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segunda-feira, 11 de maio de 2020

Incêndio florestal na zona de exclusão de Chernobyl aumenta níveis de radiação da área

Incêndio florestal na zona de exclusão de Chernobyl aumenta níveis de radiação da área


Autoridades da Ucrânia detectaram um incêndio florestal na zona de exclusão em volta das ruínas da usina nuclear de Chernobyl. 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Gigantesco depósito de lixo nuclear pode se romper devido às mudanças climáticas

Gigantesco depósito de lixo nuclear pode se romper devido às mudanças climáticas


Um gigantesco depósito de lixo nuclear pode se romper devido às mudanças climáticas. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

O tesouro da Primeira Guerra Mundial encontrado no lixo

O tesouro da Primeira Guerra Mundial encontrado no lixo


Ao questionar o que leva algumas pessoas a realizarem trabalhos voluntários de limpeza de praias, muitos podem imaginar que a resposta seria o orgulho e a paz de espírito por fazer uma boa ação. 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Como o plástico mudou a sociedade brasileira

Como o plástico mudou a sociedade brasileira


Aterro sanitário em Manaus: acúmulo de resíduos plásticos nas cidades 
tem reflexos tanto na degradação ambiental quanto na saúde pública


Material se popularizou no Brasil nos anos 50, quando o país buscava imagem de modernidade, e hoje indústria do plástico é importante geradora de empregos. Junto com avanços, plásticos trouxe graves impactos ambientais.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Relíquia de um dos primeiros papas pode ter sido encontrada no lixo


Relíquia de um dos primeiros papas pode ter sido encontrada no lixo


Uma companhia de limpeza de Londres pode ter encontrado no lixo um objeto religioso de valor inestimável. 

sábado, 13 de janeiro de 2018

Nem Aliados e nem traidores - Um banheiro destruiu um submarino nazista na Segunda Guerra


Nem Aliados e nem traidores - Um banheiro destruiu um submarino nazista na Segunda Guerra


Em 1945, os Aliados da Segunda Guerra Mundial, grupo de países que combatiam a Alemanha nazista, contaram com um aliado inusitado para destruir um submarino alemão: o banheiro da embarcação.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

A missão espacial que pretende limpar o lixo espacial em volta da Terra


A missão espacial que pretende limpar o lixo espacial em volta da Terra

Há cerca de 500 mil detritos no espaço (Foto: BBC)

São 500 mil detritos que somam 7,5 mil toneladas; há desde pedaços de rocha a naves espaciais aposentadas. O lixo espacial ameaça danificar satélites.

sábado, 27 de maio de 2017

Lixão a céu aberto - Espaço


Lixão a céu aberto - Espaço


Acabamos de saber que um satélite explodiu, colocando em risco a Estação Espacial Mir. Desculpe, só posso responder às suas perguntas mais tarde." Com esta declaração dramática, o cientista-chefe do Programa de Detritos Orbitais da Nasa, Nicholas Johnson, interrompeu uma entrevista, pela Internet, em setembro. Felizmente, o alarme era falso: o artefato que explodiu era mesmo russo, mas a Mir estava fora de perigo.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Bateria nuclear usa diamante sintético e pode gerar eletricidade eterna


Bateria nuclear usa diamante sintético e pode gerar eletricidade eterna


Uma nova tecnologia desenvolvida na Universidade de Bristol, na Inglaterra, foi capaz de gerar energia a partir de um diamante artificial imóvel posicionado no campo radioativo de resíduos nucleares. A invenção, criada por uma equipe de físicos e químicos da universidade britânica, pode revolucionar o campo de geração de eletricidade limpa, além de encontrar uma solução prática para os problemas com lixo nuclear.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Alerta de possível Chernobyl subterrânea na França



Alerta de possível Chernobyl subterrânea na França


Agência francesa pretende depositar lixo radioativo abaixo da terra por 100 mil anos. 

O polêmico projeto de construção do Centro Industrial de Armazenamento Geológico (Cigéo) foi aprovado, este mês, pela Assembleia Nacional Francesa. Trata-se de uma megaestrutura a 500 metros abaixo da terra para armazenar 80.000 m³ de lixo nuclear. Ativistas ambientais apelidaram o projeto de “Chernobyl subterrânea”.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Mesmo a fossa mais profunda da Terra está cheia de lixo atualmente


Mesmo a fossa mais profunda da Terra está cheia de lixo atualmente

Uma medusa na Fossa das Marianas (Imagem via NOAA)

A fossa das Marianas é o ponto mais profundo dos oceanos da Terra, e também lar de imagens, sons e criaturas estranhas. 

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Bill Gates tomou: máquina transforma cocô em água limpa em 5 minutos


Bill Gates tomou: máquina transforma cocô em água limpa em 5 minutos



Você tem coragem de beber água que até alguns minutos antes era cocô humano? Bom, Bill Gates tem. Afinal, vale tudo para mostrar que o OmniProcessor funciona. A máquina é criação da Janicki Bioenergy, uma empresa que quer mudar o sistema de tratamento de água e saneamento no mundo através de tecnologias mais simples e sustentáveis.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Cerca de 1,8 tonelada de água contaminada vaza em Fukushima


Cerca de 1,8 tonelada de água contaminada vaza em Fukushima


Vista áerea da usina de Fukushima, em foto de arquivo feita no dia 20 de agosto (Foto: Kyodo/Arquivo/Reuters)

Vazamento ocorreu pelas rachaduras das barreiras que rodeiam os tanques.
Segundo Tepco, água radioativa não deve chegar ao mar.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A sujeira nossa de cada dia - Ecologia

A SUJEIRA NOSSA DE CADA DIA - Ecologia


Pequenos detritos que se jogam na rua podem se acumular por décadas e vencer os micróbios cujo trabalho evita que o planeta seja soterrado pelo lixo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Apocalipse Já - Ambiente


APOCALIPSE JÁ - Ambiente



Edward Goldsmith, um dos papas do movimento ecológico, diz que a civilização moderna não presta e que a humanidade está à beira do desaparecimento. O remédio, segundo ele, é uma conversão "quase religiosa" a uma outra visão de mundo

