AO CÉREBRO O QUE É DO CÉREBRO
Um aroma insuportável se espalha pelo velho casarão de Beam Hall, em Oxford, Inglaterra. Com a ajuda de serrotes e tesouras, o médico Thomas Willis abre o crânio de um fidalgo decapitado. Matemáticos, astrônomos e alquimistas observam com atenção a experiência nunca antes realizada. Willis finalmente corta o último nervo, arranca o cérebro do morto e o levanta nas mãos para o assombro da platéia. Tem início a anatomia da alma.
Aquela reunião malcheirosa de 1662 havia se perdido na história, mas o jornalista americano Carl Zimmer a trouxe de volta no livro A Fantástica História do Cérebro (Campus). Zimmer narra a saga de Willis, que sepultou o reinado do coração e concedeu ao cérebro o título de comandante soberano do corpo. Ao dar à alma novo endereço, Willis fundou a neurologia. Mas não foi fácil: no século 17, a idéia de que carne gelatinosa em nossas cabeças pudesse raciocinar sem depender de Deus ia além do simples absurdo. Beirava a heresia.
Fascinado por ciência desde criança, Zimmer não imaginou que escreveria para revistas como Discover, Newsweek e National Geographic e o jornal The New York Times, além de publicar quatro livros. "Foi tudo uma questão de sorte", disse ele à Super, de sua casa em Connecticut. Thomas Willis diria que foi tudo obra de suas células cinzentas.
Pode a mente humana compreender o funcionamento da mente humana?
Com certeza. Meu livro mostra uma compreensão crucial que os cientistas tiveram no século 17: a de que a mente emerge de um processo químico dentro do cérebro. Hoje, temos ferramentas mais sofisticadas para encontrar essas conexões. Entendemos melhor como diferentes partes do cérebro constroem a imagem da árvore que vemos pela janela. Mas os cientistas estão apenas no começo e seria prematuro dizer que o problema está resolvido.
Como foi evolução das descobertas científicas sobre o cérebro?
Para Aristóteles, o cérebro era um refrigerador que mantinha o corpo frio e evitava que o coração esquentasse. Ele pensava que o coração era responsável por nossas sensações e percepções. Outros gregos descobriram o sistema nervoso, um avanço gigantesco, mas ninguém associava o cérebro ao que chamamos de mente. Muitos pensavam que ele era apenas uma bomba que expulsava espíritos do corpo. Na Idade Média, a Igreja combinou as idéias gregas com teologia cristã. Aprovou-se a visão de que o corpo servia de casa para três almas: a alma vegetativa do fígado, responsável pelos desejos; a alma vital do coração, produtora de calor e coragem; e a alma racional da cabeça. Essa noção foi quebrada no século 17, com o Círculo de Oxford, grupo liderado por Thomas Willis. Eles reconheceram o cérebro pelo que ele é de fato e inventaram uma nova ciência, que chamamos de neurologia.
Por que Thomas Willis foi esquecido?
Porque suas idéias vieram rápido demais. Willis teve visões impossíveis de seguir no século 17, pois as pessoas não tinham a tecnologia suficiente. Achavam que era especulação. Somente 200 anos depois aceitaram que o cérebro fosse o responsável por funções como memória e linguagem. Cientistas de hoje seguem as pegadas de Willis com scanners que podem tirar fotos do raciocínio. Registram marés microscópicas de sangue que suprem os neurônios do oxigênio consumido a cada sinal enviado às células vizinhas. Mas poucos sabem quem foi Willis. Na ciência, quem quiser ser famoso precisa torcer para que reconheçam logo seu trabalho. Ou será relegado à obscuridade.
Quais os maiores mistérios que persistem sobre o cérebro humano?
A memória é um deles. Podemos localizar circuitos para distintas formas de memória, mas não conseguimos explicar o que eles fazem. Imagine pessoas falando vários idiomas numa casa. Sabemos que algumas estão conversando no quarto, mas não sabemos o que estão dizendo. Mas o maior mistério é a consciência, que nos intriga sempre que dormimos ou ficamos sob efeito de anestesia. Há neurologistas que lidam com pessoas que sofreram danos e perderam a consciência de forma permanente, embora abram os olhos e reajam a estímulos. Elas podem ficar assim durante anos, e esses médicos não têm idéia do que as torna diferentes de nós.
Com tanto remédio para depressão, o cérebro se tornou a alma do século 21?
Thomas Willis pensava que o único caminho para curar as doenças da alma ou da mente era químico. Profundamente religioso, ele acreditava que suas poções alteravam os espíritos dentro do cérebro. O sucesso de drogas antidepressivas deriva da cultura neurocêntrica que Willis ajudou a criar, que coloca o cérebro no comando do corpo. A psicanálise era extremamente popular nos EUA nos anos 50 e 60, até sofrer um duro golpe do neurocentrismo. Hoje, muitos americanos tratam a depressão com um médico que receita drogas sem levar em conta suas experiências de vida. Esperamos que uma pílula pocure as doenças da alma. A idéia da depressão é confortadora para as pessoas porque distancia do problema central: tudo passa a ser culpa de uma deficiência de dopamina no cérebro que muito pouco tem a ver com nosso "eu".
O debate sobre a origem da moral se divide entre os"realistas", que crêem que julgamos pelo raciocínio, e os"intuicionistas", que dizem que as emoções determinam decisões sobre o que é certo e errado. De que lado você está?
Para entender como tomamos tais decisões, temos que nos distanciar da idéia de que tudo é criado através do poder da razão. Nossas emoções e reações são muito intensas e geralmente atuam mais rápido que o raciocínio. Suponhamos que seu cachorro morra atropelado. É certo cozinhá-lo para o jantar? A maioria dos americanos diria: "Oh, meu Deus, claro que não!". Comer um animal de estimação não faz parte de nossa cultura, mesmo que ninguém fique doente por isso. Poderão dizer que, se comermos nossos cães, começaremos a matar-nos uns aos outros. Quase sempre aplicamos valores racionais para a moral apenas depois que nossas intuições emocionais já atuaram. Essas intuições têm uma longa história evolutiva nos nossos ancestrais primatas.
Isso quer dizer que cada cérebro determina seu próprio padrão moral?
As pessoas não devem pensar que a moral não importa só porque descobrimos a evolução. Muitos cientistas afirmam que desenvolvemos nossa moralidade do mesmo jeito que desenvolvemos a linguagem. Os bebês não nascem falando português ou chinês. Nascem com instintos de linguagem e aprendem a falar o idioma do lugar onde vivem. Do mesmo modo, crianças que nascem com os instintos morais são influenciadas pelo sistema moral que as rodeia. Esses instintos são importantes, mas ainda assim temos que debater com nossos amigos para concluir o que é certo ou errado.
No futuro, será possível fazer um "upgrade" das funções executadas pelo cérebro com o auxílio de máquinas ou substâncias químicas?
Já fazemos isso. Ao escrever num notebook você está usando tecnologia para ampliar sua memória. Em breve, poderemos conectar eletrodos ao cérebro para que um computador leia nossos sinais e faça o que quisermos. Isso já deixou de ser ficção. O debate das substâncias químicas é mais sério. Drogas ajudam pessoas com o mal de Alzheimer a estender a memória e melhorar o raciocínio, ou seja, ajudam a restaurar o cérebro ao que ele era quando jovem. Mas e se você é jovem e toma essas drogas? É errado consumi-las para alterar o modo como pensamos, lembramos e sentimos? Deixamos de ser nós mesmos? Não sei responder. Emergimos de um processo químico que está em constante mudança dentro de nossas cabeças. O mesmo acontece com essas substâncias. Portanto, talvez não haja nada de errado com elas. O certo é que teremos que chegar a um acordo sobre esse tema no futuro.
PUBLICADOS BRASIL - DOCUMENTARIOS E FILMES... Todo conteúdo divulgado aqui é baseado em compilações de assuntos discutidos em listas de e-mail, fóruns profissionais, relatórios, periódicos e notícias. Caso tenha algo a acrescentar ou a retirar entre em contato. QSL?
terça-feira, 30 de novembro de 2010
No lugar certo, no instante exato - Fotografia
NO LUGAR CERTO, NO INSTANTE EXATO
O momento
Ele criou o conceito do "momento decisivo", o instante em que o Universo conspira a favor do artista, a essência de uma situação. O fotógrafo capta o mundo in flagrante, inconsciente do quanto a cena é reveladora - como esta, na Espanha, clicada em 1933
Surrealismo
Começou a fotografar em 1931 influenciado pela percepção do subconsciente dos surrealistas. "Acham que, para ser surrealista, é preciso colocar uma lata de lixo na cabeça", disse certa vez. "Sou o surrealista da realidade" (abaixo, o escritor André de Mandiargues, que flertou com o movimento).
Mudez
Acima, foto do psicanalista Carl Gustav Jung. Faz parte do livro de retratos Tête à Tête, publicado no Brasil pela Companhia das Letras. Bresson pregava que as imagens tinham de ser mudas. Precisavam falar ao coração e aos olhos e não deviam estar ligadas a um texto
Prendendo a respiração
Um dos segredos de seu trabalho era a concentração. Tirar uma foto era organizar as formas visuais para expressar seu significado. "É prender a respiração quando todas as faculdades convergem para a realidade fugaz", afirmava
Proporção áurea
Ele transformou a rude atividade do dia-a-dia em forma artística. Mais: humanizou a geometria, como nesta foto feita no México. "Eu não acredito em Deus", afirmou. "Creio, porém, em fi." Fi é o número grego que representa a proporção áurea, regra matemática que traduz a idéia de harmonia desde a Antiguidade
"O tempo corre e se esvai e somente a morte consegue alcançá-lo. A fotografia é uma lâmina que, na eternidade, captura o momento que a deslumbrou"
Henri Cartier-Bresson
O momento
Ele criou o conceito do "momento decisivo", o instante em que o Universo conspira a favor do artista, a essência de uma situação. O fotógrafo capta o mundo in flagrante, inconsciente do quanto a cena é reveladora - como esta, na Espanha, clicada em 1933
Surrealismo
Começou a fotografar em 1931 influenciado pela percepção do subconsciente dos surrealistas. "Acham que, para ser surrealista, é preciso colocar uma lata de lixo na cabeça", disse certa vez. "Sou o surrealista da realidade" (abaixo, o escritor André de Mandiargues, que flertou com o movimento).
Mudez
Acima, foto do psicanalista Carl Gustav Jung. Faz parte do livro de retratos Tête à Tête, publicado no Brasil pela Companhia das Letras. Bresson pregava que as imagens tinham de ser mudas. Precisavam falar ao coração e aos olhos e não deviam estar ligadas a um texto
Prendendo a respiração
Um dos segredos de seu trabalho era a concentração. Tirar uma foto era organizar as formas visuais para expressar seu significado. "É prender a respiração quando todas as faculdades convergem para a realidade fugaz", afirmava
Proporção áurea
Ele transformou a rude atividade do dia-a-dia em forma artística. Mais: humanizou a geometria, como nesta foto feita no México. "Eu não acredito em Deus", afirmou. "Creio, porém, em fi." Fi é o número grego que representa a proporção áurea, regra matemática que traduz a idéia de harmonia desde a Antiguidade
"O tempo corre e se esvai e somente a morte consegue alcançá-lo. A fotografia é uma lâmina que, na eternidade, captura o momento que a deslumbrou"
Henri Cartier-Bresson
Marcadores:
Arte,
Fotografia,
grafico,
imagem,
registro fotografico
E se humanos tivessem só um sexo ???
E SE... HUMANOS TIVESSEM SÓ UM SEXO?
Esqueça a briga pelo controle remoto e a fila para disputar o buquê de noiva. Ignore a passeata do orgulho gay e o Dia Internacional da Mulher. Abstenha-se de qualquer papo cujo objetivo seja discutir a relação a dois e deixe de lado aqueles livrinhos que promovem a conciliação entre o universo feminino e o masculino. Afinal, na sociedade do sexo único, todo mundo nasce igualzinho e ninguém faz sexo. As pessoas se auto-reproduzem.
Para garantir a sobrevivência da espécie o novo humano seria fisicamente parecido com a mulher. Isso porque o aparelho reprodutor delas é mais completo que o deles: além do útero, onde o feto se desenvolve, elas têm glândulas mamárias, que garantem alimento ao recém-nascido. "E são os hormônios femininos que permitem a gestação", diz Carlos Alberto Petta, professor de ginecologia da Unicamp. Mas, no lugar de um óvulo ou um espermatozóide com 23 cromossomos, o novo humano teria um "nóvulo" com 46 cromossomos. Com a carga genética completa, ele não precisaria de um parceiro para lhe fecundar e os seres simplesmente não fariam sexo.
O presidente da Associação Médica Brasileira de Sexologia, José Carlos Riechelmann, acredita que as mudanças seriam ainda mais radicais no assunto comportamento. Palavras como casal e amor não constariam do dicionário dessa sociedade. É que, em última instância, ao procurarmos uma namorada, nosso objetivo é levar nossa carga genética adiante. Mensagens apaixonadas e flores não passam de um ritual para apagar a luz e rolar na cama. O ser de sexo único não entraria nessa porque não precisaria de um parceiro para ter filhos. Diga aí, que tal a vida sem sexo, comédia romântica e jantar à luz de velas?
Além de chato, isso pode ser perigoso. Os seres auto-suficientes estariam em perigo de extinção por causa de sua pequena variabilidade genética. O sexo com fins reprodutivos é uma poderosa ferramenta evolutiva. É que a reprodução sexuada garante a troca de genes entre os parceiros e, portanto, permite a variabilidade genética de seus descendentes. "Sem sexo, os seres seriam clones uns dos outros e estariam extremamente frágeis às alterações do meio", esclarece Nilda Maria Diniz, professora do Departamento de Biologia da Universidade de Brasília (UnB). Então, trate de conciliar as diferenças...
Esqueça a briga pelo controle remoto e a fila para disputar o buquê de noiva. Ignore a passeata do orgulho gay e o Dia Internacional da Mulher. Abstenha-se de qualquer papo cujo objetivo seja discutir a relação a dois e deixe de lado aqueles livrinhos que promovem a conciliação entre o universo feminino e o masculino. Afinal, na sociedade do sexo único, todo mundo nasce igualzinho e ninguém faz sexo. As pessoas se auto-reproduzem.
