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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Rússia divulga vídeo impressionante de seu novo drone de ataque militar

Rússia divulga vídeo impressionante de seu novo drone de ataque militar

Equipamento demonstrou todo o seu poder de fogo ao lançar bomba de meia tonelada.

quinta-feira, 25 de março de 2021

Galo bota ovo, escapa da morte e vira atração no Sul do Brasil

Galo bota ovo, escapa da morte e vira atração no Sul do Brasil

O agricultor Pedro Silva levou um susto ao entrar no galinheiro de sua propriedade, em Caçador, no meio-oeste de Santa Catarina. 

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Caçador de tesouros amador encontra faca medieval ao usar detector de metais na Escócia

Caçador de tesouros amador encontra faca medieval ao usar detector de metais na Escócia

Usando um detector de metais, o caçador de tesouros amador Craig Johnstone encontrou uma rara faca da Idade Média nas proximidades de Penicuik, na Escócia. 

sábado, 7 de novembro de 2020

A incrível história de Simon Wiesenthal, o implacável caçador de nazistas

A incrível história de Simon Wiesenthal, o implacável caçador de nazistas

O arquiteto Simon Wiesenthal estava a ponto de completar 40 anos quando sua vida mudou por completo, e para sempre. 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Caçadores de cupins - Inseto


Caçadores de cupins - Inseto


Siriris voando são bonitos. E um sinal de tragédia
Num fim de tarde quente e úmido, você olha para cima e vê aquele monte de bichos esvoaçando ao redor da luz. Parece só mais uma cena bucólica, mas é o prenúncio da devastação. Os cupins podem estar comendo a cômoda antiga que foi da sua avó, e você nem aí. Ou pior: podem estar roendo as estruturas da sua casa, deixando no chão a poeirinha fina inconfundível.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Saiba qual é o único caso ativo de caça a nazistas nos EUA


Saiba qual é o único caso ativo de caça a nazistas nos EUA


Nos Estados Unidos, apenas um caso segue ativo de uma "era de caçadas a nazistas" após o final da Segunda Guerra Mundial.
O único processo é contra Jakiw Palij, hoje com 92 anos, que vive em Nova York e que, provavelmente, viverá seus últimos dias na cidade em que vive. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

No tempo das aves do Terror - Paleontologia

NO TEMPO DAS AVES DO TERROR - Paleontologia


Carnívoras, elas chegavam a 3 metros de altura. Dominaram completamente os pampas argentinos e parte do Brasil. Extintas a 2,5 milhões de anos, deixaram uma descendente: a seriema.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Os últimos Dragões - Zoologia


OS ÚLTIMOS DRAGÕES - Zoologia


Confinados em algumas ilhas da Indonésia, os maiores lagartos do mundo representam uma exceção como principais predadores de um nicho ecológico, titulo que quase sempre cabe aos mamíferos.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Em Nova York há um caçador de tesouros urbanos


Em Nova York há um caçador de tesouros urbanos 


Munido de fio dental, binóculos e cola de pegar rato, o porto-riquenho Eliel Santos sai todos dias de sua casa no distrito do Bronx, cidade de Nova York, rumo ao de Manhattan atrás de tesouros urbanos.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Sob o signo do Escorpião - Predadores

SOB O SIGNO DO ESCORPIÃO - Predadores



Eles são dos animais mais antigos que existem na terra. Quase tudo neles é diferente: o modo de atacar, as vítimas, de comer, de reproduzir-se. Seu veneno é poderoso, mas poucos dispõe dele em quantidade suficiente para matar um homem.

São animais de bem pequeno porte: os menores não passam dos 2 centímetros, e os maiores não chegam aos 20. Mas pelo menos no Norte da África, no Oeste mexicano e no sudeste do Brasil eles representam a morte. São os escorpiões, que carregam nas pinças da cauda um veneno que pode ser fatal. Eles se dividem em 1500 espécies, todos apresentando diferenças entre si. Uma delas é fundamental: alguns tem veneno em quantidade suficiente para afetar animais grandes - o homem-, por exemplo. Esse veneno é uma perigosa neurotoxina que, dependendo da quantidade inoculada no corpo da vítima, pode ser fatal.
Para os acidentados por esses escorpiões, a dor é lancinante. Tremores incontroláveis e um típico andar cambaleante são o prenúncio de uma morte que só vai chegar depois de muito sofrimento. O corpo se cobre de suores frios, a face se torna arroxeada e acontecem, então, as derradeiras convulsões. Mas também não é o caso de exagerar o perigo: das 1.500 espécies de escorpiões apenas vinte produzem o veneno em quantidade suficiente para provocar a morte de um homem adulto. Ainda assim, o desenvolvimento do processo dependerá sempre das condições de saúde da vitima e da capacidade do organismo de resistir às toxinas. Isso faz com que esses raros escorpiões sejam especialmente perigosos para as crianças.
Ao contrário das serpentes, que são classificadas em cinco grupos, a partir do tipo de veneno que produzem, os escorpiões perigosos produzem sempre o mesmo tipo, sejam eles do Norte da África, do México ou do Brasil. Convencionou-se chamá-lo neurotóxico porque ele age especialmente sobre o sistema nervoso e a morte é causada por asfixia: os comandos do corpo que controlam a respiração ficam bloqueados. Graças a essa característica, um único soro pode socorrer a vitima da picada de qualquer escorpião e existem mesmo acordos entre os países produtores para que o soro apresente sempre características semelhantes e eficientes em qualquer caso.
A espantosa virulência da picada é apenas uma das muitas particularidades adquiridas por esse animal que vem evoluindo há 400 milhões de anos. Sabe-se que os antepassados dos escorpiões eram maiores. Nesses milhões de anos de evolução, a espécie na verdade mudou pouco externamente e continua capaz de praticar muitas excentricidades. Os atuais escorpiões ainda são animais predominantemente de zonas secas; vivem nos desertos, escondem-se sob as pedras e pedaços de madeira. Mas há os que vivem nas florestas, outros que freqüentam a beira-mar.
É impossível saber desde quando os primitivos escorpiões passaram a contar com glândulas de veneno bem desenvolvidas, associadas ao aguilhão da cauda. Quase nada se sabe da anatomia interna dos pré históricos. Os restos fossilizados daqueles animais mostram apenas os contornos gigantescos de corpos que mediam quase 1 metro de comprimento. O mais antigo de todos foi encontrado na ilha de Gotland, território sueco bem no meio do mar Báltico, mas dele só foram recuperados alguns poucos fragmentos. Paradoxalmente, hoje não há escorpiões na Escandinávia em geral, e na Suécia em particular.
O maior escorpião que existe atualmente é o Pandinus imperator que vive na África Equatorial. Sua couraça negra e luzidia mede quase 20 centímetros e brilha à noite, como uma lembrança inquietante dos seus antepassados gigantes. O que mais impressiona no imperator é a corpulência. Seus palpos -as garras dianteiras- parecem as duas tenazes de um lagostim. A força de seus músculos é surpreendente. Aprisioná-lo entre as pontes de uma pinça é uma experiência inesquecível: as garras do animal dão a impressão de estar "mastigando" o aço.
Tamanho, força, agilidade, veneno. São as armas do imperator. Tudo Isso é descarregado sobre a vítima, tão logo ela seja encontrada. O gigante se alimenta de ratos, baratas, lagartixas. Embora não seja capaz de causar dano sequer a uma criança o veneno está dimensionado para paralisar apenas essas pequenas vítimas que constituem sua refeição , o imperator provoca verdadeiro pânico entre os nativos da região. Quando é localizado numa aldeia, é impiedosamente morto a pauladas e sempre queimado, pois os nativos acreditam que, depois de morto, seu corpo irá se fragmentar em dezenas de novos escorpiões, menores, que logo crescerão para invadir a aldeia.
Parece uma tolice. No entanto, na raiz de qualquer lenda há sempre um fato real, embora mal interpretado. Nesta também. As fêmeas dos escorpiões - todos os escorpiões, não apenas o imperator não botam ovos. Os filhotes vão sendo paridos já com a aparência de pequenos escorpiões que vão se juntando às dezenas sobre o dorso da mãe. Nesse período, que dura até duas semanas, eles permanecem imóveis e vão utilizando as reservas de alimento feitas enquanto estavam no ovo. Se uma fêmea do imperator carregando os filhotes for descoberta pelos nativos, ela realmente espalhará boa quantidade de pequenos escorpiões, ao ser morta a pauladas dando a nítida impressão de que se transformou neles, magicamente. A lenda, portanto, tem sua explicação lógica.
Outro erro de interpretação do comportamento dos escorpiões fez surgir a lenda de que, em situações extremas, quando não têm como escapar ao fogo, eles se suicidam. Nos povoados mexicanos as crianças costumam brincar com o perigosíssimo Centruroides noxius, um pequeno escorpião amarelo, colocando-o no meio de um círculo de fogo. Elas se divertem vendo o desespero do animal, os golpes a esmo que ele desfere em todas as direções, vibrando o aguilhão tanto sobre o solo quanto sobre o próprio dorso. Quando o animal finalmente morre, por efeito do calor escorpiões não resistem às altas temperaturas-, a gurizada jura que assistiu a um suicídio.
Bobagem. Mesmo que quisesse, o escorpião não conseguiria suicidar-se. Seu aguilhão não tem força suficiente para poder perfurar sua carapaça, e mesmo que conseguisse isso, seria inútil: o escorpião é naturalmente imune a seu próprio veneno. Mas outra lenda que corre sobre eles - a dos casais em dança noturna- não é lenda, é pura realidade. É claro que não se trata exatamente de um baile, nem eles estão se divertindo: é uma estratégia de seus mecanismos de reprodução, dos mais engenhosos que a natureza já produziu.
Os machos não possuem pênis. Assim, o encontro sexual de macho e fêmea ocorre de forma pouco convencional. A manobra começa com o macho entrelaçando suas garras nas da fêmea e arrastando-a para o que se pode considerar um longo passeio. O trajeto, cheio de vai-e-vem, se estende por algumas dezenas de metros. De repente, o macho se detém e dispara pela parte inferior do abdômem dois minúsculos bastonetes que se grudam no terreno, em posição vertical. Em seguida, o macho puxa a companheira, fazendo-a deslizar de barriga sobre eles. Nesse momento acontece a fecundação, pois o ápice de cada bastonete é um pequeno reservatório de sêmen, que entra em contato com a abertura genital da fêmea. Então. se o macho insistir em ficar por ali, apreciando o resultado de sua virilidade, vai se dar muito mal: a fêmea poderá matá-lo e transformá-lo em comida.
Comida, por sinal, é outro capítulo muito especial na vida dos escorpiões. Exclusivamente carnívoros, alimentam-se de insetos e pequenos invertebrados, podendo, algumas espécies, atacar um rato ou outro pequeno vertebrado. São capazes de passar longos períodos sem nenhuma alimentação, certamente devido ao fato de que sua habilidade para capturar presas é limitada. Eles esperam pacientemente, até perceber a proximidade de alguma vítima. Mas, se esta consegue escapar ao primeiro bote, não será perseguida.
Quando capturada, a vitima será firmemente segura pelas pinças dianteiras; se for grande, capaz de escapar, será então ferroada e paralisada pelo veneno. Mas comer é que são elas. Escorpiões não dispõem de mandíbulas convencionais como os outros bichos. O processo varia muito de espécie a espécie, mas de modo geral as partes mais macias da presa são trituradas por um par de quelíceras, liquefeitas e empurradas para dentro do estômago. O corpo da vitima, aos poucos, vai sendo reduzido à massa dos materiais que o escorpião não consegue digerir e então é simplesmente jogado fora.
Tudo isso configura um processo extremamente demorado. Em compensação, depois de uma refeição dessas o escorpião pode passar um longo período sem precisar outra vez de comida. Sua sobrevivência em face de toda essa frugalidade, não parece nem remotamente ameaçada. Os cientistas fixam o surgimento dos mais longínquos antepassados do homem em algum ponto há 1 milhão de anos; sendo assim. escorpiões são pelo menos quatrocentas vezes mais antigos, e eles já passaram por sucessivas catástrofes planetárias - períodos glaciais, vulcanismos intensos. inundações de continentes inteiros. Passaram por tudo airosamente, e ai estão. belos e fagueiros, dando nome a uma constelação da Via Láctea, e até reverenciados em alguns ramos do misticismo, como, por exemplo, a Astrologia. Não é a toa que cientistas chegam a acreditar que, na hipótese de uma catástrofe nuclear, suficientemente devastadora para inviabilizar as formas de vida mais sofisticadas, os escorpiões seriam uns dos raros sobreviventes. Continuariam a vagar sobre a terra calcinada (para eles um verdadeiro paraíso) num estranho paradoxo: encarados pelo homem como símbolo da morte, seriam então os únicos representantes da vida no planeta.

