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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Cinco especialistas dão dicas de ouro contra mau hálito


Cinco especialistas dão dicas de ouro contra mau hálito


E para dar algumas dicas de ouro que podem salvar seu hálito, nos juntamos cinco profissionais da odontologia especialistas no diagnóstico e no tratamento da halitose.

Drogas, dormir de boca aberta e remédios para acne: saiba, segundo especialistas, como é possível evitar o mau hálito com dicas que você nem imaginava

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Cientistas de Harvard criam novo método para regenerar dentes


Cientistas de Harvard criam novo método para regenerar dentes


Cientistas da Universidade de Harvard deram um passo importante no campo da odontologia. Através de um novo método, eles conseguiram estimular o crescimento de dentes na arcada de quem os perdeu. E para chegar a esse resultado, os pesquisadores utilizaram um raio laser de baixa potência, que estimula a ativação de células-tronco dentárias. Estas, aos poucos, começam a formar a dentina, o tecido duro similar ao osso que fica sob o esmalte e que forma a maior parte da massa dentária.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A dura jornada de um sanduíche boca adentro - Biologia


A DURA JORNADA DE UM SANDUÍCHE BOCA ADENTRO - Biologia



De cara, o alimento é esmagado. Depois, é feito em pedacinhos. O organismo não quer que sobre nada -  a não ser energia.

