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sexta-feira, 10 de abril de 2020

China pode enviar 100 mil patos para conter praga de gafanhotos no Paquistão

China pode enviar 100 mil patos para conter praga de gafanhotos no Paquistão


A China estuda enviar 100 mil patos para tentar conter uma praga de gafanhotos que atinge o Paquistão, país com o qual faz fronteira. 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Plantando o Futuro - Agricultura


PLANTANDO O FUTURO - Agricultura



A ciência semeia a lavoura do século XXI: vegetais criados por Engenharia Genética, satélites que dizem a hora de matar as pragas, robôs que aram e fertilizam o solo - e até culturas sem solo algum.

No limiar dos tempos, o homem obtinha os alimentos simplesmente aproveitando os recursos que a natureza lhe fornecia. A contar de 10 mil anos atrás, quando começou a substituir a coleta pelo cultivo, aprendeu a selecionar as plantas mais produtivas. Mas as poucas alterações possíveis eram quase sempre lentas e casuais. Depois, durante milhares de anos foi descobrindo as técnicas dos cruzamentos para aumentar o rendimento das plantações. Hoje, por meio da Biotecnologia, tornou-se possível semear em laboratório as plantas mais convenientes para a alimentação. Em princípio, já é possível abrir as células de um simples vegetal do deserto, sem valor nutritivo, e roubar-lhe as instruções químicas, os genes, que lhe permitem viver com pouca água. Os genes podem, então, ser embutidos, por exemplo, nas células do milho, ampliando as possibilidades dessa cultura essencial para o homem. Na Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, nasceu uma planta de fumo dotada de genes do vaga-lume. Em conseqüência, brilha no escuro. Em outro tipo de experiência, minúsculos fragmentos de uma planta - a ponta de uma folha, por exemplo - são cuidadosamente tratados com hormônios vegetais até se transformarem em milhares de plantas completas, todas idênticas entre si. No Brasil, essa técnica já se tornou rotina, permitindo produzir mudas de batata absolutamente iguais e isentas de qualquer doença, prontas para o plantio em larga escala. Algo parecido possibilita cortar e replantar uma vasta área de eucaliptos com árvores melhoradas, mais eficientes ou com menor custo de produção. Mas, além da Biologia, a nova agricultura pode contar com os recursos da Eletrônica. A época em que o agricultor planejava seu trabalho simplesmente olhando para o céu já se tornou passado distante. Atualmente, ele se vale de satélites e computadores para analisar o curso do clima, a qualidade do solo e o desenvolvimento das plantas. Robôs colheitadores, adubadores e semeadores já percorrem os campos. Nem todas as inovações experimentais se tornarão realidade, necessariamente, mas essas experiências acenam com a possibilidade de um mundo mais bem alimentado e, portanto, mais saudável. A seguir, uma amostra dos caminhos mais promissores.

 1. Quimeras do reino vegetal

O trivial feijão brasileiro pode se transformar, no futuro, em algo como a mitológica Quimera grega, um ser com corpo de cabra e cabeça de leão. Esse pelo menos é o projeto do biólogo Luiz Antonio Barreto de Castro, do Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), em Brasília. Sua meta é criar uma variedade de feijão que tenha uma parte - um microscópico gene - da castanheira-do-pará, árvore que alcança 40 metros de altura. Com isso, o feijão "aprenderia a fabricar a albumina, uma proteína nutritiva que o organismo humano não fabrica, embora precise dela para sobreviver. O gene extraído da castanheira é enxertado na bactéria Agrobacterium tumefaciens, que infecta as células do feijão. Agente natural de câncer nas plantas, a bactéria foi transformada em inofensivo meio de inserir os genes no feijoeiro.
Cruzamento também surpreendente fizeram os biólogos canadenses da Universidade de Laval, na cidade de Quebec. Eles descobriram que é possível cruzar o trigo com o milho, ao contrário do que atestavam todas as experiências. O híbrido resultante é empacotado, um a um, na própria plantação, para evitar fecundações acidentais. Vencendo a barreira do impossível, procuram-se igualmente plantas capazes de sobreviver nas condições mais adversas. No Instituto Internacional do Arroz, nas Filipinas, o objetivo é criar uma variedade do cereal que cresça em ambientes menos úmidos do que as várzeas usuais. De outra parte, se os estudos do biólogo Jordi Gómez, do Centro de Investigação e Desenvolvimento de Barcelona na Espanha, estiverem corretos, um dia será possível cultivar milho em pleno deserto. Ele descobriu numa variedade de milho selvagem genes de resistência à desidratação, que garantiriam a sobrevivência dos exemplares cultivados - mais frágeis. 

