segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Entidades lutam para preservar ousado experimento de Nikola Tesla

11/05/09 - 18h49 - Atualizado em 11/05/09 - 18h49

Entidades lutam para preservar ousado experimento de Nikola Tesla
Visionário inventor tentou criar rede wireless com eletricidade gratuita.
Donos do terreno em que experimento foi conduzido querem vendê-lo.

Em 1901, Nikola Tesla começou a trabalhar num sistema global de torres gigantes que deveria transmitir pelo ar não só notícias, relatórios de ações e fotos, mas também – e sem o conhecimento do investidor J. Piermont Morgan - eletricidade gratuita para todos.

Era o maior projeto do inventor, e o mais audacioso.

A primeira torre foi erguida na rural Long Island e, em 1903, tinha mais de 18 andares de altura. Certa noite de verão, ela emitiu um monótono estrondo e começou a atirar raios de eletricidade na direção do céu. Os clarões ofuscantes, segundo relatou o New York Sun, “pareciam se disparar na escuridão em alguma misteriosa viagem”.

Todavia, o sistema fracassou pela necessidade de dinheiro, e, ao menos parcialmente, pela viabilidade científica. Tesla nunca terminou sua torre protótipo e foi forçado a abandonar seu laboratório adjunto.

Hoje, uma batalha está pairando sobre as fantasmagóricas ruínas daquele local, chamado Wardenclyffe – que as autoridades em Tesla chamam de o único local de trabalho sobrevivente do excêntrico gênio, que sonhava enquanto desbravava a comunicação wireless (sem fio) e a corrente alternada. O desacordo começou somente depois que a propriedade foi posta à venda em Shoreham, NY.

Um grupo científico, em Long Island, quer transformar a área de 16 acres em um museu e centro de educação Tesla. Eles esperam conseguir a doação da terra para esse fim. Porém, o proprietário, a Agfa Corp, diz que precisa vender a propriedade para levantar fundos graças à difícil situação da economia. O corretor imobiliário da empresa diz que a terra, registrada por US$1,6 milhão, pode “ser entregue totalmente limpa e nivelada”, afirmação que colocou os preservacionistas em ação.

As ruínas de Wardenclyffe incluem a fundação da torre e o grande laboratório de tijolos, projetado pelo amigo de Tesla, Stanford White, o celebrado arquiteto.

“Proteger esta área é muito importante”, disse Marc J. Seifer, autor de “Wizard”, uma biografia sobre Tesla. “Ele é um ícone. Ele representa o que os humanos deveriam fazer – honrar a natureza e usar a alta tecnologia para explorar seus poderes”.

Apoio do governo
Recentemente, o estado de Nova York fez eco a esse julgamento. O comissário de preservação histórica escreveu para Seifer, em nome do governador David A. Paterson, para apoiar a preservação de Wardenclyffe e catalogá-lo no Registro Nacional de Locais Históricos.

Em Long Island, entusiastas do cientista prometem obter a terra de um jeito ou de outro, dizendo que salvar um símbolo das realizações de Tesla ajudaria a recolocar o visionário em seu local de direito como um arquiteto da era moderna.

“Grande parte de seu trabalho estava muito à frente de seu tempo”, disse Jane Alcorn, presidente do Tesla Science Center, um grupo privado em Shoreham que vem buscando adquirir Wardenclyffe.

Ljubo Vujovic, presidente da Sociedade Memorial Tesla de Nova York, disse que destruir o velho laboratório “seria terrível para os Estados Unidos e para o mundo. Trata-se de um pedaço da história”.

Tesla, que viveu de 1856 a 1943, fez amargos inimigos. Eles consideravam algumas de suas declarações como exageradas, o que ajudou a manchar sua reputação durante a vida. Ele era parte recluso, parte showman. Ele divulgou fotos publicitárias (na verdade, exposições duplas) mostrando a si mesmo enquanto lia calmamente em seu laboratório, em meio a clarões mortais.

Hoje, o trabalho de Tesla tende a ser pouco conhecido entre cientistas, embora alguns o considerem um gênio intuitivo muito à frente de seus colegas.

Socialmente, sua popularidade decolou, elevando-o ao status de “Cult”.

Livros e sites se proliferam. O Wikipédia diz que o inventor obteve pelo menos 700 patentes.