A boca avança sobre o sanduíche. Os dentes cortam o pão e rasgam o recheio. A mordida marca a largada do percurso que o alimento fará por um tubo com cerca de 9 metros de comprimento, ora mais largo, ora mais estreito, na maior parte cheio de curvas. Alguns obstáculos diminuirão a velocidade dessa travessia, que deverá durar entre doze e catorze horas. O importante, porém, é que no final da jornada, as ligações químicas das moléculas do sanduíche estarão quebradas em porções suficientemente pequenas para permitir que elas penetrem nas células do corpo humano. Esse, aliás, é o ponto de chegada. A eficiência com que nosso organismo aproveita essa caminhada, que é o processo completo de digestão dos alimentos, garante entre outras coisas a capacidade de se decidir fazer uma refeição, andar até uma lanchonete, escolher entre as várias ofertas do cardápio, levar o sanduíche à boca e mordê-lo com vontade. Pois viver é gastar a energia proveniente do Sol, que somente as plantas conseguem aproveitar em estado, digamos assim, bruto. Pelo processo chamado fotossíntese, elas usam a energia solar como elos para construir verdadeiras correntes ou cadeias com os átomos de carbono, retirados da atmosfera. Quando essas correntes são quebradas, libera-se a energia para utilização. O corpo humano não consegue aproveitar diretamente a energia solar para formar tais cadeias. Assim, precisa consumi-las prontas, comendo os vegetais que, por sua vez alimentaram-se de plantas. Todo o processo de digestão tem por objetivo quebrar as correntes de carbono comidas nos alimentos, para que o organismo possa utilizar a energia de que precisa. Em seu sentido mais rudimentar, a vida, portanto, é uma constante busca de comida, ou melhor, das correntes ou cadeias de carbono - e a fome nada mais é do que um aviso do corpo de que a bateria está ficando descarregada. No entanto, na forma como costumam ser encontradas na alimentação, as cadeias de carbono quase sempre são muito compridas. Surge, de fato, um problema de espaço: as moléculas do sanduíche são muito grandes para penetrarem nas células.
"Por isso, o aparelho digestivo é relativamente longo. Assim, ao percorrê-lo, essas moléculas têm tempo para se tornarem menores", justifica o cirurgião Aldo Junqueira Rodrigues, especialista em Anatomia, da Universidade de São Paulo. Outra característica do tubo digestivo é ser impermeável na maior parte do trajeto do sanduíche, cujas moléculas são absorvidas apenas na reta final do intestino. Pão, carne, queijo, alface, tomate, maionese: nessa receita comum, encontram-se os três grupos de alimentos -carboidratos, gorduras e proteínas - que devem ser quebrados em órgãos diferentes do aparelho da digestão. A princípio, os ingredientes, juntos, são triturados na boca, por 32 dentes, nos adultos, ou apenas vinte, nas crianças. "Os músculos envolvidos na mastigação são tão fortes, que, com um único movimento, poderiam quebrar a dentição", comenta Junqueira. Uma mordida só não deixa ninguém banguela porque os dentes são enervados. "Os nervos que nos fazem experimentar a dor de uma cárie", diz o médico, "também nos dão a sensibilidade que regula a força aplicada em uma mordida." Enquanto a mastigação prossegue, a língua se move para todos os lados, ajudando assim a misturar o pedaço de sanduíche com a saliva.
O líquido, produzido por seis glândulas maiores e uma infinidade de glândulas menores espalhadas pela boca, é 99,5 por cento composto de água, que irá hidratar o bocado do sanduíche, transformando-o em uma papa fácil de ser engolida. A saliva ainda contém enzimas, capazes de destruir bactérias que, eventualmente, peguem carona no sanduíche. Por causa desse papel de defensora, ela não pára de ser fabricada, mesmo quando alguém permanece de boca fechada. Diariamente, uma pessoa produz cerca de 1,2 litro desse líquido, que passeia entre as gengivas, realizando uma limpeza constante. Durante a mastigação, o paladar determina se há necessidade de saliva extra. Se o sanduíche estiver salgado demais, haverá pouca salivação, gerando a sensação de sede. Mas se, acompanhando o sanduíche, a pessoa tomar uns goles de limonada haverá saliva à vontade, estimulada pelo gosto ácido que, por isso, merecidamente costuma receber o adjetivo refrescante. Já a Coca-Cola, companheira mais comum do sanduíche, não estimula nem inibe a salivação, como qualquer outro alimento ou bebida doce. Por causa do amido, um tipo de carboidrato contido no pão, a quebra química do sanduíche começa ainda na boca, graças a uma enzima salivar, conhecida como alfa-amilase. O amido possui até 2 000 átomos de carbono ligados entre si, e o máximo que o organismo consegue absorver são pequenos grupos de seis átomos - ou seja, uma mólecula de glicose.
A molécula de amido pode ser descrita como um longo colar, cujas contas, no formato de balões, seriam glicose. A enzima alfa-amilase não irá separar conta por conta, mas quebrará esse cordão em diversos pedaços, criando maltoses e dextrinas. A maltose nada mais seria do que duas contas juntas ou duas moléculas de glicose ligadas entre si. Dextrina, por sua vez, é a designação de várias moléculas de glicose, sem número específico, em cadeias menores que as do amido.
O tempo que o sanduíche permanece na boca, sendo esmagado entre os dentes, depende da vontade de cada um. Existe uma controvérsia: alguns cientistas defendem que a mastigação deve se prolongar pelo maior tempo possível, pois assim o alimento se mistura com mais saliva, o que ajuda na digestão dos carboidratos. Outros pesquisadores, porém, acreditam que o número de vezes que se mastiga um alimento faz pouca diferença, caso contrário, os desdentados morreriam de indigestão. Mas todos concordam que quanto mais triturada a comida mais fácil fica de ser engolida. A deglutição é um momento critico, quando o alimento atravessa o cruzamento entre o aparelho digestivo e o respiratório, na faringe, um tubo muscular com cerca de 12 centímetros, na altura da garganta. "Se o sanduíche pegar a via errada, na direção dos pulmões, ele logo será expulso por um jato de ar, no fenômeno do engasgo", descreve Junqueira. Os pulmões não suportam elementos estranhos. Uma partícula do sanduíche em seus domínios pode causar até pneumonia. Para evitar isso, ao mesmo tempo em que a língua joga o alimento para trás, pressionando-o contra o céu de boca, um osso chamado hióide sobe, fechando a laringe, no caminho exclusivo do ar. Se a pessoa fala de boca cheia, é bem provável que engasgue, porque a coordenação desses movimentos só é possível quando se interrompe a respiração por um ou dois segundos.
Da faringe, o bolo alimentar segue pelo esôfago, o tubo de aproximadamente 25 centímetros que vai do pescoço ao tórax. É uma pista de alta velocidade, por onde os líquidos passam em um único segundo; os alimentos sólidos demoram no máximo oito segundos. O ritmo acelerado não é mérito da força da gravidade, tanto que o sanduíche pode ser engolido quando alguém está de ponta-cabeça: a proeza se deve a movimentos ondulatórios, existentes em todo o aparelho digestivo que empurram o alimento na direção certa. O sanduíche alcança, enfim, o estômago. Se essa bolsa, de formato variável, estiver vazia, parecerá pequena como um pêssego, com espaço para guardar o conteúdo de meia xícara de chá. Mas o estômago é campeão em elasticidade, aumentando até quarenta vezes de tamanho-nas mulheres, perde apenas para o útero, que tem o triplo dessa capacidade. Estufado, o estômago pode armazenar 2 litros de alimento. Nele, os líquidos fazem uma pequena parada, de poucos minutos. O sanduíche, porém, ficará ali durante duas a seis horas, sendo sovado como uma massa de pão, com movimentos em todos os sentidos, a cada quinze ou vinte segundos. A estada do sanduíche no estômago poderá ser atrasada, se ele chegar misturado com refrigerante ou qualquer outra bebida gaseificada. O gás carbônico da bebida reagirá com o ácido clorídrico, componente do suco gástrico secretado por glândulas na parede estomacal. A combinação atrapalha a tarefa da víscera, que fica cheia de gases.