Edward Goldsmith tinha tudo para ser o que não é - um próspero capitalista e um defensor da civilização industrial. Mas ele talvez não chegasse a ser o que é fossem outras as suas origens. Nascido em Paris há 63 anos em berço de ouro - filho de pai inglês, rico deputado pelo Partido Conservador, e de mãe francesa, de boa família rural -, pôde estudar em vários países e formar-se em Ciências Políticas, Filosofia e Economia pela prestigiosa Universidade de Oxford. Teddy, como o chamam os amigos, poderia ter sido igual a seu irmão Jimmy, ou melhor, Sir James Goldsmith, que construiu uma das maiores fortunas da Europa e foi proprietário da revista semanal francesa L´Express.A herança que Edward recebeu aos 38 anos permitiu-lhe viver tranqüilamente desde então. Ele viajou o mundo todo, cultivando seus dois grandes interesses: peregrinar pelas melhores bibliotecas e estudar as chamadas sociedades tradicionais, virtualmente intocadas pelo padrão ocidental. Acabou por apaixonar-se pelos ideais pregados pelo líder indiano Mohandas Gandhi (1869-1948), cujo pensamento inspirou em 1972 o mais célebre dos doze livros que viria a escrever Blueprint for survival (Projeto para a sobrevivência). Traduzido em dezesseis idiomas, vendeu 1 milhão de exemplares e se tornou uma das bíblias do movimento ambientalista.Edward Goldsmith é muito mais que um guru verde, daqueles que comandam justos protestos contra as queimadas na Amazônia ou a matança das baleias. É um perfeito exemplar de uma espécie que, para o bem ou para o mal, está em expansão - a dos ecologistas radicais, a vertente xiita dos defensores do ambiente que enxerga no progresso técnico-científico e na sociedade industrial nada além do Grande Satã que arrasta para a morte, senão a natureza inteira, com certeza a humanidade. Os ecofundamentalistas rejeitam a idéia de que o sistema pode ser transformado de forma a conciliar criação de riquezas. Bem-estar material e preservação do planeta. Para eles, o homem está com os dias contados se não deitar abaixo o estilo de vida das sociedades urbanas, se não banir da face da Terra a própria noção de desenvolvimento econômico e se não retomar as tradições postas à margem pela Revolução Industrial.O próprio Goldsmith já se declarou "arquipassadista". Ele é um intelectual lido, viajado, articulado e experiente. É difícil contestá-lo quando aponta o dedo contra o que há de irracional e perverso na civilização contemporânea. Não obstante, ao extremar a argumentação, resseca o raciocínio. O mundo que condena é simplificado sem matizes. Para ele por exemplo, a ciência é uma superstição que não melhorou a vida humana. Eis, no mínimo, um ato de desrespeito aos fatos. Sua construção ideológica se sustenta em bases duvidosas ("o desenvolvimento econômico cria a pobreza"), desdobra-se em generalidades ("todos os países estão mais pobres do que eram anos atrás") e culmina em certezas insuscetíveis de verificação imediata ("restam-nos apenas alguns decênios"). Editor de uma contundente revista bimestral The Ecologist, e vice-presidente da Ecoropa, um dos maiores e aguerridos movimentos ambientalistas da Europa, ele certamente dará o que falar no Brasil em junho do próximo ano, ao participar dos eventos paralelos à Eco-92, a conferência mundial sobre ambiente e desenvolvimento, promovida pela ONU no Rio de Janeiro.Casado (pela segunda vez), pai de cinco filhos, viveu os últimos anos numa fazenda na Cornualha, na ponta sudoeste da Inglaterra, onde proibiu a entrada de carros, tratores, adubos químicos e instalações de aquecimento. Agora morando no subúrbio londrino de Richmond, 20 quilômetros a sudoeste da capital, numa casa simples (mas com algumas benesses da tecnologia que ele tanto abomina, como telefone, fax e máquina de escrever elétrica), não vê a hora de voltar ao campo. De vivos olhos azuis e cabelos grisalhos, é um homem "carismático, veemente, arrebatado e também gentil e simpático", segundo a repórter Gisela Heymann,  a quem concedeu a entrevista que segue.
Há catorze anos, o senhor profetizou uma reação geral contra a civilização industrial. Onde o senhor errou?
Sem dúvida fui um pouco otimista. A tomada de consciência em relação aos problemas ecológicos causados pelo desenvolvimento econômico se manifestou mais tarde, há apenas dois anos. Infelizmente, a atitude dos políticos e industriais não mudou. As pessoas têm de tomar a dianteira em relação aos governos. Estes só oferecem respostas econômicas aos problemas. Se existem mais doentes, constroem-se hospitais. Se existem mais desempregados, constroem-se mais indústrias. Não se atacam as causas dos problemas.
Mas já se tomaram decisões importantes contra a poluição. Nos Estados Unidos, não se usa mais nos sprays o gás clorofluorcarbono (CFC), que ataca a camada de ozônio. O Brasil pretende implantar até 1996 um plano para diminuir as emissões de poluentes dos veículos a motor. Isso não conta?
O CFC continua a ser usado em aparelhos de refrigeração e para a limpeza de circuitos eletrônicos. Os cortes, portanto, não foram suficientes. Os grandes problemas ambientais continuam como antes, ou pior. Nada se fez para diminuir o aquecimento do planeta ou para combater eficazmente a destruição da camada de ozônio. Nada se fez para diminuir o ritmo de destruição das florestas - salvo, ao que parece, no Brasil, onde o governo cortou as subvenções à destruição. Mas, na Malásia, por exemplo, a reação às pressões dos grupos ecologistas consistiu em cortar as árvores também à noite, para ganhar o máximo de dinheiro enquanto é tempo. E a última grande floresta africana, no Zaire, está em chamas.
O senhor escreveu no livro 5000 dias para salvar o planeta que a humanidade poderá estar extinta em trinta ou quarenta anos. Não e pessimismo demais?
Não. Estamos transformando a Terra num planeta inabitável. Aliás, já estamos condenados a conviver com um aumento da temperatura global entre 1,5 e 4 graus C previsto para o ano 2030, caso continue tudo como está, devido à duplicação do gás carbônico na atmosfera. É uma reação em cadeia. O mar, por exemplo, vai esquentar. O plâncton? que gosta de água fria, vai morrer. Isso diminuirá a capacidade dos oceanos de absorver o gás carbônico. Logo, a situação vai piorar. Não nos damos conta do que significam 3 graus a mais. Há 130 000 anos, o Sul da Inglaterra, ande fica Londres, era 3 graus mais quente. Havia ali pântanos, hipopótamos e crocodilos. Era um equilíbrio completamente diferente.
A espécie humana não se adaptaria a um clima 3 graus mais quente?
O pior nem é o aumento da temperatura. É a instabilidade do clima? sua imprevisibilidade. Já podemos constatar isso hoje. A agricultura se baseia na regularidade dos ciclos, que permite ao homem saber quando plantar e quando colher. O homem teria ainda de conviver com a destruição da camada de ozônio, o que significa não só mais casos de câncer de pele, como também o enfraquecimento do nosso sistema imunológico, o que por sua vez significa muito mais doenças. Acrescente-se o aumento drástico dos dejetos químicos que envenenam a terra e o lençol freático. Por isso? podemos dizer que nos restam apenas alguns decênios. Podem ser trinta, quarenta, cinqüenta anos. Mas não será um século. A espécie humana estará extinta nas próximas décadas, se continuarmos a destruir o planeta na mesma velocidade de hoje.
Novas tecnologias não poderão evitar essas catástrofes?
As pessoas pensam que o desenvolvimento econômico vai resolver os nossos problemas, mas não é nada disso. O desenvolvimento econômico cria a pobreza. Ele requer um enorme aporte de energia. Para isso, construímos enormes barragens que destroem o meio ambiente, a terra arável, as florestas. Construímos centrais nucleares, que são ainda piores, por causa da emissão diária de gases radioativos, o que faz aumentar consideravelmente os casos de leucemia em crianças nas regiões vizinhas. Sem falar nos acidentes, como o de Chernobyl. Todos os mecanismos quebram. Os mais complicados são mais vulneráveis. Temos é de mudar nossa forma de pensar e parar de adaptar o mundo às nossas necessidades.
Como convencer as pessoas de que o mundo moderno não presta? As populações mais pobres deixarão de sonhar com o nível de vida dos americanos e europeus de hoje?
Acontece que é impossível o Terceiro Mundo viver como os Estados Unidos ou a Europa. O mundo não poderia suportar a poluição que isso causaria. É tão absurdo como dizer que a população da Terra vai ser transferida para Vênus. Além disso, já podemos observar claramente o desabamento do mundo industrial. Nova York é uma cidade em plena falência. E os Estados Unidos são o país que consome cerca da metade da energia produzida em todo o globo. Daqui a quarenta anos, os americanos terão destruído toda a sua terra arável. As pessoas querem imitar os Estados Unidos porque não sabem o que se passa ali e são bombardeadas pela publicidade do sonho americano. É importante dizer que todos os países estão mais pobres do que eram anos atrás. Os americanos estão mais pobres hoje do que em 1972. E a população mundial não vai viver como os personagens de Dallas, mas em favelas.
O que se deveria fazer, então?
Temos de mudar totalmente nossa forma de encarar o mundo. É preciso criar uma sociedade na qual as atividades econômicas existam em pequena escala - o modelo da família ou das comunidades é o ideal. Devemos reduzir drasticamente o consumo de energia e acabar com a construção de barragens. Precisamos descentralizar as cidades, para que as pessoas possam trabalhar perto de onde moram, o que diminuiria muito a necessidade do carro particular. Não precisamos produzir bens de consumo descartáveis, que duram pouco e dilapidam os recursos naturais. Devemos voltar à agricultura sem adubos químicos, pois os biológicos são também eficazes a longo prazo.
Tudo isso significa abrir mão das conquistas da sociedade moderna, como o carro, o aquecimento central, as fraldas descartáveis, os tratores...
Sim. Sei que é muito difícil. Nossa economia é dominada pelas multinacionais. Por sua própria natureza, elas não vão jamais submeter suas atividades a fatores ecológicos, sociais e mesmo morais. Cada campanha de que participo, há trinta anos, é uma campanha contra as multinacionais. As multinacionais dominam os governos.
Se essa transformação é tão difícil assim, por que não fixar metas que não obriguem a rejeitar a tecnologia?
Porque não temos mais tempo. Ficar discutindo a redução em 10% das emissões de gás carbônico até o fim do século não adianta. Temos de diminuí-las em 60% - hoje. Estamos rodando a 100 quilômetros por hora na direção de um precipício. Diminuir a velocidade para 80 ou 50 quilômetros não significa nada. Temos é que mudar de direção.
Mas, concretamente, como se faria essa guinada?
Repito: não existe saída fácil. Tudo começa por uma conversão, quase religiosa, ao pensamento ecológico, a uma visão de mundo totalmente diferente. Para nós, a riqueza vem do funcionamento da biosfera, ou seja, do clima favorável, da terra fértil, da água fresca e abundante - condições essenciais para a vida humana neste planeta. Já a riqueza dos economistas é a riqueza manufaturada: o carro, o avião. o foguete. Temos de criar um tipo de vida que dispense essas coisas. Podemos viver sem carro, mas não sem água.
Nem a ciência pode impedir o pior?
Salvo exceções, os cientistas não comprendem o que se passa no mundo. Eles não têm nenhuma idéia do que está acontecendo.
Mas não é a ciência que nos explica como funcionam o mundo, a vida?
A ciência é uma superstição. Precisamos desacreditar a idéia de que ela é onipotente. Ela permite mudar as coisas, mas não compreendê-las. Seus modelos matemáticos são muito rudimentares. Eles não dão conta dos fenômenos sociais, cujos fatores mais importantes não são quantificáveis. Quer um exemplo? É conhecido o princípio de que o crescimento econômico é indispensável para alimentar o mundo. Na verdade, é o contrário. Na Tanzânia, depois que a economia começou a afundar, as pessoas começaram a comer pela primeira vez depois de muito tempo. Por falta de meios, as estradas não puderam ser consertadas, o que impediu a exportação de alimentos. A população foi forçada a comê-los. Em suma, não nego que a ciência pode mudar as coisas: ela pode até levar o homem à Lua. Mas de que serve essa viagem? Para nada.
Os antibióticos também não servem para nada?
A saúde não tem a ver necessariamente com os remédios. Apesar de todo o avanço da Medicina científica, a incidência de doenças (salvo a da varíola) aumenta no mundo inteiro. Aumentam a tuberculose, as moléstias venéreas, a malária, a dengue. Isso sem falar dos males da civilização, como o câncer, as doenças cardíacas, o diabete, os problemas dentários, a úlcera, a apendicite. Essas doenças quase não existiam nas civilizações primitivas. Sua incidência cresce com a industrialização.
O senhor é religioso?
Sou adepto das religiões tribais, que cultuam seus ancestrais e a natureza. O homem normal é físico e emocional. As religiões modernas baniram essas características. Os países do Norte destroem mais que os do Sul, em parte porque suas populações não são mais humanas. São robôs.