Os brasileiros mortíferos

Todos os escorpiões são peçonhentos, isto é, produzem veneno e são capazes de inoculá-lo na vítima. No Brasil, duas espécies devem ser temidas, porque tem veneno em quantidade suficiente para matar um homem. Um é o serrulatus, assim chamado por causa da pequena serra que tem na cauda. Ele é amarelo. Seu rival é o bahiensis, com nome derivado do local onde foi descoberto, a Bahia. É marrom-escuro. Ambos pertencem ao gênero Tytius, mas o amarelo é capaz de injetar o dobro da peçonha durante uma picada.
O soro contra picadas de escorpião é produzido pelo Instituto Butantã, em São Paulo, e serve para as duas espécies. A produção do soro começa pela extração da peçonha por meio de um pequeno choque elétrico, que não traumatiza o escorpião. Assim, ele pode fornecer peçonha de três em três semanas. Gota a gota, a peçonha de centenas de escorpiões é acumulada na concavidade de um vidro de relógio e levada a um dessecador a vácuo. Só depois de seca irá produzir o soro, mediante a hiperimunização de cavalos.
Os cavalos recebem doses progressivamente maiores de peçonha. ate que seu soro sanguíneo apresente certo potencial de imunidade. Então o sangue é colhido e o soro é separado, para chegar ao produto final, embalado em ampolas de 5 mililitros. As glândulas de peçonha dos escorpiões mortos também são aproveitadas. Seis mil glândulas (cada escorpião tem duas) fornecem 2,5 gramas de peçonha seca, quantidade que serve para a primeira hiperimunização de um cavalo. Cada cavalo permite, em média, a fabricação de 250 ampolas de soro.
Em cada acidente grave com escorpiões são utilizados quatro ampolas injetadas na veia. A dor da picada pode ser controlada com a imersão do membro atingido em água quente, por ação local de novocaína ou ainda por aplicação endovenosa de gluconato de cálcio a 10%. Antes do atendimento médico e da utilização do soro, a região da picada deve ser resfriada com aplicações de compressas geladas. Isso evitará que a peçonha se espalhe com rapidez pelo corpo.
O bahiensis pode ser encontrado desde a Bahia e Mato Grosso até o Rio Grande do Sul. O serralatus se limita aos Estados de Minas Gerais, Espirito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.

No Saara, atrás de Escorpiões

O autor deste artigo viajou mais de mil quilômetros, pelo deserto do Saara, a serviço da Universidade de Tenerife (ilhas Canárias). Sua tarefa principal era capturar animais venenosos para a Universidade. Ele aprendeu a montar em camelos e integrou-se a uma expedição militar que patrulhava a região. Eis um breve relato dessa aventura.
Em todos os dialetos falados na região ocidental do Saara só há um nome para escorpião: ElAkram, isto é, O Escorpião. Para mim, O Escorpião só podia ser um animal, 0 Androctonus australis É a espécie mais venenosa do mundo, capaz de matar um homem em menos de quatro horas e um cachorro em pouco mais de cinco minutos. A distribuição geográfica do australis é extremamente irregular. Ainda que no mapa do Saara ele recubra de maneira uniforme o extremo Noroeste do continente africano, quando se está lá, no deserto, as coisas ficam bem diferentes. Em pleno território do australis existem milhares de quilômetros quadrados totalmente desprovidos de animais ou plantas. A única possibiIidade de se achar um reduto de seres vivos, ali, é quando se encontra... um cadáver. A carcaça ressecada de um camelo morto abriga e alimenta muitos insetos; atrás deles vêm seus perseguidores, os escorpiões.
Nosso encontro com o australis foi numa espécie de cemitério de camelos, um local onde foram possivelmente sacrificados-havia meses- os animais doentes ou velhos demais, antes da partida de uma tribo nômade. Numa área de poucas dezenas de metros quadrados, entre pedras, objetos abandonados e cadáveres em decomposição, foram capturados quase cem escorpiões. Oito eram da espécie Androctonus australis. Depois de apanhados com pinças e acomodados separadamente em recipientes de plástico. eles não me pareciam mais tão dignos do temor que causam aos homens do deserto. Aqueles animais me fascinavam por outra razão: era impossível deixar de imaginá-los em suas fantásticas peregrinações noturnas pelo deserto; dezenas de milhas rastreando, apenas com o sentido do olfato, o cadáver distante de um camelo.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Cético - O Caçador de Paranormais - James Randi

