segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sete Glórias Antigas - Historia



SETE GLÓRIAS ANTIGAS - História



Das pirâmides do Egito ao Colosso de Rodes, sete formidáveis construções merecem dos gergos o título de "maravilhas". Seis delas sumiram quase sem deixar traço. Terão existido realmente?

Muitos séculos antes da era cristã, os povos do Mediterrâneo tiveram o privilégio de conhecer os monumentos que para os gregos eram as maiores realizações materiais da Antigüidade, as sete maravilhas do mundo: as Pirâmides do Egito, o Farol de Alexandria, os Jardins Suspensos da Babilônia, o Templo de Ártemis, a Estátua de Zeus, o Mausoléu de Halicarnasso e o Colosso de Rodes. A relação que data do século II a.C., é atribuída a Antípater, poeta grego nascido em Sidon, no atual Líbano. A idéia surgiu com o desenvolvimento da erudição, o conhecimento acumulado em cada área da atividade humana.
Com o auxílio da literatura de viagens, que descrevia paisagens físicas, construções e costumes, também chamada literatura de mirabilia (do latim, que vale a pena ver), nasceu o inventário das maravilhas, limitadas não se saber por que a sete. Construídas em diferentes épocas, é quase certo que todas ainda estavam em pé em meados do século II a.C., mas não mais no tempo de Antípater. Delas só restaram as pirâmides do Egito. Quanto às outras, pairam muitas dúvidas: a data exata de construção e destruição, o tamanho real e até que aspecto de fato teriam tido.
Enquanto imagens do Colosso de Rodes e da Estátua de Zeus foram reconstruídas com base em descrições incompletas e reproduções estilizadas em moedas, o Farol de Alexandria, o Templo de Ártemis e o Mausoléu de Halicarnasso puderam ser desenhados graças a documentos históricos considerados bastante próximos do original. Dos Jardins Suspensos da Babilônia nem se sabe sequer quando desapareceram. Não que se tenha certeza absoluta da época em que tiveram fim os outros monumentos, mas para alguns deles é possível, ao menos, mencionar datas prováveis.
As primeiras reconstruções dessas maravilhas, embora fantasiosas muitas vezes, surgiram nos séculos XVI e XVII. Algumas são atribuídas ao jesuíta alemão Athanasius Kircher (1601-1680), que pesquisou uma vasta gama de assuntos e escreveu 44 livros. Reproduções mais verossímeis só puderam ser feitas quando os arqueólogos começaram a estudar o que restou de algumas maravilhas, a partir dos séculos XVIII e XIX. Do que se descobriu, emerge uma certeza: a lista do velho Antípater pode estar incompleta -- por que não inclui, por exemplo, o Pártenon, de Atenas? -- , mas as obras selecionadas devem ter sido, de fato, maravilhosas.

AS PIRÂMIDES DO EGITO
Dois milhões de blocos

As três pirâmides do Egito ocupam merecidamente o primeiro lugar da relação. Construídas entre 2551 e 2495 a.C. para servirem de túmulo aos faraós, são também os mais antigos dos sete monumentos. Prova do alto nível da ciência e tecnologia do Antigo Egito, com soluções de engenharia admiráveis para qualquer época e lugar, erguem-se imponentes na planície de Gizé, a 15 quilômetros do Cairo. A maior é a de Quéops, o segundo rei da IV dinastia. Segundo o historiador grego Heródoto, sua construção mobilizou 100 mil trabalhadores durante vinte anos. Com 146 metros de altura -- o equivalente a um edifício de 48 andares -- , foi a primeira a ser construída, com mais de 2 milhões de blocos de pedra.
As pirâmides tinham, inicialmente, uma base hexagonal, isto é, de seis lados. A partir da pirâmide monumental (que não faz parte das sete maravilhas), atribuída ao rei Snefru, a estrutura básica alargou-se até se transformar num bloco compacto de alvenaria com oito terraços, preenchidos com blocos de pedra que se encaixavam perfeitamente, formando um aclive em degraus. Recoberta a construção com uma massa lisa de pedra calcária, resultou uma verdadeira pirâmide geométrica.
Um pouco menor que a de Quéops, a pirâmide de Faraó Quéfren tinha 143 metros de altura: a terceira, de Miquerinos, 66 metros. Provavelmente, os próprios faraós, foram os arquivos das suas pirâmides, onde, segundo a crença, eles ressuscitariam. O apogeu do poder real no Egito deu-se justamente no período correspondente à IV dinastia, quando a centralização era a marca registrada do sistema político.

O FAROL DE ALEXANDRIA
120 metros em mármore

Na ilha que fica diante da cidade de Alexandria, no Egito, ergueu-se o mais famoso farol da Antigüidade. Por isso a ilha foi chamada Faros (farol, em grego). Modelo para a construção dos que o sucederam, o Farol de Alexandria foi classificado como a segunda maravilha do mundo. Todo de mármore e com 120 metros de altura -- três vezes o Cristo Redentor no Rio de Janeiro --, foi construído por volta de 280 a.C.  pelo arquiteto grego Sóstrato de Cnidos, por ordem de Ptolomeu II, rei grego que governava o Egito. Diz a lenda que Sóstrato procurou um material resistente à água do mar e por isso a torre teria sido construída sobre gigantescos blocos de vidro. Mas não há nenhum indício disso.
Com três estágios superpostos -- o primeiro, quadrado; o segundo, octogonal; e o terceiro, cilíndrico --, dispunha de mecanismos que assinalavam a passagem do Sol, a direção dos ventos e as horas. Por uma rampa em espiral chegava-se ao topo, onde à noite brilhava uma chama para guiar os navegantes. Compreende-se a avançada tecnologia: Alexandria tinha-se tornado naquela época um centro de ciências e artes para onde convergiam os maiores intelectuais da Antigüidade.
Cumpria-se assim a vontade de Alexandre, o Grande, que ao fundar a cidade, em 332 a.C., queria transformá-la em centro mundial do comércio, da cultura e do ensino. Os reis que o sucederam deram continuidade a sua obra. Sob o reinado de Ptolomeu I (323-285 a.C.), por exemplo, o matemático grego Euclides criou o primeiro sistema de geometria. Também ali o astrônomo Aristarco de Santos chegou à conclusão de que o Sol e não a Terra era o centro do Universo. Calcula-se que o farol tenha sido destruído entre os séculos XII e XIV. Mas não se sabe como nem por quê.

OS JARDINS SUSPENSOS DA BABILÔNIA
Seis montanhas artificiais

A terceira maravilha são os Jardins Suspensos da Babilônia, construídos por volta de 600 a.C., às margens do rio Eufrates, na Mesopotâmia - no atual sul do Iraque. Os jardins, na verdade, eram seis montanhas artificiais feitas de tijolos de barro cozido, com terraços superpostos onde foram plantadas árvores e flores. Calcula-se que estivessem apoiados em colunas cuja altura variava de 25 a 100 metros. Para se chegar aos terraços subia-se por uma escada de mármore; entre as folhagens havia mesas e fontes. Os jardins ficavam próximos ao palácio do rei Nabucodonosor II, que os teria mandado construir em homenagem à mulher, Amitis, saudosa das montanhas do lugar onde nascera.
Capital do império caldeu, a Babilônia, sob Nabucodonosor, tornou-se a cidade mais rica do mundo antigo. Vivia do comércio e da navegação, buscando produtos na Arábia e na Índia e exportando lã, cevada e tecidos. Como não dispunham de pedras, os babilônios usavam em suas construções tijolos de barro cozido e azulejos esmaltados. No século V a.C., Heródoto dizia que a Babilônia "ultrapassava em esplendor qualquer cidade do mundo conhecido". Mas em 539 a.C. o império caldeu foi conquistado pelos persas e dois séculos mais tarde passou a ser dominado por Alexandre, o Grande, tornando-se parte da civilização helenística. Depois da morte de Alexandre (323 a.C.), a Babilônia deixou de ser a capital do império. Começou assim sua decadência. Não se sabe quando os jardins foram destruídos; sobre as ruínas da Babilônia ergueu-se, hoje, a cidade de Al-Hillah, a 160 quilômetros de Bagdá, a capital do Iraque.

O TEMPLO DE ÁRTEMIS
200 anos de construção

Em Éfeso, na Ásia Menor, ficava o templo da deusa Ártemis, a quarta maravilha. Sua construção começou na metade do século VI a.C. , por ordem do conquistador Creso, rei da Lídia -- região montanhosa que hoje é o oeste da Turquia. Com 90 metros de altura -- como a estátua da Liberdade, em Nova York -- e 45 de largura, o templo era decorado com magníficas obras de arte. Protetora da cidade e deusa dos bosques e animais, Ártemis (Diana, para os romanos) foi esculpida em ébano, ouro, prata e pedra preta. Tinha as pernas e quadris cobertos por uma saia comprida decorada com relevos de animais. Da cintura para cima, três fileiras de seios se superpunham. Um ornamento em forma de pilar lhe adornava a cabeça.
Nesse período da história grega, chamado Arcaico (século VIII- século V a.C.), quando Éfeso, graças a seu porto, era uma das mais importantes cidades do Egeu e do Mediterrâneo, a escultura tinha alcançado seu ponto alto entre os gregos. Não é, pois, de estranhar que o templo de Ártemis tenha ficado famoso por suas esculturas e objetos de ouro e marfim -- alguns dos quais se encontram no Museu Britânico, em Londres. Quando, no século I, o escritor romano Plínio, o Velho, afirmou que esse magnífico templo, com 127 colunas (36 decoradas) demorou duzentos anos para ser construído, não foi levado a sério. Mas, no século XIX, quando os arqueólogos conseguiram determinar o lugar onde foi erguido deu-se finalmente razão a Plínio. O templo foi incendiado no século III a.C. por um certo Heróstrato, que assim pretendia tornar-se imortal. Pelo visto, conseguiu. Reconstruído, destruído e ainda outra vez reconstruído, o templo foi finalmente arrasado em 262 pelos godos, povo germânico que durante o século III invadiu províncias romanas na Ásia Menor e na península balcânica.

A ESTÁTUA DE ZEUS
Marfim, ébano e pedrarias

Na cidade grega de Olímpia, na planície do Peloponeso, estava a quinta maravilha: a estátua de Zeus, esculpida pelo célebre ateniense Fídias, no século V a.C., quando a cidade já caíra sob o domínio de Esparta. Essa é considerada sua obra-prima. Tanto os gregos amavam seus trabalhos que dizia-se que ele revelava aos homens a imagem dos deuses. Supõe-se que a construção da estátua tenha levado cerca de oito anos. Zeus (Júpiter, para os romanos) era o senhor do Olimpo, a morada das divindades. A estátua media de 12 a 15 metros de altura -- o equivalente a um prédio de cinco andares -- e era toda de marfim e ébano. Seus olhos eram pedras preciosas.
Fídias esculpiu Zeus sentado num trono. Na mão direita levava a estatueta de Nike, deusa da Vitória; na esquerda, uma esfera sob a qual se debruçava uma águia. Supõe-se que, como em representações de outros artistas, o Zeus de Fídias também mostrasse o cenho franzido. A lenda dizia que quando Zeus franzia a fronte o Olimpo todo tremia. Quando a estátua foi construída, a rivalidade entre Atenas e Esparta pela hegemonia no Mediterrâneo e na Grécia continental mergulhou os gregos numa sucessão de guerras. Os combates, no entanto, não prejudicaram as realizações culturais e artísticas da época. Ao contrário, o século V a.C. ficou conhecido como o século de ouro na história grega devido ao extraordinário florescimento da arquitetura, escultura e outras artes. A estátua de Zeus foi destruída nesse mesmo século V a.C.

