terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Em busca do monstro perdido - Polêmica


EM BUSCA DO MONSTRO PERDIDO - Polêmica


Um projeto encanta os turistas e facilita a vida dos cientistas que estudam o Lago Ness, no norte da Escócia. O sucesso das viagens de submarino ao fundo do lago onde viveria a mais procurada criatura do mundo reaquece a lenda que desafia a ciência. 



Um novo submarino, com 10 metros de comprimento e pesando 24 toneladas é o mais novo recurso usado na caça à lenda mais famosa do mundo, o incrível monstro Nessie - um ani-mal gigantesco que milhares de pessoas afirmam ter visto nas águas escuras do Lago Ness no norte da Escócia. Construído no Canadá, o submarino é capaz de mergulhar a 230 metros de profundidade levando até seis pessoas. 
Este não é o primeiro submersível a vasculhar o lago escocês mas, diferentemente dos anteriores, seus passageiros são, a maior parte do tempo, turistas e curiosos dispostos a pagar cerca de 100 dólares por uma hora de diverti-da caçada mitológica. Só na primeira semana, de acordo com os organiza-dores, cerca de 500 pessoas fizeram reserva. Essas excursões têm um objetivo nobre: o dinheiro arrecadado é usado para financiar um projeto do Centro de Pesquisa sobre o Monstro do Lago Ness. Além do dinheiro, entre uma viagem e outra, o submarino desce para coletar amostras do fundo do lago que servirão para estudar a história e a idade geológica da região - daí seu apelido de Máquina de Volta ao Passado. Os cientistas garantem que não estão atrás de Nessie. Mas, como o nome do centro de pesquisa indica, nenhum deles deve ficar infeliz se topar com ele. 
Nessie, aliás, é o maior beneficiado pelo projeto: depois de ter sua credibilidade seriamente comprometida com a descoberta de uma fraude vergonhosa, a lenda parece mais viva do que nunca, "ressuscitada" pelo sucesso das excursões. A farsa era uma fotografia batida em 1934 pelo ginecologista inglês Robert Wilson, considerada uma das provas mais "contundentes" da existência da fantástica criatura. A imagem do dorso, do longo pescoço e da pequena cabeça do que parece ser uma espécie de dinossauro semi-submerso tinha tudo para convencer até os mais incrédulos - e convenceu, por longos sessenta anos. Os peritos atestaram: a foto era autêntica. Era o que se pensava até o final de 1993, quando Christopher Spurling confessou que a figura era um boneco sobre uma bóia, construído por ele mesmo. O trote fora encomendado por seu padrasto, o cineasta Duke Wetherell, como vingança contra o jornal inglês Daily Mirror, que o despedira. 
Apesar de abalada, a credibilidade de Nessie não foi destruída. Afinal, o monstro existe - ainda que só em fantasia - há quase    1 430 anos. Consta que a primeira aparição aconteceu no ano 565, quando o missionário irlan-dês Columba salvou um de seus discípulos das garras de uma gigantesca serpente surgida das águas escuras do lago. Mas foi a partir de 1933 que Nes-sie perdeu a timidez e passou a se mostrar mais. Há quem diga que o monstro foi acordado pelas explosões de dinamite na abertura da estrada que liga a cidade de Inverness a Fort Augustus, nos extremos do lago. Ao todo, calcula-se que tenha sido visto por mais de 4 000 testemunhas, muitas delas com séria reputação a zelar e, por isso, consideradas fidedignas, como monges, oficiais da Marinha e até mesmo cientistas. 
Boa parte dos relatos coincide em pelo menos alguns pontos: Nessie é vermelho-escuro, de pele brilhante e mede entre 8 e 9 metros de comprimento - uma descrição que leva a várias interpretações. A hipótese mais cotada é a de que seria um plesiossauro - uma espécie de dinossauro aquático. Seja a espécie de animal que for, uma coisa é certa: para perpetuar-se por mais de quatorze séculos teriam de existir pelo menos vinte monstros. O Lago Ness - o maior da Escócia, com cerca de 37 quilômetros de comprimento, 1,5 quilômetro de largura e 240 metros de profundidade média - oferece todas as condições para isso. Os grandes salmões e trutas que povoam as águas representam abundantes petiscos e o fundo rochoso tem pelo menos uma profunda caverna, ideal para abrigar uma família inteira de Nessies.
Todas as pesquisas baseiam-se nesse tipo de suposição, nos testemunhos e em dezenas de fotos e filmes. Pelo menos até que se prove que são falsos, isso é matéria-prima suficiente para dezenas de expedições científicas em busca do monstro. Na década de 70, por exemplo, sérias instituições americanas, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts e a Fundação Smithsonian vasculharam as águas do lago, sob o patrocínio do não menos sério jornal New York Times. Em 1987, 24 barcos "varreram" com sonares toda a área do lago, numa aventura que custou nada menos que 1,6 milhão de dólares aos patrocinadores. A melhor conclusão a que os pesquisadores chegaram foi a de que existe algo muito grande e estranho nadando lá embaixo. "Poderia ser uma espécie de esturjão do Báltico - um peixe que pode medir 3 metros de comprimento e pesar 200 quilos", afirma Adrian Shine, encarregado das operações de pesquisa do novo subma-rino que percorre o lago. A opinião não é de estranhar. Preocupados em não arranhar a reputação, os cientis- tas sempre dizem que ninguém está atrás de Nessie. É assim, também, com o Projeto Urquhart, do Museu de História Natural de Londres, que começou em 1992 a estudar o ecossistema do Lago Ness. 
A equipe já levantou, no fundo do lago, pelo menos 28 tipos de vermes nematóides, medindo de 2 milímetros a 1 centímetro de comprimento. Os nematóides estão entre os animais mais abundantes da Terra, representando entre 8% e 9% de toda a fauna do planeta. E Nessie, cadê? "Sobre isso, não tenho nada a comentar", foi a resposta de John Lambshead, um dos líderes da pesquisa do museu londrino, a nos. Com comentário ou sem comentário, o fato é que as caçadas se sucedem, ano a ano. E Nessie vai sobrevivendo, de polê-mica em polêmica, há quatorze séculos, atraindo cer- ca de 600 000 turistas a cada ano para a região do lago. A última e definitiva prova da existência de Nessie é a lei esco-cesa que, desde 1933, protege a fantástica criatura: nenhu-ma pessoa ou instituição po-de capturá-la ou feri-la. E depois vêm dizer que não exis--te, ora. Lei é lei.

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