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O Planeta Discute o seu Destino - Ecologia

O PLANETA DISCUTE SEU DESTINO - Ecologia



A conferência sobre meio ambiente e desenvolvimento reuniu em 1992, no Rio de Janeiro, todos os chefes de governo do mundo. Deles foi a solução para o dilema que assombra a humanidade: como promover o progresso sem destruir a natureza

Quando abriu a sessão naquela manhã de fim de inverno europeu, na sala XIX do Palácio das Nações, a majestosa sede da ONU em Genebra, Suíça, o embaixador de Cingapura, Tommy Koh, tinha um grave comunicado a fazer aos representantes diplomáticos e outros enviados oficiais dos 159 países-membros ali reunidos. "Atendendo a insistentes pedidos, ficou resolvido que não se pode fumar nesta sala durante os trabalhos", decretou. "Mas não vou ficar aborrecido se alguém tiver de sair por alguns minutos para se drogar lá fora", emendou, com o bom humor pelo qual é conhecido por seus pares. Uma salva de palmas aprovou a decisão-a primeira e incomparavelmente mais fácil de todas quantas haverão de resultar de um espinhoso processo de negociações que está começando a aquecer os motores.
As negociações, assim como a reunião de Genebra presidida pelo alegre diplomata asiático, fazem parte de uma obra de relojoeiro-a montagem do que será com certeza a mais grandiosa e, espera-se, a mais fecunda iniciativa já patrocinada pela Organização das Nações Unidas em seus quatro decênios de vida nem sempre bem-sucedida. Trata-se da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que se realizará exatamente daqui a um ano no Rio de Janeiro. O Brasil ofereceu-se para hospedar a conferência ainda no governo Sarney, o Rio foi escolhido como sede já no governo Collor e, se depender dele, seu símbolo será a Floresta da Tijuca, a única do gênero no mundo, uma ilha verde de 5 quilômetros quadrados, habitada por centenas de espécies de pássaros e milhares de espécies de insetos, cercada de vida urbana por todos os lados.Eco-92 é o nome informal da reunião e megaevento o adjetivo mais usado para qualificá-la. Com razão, pois, de 1 a 12 de junho, os pavilhões do Riocentro-um conjunto de dezenas de salões com 90 000 metros quadrados de área, entre Jacarepaguá e o Recreio dos Bandeirantes, na ponta sul da capital- serão tomados por uma legião estrangeira calculada por alto em 3 000 diplomatas e outros graúdos funcionários governamentais, mais 1000 técnicos e burocratas da ONU, mais levas de jornalistas, também na casa dos milhares. A conferência custará ao Brasil 5 milhões de dólares. Não muito longe dali, no Autódromo de Jacarepaguá, uma população cujas medidas são ainda mais difíceis de prever, podendo chegar a 20 000 pessoas, estará fazendo a conferência paralela das chamadas  organizações não governamentais (ONGs), designação que recobre, além de entidades ecológicas, uma infinidade de associações civis desejosas de se manifestar sobre o futuro do planeta ou sobre temas menos grandiloqüentes, mas de seu interesse específico, como a situação de grupos indígenas.
Prova definitiva de que a discussão sobre o meio ambiente foi transplantada das barricadas da contracultura para o centro da agenda política internacional, pela primeira vez todos, mas rigorosamente todos os chefes de governo da Terra serão convidados a participar de uma conferência. E de supor que raríssimos deixem escapar a oportunidade de marcar presença naquele que se anuncia como um momento histórico-embora, a um ano de sua realização, ainda existam muitas dúvidas sobre como ele será efetivamente aproveitado. Muitos receiam que, se não forem capazes até lá de se pôr de acordo em relação ao que fazer para melhorar o ambiente global, os governantes não façam nada-a não ser deitar falação. "Essa talvez seja a última chance de garantirmos nossa existência no século XXI", adverte, por isso mesmo, à maneira de um arrebatado pregador bíblico, o canadense Maurice Strong, o self-made man de 61 anos que ocupa o cargo de subsecretário da ONU e comandará a Eco-92 na condição de seu secretário-geral.Homens do mundo, os diplomatas naturalmente não tomam ao pé da letra as palavras apocalípticas de Strong. Ainda assim, a julgar pelo desenrolar do encontro de Genebra, sob a benevolente tutela do cingapuriano Tommy Koh, parecem estar criando a coreografia apropriada a um entendimento supranacional a respeito do que provavelmente seja o supremo desafio da vida contemporânea. É uma dupla charada: de um lado, consiste em libertar da miséria três quartos da humanidade, sem que parte do resgate continue a ser pago pela natureza; de outro, consiste em preservar a prosperidade ou coisa parecida do quarto restante, desarmando a carga letal ao ambiente da tecnologia que tornou possível essa mesma prosperidade.
O que está em jogo, no limite, é saber se existe passagem para o desenvolvimento sustentável, como amam dizer os ambientalistas quando querem se referir à ainda impalpável, quem sabe utópica ordem econômica que promoveria o bem-estar material do homem sem destruir o patrimônio ecológico do mundo. "Não se trata apenas de salvar árvores, mas de entender que o modelo de desenvolvimento seguido até agora tem de ser revisto", interpreta Lucas Assunção, um dos 23 especialistas que integram o secretariado da Eco-92, presidido pelo canadense Strong. Mineiro de Belo Horizonte, economista formado nos Estados Unidos, Assunção se faz notar aos 32 anos pela carga de trabalho que acumula. Os colegas se referem a ele como o homem de três chapéus, pois, além das funções que exerce no secretariado, é responsável pela ponte entre este e o governo brasileiro e ainda é conselheiro em economia do meio ambiente na ONU.A arena onde começa a transcorrer o debate sobre a revisão econômica de que fala Assunção é o Comitê Preparatório da conferência. O PrepCom, no jargão da burocracia internacional, é que ocupou recentemente a sala vedada a fumantes no Palácio das Nações, em Genebra, fincado a dois passos de um cenário em que se combinam jardins floridos, as águas quietas do Lago Léman e montanhas decoradas pela neve- um cartão-postal que parece não pertencer ao mesmo mundo do qual se originam as imagens de pesadelo dos assuntos subjacentes à reunião, como a poluição do ar, o buraco na camada de ozônio, o desflorestamento e a desertificação, para ficar só na pauta imediata do comitê.O encontro foi o terceiro de uma série que começou em Nova York em março do ano passado, continuou em Nairóbi, no Quênia, em agosto, prosseguirá de novo em Genebra daqui a três meses e terminará em Nova York, em fevereiro do próximo ano. As duas rodadas iniciais foram dedicadas, em parte, a dar o tom geral do evento e, em parte, a acertar as regras do jogo. Estabeleceu-se, por exemplo, que a conferência deve trazer ao Rio as mais altas instâncias do poder em cada país.
A partir da terceira rodada, os delegados passaram a encarar o xis da questão-os ferimentos causados ao ambiente em nome do desenvolvimento-e começaram a desenhar sugestões para futuros acordos em torno dos remédios tidos como eficazes. "Essa é a fase mais importante de todo o projeto", avalia Assunção. "Pois durante a conferência propriamente dita, no Brasil, só vai dar tempo de assinar o que já tiver sido aprovado aqui." Concorda Jean Claude Faby, diretor do escritório da conferência em Nova York: "Seria impossível em apenas dez dias de trabalho negociar uma agenda tão complexa". As peças dessa agenda estão sendo encaixadas pelos três grupos de trabalho em que se dividiu o comitê preparatório, enquanto cuida de tecer o mais completo painel dos males ecológicos do globo, com base nos relatórios de cada país.
Aí está a incubadeira dos projetos de decisão que poderão ser oferecidos à caneta dos chefes de governo na Eco-92. A pauta do primeiro grupo abrange as questões ecológicas mais peludas, como a proteção da atmosfera, a gestão dos recursos terrestres, a preservação da biodiversidade e o impacto da biotecnologia. O segundo grupo está imerso nos problemas da defesa dos oceanos, mares e regiões costeiras, proteção dos recursos de água doce e administração dos rejeitos tóxicos e químicos produzidos pelo homem. O terceiro se movimenta no universo enganadoramente rarefeito dos assuntos jurídicos e institucionais. É onde, porém, a conferência pega no nervo das relações entre os países. Pois aqui se vão garimpar os mecanismos legais capazes de pôr em prática as decisões que se espera sejam sacramentadas no Riocentro-o que passa pelo campo minado do confronto entre a noção de soberania nacional e a realidade das calamidades que desconhecem divisões geográficas.Além disso, o grupo terá de mexer no vespeiro da origem e do trajeto do dinheiro necessário a dar vida àquelas decisões. "Quem paga quanto para quem fazer o quê?" Assim o chileno Bernardo Zentilli, companheiro de Lucas Assunção no secretariado da Eco-92, descreve com exatidão o maior caroço entalado nas boas intenções da reunião do Rio. E é seguramente nele que pensa também o secretário Maurice Strong quando proclama: "Uma das mais importantes tarefas na preparação da conferência consiste em defender, em termos persuasivos mas práticos, novas e inovadoras abordagens capazes de corrigir o desequilíbrio entre países ricos e pobres".
O que isso tem a ver com a salvação do ambiente é simples: os países rotulados com reconhecida imprecisão "em desenvolvimento" (alguns dos quais, na África e na América Latina, estão na verdade em franco processo de encolhimento) demandam livre acesso a dinheiro e às tecnologias limpas que começam a aparecer no mundo rico para que combatam a pobreza sem deitar a perder a natureza. Strong, um filho de agricultores pobres que diz ter aprendido ambientalismo com os esquimós, fez carreira na empresa privada e no governo do Canadá antes de parar na ONU e é casado com uma ativista verde, apóia a reivindicação. "É evidente", discursou ele em Nairóbi no ano passado, que os países em desenvolvimento vão precisar de recursos externos "além daqueles que já Ihes são disponíveis". Mas as rochosas realidades da economia não se dobram facilmente a orações. "Tem havido muita reticência da parte dos países industrializados em admitir que precisarão mobilizar uma considerável quantidade de recursos para esse fim", atesta Jean Claude Faby, da ONU em Nova York. Parece, mas não é necessariamente, apenas um caso de ganância.
Se é verdade que não falta no Primeiro Mundo quem já esteja farejando novas fornadas de negócios por obra e graça da projetada limpeza do planeta, e por isso não quer doar nem emprestar aquilo que imagina poder vender, tampouco falta quem, conhecendo suficientemente como funciona o mundo, receia que os dólares que vierem a ser transferidos a fundo perdido para a recuperação ambientar dos bairros pobres da Terra acabem muitas vezes tomando outros rumos. Isso bem pode acontecer nas mãos de governos autoritários, de que o Terceiro Mundo por sinal é pródigo, tão ciosos da soberania dos países que controlam quanto pouco propensos a prestar contas dos seus atos.
Presente em Genebra nos últimos dias de trabalho da terceira reunião do comitê preparatório da Eco-92, no início de abril, o chanceler brasileiro Francisco Rezek tocou no ponto inflamado da questão do dinheiro ecológico. "Nesse âmbito gostaríamos de ver abolidas as regras do mercado", afirmou ele em defesa do ponto de vista de que os critérios comerciais de praxe não podem atravessar o esforço de proteção ao meio ambiente nos países menos desenvolvidos. O ministro Rezek e o secretário da Ciência e Tecnologia, José Goldemberg, advogam a criação de um ou mais fundos internacionais para financiar os projetos de conservação da natureza. "Mas é preciso que cada fundo seja administrado por um secretariado especial", ressalva Goldemberg, "e não por instituições como o Banco Mundial ou o BID, sujeitas a pressões no contexto do problema do pagamento da dívida externa." O chanceler e o secretário são os principais mestres-de-obra das posições brasileiras na Eco-92. Já existe um precedente para a sugestão do fundo. Em junho do ano passado, uma conferência internacional para apressar as providências de proteção da camada de ozônio aprovou sem meias palavras a idéia de que as nações pobres têm direito a ajuda financeira para pagar os equipamentos e processos industriais que dispensarão até a virada do século o emprego de clorofluorcarbono (CFC), o gás que vem corroendo o escudo de ozônio na alta atmosfera- muito mais depressa, aliás, do que os cientistas previam. Os países industrializados prometeram enviar-lhes um cheque de 240 milhões de dólares para esse fim. De qualquer forma, um pedaço dessa engenharia toda resvala na quina mais áspera das conversas ecológicas entre os dois lados da linha do equador. É o problema das culpas e responsabilidades pelos danos ao ambiente. Norte e Sul vêm trocando desaforos por causa disso pelo menos desde 1972, quando a ONU promoveu em Estocolmo, Suécia, a primeira conferência mundial sobre o meio ambiente e o que se viu foram os ricos falando em "limites ao crescimento" e os pobres respondendo que "a pior poluição é a miséria". No embalo do milagre econômico do regime militar, a delegação brasileira chefiada pelo ministro do Interior, Costa Cavalcanti, chegou a considerar "bem-vinda" a poluição, por ser evidência de progresso econômico. Hoje, quem desfila pelos plenários internacionais com a bandeira do desenvolvimento a todo custo são países como a Índia e a China. Em nome de imperativos econômicos, eles resistem, por exemplo, a pôr em marcha programas destinados a banir as emissões de CFC.
De todo modo, passados vinte anos, fica difícil sustentar, como então, que as pressões ambientalistas escondem uma conspiração costurada pelos ricos para manter os pobres no seu lugar. Aparentemente, o que os ricos querem manter, isto sim, é o seu estilo de vida. Mesmo os simpatizantes das teses terceiro-mundistas apontam que, por maiores que sejam os pecados ambientais dos países industrializados, os outros tampouco podem fingir- apenas porque são pobres-que não têm contas a fazer do mal à natureza que se pratica dentro de suas fronteiras. De seu lado, as elites intelectuais do Primeiro Mundo percebem que também seus países sofrerão se recusarem socorro ecológico aos mais atrasados.
O Brasil, como se sabe, está no centro dessa nova guerra fria, devido à ligação entre as queimadas na Amazônia e o aquecimento do planeta. Brasília não pretende assinar documento algum sobre a transformação do clima da Terra que não consigne a responsabilidade dos países desenvolvidos. Assim, um texto sobre mudanças climáticas, que discrimine causas, conseqüências e soluções, poderá ser rejeitado pelos representantes brasileiros no PrepCom se tratar da redução da área das florestas tropicais de tal modo que deixe o país prensado contra a parede-e não fale das relações entre energia e clima, apontando o dedo acusador para os ricos. "Ora, não há dúvida de que a causa principal do efeito estufa é o aumento das emissões de dióxido de carbono (CO:), cujos maiores índices estão no Norte" assinala Assunção do secretariado da conferência."As coisas estão bastante difíceis", preocupa-se Goldemberg. "A conferência pode gerar ou um tratado ou um protocolo ou uma declaração, nessa ordem de importância, sobre a questão do clima", explica. Um tratado tem praticamente força de lei e prevê penas para quem não cumprir o que nele prometeu. Um protocolo consigna intenções que podem ser descumpridas sem que o mundo venha abaixo. E uma declaração talvez acabe não valendo nem o papel em que foi impressa. "O Brasil se opõe em princípio a um tratado sobre florestas tropicais,enquanto os Estados Unidos e o Japão são contra um tratado sobre o excesso de dióxido de carbono", registra ele, desconsolado. "A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos ainda aceita abordar o problema do CO2, mas a Casa Branca se recusa."Um exemplo dessa resistência está nos pífios resultados da primeira das quatro sessões previstas para a elaboração de um tratado sobre mudanças climáticas, que correm paralelas às reuniões do comitê preparatório. Depois de onze dias, delegados de 102 países foram para casa de mãos abanando. Os Estados Unidos limitaram-se a prometer que no ano 2000 as emissões do conjunto dos gases causadores do efeito estufa made in USA não serão maiores do que as de 1987. Essa contabilidade, ao incluir a redução de CFC com a qual os Estados Unidos já se haviam comprometido em 1987, autoriza na prática um aumento de 15% das emissões de CO2. E os Estados Unidos já são os maiores emitentes do mundo. Um recente estudo da academia americana de ciências (NAS) admitiu que a Terra ficará até 5°C mais quente e alertou pela primeira vez para a necessidade de retardar a mudança climática.Se se chegar a junho de 1992 sem nada mais concreto em relação ao clima do que uma simples declaração", prevê Goldemberg, "a conferência das ONGs vai azedar." Na verdade, em matéria de maus modos ecológicos é difícil dizer quem pode atirar a primeira pedra-além de ser um exercício fútil. Primeiro, porque nem o verde mais xiita ousaria sonhar com a instalação, no Riocentro, de um Tribunal de Nuremberg para julgar os crimes contra a biosfera. E segundo, porque os acusados sempre poderiam safar-se graças ao respeitável argumento de que a espécie humana melhorou de vida em razão da mesma revolução industrial que empesteou a natureza.
Dois documentos foram sugeridos ao comitê preparatório pelo incansável Maurice Strong, um veterano das refregas diplomáticas da reunião de Estocolmo, há dezenove anos, realizada sob seu comando, que acumula ainda os méritos de ter sido o primeiro diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e de haver participado da comissão que produziu em 1987 o famoso Relatório Brundtland (em homenagem a sua presidente, a ex-primeira- ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland). Intitulado Nosso futuro comum, é um retrato detalhado e devastador do estado do mundo, emoldurado por propostas de terapia que estão na raiz da Eco-92. Nele, a ONU reconheceu pela primeira vez que " a pobreza absoluta é incompatível com a preservação do meio ambiente".Strong deseja um grande acordo em torno de alguns princípios básicos. Esse acordo tomaria a forma de um breve texto, a Carta da Terra, inspirado na Carta da ONU, de 1945, que consagrou a universalidade dos direitos humanos. Para que não venha a ser apenas um aglomerado de belas letras mortas, a carta seria acompanhada de uma Agenda 21-um compromisso dos governos em relação a um conjunto de políticas voltadas para os desafios do próximo século (daí o nome). A agenda definiria um programa de trabalho com instrumentos aceitos por todos, incluindo recursos financeiros, transferência de tecnologia e ainda reformas institucionais. O essencial, para Strong, é que se concorde que o círculo vicioso da pobreza, destrutivo e imoral, precisa ser rompido. E que esse rompimento representa "um necessário investimento no futuro do nosso planeta"