O YouTube tem diversos vídeos do cientista, incluindo um mostrando um arrombamento em Wardenclyffe. Uma banda de rock tem o nome de “Tesla”. Uma companhia de carros elétricos apoiada pelo Google é chamada de Tesla Motors.

Larry Page, co-fundador do Google, vê a vida do criador como um conto infeliz. “É uma história muito triste”, disse Page para a revista Fortune, no ano passado. O inventor “não conseguia comercializar nada. Ele mal conseguia custear suas próprias pesquisas”, disse.

Wardenclyffe resumiu esse tipo de impraticabilidade visionária.

Tesla se agarrou ao colossal projeto aos 44 anos, enquanto morava na cidade de Nova York. Um bon vivant de berço sérvio, impecavelmente vestido, ele era amplamente elogiado por suas invenções de motores e sistemas de distribuição de força que usavam a forma de eletricidade conhecida como corrente alternada. Esta energia foi capaz de superar a corrente direta (e Thomas Edison) para eletrificar o mundo.

Suas patentes fizeram dele um homem rico, pelo menos por um tempo. Ele morou no
Waldorf-Astoria e amava beber socialmente com os famosos no Delmonico’s e no Players Club.


O momento de audácia
Por volta de 1900, enquanto Tesla planejava o que se tornaria Wardenclyffe, inventores de todo o mundo corriam atrás do que era considerada a grande promessa – comunicação sem fio. Seu próprio plano era transformar a corrente alternado em ondas eletromagnéticas piscando de antenas a receptores distantes. Isso é basicamente como funciona a transmissão a rádio. A escala de sua visão era colossal, entretanto, eclipsando a de qualquer rival.

Os investidores, graças às realizações elétricas de Tesla, voltaram-se para ele. O maior desses foi J. Pierpont Morgan, o grande financista. Ele torrou US$150.000 (mais de três milhões de dólares em valores atuais) na iniciativa sem fio global do pesquisador.

O trabalho na torre protótipo teve início em meados de 1901, na região de North Shore, em Long Island, um local que Tesla deu o nome do patrono e dos penhascos (“cliffs” em inglês) vizinhos.

“A planta proposta em Wardenclyffe”, relatou o jornal The New York Times, “será a primeira de muitas propostas pelo eletricista para estabelecer neste país e outros”.

A onda de choque atingiu-o em 12 de dezembro de 1901. Naquele dia, Marconi conseguiu enviar sinais de rádio através do Atlântico, acabando com as esperanças de Tesla em obter a glória do pioneirismo.

Ainda assim, Wardenclyffe cresceu, com guardas que tinham ordens estritas de manter os visitantes longe. A torre de madeira subiu 187 pés sobre um largo poço, que descia 120 pés no chão, para ancorar profundamente a antena. Moradores das vilas próximas disseram ao Times que o solo abaixo da torre estava totalmente “perfurado por passagens subterrâneas”.

O laboratório vizinho, com tijolos vermelhos, janelas arqueadas, e uma alta chaminé,
abrigava ferramentas, geradores, um armazém de máquinas, transformadores elétricos,
equipamentos para soprar vidro, uma biblioteca e um escritório.

Mas Morgan estava desiludido. Ele recusou o pedido de Tesla por mais dinheiro.
Desesperado, o inventor mostrou o que ele considerava seu ás. As torres iriam transmitir não só informação ao redor do mundo, escreveu ele ao financista em julho de 1903, mas também energia elétrica.

“Eu não me sinto disposto”, respondeu Morgan com frieza, “a fazer quaisquer avanços”.
Margaret Cheney, uma biógrafa de Tesla, observou que o cientista havia errado seriamente na avaliação de seu rico patrono, um homem profundamente comprometido com o motivo do lucro. “A possibilidade de emitir eletricidade a pigmeus ou zulus sem um único centavo”, escreveu ela, deve ter deixado o investidor bem menos do que entusiasmado.

Foi então que Tesla, cambaleando financeira e emocionalmente, ligou a torre pela primeira e última vez. Ele acabou vendendo Wardenclyffe para pagar US$20.000 (cerca de 400 mil dólares hoje) de contas no Waldorf. Em 1917, os novos proprietários explodiram a torre e a venderam como sucata.

Hoje, o plano exato de Tesla para o local permanece um mistério, mesmo com os cientistas concordando sobre a impraticabilidade de sua ideia geral: a torre poderia funcionar para transmitir informação, mas não energia.

