A VIDA IMITA A ARTE - Guerra nas Estrelas
Há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante... Com essa frase de abertura, o diretor George Lucas inaugurava, em 1977, a saga de Guerra nas Estrelas, um dos maiores sucessos da história do cinema. Com seis episódios - o último filme da série, A Vingança dos Sith, teve sua estréia mundial em maio -, a obra-prima de Lucas já faturou 3,5 bilhões de dólares em ingressos e mais 9,5 bilhões de dólares em mercadorias, como desenhos, bonecos e jogos eletrônicos. O estrondoso êxito pode ser atribuído a dois fatores principais: primeiro, todo mundo quer saber o que acontece (e o que existe) numa galáxia tão distante assim. Segundo, o filme usa seres alienígenas para discutir problemas bem terrenos, como traição, ambição, vaidade, incesto e caráter. Guerra nas Estrelas é um bom exemplo de uma receita que deu certo em Hollywood: explorar a curiosidade humana a respeito da possível vida extraterrestre, usando como pano de fundo as mazelas da sociedade. O negócio deu tão certo que não passa um ano sem entrar em cartaz algum grande filme sobre aliens.
Desde a década de 50, ETs de todos os tipos e gostos vêm freqüentando a telona. De tanto assistir a esses filmes, acabamos por formar uma imagem dos alienígenas muito próxima da que é pintada por Hollywood. Você, por exemplo. Pense num ET qualquer. Provavelmente, a imagem que virá à sua mente será bem parecida com a de algum personagem criado por George Lucas, Steven Spielberg ou outro cineasta que já explorou esse filão. Dificilmente você vai pensar num ET com a cara de Gisele Bündchen, certo?
O que acontece é que muita gente acaba achando que viu na vida real alienígenas iguaizinhos - ou muito parecidos - com os da ficção. "Na mente humana existe a chamada falsa memória. É quando incorporamos, sem perceber, o conteúdo do que assistimos ou ouvimos e, então, repetimos como se fosse nosso. Um filme, por exemplo, pode ser vivido como uma lembrança e não como ficção", afirma Wellington Zangari, psicólogo do Laboratório de Psicologia da Religião, da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, depois de cada filme desses que entra em cartaz, surgem centenas de novos relatos de avistamentos e abduções. Duendes e gnomos passaram a ser vistos com freqüência perambulando por aí após o sucesso do infantil Xuxa e os Duendes (2002). "Não dá para sabermos ao certo a fronteira que separa a imaginação da realidade, mas os filmes que estão na moda são um bom termômetro."
RETRATO DISFORME
Ao longo da saga de Guerra nas Estrelas, os extraterrestres foram agraciados com a beleza de estrelas como Harrison Ford e Natalie Portman. Mas os ETs mais marcantes, os que passaram a fazer parte do imaginário coletivo, são aqueles horrendos, gosmentos, cheios de braços e pernas, como os da série Alien (1979) ou de Homens de Preto (1997). Para os ufólogos, esse é um problema sério. "Em geral, eles são mostrados como criaturas disformes, sem se levar em consideração que os ETs são, em geral, muito parecidos conosco", diz o ufólogo Ademar Gevaerd. Segundo ele, em 99,9% dos relatos de observação, os ETs têm a forma humanóide. "Eles nunca têm três pernas ou braços", afirma.
Para muitos ufólogos, o simpático ser retratado por Spielberg no filme E. T. - O Extraterrestre (1982) é o mais verossímil de todos. O diretor mandou fazer o rosto de seu alienígena usando como molde as faces do poeta Carl Sandburg e do cientista Albert Einstein. Mas há quem faça ressalvas. "Biologicamente, a criatura que ele (Spielberg) inventou não faz nenhum sentido. Era um bichinho muito fofo, sem dúvida. Mas um ser com uma cabeça tão grande e um pescoço tão fino para sustentá-la não poderia sobreviver. Os ficcionistas dariam péssimos cientistas", dispara o paleontólogo cético Peter Ward, da Universidade de Washington.
No filme Guerra dos Mundos, que está estreando em junho, Spielberg apresenta monstros criados por meio de efeitos de computador, capazes de provocar pânico na população. "O conceito da invasão alienígena sempre me fascinou", disse o diretor a uma revista semanal recentemente. "O filme é uma história assustadora. Mostra como nos mantemos unidos diante do inimigo comum." Isso incomoda ufólogos que levam o assunto a sério. Para Gevaerd, nem todos os ETs que nos visitam vêm para dominar o planeta, guerrear, matar ou abduzir. Ele não poupa também a megaprodução de George Lucas. "Guerra nas Estrelas, a começar pelo título, mostra uma situação irreal. Que guerra? Não poderia ser paz? Os cenários do filme dão a entender que os planetas que eventualmente encontraremos em nossas futuras explorações espaciais são áridos e providos apenas de vida em condições bélicas", aponta.