Em Brasília, a precária preparação política

Ao candidatar-se a sede da Eco-92, em fins de 1988, o Brasil provocou alguma excitação nos gabinetes das Nações Unidas. Fustigado de todo lado pelas críticas às queimadas na Amazônia e à situação dos indígenas da região, o governo brasileiro poderia querer tudo-menos trazer para cá um exército multinacional de ecologistas, além de altas autoridades de uma centena e meia de países. Por isso, a oferta de Brasília foi considerada "extremamente importante", lembra Jean Claude Falby, do escritório nova-iorquino da Eco-92. Agora, o comitê preparatório da ONU acompanha a movimentação do grupo de trabalho chefiado pelo diplomata Carlos Garcia, diretor geral de Administração da Presidência da República, que tem a tarefa nada invejável de cuidar da organização prática da conferência. O "sargento Garcia", como se referem a ele os amigos, coordena as providências de uma afazia de organismos dos quais depende a infra-estrutura da reunião.O problema que parece existir é a magra preparação política do governo para a conferência. Em matéria de ecologia, ouve- se em Brasília um coro desafinado de poucas vozes. A primeira vítima dessa situação corre o risco de ser o Relatório Nacional, o retrato ecológico do país destinado ao comitê que prepara a Eco- 92. Sua elaboração coube a uma comissão interministerial centralizada na Secretaria do Meio Ambiente, dirigida pelo ecologista José Lutzenberger, com a participação de associações ambientalistas. O documento "periga não passar de um muro das lamentações, sem idéias concretas que Ihe dêem um caráter mais sério", antecipava tempos atrás um funcionário familiarizado com as andanças da comissão.Existe no governo, por sinal, um curioso sentimento em relação ao secretário do Meio Ambiente. "Ele é o nosso trunfo mais ilustre para a conferência", admite uma autoridade. "O problema é que suas idéias nada têm a ver com as da sociedade em que vivemos." De fato, Lutzenberger julga pouco produtivo discutir o que considera "a aspirina para a dor de cabeça cada vez mais forte da humanidade", como designa os "reparos técnicos" à crise ambiental. "Achar que mais desenvolvimento vai resolver os problemas provocados pelo desenvolvimento", compara, "é o mesmo que tornar a prescrever um remédio que comprovadamente faz mal ao paciente."Em conseqüência, a roupa com que o Brasil se apresentará à Eco-92 parece estar sendo confeccionada exclusivamente pelos estilistas do Itamaraty e da Secretaria de Ciência e Tecnologia. As primeiras manifestações brasileiras no comitê preparatório da ONU foram desenhadas pelo chanceler Francisco Rezek e pelo chefe da Divisão de Meio Ambiente, embaixador Luís Felipe Macedo Soares, em parceria com o secretário José Goldemberg. Nessa etapa, nem o Congresso Nacional, nem o Palácio do Planalto se envolveram com o assunto.Pode-se dizer que a vestimenta política com a qual os enviados brasileiros apareceram em Genebra ainda guarda vestígios da moda estridente ostentada na primeira grande conferência ecológica da ONU, em 1972. Sobreviveu uma tendência a envergar o vistoso conceito de soberania nacional sempre que entrassem em cena os maus passos do pais no terreno ecológico-notadamente, a questão do desflorestamento da Amazônia, associado ao efeito estufa e às extinções das espécies. O pior é que a recusa dos Estados Unidos em adotar um programa energético que reduza os riscos de uma catástrofe climática nas próximas décadas só estimula aquele tipo de reação-identificado até por um alto funcionário de Brasília como "pura xenofobia". 