O MAUSOLÉU DE HALICARNASSO
Pirâmide de 24 degraus

No século IV a.C. , Artemísia, mulher de Mausolo, rei da Cária, mandou construir um túmulo em homenagem ao marido: o Mausoléu de Halicarnasso, que viria a ser a sexta maravilha do mundo. Halicarnasso era a capital da Cária -- região que englobava cidades gregas ao longo do mar Egeu e das montanhas do interior e hoje faz parte da Turquia. Durante o reinado de Mausolo (370-353 a.C.), a cidade conheceu grande progresso com a construção de edifícios públicos; extensa muralha devia protegê-la de ataques. O romano Plínio descreveu o mausoléu como um suntuoso monumento sustentado por 36 colunas. Com quase 50 metros de altura, ocupava uma área superior a 1200 metros quadrados. Acima da base quadrada, erguia-se uma pirâmide de 24 degraus que tinha no topo uma carruagem de mármore puxada por quatro cavalos.
Dentro ficavam as estátuas de Artemísia e Mausolo, além de trabalhos de Escopas, considerado um dos maiores escultores da Grécia do século IV. Algumas dessas esculturas, como uma estátua de 4,5 metros, provavelmente de Mausolo, encontram-se no Museu Britânico. O túmulo foi destruído, provavelmente por um terremoto, em algum momento entre os séculos XI e XV. As pedras que sobraram da destruição acabaram sendo aproveitadas na construção de edifícios locais. Ficou do nome do rei Mausolo a palavra mausoléu, usada para designar monumentos funerários.

O COLOSSO DE RODES
Um pé em cada margem

Uma embarcação que chegasse à ilha grega de Rodes, no Mediterrâneo, por volta de 280 a.C., passaria obrigatoriamente entre as pernas da enorme estátua de Apolo (Hélio, para os romanos), deus do Sol e protetor do lugar. É que o Colosso de Rodes, como foi chamada a sétima maravilha do mundo, tinha um pé fincado em cada margem do canal que dava acesso ao porto. Com 30 metros de altura, toda de bronze e oca, a estátua começou a ser esculpida em 292 a.C., pelo escultor Chares, de Lindus, uma das cidades da ilha, que a concluiu doze anos depois. Conta-se que o povo de Rodes mandou construir o monumento para comemorar a retirada das tropas do rei macedônio Demétrio Poliorcetes, que promovera longo cerco à ilha na tentativa de conquistá-la. Demétrio era filho do general Antígono, que após a morte de Alexandre, o Grande, herdou uma parte do império grego.
O material empregado na escultura foi obtido a partir da fundição dos armamentos que os macedônios ali abandonaram. A estátua ficou em pé por apenas 55 anos, quando um terremoto a jogou ao fundo da baía de Rodes onde ficou esquecida até a chegada dos árabes, no século VII. Estes, então, a quebraram e venderam como sucata. Para se ter uma idéia do volume do material, foram necessários novecentos camelos para transportá-lo. Essa, que foi considerada uma obra maravilhosa, teria no entanto levado Chares a suicidar-se, logo depois de tê-la terminado, desgostoso com o pouco reconhecimento público ao monumento. No ano passado, o assunto Colosso de Rodes voltou brevemente à tona: uma vidente australiana ganhou notoriedade ao assegurar que em determinado local da baía estava uma das mãos da estátua. Mas a pedra retirada do fundo do mar, conforme instruções da vidente, não tinha nada a ver com a escultura.

Cores ao Vivo - Natureza



CORES AO VIVO - Natureza



A exuberância das cores no reino animal tem muito a ver com a sobrevivência das espécies. Para algumas delas, o colorido é um verdadeiro código de sinais.

Azul-esverdeado ou verde-azulado? Muita gente optaria pela primeira forma e o mesmo ocorreria com um cientista que estivesse descrevendo, por exemplo, uma nova espécie de besouro colorido. Isso porque a visão humana é particularmente sensível a um determinado comprimento de onda luminosa que se convencionou chamar azul-esverdeado. Mas o que enxergaria o próprio besouro ao olhar para um companheiro da mesma espécie? Esse é um dos problemas com que se deparam os estudiosos do comportamento animal. Pois ainda é muito pouco o que se sabe a respeito da visão cromática dos animais -- e esse desconhecimento tem colocado em xeque muitas antigas suposições sobre o uso que eles fazem de seus surpreendentes coloridos.
Um animal, uma planta ou mesmo qualquer objeto que vemos como "colorido" possui uma superfície capaz de refletir ou emitir ondas eletromagnéticas dentro de certas variações. Os limites para essas variações são ditados pelos próprios comprimentos das ondas. Estas, se forem demasiadamente longas ou, ao contrário, muito curtas, deixarão de estimular a retina humana e, em conseqüência, o sistema nervoso, tornando impossível perceber a "cor". As diferentes nuances das cores são produzidas por variações no tamanho e na freqüência de radiações eletromagnéticas com um comprimento de onda inferior a um micrômetro (a milésima parte de um milímetro). A percepção das cores principia com o estímulo proporcionado pelas ondas de 0,39 micrômetro (o violeta) e termina na faixa de 0,78 micrômetro (o vermelho). Tanto as ondas mais longas que o vermelho (infravermelho) como as mais curtas que o violeta (ultravioleta) não são percebidas como cor. São, portanto, invisíveis  para a vista humana e a da maioria dos animais.
O austríaco Karl von Frisch, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1973, estudou a percepção das cores nas abelhas, descobrindo que esses insetos são particularmente atraídos por uma forma semelhante à cruz de Malta (aquela das caravelas portuguesas). Intrigado, descobriu que, banhando certas flores na luz ultravioleta, esse desenho invisível para os homens aparecia. As abelhas e também as formigas possuem sistemas óticos que ultrapassam, portanto, os limites da visão humana. Elas captam o ultravioleta, embora sejam absolutamente cegas para o vermelho. Conhecendo a faixa de visão de certos insetos, foi possível criar uma lâmpada, usada nas varandas das casas e nas fazendas, que não atrai os insetos que normalmente procuram a luz -- a cor dessas lâmpadas para eles é invisível, ou seja, não podem saber quando elas estão acesas ou apagadas. Do mesmo modo, as lâmpadas infravermelhas à venda no comércio emitem também um pouco de radiação vermelha, pois, se irradiassem apenas o intravermelho, seria impossível perceber visualmente quando estão ligadas ou desligadas.
A maioria dos mamíferos não enxerga as cores. Em algumas espécies a visão cromática é ainda considerada duvidosa; com certeza mesmo existe apenas entre os primatas. O ser humano foi privilegiado por uma magnifica visão colorida do mundo que só em alguns aspectos é superada pela inigualável acuidade cromática de certas aves. Como, por exemplo, algumas espécies de beija-flor, capazes de perceber nuances na coloração alaranjada das flores das bromeliáceas que denunciam uma concentração maior de néctar; essas nuances são totalmente inexistentes para os olhos humanos.
Entre os próprios homens, porém, varia imensamente a sensibilidade para a captação das cores. Além dos daltônicos, que não distinguem o verde do vermelho (eles sabem, contudo, que nos sinais de trânsito o vermelho fica sempre acima do verde), já foram identificadas algumas dezenas de outras variedades do daltonismo, batizadas com nomes excêntricos. Assim, existem os dicromatas protanópicos, que não distinguem o azul-esverdeado do branco e vermelho e consideram o amarelo e o laranja iguais; os dicromatas trianópicos, que só percebem o extremo vermelho do espectro e confundem o azul e o verde; e até alguns incríveis tricomatas anômalos, que percebem deficientemente todas as cores.
A visão cromática amplia consideravelmente o universo das informações visuais e assim representa uma grande vantagem para os animais de atividade diurna. Com o cair da noite a percepção das cores deixa de ter sentido para a maioria das espécies, com exceção dos vagalumes -- cujos lampejos esverdeados funcionam como chamariz sexual -- e dos seres humanos, irresistivelmente deslumbrados pelo ofuscante colorido noturno das metrópoles. Não é por acaso que os coloridos animais escolhidos para enfeitar gaiolas, aquários e exuberantes coleções de insetos pertencem ao seletíssimo grupo dos que possuem visão cromática.
Para eles, as cores funcionam como um verdadeiro código de sinais. De acordo com a situação, a cor cumpre seu papel. O etologista austríaco (que estuda o comportamento animal) Konrad Lorenz já observara que a exibição do colorido nas escamas de um peixe ou nas penas de uma ave serve tanto para atrair a fêmea como para manter à distância os demais machos e assim delimitar o território. As cores podem também ser da maior importância na camuflagem natural dos animais -- o chamado mimetismo  dos caçadores, como a pelagem das onças, e o das presas, como as penas da fêmea do faisão, por exemplo.
De modo geral, pode--se afirmar que nesses bichos as cores são o resultado de um longo processo de seleção natural, em que elas cumprem muito bem os seus papéis. Isso não significa, porém, que todo e qualquer tipo de coloração deva estar desempenhando uma função adaptativa essencial na vida animal. Afinal, os mecanismos de seleção natural tendem a favorecer a propagação das características que colocam as espécies, e dentro delas os indivíduos, em vantagem na luta pela sobrevivência -- em detrimento das características que prejudicam a adaptação dos animais ao meio ambiente.
Já as características "neutras", que não jogam nem a favor nem contra a sobrevivência, permanecem, por assim dizer, quietas no seu canto. Assim, se um belo colorido não prejudicar a perpetuação de uma espécie, poderá continuar enfeitando os seus representantes por muito tempo. As cores surgem sobre o revestimento externo de um animal sem obedecer a nenhum critério determinado, ainda que possam vir a desempenhar papéis de sinalizadores, como se viu. Sobre penas, escamas ou pêlos, elas se apresentam de duas formas bem características: cores estruturais e cores pigmentares.
Quando a luz sofre alterações ao atingir certas estruturas do revestimento animal, surgem as cores estruturais. Um bom exemplo desse fenômeno é o que acontece com a luz ao incidir sobre as asas brilhantes de uma borboleta-azul (SUPERINTERESSANTE nº 1, ano 1). Se os raios luminosos incidirem verticalmente sobre a superfície da asa, a cor refletida será o azul. Já alterações nos ângulos de incidência de luz provocarão variações de reflexos azuis-esverdeados, azuis-violeta e até mesmo algumas nuances de vermelho-púrpura. Isso acontece porque as asas dessa borboleta estão recobertas de minúsculas escamas, umas ao lado das outras. Cada uma possui uma série de ranhuras microscópicas que agem como microprismas, decompondo os raios luminosos em vários componentes -- o mesmo fenômeno que ocorre nas rachaduras de um LP. Nessas circunstâncias os olhos percebem aquilo que se costuma chamar de iridescência.
Já as cores pigmentares resultam da presença de certa categoria de moléculas junto à superfície de revestimento do animal. Parte da luz que incide sobre esses pigmentos é absorvida e parte é refletida. Nesse caso, a parte refletida é percebida como uma "cor". Na prática, porém, as cores decorrem de um processo bem mais complicado pois num único animal colorido podem coexistir cores estruturais e pigmentares. As cores pigmentares são geralmente menos estáveis que as outras. Suas moléculas muitas vezes fluem através da hemolinfa -- o equivalente ao sangue nos insetos -- ou ficam alojadas em microscópicas vesículas constantemente irrigadas pelos fluidos do organismo. Com o animal morto, em pouco tempo as cores começam a se desvanecer. É o que acontece com os pálidos bichos conservados em álcool ou formol nos museus. Murchos e decorados, parecem advertir que a extrema beleza alcançada por aqueles organismos precisa ser conservada -- viva.


O Mundo da Lua - Astronomia



O MUNDO DA LUA - Astronomia



O vizinho mais próximo da Terra ainda guarda muitos segredos. Alguns cientistas dizem até que é um planeta - não um satélite. Enquanto isso, renovam-se planos para uma base lunar.