Para garantir a sobrevivência da espécie o novo humano seria fisicamente parecido com a mulher. Isso porque o aparelho reprodutor delas é mais completo que o deles: além do útero, onde o feto se desenvolve, elas têm glândulas mamárias, que garantem alimento ao recém-nascido. "E são os hormônios femininos que permitem a gestação", diz Carlos Alberto Petta, professor de ginecologia da Unicamp. Mas, no lugar de um óvulo ou um espermatozóide com 23 cromossomos, o novo humano teria um "nóvulo" com 46 cromossomos. Com a carga genética completa, ele não precisaria de um parceiro para lhe fecundar e os seres simplesmente não fariam sexo.
O presidente da Associação Médica Brasileira de Sexologia, José Carlos Riechelmann, acredita que as mudanças seriam ainda mais radicais no assunto comportamento. Palavras como casal e amor não constariam do dicionário dessa sociedade. É que, em última instância, ao procurarmos uma namorada, nosso objetivo é levar nossa carga genética adiante. Mensagens apaixonadas e flores não passam de um ritual para apagar a luz e rolar na cama. O ser de sexo único não entraria nessa porque não precisaria de um parceiro para ter filhos. Diga aí, que tal a vida sem sexo, comédia romântica e jantar à luz de velas?
Além de chato, isso pode ser perigoso. Os seres auto-suficientes estariam em perigo de extinção por causa de sua pequena variabilidade genética. O sexo com fins reprodutivos é uma poderosa ferramenta evolutiva. É que a reprodução sexuada garante a troca de genes entre os parceiros e, portanto, permite a variabilidade genética de seus descendentes. "Sem sexo, os seres seriam clones uns dos outros e estariam extremamente frágeis às alterações do meio", esclarece Nilda Maria Diniz, professora do Departamento de Biologia da Universidade de Brasília (UnB). Então, trate de conciliar as diferenças...
Marcadores:
diferenças,
feminino,
homem,
homem e mulher,
humanidade,
humanos,
masculino,
sexismo,
Sexo,
sexualidade
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
B.Boy na fita - Break
B.BOY NA FITA - Break
BBoy (pronuncia-se bi-boi) E o nome de quem pratica o break, danca que representa um dos três elementos do Hip Hop - os outros Dois são o rap e o grafite. O termo e a abreviacao de Break Boying e foi criado no Bronx (bairro de negros e hispânicos de Nova York), na decada de 70, pelo DJ Kool Herc
Break
O break tem esse nome porque os praticantes dançavam na "quebrada" da música. Ou seja, nas batidas que os DJ´s criavam "colando" as faixas do vinil. O gênero sofreu influência do funk - especialmente dos passos de James Brown - e dos filmes de Kung fu
Grafiteiro
Derf (na escada) foi quem mandou bem no grafite. A arte é a expressão visual do Hip Hop. Originou-se em Nova York e na Filadélfia na década de 70 e era bastante usado em protestos e no metrô
Batalha
A competição entre BBoys chama-se batalha. Era disputada por gangues rivais do Bronx. Hoje, há campeonatos nos EUA, Europa, Brasil e até Japão. A batalha acontece entre dois grupos colocados frente a frente. Cada um tem de seis a oito membros e cada disputa dura seis minutos. Ganha quem dançar melhor, de acordo com os juízes
O Som
O grupo, que também pode ser formado por meninas (BGirls), tem roupas e atitudes próprias. A rua é o palco das apresentações. O rádio, um sound-system portátil, toca a trilha sonora (rap)
Moinho
Esse movimento faz parte dos power moves. Além deles, um BBoy de verdade tem de saber executar o top rock, o footwork e o freeze (ver abaixo)
Top Rock
Movimentos ritmados dos pés que funcionam como o cartão de visita do BBoy. É executado na apresentação, quando ele entra na roda, e serve para mostrar o seu estilo
Going Down
Essa parte é a transição do top rock para o footwork. Acompanhando o ritmo da música, o BBoy desce para exibir suas proezas no solo
Footwork
Conhecido também por sapateado, é o trabalho intenso com os pés ao mesmo tempo em que o corpo se movimenta em círculos com o apoio das mãos. É a base do BBoy
Flare
É mais um dos power moves. Bastante parecido com os movimentos dos ginastas. É executado no chão com o apoio das mãos. Os quadris ficam no ar e as pernas, separadas no alto
Freeze
Parada repentina entre uma seqüência de movimentos. Deve durar pelo menos dois segundos. Quanto mais difícil a posição escolhida, maior a nota dos juízes. Os freezes devem ser bem planejados para que não se saia do ritmo
BBoy (pronuncia-se bi-boi) E o nome de quem pratica o break, danca que representa um dos três elementos do Hip Hop - os outros Dois são o rap e o grafite. O termo e a abreviacao de Break Boying e foi criado no Bronx (bairro de negros e hispânicos de Nova York), na decada de 70, pelo DJ Kool Herc
Break
O break tem esse nome porque os praticantes dançavam na "quebrada" da música. Ou seja, nas batidas que os DJ´s criavam "colando" as faixas do vinil. O gênero sofreu influência do funk - especialmente dos passos de James Brown - e dos filmes de Kung fu
Grafiteiro
Derf (na escada) foi quem mandou bem no grafite. A arte é a expressão visual do Hip Hop. Originou-se em Nova York e na Filadélfia na década de 70 e era bastante usado em protestos e no metrô
Batalha
A competição entre BBoys chama-se batalha. Era disputada por gangues rivais do Bronx. Hoje, há campeonatos nos EUA, Europa, Brasil e até Japão. A batalha acontece entre dois grupos colocados frente a frente. Cada um tem de seis a oito membros e cada disputa dura seis minutos. Ganha quem dançar melhor, de acordo com os juízes
O Som
O grupo, que também pode ser formado por meninas (BGirls), tem roupas e atitudes próprias. A rua é o palco das apresentações. O rádio, um sound-system portátil, toca a trilha sonora (rap)
Moinho
Esse movimento faz parte dos power moves. Além deles, um BBoy de verdade tem de saber executar o top rock, o footwork e o freeze (ver abaixo)
Top Rock
Movimentos ritmados dos pés que funcionam como o cartão de visita do BBoy. É executado na apresentação, quando ele entra na roda, e serve para mostrar o seu estilo
Going Down
Essa parte é a transição do top rock para o footwork. Acompanhando o ritmo da música, o BBoy desce para exibir suas proezas no solo
Footwork
Conhecido também por sapateado, é o trabalho intenso com os pés ao mesmo tempo em que o corpo se movimenta em círculos com o apoio das mãos. É a base do BBoy
Flare
É mais um dos power moves. Bastante parecido com os movimentos dos ginastas. É executado no chão com o apoio das mãos. Os quadris ficam no ar e as pernas, separadas no alto
Freeze
Parada repentina entre uma seqüência de movimentos. Deve durar pelo menos dois segundos. Quanto mais difícil a posição escolhida, maior a nota dos juízes. Os freezes devem ser bem planejados para que não se saia do ritmo
A Ilha que cresce - Havaí
A ILHA QUE CRESCE - Havaí
Quem foi para o Havaí e gostou tem mais um motivo para ficar feliz: a ilha está em fase de ampliação. Ela tem aumentado de território graças a um vulcão que está ativo desde 1983, o Kilauea. Daquele ano até hoje, a lava que ele despeja no mar fez a ilha crescer 3 milhões de metros quadrados - o equivalente a 316 campos de futebol. E vem mais por aí, só que daqui a bastante tempo: dentro de 50 mil anos, uma nova ilha, Lo’ihi, deve surgir na região. Atualmente, ela é apenas um vulcão escondido a 1 000 metros de profundidade, mas que não pára de crescer.
Famoso pela praia, sol, garotas dançando com colares de flores e ondas, muitas ondas, Havaí é o nome do 50o estado americano e também o da maior das oito ilhas que compõem o arquipélago. É um dos lugares habitados mais distantes dos continentes, a cerca de 2 400 quilômetros dos Estados Unidos. Mas por que existe um lugar assim, isolado no meio do oceano Pacífico? Porque essas ilhas são os pedaços de terra mais jovens de nosso planeta, resultado de erupções vulcânicas que começaram no fundo do mar há cerca de 70 milhões de anos e continuam até hoje (para comparar, os continentes terminaram de se formar há 200 milhões de anos). Havaí, a ilha mais recente, tem apenas 1 milhão de anos. Abriga cinco vulcões - o mais ativo deles é o Kilauea. Parece que alguém esqueceu uma torneira aberta: a lava sai de uma fenda na montanha e escorre tranqüila e impassível, buscando frestas entre a lava seca liberada nos dias anteriores. Às vezes, porém, a "torneira" é aberta com mais força, arrastando tudo o que está no caminho. Um espetáculo inesquecível, que nos faz lembrar que a Terra é um ambiente em permanente mutação e cujos processos mais básicos estão longe do controle humano - mas ao nosso alcance para serem observados e admirados.
Quem foi para o Havaí e gostou tem mais um motivo para ficar feliz: a ilha está em fase de ampliação. Ela tem aumentado de território graças a um vulcão que está ativo desde 1983, o Kilauea. Daquele ano até hoje, a lava que ele despeja no mar fez a ilha crescer 3 milhões de metros quadrados - o equivalente a 316 campos de futebol. E vem mais por aí, só que daqui a bastante tempo: dentro de 50 mil anos, uma nova ilha, Lo’ihi, deve surgir na região. Atualmente, ela é apenas um vulcão escondido a 1 000 metros de profundidade, mas que não pára de crescer.
Famoso pela praia, sol, garotas dançando com colares de flores e ondas, muitas ondas, Havaí é o nome do 50o estado americano e também o da maior das oito ilhas que compõem o arquipélago. É um dos lugares habitados mais distantes dos continentes, a cerca de 2 400 quilômetros dos Estados Unidos. Mas por que existe um lugar assim, isolado no meio do oceano Pacífico? Porque essas ilhas são os pedaços de terra mais jovens de nosso planeta, resultado de erupções vulcânicas que começaram no fundo do mar há cerca de 70 milhões de anos e continuam até hoje (para comparar, os continentes terminaram de se formar há 200 milhões de anos). Havaí, a ilha mais recente, tem apenas 1 milhão de anos. Abriga cinco vulcões - o mais ativo deles é o Kilauea. Parece que alguém esqueceu uma torneira aberta: a lava sai de uma fenda na montanha e escorre tranqüila e impassível, buscando frestas entre a lava seca liberada nos dias anteriores. Às vezes, porém, a "torneira" é aberta com mais força, arrastando tudo o que está no caminho. Um espetáculo inesquecível, que nos faz lembrar que a Terra é um ambiente em permanente mutação e cujos processos mais básicos estão longe do controle humano - mas ao nosso alcance para serem observados e admirados.
Nó da Matemática
NÓ DA MATEMÁTICA
Um certo William Thomson inventou essa história. Em 1860, esse físico irlandês idealizou um modelo para a estrutura dos átomos. À época, existiam duas correntes que tentavam descrever a matéria. Uma dizia que toda ela era formada por pequenos corpos rígidos, a outra sustentava que era constituída por ondas. Alguns fenômenos da natureza reforçavam a primeira teoria, outros davam razão à segunda. No geral, nenhuma das duas parecia muito certa. Thomson unificou ambas com uma idéia engenhosa: a matéria não é formada nem de corpúsculos sólidos nem de ondas. Ela é feita de nós. Nós: não o pronome da segunda pessoa do plural, mas aqueles prosaicos arranjos de cordas no espaço que usamos para fixar gravatas e firmar sapatos.
De acordo com a teoria de Thomson, o Universo é formado por um imenso oceano de um fluido invisível chamado "éter". Os átomos seriam como vórtices nesse fluido. Cada vórtice seria como um nó. Os elementos químicos seriam então os diferentes tipos de nós. O átomo de carbono não passaria de um nó trevo, o oxigênio seria um nó oito e assim por diante.
Era uma teoria interessante, que fez sucesso por algumas décadas. Vinte e cinco anos depois, nasceria o dinamarquês Niels Bohr, o físico que ganhou o prêmio Nobel de 1922 pela criação daquele modelo atômico que estudamos no colégio, com elétrons girando sem parar em volta de núcleos formados de nêutrons e prótons. Bohr mostrou que não havia nó nenhum no coração da matéria. Thomson ficaria na história - não com seu nome de batismo, mas com o título de nobreza que recebeu em 1866 da rainha Vitória, da Inglaterra: lorde Kelvin. Ele foi um pioneiro da termodinâmica, concebeu a lei de conservação de energia e criou a escala de temperatura absoluta - depois batizada de escala Kelvin. Mas sua teoria dos nós passou bem longe do alvo. E, depois disso, foi esquecida pelos físicos.
Não serve pra nada?
Mas nem todos os cientistas esqueceram a teoria dos nós. Alguns deles continuaram fascinados por ela. Em especial, os matemáticos. Para eles, um nó não é um cordão enrolado, é "uma curva no espaço, fechada e que não se auto-intersecta". Nós são arranjos espacias únicos e a vida de alguns matemáticos - em especial aqueles dedicados a uma área chamada "topologia" - é estudar arranjos espaciais. Matemáticos têm mesmo um jeito estranho de ver o mundo.
Um deles, por exemplo, o americano J.W.H. Alexander, descobriu nos anos 1920 que nós nada mais são do que a junção das duas pontas de uma trança. Explica-se: pegue uma tesoura e corte a trança de sua irmã. Depois, junte as extremidades, talvez com superbonder. Os nós científicos não passam disso. (Para não causar um incidente familiar, o experimento pode ser feito com aquelas tranças de mussarela).
Tranças, menina, mussarela... Certo, até que é bonitinho. Mas para que serve isso mesmo? Bem... Não serve para nada. Mas serve para tudo também. "A matemática estuda tudo e nada, ao mesmo tempo", diz o russo Alexei Sossisnky, autor de Knots - Mathematics with a Twist ("Nós - Matemática com uma Torcidinha" sem versão para o português). Nada, porque os matemáticos ocupam-se apenas de abstrações, como números, equações diferenciais, polinômios, figuras geométricas. Tudo, porque qualquer coisa, qualquer objeto da realidade material, pode ser explicado de acordo com os teoremas matemáticos. Basta que os cientistas descubram a lógica à qual elas obedecem.