O CÉTICO: O CAÇADOR DE PARANORMAIS



O cético James Randi, 76 anos, canadense radicado nos Estados Unidos, ganha a vida desmascarando, planeta afora, tudo o que acredita ser engodo, incluindo supostos médiuns e santos que choram sangue. Ex-mágico, ele usa seu conhecimento para revelar os truques que existem por trás de fenômenos tidos como inexplicáveis. Sua intenção é mostrar para as pessoas que elas estão sendo enganadas. Randi considera a paranormalidade uma "pseudociência". Escreveu nove livros para propagar o "conhecimento científico" e já fez palestras em universidades renomadas, como Harvard, Yale, Princeton e Oxford.

Sua carreira de "caçador de paranormais" deslanchou nos anos 70, quando desmascarou o israelense Uri Geller, o homem que conquistara fama internacional por dobrar colheres e consertar relógios com o "poder da mente". Ao vivo na TV, Randi reproduziu os truques de Geller, demonstrando que tudo não passava de ilusionismo. Em 1996, já então conhecido como "O Incrível Randi", o ex-mágico criou a James Randi Educational Foundation e, por meio dela, lançou o "Desafio de 1 Milhão de Dólares". Esse é o valor do prêmio que oferece a quem provar possuir qualquer poder paranormal ou sobrenatural - até hoje, ninguém chegou perto de levar essa bolada.

Em 2002, Randi desafiou o brasileiro Thomaz Green Morton, que diz verter perfume das mãos e "energizar" e curar pessoas. Randi ofereceu 1 milhão de dólares para Morton demonstrar suas habilidades sob condições controladas. Morton aceitou o desafio, mas nunca apareceu para provar seus poderes. "É um charlatão de primeira grandeza", afirma Randi. Na entrevista a seguir, que concedeu de seu escritório em Fort Lauderdale, na Flórida, Randi lançou um desafio para outro brasileiro em evidência no exterior: o médium João de Deus.



Por que o senhor afirma que a paranormalidade não passa de uma "pseudociência"?

Porque é algo que apenas aparentemente é científico. Ela usa os termos, as expressões e até o processo de pensamento da ciência real. Mas não é ciência porque não é passível de teste, porque não há formas de ser provada. Toda boa ciência pode ser testada. Assim, pode-se provar que ela está errada, quando realmente estiver.



Se fenômenos paranormais não existem, por que tanta gente acredita neles?

É a vontade delas, na maior parte das vezes. Elas querem que esses fenômenos sejam verdade. Por isso, são suscetíveis a acreditar neles. Se aparece alguém que alega ser paranormal ou médium e dá um motivo extra para essas pessoas acreditarem no fenômeno, aí elas mergulham na mentira. Infelizmente, as coisas são assim. Digo para as pessoas: se vocês acham que tal fenômeno é verdadeiro, me dêem as evidências e eu vou checar. Por isso ofereço 1 milhão de dólares. Minha atitude é bem clara.



O senhor acredita em intuição?

Sim, mas o poder da intuição está baseado em fatos, não no sobrenatural. Ela é resultado de nossos instintos e está permanentemente ligada em nosso cérebro, não se desliga nunca. Temos a intuição de evitar lugares altos e barulhos fortes demais. Não precisamos aprender essas coisas. Simplesmente nascemos com elas.



O senhor já desmascarou algum brasileiro?

Ah, sim. O Thomaz Green Morton, que é um charlatão de primeira grandeza. Ele ficava dizendo que tinha os mais estranhos poderes, mas, quando o negócio era provar, ele não falava absolutamente mais nada. Oferecemos o prêmio de 1 milhão de dólares e ele fez o maior estardalhaço, mas não fez nada para provar seus poderes.



A rede de televisão ABC transmitiu em fevereiro um especial sobre o médium brasileiro João de Deus (leia mais sobre ele na página 48). O senhor assistiu?

A ABC fez um programa longo com ele, numa série chamada Primetime Live. Eles me entrevistaram, fiquei um tempão em frente às câmeras, mas não usaram quase nada, provavelmente porque não ouviram de mim o que queriam. Eles queriam que eu falasse coisas positivas sobre João de Deus, e eu não disse. Suas demonstrações de mediunidade são truques muito velhos. Os mágicos têm feito isso por muito, muito tempo.



Que tipos de truques João de Deus utiliza?

Ele usa truques psicológicos e também alguns físicos. Usa instrumento de metal e o enfia no nariz das pes-soas. Esse tipo de truque era feito na Índia. O objeto entra numa determinada cavidade muito estreita que há no nariz que não causa dano algum. Não tem nenhum mistério. Qualquer um pode fazer isso. Mas as pessoas ficam impressionadas quando vêem a performance. Há outros "fenômenos" que chamam a atenção da mídia, como cortar a pele das pessoas sem causar dor. Mas ele corta a pele em locais pouco ou nada sensíveis à dor. De qualquer forma, meu "Desafio de 1 Milhão de Dólares" está aberto para ele.



O senhor afirma que os fenômenos ditos paranormais causam danos às pessoas. Como assim?

Eles provocam danos psicológicos, financeiros e emocionais. As pessoas que aceitam e acreditam nessas coisas acabam dependendo delas. E, assim, dependem de coisas que não são reais. Eles causam danos às pessoas à medida que elas acabam se afastando do mundo real. E isso é muito perigoso.



Quantas pessoas se inscreveram até o momento para o "Desafio de 1 Milhão de Dólares"?

Até agora, candidataram-se 301 pessoas no total. Mas nenhuma delas passou sequer nos testes preliminares. E olha que o teste preliminar é muito mais fácil do que o teste final.



Como funciona um teste preliminar?

Nele, a pessoa tem apenas de mostrar o que ela diz que pode fazer. Se você vier ao meu escritório e afirmar que é capaz de voar com seus próprios braços, vou, então, levá-la até a janela e lhe pedir que faça uma demonstração. É simples assim. A pessoa nos diz o que pode fazer e sob quais circunstâncias. Mas, na hora de mostrar, ninguém mostrou até hoje.



O senhor já teve contato com algum suposto paranormal que o tenha feito pensar: "Esse cara é bom"?

Nunca. Até hoje não conheci ninguém que tenha me impressionado. Odeio ter de dizer isso, mas é verdade. Gostaria de poder falar: "Oh, esse cara quase me pegou". Mas já andei pelo mundo todo e vi de tudo. Tenho 76 anos hoje e acho que já vi tudo o que as pessoas podem me oferecer nesse sentido.



Muitos alegam que os fenômenos ditos paranormais acontecem apenas de forma involuntária, independentemente da vontade da pessoa. Isso não impede que eles sejam testados de forma controlada, com hora marcada, num laboratório?

Tudo o que posso dizer é que, se for assim, nós simplesmente não podemos testá-los. E, portanto, não são científicos. Se os fenômenos são espontâneos, como poderemos fotografá-los, se eles acontecem independentemente da vontade? O que você tem de entender é que coisas espontâneas acontecem com as pessoas a todo momento. Elas têm sonhos, por exemplo, de que algo vai acontecer e às vezes acontece mesmo, do jeito que elas sonharam. Mas quantos milhares e milhares de sonhos essas pessoas tiveram antes e que não aconteceram? As pessoas têm de perceber que coincidências irão acontecer na vida delas o tempo todo e isso nada tem de paranormal.



O senhor disse algumas vezes que a maioria das pessoas que alegam ter poderes paranormais não é charlatã. Elas realmente acreditam ter os poderes que dizem ter. Essas pessoas também representam um perigo para a sociedade?