Tudo começou há vinte anos. Naquele histórico 20 de julho de 1969, cerca de 1 bilhão de pessoas -- um terço da humanidade -- viram emocionadas pela televisão o astronauta americano Neil Armstrong pisar pela primeira vez o solo lunar, depois de uma viagem de quatro dias a bordo da Apolo 11. O ato foi saudado como "um pequeno passo para o homem, um gigantesco salto para a humanidade". Era o ponto culminante da corrida espacial em que se empenhavam americanos e soviéticos desde 1957, quando Moscou anunciou o lançamento do Sputnik, primeiro satélite artificial da Terra.
Depois da proeza da Apolo 11, pensou-se fazer da Lua a primeira escala de uma viagem que levaria o homem para planetas ainda mais distantes. Algo assim como um posto de abastecimento no meio de uma estrada deserta. Muita gente sonhou também com uma colônia humana na Lua -- longe das crises e dos problemas que os terráqueos costumam criar em seu habitat natural. Os astrônomos queriam construir ali um observatório, aproveitando a ausência de atmosfera, que atrapalha os telescópios terrestres. E todo o mundo queria saber mais sobre esse astro, de repente tão próximo da Terra.
Nos anos que se seguiram, o homem arranhou como pôde a superfície da Lua -- garimpou suas rochas, tirou fotografias de seus acidentes geográficos, constatou ali a ocorrência de 10 mil terremotos e o impacto de 2 mil meteoritos. Trouxe 385 quilos de amostras de seu solo para estudar nos laboratórios. Medidores de radiação, radares, refletores de laser e sismógrafos enviaram 1 trilhão de bits de informações para abastecer os computadores da NASA no Centro Espacial Johnson, no Texas. Muito se aprendeu sobre as andanças e o corpo da Lua. Mesmo assim, ela conservou bem guardados alguns de seus segredos mais importantes.
Para começar, os cientistas vêem a Lua ora como satélite, ora como planeta. Embora seu diâmetro seja quatro vezes menor que o da Terra, ela é um dos maiores satélites existentes no sistema solar, perdendo por pouco para Mercúrio, o menor de todos os planetas. Os astrônomos às vezes dizem que o sistema Terra-Lua forma um planeta binário. "Nenhum outro planeta do sistema solar tem um satélite comparativamente tão grande", observa o astrônomo Sylvio Ferraz Mello, da Universidade de São Paulo. Às vezes também dizem que "planeta ou satélite", no fundo é uma questão semântica". Mas o astrônomo Wagner Sessim, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos, não deixa por menos: "Ao contrário do que se ensina na escola, a Lua não é um satélite da Terra. Terra e Lua giram uma em torno da outra e ambas em torno do Sol".
Satélite ou não, a Lua deve ter começado como um pequeno planeta que há 4,6 bilhões de anos disputou com a Terra o material existente nesse pedaço do sistema solar. Por algum motivo que não se conhece, a Terra evoluiu mais depressa, acumulou mais material e tornou-se sensivelmente maior. A Lua, que ficou menor que a Terra, acabou capturada pela atração gravitacional do planeta e passou a girar em sua volta. Outra hipótese, que o astrônomo Ferraz Mello considera "fantasia", afirma que durante aquele turbulento período um planeta em formação -- quem sabe do tamanho de Marte -- pode ter-se chocado com a Terra e dos estilhaços nasceu a Lua.
Quando os primeiros répteis deixaram os mares e se fixaram na superfície terrestre, há 350 bilhões de anos, enxergavam a Lua 22 vezes maior do que ela parece hoje. Não que seu tamanho fosse maior então -- apenas estava mais perto da Terra. Atualmente, sua órbita caprichosa ora a afasta 406 mil quilômetros, ora a aproxima até 356 mil quilômetros da Terra. Esse movimento dura 27 dias e oito horas -- o mesmo tempo que a Lua leva para dar uma volta completa em torno de si mesma. É por esse motivo que, como se sabe, a Lua sempre tem a mesma face voltada para a Terra. Há 350 milhões de anos, porém, o dia tinha apenas 21 horas e 9 minutos, porque a Terra girava mais depressa sobre seu eixo, e o ano 400 dias. Em compensação, a Lua estava a apenas 18 mil quilômetros de distância.
Esse jogo de aproximação e afastamento que se repete até hoje entre a Terra e a Lua é embalado pelo ritmo das marés, ou seja, pela atração gravitacional que a Lua exerce sobre os oceanos, continentes e até sobre a atmosfera do planeta. Como o freio de um carro, as marés reduzem a velocidade de rotação da Terra. À meia-noite do último dia de 1987, por exemplo, todos os relógios do mundo tiveram de ser atrasados 1 segundo para acompanhar o atraso na velocidade de rotação da Terra. Ao contrário de um relógio, a Lua compensa o atraso aumentando sua órbita -- todo ano ela se afasta 3 centímetros do planeta. Segundo o astrônomo Paulo Benevides, da USP, o movimento é inexorável: "A Lua vai continuar se afastando até que a Terra demore tanto para dar uma volta completa entorno de si quanto a Lua em torno dela. Quando isso acontecer, a Terra terá apenas uma face voltada para a Lua".
Lua quer dizer "luminosa" em latim. Para os antigos, de fato, ela parecia um astro liso e brilhante. Mas desde 1610, quando o italiano Galileu Galilei (1564-1642) apontou pela primeira vez uma luneta em sua direção, se sabe que a Lua é esburacada como, na clássica metáfora, um queijo suíço. Aliás, os românticos podem debitar a Galileu o fato de o homem aprender a vê-la realisticamente. "A Lua não é lisa nem esférica", dizia ele. "É feia, esburacada, coberta de montanhas e sulcada de vale profundos."
Supõe-se que a Lua tenha mais de 500 mil crateras com diâmetro superior a 1 quilômetro, algo como dez campos de futebol enfileirados, e alguns bilhões de mini e microcrateras. Elas são um testemunho mudo de um passado de colisões ocorridas há mais de 4 bilhões de anos. Naquela época, o sistema solar mais parecia um campo de batalha cósmica, onde asteróides e cometas faziam o papel de balas de canhão caindo por todos os lados. Quando uma dessas balas atingia um planeta ou satélite, a explosão abria um buraco de cratera. Para o geólogo americano Harold Masurky, o impacto de alguns desses objetos era tão violento que  "o chão devia tremer como um prato de geléia".
Se a Lua foi tão castigada por esse colossal fogo cruzado, por que o mesmo não teria acontecido com a Terra? De fato, o bombardeio cósmico não poupou nem a Terra nem os outros corpos do sistema solar. Só que a grande maioria das feridas cicatrizou com o tempo -- no caso da Terra, devido à ação da água e dos ventos. Como na Lua quase não há erosão, até crateras minúsculas foram preservadas. De perto, é uma paisagem ao mesmo tempo monótona e aterradora. A centenas de milhares de quilômetros, porém, a aparência é bem mais plácida.
Mesmo assim, a Lua inspirou lendas e superstições mais que qualquer outro corpo celeste. Nas noites de lua cheia quando a luz do Sol incide diretamente sobre sua face voltada para a Terra, o homem se acostumou a imaginar que ali se moviam estranhas criaturas -- entre elas um garboso cavaleiro São Jorge em luta contra o dragão. A realidade é bem menos delirante. As manchas escuras da Lua, que sugeriam ao homem medieval o perfil do santo, são apenas planícies basálticas que receberam o nome latino de maria (plural de mar) porque os astrônomos do século XVII as confundiram com oceanos -- algo de que, por sinal, a Lua não possui nem um pingo na superfície.
As regiões prateadas que brilham mais intensamente são montanhas. Elas cobrem 60 por cento da face visível da Lua e quase todo o lado oculto, que o homem conhece somente pelas fotografias. Para não fugir à regra lunática, tanto as planícies quanto as montanhas são crivadas de crateras. O bombardeio dos meteoritos também produziu rachaduras que se irradiam da boca das crateras. Os 385 quilos de pedras trazidos pelas naves espaciais americanas e soviéticas forneceram algumas pistas sobre a turbulenta história da Lua.
Durante seus primeiros 200 milhões de anos, era apenas uma massa com a superfície derretida, constantemente bombardeada pelos projéteis espaciais. Demorou outros tantos 300 milhões de anos para que a crosta se solidificasse. Embora mais esparso, o bombardeio continuou. O impacto dos objetos cavou enormes depressões assemelhadas a golfos e baías, principalmente na face iluminada da Lua, onde a crosta era menos espessa. O calor provocado pelo impacto de projéteis fundiu o material da superfície. Terremotos e vulcões trouxeram à tona um mundo de lava que preencheu os golfos, constituindo os "mares lunares". Nos últimos 3 bilhões de anos, o aspecto da Lua sofreu poucas transformações. Os impactos dos meteoritos em sua superfície tornaram-se mais raros. Ao mesmo tempo, a Lua foi lentamente se resfriando.
Um dos pais da Astronomia moderna o alemão Johannes Kepler (1571-1630) chegou a imaginar que as crateras da Lua, que pareciam perfeitamente circulares, fossem uma prova da "existência de alguma raça capaz de grandes construções", como a Muralha da China, que pode ser vista fora da Terra. Na verdade, embora a Lua ainda não tenha sido explorada palmo a palmo, a existência de seres lunáticos é uma possibilidade virtualmente nula. Por causa de sua baixa gravidade, a Lua não tem atmosfera ficando indefesa diante da carga brutal de radiação cósmica ultravioleta, X e gama, capaz de destruir qualquer forma de vida. Para completar, a temperatura ali não é nada favorável: de dia, sobe a 100 graus; à noite, baixa para 150 graus negativos.
É esse mundo inóspito que o homem novamente pensa conquistar. O objetivo agora não é apenas fincar uma bandeira que marque a hegemonia numa disputa pela conquista do espaço, como aconteceu há vinte anos, quando os americanos, à frente dos soviéticos, pisaram pela primeira vez na Lua. Desde aquela época, a NASA acumulou centenas de projetos de construção de uma base lunar. Mas, passado o clima de competição com a União Soviética, arrefeceram os impulsos de dar segmento ao feito da Apolo. Só depois do desastre da Challenger, em janeiro de 1986, que pôs em xeque o programa espacial americano, novas idéias foram admitidas e velhas idéias foram reavaliadas -- entre elas a da base lunar.
"Sinto que agora a possibilidade começa a entusiasmar", comenta o físico Wendell Mendell, responsável pelo projeto lunar no Centro Espacial Johnson. "Já estamos pensando até nos detalhes", diz ele. Isso não quer dizer, porém, que o governo americano já tenha resolvido efetivamente bancar o projeto. As incursões espaciais da União Soviética, por outro lado, passam ao que tudo indica bem longe da Lua. Em todo caso, segundo os planos americanos, seria estabelecida de início uma colônia de seis a doze pioneiros, que viveriam em abrigos subterrâneos para escapar da radiação cósmica e das mudanças de temperatura. Esses abrigos seriam formados por balões cheios de ar, cobertos de sacos de areia ou tijolos feitos de solo lunar. Com a energia obtida por células solares esses primeiros colonos da Lua, teriam calor e eletricidade.
A tecnologia necessária para a concretização desse sonho já existe. Num relatório sobre os possíveis caminhos do projeto espacial americano, uma comissão chefiada pela ex-astronauta Sally Ride afirma que entre 1995 e 2015 a NASA poderia enviar tripulações à Lua para, num prazo de trinta dias, instalar os equipamentos necessários a uma futura base permanente. Nessa primeira fase, todo o material usado na base, inclusive para a construção de abrigos, iria da Terra. Uma vez estabelecidos, diz o relatório, os astronautas ocupariam a base por mais duzentos dias, pesquisando minerais. Então estariam preparados para a auto-suficiência.
Esse primeiro oásis lunar serviria basicamente de trampolim para foguetes destinados a lugares mais distantes. Pois um dos principais obstáculos ao lançamento de naves interplanetárias a partir da Terra é a força gravitacional. Com a baixa gravidade da Lua, não seria mais preciso construir gigantes ainda maiores do que o Saturno 5, que impulsionou a nave Apolo à Lua. Aliás, na era dos ônibus espaciais reutilizáveis, como o Discovery, é difícil imaginar um foguete tão grande quanto o que seria necessário, por exemplo, para levar o homem a Marte. A Lua serviria também como depósito de combustível -- responsável por 70 por cento do peso de uma nave. O combustível, basicamente oxigênio líquido, seria extraído quimicamente do solo lunar. Do basalto, se retiraria água e resíduos sólidos. A água seria separada por eletrólise em hidrogênio e oxigênio.
Graças a baixa gravidade lunar também se poderia fabricar ligas metálicas impossíveis de obter na Terra pela diferença de densidade dos materiais. Teoricamente, um metal leve como o alumínio poderia fazer parte de uma nova liga, digamos, com chumbo, com propriedades ideais para um novo produto industrial. Há ainda estudos para a fabricação na Lua de cerâmicas supercondutoras. Atualmente, elas conduzem eletricidade sem perda de energia a temperaturas de 148 graus negativos. Na Lua, como essa temperatura existe em locais onde não bate sol, o processo fica mais fácil.
Remédios, cristais e outros produtos desconhecidos na Terra também poderiam ser fabricados ali. Experiências nesse sentido, por sinal, já foram realizadas nos laboratórios espaciais. A primeira viagem do ônibus espacial Discovery depois do desastre com a Challenger serviu entre outras coisas para testar a fabricação do AZT, droga usada no tratamento da AIDS. Enfim, a conquista da Lua não é ficção científica. O homem já tem uma bagagem de conhecimentos suficientes para a empreitada -- a questão é saber se há vontade de tocá-la.
O problema é complexo. De um lado, a colonização da Lua significaria dar seqüência prática ao "gigantesco salto para a humanidade", que foi, há vinte anos, a primeira alunissagem. Além disso, uma base lunar também daria à aventura espacial o sentido de permanência que não teve até hoje. Ou seja, montar casa na Lua equivaleria a cortar o cordão umbilical com a Terra. De outro lado, porém, resta saber se, na ponta do lápis, os eventuais benefícios dessa excitante cartada futurista compensariam o investimento de bilhões de dólares que talvez pudessem ser gastos para melhorar a vida na própria Terra.