A matemática é a ciência básica por excelência. Em geral, os matemáticos não se preocupam com aplicações práticas, mas sim com a construção do conhecimento. E, pelo amor de Deus (ou de Newton), não questione a utilidade disso. Lembre-se de que tanto o computador no qual escrevo essas linhas quanto o walkman no qual você escuta música jamais existiriam sem a ciência básica. Pois então. Desde a humilhação de Kelvin e de seu modelo de matéria, a teoria dos nós foi relegada a esse reino, o da ciência básica.
Como bem conhecem marinheiros, alpinistas e escoteiros, há dezenas, centenas de tipos de nós, com nomes singelos como frade, simples, oito, ladrão... Há até um nó de nome "singelo". Os nós estudados pelos matemáticos da teoria dos nós são esses mesmos. Só que eles estão em um plano abstrato. A linha que os amarra, por exemplo, pode ser infinita. E também finíssima, permitindo inúmeros cruzamentos e amarras.
A partir daí, os nós são usados para descrever nosso mundo, de modo semelhante ao que fazemos com os números. Lembre-se que números também são abstrações, idéias criadas pelo homem, só que a lógica que eles seguem é perfeita a ponto de fornecerem a medida de praticamente tudo. Pense na sua saúde financeira ou no último exame de sangue. Sem números seria impossível medir essas coisas.
A idéia dessa área da ciência é usar nós para abstrair conceitos que não podem ser reduzidos a números - e, assim como eles, os nós poderiam ser usados para "traduzir" a natureza. Isso não é fácil porque as propriedades matemáticas dos nós nem foram completamente definidas, como as dos números. Até hoje não existe, por exemplo, uma forma de colocar nós em ordem crescente ou decrescente. Também não há uma regra que consiga diferenciar, em todos os casos, um nó de outro. Está justamente aí o grande desafio dos pesquisadores. Enquanto essas coisas não forem resolvidas, não haverá uma "teoria geral dos nós" e ficará difícil encontrar aplicações para essa ciência.
Isso apesar dos esforços de Horst Schubert, o alemão que, no final dos anos 1940, descobriu relações intrigantes entre os nós e a aritmética. Por exemplo, ele percebeu que a "soma" de um nó com outro (chamada composição) é similar à multiplicação matemática. Há, por exemplo, um nó parecido com o número 1 da multiplicação (o nó trivial). Ou seja, ele pode ser "associado" a qualquer outro nó sem alterá-lo, assim como 2 x 1 = 2. Os nós também podem ser fatorados em "primos", aqueles números (2, 3, 5, 7, 9, 11...) que só são divisíveis por 1 (ou por um "nó trivial") e por eles próprios.
Schubert demonstrou também que certas propriedades numéricas não existem para os nós (ou estão ainda além de nossa compreensão). Uma delas, já contada aqui, é a de que eles não têm ordem crescente nem decrescente. Outra é que não podem ser divididos em partes unas (4 = 1 + 1 + 1 +1). Por isso mesmo, embora úteis para sua compreensão, os estudos do alemão não serviram a uma classificação total dos nós. Seus colegas, na época, viam Schubert como um adepto da "arte pela arte", cujo campo de estudo, por mais interessante que fosse, não nos levaria a lugar nenhum.
Outro pesquisador importante da área foi o igualmente alemão Kurt Reidemeister. Reidemeister avançou muito nas pesquisas ao inventar um jeito novo de estudar nós. Sua idéia foi torná-los bidimensionais - ou simplesmente projetar sua estrutura tridimensional em uma folha de papel, facilitando sua compreensão. No final dos anos 1920, o alemão percebeu que alguns movimentos se repetem sempre que se tenta transformar um nó em outro. Nasceram aí os famosos (entre os matemáticos) "movimentos de Reidemeister".
Nós genéticos e quânticos
Pois justo quando os cientistas começaram a acreditar que os nós não passam de ciência básica, sem aplicação prática, algumas pesquisas começaram a mudar essa maré. Em 1973, um matemático inglês ocupado em descrever o comportamento dos nós propôs um experimento imaginário que envolvia a prosaica dupla tesoura-e-cola. John Conway resolveu alterar a orientação dos cruzamentos de um nó cortando e colando os fios que o compõem (veja no infográfico à esquerda).
É uma brincadeira fácil, basta que você imagine um cruzamento de fios como um "X". Um "X" é composto por dois traços na diagonal, um sobre o outro, certo? Então, você corta o traço que está por baixo, transfere-o para cima e depois cola de novo. Pronto, você alterou o cruzamento dos fios e realizou o primeiro dos movimentos de Conway, chamado de flip. O segundo, smoothing, é ainda mais simples. Você corta os traços do "X" e depois cola os dois separadamente, então o cruzamento é desfeito e você obtém dois traços assim: )( . Essas operações podem ser aplicadas a todo e qualquer nó. Conway estava interessado em "ciência pura". Não passava por sua cabeça que algo "útil" saísse daí. Mas...
Seus movimentos são idênticos aos que acontecem na fita do DNA (estimulados por enzimas) na hora da troca de material genético. E isso quer dizer que, se algum dia o comportamento dos nós for desvendado por completo pela teoria matemática, há grandes chances de os biológos conseguirem terminar de montar o quebra-cabeça da genética.
Mas outra descoberta chocou ainda mais os cientistas - em especial os físicos, aqueles mesmos que renegaram a teoria dos nós de Kelvin. Sabe quando um comentarista esportivo dispara o clichê "essas coisas só acontecem no futebol", como quando um sujeito marca um gol contra e, logo em seguida, salva seu time com o gol de empate? Pois então, a história que segue é um daqueles casos "que só acontecem na ciência mesmo". Tem a ver com os quanta (plural de quantum), a base da física quântica. Os quanta são a menor quantidade de qualquer coisa possível no Universo - sua existência nunca foi verificada experimentalmente, mas é prevista pela teoria. Eles são ainda mais básicos - e menores - que os elétrons, prótons e nêutrons que compõem o modelo de átomo de Niels Bohr.
Pois uma dupla de cientistas - C.P.N. Yang e R.J. Baxter - , um estudando grupos quânticos, outro procurando entender o comportamento dos gases, descobriu independentemente uma mesma equação: a equação de Yang-Baxter, que ajuda a explicar os movimentos desses misteriosos quanta. Pois bem, os dois chegaram à conclusão de que esses movimentos são idênticos a um daqueles descritos pelo matemático alemão Reidemeister nos anos 1920. Ou seja: os quanta se comportam como nós!
O mais legal é que o principal criador da física quântica foi justamente o mesmo Niels Bohr que derrubou a teoria dos nós do lorde Kelvin. No final das contas, por meios tortos, Bohr acabou devolvendo aos nós o privilégio de ajudar a explicar toda a matéria que existe no Universo. Depois de tudo isso peço que você, caro leitor, preste mais atenção ao atar o cadarço do seu sapato. Ali pode estar a chave de uma revolução científica.
Um certo William Thomson inventou essa história. Em 1860, esse físico irlandês idealizou um modelo para a estrutura dos átomos. À época, existiam duas correntes que tentavam descrever a matéria. Uma dizia que toda ela era formada por pequenos corpos rígidos, a outra sustentava que era constituída por ondas. Alguns fenômenos da natureza reforçavam a primeira teoria, outros davam razão à segunda. No geral, nenhuma das duas parecia muito certa. Thomson unificou ambas com uma idéia engenhosa: a matéria não é formada nem de corpúsculos sólidos nem de ondas. Ela é feita de nós. Nós: não o pronome da segunda pessoa do plural, mas aqueles prosaicos arranjos de cordas no espaço que usamos para fixar gravatas e firmar sapatos.
De acordo com a teoria de Thomson, o Universo é formado por um imenso oceano de um fluido invisível chamado "éter". Os átomos seriam como vórtices nesse fluido. Cada vórtice seria como um nó. Os elementos químicos seriam então os diferentes tipos de nós. O átomo de carbono não passaria de um nó trevo, o oxigênio seria um nó oito e assim por diante.
Era uma teoria interessante, que fez sucesso por algumas décadas. Vinte e cinco anos depois, nasceria o dinamarquês Niels Bohr, o físico que ganhou o prêmio Nobel de 1922 pela criação daquele modelo atômico que estudamos no colégio, com elétrons girando sem parar em volta de núcleos formados de nêutrons e prótons. Bohr mostrou que não havia nó nenhum no coração da matéria. Thomson ficaria na história - não com seu nome de batismo, mas com o título de nobreza que recebeu em 1866 da rainha Vitória, da Inglaterra: lorde Kelvin. Ele foi um pioneiro da termodinâmica, concebeu a lei de conservação de energia e criou a escala de temperatura absoluta - depois batizada de escala Kelvin. Mas sua teoria dos nós passou bem longe do alvo. E, depois disso, foi esquecida pelos físicos.
Não serve pra nada?
Mas nem todos os cientistas esqueceram a teoria dos nós. Alguns deles continuaram fascinados por ela. Em especial, os matemáticos. Para eles, um nó não é um cordão enrolado, é "uma curva no espaço, fechada e que não se auto-intersecta". Nós são arranjos espacias únicos e a vida de alguns matemáticos - em especial aqueles dedicados a uma área chamada "topologia" - é estudar arranjos espaciais. Matemáticos têm mesmo um jeito estranho de ver o mundo.
Um deles, por exemplo, o americano J.W.H. Alexander, descobriu nos anos 1920 que nós nada mais são do que a junção das duas pontas de uma trança. Explica-se: pegue uma tesoura e corte a trança de sua irmã. Depois, junte as extremidades, talvez com superbonder. Os nós científicos não passam disso. (Para não causar um incidente familiar, o experimento pode ser feito com aquelas tranças de mussarela).
Tranças, menina, mussarela... Certo, até que é bonitinho. Mas para que serve isso mesmo? Bem... Não serve para nada. Mas serve para tudo também. "A matemática estuda tudo e nada, ao mesmo tempo", diz o russo Alexei Sossisnky, autor de Knots - Mathematics with a Twist ("Nós - Matemática com uma Torcidinha" sem versão para o português). Nada, porque os matemáticos ocupam-se apenas de abstrações, como números, equações diferenciais, polinômios, figuras geométricas. Tudo, porque qualquer coisa, qualquer objeto da realidade material, pode ser explicado de acordo com os teoremas matemáticos. Basta que os cientistas descubram a lógica à qual elas obedecem.
A matemática é a ciência básica por excelência. Em geral, os matemáticos não se preocupam com aplicações práticas, mas sim com a construção do conhecimento. E, pelo amor de Deus (ou de Newton), não questione a utilidade disso. Lembre-se de que tanto o computador no qual escrevo essas linhas quanto o walkman no qual você escuta música jamais existiriam sem a ciência básica. Pois então. Desde a humilhação de Kelvin e de seu modelo de matéria, a teoria dos nós foi relegada a esse reino, o da ciência básica.
Como bem conhecem marinheiros, alpinistas e escoteiros, há dezenas, centenas de tipos de nós, com nomes singelos como frade, simples, oito, ladrão... Há até um nó de nome "singelo". Os nós estudados pelos matemáticos da teoria dos nós são esses mesmos. Só que eles estão em um plano abstrato. A linha que os amarra, por exemplo, pode ser infinita. E também finíssima, permitindo inúmeros cruzamentos e amarras.
A partir daí, os nós são usados para descrever nosso mundo, de modo semelhante ao que fazemos com os números. Lembre-se que números também são abstrações, idéias criadas pelo homem, só que a lógica que eles seguem é perfeita a ponto de fornecerem a medida de praticamente tudo. Pense na sua saúde financeira ou no último exame de sangue. Sem números seria impossível medir essas coisas.
A idéia dessa área da ciência é usar nós para abstrair conceitos que não podem ser reduzidos a números - e, assim como eles, os nós poderiam ser usados para "traduzir" a natureza. Isso não é fácil porque as propriedades matemáticas dos nós nem foram completamente definidas, como as dos números. Até hoje não existe, por exemplo, uma forma de colocar nós em ordem crescente ou decrescente. Também não há uma regra que consiga diferenciar, em todos os casos, um nó de outro. Está justamente aí o grande desafio dos pesquisadores. Enquanto essas coisas não forem resolvidas, não haverá uma "teoria geral dos nós" e ficará difícil encontrar aplicações para essa ciência.
Isso apesar dos esforços de Horst Schubert, o alemão que, no final dos anos 1940, descobriu relações intrigantes entre os nós e a aritmética. Por exemplo, ele percebeu que a "soma" de um nó com outro (chamada composição) é similar à multiplicação matemática. Há, por exemplo, um nó parecido com o número 1 da multiplicação (o nó trivial). Ou seja, ele pode ser "associado" a qualquer outro nó sem alterá-lo, assim como 2 x 1 = 2. Os nós também podem ser fatorados em "primos", aqueles números (2, 3, 5, 7, 9, 11...) que só são divisíveis por 1 (ou por um "nó trivial") e por eles próprios.
Schubert demonstrou também que certas propriedades numéricas não existem para os nós (ou estão ainda além de nossa compreensão). Uma delas, já contada aqui, é a de que eles não têm ordem crescente nem decrescente. Outra é que não podem ser divididos em partes unas (4 = 1 + 1 + 1 +1). Por isso mesmo, embora úteis para sua compreensão, os estudos do alemão não serviram a uma classificação total dos nós. Seus colegas, na época, viam Schubert como um adepto da "arte pela arte", cujo campo de estudo, por mais interessante que fosse, não nos levaria a lugar nenhum.
Outro pesquisador importante da área foi o igualmente alemão Kurt Reidemeister. Reidemeister avançou muito nas pesquisas ao inventar um jeito novo de estudar nós. Sua idéia foi torná-los bidimensionais - ou simplesmente projetar sua estrutura tridimensional em uma folha de papel, facilitando sua compreensão. No final dos anos 1920, o alemão percebeu que alguns movimentos se repetem sempre que se tenta transformar um nó em outro. Nasceram aí os famosos (entre os matemáticos) "movimentos de Reidemeister".
Nós genéticos e quânticos
Pois justo quando os cientistas começaram a acreditar que os nós não passam de ciência básica, sem aplicação prática, algumas pesquisas começaram a mudar essa maré. Em 1973, um matemático inglês ocupado em descrever o comportamento dos nós propôs um experimento imaginário que envolvia a prosaica dupla tesoura-e-cola. John Conway resolveu alterar a orientação dos cruzamentos de um nó cortando e colando os fios que o compõem (veja no infográfico à esquerda).