Claro que sim. Embora não tenham a intenção, essas pessoas estão propagando a mentira. Qualquer falsa informação é perigosa. E muita gente tem uma falsa impressão sobre o mundo.



O senhor é 100% cético ou admite, ao menos em teoria, que podem existir fenômenos paranormais, ou fenômenos que a ciência não pode explicar?

São duas coisas diferentes: o inexplicável e o não explicado. Por exemplo: eu não posso explicar a Sophia Loren. Ela está muitíssimo bem naquela idade. Não sei como consegue. Mas isso não quer dizer que o fenômeno não possa ser explicado.



Afinal, o senhor quer provar para todos que o sobrenatural existe ou que não existe?

Sobrenatural é algo que não conta com uma explicação na natureza. Há muitas coisas não explicadas que podemos observar. Mas insisto neste ponto: isso não quer dizer que elas sejam inexplicáveis. Acredito no que é explicável. Há muitos mistérios em nossa vida e eles não a tornam sobrenatural.



Que mistérios existem na vida?
Há muitos mistérios na vida. Por exemplo, de onde vem a fonte de sal no oceano é apenas um deles. Nós não sabemos de muitas outras coisas. Aliás, a ciência compreende apenas uma pequena parte do universo. Mas a ciência cresce a cada dia. Estamos a cada dia descobrindo coisas novas. E é nosso dever aceitar as coisas que a ciência explica.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Tubarão Branco: Grande Injustiçado


TUBARÃO-BRANCO: GRANDE INJUSTIÇADO



Todos nós temos medo do grande tubarão-branco e de seus primos menores. Depois de assistir a filmes como Tubarão ou o recente Mar Aberto, não há como não se arrepiar ao pensar em um ambiente inóspito de água infinita, rondada por um imenso animal de dentes dilacerantes. Mas é preciso perguntar: o que nos dá esse pavor - o tubarão em si ou a imagem que temos dele? O caçador marinho é, sim, um poderoso predador. Mas não é exatamente a fera que imaginamos.

"Os filmes mentem para causar sensação", diz o biólogo marinho Peter Klimley, da Universidade da Califórnia, em Davis, Estados Unidos. "Tubarões-brancos não são tão perigosos. Eles são seletivos", afirma. Isso quer dizer que sua força predatória é destinada à própria sobrevivência - e não a aterrorizar banhistas em praias ou barcos.

Para quebrar o mito de assassino do tubarão-branco, é preciso conhecê-lo um pouco melhor. Esse animal tem forma hidrodinâmica: parecido com um torpedo, possui corpo alongado e focinho pontudo, um formato apropriado para o ambiente aquático. Além disso, é muito musculoso. Isso se traduz em alta velocidade da natação - até 40 quilômetros por hora (para efeito de comparação, um campeão de natação humano não passa de 7,5 quilômetros por hora). "Ele tem um tamanho muito grande, mas consegue ser o animal mais ágil e forte do ecossistema marinho", diz o biólogo Otto Gadig, da Unesp de São Vicente, no litoral paulista. Além da força e da velocidade, o tubarão tem outras armas para caçar. Ele, de certa forma, tem sete sentidos - dois além de tato, olfato, visão, audição e paladar. O primeiro, que todos os peixes têm, é a linha lateral - uma série de poros enfileirados no corpo do animal com a função de sentir estímulos mecânicos. O segundo são as ampolas de Lorenzini, estruturas presentes na região debaixo do focinho compostas de câmaras com células especializadas em receber estímulos eletromagnéticos. Como todo corpo emite um campo elétrico, isso é útil para que o tubarão perceba presas enterradas, escondidas ou até invisíveis no escuro ou em águas turvas.

A caçada de um tubarão-branco é uma mistura de violência, sangue e pedaços de carne e tripas - nada bonita de ver. Entretanto, ele não ataca aleatoriamente ou por crueldade. Seu comportamento predatório mostra padrões organizados por tipos de presa. As favoritas são os pinípedes - mamíferos como focas e leões-marinhos. Geralmente, os tubarões-brancos atacam esses animais por baixo. É uma estratégia eficiente, já que ele tem as costas negras e se mistura à escuridão da água, tornando difícil que a presa o aviste. Para pegar uma foca, o tubarão nada do fundo para cima, morde a presa perto da superfície e a leva entre os dentes para debaixo d’água. Ele então a segura firmemente até que ela morra e pare de sangrar - é a chamada técnica da hemorragia. Depois de arrancar um pedaço, ele solta a carcaça. Mais tarde, pode voltar à superfície para comer outro pedaço do animal morto.

Já com leões-marinhos, o ataque é diferente. Ele começa com uma explosão - o tubarão se choca fortemente com a presa. Às vezes, essa força é suficiente para levá-la para fora d’água. O leão-marinho, ao contrário da foca, escapa mais rapidamente da primeira mordida e volta à superfície, sangrando, contorcendo-se e nadando de maneira desorientada. Mas logo o tubarão ressurge e o captura de novo, para mordê-lo outra vez e soltar a carcaça já sem sangue.

Se a estratégia do tubarão-branco para abater determinadas presas é sabida, o método que ele usa para escolhê-las ainda é obscuro. Uma possibilidade é que ele primeiro faça uma identificação visual e, depois de morder o animal, analise o paladar para decidir se vai comê-lo ou não. Os ataques a humanos podem ter essa lógica. "Uma idéia interessante é a de que os tubarões confundem humanos por presas como focas, mas depois percebam o erro", diz Otto Gadig.

Um ataque a um homem ocorrido nas Ilhas Farallon, na Califórnia, pode comprovar essa teoria. Um tubarão-branco mordeu a perna de um mergulhador e puxou-o para baixo por poucos segundos, enquanto o homem sangrava muito. De repente, o tubarão soltou-o e foi embora. Pesquisadores que faziam um estudo na área concluíram que, já que o padrão de ataque é igual ao da caça a uma foca - morte por hemorragia - e que o tubarão largou a "presa", ele deve ter percebido uma diferença no sabor. Comportamento parecido foi relatado em outros ataques a humanos, assim como a pelicanos e lontras. Como os três são compostos basicamente de músculos e focas e leões-marinhos são compostos de gordura, a hipótese mais forte é a de que os tubarões-brancos preferem alimentos mais gordos e se livram dos magros.

A explicação para essa preferência pode estar na alta velocidade de crescimento do tubarão-branco: o comprimento dos adultos aumenta mais de 5% ao ano, uma taxa maior do que a de tubarões de águas mais quentes. A escolha pela camada de gordura de focas e afins, rica em energia, estaria ligada à necessidade de crescimento em águas mais frias, de mares temperados. Em mares tropicais, ele tende a se alimentar de presas menores - e a ser menor.

Normalmente, o tubarão-branco caça sozinho, e sempre se pensou que fosse um animal solitário. Mas pesquisas recentes têm constatado que eles podem se juntar a grupos em determinadas situações. Peter Klimley e sua equipe fizeram um experimento com tubarões-brancos na Baía de Monterey, na Califórnia. Eles identificaram cinco tubarões e monitoraram-nos com sensores de alta freqüência. Em três semanas, somente duas caças foram registradas. No entanto, quando um deles teve sucesso ao pegar uma presa, os outros convergiram para o local. Após a refeição daquele tubarão que havia matado a presa, os restos permaneceram flutuando na água. Os outros tubarões que foram atraídos para o lugar não lutaram pela comida. Surpreendentemente, eles começaram um tipo de ritual: cada um levantava sua cauda e batia-a contra a superfície, espirrando água à sua volta. Klimley sugere que isso é um tipo de comunicação entre os tubarões-brancos. Aquele que espirrou mais água que os outros, levantando a cauda e parte do corpo para fora do mar, foi o "vencedor" e pôde comer o resto da caça.

É particularmente difícil estudar um tubarão-branco em seu ambiente natural. Por isso, pouco se sabe sobre seu comportamento - e menos ainda sobre as variações populacionais. Não é possível sequer estimar quantos deles há no mundo. Se a ciência consegue traçar esses números para leões, por exemplo, que habitam espaços visíveis e razoavelmente delimitados, o mesmo não vale para tubarões-brancos, que vivem espalhados pelos oceanos.