"O ácido clorídrico continua o trabalho de quebrar os carboidratos do pão. O próprio estômago não sai queimado porque é revestido por uma camada protetora de muco", conta o fisiologista Francisco Gacek, que há quinze anos dá aulas sobre o aparelho digestivo, na Universidade de São Paulo. "Quando surgem falhas nesse escudo viscoso, aparecem feridas - as úlceras ", explica o professor. Diariamente, o estômago fabrica cerca de 2 litros de suco gástrico, no qual se encontra também uma enzima, a pepsina, que inicia a quebra das proteínas, o principal ingrediente do queijo e da carne do recheio do sanduíche. As proteínas também são longas cadeias de átomos, que devem terminar o percurso da digestão na forma de pequeninas moléculas, no caso chamadas aminoácidos.
"A pepsina divide a proteína em proteoses, moléculas ainda muito grandes para a absorção", diz Gacek. Embora seja o personagem mais famoso do aparelho digestivo, é apenas isso o que o estômago faz. Logo depois, ele deixa sair uma amostra dessa pasta de sanduíche pelo chamado piloro, uma passagem estreita, sempre entreaberta. Essa pequena colherada vai para o duodeno, um trecho de 18 centímetros na entrada do intestino delgado, que tem 6 metros. "Esse é, por excelência, o órgão de digestão", opina Gacek. Faz sentido: é a única parte do aparelho digestivo que trabalhará com todos os ingredientes do sanduíche ao mesmo tempo, incluindo a gordura da maionese que, até então, continuava do mesmo jeito que entrou pela boca. "No duodeno, células especiais analisam o serviço que o intestino terá pela frente, avaliando a proporção de cada grupo de nutrientes", conta Gacek. "Como as gorduras  demoram para serem quebradas, se o sanduíche tiver muita maionese, o intestino liberará hormônios, ordenando que o estômago segure a sua carga." Obedecendo a esse comando químico, o piloro se fecha. Só quando todo o alimento no intestino já estiver pronto para a absorção, o duodeno permitirá a entrada de um segundo bocado e assim por diante.
"A gordura freia a velocidade da trajetória, daí a sensação que as pessoas têm de estômago pesado quando comem. Por exemplo, uma feijoada", esclarece o fisiologista. Em 24 horas, o intestino, enrolado como um caracol, fabrica cerca de 3 litros do chamado suco intestinal, que serve apenas para dissolver a massa proveniente do estômago. As enzimas que quebrarão o sanduíche - nesse instante, já líquido como uma sopa grossa - são produzidas pelo pâncreas, uma glândula que fica fora do intestino, logo abaixo do estômago. Todos os dias, 1,5 litro de suco pancreático desemboca por um estreito canal, no inicio do duodeno e, ainda ali, começa a dividir as moléculas. Apenas 40 por cento do amido do pão se transformaram em maltose ou dextrina quando os carboidratos chegam no intestino delgado. Para completar o trabalho iniciado durante a mastigação, o suco pancreático contém uma segunda dose da enzima amilase, idêntica à da saliva. "Nenhum suco, porém, quebra a molécula de maltose em duas de glicose", revela Gacek. "As substâncias capazes de fazer isso estão grudadas nas próprias células do intestino. Por isso, o alimento perde quatro ou cinco horas para percorrer esse trecho. Só assim, há chance de a maioria das moléculas de maltose encostar em suas paredes." Formadas nesse contato, as pequeninas moléculas de glicose atravessam os microscópicos vasos capilares das células intestinais, caindo na circulação sangüínea.
Outros carboidratos, como a sacarose do açúcar de cana ou a frutose das frutas, têm um destino semelhante. O suco pancreático usa a mesma estratégia com as proteoses, usando enzimas para dividi-las em dipeptídeos, moléculas com dois aminoácidos. A separação dos aminoácidos acontece igualmente graças a substâncias coladas nas células na superfície intestinal. "A gordura, porém, é um capítulo à parte", define Gacek. Um químico descreveria uma molécula de gordura como três átomos de carbono, cada um deles, por sua vez, ligado a uma cadeia de ácidos graxos. Uma enzima presente no suco pancreático, a lipase, romperá a junção desses átomos. Resultado: cada gordura se tornará uma molécula de glicerol (como são chamados três carbonos ligados entre si) e três moléculas de ácido graxo. Contudo, essa separação ainda não será suficiente.
O problema é que, na digestão, tudo acontece em meio líquido, e a gordura, como se sabe, não se dissolve em água. Daí a importância de um último suco: a bile, produzida no fígado, que também escorre por um canal no duodeno. "Em primeiro lugar, os sais existentes na bile repartem uma gota de gordura em inúmeras gotículas, o que facilita o trabalho da lipase do pâncreas, que só age na superfície dessas moléculas", explica Gacek. "Além disso, os sais biliares, derivados do famoso colesterol, parecem um fósforo com duas cabeças. De um lado, são solúveis em água; de outro, em gordura, funcionando como um elo entre as gotículas gordurosas e a água." A gordura, então, pode ser transportada no fluxo do intestino. Como de costume, a absorção acontece quando o nutriente encosta na parede. Ali, a própria membrana celular contém gordura em sua composição. "Como gordura se dissolve em gordura, fica fácil atravessar a célula", conclui o fisiologista.
A etapa final do tubo digestivo mede cerca de 1 metro: é o intestino grosso. Em uma ou duas horas, ele absorve não só a água que se bebe como os cerca de 9 litros de sucos diversos que o aparelho digestivo despejou na trajetória do alimento. Nesse momento, o organismo traga as vitaminas e os sais minerais que estavam, principalmente, na alface e no tomate do sanduíche. Restará assim o chamado bolo fecal, que o aparelho digestivo mandará para fora do organismo-uma mistura de tudo o que não foi absorvido. O sanduíche ainda levará outras dez ou doze horas, antes de se tornar energia dentro de cada célula do corpo humano. Na verdade, uma pessoa ingere hoje o combustível que irá gastar amanhã. É ilusão, portanto, comer um chocolate antes de uma aula de ginástica, para garantir o fôlego. Ainda assim, a glicose, de todos os nutrientes, é o que se transforma mais rapidamente em energia. "Por isso, os músculos preferem usar da glicose quando precisam realizar um movimento repentino como o dos primeiros passos de uma marcha", exemplifica o bioquímico mineiro Walter Terra, da Universidade de São Paulo. A gordura, no entanto, é uma fonte de energia mais eficiente, embora demore mais para ser acionada. "Depois de algum tempo caminhando", continua o bioquímico, "os músculos abandonam a glicose, para consumirem gordura." Os aminoácidos, por sua vez, servem como matéria-prima para o organismo construir suas próprias proteínas Elas se transformam em energia somente quando não há glicose ou gordura disponível. Contudo, nas células, através de processos variados, esses três tipos de nutrientes podem se transformar em moléculas de ATP (sigla de adenosinatrifosfato), que funcionam feito uma embalagem de energia. Quando o ATP encosta nas pontas das fibras musculares, provoca uma contração. Caso se trate das fibras de um certo músculo facial, a boca poderá se abrir para, quem sabe, morder mais um sanduíche.