É uma brincadeira fácil, basta que você imagine um cruzamento de fios como um "X". Um "X" é composto por dois traços na diagonal, um sobre o outro, certo? Então, você corta o traço que está por baixo, transfere-o para cima e depois cola de novo. Pronto, você alterou o cruzamento dos fios e realizou o primeiro dos movimentos de Conway, chamado de flip. O segundo, smoothing, é ainda mais simples. Você corta os traços do "X" e depois cola os dois separadamente, então o cruzamento é desfeito e você obtém dois traços assim: )( . Essas operações podem ser aplicadas a todo e qualquer nó. Conway estava interessado em "ciência pura". Não passava por sua cabeça que algo "útil" saísse daí. Mas...
Seus movimentos são idênticos aos que acontecem na fita do DNA (estimulados por enzimas) na hora da troca de material genético. E isso quer dizer que, se algum dia o comportamento dos nós for desvendado por completo pela teoria matemática, há grandes chances de os biológos conseguirem terminar de montar o quebra-cabeça da genética.
Mas outra descoberta chocou ainda mais os cientistas - em especial os físicos, aqueles mesmos que renegaram a teoria dos nós de Kelvin. Sabe quando um comentarista esportivo dispara o clichê "essas coisas só acontecem no futebol", como quando um sujeito marca um gol contra e, logo em seguida, salva seu time com o gol de empate? Pois então, a história que segue é um daqueles casos "que só acontecem na ciência mesmo". Tem a ver com os quanta (plural de quantum), a base da física quântica. Os quanta são a menor quantidade de qualquer coisa possível no Universo - sua existência nunca foi verificada experimentalmente, mas é prevista pela teoria. Eles são ainda mais básicos - e menores - que os elétrons, prótons e nêutrons que compõem o modelo de átomo de Niels Bohr.
Pois uma dupla de cientistas - C.P.N. Yang e R.J. Baxter - , um estudando grupos quânticos, outro procurando entender o comportamento dos gases, descobriu independentemente uma mesma equação: a equação de Yang-Baxter, que ajuda a explicar os movimentos desses misteriosos quanta. Pois bem, os dois chegaram à conclusão de que esses movimentos são idênticos a um daqueles descritos pelo matemático alemão Reidemeister nos anos 1920. Ou seja: os quanta se comportam como nós!
O mais legal é que o principal criador da física quântica foi justamente o mesmo Niels Bohr que derrubou a teoria dos nós do lorde Kelvin. No final das contas, por meios tortos, Bohr acabou devolvendo aos nós o privilégio de ajudar a explicar toda a matéria que existe no Universo. Depois de tudo isso peço que você, caro leitor, preste mais atenção ao atar o cadarço do seu sapato. Ali pode estar a chave de uma revolução científica.
Marcadores:
calculo,
espaço,
formula,
Historia,
mãe natureza,
matemática,
tempo
Política do faz-de-conta
POLÍTICA DO FAZ-DE-CONTA
Com o microfone na mão, Ulysses Guimarães levava a multidão no gogó. Era 1984 e São Paulo organizava a maior mobilização política do país. Para a história, o 1,5 milhão de pessoas gritando "diretas já" foi um marco. Mas a verdade é que, para quem naquele dia estava longe do palanque, Ulysses não passava de uma mancha careca no horizonte. Ouvir seu discurso com clareza era um exercício de otimismo cívico.
Vinte anos e três eleições diretas para presidente depois, comícios perderam a utilidade para a engrenagem política. Na campanha presidencial de 2002, não foi preciso um único grito. A televisão já chegava a mais de 98% dos municípios do país e por ela era possível falar ao mesmo tempo com quase todos os brasileiros. Sem ruídos, palavra por palavra. Além, é claro, de exibir a barba aparada de Lula ou o sorriso treinado de José Serra. "Numa democracia de massas, como é o Brasil, a campanha tem de ser feita na televisão. É o meio que permite ao candidato falar com mais pessoas", diz o cientista político Rogério Schmitt, da Escola de Sociologia Política de São Paulo.
Candidato à presidência dos Estados Unidos em 1939, Franklin Roosevelt revolucionou a história da corrida eleitoral ao fazer o primeiro discurso televisionado de que se tem notícia. Na época, era apenas uma transmissão que acoplava imagem à voz do candidato. Hoje, além da audiência, a televisão também permite construir a imagem do candidato. Ou melhor, construir qualquer imagem para o candidato. Porque os tempos de Ulysses e Roosevelt, em que campanha era feita à base de discursos inflamados e muita criancinha beijada, acabaram. Atualmente, bons publicitários combinam a força televisiva com pesquisas de opinião capazes de traçar um mapa psicológico dos desejos do eleitorado. Com essas informações em mãos, podem embalar propostas na forma do presente que queremos ganhar. "O eleitor sempre vota numa imagem. É impossível conhecer o candidato como pessoa", escreve o cientista político Francisco Ferraz no seu Manual Completo de Campanha Eleitoral. Nas próximas páginas você verá as artimanhas utilizadas na construção dessa imagem.
O que fazer
No mundo da propaganda política, nada é por acaso. Um vaso de flores despretensioso sobre a mesa, a manga da camisa arregaçada, uma reunião de trabalho com assessores sob o comando do candidato. Tudo ali tem função. As pesquisas qualitativas indicam que o público acha o candidato briguento e arrogante? O belo arranjo de flores ajuda a suavizar essa imagem. Titubeante e com pouca experiência administrativa? Basta aparecer distribuindo ordens na ponta de uma mesa comprida. Lento e elitista? A solução ideal é usar menos terno.
Desde 1960, quando a equipe de John Kennedy inaugurou a "campanha profissional", esses truques são repetidos à exaustão, com mais ou menos criatividade dos marqueteiros. Exemplos não faltam. Identificado pelo eleitorado como um homem frio, George Bush "pai" ganhou a presidência dos Estados Unidos, em 1988, com comerciais que intercalavam suas imagens ao lado dos maiores líderes políticos e cenas dele brincando com os netinhos (em campanha, Bush também já conversou com um frango, mas esse episódio não tem explicação lógica conhecida). O "aristocrata" Fernando Henrique Cardoso degustou uma humilde buchada de bode na corrida presidencial. Um senador americano apareceu estacionando seu carro com "15 anos de uso" entre os Mercedes do Congresso para mostrar que não era pão-duro, mas entendia que "um centavo economizado é um centavo ganho". E, para consolidar a imagem de empreendedor, Paulo Maluf adotou o bordão "Foi Maluf que fez", criado pelo publicitário Duda Mendonça - que mais tarde reaproveitaria a idéia nas campanhas do argentino Carlos Menem, do pernambucano Miguel Arraes e de Marta Suplicy, concorrente de Maluf.
Se você acredita que está imune a esse jogo, cuidado. Campanhas maciças de mídia, como são as eleições, atingem todos nós. Ainda assim, nos Estados Unidos apenas 23% dos eleitores admitem ser influenciados pelo marketing político. É o que eles pensam. "A propaganda eleitoral tende a ter maior ascendência exatamente sobre aquelas pessoas que dizem não sofrer influência", afirma Kathleen Hall Jamieson, diretora da escola de comunicação da Universidade da Pensilvânia e autora de Packaging the Presidency ("Empacotando a Presidência", sem tradução para o português). No Brasil, pesquisas mostram que somos bem mais receptivos ao horário eleitoral, que é o segundo maior fator de persuasão na escolha do voto, atrás do bate-papo com amigos e familiares.
Como fazer
Quem inaugurou esse tipo de campanha no Brasil foi Fernando Collor, em 1989. Pesquisas mostravam que o eleitorado queria um candidato de oposição, não identificado com a política tradicional e que propusesse transformar o país. Collor resolveu atender a demanda. "Hoje todos fazem isso. Mas o Collor foi o primeiro a ler pesquisas e trabalhar a imagem com eficiência", diz Rogério Schmitt. Enquanto vendia a juventude como virtude, seu rival Ulysses Guimarães veiculava um jingle em que se apresentava como "o velhinho". O final desse filme você já conhece.
Para os políticos, também é importante entender que quem está na televisão deve fazer como os televisivos. A boa propaganda eleitoral deve misturar Jornal Nacional e novela das 8. Um apresentador mostra "reportagens", o candidato aparece com soluções e por fim é exibido um clipe (supostamente) contagiante e imagens (teoricamente) belas. Tudo muito otimista e para cima. Críticas, só de vez em quando. "Brasileiro não gosta de candidato que briga com adversário. Quem bate perde", diz Chico Abréia, diretor de criação da Duda Mendonça Marketing Político, agência que comanda campanhas do PT em cidades como São Paulo e Belo Horizonte.
A trama manjada é endossada por um roteiro maniqueísta. Todo candidato precisa convencer o eleitor de que: 1) é a pessoa perfeita para o cargo e 2) o mal se aproxima na forma de problemas que, adivinhem só, correspondem a todos os defeitos identificados com o outro concorrente. "Se o seu adversário não é a corporificação do mal, ele é a encarnação do erro", ensina o Manual de Campanha Eleitoral.
Sinal dos tempos. Quando Abraham Lincoln foi eleito presidente americano, em 1860, fazer campanha era antiético. Cada concorrente discursava uma única vez, ao anunciar a candidatura. Apresentava propostas de governo e saía de cena para o povo refletir sobre o melhor caminho. Quanta diferença.
Com o microfone na mão, Ulysses Guimarães levava a multidão no gogó. Era 1984 e São Paulo organizava a maior mobilização política do país. Para a história, o 1,5 milhão de pessoas gritando "diretas já" foi um marco. Mas a verdade é que, para quem naquele dia estava longe do palanque, Ulysses não passava de uma mancha careca no horizonte. Ouvir seu discurso com clareza era um exercício de otimismo cívico.
Vinte anos e três eleições diretas para presidente depois, comícios perderam a utilidade para a engrenagem política. Na campanha presidencial de 2002, não foi preciso um único grito. A televisão já chegava a mais de 98% dos municípios do país e por ela era possível falar ao mesmo tempo com quase todos os brasileiros. Sem ruídos, palavra por palavra. Além, é claro, de exibir a barba aparada de Lula ou o sorriso treinado de José Serra. "Numa democracia de massas, como é o Brasil, a campanha tem de ser feita na televisão. É o meio que permite ao candidato falar com mais pessoas", diz o cientista político Rogério Schmitt, da Escola de Sociologia Política de São Paulo.
Candidato à presidência dos Estados Unidos em 1939, Franklin Roosevelt revolucionou a história da corrida eleitoral ao fazer o primeiro discurso televisionado de que se tem notícia. Na época, era apenas uma transmissão que acoplava imagem à voz do candidato. Hoje, além da audiência, a televisão também permite construir a imagem do candidato. Ou melhor, construir qualquer imagem para o candidato. Porque os tempos de Ulysses e Roosevelt, em que campanha era feita à base de discursos inflamados e muita criancinha beijada, acabaram. Atualmente, bons publicitários combinam a força televisiva com pesquisas de opinião capazes de traçar um mapa psicológico dos desejos do eleitorado. Com essas informações em mãos, podem embalar propostas na forma do presente que queremos ganhar. "O eleitor sempre vota numa imagem. É impossível conhecer o candidato como pessoa", escreve o cientista político Francisco Ferraz no seu Manual Completo de Campanha Eleitoral. Nas próximas páginas você verá as artimanhas utilizadas na construção dessa imagem.
O que fazer
No mundo da propaganda política, nada é por acaso. Um vaso de flores despretensioso sobre a mesa, a manga da camisa arregaçada, uma reunião de trabalho com assessores sob o comando do candidato. Tudo ali tem função. As pesquisas qualitativas indicam que o público acha o candidato briguento e arrogante? O belo arranjo de flores ajuda a suavizar essa imagem. Titubeante e com pouca experiência administrativa? Basta aparecer distribuindo ordens na ponta de uma mesa comprida. Lento e elitista? A solução ideal é usar menos terno.
Desde 1960, quando a equipe de John Kennedy inaugurou a "campanha profissional", esses truques são repetidos à exaustão, com mais ou menos criatividade dos marqueteiros. Exemplos não faltam. Identificado pelo eleitorado como um homem frio, George Bush "pai" ganhou a presidência dos Estados Unidos, em 1988, com comerciais que intercalavam suas imagens ao lado dos maiores líderes políticos e cenas dele brincando com os netinhos (em campanha, Bush também já conversou com um frango, mas esse episódio não tem explicação lógica conhecida). O "aristocrata" Fernando Henrique Cardoso degustou uma humilde buchada de bode na corrida presidencial. Um senador americano apareceu estacionando seu carro com "15 anos de uso" entre os Mercedes do Congresso para mostrar que não era pão-duro, mas entendia que "um centavo economizado é um centavo ganho". E, para consolidar a imagem de empreendedor, Paulo Maluf adotou o bordão "Foi Maluf que fez", criado pelo publicitário Duda Mendonça - que mais tarde reaproveitaria a idéia nas campanhas do argentino Carlos Menem, do pernambucano Miguel Arraes e de Marta Suplicy, concorrente de Maluf.
Se você acredita que está imune a esse jogo, cuidado. Campanhas maciças de mídia, como são as eleições, atingem todos nós. Ainda assim, nos Estados Unidos apenas 23% dos eleitores admitem ser influenciados pelo marketing político. É o que eles pensam. "A propaganda eleitoral tende a ter maior ascendência exatamente sobre aquelas pessoas que dizem não sofrer influência", afirma Kathleen Hall Jamieson, diretora da escola de comunicação da Universidade da Pensilvânia e autora de Packaging the Presidency ("Empacotando a Presidência", sem tradução para o português). No Brasil, pesquisas mostram que somos bem mais receptivos ao horário eleitoral, que é o segundo maior fator de persuasão na escolha do voto, atrás do bate-papo com amigos e familiares.
Como fazer
Quem inaugurou esse tipo de campanha no Brasil foi Fernando Collor, em 1989. Pesquisas mostravam que o eleitorado queria um candidato de oposição, não identificado com a política tradicional e que propusesse transformar o país. Collor resolveu atender a demanda. "Hoje todos fazem isso. Mas o Collor foi o primeiro a ler pesquisas e trabalhar a imagem com eficiência", diz Rogério Schmitt. Enquanto vendia a juventude como virtude, seu rival Ulysses Guimarães veiculava um jingle em que se apresentava como "o velhinho". O final desse filme você já conhece.
