O maquetista Steve Gawley dotou-a de 21 gags, ou partes ativas. Em uma dessas gags, pode-se bombar através de uma tubulação nitrogênio líquido oculto no tênder da locomotiva, a fim de congelar o revestimento exterior do trem, dando-lhe o que Gawley chama " aquela aparência de viagem no tempo". As rodas se desdobram e se movem horizontalmente.  "Turboescapes de empuxo", para propelir o trem durante o vôo, acendem-se na traseira. Painéis laterais abrem-se como asas desdobráveis.No entanto, nem um mestre maquetista como Gawley poderia fazer o trem voar. Os técnicos de filmagem por velocidade controlada (motiom-control) da ILM, contudo, conseguem levá-lo às alturas. "Na verdade, é a câmera que se move - o trem parecerá voar para longe, fazer a curva e voar de volta", diz Peter Daulton, que opera o computador que controla a câmera e a miniatura. Por um terminal de vídeo ele acompanha cada movimento da peça e ajusta continuamente sua trajetória, até que esteja perfeita. A armação, dirigida pelo computador, faz o trem inclinar-se em curvas imaginárias, elevar-se em subidas imaginárias, embicar em descidas imaginárias. Ao mesmo tempo, o computador move a câmera para trás e para a frente, para cima e para baixo, enquanto Daulton faz pequenos ajustes.No fim, os espectadores acreditarão que uma locomotiva pode abrir asas e voar. Mas, primeiro, os técnicos precisarão eliminar da imagem definitiva a armação que sustenta o trem. Além do mais, o trem voa apenas contra uma tela azul; não há paisagens embaixo, nem um céu cheio de nuvens acima. Como observa o diretor de pós-produção Ed Jones, "para criarmos uma imagem, temos de criar um casamento de imagens". 

John Ellis, um dos veteranos da ILM, é um campeão de casamentos de filmes, um trabalho extremamente complexo. Ao sobrepor negativos e positivos do filme, às vezes com certas partes apagadas, às vezes com partes reveladas e outras por revelar, e ainda projetando luz através do sanduíche de filmes, para combinar suas imagens num novo filme, Ellis e seus auxiliares podem remover imagens indesejadas (tais como a armação que sustenta o trem voador). Também podem combinar imagens que nunca estiveram juntas na realidade. Em sua sala, Ellis mostra uma tira de filme em que a atriz Mary Steenburgen balança de cabeça para baixo contra um fundo azul brilhante. Isso faz parte de uma tomada para De volta para o  futuro III, em que a personagem, à espera do resgate iminente, pendura-se de um trem em movimento. "Mary saiu-se bem nesta cena", observa ele. "Como não podemos pendurar uma mulher de um trem. então a penduramos diante de uma tela azul, com um ventilador soprando em seus cabelos, e filmamos o trem separadamente", diz Ellis. Ergue outro pedaço de filme, em que aparecem as rodas de um trem em movimento.Passo a passo, demonstra como essa imagem e o filme de Mary Steenburgen são manipulados e combinados para acabar produzindo a cena da heroína de cabeça para baixo. "Foi a tomada mais simples de todas, e foram necessários onze pedaços diferentes de filme para compô-la", comenta. Embora O segredo do abismo não tenha despertado o entusiasmo da crítica, recebeu um Oscar de melhores efeitos visuais. Os tripulantes de uma estação de perfuração do leito submarino encontram extraterrestres no fundo do mar. Estes criam um tentáculo de água para examinar a estação. Os espectadores observam o pseudópode serpentear pela base e se comunicar com a tripulação espelhando seus rostos na sua ponta sensível. Uma tripulante enfia o dedo no pseudópode e descobre que é apenas água do mar. Os humanos amedrontados acabam batendo a porta contra ele, e sua ponta se desmancha no chão. Então o resto do pseudópode se retira para o mar. O premiado espécime se encrespa e ondula como água de verdade, mas foi criado em computador. Terminada a criação digital, foi transferido para o filme.Antes de O segredo do abismo, os especialistas em computação da ILM deram vida a um planeta morto em Jornada nas estrelas III. Em O jovem Sherlock Holmes, fizeram um cavaleiro de vidro e aço do vitral de uma igreja atacar um padre espantado. Encheram o céu de Xangai com formações de aviões de guerra em O império do Sol. Transformaram um corvo em tartaruga e uma sucessão de outros monstros em Willow - na terra da magia. E envelheceram 400 anos um horrível nazista em Indiana Jones e a última cruzada. Mas o pseudópode foi a sua obra-prima.Para mostrar como foi feito, Steve Williams, um jovem animador de Toronto, treinado nos estúdios Disney, chamou na tela a imagem de um fio enrolado como um verme: o protótipo do pseudópode. "E como se eu usasse massa de modelar digital", diz ele, movendo o mouse do computador para retorcer a imagem na tela. O operador, explica ele, pode escolher entre 17,6 milhões de tonalidades para colorir. Em um programa de computador, os animadores tinham criado uma réplica iluminada do set de filmagem. A medida que a forma do pseudópode se desenvolvia, o computador distribuia corretamente luzes e sombras. Enquanto isso, com um scanner (aparelho que decompõe uma imagem que se quer reproduzir), os animadores digitalizaram cenas já filmadas e as introduziram no computador, onde seriam fundidas com as imagens do pseudópode.Jay Ridle, supervisor de computação gráfica da ILM, diz que os técnicos digitalizaram até as feições dos atores, permitindo que o pseudópode as imitasse. "O ator senta numa cadeira e um raio laser cincunda-lhe a cabeça, medindo seus traços com precisão", diz Riddle. Os dados são então inseridos no computador. Filmes inteiros poderiam ser criados em computadores. Steve Williams prevê que "a ilusão será tão poderosa que não se poderá distinguir o que é real e o que não é". Os modelos de submarinos de A caçada ao Outubro Vermelho, por exemplo, foram filmados num estúdio seco, com vapor de óleo mineral produzindo o efeito de fundo do mar. A computação gráfica acrescentou elementos ao filme, para que a "água" parecesse mais real.De acordo com o gerente da ILM, Scott Ross, um novaiorquino de 38 anos, saxofonista nas horas vagas, a sofisticação dos efeitos visuais dá aos cineastas nova liberdade. Sete dos dez maiores sucessos da década de 80 foram filmes com efeitos visuais, observa Ross. "Agora os autores criam o que querem. sem se preocupar com a técnica de produzir aquilo", diz ele, citando O império do Sol.  Alinhar centenas de aviões de verdade com milhares de extras nas ruas teria sido um problema enorme, mas o fizemos com um computador. transformando um único avião numa esquadrilha inteira Para os magos de efeitos da ILM, a realidade é só matéria-prima.  Richard Wolkomir