Um apetite misterioso

Durante muito tempo, acreditou-se que a queda na quantidade de glicose do sangue provocava a sensação de fome. Na última década, porém, poucos cientistas ousaram dar essa justificativa para a vontade de comer. "Mesmo quando alguém fica em jejum completo, a queda da chamada curva glicêmica é desprezível", nota o fisiologista Marcus Vinícius Baldo, da Universidade de São Paulo, especialista em sistema nervoso. Em teoria. na falta de alimentação, a dosagem de glicose deveria diminuir. Se isso não acontece, é porque existe um esforço do organismo, que libera uma série de hormônios, tentando manter seu funcionamento na mais perfeita normalidade. "A nova hipótese é de que esse esforço - e não a diminuição da glicose em si - seria percebido na região cerebral do hipotálamo", conta Baldo.
O fisiologista lembra que fatores secundários fazem o sistema nervoso desencadear ou aumentar a sensação de fome, como as contrações do estômago vazio ou certos estímulos captados pelos órgãos dos sentidos, como a foto de um prato ou o cheiro de uma comida. Segundo o químico Franco Lajollo, que pesquisa alimentos na USP, uma coisa é certa: "Ninguém provou que, ao se comer ou beber algo, a fome aumente ainda mais". Isso desmistificaria o conceito do aperitivo, servido antes das refeições para abrir o apetite. "O álcool, especialmente, além de ser irritante para o estômago, é uma bebida muito energética, ou seja, deve diminuir a fome e não aumentá-la", raciocina Lajollo. Em todo caso, o pesquisador reconhece que uma dose de bebida alcoólica provoca relaxamento: "Essa descontração talvez ajude as pessoas a comerem mais. Afinal, comer é também um prazer social".

Uma questão de bom gosto

Pesquisadores americanos resolveram servir a dois grupos de ratinhos menus diferentes: o primeiro grupo teve de comer uma insípida ração; o segundo, mais sortudo, recebia queijos sortidos e frutas. Os dois cardápios continham os mesmos nutrientes e uma quantidade idêntica de calorias. Mas apenas os ratinhos do segundo grupo engordaram -sinal de que comiam mais do que aqueles servidos com uma refeição sem gosto. Isso mostra que o paladar existe para reforçar a fome, estimulando os seres vivos a se alimentarem, garantindo a energia para viver. Nos seres humanos, as células gustativas, especializadas em discernir sabores, se concentram na língua, embora existam em menor proporção no céu da boca e na faringe. Guiando-se pelo formato das moléculas da comida, essas células só distinguem quatro tipos de gosto: o doce, o salgado, o azedo e o amargo.
Portanto, a princípio, são sutis as diferenças entre um sanduíche e uma sopa. Afinal, as células gustativas mandam a mesma informação para a região cerebral do tálamo: os dois pratos são salgados. O sistema nervoso só consegue fazer a diferenciação com pistas, por exemplo, de outros receptores da boca, que percebem a consistência e a temperatura da comida. Mas é um vizinho da boca que dá o voto decisivo: através da garganta, os receptores do nariz captam o cheiro do alimento sendo mastigado e revelam o que é sopa e o que é sanduíche. Isso só é difícil quando alguém está resfriado - então, tudo perde o sabor.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Arrancando a Dor - Odontologia



ARRANCANDO A DOR - Odontologia



As sessões de sofrimento na cadeira do dentista estão com os dias contados. Novos equipamentos, materiais e técnicas prometem vida melhor para os pacientes e os profissionais.