A dificuldade de estudá-los pode piorar com a diminuição das populações de peixes em geral, devido à pesca. Alguns cientistas acreditam que o tubarão-branco já esteja ameaçado de extinção em lugares como a costa da Califórnia, Austrália e África do Sul. "Apesar de não haver como contar tubarões-brancos, já que as áreas são ilimitadas, a diminuição na população é estimada pela menor captura", diz o biólogo Marcelo Szpilman, do Instituto Aqualung, no Rio de Janeiro. "A avaliação é de que a população tenha caído até 79% entre os últimos 15 e 20 anos."
O tubarão-branco, como se vê, não é o mesmo monstro pintado em livros e filmes. Após ter criado terror com sua imagem, o homem parece estar percebendo que é preciso protegê-lo. A África do Sul foi a primeira a proibir sua caça, em 1991. Mais tarde, outros países seguiram o exemplo. Mas os resultados dessas medidas ainda são discutíveis. Como diz Peter Klimley: "A ameaça do tubarão-branco sobre as pessoas pode se revelar pequena em comparação à ameaça das pessoas sobre o tubarão".


Tubarão rebocador


Era junho de 1978 - começo de verão. Na costa leste dos Estados Unidos, próximo a Nova York, um grupo de pescadores saía de barco para caçar baleias. No meio da pescaria, acharam que tinham tirado a sorte grande - o arpão atingiu o que parecia ser um enorme animal. Apesar do golpe, o bicho não morreu. Admiravelmente, começou a se mover - e a levar o barco junto. Era um grande tubarão-branco, e o arpão havia se prendido às suas costas. Com seu tamanho e força, ele tentava livrar-se da arma e arrastou o barco de pesca de cerca de 15 metros de comprimento. Por fim, após 14 horas e 23 quilômetros, o cabo se arrebentou e o tubarão fugiu. Os homens não levaram o animal como troféu. Ele virou mesmo história de pescador.


Fatos selvagens




Nome vulgar

Tubarão-branco



Nome científico

Carcharodon carcharias



Dimensões

Até 7,1 metros



Peso

Até 3 toneladas



Principais armas

Conjunto de recursos para caça - sensores para estímulos luminosos, mecânicos, elétricos e químicos; mandíbula e musculatura



Comportamento social

Normalmente é solitário, mas ocasionalmente se reúne em grupos



Expectativa de vida

25 anos



Ataques a humanos

805 ataques (99 fatais) entre 1990 e 2003



Quanto come

60 quilos por dia, em média



Dieta

Focas, leões-marinhos, peixes, outros tubarões, baleias, lulas, polvos, toninhas, golfinhos



Principais inimigos

Não tem inimigos



Se você encontrar um
Mantenha a calma e tente sair da água sem perder o tubarão de vista e sem agitação, pois o animal é atraído pelo movimento


Para saber mais




Na livraria

Tubarões no Brasil - Marcelo Szpilman, Mauad, 2003



Nas bancas - DVD
Território Selvagem - Tbarão - Documentário produzido pela BBC e lançado no Brasil pela Super (à venda em abril)


Águia - Dourada: Guerreira dos Ares


ÁGUIA-DOURADA: GUERREIRA DOS ARES



Em abril de 2004, cientistas monitoravam o comportamento de ursos na Noruega quando presenciaram uma cena nunca antes documentada. "Era como ver neve no Saara", comparou Torgeir Nygaard, do Instituto Norueguês para Pesquisa da Natureza. Um grupo de ursos escalava uma escarpa coberta de gelo, quando uma águia os surpreendeu e carregou um dos filhotes. "De repente, a ave mergulhou, raptou o urso e sumiu com ele", contou Jarlee Mogens Totsaas, outro membro da expedição. Até então, não se sabia que os ursos noruegueses tinham um inimigo à altura. Também não se sabia que águias atacassem bichos tão grandes. O pássaro que levou o filhote de urso, surpreendeu os cientistas e virou notícia mundo afora foi uma águia-dourada.

Façanhas desse tipo renderam apelidos imponentes como "Rainha dos Céus" e "Pássaro da Guerra" à águia-dourada, o predador alado mais famoso do mundo. Entre as 430 espécies de aves de rapina existentes, ela se destaca pelo sucesso adaptativo. Habita paisagens diversas e não está ameaçada de extinção - ao contrário, pode ser considerada até bastante comum. A mais recente estimativa da organização internacional BirdLife, de 2001, apontou a existência de pelo menos 250 mil águias-douradas sobre a terra.

No topo da cadeia alimentar, a águia-dourada também é um dos maiores pássaros do planeta. Em tamanho, ela só perde para a harpia, uma espécie amazônica de mais de 1 metro de altura.

A impressionante envergadura das asas - até 2,3 metros - obriga a águia-dourada a habitar áreas selvagens onde a vegetação é baixa ou praticamente inexistente, para evitar acidentes de vôo. É um animal que se dá bem em regiões montanhosas, em desertos ou planaltos. "Ela precisa de bastante espaço para caçar, por isso não consegue viver em cidades ou mata fechada", afima Jemima Parry-Jones, que dirige o Centro Nacional de Aves de Rapina, entidade inglesa que mantém programas de conservação para rapinantes.

Nesses ambientes, o predador é capaz de capturar peixes na superfície da água, atacar pássaros em pleno vôo ou raptar animais da terra. Sua arma mais poderosa são as garras. Curvas e com até 6 centímetros de comprimento, funcionam tanto como punhal (é com elas que a águia-dourada mata suas presas) quanto como garfo e faca (seguram o corpo para ser dilacerado pelo bico).

Outro grande diferencial está na visão - a expressão "olhos de águia" não existe por acaso. A águia-dourada enxerga três vezes melhor do que o homem e, durante vôos à procura de alimento, é capaz de avistar presas a 1,5 quilômetro de distância. O sentido ainda permite que ela se antecipe aos ataques de outras aves de rapina na disputa por territórios.

Munida desse binóculo natural, a águia-dourada procura alimento sozinha ou em pares - embora haja registros de pequenos grupos que caçam juntos na América do Norte. De um toco de árvore seco ou planando no céu, a até 600 metros de altura, ela observa o ambiente em busca de possíveis vítimas. Quando as encontra, mergulha a até 128 quilômetros por hora e, antes de pousar, projeta as garras para a frente, fincando-as violentamente no pescoço ou no focinho da presa. A refeição pode ser abatida no local ou levada para um ponto afastado de competidores. Em dupla, as águias formam uma eficiente parceria. Uma delas persegue a vítima até deixá-la exausta, enquanto a outra cuida de surpreendê-la.

As presas favoritas da águia-dourada são mamíferos com até 1,5 quilo, como coelhos e lebres, e pássaros grandes, como perdizes e faisões - carne suficiente para saciá-la por quase dois dias. Mas ela devora de bom grado répteis, peixes e anfíbios. No inverno, quando é mais difícil caçar, se aproveita da carniça desprezada por outros animais. O item mais estranho do eclético cardápio são as tartarugas-testudo. Para comê-las, as águias que vivem no sudeste da Europa e na Ásia Central as levam para passeios no céu para arremessá-las contra rochas até que os cascos se quebrem e elas possam se fartar do recheio.

Há lendas que associam as águias-douradas ao rapto de crianças. É verdade que elas, quando adultas, têm força para erguer presas de até 5 quilos. Mas, por mais que a façanha seja possível, até hoje nunca foram registrados casos de ataques de águias-douradas contra humanos. Os maiores animais desafiados pelo pássaro são cervos, raposas, lobos e, desde abril último, ursos.

A caçadora implacável é um animal, digamos, caseiro. Existem populações que migram no inverno, mas a maioria é apegada ao ambiente em que nasceu - há, em penhascos da Escócia, ninhos que têm sido usados por sucessivas gerações de pássaros há pelo menos 400 anos. O conservadorismo também fala alto quando o assunto é vida a dois: casais formados para a primeira reprodução permanecem unidos até a morte de um dos dois.
No ninho da águia, por sinal, o macho não tem muito como cantar de galo: a fêmea costuma ser 10% maior que ele. Uma das teorias para explicar a diferença se baseia na divisão de tarefas domésticas. Enquanto o macho fica responsável por conseguir o alimento, a fêmea trata de cortá-lo em pedaços para alimentar os filhotes - tarefa que demanda ainda mais força muscular do que a caçada em si. Ser mãe, no fim das contas, pode ser mais difícil que voar por aí para conseguir a lebre de cada dia.