Lendas lunáticas
Mesmo na era espacial há quem acredite que a Lua exerça poderosa influência sobre plantas, animais e seres humanos. Essa lenda provavelmente começou quando o homem pré-histórico imaginou que a sucessão das quatro fases da Lua - nova, crescente, cheia e minguante -- era um ato de vontade daquele corpo celeste, o único por sinal a não mostrar sempre a mesma imagem. Tratada como divindade, a Lua regeria a flutuação dos humores e emoções das pessoas. Sobreviveu até os dias de hoje, devidamente reforçada pela Astrologia, a crendice de que ela afeta o sistema nervoso, fertilidade e até a saúde dos cabelos. 
Durante a Lua cheia, que por coincidência também é a preferida dos lobisomens e mulas-sem-cabeça, aumentam os casos de loucura e os crimes passionais, as clínicas psiquiátricas recebem mais pacientes e nas maternidades cresce o número de partos. "Tudo bobagem", afirma o neurologista José Levy, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. "Não há qualquer estatística que comprove alteração do número de partos em qualquer fase da Lua", garante por sua vez o presidente da Sociedade Brasileira de Ginecologia, Thomas Gollop. E, para decepção dos que se preocupam com o viço dos cabelos, o dermatologista Mário Grimblat comunica: "Não faz a menor diferença a lua em que se corta o cabelo".

sábado, 14 de julho de 2012

Silêncio: Som demais - Ambiente



SILÊNCIO: SOM DEMAIS - Ambiente



Existem razões, além do risco de surdez, que tornam imperativo diminuir o barulho nas grandes cidades brasileiras. Existem também meios de conseguir isso.

As buzinas disparam, as sirenes apitam, as máquinas rangem, os motores roncam, as construções batucam, as motos rugem, os alto-falantes gritam, as pessoas berram. Essa orquestra, sem nenhuma harmonia, toca a estridente trilha sonora do cotidiano nas grandes cidades brasileiras. Não é difícil constatar que a cada dia essa permanente agressão aos ouvidos torna as pessoas mais surdas -- basta observar a freqüência com que é preciso elevar a voz para se fazer entender numa conversação. Se isso já não bastasse, os cientistas garantem que a perda da audição é apenas parte dos males causados pela poluição sonora. Está provado que o barulho em excesso traz toda uma série de conseqüências perturbadoras para a saúde -- de insônia a partos prematuros de úlceras a perda de reflexos. E diante disso não se pode silenciar mesmo porque não faltam leis e técnicas contra o barulho.
Na hora de verificar onde o ruído fala mais alto, com os brasileiros, infelizmente, não há quem possa: Rio de Janeiro e São Paulo são, nessa ordem, as metrópoles mais barulhentas do mundo. Eis um resultado que seria melhor comentar baixinho do que festejar com rojões. Afinal, não é propriamente prova de vida civilizada o fato de que abrir a janela para certas ruas cariocas e paulistanas seja equivalente a estar no terraço de um aeroporto, ouvindo os jatos arranhar o ar. Oitenta por cento dessa barulheira infernal é causada pelos veículos, que também são os principais culpados pelo ruído de outras agitadas cidades do mundo.
Mas da cacofonia que machuca os ouvidos do pobre homem urbano fazem parte ainda outros tantos sons que resultam simplesmente da falta de educação. "Por causa dos carros, o barulho vai se espalhando pelas cidades", observa Ualfrido del Carlo, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. A lógica é a seguinte: como as ruas de muito trânsito não oferecem espaço para mais carros (e, conseqüentemente, para mais barulho), os motoristas passam a procurar cada vez mais caminhos alternativos, até então sossegados. "O silêncio habitará ilhas cada vez menores nos espaços urbanos", prevê Ualfrido, que pesquisa a questão do ruído há vinte de seus 46 anos.
Filho de um violinista, Ualfrido também queria ser músico, mas a vocação não soou bem ao pai, que preferia vê-lo com um diploma de faculdade. Formado afinal em Engenharia Eletrônica, Ualfrido só achou um jeito de se reencontrar a aptidão musical -- especializou-se em barulho, o que o levou ao urbanismo. A solução não é tão bizarra como pode parecer: para os ouvidos da ciência, uma sinfônica e uma batedeira em ação devem ser avaliadas pelos mesmos parâmetros. Pois, em termos estritamente físicos, todo som é simplesmente uma variação na pressão do ar, captada pela orelha.
Essa variação é causada pela vibração de corpos, que ao se deslocar alternadamente, provocam ondas acústicas a seu redor. Estas se diluem à medida que se afastam do ponto de origem e apenas se transformam em som ou sensação auditiva quando alcançam a orelha. O barulho é, portanto, subjetivo. No percurso, a onda acústica agita as moléculas de ar certo número de vezes -- e isso é justamente o que se chama freqüência do som, medida em hertz. Os infrasons, ondas acústicas com menos de 20 hertz, não são captados pelo homem nem por qualquer outro animal. 
Entre 20 e 200 hertz, o som é sentido como grave, e, entre 2.000 e 20.000 hertz, é percebido como agudo. Acima de 20.000 hertz existem os chamados ultra-sons, que apenas alguns animais, como cães e gatos, conseguem ouvir. Mesmo assim, a sensibilidade do ser humano à freqüência do som é admirável. O aparelho auditivo do homem pode ser comparado a uma balança que fosse capaz de pesar volumes de 1 quilo a uma tonelada. Nem todos os matizes sonoros, porém são captados com a mesma facilidade: o homem ouve melhor os sons médios, entre 200 e 2.000 hertz, que precisam de menos volume ou intensidade para serem percebidos. Como a voz humana.
"Por isso, nos grandes concertos de rock, as bandas abusam dos amplificadores de som", explica o urbanista Ualfrido del Carlo. "Só com muita intensidade de som a platéia consegue ir além dos sons médios, distinguindo os graves e os agudos da música. Fica tudo, então, no mesmo nível para o aparelho auditivo." O volume ou intensidade do som corresponde à amplitude das ondas acústicas, cuja unidade de medida é o 
decibel ( dB). Zero decibel só existe no papel dos livros de Física e em laboratórios de acústica, pois o silêncio absoluto não existe no mundo real.
Somente o ruído discreto de folhas carregadas pelo vento já equivale a 15 decibéis. Um segredo cochichado na orelha faz o dobro de barulho -- 30 decibéis. A fala humana, em tom normal, oscila em torno de 60 dB -- a metade do que o homem pode suportar sem que o barulho literalmente lhe estoure os tímpanos. Isso não significa que um grito que faz aparentemente o dobro de barulho, ensurdeça, porque o decibel é, na realidade, uma medida logarítmica. Ou seja: doze carros não fazem duas vezes mais barulho do que seis carros -- produzem apenas três decibéis de ruído a mais.
A dificuldade para os cientistas está em determinar em quantos decibéis começa exatamente o que se considera barulho. Por definição, barulho é todo som desagradável e neste ponto o problema torna-se bastante subjetivo -- depende até do local onde as pessoas se encontrem. Um trabalho do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP mostra que em casa, em salas de leitura ou em escritórios, as pessoas consideram o ambiente muito barulhento quando o som ultrapassa 50 decibéis, o ruído de um carro pouco ruidoso. Mas o trabalhadores de oficinas acham que, com essa mesma intensidade de som, o ambiente está calmíssimo -- para eles, por força do hábito, o inferno só começa a partir de 70 decibéis, o som da passagem de um trem de passageiros.
"Acima de 70 decibéis -- ou 90, para pessoas acostumadas com ambientes ruidosos --, o barulho começa a alternar as estruturas da orelha", diagnostica o médico Yotaka Fukuda, da Escola Paulista de Medicina. Segundo ele, nos grandes congestionamentos as pessoas ficam habitualmente expostas a até 100 decibéis. "Elas vão perdendo a audição tão gradualmente que nem notam", comenta. Numa orelha existem cerca de 20 mil células sensitivas que, submetidas ao impacto de um som muito alto, incham, dando a conhecida sensação de ouvidos tapados. Algumas perdem a resistência e estouram -- daí o dano é irreversível. O tempo de exposição ao barulho também conta: ninguém fica impunemente mais do que meia hora numa discoteca -- onde, em média, o som varia entre 107 e 115 decibéis.
Por isso, as danceterias americanas são obrigadas a afixar o seguinte aviso na porta: "Aqui você está sujeito à surdez". Segundo os cientistas, o humor e a sociabilidade das pessoas pioram quando o barulho golpeia o que se chama audição primitiva -- aquela que permite escutar o som dos próprios movimentos. Uma experiência numa universidade americana provou que o barulho faz diminuir o interesse pelos outros e as boas maneiras. Pequenos grupos de estudantes acompanharam o pesquisador num passeio pelo prédio; ao atravessarem determinado corredor, alto-falantes escondidos faziam soar um barulho; então o cientista deixava cair um livro: apenas seis em cada dez estudantes tomaram a iniciativa de pegá-lo. Repetida a experiência com outro grupo e dobrada a intensidade do barulho no corredor, só três em cada dez alunos resolveram catar o livro.
É provável que essa maior indiferença tenha a ver com a agressão sofrida pela chamada audição de alarme -- aquela que desencadeia uma série de reações fisiológicas destinadas a preparar o organismo para uma situação de risco. Ou seja, o choque sonoro, como o de um objeto caindo no chão, faz subir a produção do hormônio adrenalina, induzindo o indivíduo a concentrar a atenção na causa do barulho inesperado. Trata-se portanto de um recurso biológico de defesa. Com a atenção voltada para o ruído, sobra menos interesse para outros acontecimentos e outras pessoas.
Um estudo realizado pela Universidade de Düsseldorf, na Alemanha, mostra que os moradores de bairros industriais sofrem não apenas de distúrbios auditivos, como de sérios problemas cardíacos e digestivos, ao que tudo indica devido ao estado de estresse crônico imposto pelo barulho. Outra pesquisa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, indica que nem sequer os fetos ficam imunes a ambientes com muito estardalhaço. Equipamentos ultra-sensíveis permitiram saber que, a um som forte, a freqüência cardíaca dos fetos -- normalmente entre 130 e 150 batimentos por minuto -- pulava para até 170. Na mesma linha, pesquisadores canadenses verificaram que crianças cujas mães trabalharam em lugares muito ruidosos durante a gestação ouvem três vezes pior do que outras crianças.
Também são alterações hormonais e de pressão sanguínea as causas de algo que todos sabem por experiência própria: barulho tira a capacidade de concentração. Os franceses, por exemplo, descobriram que alunos de colégios situados em ruas calmas conseguem memorizar até quatro vezes mais o conteúdo das aulas. Além disso, sons intensos demais diminuem a rapidez dos reflexos.
Por estranho que seja ouvir isso, apesar de tudo os cientistas acreditam num futuro mais silencioso -- pelo menos no que depender de soluções tecnológicas. Uma delas são os equipamentos de antibarulho que já estão sendo testados em laboratórios na Europa e nos Estados Unidos para futura instalação em indústrias, aeroportos e outros locais ruidosos. Trata-se de computadores capazes de analisar a onda acústica que produz o som indesejável e de sintetizar outro som, igualmente ruidoso, mas cuja onda é o oposto daquela que faz o barulho. Quando as duas ondas opostas se chocam no ar, todo e qualquer barulho desaparece (SUPERINTERESSANTE, Nº 2 , ano 1).
Há soluções bem mais simples, como as apontadas pelo arquiteto João Baring, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP. "No Brasil, as pessoas acham que barulho não tem remédio, mas isso não é verdade", diz ele. "Poucos sabem que existem, entre outros recursos, janelas acústicas, com um dispositivo de lã de vidro num dos lados, que deixa passar o ar, mas absorve as ondas sonoras." Segundo Baring, as construtoras não usam esses equipamentos "porque não existe interesse na própria sociedade". Em países como a França e a Suíça, tais recursos são obrigatórios nas edificações em lugares barulhentos.
Toda tecnologia antibarulho não sairá dos centros de pesquisa enquanto a sociedade não pedir silêncio. "Podemos fiscalizar casas noturnas e impor medidas de proteção acústica. Não podemos, porém, impedir que as pessoas saiam de lá falando alto, em plena madrugada", exemplifica o arquiteto Baring. Ele dirige, por sinal, a equipe que elabora um projeto destinado a melhorar a Lei do Silêncio, em vigor em São Paulo desde 1974. Mesmo com imperfeições, a legislação de combate à poluição sonora nas cidades brasileiras poderia ser muito mais acionada para melhorar a qualidade de vida, se houvesse da parte de autoridades e cidadãos disposição para tanto.
Há, decerto, neste mundo moderno, coisas inevitavelmente barulhentas, cujo uso poderia ser restringido a boa educação; o exemplo clássico é a buzina. E há coisas não necessariamente barulhentas, cujo uso inadequado as torna uma agressão ao próximo, pela falta de educação dos donos; é o caso típico das motos com escapamento aberto e dos aparelhos de som no volume máximo. Isso tem conserto. Há dez anos, Tóquio era a capital mundial do barulho. Iniciou-se então ali uma campanha que apelava principalmente para o bom senso das pessoas. Diariamente a televisão local advertia: "Caro telespectador, são 22 horas. Por favor, reduza o volume ao mínimo". Os japoneses devem ter obedecido a essa e a outras regras simples de convivência silenciosa, tanto que, embora seja a terceira mais populosa cidade do mundo, com 8,5 milhões de habitantes, hoje Tóquio é apenas a décima na lista das metrópoles mais barulhentas -- aquela mesma que apresenta São Paulo em segundo lugar e Rio de Janeiro em primeiro.