A palavra dentista está associada para milhões de pessoas, à sensação de medo. E não é para menos. Salvo os muitos jovens, que já nasceram sob o signo das tecnologias que começam a ser aplicadas ao tratamento dentário, não há quem não tenha sofrido ao tratar os dentes. Com uma rapidez impressionante, porém, as histórias de terror na cadeira do dentista vão ficando distantes. em vários países, uma especialização profissional crescentemente detalhada, o desenvolvimento de técnicas avançadíssimas e a indispensável contribuição da Química tratam de espantar os velhos fantasmas dos consultórios. Ali as novas estrelas são cada vez mais os computadores e o laser.
Foi uma longa caminhada. De todos os equipamentos com que se defronta o paciente na sala do dentista nada assusta mais do que a broca a motor. Mas a verdade é que na sua versão mais moderna o aparelho, capaz de produzir 200 mil rotações por minuto, é um bálsamo comparado às brocas do passado. A alta rotação abrevia consideravelmente o processo de perfurações da coroa e evita as temidas vibrações das brocas antigas, que estremeciam a cabeça do paciente. Para os menos resistentes à dor há sempre o recurso da anestesia, com uma picada dolorida e de sabor desagradável, mas providencial no temível momento em que a broca se aproxima do nervo.
Diante disso, quem vai se lembrar que a perfuração a motor existe há apenas cem anos? De fato, em 1872 surgiram as primeiras brocas movidas a pedal, que lembravam máquinas de costura. Só então tornou-se possível escavar buracos lisos e uniformes, condição essencial a uma perfeita obturação do dente cariado. Mas o ritmo de trabalho desse engenho era de apenas 2 mil rotações por minuto. Perto do que havia, foi um progresso e tanto - o primeiro de uma série. Pois, antes da broca a metal, era a tortura: as cáries, tecidos dentários destruídos por bactérias, eram removidas com uma lima - a frio. Não é à toa que as gravuras da Idade Média, mostrando cenas de tratamento, por assim dizer de dentes mais parecem retratos de interrogatórios do Tribunal da Inquisição.
O dentista às portas do século XXI tem à sua disposição novíssimos métodos de tratamento, um moderno instrumental e materiais cada vez mais resistentes. Tanto assim que já se pode antever o tratamento sem dor - mesmo sem anestesia. Um bom exemplo é um aparelho para a remoção de pequenas cáries, que não perfura o esmalte dentário: simplesmente dissolve a cárie mediante um produto químico especial. O método, desenvolvido nos Estados Unidos, tem dado bons resultados, por exemplo, com pacientes da Faculdade de Odontologia da Universidade de Munique, na Alemanha. Apesar disso, não consegue encontrar mercado suficiente para a produção industrial. "O problema é que ele não se aplica a cáries mais profundas", explica Mário Sérgio Limberte, cirurgião-dentista de São Paulo, com 25 anos de experiência em reabilitação oral. "E, para cáries pequenas, a broca resolve bem", diz ele.
A grande esperança do momento em matéria de tratamento de cáries é a broca a laser, que vem sendo testada nos Estados Unidos e na Alemanha. O laser dentário trabalha com luz ultravioleta (UV) de ondas extremamente curtas, é rápido e principalmente indolor. Cada raio luminoso age por ínfimos bilionésimos de segundo - algo tão breve que os nervos humanos nem chegam a registrar. Os finíssimos raios UV-laser têm a vantagem adicional de trabalhar com a precisão de 1 milésimo de milímetro, graças a que retiram muito menos da valiosa substância dental do que a broca mecânica.
"O laser certamente fará parte da Odontologia do futuro", aposta Antônio Giordani, um gaúcho radicado em São Paulo, que desde o início de sua carreira de cirurgião-dentista tem como preocupação básica diminuir a dor do paciente . "O que os pesquisadores ainda não sabem é até que nível de extensão das cáries será possível empregar o laser", diz ele. Enquanto se procura conhecer a resposta, os dentistas vão dispondo do recurso para outras funções, como, por exemplo, acelerar a cicatrização de cirurgias e afecções da boca e auxiliar no tratamento de certos tipos de dores musculares na face e inflamações.
Rapidez, perfeição e supressão da dor. Estas são as metas para as quais se volta a revolução odontológica. O avanço é tanto que os pesquisadores entraram entusiasmados até mesmo pelos domínios da estética. Em vários países, entre eles o Brasil, é possível fazer uma espécie de maquiagem nos dentes anteriores. Trata-se da aplicação de um revestimento laminado de porcelana, que recobre dentes escuros ou manchados, devolvendo a alegria de sorrir, como dizem os comerciais de dentifrício, para quem se envergonhava de abrir a boca. 
Uma das áreas de ponta na pesquisa odontológica é a dos materiais para obturação e prótese. A perfeição chegou com as resinas compostas, que proporcionam resultados difíceis de distinguir dos  dentes naturais . Quando é eliminada a região doente do esmalte dentário, o local precisa ser novamente preenchido e vedado. Isso até os curandeiros medievais já sabiam, mas até o começo do século passado não se conhecia nenhum material confiável para esse fim. Os dentistas testaram as mais diversas substâncias. Chumbo e estanho fundidos eram derramados nos buracos. Até cera chegou a ser usada, com o inconveniente de exigir reposição diária. Hoje, as últimas palavras no assunto são, de um lado, as metalocerâmicas para encapar dentes danificados e, de outro, um aparelho que está sendo experimentado em clínicas americanas, suíças e alemãs, para fazer as peças com perfeição.
Trata-se de um computador programado para fornecer um molde óptico da cavidade dentária, com precisão micrométrica. O dentista simplesmente coloca uma minicâmera de vídeo sobre o dente aberto e obtém uma imagem. Essa aparece na tela do computador, permitindo que a cavidade a ser recoberta seja delimitada com exatidão. Com base nas medidas fornecidas pelo computador, em quinze minutos é possível com uma pequena fresa de diamante esculpir a peça de restauração num bloco de porcelana ou cerâmica.
Além de preencher muito melhor a cavidade do que o amálgama introduzido com calcador, a cerâmica combina perfeitamente com a cor do dente: não fica vestígio algum de que houve ali um reparo. "Com esse aparelho será possível obturar vários dentes em poucas horas", prevê o cirurgião-dentista Mário Sérgio Limberte. A novidade, em todo caso, ainda não chegou ao Brasil. Mesmo nos Estados Unidos, a técnica é usada há apenas um ano. E pensar que ao longo da história humana os dentes seriamente cariados eram arrancados, pois não se acreditava que pudessem ser salvos.
Este, por sinal, sempre foi o primeiro mandamento dos práticos-dentistas: em caso de dor de dente, tira-se o dente. Em tempos idos, a dor de dente foi um flagelo que não distinguia poderosos e plebeus. E os historiadores se perguntam quantas desgraças desabaram sobre os povos por culpa de cáries sem cura. Acredita-se, por exemplo, que o rei Luís XIV, quando resolveu acabar com a liberdade religiosa dos protestantes franceses, em 1685, estivesse fora de controle por causa de uma dor de dente. Nesse estado, ele não teria sido capaz de avaliar que seu gesto provocaria o êxodo de 400 mil nobres e burgueses protestantes - o creme do creme da elite mercantil do país -, causando uma sangria de riquezas e espíritos empreendedores da qual a França talvez jamais tenha se recuperado.
Outro exemplo de estragos que a dor de dente pode provocar é dado pelo rei Gustavo I da Suécia (1496-1560). Ele era temido tanto por amigos quanto por inimigos, pelo seu humor instável e pelas reações tirânicas que era capaz. Sabe-se hoje que tal comportamento era fruto de cáries tão devastadoras que quase corríam o monárquico maxilar. Tanto se padeceu de dor de dente que o homem capaz de extirpar o mal pela raiz ficava famoso em dois tempos. Tiradentes, enforcado em 1792 por seus ideais de liberdade, talvez fosse mais conhecido na época em Minas Gerais pela habilidade como dentista prático do que por suas idéias políticas. Dela se dizia que punha e tirava dentes com a competência de um mestre. De fato, Tiradentes não se limitava a tirar dentes, como a grande maioria de seus colegas. Ele também colocava coroas artificiais, feitas possivelmente de marfim ou de osso de boi.
A preocupação em recolocar dentes perdidos é bem mais antiga do que talvez se imagine. Há 2500 anos os fenícios prendiam arames nas partes sadias da arcada dentária para segurar as peças substitutas. Uma prática de pouca eficácia, mas que servia para disfarçar as falhas de aspecto desagradável, razão pela qual sobreviveu até o século passado. Os dentes naturais retirados de cadáveres eram os substitutos de maior aceitação.
Mas havia de tudo. Num museu da época Colômbia, uma mandíbula da época dos incas exibe, no lugar do dente extraído, uma concha lapidada. Todos esses recursos apresentavam um inconveniente: não podiam ser forçados. Por isso era regra tirar a prótese na hora de comer. O primeiro presidente dos Estados Unidos, George Washington (1732-1799), quando jovem, mandou fazer uma prótese de dentes de hipopótamo para a boca inteira, unindo com uma mola a dentadura superior à inferior, como era costume. A história registra que, ao falar, Washington contraía o rosto de maneira estranha por causa da prótese. Em certa ocasião, quando teve que se deixar retratar, o pintor o aconselhou a colocar algodão na boca, como recheio. O resultado está ainda hoje ao alcance da vista de quem tenha em mãos uma nota de 1 dólar. O presidente americano aparece com o rosto todo embolotado, como se sofresse de uma doença da pele. As dificuldades de hoje, comparadas às agruras do passado, são inegavelmente pequenas. A chamada terceira dentição, no entanto, ainda é um senhor problema. Quando se trata de substituir um dente, os dois vizinhos são trabalhados como se fossem pilares e revestidos de coroas. O dente substituto é então soldado entre as coroas.
Esta é a versão moderna da ponte dentária dos fenícios. Ocorre, porém, que as superfícies de contato entre o dente artificial e os naturais freqüentemente deixam espaço livre onde se acumula placa bacteriana. A razão principal está na construção da ponte, a partir de moldes de gesso. Aqui, mais uma vez, o computador é chamado em auxílio da Odontologia. Com ele, o grau de precisão de encaixe pode ser melhorado de vários centésimos para 20 milésimos de milímetro. A construção da ponte é igual à da obturação por computador, mas seu uso ainda está limitado aos centros de pesquisa.
"Apesar do progresso nessa área, a ponte está sendo menos usada que os implantes", diz Ângelo Luciano Roccella, presidente da Associação Paulista de Implantologia Oral. "A vantagem do implante é que os dentes sadios não são afetados", observa. As opções de implante são grandes. Podem-se usar parafusos, pinos ou lâminas de metal, fixadas no maxilar, como se fossem raízes. Os metais empregados também variam, já que alguns são bem-aceitos pelo organismo humano. Recentemente, descobriu-se que o titânio, um metal empregado há anos em implantes, tem a rara propriedade de estimular a formação óssea à sua volta, fazendo com que a raiz artificial acabe se integrando como se fosse parte do próprio osso. Com a raiz bem ancorada, fixam-se nela os dentes. Um implante realizado com essa técnica dura pelo menos dez anos.