Caçadora de lobos


Como outras aves de rapina, águias-douradas podem ser treinadas para ajudar nas caçadas dos humanos. Nas estepes da Ásia Central, elas aprendem a predar animais que não figuram em seu cardápio habitual: lobos e raposas. Os kirguises, nômades que habitam o Cazaquistão e a Mongólia, capturam os pássaros em armadilhas e, em troca de um punhado de carne crua, os condicionam a atacar peles de lobos e de raposas. Terminado o treinamento, a águia vai a campo e captura os animais para seus donos. Os kirguises usam as mesmas aves por três estações seguidas de caça e depois as devolvem à liberdade. Se uma das águias se machuca durante a caçada, é adotada como animal de estimação. Recentemente, a caça de lobos com águias se tornou um negócio. Agências européias e americanas levam grupos para observar a prática - os kirguises recebem sua parte em dinheiro vivo e as águias, em carne crua.


Fatos selvagens




Nome vulgar

Águia-dourada



Nome científico

Aquila chrysaetos



Dimensões

Até 2,3 metros de envergadura



Peso

Até 6 quilos



Principais armas

Garras que permitem apanhar presas na água, no ar e sobre a terra; visão três vezes melhor do que a do homem



Comportamento social

Solitária e monogâmica



Ataques a humanos

Não há registros, apesar de lendas a associarem ao rapto de crianças



Expectativa de vida

Até 50 anos



Quanto come

Cerca de 1 quilo



Dieta

Coelhos, lebres, faisões, cobras, peixes, tartarugas



Principais inimigos

Outras aves de rapina



Se você encontrar uma
Se não chegar tão perto, dificilmente será atacado


Para saber mais




Na livraria

Eagle - Eyewitness Guide - Jemima Parry-Jones, Dorling Kindersley, Inglaterra, 1997
Raptors of the World - James Ferguson-Lees, Houghton Mifflin, EUA 2001


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Tigre de Bengala - O Caçador Invisível


TIGRE-DE-BENGALA: O CAÇADOR INVISÍVEL



Parque Nacional Ranthambhore, Índia, 2001. O jornalista Colin Stafford Johnson filmava um tigre-de-bengala de 5 anos, que ele chamava de Chips, para um documentário da emissora inglesa BBC. O felino estava atrás do jipe da equipe e percebeu a aproximação de um chital, espécie de cervo asiático, um pouco mais à frente. O cervo saltou para a estrada e avançou para um ponto em que havia precipícios de ambos os lados. Chips não titubeou: disparou atrás do chital. Uns 270 metros adiante, o tigre o pegou, o matou e desabou de exaustão, permanecendo sentado com uma pata sobre a presa. O banquete só começou depois de o felino se recuperar do enorme esforço físico.

A cena foi rara. Tigres não são como guepardos, que perseguem a presa em grande velocidade. E geralmente a vítima tem agilidade suficiente para virar de um lado para outro e safar-se do predador. O caso presenciado pela equipe da BBC foi uma exceção porque o cervo podia correr somente para uma direção. E o tigre só foi atrás dele porque estava convencido de que conseguiria pegá-lo. Senão, tenha certeza: não teria feito tamanho esforço.

Caçadas espetaculares não são a prioridade dos tigres. Na verdade, eles são bem objetivos: querem encontrar a maior presa possível e jantar sem fazer muito esforço. Ocorre que é muito difícil encontrar uma vítima fácil. As presas também têm mecanismos eficazes de se livrar do predador. Macacos sobem em árvores, o que o felino não consegue fazer. Aves podem voar e os ungulados (animais com casco), o prato predileto dos tigres, são extremamente alertas. Além disso, o tigre caça sozinho. Por essas e outras, apenas cerca de 10% das caçadas são bem-sucedidas. "As frustrações são uma parte normal do trabalho semanal do tigre", afirma o pesquisador Stephen Mills, autor do livro Tiger ("Tigre", inédito no Brasil).

Ainda assim, o tigre é uma máquina de caça eficiente. Esse felino tem força e rapidez suficientes para perseguir e matar, em curta distância, quase todos os animais de seu hábitat. E o seu instinto matador garante, ainda que precariamente, a sobrevivência da espécie (todas as cinco subespécies de tigre estão ameaçadas e três já foram extintas no século passado, quando a população total dos felinos ultrapassava os 100 mil indivíduos - hoje, os tigres-de-bengala, variedade mais numerosa, não chegam aos 5 mil indivíduos).

Uma qualidade do tigre faz a diferença: a habilidade de aproximar-se silenciosamente da presa. A camuflagem exerce aqui um papel importantíssimo. As listras verticais se confundem com o ambiente e quase desaparecem por trás das folhas da vegetação. "Mesmo que seja um animal gigante, um tigre em movimento no meio da floresta pode ser praticamente impossível de ser visto", diz Stephen Mills. Aliada a ela, o modo de caminhar do animal e as patas, arredondadas e fofas embaixo, contribuem para que a vítima não perceba sua aproximação.

Nas caçadas do tigre, o fator surpresa é essencial. Quase sempre o felino desiste da caça se ela notar sua presença. Isso levou as vítimas em potencial a criar sistemas de alarme sonoro para avisar ao tigre que ele foi desmascarado - mais que para alertar os outros animais da floresta. É uma barulheira só: o pavão grita, os primatas soltam um tipo de tosse seca e o chital emite um som que lembra um choro. "O tigre é o maior predador de seu hábitat. Por isso todos os outros animais desenvolveram essa vocalização, mesmo os que não são presas habituais, como os macacos, esquilos e pássaros", afirma Belinda Wright, diretora-executiva da Sociedade de Proteção da Vida Selvagem da Índia.

Atacar na surdina permite ao tigre-de-bengala abater animais muito mais velozes e maiores que ele, como o gauro, um bisão da Índia. A emboscada é simples. Ao perceber a presença da presa com os poderosos ouvidos e olhos (que enxergam seis vezes mais que os olhos humanos), o tigre se aproxima em silêncio. Quando está a cerca de 20 metros ou menos do animal, ataca. Dá um pulo longo e rápido, segura a presa com suas garras e prende os caninos no pescoço ou na nuca da vítima. E fica lá até que o animal morra por asfixia. "Os tigres não matam a presa para aparecer em documentários na televisão", afirma Mills. "Eles usam a menor quantidade de energia necessária, tentam fazer a caçada mais fácil e são eficientes em espaços curtos. Um pulo rápido, agarrar e matar estrangulado não são necessariamente cenas espetaculares. Às vezes, de tão mundana a cena, até parece que o tigre pegou sua comida direto da prateleira de um supermercado."

Mas é bem mais complicado que isso - uma nova "oferta" pode demorar muito a aparecer. Assim, quando consegue uma caça grande, o tigre se empanturra de carne. E pode ficar três ou quatro dias sem se preocupar com comida. Presas muito grandes, no entanto, têm um problema: o desperdício. Em florestas tropicais como Nagarahole, na Índia, em apenas cinco dias a carne do animal morto já está completamente podre. E tigres não comem carniça. Se o felino tiver matado um gauro, que pesa até 1 000 quilos, ele só tem tempo e espaço no estômago para devorar um quinto de sua caça antes de ela apodrecer. Em casos como esses, ele escolhe "dividir" a comida: a mãe com os filhotes, irmãos entre eles. O tigre-siberiano não tem esse problema: como seu hábitat é muito mais frio, a carne do animal morto dura até duas semanas.

A verdade é que um tigre faminto vai atacar qualquer coisa que vir pela frente. Até homens. Embora carne humana não costume fazer parte do cardápio, na Floresta de Sundarbans, na fronteira entre a Índia e Bangladesh, o ser humano virou praticamente parte da dieta alimentar do tigre - fato que vem sendo observado e estudado desde pelo menos o final do século 19. Hoje, acredita-se que isso ocorre porque os tigres sofreram algum tipo de interferência: foram perturbados, machucados, tirados de seu território ou tiveram suas presas habituais extintas.
Poucos animais estão a salvo de um tigre-de-bengala. Stephen Mills descreve em seu livro o felino caçando sucuris de 20 metros, ursos, elefantes e rinocerontes. E o tal fator surpresa é mandado para o espaço quando o predador está convicto do sucesso da caçada. Se a presa não dispõe de uma saída, não há por que ser discreto - veja o caso da perseguição do tigre Chips, descrita no começo do texto. "A confiança faz toda a diferença", afirma Stephen Mills. Mesmo na tática habitual, o tigre só é sorrateiro até o momento em que chega a uma distância curta o suficiente para dar o bote. Aí, ele já não se importa mais se a vítima irá vê-lo ou não. O tigre-de-bengala apenas ataca, mata e come.


