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quinta-feira, 9 de março de 2017

O Alienista - Machado de Assis


O Alienista - Machado de Assis


Machado de Assis é autor de "O Alienista", sua primeira obra realista, considerada por alguns críticos um conto e para outros uma novela, a maioria o classifica como um conto mais longo, principalmente devido à narrativa. Obra que inaugura a fase realista do autor, apresenta características como a análise psicológica e a crítica social. O conto é narrado em 3º pessoa, o chamado narrador onisciente. Machado de Assis consegue mostrar o comportamento humano no que diz respeito a aparência, vaidade e egoísmo.


Publicado em 1882, quando aparece incorporado ao volume "Papéis Avulsos", havia sido publicado previamente em A Estação (Rio de Janeiro), de 15 de outubro de 1881 a 15 de março de 1882.

(SEGUE ABAIXO ESTA OBRA COMPLETA)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

As mais famosas Casas Mal Assombradas

Casas Mal Assombradas



Casa assombrada ou Casa mal-assombrada é o nome dado a uma casa onde supostamente acontecem eventos insólitos sem que se encontre uma causa física para os mesmos. Tais eventos podem ir desde ruídos ou movimentação de objetos até alegadas aparições de vultos mais ou menos distintos aos quais se chama de assombrações ou fantasmas.

A Doutrina Espírita explica que esses fenômenos são produzidos por espíritos desencarnados que, para produzirem efeitos físicos como ruídos, movimento de objetos e sua própria aparição, se valem do ectoplasma produzido por um ou mais dos moradores que, geralmente sem o saber, possuem mediunidade extensiva.

Esses espíritos, ainda segundo a Doutrina Espírita, podem produzir tais efeitos com mais de um objetivo. Podem ser espíritos levianos querendo se divertir provocando o medo dos moradores, podem ser espíritos desejosos de se comunicarem, podem ser os espíritos de antigos moradores que ainda se julgam donos da casa, podem ser desafetos dos moradores atuais que querem perturbá-los emocionalmente ou, ainda, estarem ali por outros motivos.
O conhecimento da Doutrina Espírita e, particularmente, dos mecanismos da mediunidade é dito essencial para que quem mora em uma casa assombrada saiba como lidar com a questão. O Capítulo IX de O Livro dos Médiuns trata especificamente dos lugares assombrados, se bem que, para compreendê-lo, é recomendável a leitura de toda a obra.


As 12 casas mais mal assombradas

Sabe onde fica esse castelinho assustador? Na cidade de São Paulo! Localizado na Rua Apa, no bairro Campos Elísios, foi cenário de um crime em 1937. Dois irmãos estariam discutindo e acabaram trocando tiros. A mãe deles entrou e levou um tiro. Os três morreram! Só uma curiosidade: na mitologia grega, Campos Elísios é o mundo dos mortos!



Essa casa virou até filme de terror. A casa está localizada em Amityville, uma espécie de bairro localizado na cidade de Babylon, nos Estados Unidos. O lugar foi palco de um verdadeiro massacre. Um dos filhos da família que morava lá em 1974 matou os pais e os quatro irmãos. No ano seguinte, uma outra família comprou a casa, mas eles fugiram por medo, alegando que o local estava mal assombrado.
A casa foi vendida novamente em 2010 por cerca de R$ 1,7 milhões (US$ 950 mil).



Essa mansão assombrada foi colocada à venda no ano de 2009 pelo valor de R$ 18 milhões (US$ 10 milhões). Chamada de The Abbey, está localizada no bairro de Annandale, em Sidney, na Austrália. A mansão tem 50 quartos e dizem que todos esses cômodos escondem coisas assustadoras, pois uma loira de branco vaga por lá



Sabe de quem é esse prédio mal assombrado? Do ator Nicolas Cage! Chamada de LaLaurie Mansion, o local, que fica no Estado americano da Louisina foi comprado pelo ator em 2009. Dizem que a família que construiu o prédio gostava de torturar pessoas!