domingo, 25 de novembro de 2012

Conheça o pai da 'invenção' mais letal da história


Conheça o pai da 'invenção' mais letal da história

Buck Duke (Foto: BBC)

Autores debatem o legado do empreendedor americano que modernizou a indústria tabagista.

Ele parece pequeno e inofensivo - branco e com apenas oito centímetros de tamanho. Mas o cigarro é visto como um dos grandes males da saúde pública e repudiado como poucos produtos.

Mas quem o inventou e como essa pessoa pode ser responsabilizada pelas inúmeras mortes provocadas pelo cigarro?

O cirurgião americano Alton Ochsner lembra que, quando ainda era estudante de medicina em 1919, sua turma foi chamada para assistir a uma autópsia de uma vítima de câncer de pulmão. Na época, a doença era tão rara que os estudantes acharam que não teriam outra chance de testemunhar algo parecido.

Quase um século depois, estima-se que 1,1 milhão de pessoas morram por ano da doença. Cerca de 85% dos casos são relacionados a apenas um fator: tabaco.

"O cigarro é o artefato mais mortal da história da civilização humana", diz Robert Proctor, da Universidade de Stanford. 'Ele matou cerca de 100 milhões de pessoas no século 20.'

Fenômeno

Jordan Goodman, autor do livro Tabaco na História disse que, como historiador, ele teve o cuidado de não apontar o dedo a nenhum indivíduo, "mas na história do tabaco eu me sinto confiante em dizer que James Buchanan Duke - conhecido como Buck Duke - foi responsável pelo fenômeno do século 20 conhecido como cigarro".

Em 1880, aos 24 anos, Duke entrou em um nicho da indústria do tabaco - os cigarros já enrolados. Uma equipe pequena de Durham, no Estado da Carolina do Norte, enrolava a mão os cigarros Duke of Durham.
Dois anos depois, Duke percebeu uma chance de ganhar dinheiro. Ele começou a trabalhar com um jovem mecânico chamado James Bonsack, que disse que poderia construir uma máquina para fabricar cigarros.

Duke estava convencido que as pessoas estariam dispostas a fumar os cigarros perfeitamente simétricos produzidos pela máquina.

O equipamento revolucionou a indústria do tabaco. "Trata-se, essencialmente, de um cigarro de tamanho enorme, cortado em comprimentos apropriados, por lâminas rotativas", diz Robert Proctor.

Mas, como as pontas ficavam abertas, o tabaco precisava ser umedecido, para ficar rígido, e não cair do cigarro. Isso era feito com ajuda de aditivos químicos, como glicerina, açúcar e melaço.

Mas esse não era o único desafio. Antigamente, as funcionárias enrolavam cerca de 200 cigarros por turno. A nova máquina produzia 120 mil cigarros por dia - um quinto do consumo de todos os Estados Unidos, na época.