Estímulos que relaxam.

Há mais de vinte anos, quando começou a trabalhar no Rio Grande do Sul, o cirugião-dentista Antônio Giordani já se preocupava com a angústia e a dor de seus pacientes. Como paliativo, ele procurava criar um ambiente menos tenso à base de música suave e sons naturais gravados com o maior capricho. Hoje radicado em São Paulo, Giordani trocou a música por um sofisticado aparelho de relaxamento. Trata-se do Mio Tens 14, por ele desenvolvido há sete anos e do qual existem no Brasil quase 2 mil aparelhos em uso. O Mio Tens produz estimulação nervosa através da pele, combinando efeitos de alta e baixa freqüência traduzidos por impulsos. Na baixa freqüência, o ritmo é de quarenta a cem impulsos por minuto, simultâneos aos cem impulsos por segundo provocados pela alta freqüência. A sensação é de um certo torpor na pele acompanhado de relaxamento muscular. Não é raro o paciente dormir cinco minutos depois do aparelho ter sido ligado. Do tamanho de um rádio-relógio de cabeceira, o Mio Tens 14 é conectado à pele por eletrodos adesivos e descartáveis, semelhantes aos dos eletrocardiogramas. Os eletrodos sobre a articulação mandibular, ao lado dos ouvidos e na testa. A estimulação nesses pontos libera mais endorfinas, analgésicos naturais do organismo. "O Mio Tens não substitui a anestesia em tratamentos maiores", ressalva Giordani, "mas deixa o paciente tranqüilo para ser anestesiado e tratado". 

Meia escova por habitante.

Com os primeiros colonizadores portugueses vieram para o Brasil mestres de diversos ofícios, entre eles os cirurgiões, cuja prática profissional era regulamentada por lei, e os barbeiros, que, além de cortar  cabelo e barbear, extraíam dentes. Até o século XVII, porém, a prática do tira-dentes não era regulamentada e só em 1631 foi instituída multa para quem tirasse dentes sem licença. Mas os primeiros cursos de Odontologia no Brasil só foram criados em 1884.
Nos cem anos que se seguiram o país viu aumentar, de um lado as condições de aperfeiçoamento da Odontologia e, de outro, a população de desdentados, que deve estar beirando os 25 milhões de brasileiros, algo como um em cinco habitantes. Dados da indústria indicam que são vendidos no país 70 milhões de escovas de dentes por ano. o que dá cerca de meia escova por habitante. Não é por outro motivo que os profissionais da área vivem falando na necessidade de se criarem hábitos de alimentação e higiene para melhorar a prevenção à cárie - a grande inimiga da boa dentição.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A imagem do amor - O Beijo

A IMAGEM DO AMOR - O Beijo.