Para os políticos, também é importante entender que quem está na televisão deve fazer como os televisivos. A boa propaganda eleitoral deve misturar Jornal Nacional e novela das 8. Um apresentador mostra "reportagens", o candidato aparece com soluções e por fim é exibido um clipe (supostamente) contagiante e imagens (teoricamente) belas. Tudo muito otimista e para cima. Críticas, só de vez em quando. "Brasileiro não gosta de candidato que briga com adversário. Quem bate perde", diz Chico Abréia, diretor de criação da Duda Mendonça Marketing Político, agência que comanda campanhas do PT em cidades como São Paulo e Belo Horizonte.
A trama manjada é endossada por um roteiro maniqueísta. Todo candidato precisa convencer o eleitor de que: 1) é a pessoa perfeita para o cargo e 2) o mal se aproxima na forma de problemas que, adivinhem só, correspondem a todos os defeitos identificados com o outro concorrente. "Se o seu adversário não é a corporificação do mal, ele é a encarnação do erro", ensina o Manual de Campanha Eleitoral.
Sinal dos tempos. Quando Abraham Lincoln foi eleito presidente americano, em 1860, fazer campanha era antiético. Cada concorrente discursava uma única vez, ao anunciar a candidatura. Apresentava propostas de governo e saía de cena para o povo refletir sobre o melhor caminho. Quanta diferença.
domingo, 28 de novembro de 2010
A Ciência de comer bem - Nutrição
A CIÊNCIA DE COMER BEM - Nutrição
Nada é mais importante do que comida: 80% das doenças de coração, 90% dos casos de diabetes e 70% dos casos de alguns tipos de câncer podem ter uma ligação estreita com hábitos de vida e alimentação. Dieta inadequada é uma das duas maiores causas de morte no mundo, junto com o tabaco. E uma dieta saudável tem influência positiva em todos os aspectos da vida. Comer bem é fundamental. Mas... o que é comer bem?
Informações sobre nutrição estão em toda parte. Hoje, quase toda embalagem no supermercado contém uma tabela cheia de números pequenos, além de letras grandes anunciando "50% menos disso", "50% mais daquilo". Novidades médicas sobre alimentação são alardeadas nas revistas e nos jornais com a mesma freqüência com que você almoça, e o prazo de validade delas é quase sempre menor que o de uma caixa de leite. Dietas novas surgem como relâmpagos, sempre desmentindo o que a anterior dizia - e impulsionando a venda de uma porção de livros.
É claro que o acesso às informações é uma vantagem. Mas a confiança que depositamos em cada novo estudo é desproporcional. Faz só meio século que os cientistas começaram a investigar os efeitos da dieta em humanos e a maioria das pesquisas divulgadas com barulho não comprova a eficiência de uma dieta ou um alimento. No máximo, demarcam um ponto de partida para pesquisas mais aprofundadas. A dura realidade é que os cientistas provavelmente têm mais dúvidas que certezas quando o assunto é dieta.
E o pior é que muitos de nós nos aproveitamos dessa bagunça para comer errado. "Enquanto pudermos culpar um estado de confusão geral, não temos que nos responsabilizar pelo tamanho de nossas cinturas", escreveu a jornalista americana Christine Gorman na revista americana Time. É como se tudo fosse culpa dos cientistas, que não chegam a um acordo.
Temos então duas notícias para você - e, como de costume, uma é boa e outra é ruim. A boa: apesar de discordarem, cientistas sabem o suficiente para que você consiga comer de maneira saudável. Grãos integrais e vegetais variados fazem bem. Achar que não existe refeição sem bife faz mal. Comer pelo menos três vezes por dia faz bem. Basear a dieta em arroz branco e açúcar faz mal. Fazer da refeição um ritual tranqüilo e prazeroso faz bem. E, definitivamente, comer demais faz mal.
A notícia ruim é que você pode esquecer a desculpa de que você come errado por causa da confusão que cerca o assunto. Ela não cola. Você é o maior responsável por sua dieta e certamente vai arcar sozinho com as conseqüências dela, mais cedo ou mais tarde. Melhor então saber o que está fazendo. E então, vai comer o quê?
E vai comer quanto?
Rodízio ou à la carte? Quando uma das perguntas mais fundamentais da vida moderna pega você sentado à mesa de um restaurante japonês, não há dúvida. Quase ninguém é capaz de trocar o coma-o-quanto-quiser pelas modestas porções de seis rolinhos, mesmo sabendo que, no rodízio, os sushis são preparados de forma tão mecânica que fariam corar o oriental mais amarelo. Tudo bem, ninguém se importa com detalhes quando pode comer por quanto tempo o estômago agüentar.
Quando a refeição termina, você devorou algo perto de 350 gramas de carboidratos, 40 gramas de proteína, 30 gramas de gordura e 1 800 calorias. Um jantar que daria para nada mais nada menos que quatro pessoas. "O principal problema hoje é que estamos comendo demais", diz o médico americano James Hill, diretor do Centro de Nutrição Humana, da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos.
Moderação é a palavra-chave quando o assunto é alimentação. O problema é que moderação pode significar coisas muito diferentes para pessoas diferentes. E, por isso, o único jeito eficiente de controlar o quanto comemos continua sendo prestar atenção nas famigeradas calorias - do mesmo modo que o único jeito de economizar na conta de luz é controlar o consumo de energia elétrica ao longo do mês. Caloria é o nome dado à unidade de medida de energia térmica. Para saber o quanto as calorias influem no nosso peso, a conta é simples. Pegue o quanto de energia você põe para dentro (X) e o quanto de energia você gasta (Y). Se X é maior que Y, você engorda. Se X é menor que Y, você emagrece. Se X é igual a Y, você se mantém no peso.
É verdade que alguns fatores podem interferir no processo. Os genes, por exemplo. Além disso, o corpo pode ajustar a variável Y em algumas situações e gastar menos energia do que o normal. Se você passa um longo período comendo pouco (X baixo), seu corpo entende que está numa época de escassez e reduz o ritmo do metabolismo para gastar menos energia (tornar Y tão baixo quanto X). Assim, se você comer de repente algo mais calórico, como um chocolate, tende a engordar mais facilmente. Ou seja, dietas radicais e repentinas podem aumentar a tendência a engordar.
O problema dessa equação é que, nos dias de hoje, as pessoas simplesmente não são capazes de se exercitar com a mesma compulsão com que comem. X fica sempre maior que Y. É provável que essa nossa compulsão por comida seja genética - nossos ancestrais aprenderam a comer tudo o que estivesse disponível, para criar reservas e suportar as épocas de escassez. A diferença é que comida disponível era coisa rara há milhares de anos e é uma constante hoje.
A oferta, além de incessante, é cada vez mais democrática. Se, até poucos anos atrás, você tinha que resistir apenas aos biscoitos de morango ou chocolate, agora há os de capuccino, baunilha, frutas vermelhas, chocolate alpino, frutas cítricas... Sempre haverá algo engordativo que se encaixe no seu gosto. Os tamanhos das porções também acompanham nosso instinto ancestral por fartura - e nosso instinto, bem atual, por barganhas.
Nas lanchonetes ou supermercados, você pode levar o dobro de refrigerante por apenas 20% a mais do preço. E a lógica do rodízio faz com que porções à la carte se tornem um péssimo negócio. Enquanto investimos em pechinchas, nossas artérias e corações pagam a conta. Para você ter uma idéia, estamos comendo 230 calorias por dia a mais do que comíamos na década de 70. Para não ganhar peso, teríamos que aumentar proporcionalmente o gasto de energia. E o que fizemos? Fomos ficando cada vez mais sedentários.
Isso significa que é preciso levar a sério a instrução "coma menos" - mesmo que você esteja satisfeito com o ponteiro da balança. À medida que envelhecemos nosso corpo precisa de menos comida para realizar as mesmas atividades. E, ao que parece, engordar quando adulto é um problemão. Dois estudos de longo prazo realizados pela Escola de Medicina de Harvard mostraram que homens e mulheres que engordaram de 5 a 10 quilos depois dos 20 anos têm três vezes mais chance de desenvolver doenças cardíacas, hipertensão e diabetes do que aqueles que engordaram 2 quilos ou menos.
Uma boa dica para evitar que você coma em excesso é restringir as opções. "Quanto mais variedade temos, mais comemos. Isso funciona para qualquer espécie testada", diz Susan Roberts, professora de nutrição da Universidade Tufts, em Boston. Se você come em restaurantes self-service, sabe do que Susan está falando. É quase impossível escolher apenas uma opção quando há pizza, nhoque à bolonhesa e lasanha vegetariana. Nessas horas, lembre-se: você tem que fazer algum esforço.
Para controlar a ingestão de calorias, determine - com a ajuda de um médico - uma média que você deve consumir por dia. A Anvisa, agência do governo brasileiro que cuida da vigilância sanitária, recomenda 2 500, uma quantia considerada alta por muitos nutricionistas. A Pirâmide de Alimentação, criada em 1992 pelo Departamento de Agricultura americano e que se tornou referência mundial, recomenda 2 800 por dia para homens e adolescentes ativos e 2 200 para mulheres ativas e homens inativos. Mulheres inativas não precisam de mais que 1 600 calorias.
Alguns truques podem ajudar a reduzir quantidades - e, assim, as calorias ingeridas. Use um prato menor. "Ele vai ficar cheio mais rápido e obrigar você a parar de comer", diz o médico Walter Willett, que coordena a Departamento de Nutrição da Escola de Saúde Pública de Harvard. Evite se servir mais de uma vez e comece com saladas. Ao contrário do que sua mãe falava, "estrague" seu apetite antes das refeições. Coma pequenos lanches ao longo do dia - frutas ou castanhas. Outra boa sugestão é começar o almoço ou jantar com uma tigela de sopa (sem creme de leite). Estudos recentes sugerem que a textura e a consistência da sopa mantêm o apetite controlado enquanto outros líquidos, como sucos, não ajudam nessa tarefa. O médico Willett dá outra dica preciosa: "Não precisa cortar a sobremesa. Basta dividi-la. A quantidade de gordura e caloria em uma fatia de torta doce é suficiente para a uma família inteira".
E preste atenção nos rótulos. Geralmente, os números que aparecem nas embalagens se referem a porções bem menores do que as que imaginamos à primeira vista. Por exemplo, o rótulo de um chocolate pode indicar que uma porção do alimento tem 230 calorias. Se você ler com atenção, vai ver que uma porção são 15 gramas, e não as 30 da barrinha. Ou seja, no chocolate todo há nada menos que 460 calorias.
Pouco, mas com prazer
Equações, variáveis X e Y, meia porção, contar calorias... Agora que você entendeu tudo, esqueça. Se você se tornar compulsivamente preocupado, não vai conseguir manter uma dieta saudável. "Calorias contam, mas você não precisa contar cada uma delas", diz Willett, autor de Coma, Beba e Seja Saudável, livro que se tornou uma bíblia da alimentação saudável nos Estados Unidos. Se comer virar um suplício recheado de números e cálculos, é bem capaz que você passe a odiar as refeições. E aí vai bastar aparecer um problema na sua vida para você descontar tudo em si mesmo - comendo sem controle. Isso é exatamente o contrário do que os médicos querem.
Desde muito jovens aprendemos que quem nos ama nos dá comida. E, se nos ama muito, nos dá muita comida. Está aí um dos motivos pelos quais não conseguimos nos manter por muito tempo em dietas. Dieta é a privação do prazer, daquilo que amamos mais.
Portanto não adianta ser radical. Nas duas próximas semanas, descubra a quantidade de calorias das porções que você consome com freqüência. Duas colheres de sopa de arroz branco, por exemplo, têm 105 calorias; um bife de frango pequeno grelhado, 160. (Confira outros exemplos na página 65. O Ministério da Saúde está investindo na elaboração de uma tabela completa. A partir do dia 24 de setembro, ela vai estar disponível no endereço www.unicamp.br/nepa/taco) Ajuste-as para que se encaixem na sua média de ingestão diária. Essas duas semanas de treino vão ajudar você a entender a lógica das calorias. A partir da terceira semana, use apenas o bom senso.
Um estudo americano chamado Registro Nacional de Controle de Peso, que investiga os hábitos de 3 mil pessoas bem-sucedidas nas dietas que fazem, descobriu que três dos quatro pontos em comum entre elas estão diretamente ligados ao estilo de vida: todas monitoram com freqüência seu peso e o consumo de comida, todas se exercitam por mais de uma hora todos os dias e nenhuma pula a primeira refeição do dia, o café da manhã. "Não é que o café da manhã emagreça. Mas, em geral, quem toma café da manhã tem uma alimentação mais equilibrada ao longo do dia. É isso que faz a diferença", diz a endocrinologista Annete Abdo, integrante do Projeto de Atendimento ao Obeso, ligado à USP.
Cuidar da alimentação precisa ser algo prazeroso. E isso significa que o sabor não deve ser sacrificado. "É impossível se alimentar só de coisas que você acha horrível", escreveu o médico Andrew Weil no livro Alimentação Ideal para uma Saúde Perfeita. Weil acredita que o ditado "tudo o que é bom engorda" não poderia estar mais longe da verdade. E você vai ver que ele tem razão se decidir se divertir enquanto se alimenta. Procure explorar novos sabores, usar temperos diferentes, experimentar frutas ou folhas que você nunca comeu antes. Use sua inclinação para barganhas quando tiver que escolher entre uma refeição feita em casa ou uma comprada de uma lanchonete ou restaurante: comer em casa é muito mais barato. E você pode controlar os ingredientes usados, além de descobrir um passatempo relaxante e saudável.
Gorduras x carboidratos
Quarto ponto em comum entre os 3 mil "dieteiros" bem-sucedidos: todos limitam a ingestão de gordura. E é aqui que mora o maior dilema nutricional da atualidade: qual é o vilão da dieta moderna? Gorduras ou carboidratos?
Desde 1950, médicos de todo o mundo tentam encontrar diretrizes confiáveis para conter a expansão de barrigas e cinturas. Nos anos 60, pesquisas indicaram que a gordura aumenta a taxa de colesterol e facilita a obstrução das veias. Assim, ela se tornou o inimigo número 1. Bacon e manteiga, nozes e azeite de oliva foram banidos do cardápio ideal. Milhões de pessoas em todo o mundo seguiram as recomendações e os fabricantes de alimentos estamparam "sem colesterol" ou "50% menos gordura" nos mais diversos produtos. Para matar a fome, muita gente aumentou o consumo de carboidratos.