“Ele era um gênio absoluto”, disse numa entrevista Dennis Papadopoulos, físico da
Universidade de Maryland. “Ele concebeu coisas em 1900 que levamos 50 ou 60 anos para compreender. Mas ele não considerou a dissipação. Não é possível inserir um monte de energia numa antena e esperar que a ela viaje longas distâncias sem diminuição considerável”.

Wardenclyffe passou por muitas mãos, acabando com a Agfa, que está baseada em Ridgefield Park, Nova Jersey. O gigante das imagens usou a área, de 1969 a 1992, e então fechou a propriedade. Prata e cádmio, um forte veneno, haviam contaminado o local, e a empresa diz ter gastado mais de cinco milhões de dólares em estudos e remediação. A limpeza terminou em setembro e o terreno foi colocado à venda no final de fevereiro.

Corretores imobiliários disseram ter mostrado Wardenclyffe a quatro ou cinco possíveis compradores.

No mês passado, a Agfa abriu a propriedade, coberta de árvores, a um repórter. “NÃO
ULTRAPASSAR” avisava uma apagada placa no portão da frente, por sua vez coberto de arame farpado.

O prédio de tijolos de Tesla permanecia intacto, um elegante catavento no topo de sua chaminé. Mas a Agfa havia recentemente coberto as grandes janelas com tábuas de compensado para desanimar vândalos e intrusos, que haviam furtado grande parte da fiação da construção pelo cobre.

O escuro interior do prédio estava cheio de latas de cerveja e garrafas quebradas pelo chão. As lanternas não revelavam nenhum sinal do equipamento original, exceto por uma surpresa no segundo andar. Ali na escuridão agigantavam-se quatro enormes tanques, cada um do tamanho de um carro pequeno. Suas laterais eram feitas de um grosso metal e suas junções eram fortemente rebitadas, assim como as de um velho destróier ou navio de guerra. O consultor da Agfa, que conduzia a visita, chamava-as de baterias gigantes.

“Olhem ali em cima”, disse o consultor, Ralph Passantino, apontando com sua lanterna. “Há uma escotilha ali. Era usada para entrar nos tanques e cuidar deles”.

As autoridades sobre Tesla parecem saber pouco sobre os grandes tanques, tornando-os
possíveis pistas sobre os planos originais do inventor.

Após a visita, Christopher M. Santomassimo, conselheiro geral da Agfa, explicou a posição de sua empresa: nada de doação do local para um museu, e nada de ações que impediriam a destruição do edifício.

“A Agfa está numa difícil posição econômica, dado o que está ocorrendo no mercado mundial”,

disse ele. “Ela precisa maximizar sua potencial recuperação com a venda daquele local”.

Ele acrescentou que a empresa aceitaria “qualquer oferta razoável”, incluindo as de grupos interessados em preservar Wardenclyffe por seu significado histórico. “Nós simplesmente não estamos em condições”, ele enfatizou, “de doar completamente a propriedade”.

Alcorn, do Tesla Science Center, que buscou gerar interesse em Wardenclyffe durante mais de uma década, parecia confiante de que se chegaria numa solução. O Condado de Suffolk pode comprar o local, disse ela, ou uma campanha pode levantear os fundos para sua compra, restauração e conversão num museu científico e centro educacional. Ela disse que a comunidade local apoiava fortemente a ideia da preservação.

“Assim que a oferta foi divulgada, comecei a receber tantas ligações”, afirmou ela. “As pessoas diziam: ‘Eles não vão realmente vender o lugar, vão? Ele tem que ser um museu, certo?’”

Sentada numa mesa de leitura da Biblioteca Pública de North Shore, onde ela trabalha como bibliotecária infantil, Alcorn gesticulava sobre um mapa de Wardenclyffe para mostrar como o local abandonado poderia ser transformado em não só um museu Tesla, mas também num playground, num café e numa livraria.

“Isso é essencial”, disse ela. Alcorn disse que a investigação e restauração da velha propriedade era uma promessa de solução para um dos grandes mistérios: a extensão e natureza dos túneis que, segundo se dizia, perfuravam a área ao redor da torre.

“Eu adoraria ver se eles realmente existiram”, disse ela. “As histórias são muitas, mas não as provas”.

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