2.Metade planta, metade animal

Um dos desafios mais extravagantes da nova Genética, uma idéia que só vicejava bem na literatura de ficção científica, é a criação de um ser metade planta, metade animal. Pois na Scripps Research Foundation, na Califórnia, foi efetivamente gerado um híbrido de rato e de planta de fumo, para produzir anticorpos, muito usados na Medicina em diagnósticos - injetados no corpo de um paciente, prendem-se aos eventuais agentes agressores, como vírus e bactérias, e os denunciam. Essas substâncias de defesa do organismo são sintetizadas nas células do rato por ordem de um gene que, depois de transferido para a planta, passa a trabalhar nas suas folhas. Moídas, elas se tornam fonte abundante de uma mercadoria que, justamente por ser difícil de obter, vale cem vezes o preço do ouro. Substituindo-se o fumo por plantas leguminosas de rápido crescimento, o preço dos anticorpos poderá cair até 5 000 vezes. 

3. Pragas doentes, culturas sadias

A empresa britânica Agricultural Genetics está transferindo para as próprias plantas a tarefa de combater as pragas agrícolas. Os genes que comandam a produção de certas toxinas nas bactérias foram isolados e incorporados diretamente ao material genético de algumas plantas. É o caso de um gene repassado às sementes de milho híbrido. Estas, ao serem atacadas pelas pragas lagarta-do-solo e broca-européia, as intoxicarão. A toxina produzida pelo gene evitará a multiplicação de uma proteína vital ao sistema digestivo das lagartas.
Na Bélgica, criou-se uma planta de fumo com genes da bactéria Bacillus thuringiensis, que costuma eliminar a lagarta Manduca sexta, excretando uma toxina fatal. Se bem sucedidas, essas experiências prometem substituir os pesticidas químicos por inseticidas biológicos vivos, que infectam e matam as pragas sem prejudicar o meio ambiente. O biólogo Otávio Henrique Pavan da Universidade de Campinas, trabalhou dez anos para aprimorar a pestilência do vírus DsGV, que ataca naturalmente a broca-da-cana e a lagarta da soja. Acabou produzindo um inseticida vivo e seguro contra essas pragas, muito comuns no país.
O vírus multiplica-se até 100 milhões de vezes nas células do intestino dos insetos, os quais podem contaminar outros num raio de 10 000 metros quadrados. "Nosso trabalho foi melhorar a linhagem do DsGV por seleção genética, de modo que ele possa matar 95% das pragas expostas, em vez de apenas 5%, como na natureza." Como os insetos ainda resistem por alguns dias - período em que continuam destruindo a plantação -, o entomologista americano Bruce Hammock, da Universidade da Califórnia, criou um vírus inseticida que inibe o apetite dos insetos até a morte. Para tanto, acrescentou nos vírus o gene que produz a enzima JHE, capaz de desativar o chamado hormônio juvenil, que controla o apetite das pragas em certas fases de crescimento Ao se reproduzir no interior dos insetos, o vírus dispara a produção da enzima e corta sua fome. Outra linha de pesquisa procura aumentar a resistência das plantas aos herbicidas, que geralmente incomodam tanto as culturas quanto as ervas daninhas a eliminar. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma planta de fumo ganhou os genes anti-herbicidas da bactéria Salmonella thyphimurium. Na Universidade de Campinas, o biólogo Paulo Arruda bombardeia o núcleo das células de milho na esperança de conferir-lhes essa aptidão.

4. Fertilizantes vivos

Há muito se sabe que plantas do grupo das leguminosas, como o feijão e a soja, têm a capacidade de fertilizar o solo. Isso deve-se à simbiose dessas plantas com bactérias que captam o nitrogênio do ar. Biotecnólogos empenhados em modificar essas bactérias a fim de que passem a trabalhar também para os cereais, como o milho, o arroz ou o trigo, foram surpreendidos por uma descoberta da agrônoma brasileira Johanna Dobereiner, do Centro Nacional de Biologia do Solo, no Rio de Janeiro. No ano passado, ela anunciou que a bactéria Acetobacter diazotrophicus pode captar nitrogênio para a cana-de-açúcar, pertencente, como os cereais, à família das gramíneas. Espera-se que agora seja mais fácil criar uma bactéria adubadora para essas importantes culturas.
Segundo Johanna, é possível dispensar de imediato as 240 000 toneladas de nitrogênio químico aplicadas anualmente nos 40 000 quilômetros quadrados de lavoura de cana no Brasil, com uma economia de pelo menos 150 milhões de dólares. As experiências revelam de resto que o adubo era desnecessário: a cana passa perfeitamente bem sem a química e, se for bem irrigada, pode duplicar sua produção normal. Por esse trabalho, a agrônoma, que recebeu o prêmio científico da ONU em 1989, pesquisa agora a presença dessas bactérias na batata-doce e na mandioca. No ano passado, os americanos anunciaram a descoberta de outras bactérias que, além de fixar nitrogênio, também são capazes de captar carbono de material orgânico, constituindo grandes fontes de enriquecimento do solo.