A mansão de Pickfair, construída em Beverly Hills, no Estado americano da Califórnia, pertenceu aos astros do cinema mudo Douglas Fairbanks e Mary Pickford. O fantasma da Mary ainda estaria na casa, que sofreu com a invasão de milhares de insetos assustadores anos atrás. O lugar está à venda por cerca de R$ 109 milhões (US$ 60 milhões)



O fórum Pickens, em Carrollton, no Estado americano do Alabama, é famoso por ter um fantasma que sempre aparece em uma das janelas. O fantasma seria de Henry Wells, que teria sido falsamente acusado de queimar o fórum e linchado até a morte em 1878



Essa seria a casa mais mal assombrada da Inglaterra. Várias pessoas que já moraram ali relataram presenças estranhas.



Thomas Whaley e sua família moraram nessa casa, em San Diego, nos Estados Unidos. Agora o local é um museu, mas continua com fama de mal assombrado. Um homem teria sido enforcado ali!



Essa mansão em Norfolk, na Inglaterra, pertence a uma mesma família há 400 anos. Dizem que o primeiro dono da casa, o Lorde Charles Townshend era cruel com sua mulher, Lady Dorothy. Ele a teria aprisionado na mansão depois de descobrir que ela teve um romance antes do casamento. Alguns dizem que ela foi empurrada das escadas da mansão!



A lenda diz que essa mansão, que fica em Yorkshire, no Reino Unido, é amaldiçoada por ter sido construída com pedras retiradas de outro local que já era assombrado! Bizarro, não é?



Essa casa foi construída em 1857 por Alexander Harris, como um presente para sua mulher. Ela morreu de febre amarela assim que a casa ficou pronta. Dizem que o homem não aguentou a pressão de perder a amada e se matou. Já viu tudo, não é?



É claro que o fantasminha que isso é uma montagem, mas ela serve para contar uma bizarra história. Os donos dessa casa em South Wales, na Inglaterra, a colocaram à venda, mas com uma condição curiosa. Quem comprasse a casa teria que ficar com o fantasma que a assombra. Sério! A pessoa teria até que assinar um contrato alegando exatamente isso!



Na ficção
Lendas acerca de casas mal-assombradas têm uma longa história na literatura, tendo autores da época da República Romana e do Império Romano como Plauto, Plínio o Novo e Luciano de Samósata escrito histórias sobre casas assombradas. Escritores modernos, desde Henry James a Stephen King, continuam a utilizá-las na sua escrita.
A casa assombrada é um elemento comum na literatura gótica e, em geral, no género de terror ou, mais recentemente, na ficção paranormal.
A estrutura de uma casa assombrada pode variar entre um antigo castelo feudal europeu e uma casa de subúrbio de construção recente. No entanto, muitos autores e cineastas preferem a arquitectura do século XIX ou anterior, particularmente mansões obscuras.
A chave do mistério é, muitas vezes, a presença de um ou mais fantasmas, usualmente devido a um assassinato ou outra morte trágica ocorrida naquele lugar no passado.


Casas assombradas na literatura

"The Castle of Otranto" (1764) de Horace Walpole
"The Mysteries of Udolpho" (1794) de Anne Radcliffe
"The Fall of the House of Usher" (1845) de Edgar Allan Poe
"The Haunted and the Haunters" (1857) de Edward Bulwer-Lytton
"The Turn of the Screw" (1898) de Henry James
"The House That Was" (1907) de Jacques Futrelle
"The Beckoning Fair One" (1911) de Oliver Onions
"The Rats in the Walls" (1924) de H. P. Lovecraft
"The Haunting of Hill House" (1959) de Shirley Jackson
"The Hell House" (A Casa Infernal) (1971) de Richard Matheson
"The Shining" (O Iluminado) (1977) de Stephen King
"From the Dust Returned" (2001) de Ray Bradbury