Predileção por carne humana


O Parque de Sundarbans - entre a Índia e Bangladesh - tem um território de 10 mil quilômetros quadrados, as maiores florestas de mangue do mundo e tigres-de-bengala com uma particularidade: gosto especial por carne humana. Não se sabe ao certo quantos felinos habitam a área - especula-se algo em torno de 300 - nem os motivos de seus ataques. O fato é que, nos anos 80, entre 50 e 60 pessoas eram devoradas todos os anos pelos felinos. As vítimas eram coletores de mel e lenhadores que se embrenhavam nas florestas para trabalhar. Algumas estratégias foram elaboradas pelos governos dos dois países para tentar diminuir o número de mortes na região. Uma delas foi espalhar pela mata manequins equipados com mecanismos de choque. Assim que um tigre os atacava, levava um choque - e aprendia a ficar longe de humanos. A medida funcionou, mas foi descartada por ser cara e trabalhosa. A forma que atualmente parece mais eficiente é uma prosaica máscara de plástico ou de borracha usada pelos trabalhadores na parte de trás da cabeça. Como os tigres costumam atacar pelas costas, para não serem surpreendidos, as máscaras os enganam: eles acham que os homens estão olhando para eles e - às vezes - desistem da caçada.


Fatos selvagens




Nome vulgar

Tigre-de-bengala



Nome científico

Panthera tigris tigris



Dimensões

Até 3,8 metros da cabeça até ao fim da cauda



Peso

Até 250 quilos



Principais armas

Os poderosos dentes caninos e a camuflagem



Comportamento social

É uma espécie naturalmente solitária, embora sua convivência forçada com outros tigres em parques de áreas restritas da Índia esteja provocando uma aproximação maior entre os indivíduos nos últimos anos



Dieta

Sambar e chital (espécies de veados indianos), porcos selvagens, bisões, antílopes distribuição geográfica



Ataques a humanos

Embora não sejam comuns, eles acontecem. Na Floresta de Sundarbans, na Índia, são registrados cerca de 20 ataques por ano - a maior parte com morte



Quanto come

Na natureza, cerca de 10 quilos de carne por dia



Expectativa de vida

10 anos na natureza; 20 anos em cativeiro



Principais inimigos

Os únicos animais que oferecem algum perigo ao tigre-de-bengala são os cães-selvagens, mas apenas quando atacam em bandos numerosos



Se você encontrar um
Tente não se assustar - em geral, tigres não costumam atacar humanos. Evite agachar ou se curvar


Para saber mais




Na livraria

Tiger - Stephen Mills, Firefly Books, 2004



Na internet
www.5tigers.org - Site mantido por fundações e centros de pesquisa


terça-feira, 16 de novembro de 2010

A fúria de Moby Dick

ESSEX: A FÚRIA DE MOBY DICK



Oceano Pacífico, 20 de novembro de 1820. Mais um dia de trabalho começava para os tripulantes do Essex, que estava há mais de um ano em alto-mar capturando baleias para extrair o óleo usado na iluminação pública e na lubrificação das máquinas industriais. Um dia que entrou para a História. O dia em que, pela primeira e única vez, foi registrado um ataque de uma baleia contra um barco. Um ataque que deixaria os 20 tripulantes à deriva durante três meses, obrigando-os até a comer os próprios companheiros mortos para não passar fome - e que serviria de inspiração para um dos maiores clássicos da literatura mundial, Moby Dick (leia mais no quadro da página 32).Hoje, a caça é largamente condenada, mas no início do século 19 a extração do óleo de baleia era uma importante atividade econômica. A ilha de Nantucket, na costa leste dos Estados Unidos, era um dos maiores centros baleeiros. Mais de 70 embarcações iam e vinham constantemente. O trajeto era bem conhecido dos marinheiros: pelo Atlântico, rumo ao sul. Os barcos, porém, só retornavam ao porto com os porões cheios.

Por isso, era preciso contornar a América do Sul em direção ao Oceano Pacífico. Era exatamente isso que o Essex tinha feito. Naquela manhã de novembro, ele contava com aproximadamente 700 barris de óleo, metade de sua capacidade total. O céu estava claro e havia pouco vento (clima perfeito para caçar) quando os esguichos dos cetáceos foram avistados - e os botes se lançaram ao mar. O primeiro imediato Owen Chase logo teve de dar meia-volta para reparar seu barco, atingido pela cauda de uma baleia, fato bastante corriqueiro. Foi quando a tragédia começou. O camareiro Thomas Nickerson, que ajudava Chase no conserto, viu algo estranho. Era um cachalote macho, com 26 metros de comprimento, cerca de 8 toneladas e a cabeça cheia de cicatrizes. O bichão não era apenas enorme. Estava a menos de 35 metros do Essex e nadava em direção a ele, com a cauda de 6 metros de largura chacoalhando para cima e para baixo.

"Olhamos uns para os outros com total espanto, quase mudos", escreveu Chase no livro Narratives of The Wreck of the Whale-Ship Essex, em que relata o episódio. Foi tudo muito rápido. De um golpe, o animal atingiu a parte frontal do navio. Em seguida, passou por baixo do casco, arrancou a quilha e emergiu do outro lado. Afastou-se um pouco e voltou ao ataque. Em grande velocidade, atingiu o barco logo abaixo da âncora. O Essex estava condenado a ser enterrado no fundo do mar. A baleia se desvencilhou dos destroços e saiu nadando para nunca mais ser vista.

Terror no mar
Chase, 22 anos, era tripulante do Essex desde 1815. Pela primeira vez, fazia uma viagem na condição de primeiro imediato (o último passo antes de se tornar capitão). Thomas Nickerson estreava no mar e era o mais jovem dos marinheiros. Tinha apenas 14 anos e sonhava desde criança em partir com um baleeiro. Mal sabia ele que o barco, com mais de duas décadas de serviços no mar (e fama de pé-quente), faria sua última viagem. Todos estavam preparados para ficar até três anos a bordo. No momento do ataque, porém, foi só desespero. Owen, Nickerson e outros sete homens tiveram de correr para tirar o máximo de provisões dos destroços do Essex e colocar na baleeira. A poucos metros de distância, os 11 tripulantes que estavam nos dois botes que espreitavam as presas na água quase não acreditavam no que viam. "Nenhuma palavra foi dita por vários minutos", relatou Chase em seu livro. Com muito esforço, foi possível recuperar 270 quilos de bolachas, um pouco de água doce, algumas tartarugas que haviam sido capturadas nas Ilhas Galápagos e instrumentos de navegação.

Quando o sol raiou, todos se dividiram nos três barcos menores e se prepararam para partir. Tinham duas opções: ir até as ilhas Marquesas, na Polinésia, a 1200 milhas (cerca de 2 mil quilômetros), ou tentar chegar à costa da América do Sul, bem mais distante. Por medo dos canibais que, dizia-se, habitavam a região das Marquesas, escolheram a segunda alternativa. O destino se revelaria de uma trágica ironia (veja no infográfico da página 30 o percurso feito pelos náufragos).

Em meio às águas geladas do Pacífico, os marujos experimentaram novos limites de sobrevivência. Muitos nem conseguiam dormir, só de pensar no desastre. E a natureza não ajudava em nada. Os ventos fortes desviavam as baleeiras do destino sonhado e os jatos de água salgada deixavam todos molhados e com frio. Os cabelos começaram a cair e a pele queimada pelo sol cobria-se de dolorosas feridas. O primeiro grande desafio foi mesmo a fome. A pouca comida resgatada proporcionava apenas 500 calorias diárias para cada um - menos de um terço do necessário para um adulto. Para piorar, logo no terceiro dia parte das bolachas se perdeu depois que o bote de Chase foi atingido por uma onda. Em seguida, as bolachas do bote do capitão George Pollard Jr. se estragaram.