5. Informática em campo

São cada vez mais comuns em países desenvolvidos as lavouras informatizadas. Desse modo, tornou-se possível apressar o controle do custo de produção, dos preços de venda, das últimas cotações do mercado. A Informática permite ainda manipular o cultivo de acordo com um banco de dados sobre os tipos de cultura e os cuidados mais apropriados em função da hora do dia, da temperatura, umidade, evaporação e concentração de gás carbônico. Um bom exemplo é a Rede Agritex canadense, por meio da qual milhares de agricultores do país têm acesso imediato por rádio a um grande número de informações. Integrada por satélite a diversos bancos de dados internacionais, a rede liga as diversas áreas de cultivo com 3 600 quilômetros de cabos de fibra ótica.
Já existem também certos sistemas de automação que regulam o fluxo de água e de fertilizantes numa rede de encanamentos que percorre a plantação. Sempre procurando diminuir a participação humana nas atividades mais penosas, os engenheiros criam máquinas que trabalham de forma cada vez mais independente. O robô agrícola Citrus, concebido na Espanha compõe-se de um trator que se desloca sozinho entre as árvores frutíferas. Equipado com computadores, um sistema ótico e um braço articulado, pode colher frutas de acordo com a cor, tamanho e forma. Calcula-se que seu trabalho possa render sessenta unidades por minuto, em vez das oito ou nove que se conseguem manualmente. Os tratores computadorizados do futuro seriam capazes de cavar a terra, removê-la, triturá-la, fertilizá-la, adicionar-lhe herbicidas e inseticidas e finalmente depositá-la novamente para receber as sementes - tudo isso sem que o agricultor precise mexer um dedo. 

6. Cultivo sem solo

O Instituto de Física e Química Orgânica da Bielo-Rússia, União Soviética, chegou ao cúmulo: seus pesquisadores procuram dispensar o que há de mais indispensável na agricultura - o solo. Sua meta é aprimorar um suporte artificial de plástico, enriquecido com minerais, para receber comodamente as raízes das verduras. O protótipo original foi criado para funcionar na estação espacial Salyut. Alguns tipos mais antigos de solo artificial já chegavam a dispensar a terra, substituída por uma espécie de grão de plástico capaz de absorver 700 vezes o seu peso em água - trata-se das culturas hidropônicas, consideradas vantajosas nas regiões secas. Os avanços práticos mais impressionantes dos últimos tempos consistem na recuperação de áreas desérticas em Israel. Especialistas da Faculdade de Tecnologia Agrícola do Technion, em Haifa, por exemplo, introduziram capas de asfalto ou de plástico debaixo da terra a fim de reter a água das poucas chuvas ao alcance das raízes das plantas. 


A dura vida das Formigas - Natureza


A DURA VIDA DAS FORMIGAS - Natureza



Elas destroem lavouras, mas também revolvem a terra e defendem sua fertilidade.
Com uma refinada organização social, não cessam de maravilhar os pesquisadores.

"Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil", dizia na década de 40 uma campanha do Ministério da Agricultura. Desnecessário dizer que não aconteceu nem uma coisa nem outra, mas o ultimato, proferido originalmente em 1822 pelo naturalista francês August Saint-Hilaire (1779-1853) dá idéia da guerra sem quartel entre duas formas de vida muito bem organizadas: os homens e as formigas. Algumas vezes a preocupação das pessoas com os danos provocados pelas saúvas - rachaduras e buracos em leitos de estradas e em barragens, além de intensa retalhação das lavouras - desemboca em filmes com a pretensão de horrorizar, como Formigas gigantes, de 1977, em que insetos radioativos se transformam em monstros enormes. Mas, felizmente, a inquietação com os estragos provocados por tais formigas também serviu de estímulo a estudos cuidadosos sobre as saúvas e sua eficiente organização social. 
De fato, entre todos os insetos, as formigas são os mais evoluídos, dotadas de extraordinária capacidade de adaptação a qualquer ambiente, com estratégias de sobrevivência baseadas numa divisão de trabalho que deixaria embasbacado um administrador de empresas. Não é à toa que as formigas tenham sobrevivido, com poucas mudanças, a mais de 100 milhões de anos de vida como espécies. Os fósseis mais antigos, encontrados em âmbar, uma resina vegetal, no Mar Báltico no norte da Europa, provam que a sua atividade agrícola começou muito antes de o homem aparecer sobre a face do planeta. Entre as mais de 1 000 espécies existentes no Brasil, as saúvas, especificamente, podem ser encontradas em toda parte, supondo-se que existam algo como 3 bilhões de indivíduos (ou 23 para cada habitante) distribuídos em 300 milhões de colônias.
Elas atraíram a atenção do paulista Mário Autuori (1907-1982), que dedicou mais de cinqüenta anos de vida a pesquisá-las. Autodidata, Autuori foi o criador de um tipo de viveiro de formigas utilizado até hoje no mundo inteiro para se observar seu trabalho subterrâneo. Diretor do Zoológico de São Paulo durante 28 anos, ele se tornou conhecido do grande público em 1976, quando participou de um programa de auditório na Rede Globo, respondendo a questões sobre formigas. Junto com as abelhas e as vespas, as formigas formam a grande ordem Hymenoptera (do grego hymen, membrana, e pteron, asa) com mais de 8 000 espécies, entre elas as onze do gênero Atta - as saúvas propriamente ditas. Estas podem ser identificadas por apresentar três pares de espinhos sobre o tórax; algumas ainda possuem um cheiro semelhante ao do limão, facilmente reconhecido por quem quer que as esmague.
O que a maioria das pessoas conhece da vida das saúvas é o que podem observar nas trilhas superpovoadas de trabalhadoras carregando folhas para o interior do ninho. Pode-se ouvir o ruído do trabalho das possantes mandíbulas das operárias cortadeiras, que chegam a medir 7 milímetros, derrubando grandes pedaços de folhas no solo. Na verdade, elas constituem os principais herbívoros dos trópicos americanos, consumindo mais vegetação do que mamíferos, lagartos ou besouros. As saúvas podem cortar entre 12% e 17% das folhas e flores produzidas nas florestas tropicais, assim como 2 milhões de toneladas de cana por safra e grande quantidade de gramíneas em terrenos abertos - dez formigueiros consomem por dia 210 quilos de capim.
As cortadeiras, vulneráveis ao ataque de um tipo de mosca que se especializou em pôr ovos sobre seu abdômen, são obrigadas a pedir ajuda a operárias menores, que viajam de carona nas suas costas, afugentando o inseto ao agitar no ar o último par de patas. Enquanto algumas cortam, outras operárias carregam o que cai ao chão, erguendo pesos várias vezes superiores ao de seu próprio corpo. No caminho de casa, as transportadoras formam uma trilha de secreção de certos perfumes, guardada por colegas maiores, que chegam a atingir 17 milímetros. São as trilhas de feromônios, que indicam por meio de um código de cheiro a quantidade de alimento presente, a distância e o número de operárias que devem se dirigir para lá. Os odores que caracterizam o sauveiro servem, ainda, de identidade química aos guardas das várias entradas do ninho - os olheiros. Verdadeiros leões-de-chácara, eles não hesitam em matar uma saúva de outro formigueiro, portanto com cheiro diferente, que se aventure por uma das trilhas rumo ao interior do ninho. Formando um exército que pode chegar a 1 000 indivíduos num único formigueiro os guardas agem também como os burocratas da casa, controlando a entrada de material vegetal e o trabalho das operárias na formação de pontos de ventilação e na retirada de grãos de terra do interior.