Casas assombradas no cinema

The Ghost House (1917)
The Haunted House (1921)
The Cat and the Canary (1927 & 1939)
The Cat Creeps (1930)
The Ghost Goes West (1936)
Lonesome Ghosts (1937)
Hold That Ghost (1941)
The Uninvited (1944)
The Ghost and Mrs. Muir (1947)
Scared Stiff (1953)
House on Haunted Hill (1958)
The Innocents (1961)
The Haunting (1963 & 1999)
The House That Dripped Blood (1970)
The Legend of Hell House (1973)
Burnt Offerings (1976)
The Amityville Horror (1979 & 2005)
The Shining (1980)
The Changeling (1980)
Poltergeist (1982)
The Nightstalker Murder (1986)
Beetlejuice (1988)
Casper (1995)
House on Haunted Hill (remake) (1999)
The Haunting (1999)
The Blair Witch Project (1999)
Thirteen Ghosts (remake) (2001)
The Others (2001)
Session 9 (2001)
Rose Red (2002)
Darkness (2002)
The Haunted Mansion (2003)
The Grudge (2004)
The Grudge 2 (2006)
Monster house (2006)
An American Haunting (2006)
Stay Alive (2006)
The Return (2006)
Return To House On Haunted Hill (2006)
Poltergeist - O Fenômeno (1982)



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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Livro acadêmico estuda efeitos de ataque de zumbis no mundo

11/12/2010 07h00 - Atualizado em 11/12/2010 07h28

Livro acadêmico estuda efeitos de ataque de zumbis no mundo
Daniel Drezner tentou dar ar sério a hipótese de ataque de mortos-vivos.
'Jovens sabem mais sobre zumbis de que sobre relações internacionais', diz.
Daniel Buarque


O livro de Daniel Drezner, que vai ser lançado em
2011 nos EUA (Foto: Divulgação)Depois de atacar a cultura pop, os cinemas e a literatura, os zumbis agora estão se tornando um assunto sério. A prova disso é que um respeitado professor de política internacional passou meses analisando de forma profunda o impacto que o aparecimento de mortos-vivos teria nas relações exteriores. Depois de misturar o que chama de “cânone” desse tipo de ficção com as principais teorias de relações internacionais, Daniel Drezner, da universidade Tufts, diz que apenas parte do mundo estaria pronta para lidar com os efeitos de um hipotético ataque zumbi.

“Olhando de forma séria, os mortos-vivos são como qualquer outro choque sistêmico global, como uma pandemia ou o próprio aquecimento global. Os países mais ricos e avançados, as maiores potências, provavelmente estariam prontos para lidar bem com este problema”, disse Drezner, em entrevista ao G1. A tese dele é parte do livro "Principles of international politcs and zombies" (Princípios de política internacional e zumbis), que vai ser publicado em 2011 pela editora da Universidade Princeton, nos Estados Unidos. “É um livro que tenta ser ao mesmo tempo sério e engraçado”, explica.

Cientista defende verdades por trás do mito dos zumbis
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Seu trabalho teve início depois de ele ler um estudo de matemáticos do Canadá, avaliando pandemias, analisando os zumbis como um agente patógeno e mostrando que, a menos que destruíssemos os zumbis muito rapidamente, a civilização como conhecemos iria acabar. “Percebi que no trabalho não se falava em política, e achei que era preciso analisar as questões de política internacional.” Ele então fez esta análise em um texto no site da revista "Foreign Policy". “Estava sendo ao mesmo tempo sério e bobo. Mas houve uma reação imensa, com vários colegas que ensinam relações internacionais achando uma ótima forma de atrair a atenção dos estudantes. A verdade é que os jovens de 18 anos sabem mais sobre zumbis do que sobre relações internacionais. Esta é uma forma de prender a atenção deles.”

A pesquisa dele usou como base os trabalhos existentes sobre "política de desastre", que é como os estados respondem a problemas parecidos com zumbis, como pandemias, furacões, terremotos, bioterrorismo. “Tive que pensar em uma atualização disso para um problema global no século XXI. O livro é obviamente escrito para fazer as pessoas rirem, mas foi escrito de uma forma completamente séria. Eu defendo publicamente tudo o que escrevi, pois fiz uma pesquisa séria.”


Ator fantasiado de zumbi faz promoção de seriado de TV em rua da capital dos Estados Unidos (Foto: AFP)Brasil
Segundo Drezner, o Brasil provavelmente não estaria entre os países mais afetados por um possível ataque de mortos-vivos. “Os países mais pobres, os estados falidos, provavelmente sofreriam mais. Mas o Brasil é uma potência ascendente, e provavelmente conseguiria evitar um problema maior com os zumbis.”