O próximo martírio foi a sede. "A violência da sede delirante não encontra paralelo no catálogo das calamidades públicas", observou Chase na época. Resultado: gargantas irritadas, saliva grossa e língua inchada. Pouco mais de 20 dias depois, a solução foi beber a própria urina. Ao final do primeiro mês à deriva, uma esperança renasceu. O grupo avistou terra firme. Não foi muito difícil chegar até a ilha, mas ela tinha pouco (em termos de comida e bebida) a oferecer aos náufragos, que ficaram apenas uma semana e voltaram ao mar. Três marinheiros acharam melhor ficar do que se arriscar naquela viagem rumo ao desconhecido. Os outros dividiram-se nos três botes e seguiram em frente, para mais privações e perigos.

De cara com a morte
No caminho, um dos barcos se perdeu - para sempre. E em 20 de janeiro de 1821 morreu Lawson Thomas, um dos tripulantes do bote do arpoador Obed Hendricks. Era a terceira morte desde o afundamento do Essex. Até então, os corpos eram jogados ao mar. Naquele momento, uma necessidade se impôs: por que não usá-lo como alimento? Por mais que o canibalismo fosse visto como um ato incivilizado, a prática era razoavelmente disseminada nos oceanos, uma saída legítima para a sobrevivência. Cruel ironia. Meses antes, todos preferiram evitar as ilhas Marquesas por medo dos canibais. Agora, estavam prestes a comer um de seus companheiros. O jeito foi retirar todos os sinais de humanidade, como cabeça, mãos e pés. Em registros posteriores, o capitão Pollard Jr. contou que, antes de ser comidos, os órgãos e a carne eram assados numa pequena chama acesa sobre uma pedra chata no fundo do bote.

Não demorou muito para o desespero atingir níveis ainda maiores. Apenas duas semanas mais tarde, diante da absoluta falta de comida, decidiu-se fazer uma espécie de votação para definir quem seria o próximo a servir de alimento aos sobreviventes. No dia 6 de fevereiro, Owen Coffin, então com 18 anos, foi o escolhido. Ele era primo do capitão - e estava no mesmo bote. A mãe do garoto, Nancy, nunca perdoou o sobrinho por não ter impedido tamanha crueldade com o filho - e, o que é ainda pior, por ter ele próprio se alimentado daquela carne. "Ela ficou quase louca ao saber daquilo e nunca mais tolerou a presença do capitão", escreveu Nickerson.

A tragédia estava por terminar. Doze dias depois, em 18 de fevereiro de 1821, quase três meses após o naufrágio, o primeiro barco foi resgatado, navegando sem controle na altura do porto de Valparaíso, no Chile. Com os olhos saltados da cavidade do crânio e o rosto salpicado de sal e sangue, Owen Chase, Thomas Nickerson e o arpoador Benjamin Lawrence tiveram de ser carregados para dentro do navio inglês que os avistou. Cinco dias mais tarde, o bote do capitão Pollard se aproximou da Ilha de Santa Maria, também na costa chilena. Quando os tripulantes do baleeiro Dauphin avistaram a embarcação, só viram ossos. Pollard e Charles Ramsdell estavam encolhidos, cada um em uma extremidade, incapazes de se mexer. Não queriam largar, de jeito nenhum, os ossos que chupavam em desespero, único alimento que restara desde a última morte do grupo. Os três marujos que ficaram na ilha Henderson foram resgatados no dia 9 de abril.

Por mais incrível que possa parecer, os oito homens que sobreviveram à tragédia do Essex acabaram por voltar ao mar. Pollard reassumiu o posto de capitão no inverno seguinte e levou consigo Nickerson, promovido a arpoador. A viagem foi um tremendo fracasso. Pollard decidiu virar vigia noturno em Nantucket. E Nickerson transformou-se em dono de pousadas na ilha. Chase fez mais uma viagem antes de se tornar capitão. Tinha 28 anos - e prosseguiu atravessando os oceanos por vários anos. No entanto, as lembranças daquela manhã de céu azul e pouco vento nunca o deixaram em paz. Morreu em 1869, aos 71 anos, considerado louco. No fim da vida, sentia fortes dores de cabeça que acreditava ser conseqüência do naufrágio. Passou também a esconder comida no sótão de sua casa. Nem mesmo a paixão pelo mar foi capaz de fazê-lo superar as cicatrizes deixadas por aquele cachalote.


Tragédia em quatro momentos

1. O começo do sofrimento

O Essex foi atacado em 20 de novembro de 1820 e a tripulação se refugiou em três botes salva-vidas. No terceiro dia, uma onda quebrou sobre um dos barcos, molhando as bolachas. Os marinheiros fizeram o possível para salvar o alimento, sem sucesso

2. Chuva de peixes voadores

Perto do 20º dia no mar, um cardume de peixes voadores cercou os botes. Quatro se chocaram com as velas improvisadas. Um foi devorado no mesmo instante. Foi a primeira e única vez que todos sentiram vontade de rir - em vez de chorar - da situação em que se achavam

3. Esperança frustrada

Após um mês de naufrágio, muitos já haviam desistido de sobreviver. Mas uma ilha foi avistada e a idéia de encontrar comida e água animou o grupo. Os botes logo voltaram ao mar, mas três tripulantes optaram por ficar. Seriam resgatados, com vida, mais de três meses depois

4. O desespero da fome

Com quase três meses no Pacífico, a morte mostrou sua face. Quando o terceiro faleceu, muitos pensaram: por que não comer essa carne? Até o resgate, seis marinheiros, mortos, foram devorados e um foi assassinado para servir de alimento

Baleia famosa
O ataque ao baleeiro Essex foi um dos desastres mais comentados do século 19. Tanto que serviu de inspiração para um clássico da literatura, Moby Dick, do norte-americano Herman Melville (1819-1891). A idéia de escrever o livro veio depois que ele leu o relato de Owen Chase sobre a experiência. Na versão ficcional, o ataque da baleia é o clímax da história - enquanto na vida real ele foi apenas o início. "Moby Dick é uma colcha de retalhos. Fala de vários temas, da busca de Deus à questão do herói, o que o torna muito singular", comenta Viviane Cristine Calor, que escreveu uma tese de mestrado para a Universidade de São Paulo sobre a obra. Lançado em 1851, Moby Dick foi um fracasso comercial e de crítica. Só teve seu valor reconhecido quando Melville já havia morrido. "Ele estava à frente de seu tempo", destaca Viviane.

Atividade cruel
Pelo menos mil anos antes de Cristo os fenícios já caçavam baleias. Mas a caça em grandes embarcações, como na época do Essex, só foi adotada no século 8 da nossa era, pelos bascos. No século 19, o método de abate era o seguinte: ao avistar a presa, seis homens deixavam o navio num barco a remo e golpeavam a baleia com um arpão, para depois matá-la com uma lança. No início do século passado, as lanças foram substituídas por arpões com explosivos e os botes ganharam motor. Hoje, os baleeiros têm toda a aparelhagem necessária para transformar o animal em produtos devidamente embalados. Essas inovações tecnológicas passaram a representar um grande risco à sobrevivência desses bichos. Calcula-se que ao longo do século 20 mais de 2 milhões de baleias tenham sito mortas pelo homem - e hoje, entre as mais de 40 espécies existentes no mundo, cinco estão ameaçadas de extinção: a azul, a cinza, a bowhead, a jubarte e a franca.

A azul, a franca e a jubarte podem ser vistas na costa brasileira. Felizmente, nosso país proíbe a caça, pois é um dos membros da Comissão Baleeira Internacional, criada em 1946 para impedir a matança desordenada. Em 1986, a entidade aprovou uma moratória à caça comercial, mas nem todos os signatários (são mais de 50) a respeitam. Três países lideram o descumprimento da suspensão, alegando fins científicos para a caça: Japão, Noruega e Islândia.

Presa fácil

Minke
Seu nome científico é Balaenoptera bonaerensis. Japão, Islândia, Groenlândia e Noruega são caçadores vorazes

Cachalote
Foi uma Physeter macrocephallus que atacou o Essex em 1820. O Japão é seu maior algoz

Sei
A Balaenoptra borealis é uma das mais rápidas. Vive em todos os oceanos e é caçada por barcos do Japão