Do ponto de vista da convivência intergaláctica, a crítica do ufólogo procede. Resta saber se a indústria do cinema conseguiria lotar as salas de exibição com um filme que se chamasse "Paz nas Estrelas". Provavelmente, não. Só se for numa galáxia muito, muito distante...
"Na mente humana existe a chamada falsa memória. É quando incorporamos, sem perceber, o conteúdo do que assistimos ou ouvimos e, então, repetimos como se fosse nosso. Um filme, por exemplo, pode ser vivido como uma lembrança e não como ficção"
Wellington Zangari, psicólogo do Universidade de São Paulo (USP)
Para fãs de carteirinha
O Dia em que a Terra Parou
Direção de Robert Wise, 92 minutos. 1951
Nave espacial pousa na Terra e seu ocupante, com feições humanas, se infiltra entre os americanos e estuda seus hábitos. A mensagem que o ET pretende passar aos terráqueos tem muito a ver com o contexto geopolítico da época: ele veio para nos alertar sobre os perigos de uma guerra nuclear
Contatos Imediatos de Terceiro Grau
Direção de Steven Spielberg, 132 minutos. 1977
Uma história de relações amigáveis entre humanos e ETs. Discos voadores sobrevoam cidades americanas e um homem, obcecado pela idéia, persegue todas as pistas possíveis para fazer contato com eles, que vieram em missão de paz
Guerra nas Estrelas
Direção de George Lucas, 121 minutos, 1978
A saga mostra ETs de uma galáxia muito, muito distante. Os personagens principais são belos exemplares com forma humana, como Luke Skywalker e a princesa Léia, que interagem com as mais variadas criaturas - como o sábio Mestre Yoda, um homenzinho verde que até que lembra o ET de Spielberg...
Alien, o 8º Passageiro
Direção de Ridley Scott, 116 minutos, 1979
O filme deu origem à série, em que o alien em questão é retratado como um monstrengo mais do que nojento. Ele entra numa nave espacial tripulada por humanos e começa a matar todo mundo para conseguir crescer. Bleargh!
E. T. - O Extraterrestre
Direção de Steven Spielberg, 115 minutos, 1982
Vencedor de quatro Oscars, o filme comoveu o mundo com a história da terna amizade entre um garoto de 10 anos e um ser de outro planeta que foi esquecido por sua nave na Terra. Aqui, o ET aparece como um ser baixo, de cabeça grande e pescoço, braços e dedos finos - e olhar meigo
Fogo no Céu
Direção de Robert Lieberman, 109 minutos, 1993
Baseado na história "real" do lenhador Travis Walton, que, diante de alguns amigos, foi atingido por uma luz misteriosa e sumiu por vários dias. Ao reaparecer, ele conta que foi abduzido por pequenos seres de olhos enormes, não muito amigáveis
A Experiência
Direção de Roger Donaldson, 109 minutos, 1995
Bela representação de seres híbridos que podem estar entrenós: uma mulher, meio ET, meio humana, resultado de uma experiência com códigos genéticos, está louca para acasalar e reproduzir sua espécie alienígena com os terráqueos
Independence Day
Direção de Roland Emmerich, 144 minutos, 1996
Extraterrestres muito maus enviam naves gigantescas para invadir a Terra e destruir a raça humana justo no dia do feriado americano. Em 4 de julho, um grupo liderado pelo presidente dos Estados Unidos (!) consegue derrotar os intrusos
Homens de Preto
Direção de Barry Sonnenfeld, 98 minutos, 1997
Agentes secretos do governo são incumbidos de fiscalizar alienígenas que vivem na Terra. Até que um terrorista do outro mundo resolve destruir nosso planeta. Aqui os ETs têm as mais variadas formas e aparências - como polvos e coisas parecidas com cadáveres
Sinais
Direção de M. Night Shyamalan, 107 minutos, 2002
Misteriosos e gigantescos círculos aparecem na plantação de um ex-pastor americano (Mel Gibson). Seres invisíveis parecem espreitar a cena o tempo todo. A idéia é mostrar o quanto a fé que o ser humano do terceiro milênio vem perdendo seria importante para lidar com situações extraordinárias
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