E o que aconteceu? As cinturas continuaram crescendo. Nos Estados Unidos, segundo o Centro Nacional de Estatística de Saúde, a taxa de obesidade pulou de 13% (nos anos 60) para 22% (em 80). E países que consomem muita gordura, como França e Grécia, têm taxas de obesidade e de ataques cardíacos menores que os americanos.
Em 1972, um médico americano lançou uma dieta que soava como heresia criminosa. Ela limitava o consumo de frutas e pães, os alimentos mais recomendados pelos caçadores de gordura, e liberava a ingestão de gorduras e carnes. Robert Atkins vendeu mais de 15 milhões de livros no mundo e ganhou fama de picareta. Ele acreditava que o açúcar (e o nível de insulina provocado por ele) era o verdadeiro responsável pelo aumento de peso e doenças entre seus conterrâneos. As gorduras, ele dizia, estão longe de ser vilãs.
E ele tinha razão. Pelo menos em parte. Os avanços da endocrinologia permitiram que os estudos acompanhassem a reação do corpo aos diferentes tipos de alimento e provassem que as gorduras não fazem só mal. Elas realmente elevam o colesterol ruim (conhecido como LDL), mas algumas elevam também o colesterol bom (conhecido como HDL). O HDL faz bem ao coração. Além disso, está ficando claro que comer um pouco de gordura sacia a fome. Assim, quando ingerimos gorduras de menos, acabamos comendo açúcar demais.
A questão é que nem toda gordura é igual - há muitos tipos delas, cada uma com uma estrutura molecular diferente e, conseqüentemente, com um efeito distinto sobre o corpo. Para resumir, gorduras sólidas são piores que as líquidas. As sólidas são de dois tipos: saturadas (como a manteiga) e trans - também chamadas de gorduras vegetais hidrogenadas (como a maior parte das margarinas). Já as gorduras líquidas são insaturadas, como azeite e óleos presentes em castanhas. Essas são melhores porque aumentam o HDL. As gorduras líquidas também são divididas em dois grupos: monoinsaturadas (abacate, nozes, azeite) e polinsaturadas (peixe, óleo de soja). As gorduras polinsaturadas são as únicas que o corpo não produz sozinho, e elas também vêm em dois tipos: ômega-3 e ômega-6. A ômega-6, que está no óleo de soja, nas carnes e nos laticínios, é muito abundante nos alimentos, e portanto você não precisa se preocupar em consumi-la. Mas a ômega-3 é rara, daí a importância de comer peixe, frutos do mar e óleos de canola e linhaça.
Por muito tempo, a gordura saturada foi vista como a pior. Mas hoje se sabe que ela, ao mesmo tempo em que aumenta o LDL, aumenta também o HDL - ou seja, não faz só mal. Hoje é na gordura trans que a etiqueta "Livre-se disso!" se dependura. O processo de hidrogenização - que consiste em adicionar hidrogênio à gordura vegetal - permite que o produto dure mais tempo na prateleira do supermercado, mas eleva muito o LDL no sangue. Um ótimo negócio para os fabricantes, um péssimo negócio para você. Seu corpo vai agradecer se sorvete, batata frita de saquinho e margarina forem trocados por sorbet, brócolis e azeite. Além disso, é bom ficar atento aos rótulos e evitar produtos que têm "gordura vegetal hidrogenada" na lista de ingredientes.
A reabilitação das gorduras fez emergirem acusações contra outro grupo de alimentos: os carboidratos. A idéia de emagrecer comendo bacon no café da manhã convenceu muita gente cansada de privações na tentativa de perder peso. Hoje, milhões de pessoas (26 milhões só nos Estados Unidos) seguem dietas que limitam a ingestão de carboidratos. Muitos nutricionistas estão esperneando, afinal não há estudos que garantam que tanta proteína e gordura não tenha efeitos negativos a longo prazo. Para atender à nova demanda, a indústria de alimentos estampou "sem carboidratos" ou "baixo índice glicêmico" nas embalagens.
"Índice glicêmico" é a medida do nível de glicose que o alimento gera no sangue. Carboidratos como grãos integrais e frutas têm índice glicêmico baixo - eles são ricos em fibras, que retardam a absorção de açúcar. Outros, como pão e arroz brancos, batata e açúcar têm índices altíssimos. Eles elevam rapidamente a taxa de glicose no sangue e forçam o corpo a armazenar o excesso dentro das células. Quem faz o trabalho de armazenamento é a insulina. Quando comemos alimentos de alto índice glicêmico, produzimos muita insulina de uma só vez. O excesso do hormônio diminui o nível de glicose no sangue e a queda faz o corpo pedir mais, gerando a sensação de fome. Ou seja, consumir muita comida com alto índice glicêmico pode aumentar a compulsão alimentar. E não é só isso: está ficando mais claro que esses altos e baixos na produção de insulina podem levar a diabetes tipo 2, uma doença séria, cuja incidência está explodindo.
A má notícia é que isso significa abrir mão de comer arroz branco e batata todo dia. Além de índice glicêmico altíssimo, eles têm poucos nutrientes comparados a substitutos como brócolis ou ervilhas. E, se você acha impossível substituir arroz, passe em uma loja de produtos naturais. Amaranto, cevada, e quinoa são só alguns dos grãos que você deixa de lado ao optar pela monotonia alva do arroz nosso de cada dia.
Para resumir: não há heróis ou vilões. Gorduras e carboidratos devem estar presentes nas dietas. Entre as gorduras, prefira as dos peixes, nozes e azeite de oliva. E, entre os carboidratos, escolha aqueles presentes em grãos integrais, frutas e verduras. Arrume substitutos para manteiga, margarina, carne vermelha, arroz branco, batata... Substituir alimentos pode ser mais importante do que cortá-los. Experimente trocar a alface-americana da sua salada por espinafre, que tem diversos nutrientes e fibra. E alterne bifes com soja, frango ou peixes. Há muitos indícios de que carne vermelha tenha relação com diversos tipos de câncer.
Conta corrente
Lembre-se de que todo grupo de alimentos tem uma função importante. "Os carboidratos são nossa conta corrente. Possibilitam os esforços físicos diários, como subir uma escada. Já a gordura forma nossa caderneta de poupança. O corpo só usa gordura para esforços mais longos, como exercícios físicos prolongados", diz Annete Abdo. Nesse cenário, proteínas seriam nossa credibilidade. Formam a estrutura que nos permite abrir a conta no banco - ou seja, são a massa corporal. Sem elas, não há conta corrente nem caderneta de poupança.
A metáfora é valiosa em tempos em que a economia fala tão alto. Se você tira todo seu dinheiro da conta corrente (consome poucos carboidratos), vai usar o dinheiro da caderneta de poupança (gordura). O gerente do banco vai achar estranho que você esteja gastando suas reservas e vai cortar seus benefícios (para se proteger da escassez, o corpo reduz o metabolismo). Sem investimentos você perde credibilidade (a massa corporal) e se você precisar de um empréstimo (comer algo mais calórico) seu banco vai cobrar juros altíssimos (você engorda muito mais rápido). É por isso que o único jeito eficiente de mexer em investimentos sem conseqüências desastrosas é ganhar credibilidade. Comer com moderação e fazer exercícios físicos regularmente, que aumentam a massa corporal e dão agilidade ao metabolismo.
Evite ações de alto risco (dietas muito radicais), diversifique investimentos (não coma apenas um grupo de alimentos: variedade é o outro mantra da alimentação). E, lembre-se, muito lucro pode sair caro. Nossa obstinação por barganhas pode se reverter em alguns anos de vida a menos.
Nada é mais importante do que comida: 80% das doenças de coração, 90% dos casos de diabetes e 70% dos casos de alguns tipos de câncer podem ter uma ligação estreita com hábitos de vida e alimentação. Dieta inadequada é uma das duas maiores causas de morte no mundo, junto com o tabaco. E uma dieta saudável tem influência positiva em todos os aspectos da vida. Comer bem é fundamental. Mas... o que é comer bem?
Informações sobre nutrição estão em toda parte. Hoje, quase toda embalagem no supermercado contém uma tabela cheia de números pequenos, além de letras grandes anunciando "50% menos disso", "50% mais daquilo". Novidades médicas sobre alimentação são alardeadas nas revistas e nos jornais com a mesma freqüência com que você almoça, e o prazo de validade delas é quase sempre menor que o de uma caixa de leite. Dietas novas surgem como relâmpagos, sempre desmentindo o que a anterior dizia - e impulsionando a venda de uma porção de livros.
É claro que o acesso às informações é uma vantagem. Mas a confiança que depositamos em cada novo estudo é desproporcional. Faz só meio século que os cientistas começaram a investigar os efeitos da dieta em humanos e a maioria das pesquisas divulgadas com barulho não comprova a eficiência de uma dieta ou um alimento. No máximo, demarcam um ponto de partida para pesquisas mais aprofundadas. A dura realidade é que os cientistas provavelmente têm mais dúvidas que certezas quando o assunto é dieta.
E o pior é que muitos de nós nos aproveitamos dessa bagunça para comer errado. "Enquanto pudermos culpar um estado de confusão geral, não temos que nos responsabilizar pelo tamanho de nossas cinturas", escreveu a jornalista americana Christine Gorman na revista americana Time. É como se tudo fosse culpa dos cientistas, que não chegam a um acordo.
Temos então duas notícias para você - e, como de costume, uma é boa e outra é ruim. A boa: apesar de discordarem, cientistas sabem o suficiente para que você consiga comer de maneira saudável. Grãos integrais e vegetais variados fazem bem. Achar que não existe refeição sem bife faz mal. Comer pelo menos três vezes por dia faz bem. Basear a dieta em arroz branco e açúcar faz mal. Fazer da refeição um ritual tranqüilo e prazeroso faz bem. E, definitivamente, comer demais faz mal.
A notícia ruim é que você pode esquecer a desculpa de que você come errado por causa da confusão que cerca o assunto. Ela não cola. Você é o maior responsável por sua dieta e certamente vai arcar sozinho com as conseqüências dela, mais cedo ou mais tarde. Melhor então saber o que está fazendo. E então, vai comer o quê?
E vai comer quanto?
Rodízio ou à la carte? Quando uma das perguntas mais fundamentais da vida moderna pega você sentado à mesa de um restaurante japonês, não há dúvida. Quase ninguém é capaz de trocar o coma-o-quanto-quiser pelas modestas porções de seis rolinhos, mesmo sabendo que, no rodízio, os sushis são preparados de forma tão mecânica que fariam corar o oriental mais amarelo. Tudo bem, ninguém se importa com detalhes quando pode comer por quanto tempo o estômago agüentar.
Quando a refeição termina, você devorou algo perto de 350 gramas de carboidratos, 40 gramas de proteína, 30 gramas de gordura e 1 800 calorias. Um jantar que daria para nada mais nada menos que quatro pessoas. "O principal problema hoje é que estamos comendo demais", diz o médico americano James Hill, diretor do Centro de Nutrição Humana, da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos.
Moderação é a palavra-chave quando o assunto é alimentação. O problema é que moderação pode significar coisas muito diferentes para pessoas diferentes. E, por isso, o único jeito eficiente de controlar o quanto comemos continua sendo prestar atenção nas famigeradas calorias - do mesmo modo que o único jeito de economizar na conta de luz é controlar o consumo de energia elétrica ao longo do mês. Caloria é o nome dado à unidade de medida de energia térmica. Para saber o quanto as calorias influem no nosso peso, a conta é simples. Pegue o quanto de energia você põe para dentro (X) e o quanto de energia você gasta (Y). Se X é maior que Y, você engorda. Se X é menor que Y, você emagrece. Se X é igual a Y, você se mantém no peso.
É verdade que alguns fatores podem interferir no processo. Os genes, por exemplo. Além disso, o corpo pode ajustar a variável Y em algumas situações e gastar menos energia do que o normal. Se você passa um longo período comendo pouco (X baixo), seu corpo entende que está numa época de escassez e reduz o ritmo do metabolismo para gastar menos energia (tornar Y tão baixo quanto X). Assim, se você comer de repente algo mais calórico, como um chocolate, tende a engordar mais facilmente. Ou seja, dietas radicais e repentinas podem aumentar a tendência a engordar.
O problema dessa equação é que, nos dias de hoje, as pessoas simplesmente não são capazes de se exercitar com a mesma compulsão com que comem. X fica sempre maior que Y. É provável que essa nossa compulsão por comida seja genética - nossos ancestrais aprenderam a comer tudo o que estivesse disponível, para criar reservas e suportar as épocas de escassez. A diferença é que comida disponível era coisa rara há milhares de anos e é uma constante hoje.
A oferta, além de incessante, é cada vez mais democrática. Se, até poucos anos atrás, você tinha que resistir apenas aos biscoitos de morango ou chocolate, agora há os de capuccino, baunilha, frutas vermelhas, chocolate alpino, frutas cítricas... Sempre haverá algo engordativo que se encaixe no seu gosto. Os tamanhos das porções também acompanham nosso instinto ancestral por fartura - e nosso instinto, bem atual, por barganhas.
Nas lanchonetes ou supermercados, você pode levar o dobro de refrigerante por apenas 20% a mais do preço. E a lógica do rodízio faz com que porções à la carte se tornem um péssimo negócio. Enquanto investimos em pechinchas, nossas artérias e corações pagam a conta. Para você ter uma idéia, estamos comendo 230 calorias por dia a mais do que comíamos na década de 70. Para não ganhar peso, teríamos que aumentar proporcionalmente o gasto de energia. E o que fizemos? Fomos ficando cada vez mais sedentários.
Isso significa que é preciso levar a sério a instrução "coma menos" - mesmo que você esteja satisfeito com o ponteiro da balança. À medida que envelhecemos nosso corpo precisa de menos comida para realizar as mesmas atividades. E, ao que parece, engordar quando adulto é um problemão. Dois estudos de longo prazo realizados pela Escola de Medicina de Harvard mostraram que homens e mulheres que engordaram de 5 a 10 quilos depois dos 20 anos têm três vezes mais chance de desenvolver doenças cardíacas, hipertensão e diabetes do que aqueles que engordaram 2 quilos ou menos.