Ele alega, entretanto, que isso depende do local em que este problema surgisse. “Se tudo começasse no hemisfério oriental, o Brasil e o continente americano como um todo teriam mais tempo para se preparar e reagir. Se começasse, entretanto, numa favela do Rio de Janeiro, então o problema para o Brasil seria bem maior”, diz.

Em “Guerra Mundial Z”, ficção escrita por Max Brooks que Drezner diz ser “a descrição mais realista de como seria um ataque zumbi na terra”, os primeiros zumbis aparecem na China, mas não demora para que sejam registrados casos no Rio de Janeiro. No livro, que se propõe uma história oral da guerra contra os mortos-vivos, o primeiro zumbi no Brasil surge depois que uma clínica clandestina faz um transplante de coração usando um órgão contrabandeado (e infectado) da China em um austríaco.


Mexicanos se vestem de mortos-vivos para participar da 'caminhada zumbi', festa à fantasia temática que acontece em vários países (Foto: AFP)'Risco real'
Por conta da “moda” dos zumbis na ficção pop, já houve trabalhos científicos analisando as possibilidades reais de um ataque de zumbis. Segundo Drezner, que estudou quase tudo o que já se escreveu sobre os mortos-vivos, “as conclusões mais aprofundadas mostram que a existência de zumbis é um pouco mais provável de que a de vampiros. Por isso defendo que devemos dar mais atenção a zumbis de que a vampiros”.

Ele diz, entretanto, que em um debate sobre política internacional no caso de um ataque de zumbis, as causas e o tamanho real do risco são menos relevantes. “Há teorias muito heterogêneas sobre o que poderia causar este tipo de coisa e, independentemente da origem do problema, ações de prevenção não funcionariam, e seria preciso remediar, lutar contra ele. A questão que é mais importante é que, se isso acontecer em qualquer lugar, vai se tornar imediatamente um sério problema de segurança de fronteiras.”

Segundo o professor, zumbis são um exemplo clássico do que os departamentos de inteligência dos Estados Unidos chamam de “desconhecidos desconhecidos”, que são ameaças não-antecipadas para as quais o governo quer está preparado. “Depois do 11 de Setembro, houve um contato do governo americano com Hollywood. Por causa da surpresa do ataque, a inteligência americana começou a procurar meios de criação, buscando formas de se preparar para lidar com ameaças não-antecipadas. Zumbis são um exemplo clássico de "desconhecido desconhecido" em segurança e política internacional.”


Nova-iorquinos se fantasiam durante edição local da 'zombie walk' (Foto: AFP)Ele diz que, por conta desse estado de alerta permanente, o mundo reagiria melhor a qualquer ataque zumbi de que a ficção costuma mostrar. “O cânone zumbi é muito pessimista a respeito da reação do mundo. Eles costumam mostrar que em pouquíssimo tempo os zumbis já destruíram o planeta. Acho que isso não aconteceria dessa forma, e as pessoas saberiam reagir melhor de que na ficção”, defende.

Drezner disse ter tido esperança que as informações de despachos diplomáticos vazados pelo site WikiLeaks trouxessem alguma informação sobre zumbis. Sem que nada assim tenha aparecido, ele diz, entretanto, que a transparência desse tipo de vazamento ajudaria a acelerar a reação contra o ataque dos mortos-vivos.


LINK PARA ESTA PUBLICAÇÃO: http://bit.ly/hMINih

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A fúria de Moby Dick

ESSEX: A FÚRIA DE MOBY DICK



Oceano Pacífico, 20 de novembro de 1820. Mais um dia de trabalho começava para os tripulantes do Essex, que estava há mais de um ano em alto-mar capturando baleias para extrair o óleo usado na iluminação pública e na lubrificação das máquinas industriais. Um dia que entrou para a História. O dia em que, pela primeira e única vez, foi registrado um ataque de uma baleia contra um barco. Um ataque que deixaria os 20 tripulantes à deriva durante três meses, obrigando-os até a comer os próprios companheiros mortos para não passar fome - e que serviria de inspiração para um dos maiores clássicos da literatura mundial, Moby Dick (leia mais no quadro da página 32).Hoje, a caça é largamente condenada, mas no início do século 19 a extração do óleo de baleia era uma importante atividade econômica. A ilha de Nantucket, na costa leste dos Estados Unidos, era um dos maiores centros baleeiros. Mais de 70 embarcações iam e vinham constantemente. O trajeto era bem conhecido dos marinheiros: pelo Atlântico, rumo ao sul. Os barcos, porém, só retornavam ao porto com os porões cheios.

