segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O futuro do Telefone

O FUTURO DO TELEFONE



A partir de hoje, a sua conta de telefone pode ficar mais barata. Só depende de você e de uma série de programas de computador. Talvez pareça estranho, mas a internet, até então famosa por aumentar as contas de telefone de quem fica muito tempo online, está levando milhões de pessoas em todo o mundo a fazer ligações quase de graça. E não é só isso: em breve, ela pode revolucionar a forma como usamos o telefone, o computador e até a televisão.

É o novo mundo da telefonia via internet - ou VoIP, sigla em inglês para "voz sobre protocolo de internet". São softwares que convertem a voz em pacotes de dados que são enviados pela rede à qualquer parte do mundo. A tecnologia existe há mais de uma década, mas só no último ano amadureceu a ponto de oferecer uma boa qualidade de som e de ser fácil de usar. A resposta do público tem sido rápida: o software mais popular de VoIP, o Skype, ganha 155 mil adeptos a cada dia e já reúne 29 milhões de usuários no mundo - 400 mil deles no Brasil, segundo o Ibope. Até grandes provedores de internet americanos já começam a oferecer serviços parecidos.

Entrar nessa onda não é difícil: basta ter uma conexão com a web, microfone, caixas de som e um programa que faça ligações (veja como consegui-los no quadro da página 57). Enquanto os telefones comuns precisam transformar sua voz em impulsos elétricos e encaminhá-la por várias centrais até achar o destinatário, o VoIP faz uma ligação como se ela fosse um e-mail. A principal vantagem é o preço. Uma chamada de dez minutos para Tóquio, que custaria cerca de 19 reais no telefone comum, sai de graça na internet se as duas pessoas tiverem o mesmo programa. Se não, elas ainda podem fazer ligações para telefones comuns ao custo de alguns centavos por minuto, não importa o lugar do mundo para onde se está ligando.

O sucesso da tecnologia tem aberto novas portas. Já existem um adaptador (chamado ATA), que conecta um aparelho comum à internet ou a uma rede local especialmente para fazer ligações. Também já estão à venda telefones desenvolvidos exclusivamente para ligações por internet. A única diferença é que, em vez daquela tomada quadradinha, eles possuem uma tomada de rede, que os liga diretamente à web. E, nos próximos anos, pode esperar celulares e até televisores prontos para conversas por internet.



Muda tudo

Junte um telefone e um computador e você terá um monte de recursos legais. Alguns dos sistemas, por exemplo, enviam por e-mail as mensagens de voz que chegam à sua caixa postal. Em breve, você poderá anexar arquivos a ligações telefônicas, da mesma forma como fazemos hoje com o correio eletrônico. Também vai dar para unir voz e dados para facilitar a hora de fazer pedidos ou preencher formulários em pizzarias, hospitais e órgãos governamentais. Isso sem falar em jogos online que combinem conversas e imagens.

É provável que, em breve, outro fator entre na brincadeira: a televisão. Se algumas operadoras de TV a cabo já oferecem serviços de internet, por que não incluir o telefone no pacote? Dessa união pode sair, por exemplo, a possibilidade de fazer videoconferências pela televisão ou pelo computador - algo que já existe há algum tempo, mas ainda se restringe a algumas salas de bate-papo com vídeo na internet. Além disso, se o telefone tocasse no meio da novela, uma mensagem na TV poderia dar o número da pessoa que está chamando.

O passo seguinte será entrar no mercado de telefonia celular. Já existem alguns lugares públicos nas grandes cidades onde é possível acessar a internet por meio de ondas de rádio - e a tendência é que, nos próximos anos, a cobertura desse tipo de serviço aumente. Na Filadélfia, Estados Unidos, a prefeitura espera implantar já nas próximas semanas uma rede sem-fio que cobrirá os 350 quilômetros quadrados da cidade. Em toda essa região, qualquer um poderá acessar a internet de graça. Basta então um telefone sem-fio equipado com VoIP para ligar de forma barata em qualquer canto da cidade.

Mas existem riscos. Por ser uma tecnologia ainda pouco estudada, ninguém sabe muito bem o quanto ela é vulnerável a ataques. O telefone poderia ser usado para espalhar vírus, por exemplo, ou como porta de entrada para os sistemas eletrônicos de empresas. E quanto mais pessoas em mais lugares usarem a nova tecnologia, maiores serão os prejuízos no caso de um ataque em massa. Esse medo tem levado a grandes investimentos para melhorar a tecnologia - e tem aumentado bastante as polêmicas, que já não eram poucas.



O napster do telefone

É claro que, se você está fazendo ligações quase de graça, alguém está deixando de ganhar dinheiro com isso. Por esse motivo, empresas telefônicas de todo o mundo pressionam as autoridades para que criem regras específicas para VoIP. Além de levantar questões como segurança e privacidade do novo serviço, o que está em jogo é uma longa tradição de concessões, monopólios e muito, muito dinheiro para quem manda nesse mercado.

A polêmica é parecida com aquela que surgiu no nascimento do Napster, o clássico programa de troca de arquivos de música. Não por acaso, o criador do Skype, o sueco Niklas Zennström, também ajudou a desenvolver o Kazaa, um dos programas P2P (veja o glossário acima à esquerda) mais usados em todo o mundo para trocar músicas pela Internet. No caso da música, as gravadoras haviam investido milhões para criar discos que estavam sendo distribuídos de graça por pequenas empresas na internet. Na telefonia, as operadoras tradicionais investiram milhões para criar uma infra-estrutura que transmite voz e dados. Só que as empresas de VoIP usam essa mesma rede para distribuir a um custo baixíssimo as mesmas ligações. O mais assustador para qualquer operadora é que, hoje, qualquer pessoa, no país em que estiver, pode criar uma operadora de telefone de alcance mundial. Crie um bom programa, junte a tecnologia necessária e saia vendendo ligações a preços baixos.

É claro que isso ia terminar em disputas legais furiosas. O primeiro país a se levantar contra a novidade foi a Costa Rica, que propôs a criação de uma legislação que transformava uma simples ligação VoIP em crime. Detalhe: segundo o jornal local La Nación, cerca de 20% das ligações internacionais que partem do país já ocorrem via Skype. Mas o centro de todas as discussões são, evidentemente, os Estados Unidos. Por enquanto, prevalece lá a idéia de que o VoIP é um serviço de dados e, portanto, deve sofrer a mesma regulação que os e-mails (ou seja, quase nenhuma). Uma operadora da Carolina do Norte chegou a ser multada por bloquear tráfego de ligações VoIP. No Brasil, a situação é parecida: apesar de muita polêmica, não há ainda regras específicas. Detalhe picante: a própria Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) usa VoIP para interligar seus escritórios.
Apesar de tanto barulho, já dá para apostar que as ligações baratas tenham vindo para ficar. Assim como o Kazaa e outros serviços de troca de músicas pela internet, que se instalaram em países onde as leis são favoráveis a seus negócios, o VoIP sempre conseguirá achar onde crescer. E, de lá, todo o mundo poderá acessar o serviço de telefonemas de baixo custo. Talvez você não soubesse ainda, mas o mundo do telefone já mudou.



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