Uma boa dica para evitar que você coma em excesso é restringir as opções. "Quanto mais variedade temos, mais comemos. Isso funciona para qualquer espécie testada", diz Susan Roberts, professora de nutrição da Universidade Tufts, em Boston. Se você come em restaurantes self-service, sabe do que Susan está falando. É quase impossível escolher apenas uma opção quando há pizza, nhoque à bolonhesa e lasanha vegetariana. Nessas horas, lembre-se: você tem que fazer algum esforço.
Para controlar a ingestão de calorias, determine - com a ajuda de um médico - uma média que você deve consumir por dia. A Anvisa, agência do governo brasileiro que cuida da vigilância sanitária, recomenda 2 500, uma quantia considerada alta por muitos nutricionistas. A Pirâmide de Alimentação, criada em 1992 pelo Departamento de Agricultura americano e que se tornou referência mundial, recomenda 2 800 por dia para homens e adolescentes ativos e 2 200 para mulheres ativas e homens inativos. Mulheres inativas não precisam de mais que 1 600 calorias.
Alguns truques podem ajudar a reduzir quantidades - e, assim, as calorias ingeridas. Use um prato menor. "Ele vai ficar cheio mais rápido e obrigar você a parar de comer", diz o médico Walter Willett, que coordena a Departamento de Nutrição da Escola de Saúde Pública de Harvard. Evite se servir mais de uma vez e comece com saladas. Ao contrário do que sua mãe falava, "estrague" seu apetite antes das refeições. Coma pequenos lanches ao longo do dia - frutas ou castanhas. Outra boa sugestão é começar o almoço ou jantar com uma tigela de sopa (sem creme de leite). Estudos recentes sugerem que a textura e a consistência da sopa mantêm o apetite controlado enquanto outros líquidos, como sucos, não ajudam nessa tarefa. O médico Willett dá outra dica preciosa: "Não precisa cortar a sobremesa. Basta dividi-la. A quantidade de gordura e caloria em uma fatia de torta doce é suficiente para a uma família inteira".
E preste atenção nos rótulos. Geralmente, os números que aparecem nas embalagens se referem a porções bem menores do que as que imaginamos à primeira vista. Por exemplo, o rótulo de um chocolate pode indicar que uma porção do alimento tem 230 calorias. Se você ler com atenção, vai ver que uma porção são 15 gramas, e não as 30 da barrinha. Ou seja, no chocolate todo há nada menos que 460 calorias.
Pouco, mas com prazer
Equações, variáveis X e Y, meia porção, contar calorias... Agora que você entendeu tudo, esqueça. Se você se tornar compulsivamente preocupado, não vai conseguir manter uma dieta saudável. "Calorias contam, mas você não precisa contar cada uma delas", diz Willett, autor de Coma, Beba e Seja Saudável, livro que se tornou uma bíblia da alimentação saudável nos Estados Unidos. Se comer virar um suplício recheado de números e cálculos, é bem capaz que você passe a odiar as refeições. E aí vai bastar aparecer um problema na sua vida para você descontar tudo em si mesmo - comendo sem controle. Isso é exatamente o contrário do que os médicos querem.
Desde muito jovens aprendemos que quem nos ama nos dá comida. E, se nos ama muito, nos dá muita comida. Está aí um dos motivos pelos quais não conseguimos nos manter por muito tempo em dietas. Dieta é a privação do prazer, daquilo que amamos mais.
Portanto não adianta ser radical. Nas duas próximas semanas, descubra a quantidade de calorias das porções que você consome com freqüência. Duas colheres de sopa de arroz branco, por exemplo, têm 105 calorias; um bife de frango pequeno grelhado, 160. (Confira outros exemplos na página 65. O Ministério da Saúde está investindo na elaboração de uma tabela completa. A partir do dia 24 de setembro, ela vai estar disponível no endereço www.unicamp.br/nepa/taco) Ajuste-as para que se encaixem na sua média de ingestão diária. Essas duas semanas de treino vão ajudar você a entender a lógica das calorias. A partir da terceira semana, use apenas o bom senso.
Um estudo americano chamado Registro Nacional de Controle de Peso, que investiga os hábitos de 3 mil pessoas bem-sucedidas nas dietas que fazem, descobriu que três dos quatro pontos em comum entre elas estão diretamente ligados ao estilo de vida: todas monitoram com freqüência seu peso e o consumo de comida, todas se exercitam por mais de uma hora todos os dias e nenhuma pula a primeira refeição do dia, o café da manhã. "Não é que o café da manhã emagreça. Mas, em geral, quem toma café da manhã tem uma alimentação mais equilibrada ao longo do dia. É isso que faz a diferença", diz a endocrinologista Annete Abdo, integrante do Projeto de Atendimento ao Obeso, ligado à USP.
Cuidar da alimentação precisa ser algo prazeroso. E isso significa que o sabor não deve ser sacrificado. "É impossível se alimentar só de coisas que você acha horrível", escreveu o médico Andrew Weil no livro Alimentação Ideal para uma Saúde Perfeita. Weil acredita que o ditado "tudo o que é bom engorda" não poderia estar mais longe da verdade. E você vai ver que ele tem razão se decidir se divertir enquanto se alimenta. Procure explorar novos sabores, usar temperos diferentes, experimentar frutas ou folhas que você nunca comeu antes. Use sua inclinação para barganhas quando tiver que escolher entre uma refeição feita em casa ou uma comprada de uma lanchonete ou restaurante: comer em casa é muito mais barato. E você pode controlar os ingredientes usados, além de descobrir um passatempo relaxante e saudável.
Gorduras x carboidratos
Quarto ponto em comum entre os 3 mil "dieteiros" bem-sucedidos: todos limitam a ingestão de gordura. E é aqui que mora o maior dilema nutricional da atualidade: qual é o vilão da dieta moderna? Gorduras ou carboidratos?
Desde 1950, médicos de todo o mundo tentam encontrar diretrizes confiáveis para conter a expansão de barrigas e cinturas. Nos anos 60, pesquisas indicaram que a gordura aumenta a taxa de colesterol e facilita a obstrução das veias. Assim, ela se tornou o inimigo número 1. Bacon e manteiga, nozes e azeite de oliva foram banidos do cardápio ideal. Milhões de pessoas em todo o mundo seguiram as recomendações e os fabricantes de alimentos estamparam "sem colesterol" ou "50% menos gordura" nos mais diversos produtos. Para matar a fome, muita gente aumentou o consumo de carboidratos.
E o que aconteceu? As cinturas continuaram crescendo. Nos Estados Unidos, segundo o Centro Nacional de Estatística de Saúde, a taxa de obesidade pulou de 13% (nos anos 60) para 22% (em 80). E países que consomem muita gordura, como França e Grécia, têm taxas de obesidade e de ataques cardíacos menores que os americanos.
Em 1972, um médico americano lançou uma dieta que soava como heresia criminosa. Ela limitava o consumo de frutas e pães, os alimentos mais recomendados pelos caçadores de gordura, e liberava a ingestão de gorduras e carnes. Robert Atkins vendeu mais de 15 milhões de livros no mundo e ganhou fama de picareta. Ele acreditava que o açúcar (e o nível de insulina provocado por ele) era o verdadeiro responsável pelo aumento de peso e doenças entre seus conterrâneos. As gorduras, ele dizia, estão longe de ser vilãs.
E ele tinha razão. Pelo menos em parte. Os avanços da endocrinologia permitiram que os estudos acompanhassem a reação do corpo aos diferentes tipos de alimento e provassem que as gorduras não fazem só mal. Elas realmente elevam o colesterol ruim (conhecido como LDL), mas algumas elevam também o colesterol bom (conhecido como HDL). O HDL faz bem ao coração. Além disso, está ficando claro que comer um pouco de gordura sacia a fome. Assim, quando ingerimos gorduras de menos, acabamos comendo açúcar demais.
A questão é que nem toda gordura é igual - há muitos tipos delas, cada uma com uma estrutura molecular diferente e, conseqüentemente, com um efeito distinto sobre o corpo. Para resumir, gorduras sólidas são piores que as líquidas. As sólidas são de dois tipos: saturadas (como a manteiga) e trans - também chamadas de gorduras vegetais hidrogenadas (como a maior parte das margarinas). Já as gorduras líquidas são insaturadas, como azeite e óleos presentes em castanhas. Essas são melhores porque aumentam o HDL. As gorduras líquidas também são divididas em dois grupos: monoinsaturadas (abacate, nozes, azeite) e polinsaturadas (peixe, óleo de soja). As gorduras polinsaturadas são as únicas que o corpo não produz sozinho, e elas também vêm em dois tipos: ômega-3 e ômega-6. A ômega-6, que está no óleo de soja, nas carnes e nos laticínios, é muito abundante nos alimentos, e portanto você não precisa se preocupar em consumi-la. Mas a ômega-3 é rara, daí a importância de comer peixe, frutos do mar e óleos de canola e linhaça.
Por muito tempo, a gordura saturada foi vista como a pior. Mas hoje se sabe que ela, ao mesmo tempo em que aumenta o LDL, aumenta também o HDL - ou seja, não faz só mal. Hoje é na gordura trans que a etiqueta "Livre-se disso!" se dependura. O processo de hidrogenização - que consiste em adicionar hidrogênio à gordura vegetal - permite que o produto dure mais tempo na prateleira do supermercado, mas eleva muito o LDL no sangue. Um ótimo negócio para os fabricantes, um péssimo negócio para você. Seu corpo vai agradecer se sorvete, batata frita de saquinho e margarina forem trocados por sorbet, brócolis e azeite. Além disso, é bom ficar atento aos rótulos e evitar produtos que têm "gordura vegetal hidrogenada" na lista de ingredientes.
A reabilitação das gorduras fez emergirem acusações contra outro grupo de alimentos: os carboidratos. A idéia de emagrecer comendo bacon no café da manhã convenceu muita gente cansada de privações na tentativa de perder peso. Hoje, milhões de pessoas (26 milhões só nos Estados Unidos) seguem dietas que limitam a ingestão de carboidratos. Muitos nutricionistas estão esperneando, afinal não há estudos que garantam que tanta proteína e gordura não tenha efeitos negativos a longo prazo. Para atender à nova demanda, a indústria de alimentos estampou "sem carboidratos" ou "baixo índice glicêmico" nas embalagens.
"Índice glicêmico" é a medida do nível de glicose que o alimento gera no sangue. Carboidratos como grãos integrais e frutas têm índice glicêmico baixo - eles são ricos em fibras, que retardam a absorção de açúcar. Outros, como pão e arroz brancos, batata e açúcar têm índices altíssimos. Eles elevam rapidamente a taxa de glicose no sangue e forçam o corpo a armazenar o excesso dentro das células. Quem faz o trabalho de armazenamento é a insulina. Quando comemos alimentos de alto índice glicêmico, produzimos muita insulina de uma só vez. O excesso do hormônio diminui o nível de glicose no sangue e a queda faz o corpo pedir mais, gerando a sensação de fome. Ou seja, consumir muita comida com alto índice glicêmico pode aumentar a compulsão alimentar. E não é só isso: está ficando mais claro que esses altos e baixos na produção de insulina podem levar a diabetes tipo 2, uma doença séria, cuja incidência está explodindo.
A má notícia é que isso significa abrir mão de comer arroz branco e batata todo dia. Além de índice glicêmico altíssimo, eles têm poucos nutrientes comparados a substitutos como brócolis ou ervilhas. E, se você acha impossível substituir arroz, passe em uma loja de produtos naturais. Amaranto, cevada, e quinoa são só alguns dos grãos que você deixa de lado ao optar pela monotonia alva do arroz nosso de cada dia.
Para resumir: não há heróis ou vilões. Gorduras e carboidratos devem estar presentes nas dietas. Entre as gorduras, prefira as dos peixes, nozes e azeite de oliva. E, entre os carboidratos, escolha aqueles presentes em grãos integrais, frutas e verduras. Arrume substitutos para manteiga, margarina, carne vermelha, arroz branco, batata... Substituir alimentos pode ser mais importante do que cortá-los. Experimente trocar a alface-americana da sua salada por espinafre, que tem diversos nutrientes e fibra. E alterne bifes com soja, frango ou peixes. Há muitos indícios de que carne vermelha tenha relação com diversos tipos de câncer.
Conta corrente
Lembre-se de que todo grupo de alimentos tem uma função importante. "Os carboidratos são nossa conta corrente. Possibilitam os esforços físicos diários, como subir uma escada. Já a gordura forma nossa caderneta de poupança. O corpo só usa gordura para esforços mais longos, como exercícios físicos prolongados", diz Annete Abdo. Nesse cenário, proteínas seriam nossa credibilidade. Formam a estrutura que nos permite abrir a conta no banco - ou seja, são a massa corporal. Sem elas, não há conta corrente nem caderneta de poupança.
A metáfora é valiosa em tempos em que a economia fala tão alto. Se você tira todo seu dinheiro da conta corrente (consome poucos carboidratos), vai usar o dinheiro da caderneta de poupança (gordura). O gerente do banco vai achar estranho que você esteja gastando suas reservas e vai cortar seus benefícios (para se proteger da escassez, o corpo reduz o metabolismo). Sem investimentos você perde credibilidade (a massa corporal) e se você precisar de um empréstimo (comer algo mais calórico) seu banco vai cobrar juros altíssimos (você engorda muito mais rápido). É por isso que o único jeito eficiente de mexer em investimentos sem conseqüências desastrosas é ganhar credibilidade. Comer com moderação e fazer exercícios físicos regularmente, que aumentam a massa corporal e dão agilidade ao metabolismo.
Evite ações de alto risco (dietas muito radicais), diversifique investimentos (não coma apenas um grupo de alimentos: variedade é o outro mantra da alimentação). E, lembre-se, muito lucro pode sair caro. Nossa obstinação por barganhas pode se reverter em alguns anos de vida a menos.
Marcadores:
alimentação,
alimento,
carboidratos,
carne,
ciencia,
doenças,
fruta,
frutas,
gastronomia,
legumes,
Medicina,
nutrição,
tratamento
A Olimpíada não tem graça nenhuma
A OLIMPÍADA NÃO TEM GRAÇA NENHUMA
Situações em mês de Olimpíada:
1. Tito Lívio, militar reformado de Belo Horizonte, acorda sobressaltado e corre para buscar o jornal. Engole suas pílulas anti-hipertensivas antes de checar o quadro de medalhas. Irritado, exclama para si mesmo: "Diabos! Precisamos ganhar uma prata para passar à frente dos argentinos!"