Grandes sauveiros podem ser facilmente identificados pelos montes de terra que acumulam na superfície, chegando a 7 metros de diâmetro e cerca de 1 metro de altura. Endurecidos como um verdadeiro telhado de barro, esses montes atraem de longe a atenção de tatus e tamanduás, cujo prato predileto - e invariável o ano inteiro - são precisamente as formigas. Outros bichos preferem esperar a época da primavera, quando as formigas aladas encarregadas da reprodução (conhecidas como içás ou tanajuras, no caso das fêmeas, e bitus, os machos) começam a revoada de acasalamento.
Pardais, bem-te-vis, lagartos, sapos, alguns besouros e também o homem incluem esses suculentos insetos em suas dietas. "Os índios tupis já preparavam há centenas de anos as ycobas (içás), palavra que significa gordura, devido ao abdômen cheio de ovos", informa o zoólogo Nélson Papavero, no livro Insetos no folclore. "Eram torradas como amendoim, moqueadas e servidas com molho de tucupi bem apimentado ou então assadas em paçoca com farinha de mandioca", descreve Papavero. Ainda segundo ele, alguns grupos indígenas usam também as gigantes saúvas-soldados como grampos para ligar as bordas de cortes na pele. A aplicação é simples: colocam as formigas para morder a ferida e arrancam seus corpos, ficando a cabeça presa ao ferimento para auxiliar a cicatrização.
Justamente para evitar os predadores, as saúvas preferem fazer o corte de folhas à noite. Mas também é possível vê-las trabalhar durante o dia, caso pressintam, por mecanismos ainda desconhecidos, a chegada de chuvas no entardecer. Durante as tempestades, as incansáveis formigas finalmente param de trabalhar para se proteger no interior dos ninhos que, embora feitos de terra, não ficam completamente inundados. As câmaras internas ou panelas, como se denominam os grandes salões no interior do sauveiro, são dispostos lateralmente aos túneis de forma a evitar que sejam destruídos pelas grandes chuvas. Como nos diversos ambientes de uma residência humana, em cada panela pratica-se um tipo de atividade diferente.
No que se poderia chamar de cozinha ou horta comunitária cultiva-se um fungo para a alimentação de toda a colônia; nos quartos funciona um tipo de berçário para os ovos das saúvas, também criados em meio ao fungo, e em outras dependências funcionam o lixão e o cemitério. O fungo que serve de alimento às formigas, o Pholiota gonglyophora, por sinal, só pode ser encontrado em panelas. Ali, operárias jardineiras, medindo de 2 a 3 milímetros, picam em partes cada vez menores os pedaços de folhas que chegam, as quais são implantadas nas esponjas de fungos, que as utilizam como alimento.
Além disso, as jardineiras retiram constantemente pedaços mortos do fungo, assim como folhas secas, e mantêm as condições climáticas ideais para o desenvolvimento do fungo - 22ºC e umidade de 80%. Longe desses cuidados, o Pholiota  raramente sobrevive mas em compensação, sem sua capacidade de digerir a celulose e outras substâncias tóxicas dos vegetais, as formigas tampouco sobreviveriam. Somente as crias não são alimentadas pelos chamados corpos de frutificação que se originam das massas esponjosas de fungos. Os ovos e larvas do sauveiro são depositados também nessas massas, mas recebem ovos de alimentação postos pela rainha, que se compõem de substâncias nutritivas especiais.
Colocando centenas de ovos por dia durante os vinte anos de vida útil, a rainha, que pode chegar a 2,5 centímetros de comprimento, tem ainda a função de produzir o feromônio característico do sauveiro, o perfume que mantém a família unida. Dentro desse formigueiro, os insetos que se desenvolverem na seqüência de ovo para larva, ninfa e adulto terão assim o mesmo cheiro, mesmo que não sejam formigas. É o caso de uma espécie de besouro que deposita os ovos nas panelas de lixo dos sauveiros, onde são jogados os ovos que não se desenvolvem, as folhas secas, os pedaços de fungo e as operárias mortas. As larvas do besouro, que incorporaram o cheiro do lixo, se alimentam durante o crescimento desses restos ricos em nutrientes, sem serem incomodadas pelas formigas.
Não só outros insetos se beneficiam desse lixo, mas os próprios vegetais ganham um adubo natural para a terra próxima ao sauveiro. As saúvas, portanto exercem um importante papel ecológico juntamente com os fungos, acelerando a reciclagem dos nutrientes das plantas, que tornam ao solo para serem novamente aproveitados. Em certo sentido, isso significa que as formigas não são criaturas tão insignificantes quanto se possa pensar. Afinal, o que conta não é o indivíduo e sim a colônia inteira, uma sociedade organizada e integrada nos ciclos de vida da natureza. Para os entomologistas modernos, ao contrário do que temia o zeloso Saint-Hilaire, acabar com a saúva pode ser o mesmo que acabar com o Brasil. 