Por isso, era preciso contornar a América do Sul em direção ao Oceano Pacífico. Era exatamente isso que o Essex tinha feito. Naquela manhã de novembro, ele contava com aproximadamente 700 barris de óleo, metade de sua capacidade total. O céu estava claro e havia pouco vento (clima perfeito para caçar) quando os esguichos dos cetáceos foram avistados - e os botes se lançaram ao mar. O primeiro imediato Owen Chase logo teve de dar meia-volta para reparar seu barco, atingido pela cauda de uma baleia, fato bastante corriqueiro. Foi quando a tragédia começou. O camareiro Thomas Nickerson, que ajudava Chase no conserto, viu algo estranho. Era um cachalote macho, com 26 metros de comprimento, cerca de 8 toneladas e a cabeça cheia de cicatrizes. O bichão não era apenas enorme. Estava a menos de 35 metros do Essex e nadava em direção a ele, com a cauda de 6 metros de largura chacoalhando para cima e para baixo.

"Olhamos uns para os outros com total espanto, quase mudos", escreveu Chase no livro Narratives of The Wreck of the Whale-Ship Essex, em que relata o episódio. Foi tudo muito rápido. De um golpe, o animal atingiu a parte frontal do navio. Em seguida, passou por baixo do casco, arrancou a quilha e emergiu do outro lado. Afastou-se um pouco e voltou ao ataque. Em grande velocidade, atingiu o barco logo abaixo da âncora. O Essex estava condenado a ser enterrado no fundo do mar. A baleia se desvencilhou dos destroços e saiu nadando para nunca mais ser vista.

Terror no mar
Chase, 22 anos, era tripulante do Essex desde 1815. Pela primeira vez, fazia uma viagem na condição de primeiro imediato (o último passo antes de se tornar capitão). Thomas Nickerson estreava no mar e era o mais jovem dos marinheiros. Tinha apenas 14 anos e sonhava desde criança em partir com um baleeiro. Mal sabia ele que o barco, com mais de duas décadas de serviços no mar (e fama de pé-quente), faria sua última viagem. Todos estavam preparados para ficar até três anos a bordo. No momento do ataque, porém, foi só desespero. Owen, Nickerson e outros sete homens tiveram de correr para tirar o máximo de provisões dos destroços do Essex e colocar na baleeira. A poucos metros de distância, os 11 tripulantes que estavam nos dois botes que espreitavam as presas na água quase não acreditavam no que viam. "Nenhuma palavra foi dita por vários minutos", relatou Chase em seu livro. Com muito esforço, foi possível recuperar 270 quilos de bolachas, um pouco de água doce, algumas tartarugas que haviam sido capturadas nas Ilhas Galápagos e instrumentos de navegação.

Quando o sol raiou, todos se dividiram nos três barcos menores e se prepararam para partir. Tinham duas opções: ir até as ilhas Marquesas, na Polinésia, a 1200 milhas (cerca de 2 mil quilômetros), ou tentar chegar à costa da América do Sul, bem mais distante. Por medo dos canibais que, dizia-se, habitavam a região das Marquesas, escolheram a segunda alternativa. O destino se revelaria de uma trágica ironia (veja no infográfico da página 30 o percurso feito pelos náufragos).

Em meio às águas geladas do Pacífico, os marujos experimentaram novos limites de sobrevivência. Muitos nem conseguiam dormir, só de pensar no desastre. E a natureza não ajudava em nada. Os ventos fortes desviavam as baleeiras do destino sonhado e os jatos de água salgada deixavam todos molhados e com frio. Os cabelos começaram a cair e a pele queimada pelo sol cobria-se de dolorosas feridas. O primeiro grande desafio foi mesmo a fome. A pouca comida resgatada proporcionava apenas 500 calorias diárias para cada um - menos de um terço do necessário para um adulto. Para piorar, logo no terceiro dia parte das bolachas se perdeu depois que o bote de Chase foi atingido por uma onda. Em seguida, as bolachas do bote do capitão George Pollard Jr. se estragaram.