O caminho das ondas 

Alguém fala  suas cordas vocais vibram a ponto de deslocar o ar sob a forma de ondas. Quando elas alcançam o aparelho auditivo do receptor, existe ainda um longo caminho, embora percorrido em frações de segundo, até que se transformem em sensação sonora. A porta de entrada é o pavilhão auditivo, que é apenas parte da orelha. Nessa estrutura cartilaginosa há músculos, provavelmente menos desenvolvidos que no homem primitivo -- este terá sido capaz de apontar a orelha na direção da fonte sonora, como fazem os cães e os cavalos.
Na chamada orelha externa (que inclui o pavilhão auditivo), a onda sonora percorre um canal com cerca de 2,5 centímetros; é o conduto auditivo, que termina na abertura para a orelha média. Essa abertura é barrada por uma membrana, o tímpano, que vibra como um gongo quando atingida pela onda acústica. Então, o martelo -- o pequeno osso ao qual o tímpano está ligado -- se move e serve de alavanca para um segundo osso, a bigorna, que por fim movimenta o estribo, o menor osso do corpo humano. Toda essa agitação de ossinhos, aliada ao dado de que as ondas sonoras só podem sair por uma passagem 25 vezes menor do que o tímpano, serve para concentrar o som. É preciso aumentar bastante o volume do que se ouve.
Afinal, as ondas sonoras bateram no meio líquido da orelha interna, onde, como o impacto amortecido de uma pedra ao bater num lago, só 0,01 por cento do som é absorvido. O líquido preenche um labirinto em forma de caracol. Dentro dos canais do labirinto existem células sensitivas com 35 a 140 cílios cada. A vibração no líquido agita os cílios, que então disparam um sinal elétrico para o conglomerado de células nervosas no eixo do caracol. Dali, transformada em onda elétrica, a onda acústica percorre o nervo auditivo até o córtex cerebral, onde o ser humano não só percebe o som como o interpreta.

A Ciência vai ao parque - Física



A CIÊNCIA VAI AO PARQUE - Física



Os projetistas das montanhas-russas usam princípios descobertos há pelo menos 300 anos para criar os mais vertiginosos percursos, deixando os passageiros até de cabeça para baixo, a 100 quilômetros por hora.

Com uma mistura de entusiasmo e apreensão, os passageiros do pequeno vagão vêem o alto dos trilhos se aproximar lentamente. Atingindo o cume, começa uma arrepiante sucessão de abismos abruptos, curvas inesperadas e subidas de tirar o fôlego. Tudo isso acontece em cerca de dois minutos numa montanha-russa --embora para os passageiros pareça uma eternidade. O objetivo dos projetistas, naturalmente, é criar o trajeto mais emocionante, de modo a proporcionar o maior número possível de sobressaltos por metro de viagem, sem o menor risco -- pois nisso está toda a graça do brinquedo. A velocidade dos carros parece muito maior que a real, pela proximidade  dos trilhos e os apavorantes loops não passam de bem planejadas estruturas, tudo graças ao concurso das leis da Física.
Começa o passeio e o pequeno vagão é lentamente puxado até o ponto mais alto da montanha-russa. Quanto mais alto for esse ponto, maior será a energia do carro -- no caso, trata-se da energia potencial, que ao se transformar em energia cinética durante a descida aumentará progressivamente a velocidade do vagão. Qualquer objeto levantando do solo contém energia potencial, criada pela força da gravidade. Mas a corda de um relógio por exemplo, ou um pedaço de elástico esticado também possuem energia potencial armazenada. Em Física clássica, energia potencial e energia cinética são as duas faces da energia mecânica.
A palavra energia foi usada pela primeira vez num texto científico em 1807 pela Royal Society inglesa, por sugestão do médico e físico Thomas Young (1773-1829). Outra de suas idéias brilhantes, mas que permaneceu despercebida nos arquivos da ciência, foi a definição de energia como a capacidade de realizar trabalho, ou seja, deslocar determinada massa por uma distância. Essa definição é o ponto-chave para a compreensão do conceito -- e também para se entender os segredos da montanha-russa. Depois de ultrapassar o topo do ponto de partida, o vagão escorrega em desabalada viagem ladeira abaixo sem a ajuda de motores ou máquinas, como um carrinho de rolimã ou um skate.
Durante o trajeto, a energia mecânica do vagão é também utilizada de forma inteligente -- ela serve para mover uma série de geradores que fornecem eletricidade às lâmpadas que iluminam a montanha-russa. A energia excedente é canalizada para os acumuladores (baterias), onde é convertida em energia química. Esta poderá ser novamente transformada em eletricidade, sempre que necessário. Alguém poderia pensar que assim se obtém energia de graça. Mas, como dizia Lord Keynes em relação aos fatos da economia, nada é gratuito no Universo -- a energia necessária para o guincho puxar o vagão até o início do percurso é muito superior à energia gerada na descida. A diferença transformou-se em calor.
O mesmo acontece com uma bola de pingue-pongue: ao ser largada sobre uma superfície qualquer, voltará quase à altura original e irá quicando cada vez mais até parar na superfície. Se não houvesse perdas, a bola voltaria sempre à altura inicial, mas a energia se dissipa sob a forma de calor. Uma das mais importantes propriedades da energia -- com lugar cativo nas montanhas-russas -- é o intercâmbio entre suas várias formas. Os físicos não conseguem imaginar uma exceção sequer à regra de que qualquer forma de energia pode ser convertida em outra. No caso da  montanha-russa, o  movimento das rodas gera eletricidade. São elas ainda as responsáveis pela velocidade desenvolvida.
A única força capaz de deter o trem é o atrito. Na ausência total de atrito, os passageiros embarcariam numa viagem sem fim, subindo e descendo os obstáculos incansavelmente (desde, é claro, que tenham sido levados até o início do trajeto). Por outro lado, se o atrito fosse máximo, o trem não sairia do lugar. As rodas, embora consigam diminuir grande parte do efeito do atrito, não chegam a eliminá-lo. Por esse motivo, todos os veículos de detêm após certo tempo. Descobrir o mistério que mantém os corpos em movimento sempre foi um dos maiores desafios para a ciência. Suponha-se que, cessada a força, cessasse também o movimento.
Mas, em 1638, o físico italiano Galileu Galilei deduziu que a suposição era falsa. Quatro anos mais tarde nasceria o homem que resolveria de vez a questão -- o inglês Isaac Newton (1642-1727). A lei da Inércia, ou Primeira Lei de Newton, diz que um corpo permanecerá no estado em que estiver até que alguém venha dar-lhe um impulso. Mas o que aconteceria com o corpo se, no lugar do impulso, fosse empurrado continuamente? Essa força produziria um aumento progressivo na sua velocidade. É a aceleração, descrita na Segunda Lei de Newton. No parque de diversões, em queda livre, o vagão sofre a ação da força da gravidade, portanto acelera. No entanto, não cai na vertical, mas percorre um longo plano inclinado, disfarçado pelos vales e picos do trajeto. 
Eliminando-se as curvas para a direita ou para a esquerda numa montanha-russa, seu perfil poderia ser traçado dentro de um triângulo retângulo, apoiado no seu maior cateto; o cateto oposto seria o ponto de partida. Dali em diante, encontraria uma série de ondulações cada vez menores. Todas as curvas que servem para fazer o vagão voltar ao ponto de partida têm um desenho circular. Já os vales e picos seguem um trajeto parabólico, assim como a imagem espelhada do movimento de uma bola que cai da borda de uma mesa.
"A vantagem da trajetória parabólica", explica o físico Ernst Hamburger, da Universidade de São Paulo, "é que o componente horizontal do movimento não é afetado; assim, toda energia é utilizada para vencer as ladeiras do percurso e não para tocar o vagão adiante. "A velocidade obtida na descida é usada para superar a próxima subida. E é tão elevada a velocidade desses carrinhos que, antes ainda da primeira curva, os freios precisam entrar em ação. Eles nada mais são que pontos de grande atrito e, numa montanha-russa moderna, estão permanentemente acionados -- pois, na posição de repouso, freiam os vagões.
Nos primeiros modelos, do começo do século, um funcionário era encarregado de frear o carro quando ele se aproximava de pontos predeterminados. "Nos trechos de alta velocidade dos modelos atuais, um mecanismo desengata os freios; havendo algum  problema, automaticamente o vagão é brecado ao voltarem os freios à posição desligada", explica o engenheiro Laerte de Souza, responsável pelos equipamentos do Playcenter, em São Paulo. Nesse instante, a pastilha do freio que está junto aos trilhos morde uma lâmina de metal que sai da lateral dos vagões, aplicando o atrito máximo para impedir o movimento. A energia mecânica do vagão é assim transformada em calor. 
Boa parte das inovações adotadas nos últimos anos nos parques de diversões se deve não à Física ou à Matemática, mas aos materiais empregados. Antigamente, as montanhas-russas eram de madeira. Hoje são de aço e necessitam muito menos manutenção. Importante também é a nova configuração dos trilhos - são tubulares; um par de rodas como que abraça os tubos de cada lado, permitindo movimentos muito mais bruscos em alta velocidade. Os novos trilhos liberaram a imaginação dos projetistas. Munidos de computadores, eles conseguem criar os mais extravagantes projetos. "Com o computador é possível saber o que vai acontecer, antes mesmo de desenhar o percurso no papel", festeja Bill Cobb, um projetista de Dallas, nos Estados Unidos.
Outro grande aliado dos engenheiros é o acelerômetro, um pequeno instrumento que, levado na mão do passageiro, permite medir a intensidade e a direção das forças em diversos pontos do percurso. As leituras são feitas em g, que representa o valor da aceleração da gravidade. Os pilotos de jatos, quando obrigados a manobras mais arriscadas, conseguem suportar até 11 g - onze vezes a força da gravidade -- antes de perder a consciência. Os acelerômetros são bastante usados pelos desenhistas que se dedicam a renovar montanhas-russas antigas, a fim de torná-las mais seguras.
Naqueles modelos, é o comum os acelerômetros indicarem valores até mesmo negativos em certos pontos, principalmente nas pequenas lombadas. Isso que dizer que o passageiro perigosamente, perde o contato com o assento. As lombadas são então corrigidas para até 0,3 g -- três décimos da gravidade. Com isso o passageiro se sentirá mais leve, mas não sairá da cadeira. "A tecnologia tornou possível submeter o passageiro às mais incríveis acrobacias, consideradas impossíveis há dez anos", afirma Randy Geisler, presidente da Associação dos Entusiastas de Montanhas-Russas, com sede em Chicago, ouvido por NÓS nos Estados Unidos.
O motivo de tanto arrebatamento é um novo traçado: o loop, que permite ao carrinho ficar literalmente de cabeça para baixo. Fazer um trem viajar de ponta-cabeça era uma velha aspiração dos projetistas. A primeira tentativa ocorreu no século passado, em Coney Island, Nova York, no ano de 1887. Mas o que parecia ser a escolha mais lógica -- o círculo de 360 graus -- não funcionou. O problema é que, quando o vagão entra em alta velocidade num círculo perfeito, a subida é muito brusca, gerando uma força centrífuga de tal intensidade que pressiona os passageiros violentamente contra o assento. No topo ocorre o inverso: o carro desacelera subitamente e se a velocidade cair abaixo de certo limite, a gravidade irá puxar os passageiros de seus assentos, quando estiverem de cabeça para baixo.
A solução matemática para esses inconvenientes já existia, porém, desde o longínquo ano de 1744. Uma curva especial, chamada clotóide, ou espiral de Cornu, havia sido descoberta então por um dos mais prolíficos e geniais matemáticos de todos os tempos, o suiço Leonhard Euler (1707-1783). Mas só em 1977 os projetistas se deram conta de que a curva de Euler era a solução perfeita -- o seu raio variável controla a velocidade do vagão, de acordo com a Lei da Conservação do Momento Angular. Esta se manifesta, por exemplo, quando se gira uma pequena pedra na ponta de um barbante, de modo a fazê-la enrolar no dedo indicador. À medida que diminui o barbante, aumenta a velocidade.
Assim, o vagão entrando num loop em forma de gota move-se a uma velocidade inferior à que teria num círculo, diminuindo também a força centrífuga sobre os passageiros. No topo, o raio da curva é bem menor. com isso, o vagão gira mais rápido do que num círculo. Cria-se uma força centrífuga mais elevada, capaz de superar a atração da gravidade, o que mantém os passageiros seguros nos assentos. Essa inovação permitiu loops bastantes altos, já que os carros não perdem velocidade. O maior loop do mundo, com 40 metros de altura, é o da montanha-russa chamada Shock Wave (Onda de Choque), em Illinois, Estados Unidos.
A Shock Wave é também a mais alta e mais veloz montanha-russa do mundo: o ponto inicial do passeio está a 52 metros de altura (o equivalente a 17 andares); logo em seguida vem uma queda de 47 metros, quando a velocidade chega a 113 quilômetros por hora. O grande loop é apenas o início de uma série de enlouquecidas manobras que duram 2 minutos e 20 segundos. No total, os passageiros ficam sete vezes de cabeça para baixo. "É uma loucura", orgulha-se seu criador, Ronald Toomer, ex-desenhista de foguetes, responsável também por uma série de inovações na construção das montanhas-russas americanas.
Pelo visto, não é um brinquedo para qualquer um. Paul Ruben, um americano fanático por montanhas-russas, a ponto de editar uma revista sobre o assunto, confessa que não suportou mais de cinco voltas seguidas na Shock Wave. "Depois, comecei a sentir tudo estranho por dentro", disse à SUPERINTERESSANTE. O único loop existente no Brasil, o do Tivoli Park, no Rio de Janeiro, a rigor é um parafuso: não gira no mesmo plano, mas se desenvolve como um saca-rolhas. Sua altura é inferior a 10 metros e a velocidade máxima é de 80 quilômetros por hora. A montanha-russa do Playcenter de São Paulo tem 12 metros de altura e alcança 70 quilômetros por hora.
Os especialistas, como Toomer e Ruben, apontam uma diferença fundamental entre as montanhas-russa tradicionais e as que possuem um loop: nas primeiras, pequenos carrinhos transportam sucessivamente até quatro passageiros; já no segundo tipo, um só comboio leva té 28 passageiros. Segundo os físicos, não é preciso maior massa para vencer o loop. Mas os projetistas usam a massa do comboio, por exemplo, para ajudar a vencer o atrito de uma roda defeituosa e completar a volta. Do mesmo modo, nem todas as modificações baseadas na Física garantem total segurança - o cinto e outros equipamentos similares devem ser usados, ainda que a própria força centrífuga mantenha o passageiro firmemente grudado no assento.
A Terceira Lei de Newton, também conhecida como a Lei da Ação e Reação, pode também explicar que tipo de forças atuam durante o loop. Ela diz que, para toda a força exercida sobre um corpo, surge outra igual, em sentido contrário. No interior de um parafuso, como o do Tivoli Park, o passageiro sofre uma aceleração centrífuga de 2 g, ou seja, seu peso dobra. Segundo a Terceira Lei de Newton, se os trilhos não segurassem o vagão, ele sairia voando pelo espaço. A reação (centrípeta) de apoio do trilho sobre o carrinho equivale à força (centrífuga) com que o carrinho comprime o trilho.
As montanhas-russas são tão científicas que muitas escolas levam os alunos aos parques de diversões para uma verdadeira aula experimental de Física. Adepto dessa prática é o físico Moacyr Ribeiro do Valle Filho, da Universidade de São Paulo. "As relações da Física estão presentes em todos os momentos da vida", teoriza ele. "Assim, em vez de aplicar um exemplo para cada fenômeno, resolvi estudar todos os fenômenos presentes num determinado exemplo. Moacyr Ribeiro, que justamente prepara uma tese de doutorado sobre o uso do parque de diversões nas aulas de Física, tem um ponto de vista muito claro sobre o que faz a graça do brinquedo: "O apoio visual é indispensável, já que todas as forças envolvidas somente variam a pressão do passageiro contra o assento. Um cego numa montanha-russa não acharia o passeio muito extraordinário".