Um dos atos humanos mais corriqueiros, o beijo pode ser sinal de paixão, afeto, respeito e amizade. Pode ser ainda uma demonstração de humildade ou de euforia. Mas nem sempre existiu como hoje, nem é praticado por todos os povos. E muda conforme os costumes.

Existem beijos libidinosos como os dados no colo e nas partes pudendas, ou o beijo cinematográfico, em que as mucosas labiais se unem numa expressão insofismável de sensualidade.
Embora pareça trecho de um manual de carícias, esse texto é da portaria de um juiz de Sorocaba, a 90 quilômetros de São Paulo, que em fevereiro de 1981 decidiu proibir o beijo na cidade. A repercussão foi imensa. Houve um ato de protesto chamado a noite do beijo, que apesar do nome acabou na maior pancadaria. Na época, chegou a se falar em sérios castigos para os manifestantes, caso algum juiz decidisse que beijar era praticar "ato obsceno em local público e aberto", de que trata o Código Penal. No fim, prevaleceu o bom senso e ninguém foi processado por exprimir seu carinho com beijos - uma demonstração de afeto que a história e a arte registram há milênios.
No mecanismo da sensualidade, o beijo é um capítulo muito especial, por estar ligado ao próprio desenvolvimento das pessoas. Beijar, explica o antropólogo inglês Desmond Morris, autor de vários livros sobre comportamento humano, entre eles O macaco nu, "tem sua origem na relação mãe - filho". Nos tempos primitivos, depois de sugar o peito, a criança recebia alimentação sólida devidamente mastigada pela mãe e passada à boca, à maneira de certos animais e pássaros. O costume ainda sobrevive em algumas tribos de várias partes do mundo. Da mesma forma como sugar o seio, esse contato tornou-se definitivamente ligado ao conforto e à segurança infantil. Acontece que beijar, como sugar, persiste na vida adulta "como um gesto de conforto fortemente associado a relações amorosas", escreve Desmond Morris.
O homem, portanto, aprende a beijar desde que vem ao mundo - e foram muitos os psiquiatras e psicanalistas, a começar por Sigmund Freud, que se preocuparam em interpretar como evoluiu esse movimento originalmente voltado à nutrição e à sobrevivência para o desfrute de um prazer. Beijamos também por costume, educação, respeito ou também por mera formalidade. E as características do beijo variam segundo o que se quer expressar com ele. Uma das primeiras representações do beijo de que se tem conhecimento são as esculturas e murais do templo de Khajuraho, na Índia, que datam do ano 2500 a.C. No século IV da era cristã publica-se na Índia o Kama Sutra, considerado o mais completo tratado sexual do Oriente, atribuído ao sábio Vatsyayana.
Um capítulo inteiro da obra é dedicado ao beijo, onde se ensina, entre outras coisas, que "não há duração fixa ou ordem entre o abraço e o beijo, o aperto e as marcas feitas com as unhas e os dedos", pois "o amor não cuida do tempo ou da ordem". Apesar disso, o Kama Sutra adverte para que sejam respeitados "os costumes de um país" - com o que até o severíssimo juiz de Sorocaba em 1981 concordaria. Segundo o manual indiano, o beijo pode ser moderado, contraído, pressionado ou suave. Pode ser direto, inclinado, voltado ou apertado. Existe até o beijo "despistante", que deve ser dado pelo homem, quando ele estiver ocupado.
O conselho que encerra o capítulo sobre o beijo no Kama Sutra exalta a reciprocidade: "Seja o que for que um amante faça ao outro, este deve retribuir; isto é, se a mulher o beijar, deve beijá-la; se ela lhe bater, cumpre igualmente bater-lhe". Na Grécia antiga, o beijo funcionava como um elemento diferenciador das hierarquias: os subordinados beijavam os superiores no peito, nas mãos ou nos joelhos, de acordo com o nível que possuíam. Os mendigos tinham unicamente o direito de beijar os pés dos senhores, e aos escravos só se permitia beijar a terra. Ou seja, quanto mais baixo o lugar do indivíduo na sociedade, mais ele devia inclinar-se para prestar a homenagem.
No século V a.C., o historiador Heródoto chegou a descrever os vários tipos de beijos e seu significado entre os persas e os árabes. Os persas se cumprimentavam com beijos que, como na Grécia, variavam de acordo com o nível social das pessoas. Relata Heródoto: "Quando pertencem ao mesmo nível social, as pessoas beijam-se na boca. O beijo no rosto é usado se existe uma pequena diferença entre elas".
Os preconceitos contra o beijo são igualmente antigos. No início da era cristã, outro historiador grego, Plutarco, que deixou uma imensa obra sobre os costumes na Grécia e em Roma, conta que Catão, o Censor (234 a.C.-149 a.C.), cessou o mandato do senador Pretorius Mamillus, porque foi visto beijando a mulher em público. Mas em particular os romanos nada tinham contra o beijo. O latim até registra três palavras para defini-lo:, osculum é o beijo amistoso, nas faces; basium, o beijo apaixonado na boca; e suavium, o beijo amoroso com ternura.
O beijo nas faces vem da época em que os humanos dependiam muito mais do olfato para sobreviver. Os homens cheiravam uns aos outros para saber se pertenciam a uma tribo estranha e eventualmente inimiga. Supõe-se que cada grupo devia possuir um odor característico, o cheiro do grupo. O beijo no rosto, portanto, não nasceu como expressão de carinho ou prazer, mas como meio de defesa. Talvez por isso os povos acostumados a habitar um ambiente hostil ou forçados a viver em pé de guerra virtualmente desconhecem o costume de beijar por afeto. Um provérbio sudanês adverte: "Jamais beijes quem seja capaz de te devorar".
Os esquimós, muito prudentes, resolveram o problema encostando as pontas dos narizes, enquanto mantêm os olhos abertos, vigiando a situação. Da mesma forma, o mongol apóia o nariz no rosto de seu par, conservando um cômodo ângulo de visão. Existem povos que nunca se beijam, como certas etnias africanas e os antigos japoneses. Certa vez, numa exibição de arte em Tóquio, a escultura de Rodin, O beijo, foi colocada atrás de um biombo. Diante da queixa de um visitante, o chefe de policia explicou: "O beijo é um detestável hábito europeu que nós, aqui, desejamos que não se cultive de maneira alguma".
Já os africanos, ao abster-se, estão tentando proteger sua alma, alegoricamente identificada no alento ou respiração. A boca e o aleitamento são a representação da vida e, para alguns povos, da alma também. O primeiro grito do recém-nascido é seu primeiro sintoma de vida. Assim também o homem abandona o mundo, dando o último suspiro. E Deus soprou a vida em Adão - assim como nos contos de fada o príncipe devolve a vida à Bela Adormecida e a Branca de Neve, vítimas de um enfeitiçamento. Mas o beijo também pode significar a morte. Segundo as regras da Máfia, quando algum membro do grupo trai seus pares, um parente é encarregado de lhe dar um beijo ritual na boca, indicando a vítima cuja execução foi aprovada pelo chefão.
Na França de Luis XIV, o Rei Sol (1638-1715), foi instituído o uso do beija-mão, que no começo obrigava os homens a inclinar-se para beijar as mãos das damas. Na verdade, muitos altos funcionários e nobres da corte nunca aprovaram o costume: achavam humilhante fazer uma reverência diante de pessoas que lhes poderiam ser socialmente inferiores. Assim, eles inventaram uma regra que não iria romper totalmente com o protocolo - aproximavam a mão das senhoras até a boca e a apertavam uma ou mais vezes, operação que não os impedia de continuar retos e com sua vaidade ilesa.
Esse gesto, em nossos dias, perdeu seu significado quase por completo, em parte como resultado da diminuição na desigualdade de tratamento entre os sexos. Continua a ser usado apenas em altas esferas sociais, como um formalismo destinado a mulheres muito importantes. Os únicos beijos que permanecem, na boca ou nas faces, são os que indicam igualdade, que se dão sem que seja preciso que uma das pessoas se abaixe. Assim se beijam os amigos, os companheiros de luta, os políticos, os esportistas, os casais e também os membros de uma mesma família.
Imortalizado nas artes como uma celebração mágica e romântica, foi com o cinema que o beijo tomou conta do mundo. Em 1896, numa pequena sala de projeções de Los Angeles, nos Estados Unidos, diante do olhar estupefato de 73 espectadores, os artistas May Irwin e John Rice beijaram-se durante quatro longos segundos. Foi um beijo explosivo, filmado em primeiro plano. Todas as associações femininas de defesa da moral e dos bons costumes dos Estados Unidos incitaram então o boicote ao filme; a imprensa também censurou o que chamou de moral de taverna. Mas Hollywood insistiu - e em 1926 chegou às telas o filme Don Juan, onde o ator John Barrymore dá 191 beijos em diversas atrizes, um recorde ainda não superado no cinema.
Mas, durante muito tempo, Hollywood foi obrigada a dosar cuidadosamente as manifestações de afeto, por causa do código Hayes, um rígido conjunto de normas sobre o que mostrar e o que esconder nas cenas de paixão. Não podendo exibir tomadas de corpos ardentes, os cineastas aprenderam a usar o beijo como metáfora. As imagens seguintes ao encontro de bocas eram as ondas do mar se desmanchando na areia ou batendo contra rochedos, uma lareira crepitando ou ainda o vôo de uma ave. E todo mundo entendia que o beijo era o começo e não The End.