O próximo martírio foi a sede. "A violência da sede delirante não encontra paralelo no catálogo das calamidades públicas", observou Chase na época. Resultado: gargantas irritadas, saliva grossa e língua inchada. Pouco mais de 20 dias depois, a solução foi beber a própria urina. Ao final do primeiro mês à deriva, uma esperança renasceu. O grupo avistou terra firme. Não foi muito difícil chegar até a ilha, mas ela tinha pouco (em termos de comida e bebida) a oferecer aos náufragos, que ficaram apenas uma semana e voltaram ao mar. Três marinheiros acharam melhor ficar do que se arriscar naquela viagem rumo ao desconhecido. Os outros dividiram-se nos três botes e seguiram em frente, para mais privações e perigos.

De cara com a morte
No caminho, um dos barcos se perdeu - para sempre. E em 20 de janeiro de 1821 morreu Lawson Thomas, um dos tripulantes do bote do arpoador Obed Hendricks. Era a terceira morte desde o afundamento do Essex. Até então, os corpos eram jogados ao mar. Naquele momento, uma necessidade se impôs: por que não usá-lo como alimento? Por mais que o canibalismo fosse visto como um ato incivilizado, a prática era razoavelmente disseminada nos oceanos, uma saída legítima para a sobrevivência. Cruel ironia. Meses antes, todos preferiram evitar as ilhas Marquesas por medo dos canibais. Agora, estavam prestes a comer um de seus companheiros. O jeito foi retirar todos os sinais de humanidade, como cabeça, mãos e pés. Em registros posteriores, o capitão Pollard Jr. contou que, antes de ser comidos, os órgãos e a carne eram assados numa pequena chama acesa sobre uma pedra chata no fundo do bote.

Não demorou muito para o desespero atingir níveis ainda maiores. Apenas duas semanas mais tarde, diante da absoluta falta de comida, decidiu-se fazer uma espécie de votação para definir quem seria o próximo a servir de alimento aos sobreviventes. No dia 6 de fevereiro, Owen Coffin, então com 18 anos, foi o escolhido. Ele era primo do capitão - e estava no mesmo bote. A mãe do garoto, Nancy, nunca perdoou o sobrinho por não ter impedido tamanha crueldade com o filho - e, o que é ainda pior, por ter ele próprio se alimentado daquela carne. "Ela ficou quase louca ao saber daquilo e nunca mais tolerou a presença do capitão", escreveu Nickerson.

A tragédia estava por terminar. Doze dias depois, em 18 de fevereiro de 1821, quase três meses após o naufrágio, o primeiro barco foi resgatado, navegando sem controle na altura do porto de Valparaíso, no Chile. Com os olhos saltados da cavidade do crânio e o rosto salpicado de sal e sangue, Owen Chase, Thomas Nickerson e o arpoador Benjamin Lawrence tiveram de ser carregados para dentro do navio inglês que os avistou. Cinco dias mais tarde, o bote do capitão Pollard se aproximou da Ilha de Santa Maria, também na costa chilena. Quando os tripulantes do baleeiro Dauphin avistaram a embarcação, só viram ossos. Pollard e Charles Ramsdell estavam encolhidos, cada um em uma extremidade, incapazes de se mexer. Não queriam largar, de jeito nenhum, os ossos que chupavam em desespero, único alimento que restara desde a última morte do grupo. Os três marujos que ficaram na ilha Henderson foram resgatados no dia 9 de abril.

Por mais incrível que possa parecer, os oito homens que sobreviveram à tragédia do Essex acabaram por voltar ao mar. Pollard reassumiu o posto de capitão no inverno seguinte e levou consigo Nickerson, promovido a arpoador. A viagem foi um tremendo fracasso. Pollard decidiu virar vigia noturno em Nantucket. E Nickerson transformou-se em dono de pousadas na ilha. Chase fez mais uma viagem antes de se tornar capitão. Tinha 28 anos - e prosseguiu atravessando os oceanos por vários anos. No entanto, as lembranças daquela manhã de céu azul e pouco vento nunca o deixaram em paz. Morreu em 1869, aos 71 anos, considerado louco. No fim da vida, sentia fortes dores de cabeça que acreditava ser conseqüência do naufrágio. Passou também a esconder comida no sótão de sua casa. Nem mesmo a paixão pelo mar foi capaz de fazê-lo superar as cicatrizes deixadas por aquele cachalote.