Uma história só de altos

As estruturas de madeira, cobertas de gelo e neve, que os russos do século XVII usavam para deslizar no inverno, são o primeiro registro que se tem de montanha artificial para divertimento do público. As maiores e mais populares eram as de São Petersburgo, na época a capital do império russo, que tinham adeptos tanto entre o povo quanto entre a aristocracia. Em 1804, os franceses copiaram a idéia, com algumas modificações: o gelo foi eliminado e as lâminas do tobogã substituídas por rodinhas. A primeira a funcionar em Paris foi chamada apropriadamente  montagne russe.
Em 1884, o inventor americano LaMarcus A. Thompson melhorou a versão francesa fazendo os carrinhos deslizarem por uma superfície ondulada. Sua montanha alcançava quase 10 quilômetros por hora na descida - um espanto, na época. Os passageiros tinham de saltar para que os atendentes empurrassem o carrinho até o topo da segunda inclinação, onde os passageiros tornavam a embarcar. A partir de 1900 surgiram as montanhas-russas mais modernas, aproveitando a própria energia acumulada na subida.
Em seguida, veio a forma fechada, para deixar os passageiros no mesmo ponto de onde partiram, e todas as variações de percurso, como o "8", por exemplo. Foi o projetista americano Ronald Toomer quem, em 1975, conseguiu pela primeira vez colocar um carrinho de cabeça para baixo, usando um grande parafuso. Na hora do teste inicial ele ficou só olhando já que odeia os rápidos movimentos das montanhas-russas e outros equipamentos dos parques de diversões: "Passo mal", justifica-se ele.

De onde vem a violência - Comportamento Humano



DE ONDE VEM A VIOLÊNCIA - Comportamento Humano



Os cientistas entram em conflito: o homem é violento por natureza ou a sociedade é que o faz assim?    