Ângelo Machado
Espero que surjam medidas concretas capazes de ajudar os países do Terceiro Mundo a cumprir seu dever para com a humanidade. Uma dessas medidas poderia ser a criação de um fundo internacional de proteção ambientar. Espero também que o Brasil compense o fiasco de sua atuação na conferência de Estocolmo, em 1972, onde sustentou que "o Brasil pagaria em poluição o preço de seu desenvolvimento".O zoólogo Ângelo Machado é vice presidente da Fundação Biodiversitas, de Belo Horizonte, e professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

Jairo Costa
A conferência é uma enorme oportunidade para que outras nações tomem conhecimento do trabalho que estamos fazendo aqui. Espero que a conferência sirva ainda para integrar o nosso país no contexto das nações ecológicas. Espero também que a partir da conferência as nações mais ricas, que por sinal são as que mais poluem entendam melhor as mais pobres. Não basta cobrar é preciso que nos ajudem mais.O empresário Jairo Costa é presidente da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, do Rio de Janeiro.

Fábio Feldmann
Gostaria que a conferência representasse uma ruptura radical no nosso modo de pensar e de agir, que trouxesse de fato mudanças profundas no que diz respeito à ecologia. No entanto, ela corre o risco de se transformar simplesmente em um evento para os meios de comunicação uma espécie de circo de Fórmula 1, com um cenário hollywoodiano. Estamos trabalhando para que isso não aconteça.O ambientalista Fábio Feldmarm é presidente da Fundação ao Oikos (União dos Defensores da Terra) e deputado federal por São Paulo.

Sílvia Campiglia
Espero que a conferência aponte definições nítidas para os problemas que afetam diretamente o ambiente, como a utilização dos recursos naturais e a expansão urbana. Espero que as propostas e as soluções sejam imediatas. E que as prioridades sejam incrementadas o quanto antes. Ótimo que essa conferência se dê no campo da política, da diplomacia. É urgente que a consciência ecológica seja despertada entre os políticos.A professora Silvia Campiglia, formada em História Natural, é diretora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e coordenadora do curso de pós-graduação em Ciência Ambiental da USP.

Carlos Minc
Espero que sejam  estabelecidos princípios para uma nova ética ecológica internacional-incompatível, entre outras coisas. com a venda nos países pobres, de agrotóxicos proibidos nos países onde são produzidos. Essa nova ética impediria que países como os Estados Unidos e a Alemanha, que dizem chorar com as queimadas na Amazônia, comprem ferro-gusa de Carajás, produzido com carvão vegetal das matas nativasO ambientalista Carlos Minc é deputado estadual no Rio de Janeiro.

João Augusto Fortes
Espero a reafirmação da interdependência do homem com a natureza, do Norte com o Sul. Tomara que a Eco-92 marque o começo de uma ecologia no meio humano. Ou seja, do mesmo modo que se reconhece que a força da natureza está na sua biodiversidade, se perceba que a força da sociedade está na diversidade de idéias. Dela extrairemos a força para o trabalho em favor da vida na Terra .O empresário carioca João Augusto Fortes é um das dirigentes do movimento Pró Rio.

Armando de Brito
Espero pouco da conferência em si e mais da repercussão na consciência das pessoas da discussão que acontecerá. A conferência é um encontro de governos, que costumam ser conservadores na promoção do desenvolvimento com cuidados ambientais. O importante, de todo modo, é verificar até que ponto os habitantes do Primeiro Mundo estão dispostos a abrir mão de seus padrões de consumo em favor do meio ambiente.O administrador de empresas Armando de Brito é presidente do Movimento Pró Floresta da Tijuca.

Volker Kirchoff
Espero que a conferência não se transforme numa sucessão de acusações entre países desenvolvidos e em desenvolvimento sobre a responsabilidade pela crise ambientar mundial. Espero também que a conferência não venha a ser apenas um grande show para a TV. Espero, isso sim, que seja um grande e sério diálogo, capaz de abrir os olhos dos governantes, despertar consciências e o senso de responsabilidade.O engenheiro eletrônico Volker Kirchoff coordenador  geral  de Ciências Espaciais e Atmosféricas do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos

José Carlos Libânio
Não espero grandes resultados da conferência oficial. O que espero é que as organizações não governamentais presentes ao Rio de Janeiro não percam a chance de dar o seu recado, deixando claro, por exemplo, que a pobreza é uma causa, não uma conseqüência, da poluição ambiental. Será necessário protestar também contra o uso do Terceiro Mundo como lata de lixo dos produtos tóxicos dos países ricos.O antropólogo José Carlos Libânio é diretor no Brasil do movimento internacional Greenpeace.

João Paulo Capobianco
Da conferência propriamente dita não espero muito. Espero mais do que virá antes e depois. A preparação à conferência é um período de muitos debates e alertas. Depois será o tempo de cobrar o cumprimento das resoluções que servirão de base para futuras leis nos países participantes. Isso tudo cabe às organizações não governamentais, as ONGs. Sem essa luta, a conferência corre o risco de ser mais um grande acontecimento para a mídia.O biólogo João Paulo Capobianco é diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, de São Paulo


Na conferência paralela, a vez dos verdes

São dois, a rigor, os megaeventos marcados para junho do ano que vem no Rio de Janeiro. O outro é a conferência informal promovida pelas 133 organizações não governamentais (ONGs) inscritas junto à ONU, que reúnem menos ou mais frouxamente a miríade de entidades ambientalistas (ou não) espalhadas pelo mundo. Ninguém sabe quantas pessoas vão participar dessa colossal assembléia paralela. O certo é que vem gente de todo tipo e de toda parte querendo dar o seu recado particular e se fazer notar aos olhos da multidão. A dinamarquesa Hanne Strong, mulher do secretário geral da conferência, Maurice Strong, por exemplo, está organizando um comitiva de representantes de 1 500 nações indígenas-de pigmeus africanos a aborígenes australianos, passando por sioux americanos. Nos anos recentes, todos eles perceberam que, ao plantar seus problemas em terreno ecológico, alcançam uma audiência que de outro modo Ihes escapava. Os indígenas, por sinal, conseguiram o direito de representação na conferência da ONU.Nem a Prefeitura do Rio nem o governo do Estado têm qualquer compromisso oficial com a conferência paralela. Ainda assim, ambos darão apoio logístico ao evento. Os encontros das ONGs serão realizados no Autódromo de Jacarepaguá, com capacidade para 80 000 pessoas, a menos de 4 quilômetros do Riocentro. A idéia inicial dos independentes era reunir-se nos 23 000 metros quadrados de áreas externas do Riocentro, a uma pedrada de distância da conferência oficial. Mas a ONU, preocupada com a segurança dos chefes de Estado, vetou. É sabido que os mais variados matizes de verde cabem na heterogênea vegetação dos agrupamentos dedicados ao resgate da biosfera. Existem aqueles para os quais tudo se resolveria mediante uma boa e consentida reforma da sociedade urbano-industrial. Estes reconhecem que nem tudo nela é um poço de defeitos. Mas existem os fundamentalistas que só enxergam um remédio revolucionário-a completa demolição dos padrões de produção e consumo do mundo atual." A força do evento paralelo é muito grande", assinala a canadense Beatriz Olivastri, a sorridente diretora do International Facilitating Committee (IFC) que, como o nome indica, cuida de facilitar a participação dos setores independentes ao lado da Eco-92. De seu lado, a equatoriana Yolanda Kakabadse, responsável em Genebra pela ligação entre a conferência e as ONGs, Iembra com razão que foram elas "as responsáveis por grande parte da tomada de consciência da crise ecológica". lmpulsionada pelo temperamento latino e pela experiência de doze anos de trabalho na Fundação Natura, a maior organização ambientalista do Equador. Yolanda irrompe numa gloriosa certeza quando Ihe perguntam o que vai acontecer no Rio em junho de 1992: "Vai ser lindo". 





terça-feira, 30 de outubro de 2012

Um Cemitério para o lixo Atômico - Ambiente


UM CEMITÉRIO PARA O LIXO ATÔMICO - Ambiente



Falta um lugar seguro para manter longe do homem os resíduos das usinas nucleares. É uma questão de vida ou morte: eles podem continuar radioativos durante milhões de anos.