Tragédia em quatro momentos

1. O começo do sofrimento

O Essex foi atacado em 20 de novembro de 1820 e a tripulação se refugiou em três botes salva-vidas. No terceiro dia, uma onda quebrou sobre um dos barcos, molhando as bolachas. Os marinheiros fizeram o possível para salvar o alimento, sem sucesso

2. Chuva de peixes voadores

Perto do 20º dia no mar, um cardume de peixes voadores cercou os botes. Quatro se chocaram com as velas improvisadas. Um foi devorado no mesmo instante. Foi a primeira e única vez que todos sentiram vontade de rir - em vez de chorar - da situação em que se achavam

3. Esperança frustrada

Após um mês de naufrágio, muitos já haviam desistido de sobreviver. Mas uma ilha foi avistada e a idéia de encontrar comida e água animou o grupo. Os botes logo voltaram ao mar, mas três tripulantes optaram por ficar. Seriam resgatados, com vida, mais de três meses depois

4. O desespero da fome

Com quase três meses no Pacífico, a morte mostrou sua face. Quando o terceiro faleceu, muitos pensaram: por que não comer essa carne? Até o resgate, seis marinheiros, mortos, foram devorados e um foi assassinado para servir de alimento

Baleia famosa
O ataque ao baleeiro Essex foi um dos desastres mais comentados do século 19. Tanto que serviu de inspiração para um clássico da literatura, Moby Dick, do norte-americano Herman Melville (1819-1891). A idéia de escrever o livro veio depois que ele leu o relato de Owen Chase sobre a experiência. Na versão ficcional, o ataque da baleia é o clímax da história - enquanto na vida real ele foi apenas o início. "Moby Dick é uma colcha de retalhos. Fala de vários temas, da busca de Deus à questão do herói, o que o torna muito singular", comenta Viviane Cristine Calor, que escreveu uma tese de mestrado para a Universidade de São Paulo sobre a obra. Lançado em 1851, Moby Dick foi um fracasso comercial e de crítica. Só teve seu valor reconhecido quando Melville já havia morrido. "Ele estava à frente de seu tempo", destaca Viviane.

Atividade cruel
Pelo menos mil anos antes de Cristo os fenícios já caçavam baleias. Mas a caça em grandes embarcações, como na época do Essex, só foi adotada no século 8 da nossa era, pelos bascos. No século 19, o método de abate era o seguinte: ao avistar a presa, seis homens deixavam o navio num barco a remo e golpeavam a baleia com um arpão, para depois matá-la com uma lança. No início do século passado, as lanças foram substituídas por arpões com explosivos e os botes ganharam motor. Hoje, os baleeiros têm toda a aparelhagem necessária para transformar o animal em produtos devidamente embalados. Essas inovações tecnológicas passaram a representar um grande risco à sobrevivência desses bichos. Calcula-se que ao longo do século 20 mais de 2 milhões de baleias tenham sito mortas pelo homem - e hoje, entre as mais de 40 espécies existentes no mundo, cinco estão ameaçadas de extinção: a azul, a cinza, a bowhead, a jubarte e a franca.

A azul, a franca e a jubarte podem ser vistas na costa brasileira. Felizmente, nosso país proíbe a caça, pois é um dos membros da Comissão Baleeira Internacional, criada em 1946 para impedir a matança desordenada. Em 1986, a entidade aprovou uma moratória à caça comercial, mas nem todos os signatários (são mais de 50) a respeitam. Três países lideram o descumprimento da suspensão, alegando fins científicos para a caça: Japão, Noruega e Islândia.

Presa fácil

Minke
Seu nome científico é Balaenoptera bonaerensis. Japão, Islândia, Groenlândia e Noruega são caçadores vorazes

Cachalote
Foi uma Physeter macrocephallus que atacou o Essex em 1820. O Japão é seu maior algoz

Sei
A Balaenoptra borealis é uma das mais rápidas. Vive em todos os oceanos e é caçada por barcos do Japão