Anatomia de um beijo.

Por mais sedutor e apaixonado que um beijo possa ser, sempre existe quem o reduza a uma simples troca de bactérias. Ou a um ato que pode encurtar a vida. É o caso da dra. Martine Mourier, da Faculdade de Bobigny, na França, que dedicou as duzentas páginas de sua tese de doutoramento em Medicina aos efeitos do beijo. Num beijo bem carinhoso, pesquisou a dra. Mourier, entram em ação dezessete músculos. Mais paixão exige mais do corpo: 29 músculos; ao mesmo tempo, a pressão que o rosto de uma pessoa exerce sobre a outra chega a 12 quilos. É nessa hora que trocam de boca pelo menos 250 bactérias.
Além da circulação bacteriana, o beijo representa uma troca de 9 miligramas de água; 18 miligramas de substancial orgânicas; 7 decigramas de albumina; 711 miligramas de materiais gordurosos; e 45 miligramas de sais minerais, segundo a minuciosa médica francesa. Pesquisas norte-americanas informam também que os batimentos cardíacos passam dos normais setenta para 150 por minuto. Daí, ela conclui que um beijo muito entusiasmado pode encurtar a vida em três minutos.
Manuais de profilaxia, de seu lado, ensinam que várias doenças podem ser transmitidas pelo beijo, entre elas resfriado, caxumba, gripe, hepatite, herpes simples, tuberculose, mononucleose e sífilis. Em certas condições, pode-se contrair AIDS pela saliva. Em contrapartida, o beijo da mãe no bebê é uma das formas que a natureza tem de inocular vacinas naturais na criança. A mãe transmite ao recém-nascido seus próprios germes de forma diluída, desencadeando reações de defesa no organismo infantil. Os números, as pesquisas e as teses, porém, são apenas parte da realidade. Uma vida emocional sadia não prescinde dos gestos de afeto e das emoções do amor. O ser humano, afinal, necessita do beijo para seu equilíbrio - o que influi poderosamente sobre a saúde.