Dentro de uma piscina cheia de água, numa ins-talação anexa à usina nu-clear Angra I, no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, 15 toneladas de resíduos radioativos-o lixo venenoso que resulta da própria operação do rea-tor-repousam em tambores blinda-dos. Parece muito, mas é uma insig-nificância perto das 20 000 toneladas produzidas pelos reatores nucleares em funcionamento nos Estados Unidos, armazenados em tanques semelhantes. Essa, porém, é a única diferença. Por- que, no mundo inteiro, os cientistas nu-cleares enfrentam há muito tempo o mesmo desafio: encontrar quanto antes uma maneira definitiva de dispor do li-xo atômico, principalmente do chama-do material de alta atividade, proveniente do reprocessamento de elementos combustíveis, capaz de emitir  radiações letais para os seres vivos durante milha-res ou até milhões de anos-uma eter-nidade, para todos os efeitos práticos. O fato de não se ter encontrado ainda a solução dessa charada, 36 anos depois da entrada em funcionamento da pri-meira usina nuclear destinada à produ-ção de eletricidade, na União Soviética, é um dos dois principais motivos pelos quais muita gente gostaria de banir tais reatores da face da Terra; o outro é o eterno risco de tragédias, como a da usina de Chernobyl, também na URSS, em 1986. Sendo pouquíssimo provável que os homens decidam dispensar os benefícios do uso pacífico da fissão nuclear-para não falar dos fins mili-tares-, os cientistas correm atrás, senão da fórmula ideal, ao menos de uma solução satisfatória para o problema do lixo. Até porque, mesmo se fosse possível aposentar por um passe de mágica os 431 reatores comerciais ligados no mundo, seus resíduos não se evaporariam. E há 123 outras usinas em construção e 37 em fase de projeto. 
Nos reatores movidos a urânio, um átomo desse elemento é bombardeado por nêutrons. Seu núcleo então se divide, liberando enorme quantidade de energia, raios gama e mais dois ou três nêutrons que irão bombardear outro átomo e assim por diante. Dessa reação em cadeia brotam novas substâncias radioativas, como o plutônio, que serve para fazer bombas ou para alimentar outros tipos de reatores, e não existe na natureza. O processo gera ao todo mais de 1 000 substâncias altamente radioativas. O que não é reaproveitado no próprio reator ou para outras finalidades é o lixo atômico.
A piscina em Angra I foi projetada para acolher resíduos formados em oito anos de operação. Mas, na realidade, as 15 toneladas ali depositadas equivalem a um ano de funcionamento da usina brasileira, inaugurada em 1982. Mais lixo não se formou pela simples razão de que a usina ficou fora do ar a maior parte do tempo por causa dos intermitentes defeitos que acabaram lhe valendo o apelido vagalume, que acende e apaga, acende e apaga. "Sobra espaço na piscina, mas não devemos esperar sua capacidade se esgotar para então agir", recomenda o físico carioca Luís Pinguelli Rosa, que integra a comissão organizada na Sociedade Brasileira de Física para estudar o assunto. Pinguelli é um dos maiores incentivadores da idéia de que o governo junte em volta de uma mesa os melhores nomes do ramo para que digam o que se pode fazer a respeito-e logo.
Os cientistas têm recomendado uma variedade de alternativas. Na França, por exemplo, 20 mil metros cúbicos de lixo radioativo estão aprisionados nos armazéns de concreto da instalação nuclear de La Hague, no noroeste do país, aguardando destino definitivo. Com planos de enterrar o material de grande radioatividade, os pesquisadores franceses investigam quatro tipos de sepulturas: solos de xisto, de sal, de granito e de argila. Mesmo que uma dessas formações rochosas tenha as características ideais-algo que será confirmado apenas em 1997-, o túmulo adequado só ficaria pronto dez anos depois. Enquanto isso, as centrais nucleares francesas, responsáveis por 70% da eletricidade gerada no país, lançam cerca de 40 metros cúbicos por ano de material radioativo, ou de radiação ionizante, como dizem os cientistas. "O Brasil não está numa situação melhor, porque aqui nem se decidiu onde depositar os rejeitos de baixa atividade", critica Pinguelli.
De fato, 98% do lixo radioativo brasileiro compõe-se de rejeitos que precisam ficar isolados do contato humano durante dois ou três séculos apenas. Isso por causa do fenômeno que os físicos chamam meia-vida: o tempo necessário para que a  radioatividade  de uma substância caia pela metade. O césio- 137, por exemplo, material usado em equipamentos de radioterapia e que contaminou uma série de pessoas em Goiânia, em 1987, tem uma meia vida de trinta anos. Ou seja, passado esse período, restará metade da radiação inicial: depois de mais trinta anos, um quarto; após outros trinta, um oitavo; e assim por diante. Além de provir de aparelhos desativados, que mexeram com material nuclear, e da água usada para controlar a temperatura nos reatores-que tende a ficar contaminada por partículas radioativas-, o lixo de baixa e média atividade é também engordado por materiais comuns, como luvas e aventais, usados na manipulação de substâncias radioativas.
Segundo o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), do governo federal, cerca de 10 000 brasileiros lidam diariamente com elementos radioativos. "Basta que uma gota dessas substâncias respingue na roupa e o tecido passa a ser pequena fonte de radiação", informa a física chinesa, naturalizada brasileira, Cecil Chow Robilotta, da USP. Segundo ela, embora a energia nuclear seja cada vez mais usada pela Medicina para diagnosticar ou tratar doenças, a tendência é diminuir o volume do lixo radioativo dos hospitais. "Os novos exames clínicos usam substâncias que emitem radiação durante um curto período, como o tecnécio-99m, cuja meia-vida é de seis horas apenas", explica Cecil, dentro da "sala quente" do Instituto do Coracão em São Paulo, onde assessora médicos no serviço de radioisótopos. Ali, cestos de lixo revestidos de chumbo e tambores de resfriamento guardam material contaminado-aventais, seringas, pinças, chumaços de algodão-em processo natural de decaimento, a diminuição gradativa da radioatividade.
Quando a meia-vida é maior, porém, os rejeitos tanto de hospitais como de indústrias seguem para armazéns especiais. No Estado de São Paulo, o depósito fica na Cidade Universitária, na zona oeste da capital, no lugar onde funciona o IPEN. Ali se acumulavam, até o último mês de julho, 104,9 toneladas de lixo, distribuído em 615 tambores. Antes de ser armazenado, esse volume passou por um ritual, praticamente idêntico nos centros de tratamento de rejeitos radioativos do mundo inteiro. "O primeiro passo se assemelha a uma triagem, para extrair os resíduos, ou seja, a parte do lixo que ainda pode ser aproveitada", descreve o físico nuclear Achilles Suarez, responsável pela equipe que pesquisa rejeitos radioativos no IPEN. "As bombas de césio-137, quando não se prestam mais para tratar tumores, ainda podem ser aproveitadas em aparelhos de gamagrafia, que servem para fazer diagnósticos", exemplifica. 
A conseqüência mais óbvia dessa, reciclagem é que o volume do lixo diminui. Também para reduzir o volume, aquilo que de fato é rejeito deve ser ainda compactado, sempre que possível. "Não faz sentido guardar 1 litro inteiro de água, se apenas poucos mililitros estão contaminados", argumenta ele. "Por isso, criamos uma espécie de concentrado radioativo." O fluído em seguida é misturado a algum tipo de sólido, como cimento ou betume, para evitar toda e qualquer dispersão durante a manipulação do material. Em outros locais, os rejeitos líquidos de alta atividade são transformados em vidro, também para impedir derramamentos. Quando o rejeito é sólido, muitas vezes é possível prensá-lo. Assim. um tambor com 0,5 metro de altura, recheado de lixo atômico, termina compactado numa pastilha de cerca de 10 centímetros de altura.
Quando Achilles Suarez entrou na faculdade, em 1957, um veterano pendurou-lhe no pescoço um cartaz: "Hoje, estudante de Física, amanhã l ixo atômico". O trote foi profético: depois de ter trabalhado mais de dezesseis anos na área de proteção radiológica do próprio IPEN, o físico acabou assumindo o setor de rejeitos em 1983. No fundo, as duas áreas têm a mesma finalidade: interpor o maior número possível de barreiras entre a fonte de radiação e o homem; A rigor, qualquer corpo serve de obstáculo para a radiação -o problema é que, conforme a fonte radioativa, o obstáculo pode se tornar menos ou mais eficiente. Quando, na reação de fissão, um átomo é bombardeado até romper o núcleo, a energia pode ser liberada por quatro tipos de radiação -alfa, beta, gama e ainda de nêutrons -que devem ser bloqueados por materiais com características diferentes. "Se o lixo for enterrado sem maiores informações sobre a sua radiação, poderá no futuro distante ficar sob os pés de quem não terá a devida noção do perigo", imagina o físico Giorgio Moscatti, da USP.
Os cientistas do setor se preocupam não só com qual seria o melhor cemitério para o lixo atômico, mas também com a necessidade de ser ele mantido sob controle constante. Por isso, não apreciam particularmente a alternativa clássica de jogar os rejeitos no mar. "Nunca se saberá direito como a embalagem estará resistindo debaixo drsquo;água, nem se poderá ter certeza de que os tambores não acabarão flutuando até alcançar uma praia", adverte o físico Vito Vanin, da USP. O mar, na verdade, foi o primeiro lixão radioativo: o Mediterrâneo recebeu 50 toneladas de rejeitos produzidos na Itália; as águas do Atlântico engoliram nada menos de 126 000 toneladas de tambores repletos de lixo dos reatores de seis outros países europeus. Os Estados Unidos despejaram no Oceano Pacífico 370 metros cúbicos (os países nem sempre adotam as mesmas unidades de medida) de material radioativo. A título de comparação, uma piscina olímpica tem 1890 metros cúbicos.
O empesteamento só cessou em 1986, quando um acordo internacional determinou que o mar só poderia ser usado quando ficasse provado que a água é capaz de diluir os elementos radioativos, sem prejuízo para a fauna e a flora marítimas. O estudo a respeito, a cargo de pesquisadores americanos, ingleses e japoneses, deverá estar pronto no início do próximo ano. É claro que o terreno ideal para a construção de um depósito subterrâneo de lixo atômico precisa ser estável-um terremoto seria capaz de rasgar os tambores recheados de matéria radioativa. Mas a impermeabilidade da rocha é ainda mais importante. Caso partículas ionizantes escapem pela embalagem do lixo, elas podem levar até 1 milhão de anos para alcançar a superfície. Já um lençol de água poderia trazer o mal à tona em alguns meses, abrindo-lhe as portas para a cadeia alimentar dos seres vivos.
"O sal é extremamente impermeável, por isso os alemães fazem bem ao depositar o lixo em minas de sal desativadas. Só que a rocha é muito plástica e talvez não suporte pesos grandes", pondera o geólogo gaúcho Gérson Dornelles, que organiza na Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) a busca de um solo adequado para enterrar o lixo nuclear brasileiro."O granito, muito mais resistente, tem a desvantagem de possuir fissuras que facilitam o escoamento de água."
A CNEN já apontou duzentas áreas de interesse para  depósitos de lixo  de baixa e média atividade no país. A maioria se localiza em solos argilosos, com camadas horizontais que dificultam a migração de partículas radioativas rumo à superfície, como em São Fidélis, no Rio de Janeiro, e Trindade, em Goiás. A decisão, quando vier, terá provavelmente a forma de uma lei votada pelo Congresso a partir de um projeto encaminhado pelo Executivo. Está prevista para este mês a entrega à Presidência da República de uma avaliação, elaborada por uma equipe da Secretaria Especial do Meio Ambiente, de projetos já existentes sobre rejeitos radioativos, como o de autoria do governo anterior, de junho de 1989, que já recebeu dois pareceres negativos de comissões da Câmara dos Deputados. Enquanto isso, em tambores deixados a céu aberto, cobertos precariamente e que já começam a se estragar pela corrosão, 3 460 metros cúbicos de lixo atômico aguardavam há três anos em Abadia, a 20 quilômetros de Goiânia, a decisão de Brasília sobre o seu destino.
Esse lixo se originou em um ferrovelho, quando foi violada uma cápsula de césio-137 de não mais de 3 centímetros cúbicos-o tamanho de uma borracha de lápis-, matando quatro pessoas e contaminando mais de duzentas outras. "É preciso criar um depósito, que eu chamaria de intermediário, para abrigar os rejeitos gerados em acidentes como o de Goiânia", alerta o físico José Goldemberg, secretário de Ciência e Tecnologia do governo federal. "Na época do acidente, cientistas sugeriram levar os rejeitos para a Serra do Cachimbo, no Pará, onde já existem buracos de 300 metros de profundidade, recobertos de concreto. Seria a solução perfeita", lembra ele. "Mas um grupo de índios fez uma manifestação diante do Palácio do Planalto e o governo resolveu voltar atrás. Um absurdo. Enterrado ali, o lixo não ofereceria nenhum risco."