Um mundo de formigas

Se todos os animais terrestres fossem colocados numa balança, 1/10 do peso - cerca de 900 000 toneladas - seria representado por formigas, um inseto com menos de um milionésimo da massa de um ser humano. Isso significa que a população de formigas é maior que a de todas as aves, répteis e anfíbios juntos, sendo estimada em torno de 10 quintilhões de indivíduos (o número 1 seguido de dezenove zeros). "Mas não é pelo peso ou pelo número que as formigas devem ser distinguidas", lembra o entomologista americano Edgard Wilson, da Universidade Harvard. "O desaparecimento desses insetos poderia levar à extinção milhares de espécies, desestabilizando a maioria dos ecossistemas." Junto com seu colega Bert Hölldobler, Wilson publicou recentemente nos Estados Unidos o alentado livro Ants (Formigas), logo aclamado como um clássico, em que analisa o comportamento de seus bichinhos preferidos e aponta várias peculiaridades de sua organização social. 
Com exceção dos pólos gelados, ele encontrou formigas de 1 milímetro a 2,5 centímetros em toda parte, incluindo os áridos desertos. Juntamente com os cupins, cerca de 8 800 espécies já descritas (das 20 000 que se suspeita existirem), agrupadas em 297 gêneros, cavoucam o solo, enriquecendo-o por drenagem e aeração. Além disso, são grandes disseminadoras de sementes de plantas e ainda faxineiras que comem até 90% dos cadáveres de pequenos animais. Todos esses trabalhos são levados muito a sério. Para começar, nada de sexo - atividade exclusiva das rainhas. As trabalhadoras devem se limitar a fazer a parte que lhes toca para conservar o lar comunitário e garantir a propagação dos genes de sua parenta privilegiada. Assim, para realizar suas funções com plena eficiência, cada uma se especializa ao máximo, mudando a própria anatomia. Os soldados são fêmeas que trocaram os órgãos reprodutores por um abdômen cheio de armas biológicas. O gênero asiático Camponotus, por exemplo, é uma verdadeira bomba, que rompe o próprio corpo para lançar veneno sobre os adversários.
As lava-pés, como são conhecidas as Solenopsis invicta nativas do sul do Brasil, tem um veneno forte que causa sensação de queimadura. Elas associam-se em colônias protegidas por um contingente de até 100 000 soldados. Longe de casa, são capazes de unir-se rapidamente para o combate por meio de ordens químicas. As formigas, por sinal, dominam uma linguagem química complexa. Uma colônia comum pode farejar no ar 1 trilionésimo de grama de uma dúzia de sinais de cheiros diferentes, de acordo com os feromônios secretados no solo por várias glândulas. É desse modo que uma operária indica a outra companheira o caminho até um inseto morto. Mas o talento das formigas como químicas tem seu melhor exemplo na Oecophylla, a formiga-tecelã que vive em árvores. Presentes em abundância nas florestas da África e no sudoeste da Ásia, elas se utilizam da seda produzida pelas larvas para ligar folhas e galhos, formando grandes e seguros pavilhões aéreos, que funcionam como as teias das aranhas.
De volta ao chão, o entomologista Wilson encontrou supercolônias com formigueiros de até 6 metros de profundidade espalhados em áreas de quase 3 quilômetros quadrados. Ali, ele calculou, vivem durante mais de dez anos cerca de 1 milhão de operárias, muitas vezes procedentes de diferentes colônias de várias espécies, escravizadas pela colônia original. As maiores escravagistas são as formigas amazonas, mestras em atacar outras colegas; tão dependentes de suas escravas, nem sequer sabem conseguir comida.

Que bicho é esse?

A formiga de ponta a ponta.

1. Cabeça - abriga o cérebro e os órgãos dos sentidos    
2. Ocelos - órgão estimulador da visão, percebe luz e formas
3. Olhos compostos - responsáveis pela visão de cores e formas 
4. Antenas - responsáveis pelo olfato
5. Mandíbulas - funcionam como as mãos humanas, cortando, mordendo e furando
6. Tórax - ponto de articulação das patas (usadas para locomoção e percepção de sons), compreende o sistema digestivo, composto de intestino, estômago social (que ocupa quase 4/5 do tórax e é o reservatório vivo de alimento para algumas espécies) e mais dois estômagos parecidos com os dos ruminantes
7. Abdômen - local das glândulas de cheiro, respiração traqueal, coração, intestino, células filtradoras de substâncias tóxicas, órgãos reprodutores (na rainha) e ferrão (em algumas espécies)