O sangue é expelido com vigor em direção aos locais onde é mais necessário - o cérebro, para o raciocínio rápido, e os músculos, que devem trabalhar a plena capacidade. Não falta energia para o combate, pois o fígado passa a sintetizar mais açúcar. Também se aceleram os processos de coagulação, reduzindo as conseqüências de possíveis perdas de sangue. Estas são as reações de qualquer mamífero, incluindo o homem, quando numa situação de luta. Instintivamente, o corpo se prepara para o ataque, diante de qualquer ameaça - real ou imaginária. Essa vontade de brigar tem raízes biológicas?    Eis uma grave questão, que coloca os cientistas em conflito, prontos para reagir agressivamente. Como qualquer ser humano, eles estão dispostos a defender vigorosamente suas posições, neste caso de maneira inglória - pois a rigor ninguém sabe ao certo por que se dá um soco. Um modo de tentar saber é olhar os bichos. Existem, entre os animais, diversos tipos de agressividade. A mais conhecida é a predatória, que faz um carnívoro matar para comer. Em algumas espécies que vivem em grupo, como os elefantes, brigas feias também surgem na defesa do território de cada um. Além disso, a agressividade pode aparecer na disputa pela fêmea - garanhões trocam coices e patadas por uma bela égua, por exemplo.    Existe ainda a agressividade dominante, imposta por um líder justamente para evitar desentendimentos entre os liderados. Nos ratos, há sempre um indivíduo que domina o grupo: diante de qualquer desordem, ele se aproxima e faz gestos ameaçadores, como se fosse atacar. Nunca chega às vias de fato, mas a encenação inibe os animais que desejam brigar entre si. "A mais intensa agressividade é a da mãe na defesa dos filhotes. Devido a mudanças hormonais após o parto, qualquer fêmea vira uma leoa", acredita o professor Frederico Graeff, da Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto, um dos raros especialistas brasileiros num ramo relativamente novo da ciência, a Psicobiologia.    Há quase vinte anos, Graeff estuda as reações biológicas da agressividade. Fica difícil, contudo, comparar uma mulher a uma leoa. "O potencial biológico da agressão existe no ser humano", ele sustenta, "mas esse potencial mudou bastante durante a evolução. principalmente desde que o homem saiu de seu ambiente natural e passou a construir seu habitat - a selva de pedra das cidades." Essa mudança de ambiente, para o psicobiólogo, teve séries conseqüências. Numa briga entre lobos, para comparar, o perdedor oferece o pescoço. O gesto é suficiente para desencadear automaticamente uma série de reações fisiológicas no vencedor que aplacam a sua ira.      Nos animais de uma mesma espécie, a expressão de medo e submissão costuma provocar esse efeito calmante. Mas os homens, como se sabe, são capazes de matar sem se abalar pelo olhar de súplica de suas vitimas. "Seria ingenuidade afirmar que isso é instinto biológico, pois aí o que agiu foi a cultura", opina Graeff. A idéia de que o homem tem uma fera dentro de si, ou seja, possui uma incorrigível tendência biológica a agir agressivamente, não é nova, mas virou moda no final da década de 60, com as teorias do austríaco Konrad Lorenz, um dos criadores da Etologia, ciência que compara o comportamento dos animais.    Para Lorenz, a agressão é desencadeada quando o animal observa algumas características - chave de um rival potencial. Isso seria suficiente para provocar um ataque cego, mesmo que o outro seja mais forte. Se por algum motivo o ataque não se consumar, a raiva se acumulará como numa espécie de reservatório, até que algo ou alguém sirva de gota d´água, fazendo transbordar de uma só vez a agressividade reprimida. Se assim fosse, o homem nunca deveria reprimir seus impulsos agressivos. Seria ruim para ele e pior para os outros - porque sua violência ficaria ainda maior a longo prazo..    Ocorre, porém, que justamente a capacidade de governar suas emoções - boas ou más - é que distingue o homem dos outros animais e permite, apesar de tudo, a vida em sociedade. O etólogo austríaco diz que não é preciso ensinar um animal a brigar. Mas parece que não é bem assim. Cientistas ingleses descobriram que galinhas criadas isoladas umas das outras não adquiriram a noção de perigo: em vez de fugir, passaram a atacar inimigos muito mais potentes, como cachorros. E macacas também criadas em isolamento atacaram os machos da própria espécie, sem permitir maiores aproximações.    Segundo os cientistas, isso mostra que Lorenz tinha razão ao afirmar que a agressividade é instintiva, pois ninguém perde a oportunidade de brigar; mas errou ao negar a importância do aprendizado. "Ao que consta, é o meio que modula a agressividade e ensina os seres a usá-la dentro do contexto", acredita o psicólogo Luiz Cláudio Figueiredo, da Universidade de São Paulo. Especialista em comportamento, ele também discorda de Lorenz quanto à possibilidade de se acumular a agressividade na pessoa. Existem até experiências negando a teoria de que a agressividade se acumula.    Peixes mantidos em isolamento - logo, impedidos de brigar - tornam-se mais pacíficos, o que indica que não há reservatório biológico algum acumulando gotas de ira. Se existisse, os peixes estariam transbordando de raiva, pois isolados não podem dar vazão à agressividade. Por outro lado, as pesquisas apóiam Lorenz quando ele relaciona os impulsos agressivos a mudanças hormonais. O nível de hormônios do estresse - que preparam o corpo para grandes esforços - aumenta até 400 vezes em ratos, durante uma briga. Os hormônios sexuais masculinos também parecem ter grande importância para as espécies em que a propagação passa necessariamente pela competição sexual. Ratos castrados, por exemplo, perdem quase toda a agressividade.    Mas os hormônios não se acumulam e depois se dispersam, como supõe o cientista austríaco. "Estou convencido de que a agressividade tem muitos aspectos biológicos", admite o psicólogo Luiz Cláudio Figueiredo. "Em laboratório, faço ratinhos brigar por comida e assim seleciono sucessivamente os vencedores. Os filhotes destes costumam ser bem mais agressivos", conta. "Da mesma maneira, observo que existem pessoas naturalmente mais agressivas do que outras, embora tenham recebido a mesma educação e as mesmas influências do ambiente."    "De fato, há uma predisposição genética para a agressividade", confirma o geneticista Oswaldo Frota-Pessoa, da Universidade de São Paulo, conhecido por investigar em que medida o comportamento humano é herança biológica. Mas ele adverte: "Não existe um gene que seja única e exclusivamente responsável por uma crise de cólera". Segundo Frota-Pessoa, durante a evolução, os genes dos indivíduos de qualquer espécie que agiram mais adequadamente em relação ao meio foram perpetuados. "Por isso, como a maioria das características físicas e comportamentais normais, a predisposição para a agressividade também é transmitida por um grupo de genes." Ou seja, estes apenas determinam a probabilidade de a pessoa ser agressiva. O resto é com a vida.    "Alguém com alta predisposição para a violência e que vive num meio violento é claro que terá maiores oportunidades de agir com agressividade, exemplifica o geneticista.Mas uma educação ultrapacífica diminui as chances de qualquer um ser agressivo. O ambiente e a biologia interagem." A idéia de interação é partilhada com a antropóloga paulista Carmem Cinira Macedo, que pesquisa a questão da violência. "Nos últimos anos, houve uma tendência a tratar a violência como um fato natural", analisa. "Assim é cômodo pensar que bandido é bandido e não vale a pena tentar corrigi-lo."    Ela cita um trabalho clássico da antropóloga americana Margareth Mead (1901-1978), que se preocupou em verificar se de fato o homem é mais agressivo do que a mulher. A antropóloga estudou três sociedades primitivas africanas: na primeira, tanto homens quanto mulheres eram muito agressivos; na segunda, ambos os sexos eram extremamente dóceis; na última, as mulheres eram bem mais agressivas. "Logo, os padrões de agressividade são dados pela cultura", conclui Carmem. "Para ser aceito pelo grupo, o indivíduo tende ou a reprimir ou a exacerbar os impulsos agressivos, sempre conforme os valores vigentes. O controle da sociedade parece ser a única forma eficaz de conter a agressividade, sejam quais forem as suas raízes". observa.    Para o sociólogo paulista Sérgio Adorno, que há catorze anos pesquisa a marginalidade, "as pessoas sempre agirão agressivamente. A questão é fazer com que essa agressividade permaneça num nível tolerável. O preço de viver em sociedade é controlar os impulsos". Em alguns países, como na Inglaterra, tenta - se deliberadamente desestimular o suposto instinto agressivo dos seres humanos. As crianças inglesas não encontram revólveres nas prateleiras de lojas de brinquedos nem assistem a filmes e desenhos de super - heróis que fazem justiça com muito sangue.    Isso certamente não faz dos ingleses modelos de pacifismo, como bem sabem os torcedores de futebol de toda a Europa. De todo modo, o desestímulo à violência como forma de resolver as diferenças entre as pessoas deve fazer-se acompanhar de alternativas inofensivas ao exercício da agressividade, pois o homem é o único animal capaz de dar um sentido positivo a seus impulsos agressivos. Segundo os psicólogos, quando se participa de competições esportivas ou mesmo quando se trabalha com afinco, é a agressividade que está sendo colocada para fora.    Só o homem também é capaz de deixar para amanhã o que não deve fazer hoje - agredir o próximo. Mas a capacidade de dissimular acaba às vezes revestindo a agressividade humana de sua pior forma - a vingança minuciosamente planejada. Um animal irracional pronto para agredir não disfarça - rosna, mostra garras e dentes afiados. O homem, ao contrário, pode pronunciar palavras ásperas com voz doce e mansa. Tudo isso, para os cientistas, torna muito complicado definir o comportamento agressivo humano exclusivamente a partir de uma de suas duas heranças - a genética ou a cultural. Uma coisa é certa, pelo menos para nós, humanos da era atômica: a lei do mais forte, Ievada até o fim, pode cobrar um preço que a espécie não terá jamais como pagar. 

O caso do Y a mais    

Para alívio das mulheres, no final da década de 60 cientistas americanos levantaram a hipótese de que a tendência à violência era herdada no cromossomo Y, que só os homens têm. A teoria surgiu após os exames em um policial americano que, sem motivo aparente, entrou no alojamento de um hospital, em julho de 1966, e matou oito enfermeiros. Os pesquisadores imaginaram ter encontrado uma justificativa genética para o crime, pois o policial era um homem com XYY, ou seja, enquanto um homem normal tem apenas um par de cromossomos XY (os outros 22 pares seriam XX), o assassino tinha dois pares; A descoberta estimulou - exames presidiários - e de fato surgiram mais casos de XYY. Parecia estar nisso a chave para explicar por que algumas pessoas são extremamente agressivas.
    Recentemente, porém, a hipótese foi derrubada. Estudos realizados em pessoas comuns mostraram que um cromossomo Y adicional torna o homem mais alto, desengonçado e inseguro, mas não necessariamente mais agressivo. Comenta o geneticista Carlos Alberto Moreira, do Instituto de Ciências Biomédicas de São Paulo: "Com uma amostragem apenas de presidiários, é claro que qualquer um que fosse encontrado por lá - XY ou XYY - tenderia a ser muito agressivo". 

Thomas Edison - O Gênio da Lâmpada



THOMAS EDISON, O GÊNIO DA LÂMPADA



O mais fértil inventor de todos os tempos criou o fonógrafo, a lâmpada elétrica, o projetor de cinema e aperfeiçoou o telefone. Traçou desse modo o perfil do mundo de hoje.    