Agentes da desordem

No organismo humano, a cada minuto, cerca de
 250 000 átomos se desintegram, emitindo radiação. Além disso, uma pessoa recebe do ambiente uma média de 100 milirems (mR) por ano- rem (de Roentgen equivalent man) é a unidade usada para medir a dose de radioatividade absorvida pelo homem. Uma chapa de pulmão expõe o paciente, em média, a 17mR. Nas células, a radiação produz os chamados radicais livres, moléculas que tumultuam as funções orgânicas, ao reagir com tudo que encontram pela frente. A energia da radioatividade também pode perturbar o DNA, a molécula da hereditariedade, que programa o trabalho das células.
Estas, então, correm o risco de se tornarem cancerosas ou, no caso da célula sexual, de transmitir anomalias aos descendentes. De modo geral o organismo lida satisfatoriamente com esses agentes da desordem. "Já nos acidentes atômicos, a enorme radiação provoca mais estragos do que o organismo consegue corrigir", explica a física paulista Emico Okuno, da Universidade de São Paulo. Quando esse material radioativo penetra no organismo, causa nas células estragos 25 vezes maiores e transforma a própria vítima em fonte de radiação.


Barreiras sob medida

As embalagens para lixo atômico combinam materiais diferentes porque existem radiações e radiações. Um núcleo radioativo está sobrecarregado de energia, da qual tenta se livrar, emitindo, por exemplo, partículas idêntica ao núcleo do gás hélio constituído por dois prótons e formam as partículas alfa. São tão pesadas que se deslocam em linha reta, trombando com a primeira molécula que encontrarem pela frente: assim, uma folha de papel ou mesmo uma peça de roupa podem barrá-las. Mas, para liberar energia, o átomo também pode emitir elétrons. É a radiação beta. Bem mais leves, os elétrons caminham zanzando e se desviam de eventuais obstáculos: para barrar os raios beta é preciso, no mínimo, uma folha de alumínio; na pele, dependendo da energia, eles penetram até 0,5 centímetro.
Em busca da estabilidade, um átomo emite ainda ondas eletromagnéticas um milhão de vezes mais energéticas do que a luz, os raios gama, capazes de atravessar o corpo humano; apenas materiais muito densos, como aço e chumbo, conseguem segurá-los. Finalmente, existem os nêutrons. Embora muito penetrantes, reagem com materiais ricos em hidrogênio, sendo barrados pela água, pela parafina ou pela grafite.


Os lixões de cada um

Como vários países tentam livrar-se dos resíduos de suas instalações nucleares:
Estados Unidos - Até 1982, os rejeitos eram depositados na superfície ou jogados ao mar. Em 1983, o lixo de alta atividade foi levado para uma mina de sal no Estado do Novo México, desativada em seguida por falta de segurança. Hoje esse material está guardado no deserto de Nevada, enquanto 600 000 metros cúbicos de rejeitos de meia-vida curta se encontram espalhados por diversos depósitos.
União Soviética - Existem 35 depósitos superficiais de cimento revestido com chumbo.
Inglaterra - Desde 1986, com a proibição de lançar o lixo ao mar, procura-se um lugar para enterrar o lixo de alta atividade. Para os rejeitos de baixa atividade, construíram-se depósitos de cimento próximos a usina nuclear de Windscale Sellafield, no nordeste do país.
França - Todo o lixo está nos armazéns da usina de La Hague, no noroeste do país; estuda-se o solo de quatro regiões para construir até 2007 um depósito de grande profundidade.
Alemanha - O material de alta atividade é tratado na França e depois transportado para minas de sal no norte do país. Só os rejeitos da usina nuclear de Niederaichbach, desativada em 1983, foram enterrados a 1 200 metros de profundidade, numa mina de ferro desativada.
Suécia - Em 1988, inaugurou o primeiro depositário subterrâneo do mundo, a 140 quilômetros de Estocolmo, um conjunto de câmaras construídas em rochas de granito, com paredes revestidas de cimento e chumbo.
Japão - No ano passado, cientistas começaram a estudar a possibilidade de construir depósitos no fundo do mar, aproveitando o fato de que os sedimentos marinhos são muito pouco permeáveis.

domingo, 14 de outubro de 2012

O Mundo de cada um - Ambiente


O MUNDO DE CADA UM - Ambiente



Os ecologistas acham que qualquer pessoa pode fazer algo para mudar o planeta e - dizem como. Esse é o mote do Dia da Terra.

A nave espacial Terra não transporta passageiros. Somos todos tripulantes.
Marshall McLuhan (1911-1980), sociólogo canadense