"O problema é que ele era capaz de produzir muito mais cigarros do que conseguia vender", diz Goodman. "Ele precisava entender como conquistar esse mercado."

Marketing e publicidade

A resposta estava na publicidade e no marketing. Duke patrocinou corridas, distribuiu cigarros gratuitamente em concursos de beleza e colocou anúncios nas revistas da época.

Ele também percebeu que a inclusão de figurinhas colecionáveis nas carteiras de cigarro era tão importantes quanto trabalhar na qualidade do produto. Em 1889, ele gastou US$ 800 mil em marketing (ou US$ 25 milhões, em valores de hoje em dia).

Bonsack ficou com a patente da máquina, mas, em gratidão ao apoio de Duke, deu 30% de desconto no seu aluguel ao industrial.

A vantagem competitiva - aliada à promoção vigorosa - foi fundamental para o sucesso de Duke. 

Como suspeitava, as pessoas gostavam dos cigarros feitos pela máquina. Eles tinham aparência mais moderna e higiênica. Uma das campanhas enfatizava o fato de que cigarros manuais eram feitos com contato da mão e da saliva de outras pessoas.

Mas, apesar de o número de fumantes ter quadruplicado nos 15 anos até 1900, o mercado ainda era um nicho, já que a maioria das pessoas mascava tabaco ou fumava usando cachimbos ou charutos.
Duke - que também era fumante - viu o potencial competitivo dos cigarros em relação aos demais produtos. Uma das vantagens era a facilidade para acendê-los, ao contrário dos cachimbos.

"O cigarro, realmente, era usado de forma diferente", diz Proctor. "E uma das grandes ironias é que os cigarros eram considerados mais seguros do que os charutos porque eram vistos como apenas 'pequenos charutinhos'."

Mas um elo direto com câncer de pulmão não foi encontrado até 1957 na Grã-Bretanha e 1964 nos Estados Unidos.

Os cigarros chegaram a ser promovidos como benéficos à saúde. Eles eram listados nas enciclopédias farmacêuticas até 1906 e indicados por médicos para casos de tosse, resfriado e tuberculose - uma doença que é agravada pelo fumo.

Moralidade

No começo dos anos 1900, houve um movimento antitabagismo, mas ele estava mais relacionado à moralidade do que à saúde.

O crescimento no número de crianças e mulheres fumantes era parte de um debate sobre o declínio moral da sociedade. Os cigarros foram proibidos em 16 Estados americanos entre 1890 e 1927.

A atenção de Duke voltou-se para o exterior. Em 1902, ele formou a empresa britânica British American Tobacco. As embalagens e o marketing foram ajustados para mercados consumidores diferentes, mas o produto era basicamente o mesmo.

"Para ele, todos os cigarros eram iguais. Toda a globalização que hoje nos é familiar, com marcas como McDonalds e Starbucks - tudo isso foi antecipado por Duke e seus cigarros."

A indústria do cigarro continua em expansão até hoje. Apesar de ela estar em queda em determinados países desenvolvidos, no mundo emergente, a demanda por cigarros cresce 3,4% por ano. Em números globais, a indústria ainda está crescendo.

A Organização Mundial da Saúde alerta que, caso não sejam adotadas medidas preventivas, 100 milhões de pessoas morrerão de doenças relacionadas ao tabaco nos próximos 30 anos - um número superior à soma de vítimas da Aids, tuberculose, acidentes de carros e suicídios.

Mas Buck Duke pode ser responsabilizado por isso? Afinal de contas, ninguém é obrigado a fumar. Em um ensaio recente para a revista Tobacco Control, Robert Proctor argumenta que todos na indústria tabagista têm sua parcela de culpa.

"Nós temos que perceber que anúncios podem ser cancerígenos, junto com as lojas de conveniência e até farmácias que vendem cigarros. Os executivos que trabalham na indústria tabagista causam câncer, assim como os artistas que desenham as carteiras e as empresas de relações públicas e marketing que lidam com essas contas", diz Proctor.

Buck Duke morreu em 1925, antes da era dos grandes processos e da responsabilização do tabaco por doenças como câncer de pulmão.

"Eu não o culparia pelo [crescimento do] consumo de cigarros", diz Bob Durden, que é biógrafo do industrial. Ele aponta que Duke também foi responsável por ações positivas, como doações de mais de US$ 100 milhões para o Trinity College, na Carolina do Norte, que foi rebatizado de Duke University, em sua homenagem.

"Ele foi tanto um herói quanto um vilão", diz Goodman. "Buck Duke é um herói em termos de sua compreensão do mercado e da psicologia humana, da formação de preço, da publicidade. Nesse sentido, ele não é vilão. Mas ele fez o mundo fumar cigarros. E os cigarros são o grande problema do século 20."