14/05/09 - 06h00 - Atualizado em 14/05/09 - 06h00
Cientistas mostram que origem espontânea da vida na Terra é viável
Experiências químicas mostram como poderiam surgir moléculas de RNA.
Elas agiriam como 'faz-tudo' que impulsionaria as primeiras formas de vida.
A origem da vida é um fenômeno que intriga os cientistas há séculos. Mas os mistérios estão lentamente se dissipando, e um trabalho recém-divulgado mostra como deve ter ocorrido um dos passos mais importantes na caminhada para que uma química simples pudesse dar origem a formas de vida capazes de se replicar.
A chave de tudo é uma molécula que hoje é um primo pobre do famoso DNA, mas pode ter sido a precursora das primeiras coisas vivas na Terra: o RNA.
Mais delicada que o DNA, é uma molécula que se degrada mais facilmente. Em compensação, ela pode fazer o papel duplo de guardar informação genética (função primordial do DNA) e "atuar" no metabolismo (função primordial das proteínas). Por isso, ela era tida como uma excelente candidata à primeira molécula da vida.
A alternativa a ela seria pensar no surgimento de uma criatura primordial que, de cara, usasse DNA e proteínas, evocaria o paradoxo do ovo e da galinha -- como DNA codifica proteínas, e proteínas ajudam na replicação do DNA, os dois se reunirem juntos, gerados individualmente, num mesmo momento era um evento altamente improvável. Se dependesse disso, a vida provavelmente jamais teria surgido.
Entra em cena o RNA, que, ainda que mal e porcamente, consegue fazer tudo ao mesmo tempo. Mas ainda havia um mistério a ser resolvido: como diabos RNA surge de moléculas mais simples?
Foi esse o grande avanço realizado pelo grupo de John Sutherland, da Universidade de Manchester, no Reino Unido, e publicado na edição desta semana da revista científica "Nature". Eles conseguiram demonstrar um "caminho" para a síntese de RNA a partir de compostos que estavam presentes na Terra primitiva, 4 bilhões de anos atrás.
O segredo foi repensar a forma como o RNA poderia surgir. Normalmente, a formação dessa molécula era vista como a junção de três pedaços distintos, que teriam de surgir separadamente. Mas, como não houve meio de fazer isso acontecer em laboratório, a coisa não parecia avançar.
Sutherland e seus colegas fizeram diferente: imaginaram uma molécula precursora, mais simples, que já produzisse pelo menos dois dos três pedaços juntos. E aí o negócio deu certo. Claro, não sem um grande esforço de síntese de substâncias em laboratório.
A boa notícia é que mais uma peça do quebra-cabeça parece se encaixar nesse enigma do surgimento da vida a partir de moléculas inanimadas. A má é que ainda falta um bocado a entender.
"Mas é justamente porque esse trabalho abre tantas novas direções para pesquisa que ele ficará marcado por anos como um dos grandes avanços na química precursora da vida", disse Jack W. Szostak, do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, num comentário sobre o estudo publicado na mesma edição da "Nature".
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