No quarto domingo deste mês, dia 22, pelo menos um em cada cinqüenta homens, mulheres e crianças dos quatro cantos do mundo, algo como 100 milhões de pessoas ao todo, fará a sua parte naquela que será a maior manifestação coletiva da história: a comemoração do Dia da Terra.
Trata-se de uma invenção americana que agora, ao completar vinte anos, já transpôs todas as fronteiras, nas asas dos movimentos de defesa do ambiente.
O importante é que um evento dessa grandeza tem tudo para carimbar com o signo da universalidade um tipo de preocupação e de ativismo que de modo geral ainda permanece confinado aos guetos verdes da militância ecológica. E não é por outro motivo que a palavra de ordem deste Dia da Terra, modelo 1990 é a desafiadora pergunta "Quem diz que você não pode mudar o mundo?"
Eis um declarado, irrestrito convite à ação individual para deter o processo de deterioração de um planeta que em seus presumíveis 4,5 bilhões de anos sobreviveu a traumas geológicos e climáticos sem que neles houvesse a marca da mão do homem. No entanto, em um prazo muitíssimo mais curto, medido no horizonte de um punhado de gerações, a Terra provavelmente não será a mesma que o homem se acostumou a conhecer ao longo de alguns milênios. E para que ela não mude tanto a ponto de desfigurar ou mesmo impedir a presença humana em sua superfície é que se quer convencer cada pessoa de que está ao seu alcance fazer algo para mudar esse mundo de previsões apocalípticas, subscritas pela ciência, das quais emergem o pesadelo do buraco na camada de ozônio e o horror do efeito estufa.
Além da penetração maior dos nefastos raios ultravioleta, o acúmulo de gás carbônico na atmosfera, rastro do avanço mal traçado da civilização industrial apoiada na queima de combustíveis fósseis, poderá fazer com que a temperatura do globo aumente até 4,5 graus centígrados nos próximos cinqüenta anos. Com isso o clima que tornou possível a existência humana em quase todos os rincões da Terra se tornará irreconhecível: o nível dos oceanos subirá o suficiente para inundar enormes áreas costeiras e transformar solos férteis em desertos salgados - catástrofes que prenunciarão outras, afetando o conjunto da natureza.
Nesse cenário cada vez mais verossímil, no mínimo 8 bilhões de pessoas terão de ganhar o pão e a água de todo dia em condições dramaticamente adversas. Até que ponto mudanças no comportamento individual podem abrandar esse cenário? Para os ambientalistas, pequenas alterações de hábitos cotidianos tenderão a acumular benefícios em escala literalmente planetária, sendo o primeiro deles a percepção de que governos complacentes e empresas gananciosas não são os únicos vilões nessa história: cada qual tem seu grão de responsabilidade própria pela avalanche de desacertos ecológicos que castiga o mundo.
Embora produtores de apenas 5 por cento do gás carbônico lançado na atmosfera, menos de um quarto do volume made USA, os brasileiros sem dúvida estão entre os mais cobrados a se engajar na luta para salvar a Terra. A razão não há criança que ignore. A Amazônia Legal brasileira representa, afinal, um terço de todas as florestas tropicais do globo e sua preservação tornou-se uma preocupação mundial. Duas mil queimadas por dia, em média, já destruíram nos últimos anos quase um décimo da mata tropical e lançaram aos céus uma quantidade de gás carbônico suficiente para figurar entre os culpados pelo efeito estufa.
A Amazônia certamente não será salva por pequenas mudanças de hábitos cotidianos de pessoas vivendo a milhares de quilômetros da floresta, mas entre o que se passa na mata e o que se faz na cidade existe um parentesco que a vista não alcança - e que os ecologistas se esforçam por exibir assim como evidenciam o nexo entre as diversas agressões ao ambiente. "Temos a destruição das nascentes dos rios pelo garimpo, caça e pesca predatórias incontroláveis, cidades ameaçadas por nuvens de fumaça e praias imundas", relaciona o jornalista Fernando César Mesquita, 51 anos, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no governo José Sarney. "Temos, acima de tudo, um problema cultural. As pessoas ainda não reconhecem o seu papel no ambiente."
Mas é patente que já há algum tempo os ventos sopram a favor do ambientalismo. Em 1988, por exemplo, cálculos americanos indicavam que a população mundial de militantes do que se convencionou chamar movimentos ecológicos somava 13 milhões de pessoas; na virada para os anos 90, outros 3 milhões se incorporaram à onda verde. No Brasil, a contabilidade disponível se refere a organizações: são já mais de 2 500 entidades ambientalistas, a maioria núcleos de algumas centenas de pessoas dedicadas à defesa de causas específicas. A maior é a Fundação S.O.S. Mata Atlântica, com 3 mil sócios. Outra de bom tamanho é a Associação de Defesa da Juréia, cujos 1400 sócios pretendem preservar a região paulista da Mata Atlântica entre Peruíbe e Iguape.
"Há quinze anos, se você falasse em meio ambiente seria rotulado de romântico e antiprogressista", lembra o arquiteto Clayton Ferreira Lino, diretor da Fundação S.O.S Mata Atlântica, em São Paulo. "Atualmente, em compensação, a verdadeira militância convive com a moda da militância". E entre o discurso bonito e a prática de cada um existe um abismo", critica. Isso talvez se entenda pela constatação de que a bandeira verde nem sempre é leve. Muitas vezes, a busca do melhor para o meio ambiente exige no dia-a-dia individual mais paciência, mais despesas, menos conforto imediato. Isso explicaria por que, embora quatro em cada cinco americanos se considerem ambientalistas, poucos entre eles mudam a própria vida para mudar o mundo - a população dos Estados Unidos roda cerca de 1 bilhão de quilômetros por ano, queimando pouco mais de um quarto do combustível usado na Terra.
"Ninguém está pedindo para que se ande a pé", assegura o engenheiro Gabriel Murgel Branco, gerente do Programa de Controle de Veículos (Proconve), um bem-preparado plano de metas, aprovado há três anos pelo governo federal, que prevê a fabricação de carros nacionais menos poluidores, estabelecendo limites graduais de emissão de gases pelo escapamento. "Se as pessoas regulassem o motor com freqüência, seguindo sempre a indicação do fabricante, se só comprassem peças originais que garantam o desempenho programado para aquele motor e, finalmente, se não inventassem na garagem coquetéis incrementados de combustível, apenas com isso a poluição nas cidades diminuiria no mínimo 30 por cento", garante o engenheiro.
Se com um automóvel bem cuidado se pode atenuar parte do problema do aquecimento da atmosfera e mesmo da chuva ácida - a reação das gotas com os poluentes do ar -, em relação à poluição marinha a ação individual só tem a saída da precaução. Claro que jogar lixo na praia é arruinar o lugar ao sol do próprio usuário sujão, mas há coisa pior neste departamento. Na opinião de Luiz Roberto Tomazzi, diretor do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo, a grande inimiga dos mares é a especulação imobiliária. "Ao tirar os vegetais à beira-mar, o solo exposto à erosão é arrastado pela chuva para o mar; ali, as partículas de terra ficam em suspensão, impedindo a luz de penetrar na água", ele explica. "Assim, sem poder realizar a fotossíntese (a conversão de energia solar em nutrientes), morrem vegetais aquáticos e, em seguida, seus dependentes sucessivos, até chegar aos peixes. Nesse toma-lá, dá-cá todo o ecossistema marinho fica abalado."
Quando, meses atrás, técnicos da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo chegaram à Ilha Comprida, no litoral sul paulista, descobriram que ali tinham sido vendidos 300 mil lotes em uma área que, para se evitar o excesso de esgoto, comportaria no máximo 70 mil. "Quem compra um terreno no litoral deve exigir um comprovante de que o loteamento tem licença do órgão ambiental da região", aconselha Ivan Gânglio, diretor de Planejamento Ambiental da Secretaria. "Caso contrário, estará comprando hoje um pedaço do paraíso, para ter amanhã uma casa no inferno."
Quem se encontra no litoral ainda tem de cuidar em dobro do desperdício de água. Apenas 3 por cento da água que banha o planeta serviria para matar a sede do homem, ou seja, é água fresca; ocorre, porém, que três quartos desse total permanecem congelados nas regiões polares. Para tornar o líquido ainda mais precioso, três em cada dez lençóis aquáticos subterrâneos - formados pela chuva filtrada pela terra que se satura a determinada profundidade - estão contaminados também devido ao uso exagerado de pesticidas na agricultura, cujos resíduos tóxicos são arrastados solo abaixo pela água.
Para o geólogo Nélson Ellert, da Universidade de São Paulo, que há dez anos pesquisa a poluição desses lençóis, "o consumo excessivo de água causa estragos principalmente na região litorânea". Ali costuma haver o que se chama sobreexplotação, ou seja, a água fresca, menos densa fica sobre um lençol de água salgada, mais densa. "A diminuição em ritmo acelerado do volume de água doce faz subir aquela água que está logo abaixo, salgando portanto toda a fonte. O fenômeno não é raro, informa o pesquisador, citando áreas do litoral do Rio Grande do Norte, entre os casos mais recentes.
No hemisfério norte, cada vez com mais freqüência quem vai lavar as mãos depara com uma torneira seca e não se surpreende com isso: equipamentos hidráulicos modernos acoplam células fotossensíveis, que fazem a água jorrar apenas quando as mãos estiverem na direção do jato. Isso evita por exemplo a velha cena da escovação dos dentes enquanto a água fresca escorre pelo ralo, um descuido de quem desconhece o seu valor para o homem. Estuda-se também acima do equador a possibilidade de reaproveitar no vaso sanitário a água usada na pia. Faz sentido: cada vez que se aperta a válvula da descarga. o jato contém no mínimo 5 litros de água fresca tratada, a mesma que serviria para a higiene pessoal.
O desperdício é provavelmente o mais curto estopim da bomba ecológica que está para estourar nos próximos anos. Aparece camuflado nas atitudes mais inocentes. como a da dona de casa caprichosa que verte doses generosas de amaciante de roupa no tanque. "Detergentes, sabões, amaciantes, tudo isso no mercado nacional é declarado biodegradável, ou seja, suas moléculas são naturalmente assimiladas pelo ambiente. Mas na prática é outra história", adverte o químico Omar El Seoud, da Universidade de São Paulo, especialista no assunto. "Se o esgoto não passar por três etapas de tratamento - o que nem sempre acontece -, o produto não terá condições de ser degradado, transformando-se em mais uma substância tóxica no ambiente", adverte. "Por isso. ultrapassar a recomendação da embalagem é gerar doses extras de poluição."
Pior é quando se trata daquilo que se joga fora - no sentido literal: a humanidade precisará de aterros suficientes para os 60 milhões de toneladas de lixo que se estima serão produzidos nos próximos sessenta anos. O problema não é apenas a falta de espaço, que já desespera os americanos, por exemplo, mas a contaminação do solo, quando este não é preparado para receber os resíduos, como acontece com oito de cada dez aterros no Brasil. "A única saída é a reciclagem", prevê a engenheira Maria Helena Orth, diretora de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), uma mulher bem-vestida e de hábitos refinados que há quinze anos está de olho nos cerca de 700 gramas que cada brasileiro põe fora todo dia. "É a metade do que ele consome", calcula.
Reaproveitar aquilo que se elimina é um costume em relação ao qual o Brasil  
engatinha. O Japão, mestre nessa tecnologia recicla aproximadamente 
metade dos 100 milhões de toneladas do lixo produzidos por ano - fabricam com a matéria-prima das lixeiras, entre outras coisas, papel higiênico suficiente para embrulhar a Terra quatro vezes. Na Europa Ocidental, em média, um terço do lixo é reciclado: para estimular a população a separar embalagens de resíduos orgânicos. os franceses até criaram postos onde se trocam garrafas latas e caixas de papelão por billets de metrô ou de ônibus.
Muitas vezes, pode-se ajudar o ambiente simplesmente criando menos lixo, como, fiel às suas convicções, pretende o deputado federal Fábio Feldman, do PSDB de São Paulo, primeiro representante do ambientalismo no Congresso. Ele prepara um projeto pelo qual a indústria que utiliza embalagens descartáveis terá a obrigação de reaver 40 por cento desse material depois de vendido. "O consumidor deveria optar pelo descartável só em último caso, quando vai viajar, por exemplo, ensina. Seria ingênuo em todo caso imaginar que, se cada um cuidar das pequenas questões, as grandes se resolverão sozinhas.
O zelo ecológico na vida pessoal não exclui outras formas de ação, destinadas a influenciar as decisões dos poderosos deste mundo. É por isso que cientistas laureados como o astrônomo Carl Sagan e o químico Linus Pauling, além de manterem regulados os motores de seus carros, como se presume, assinam manifestos dirigidos ao governo americano pedindo leis mais duras de defesa do ambiente. Não é por mero otimismo que observadores como a socióloga Laura Tetti, da Cetesb, a agência de saneamento ambiental do governo paulista, acreditam que as pessoas estão dispostas a pagar o preço necessário para conservar o ambiente e, em última análise, a própria qualidade de vida. "Já passou a fase do ambientalismo romântico", analisa ela. "Todos agora querem receitas para cooperar."

Dinheiro no lixo

No Brasil, apenas 0,8 por cento do lixo é reaproveitado - e isso graças aos garrafeiros e catadores de papel. Mas o governo começa a remexer o problema. De dezembro do ano passado a março último, os moradores do bairro paulistano de Vila Madalena participaram de uma experiência pioneira: receberam sacolas para recolher papéis, latas, vidros, enfim, materiais recicláveis que habitualmente vão parar no lixo. Mais que o zelo ambiental, o que moveu a Prefeitura foi a preocupação com o dinheiro. Não é para menos: tratar as 12 mil toneladas de lixo que os paulistanos produzem todos os dias consome 15 de cada 100 cruzados da receita municipal. Em quatro meses de experiência a Administração conseguiu vender 70 toneladas daquele tipo de material - diante desse resultado,o projeto deverá ser implantado para valer  na cidade.