Decididamente, o professor não gostava dele. "O garoto é confuso da cabeça, não consegue aprender", queixava- se o reverendo Engle daquele menino de 8 anos, agitado e perguntador, os cabelos eternamente despenteados, que se recusava a decorar as lições, como faziam todos os alunos - e ainda por cima ouvia mal. Naquele ano de 1855, o reverendo Engle era o único professor da única sala de aula da cidadezinha de Milan, no estado americano de Ohio, perto da fronteira com o Canadá - e, assim, o implacável diagnóstico fulminou, três meses depois de ter começado, a carreira escolar do estudante Thomas Alva Edison. Foi irremediável: nunca mais ele voltaria a freqüentar um lugar de ensino.    Pode-se especular por toda a eternidade que diferença teria feito para a história pessoal de Edison se ele tivesse tido um professor menos bitolado, que não confundisse excesso de curiosidade com falta de inteligência. É bem possível que as rotinas da educação arcaica terminassem por asfixiar a desmedida vontade de saber daquele aluno irrequieto - e, isso sim, poderia ter feito enorme diferença para o perfil dos tempos modernos. Pois raras pessoas ajudaram tanto a esculpir o mundo atual como Thomas Alva Edison, o inventor da lâmpada elétrica e do fonógrafo, do microfone e do projetor de cinema, para citar apenas as de maior repercussão entre as literalmente mil - e - tantas utilidades que ele criou ou aperfeiçoou ao longo de uma vida trabalhada virtualmente sem tréguas quase até o final de seus 84 anos.    Edison foi a encarnação mais que perfeita do supremo mito americano do self made man - o homem que principia de baixo e apenas pelos próprios méritos termina coberto de glória e fortuna. Edison e os Estados Unidos parecem ter nascido um para o outro. Em 1865, quando acaba a guerra civil entre o Norte e o Sul, que matou 617 mil americanos, Edison tem 18 anos e ganha a vida como telegrafista. Em 1929, quando a quebra da Bolsa de Nova York anuncia os anos negros da Depressão, ele já passou dos 80 e festeja meio século da criação da lâmpada elétrica. Entre essas duas datas, os Estados Unidos deram um salto sem precedentes. A explosão capitalista, que criou em tempo recorde um país vertiginoso, exigia incessantes inovações técnicas. E a tecnologia, ao produzi-las, acelerava ainda mais o ritmo das mudanças em todos os setores. Num país insaciavelmente ávido por novidades, Edison esteve sempre no meio dessa roda-viva.Ele provavelmente não teria ido muito longe se não tivesse tido a mãe que teve.    Ex-professora, casada com um pequeno comerciante chamado Samuel Edison, Nancy sentia por Thomas especial carinho, talvez por ter sido ele o caçula de seus sete filhos, três falecidos em criança, todos bem mais velhos que o menino. Além de afeto, Nancy tinha suficiente sensibilidade para perceber que não havia nada de errado com Al - a culpa, ela sabia, era da escola que o rejeitava. E assim passou a educá-lo em casa, cercando-o de livros de História e Ciência, peças de Shakespeare e romances de Charles Dickens.    O filho não a decepcionaria. Leitor apaixonado pelo que lhe caísse nas mãos, apreciava especialmente escritos científicos. Não contente em ler, sentia necessidade de repetir as experiências mostradas nos livros de Química, acabando por montar em casa um pequeno laboratório. Os tempos, porém, eram difíceis para Samuel Edison, que a essa altura já se havia mudado com a família, em busca de melhores oportunidades, para Port Huron, Michigan, junto à fronteira canadense. Não só para pagar os materiais necessários a suas experiências mas principalmente para ajudar no sustento da casa, Al arranjou emprego no trem diário que ligava Port Huron a Detroit, a futura capital mundial do automóvel.    Eram três horas e meia para ir, outras tantas para voltar e seis horas entre uma viagem e outra - tempo mais que suficiente para vender a bordo frutas, balas, bombons, biscoitos e chocolates (na ida), tudo isso mais a edição vespertina do Free Press, o principal jornal de Detroit (na volta), e ainda para longas sessões de leitura, seja no bagageiro do trem, seja na biblioteca pública da cidade. Tempo suficiente também para experiências no laboratório que Al foi instalando a bordo, no sacolejante bagageiro, com a benevolente cumplicidade do chefe do trem, seduzido pelo espírito empreendedor daquele garoto mal-ajambrado de 12 anos.
    Naquela época, o que fascinava os americanos, mais ou, menos como hoje o computador, era a eletricidade, cujos segredos começaram a ser desvendados pelo inglês Michael Faraday e o alemão Simon Ohm cerca de trinta anos antes de Edison nascer. Mas o que fascinava especialmente o rapaz era uma aplicação específica da eletricidade - o telégrafo, inventado nos anos 1830 pelo americano Samuel Morse, em honra de quem passou a ser chamado o código de pontos e traços usado para a transmissão de mensagens por impulsos elétricos através de fios. A imprensa e o telégrafo capturaram a imaginação de Al. Com o dinheiro que Ihe rendia a venda de guloseimas e jornais, comprou em Detroit uma impressora de terceira mão para publicar um mal escrito semanário de avisos e fofocas, The Weekly Herald, O Arauto Semanal, inteiramente produzido por ele próprio no trem.    As possibilidades abertas pelo telégrafo para a difusão instantânea de notícias não escaparam ao jovem Edison, naqueles anos em que os americanos ansiavam por informações das furiosas batalhas da guerra civil. Aos 15 anos, solitário e tímido, não sabia se queria ser jornalista ou telegrafista. Por ora ganhava dinheiro com o jornalismo e a telegrafia, vendendo por preços exorbitantes os papéis impressos em Detroit com as notícias mais quentes da guerra.    Um belo dia, o balanço do trem derrubou os frascos do laboratório e uma das traquitandas químicas pôs fogo no bagageiro. Assim que conseguiu controlar o incêndio, o chefe da composição arremessou para fora o inflamável material de pesquisa junto com o desconcertado pesquisador - não sem antes aplicar-lhe severo corretivo. Das muitas lendas inventadas sobre a carreira de Edison, talvez a mais popular atribui à sova que levou naquele infausto dia de 1862 a surdez quase total que o acompanhou vida afora. Na verdade, seus problemas de audição vinham desde os 6 anos. causados pela escarlatina que o atacou então. No máximo, a agressão no trem pode ter agravado a deficiência.    Despejado, perambulou pelos Estados Unidos, aprendendo e praticando telegrafia. Revelou-se em pouco tempo um operador de primeira. Mas a rotina do trabalho o enfastiava e ele combatia o tédio passando trotes; assim, quando não se demitia, acabava demitido. Em dado momento, resolveu com dois outros companheiros ser telegrafista no Brasil. Como o navio em que deviam partir de Nova Orleans atrasou muito, desistiu da idéia. Os amigos embarcaram; consta que acabaram morrendo de febre amarela. Por essa época, compra de segunda mão os dois volumes de Pesquisas experimentais em eletricidade, do inglês Faraday, por sinal também um autodidata, onde se demonstra como a energia mecânica pode se converter em eletricidade.    O livro parece ter tido um impacto excepcional sobre seu inquieto leitor. Com 21 anos, telegrafista em Boston, morando num quarto de pensão transformado num misto de biblioteca e laboratório, Tom, como já era chamado, descobriu um rumo para a vida - ser inventor. "Tenho muito que fazer e o tempo é curto", teria dito a um companheiro de pensão. Vou arregaçar as mangas." O que ele entendia por arregaçar as mangas logo tomaria forma na invenção pela qual recebeu a primeira patente - uma máquina de votar para o Congresso dos Estados Unidos. Tratava-se, portanto, de um ancestral do sistema eletrônico de votação hoje usado em muitos parlamentos, inclusive no Brasil.    Edison conhecia eletricidade, mas não conhecia os políticos. Para sua imensa surpresa eles não manifestaram o menor interesse pela engenhoca. Já em Nova York, onde desembarcou sem um centavo no bolso, passou semanas a fio à custa de um ou outro conhecido. Sua dieta Iimitava-se a café com pastel de maçã. "Por sorte, eu gostava", lembraria anos mais tarde. Por um golpe do acaso, estava no lugar certo quando quebrou a máquina que transmitia pelo telégrafo as cotações do ouro na Bolsa. É claro que ele consertou a máquina em tempo recorde e é claro que foi recompensado com um emprego na companhia responsável pela divulgação do sobe-e-desce dos negócios com ouro. Logo Edison inventou um teletipo para registrar automaticamente numa fita de papel as cotações das ações na Bolsa. Ao oferecer o invento a um escritório de Wall Street, esperava receber por ele 5 mil dólares. Pagaram-lhe. sem que ousasse pedir tanto, 40 mil.    O dinheiro durou um mês, gasto todo ele em equipamentos para a firma de engenharia elétrica que montara com dois sócios numa velha loja perto do pátio da estação de bens de Jersey City. depois transferida para um casarão de três andares em Newark, também em Nova Jersey. Era o mais moço dos sócios, mas seu apelido era "o Velho". Morando em quarto alugado, sem se importar com sono, comida e roupas, começava o dia às 6 da manhã e só se recolhia depois da meia - noite. De negócios, entendia pouco e gostava menos. Vida social, tinha nenhuma. Trabalhava pelo prazer de remover os problemas no caminho de seus inventos, sempre pelo método do ensaio e erro.    Era persistente como um obcecado, paciente como um sábio. Entrou para a história a sua frase: "Gênio é 1 por cento inspiração e 99 por cento transpiração". Em 1876, aos 29 anos, construiu por conta própria aquilo que os historiadores consideram seu maior invento - o primeiro laboratório não universitário de pesquisas industriais de que se tem notícia. Instalada num casarão que ergueu num ermo do interior de Nova Jersey chamado Menlo Park, essa verdadeira fábrica de invenções antecipou em quase um século os centros de pesquisa mantidos por empresas multinacionais do porte da IBM, Dupont e AT&T. Ali, o patrão Edison trabalhava de igual para igual com o mais novato de seus empregados. Só não Ihe ocorria que algum deles pudesse ter uma atitude diversa da sua própria dedicação integral, irrestrita e exclusiva ao trabalho. Com esses era tirânico; em dias de mau humor despedia a torto e a direito.    No Natal de 1871 casou-se com uma jovem de 16 anos, Mary Stilwell, que trabalhava em Menlo Park perfurando fitas telegráficas. Diz a lenda que ele a pediu em casamento batendo em código morse numa moeda. Outra lenda diz que, saindo da igreja, deixou-a em casa e foi trabalhar até altas horas. É certo que a amava, embora o casamento viesse sempre em segundo lugar. Isso não mudou nem com o nascimento dos filhos. Apelidou a primeira, Marion, de Dot (ponto, em morse), Junior, o segundo, era Dash (traço). Havia ainda William, o caçula. Quando Mary morreu, aos 29 anos, de febre tifóide, o viúvo descobriu que eles Ihe eram estranhos. Um ano e meio depois, casou-se com Mina Miller, filha de um fabricante de equipamentos agrícolas de Boston, com quem viria a ter uma menina, Madeleine, e os meninos Charles e Theodore.    No dia 14 de janeiro de 1876, Edison avisou o Escritório de Patentes dos Estados Unidos que estava trabalhando num invento destinado a transmitir a voz humana por um fio elétrico. Exatamente um mês depois, um certo Alexander Graham Bell entrou com um pedido de patente para o telefone. No dia 10 de março, pela primeira vez o som da voz humana foi transmitido pelo aparelho patenteado por Bell. Seu telefone, porém, era ainda um artefato primitivo e Edison tratou de aperfeiçoá-lo. O que o desafiava era encontrar um material que convertesse o som da voz em corrente elétrica com mais clareza. Fiel a seu estilo, inventou cinqüenta aparelhos diferentes até dar-se por satisfeito com o transmissor à base de carbono em uso ainda hoje - e foi ele quem pela primeira vez gritou ao bocal, em vez do costumeiro "alguém aí?", simplesmente "alô".    Enquanto aperfeiçoava o telefone de Bell, ocorreu a Edison que, se o som podia ser convertido em impulsos elétricos. também deveria ser possível gravá-lo para ouvi-lo depois. Esboçou então um sistema que consistia em um diafragma, ou seja, uma membrana fina que vibrava quando atingida por ondas sonoras, uma agulha presa ao diafragma e um cilindro rotativo recoberto por uma folha de estanho. A vibração do diafragma se transmitia à agulha, que fazia um sulco na folha metálica. Esta, por estar presa ao cilindro acionado por uma manivela, girava. Terminada a gravação, fazia-se a agulha voltar ao ponto de partida. Mas então, ao girar-se a manivela, a agulha percorria a trilha do sulco; a vibração era transmitida ao diafragma, que assim reproduzia o som gravado. O próprio Edison inaugurou seu fonógrafo, ou "a máquina de falar", como ficaria conhecida no começo, recitando os versos da mais famosa canção infantil em língua inglesa: Mary had a little lamb" ("Mary tinha um carneirinho").    O fonógrafo fez de Edison, então com 31 anos, uma celebridade nacional - e desse pódio ele jamais desceria até morrer, meio século mais tarde. Apesar disso, o invento permaneceu praticamente tal e qual durante quase uma década. O próprio Edison e seus maravilhados contemporâneos não viam no fonógrafo aplicação comercial imediata. Ademais, Iogo a energia criativa do inventor se voltaria para outra direção - a luz elétrica. Naquele final dos anos 70, o uso da eletricidade para iluminação não era mais novidade. Já se conhecia a lâmpada de arco, que iluminava ao lançar em curva uma corrente entre duas hastes eletrificadas. Mas a luz era ofuscante, durava pouco e produzia tremendo calor.    Na época, as casas ainda eram iluminadas pela chama das velas, embora nas maiores cidades os lampiões de gás fossem amplamente usados nas ruas, teatros e grandes escritórios, mas, além de caro, o gás cheirava mal e não havia para ele um sistema geral de distribuição. Edison tinha na cabeça a idéia de conseguir uma luz suave como a do gás sem suas desvantagens. O resultado, a lâmpada elétrica, foi a invenção que Ihe daria mais problemas e trabalho. À primeira vista, o desafio parecia simples: tratava-se de achar um material que ficasse incandescente quando a corrente elétrica passasse por ele e fazer com esse material um fio fino, um filamento.    Como outros inventores, Edison acreditava que esse filamento precisaria ficar isolado dentro de um bulbo de vidro do qual o ar tivesse sido retirado, pois o oxigênio facilita a combustão. Mesmo no vácuo, porém, todas as dezenas e dezenas de filamentos diferentes testados pela equipe de Edison queimavam em poucos minutos. Durante mais de um ano, ele e seus assistentes faziam e testavam filamentos de todos os materiais possíveis e imagináveis. De experiência em experiência, chegaram ao fio de algodão carbonizado. Foi, literalmente, uma idéia luminosa. Acesa a 21 de outubro de 1879, a lâmpada brilhou 45 horas seguidas. Edison não pregou olho enquanto isso.    Quando, tendo já aperfeiçoado o invento, convidou um repórter do New York Herald para contar a boa nova, foi mais que uma consagração. Edison passou a ser chamado de mágico e gênio para cima. Tornara-se provavelmente o homem mais admirado do mundo. Mas a lâmpada era só meio caminho andado, se tanto. Era preciso criar, peça por peça, um sistema de geração e distribuição de eletricidade acessível a toda a população. Hoje em dia, quando tudo isso é rotina, pode-se ter apenas uma vaga idéia do tamanho da empreitada que permitiu a Edison produzir e distribuir energia elétrica a uma parte de Nova York em 1882.    A tarefa rendeu ao inventor nada menos de 360 patentes que o ajudariam a tornar-se milionário. Mas, como ninguém é perfeito, ele perdeu tempo e dinheiro teimando, contra todas as provas em contrário, que o melhor sistema de transmissão de eletricidade a longas distâncias era o da corrente contínua, na qual os elétrons fluem numa mesma direção. Durante muitos anos, sem base alguma, Edison dizia que o sistema de corrente alternada, no qual os elétrons fluem ora numa ora noutra direção, era ineficaz e perigoso. Ele chegou a eletrocutar animais para demonstrar os supostos riscos da corrente alternada - e só se rendeu depois que o sistema por ele condenado foi adotado em toda parte.    Uma das últimas invenções de Edison a marcar profundamente a civilização moderna foi o projetor de cinema, que ele chamava de cinetoscópio e estava para a imagem como o fonógrafo para o som. Patenteado em 1891, o aparelho era uma caixa de madeira dentro da qual havia uma lâmpada e um rolo de filme de fotografias com uma seqüência de imagens. Por um orifício na caixa via-se a grande ilusão: acionado por uma manivela, o filme rodava, dando a impressão de movimento. Em 1903, no primeiro estúdio de cinema dos Estados Unidos, em West Orange, Nova Jersey, ele produziu O grande assalto ao trem, o primeiro filme a contar uma história de ficção. Consagrado como "o mais útil cidadão americano", Thomas Alva Edison viveu intensamente até o fim. Apesar de todos os esforços, comparáveis aos que empregou para inventar a lâmpada, não conseguiu produzir o carro de seus sonhos - movido a eletricidade gerada por uma bateria. Entregou os pontos depois de 10 mil experiências e 1 milhão de dólares. Morreu em 1931, aos 84 anos, certo de algumas verdades básicas. Como a de que "pensar é um hábito que ou se aprende quando se é moço ou talvez nunca mais". No dia de seu enterro, todas as luzes dos Estados Unidos foram apagadas durante 1 minuto.