2. Raimundo, marido de Maria de Fátima, do Ceará, reclama do bolo solado que lhe foi servido no café da manhã. Enquanto ela batia a massa, sua atenção fora desviada pela TV, que exibia uma prova eliminatória dos 200 metros com barreiras. O competidor brasileiro, de quem dona Maria nunca ouvira falar, tropeçou e chegou em penúltimo lugar.
3. O telejornal dedica quatro minutos à comovente história de Agneta, forte candidata a vencer a maratona. Apesar de correr sob as cores do reino da Suécia, ter deixado a Rocinha aos 4 meses de idade e só conhecer as palavras portuguesas "obrigado" e "saudade", essa simpática negra diz que o Brasil mora em seu coração. Força, Agneta, o país inteiro torce por você!
Não tenho nada contra o esporte. Admiro o entusiasmo de quem de fato está envolvido, direta ou indiretamente, com as competições olímpicas. Nem por isso pretendo surfar na onda de euforia bêbada que quebra por estas praias quando o verde-e-amarelo dá as caras em ginásios, piscinas e velódromos.
Nos jogos de Sydney, fui azucrinado porque não via sentido em perder madrugadas de sono com provas de arremesso de sei-lá-o-quê. O horário grego é mais camarada, mas isso não significa que vou ligar a TV e descobrir que a nação deposita todas as suas esperanças em um velejador de sobrenome escandinavo que, até uma semana antes, era quase desconhecido do público - para quem tanto faz se o atleta em questão pilota um catamarã ou a barca Rio-Niterói. Se ele ganhar medalha, parabéns. Minha vida segue como se nada tivesse ocorrido.
Mas, para boa parte da população, aparentemente algo acontece. É o tal "espírito olímpico". O que seria isso? No site do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), ele é relacionado às seguintes palavras: "compreensão mútua, amizade, solidariedade e fair-play". Ainda segundo o COB, "o Movimento Olímpico se fundamenta na liberdade civil e política, na solidariedade para o desenvolvimento do mundo e na igualdade da ordem econômica, social e cultural". Bonito, não? Vimos uma amostra disso em Moscou, 1980, quando os Estados Unidos resolveram boicotar os primeiros jogos disputados em solo socialista. Também em Los Angeles, 1984, quando os soviéticos deram o troco e não enviaram seu time só para ofuscar a festa americana. Vemos, falando sério, que esse belo discurso tem efeito nulo no mundo ao redor do circo olímpico.
Seria mais honesto se o "espírito olímpico" fosse vendido como competitividade, gana de superar os inimigos numa espécie de guerra mundial em que não fosse preciso matar ninguém. Mas nem isso cola. O desmoronamento do bloco socialista levou junto suas fábricas de atletas. A Olimpíada ficou parecida com a Fórmula 1 na era Ferrari: só dá Schumacher - ou, no caso, Estados Unidos. Não tem graça nenhuma.
Resta-nos assistir aos jogos pela simples emoção do esporte. Agora, convenhamos: você sabe dizer, ao ver imagens de uma regata, qual barco lidera a prova? Você é capaz de avaliar se o desempenho da ginasta romena foi melhor que o da eslovena? Não sei o número de brasileiros que realmente têm essa capacidade. Só sei que metade do país vai explodir em indignação se Daiane dos Santos não levar ouro. Mas, tudo bem, logo saberemos que um paulistano de origem nipônica papou todas no tênis de mesa. O orgulho nacional está salvo.
Repito: não torço contra os atletas brasileiros. Simplesmente acho fora de propósito que toda a população se cubra de glórias com os méritos alheios.
Não quero saber da Olimpíada. Sou minoria. Quase todo mundo, movido pelo "espírito olímpico", vai sintonizar a TV nos jogos. E, ainda imbuída desse espírito atlético, muita gente vai se convencer de que precisa de um tênis com solado air-flex-power-system, daqueles próprios para corredores - mas que acabam sendo gastos nos corredores do shopping center.
Situações em mês de Olimpíada:
1. Tito Lívio, militar reformado de Belo Horizonte, acorda sobressaltado e corre para buscar o jornal. Engole suas pílulas anti-hipertensivas antes de checar o quadro de medalhas. Irritado, exclama para si mesmo: "Diabos! Precisamos ganhar uma prata para passar à frente dos argentinos!"
2. Raimundo, marido de Maria de Fátima, do Ceará, reclama do bolo solado que lhe foi servido no café da manhã. Enquanto ela batia a massa, sua atenção fora desviada pela TV, que exibia uma prova eliminatória dos 200 metros com barreiras. O competidor brasileiro, de quem dona Maria nunca ouvira falar, tropeçou e chegou em penúltimo lugar.
3. O telejornal dedica quatro minutos à comovente história de Agneta, forte candidata a vencer a maratona. Apesar de correr sob as cores do reino da Suécia, ter deixado a Rocinha aos 4 meses de idade e só conhecer as palavras portuguesas "obrigado" e "saudade", essa simpática negra diz que o Brasil mora em seu coração. Força, Agneta, o país inteiro torce por você!
Não tenho nada contra o esporte. Admiro o entusiasmo de quem de fato está envolvido, direta ou indiretamente, com as competições olímpicas. Nem por isso pretendo surfar na onda de euforia bêbada que quebra por estas praias quando o verde-e-amarelo dá as caras em ginásios, piscinas e velódromos.
Nos jogos de Sydney, fui azucrinado porque não via sentido em perder madrugadas de sono com provas de arremesso de sei-lá-o-quê. O horário grego é mais camarada, mas isso não significa que vou ligar a TV e descobrir que a nação deposita todas as suas esperanças em um velejador de sobrenome escandinavo que, até uma semana antes, era quase desconhecido do público - para quem tanto faz se o atleta em questão pilota um catamarã ou a barca Rio-Niterói. Se ele ganhar medalha, parabéns. Minha vida segue como se nada tivesse ocorrido.
Mas, para boa parte da população, aparentemente algo acontece. É o tal "espírito olímpico". O que seria isso? No site do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), ele é relacionado às seguintes palavras: "compreensão mútua, amizade, solidariedade e fair-play". Ainda segundo o COB, "o Movimento Olímpico se fundamenta na liberdade civil e política, na solidariedade para o desenvolvimento do mundo e na igualdade da ordem econômica, social e cultural". Bonito, não? Vimos uma amostra disso em Moscou, 1980, quando os Estados Unidos resolveram boicotar os primeiros jogos disputados em solo socialista. Também em Los Angeles, 1984, quando os soviéticos deram o troco e não enviaram seu time só para ofuscar a festa americana. Vemos, falando sério, que esse belo discurso tem efeito nulo no mundo ao redor do circo olímpico.
Seria mais honesto se o "espírito olímpico" fosse vendido como competitividade, gana de superar os inimigos numa espécie de guerra mundial em que não fosse preciso matar ninguém. Mas nem isso cola. O desmoronamento do bloco socialista levou junto suas fábricas de atletas. A Olimpíada ficou parecida com a Fórmula 1 na era Ferrari: só dá Schumacher - ou, no caso, Estados Unidos. Não tem graça nenhuma.
Resta-nos assistir aos jogos pela simples emoção do esporte. Agora, convenhamos: você sabe dizer, ao ver imagens de uma regata, qual barco lidera a prova? Você é capaz de avaliar se o desempenho da ginasta romena foi melhor que o da eslovena? Não sei o número de brasileiros que realmente têm essa capacidade. Só sei que metade do país vai explodir em indignação se Daiane dos Santos não levar ouro. Mas, tudo bem, logo saberemos que um paulistano de origem nipônica papou todas no tênis de mesa. O orgulho nacional está salvo.
Repito: não torço contra os atletas brasileiros. Simplesmente acho fora de propósito que toda a população se cubra de glórias com os méritos alheios.
Não quero saber da Olimpíada. Sou minoria. Quase todo mundo, movido pelo "espírito olímpico", vai sintonizar a TV nos jogos. E, ainda imbuída desse espírito atlético, muita gente vai se convencer de que precisa de um tênis com solado air-flex-power-system, daqueles próprios para corredores - mas que acabam sendo gastos nos corredores do shopping center.
Marcadores:
coluna,
comentarios,
diversão,
entretenimento,
jogos olimpicos,
olimpiada
Memórias Olímpicas - Curiosidades
MEMÓRIAS OLÍMPICAS - Curiosidades
Não tem palpite mais infeliz do que apostar qual será o maior destaque de uma Olimpíada. As últimas décadas deixam isso bem claro. Por exemplo: na de Los Angeles 1984, o americano Carl Lewis ganhou quatro medalhas de ouro no atletismo, igualando o recorde que Jesse Owens estabelecera nos Jogos de Berlim 1936. Um fenômeno. Mas a imagem mais lembrada é a de uma instrutora de esqui de 39 anos, que resolveu participar da maratona por diversão. Apesar de ter chegado entre as últimas, virou a maior celebridade do mundo naqueles dias. Acontece de tudo nesse evento que pára todo o planeta.
SETEMBRO NEGRO - MUNIQUE 1972
Os olhos estavam voltados para o nadador americano Mark Spitz. Mas o que marcou foram oito terroristas palestinos, que invadiram a vila olímpica e fizeram 11 israelenses de reféns. Queriam trocá-los pela libertação de 236 terroristas. Acuados pela polícia, mataram os atletas. Dois conseguiram fugir
OBJETIVIDADE: NOTA 10 - MONTREAL 1976
Antes de Montreal, as atenções da ginástica estavam no supertime soviético. Mas só até a romeninha Nadia Comaneci cravar a primeira nota 10 numa Olimpíada e levar três ouros. "O que você pretende depois disso?", quis saber um repórter. "Voltar para casa", disse ela
MASCOTE FOFO - MOSCOU 1980
Nenhuma Olimpíada foi tão contaminada pela política quanto a de Moscou. Quando o presidente americano Jimmy Carter achou que um boicote ao país inimigo o reelegeria, os EUA ficaram de fora. Agentes da KGB vigiavam atletas, com medo de espionagem. Para contrabalançar o clima pesado, só o ursinho Misha: o mascote mais fofo da história, que até chorou na despedida
MASCOTE FRACASSADO - ATLANTA 1996
Os organizadores dos Jogos de Atlanta criaram um mascote modernoso: Whatizit, que parecia ter saído de um videogame. Não pegou. Então resolveram rebatizá-lo como Izzy. E criaram um enredo, dizendo que ele "vivia dentro da tocha olímpica em busca de cinco anéis mágicos". Aí é que não pegou mesmo
DREAM TEAM, PRIMEIRO E ÚNICO - BARCELONA 1992
Estados Unidos 116 X Angola 48. Esse foi o primeiro dos oito placares centenários que o time americano de basquete aplicou em Barcelona. O país tinha levado pela primeira vez seus profissionais. Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird, três dos melhores em todos os tempos, formaram então o único Time dos Sonhos digno desse nome
OVERDOSE - SEUL 1988
O canadense Ben Johnson levou a fama de bombado ao ser flagrado no antidoping. Mas a americana Florence Griffith Joyner se safou. Suspeita de usar drogas, cravou os recordes dos 100 e dos 200 metros, e se aposentou em 1989, quando se determinou a obrigatoriedade dos exames-surpresa
HEROÍNA POR ACASO - LOS ANGELES 1984
Entrou o que parecia uma zumbi no Estádio Olímpico de Los Angeles. Puxando a perna e com os braços caídos, a suíça Gabrielle Andersen-Scheiss cambaleou por 6 minutos para terminar a maratona. À beira da morte por exaustão, chegou em 37º sob aplausos. E virou heroína. Tudo graças a um intenso despreparo físico
Não tem palpite mais infeliz do que apostar qual será o maior destaque de uma Olimpíada. As últimas décadas deixam isso bem claro. Por exemplo: na de Los Angeles 1984, o americano Carl Lewis ganhou quatro medalhas de ouro no atletismo, igualando o recorde que Jesse Owens estabelecera nos Jogos de Berlim 1936. Um fenômeno. Mas a imagem mais lembrada é a de uma instrutora de esqui de 39 anos, que resolveu participar da maratona por diversão. Apesar de ter chegado entre as últimas, virou a maior celebridade do mundo naqueles dias. Acontece de tudo nesse evento que pára todo o planeta.
SETEMBRO NEGRO - MUNIQUE 1972
Os olhos estavam voltados para o nadador americano Mark Spitz. Mas o que marcou foram oito terroristas palestinos, que invadiram a vila olímpica e fizeram 11 israelenses de reféns. Queriam trocá-los pela libertação de 236 terroristas. Acuados pela polícia, mataram os atletas. Dois conseguiram fugir
OBJETIVIDADE: NOTA 10 - MONTREAL 1976
Antes de Montreal, as atenções da ginástica estavam no supertime soviético. Mas só até a romeninha Nadia Comaneci cravar a primeira nota 10 numa Olimpíada e levar três ouros. "O que você pretende depois disso?", quis saber um repórter. "Voltar para casa", disse ela
MASCOTE FOFO - MOSCOU 1980
Nenhuma Olimpíada foi tão contaminada pela política quanto a de Moscou. Quando o presidente americano Jimmy Carter achou que um boicote ao país inimigo o reelegeria, os EUA ficaram de fora. Agentes da KGB vigiavam atletas, com medo de espionagem. Para contrabalançar o clima pesado, só o ursinho Misha: o mascote mais fofo da história, que até chorou na despedida
MASCOTE FRACASSADO - ATLANTA 1996
Os organizadores dos Jogos de Atlanta criaram um mascote modernoso: Whatizit, que parecia ter saído de um videogame. Não pegou. Então resolveram rebatizá-lo como Izzy. E criaram um enredo, dizendo que ele "vivia dentro da tocha olímpica em busca de cinco anéis mágicos". Aí é que não pegou mesmo
DREAM TEAM, PRIMEIRO E ÚNICO - BARCELONA 1992
Estados Unidos 116 X Angola 48. Esse foi o primeiro dos oito placares centenários que o time americano de basquete aplicou em Barcelona. O país tinha levado pela primeira vez seus profissionais. Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird, três dos melhores em todos os tempos, formaram então o único Time dos Sonhos digno desse nome
OVERDOSE - SEUL 1988
O canadense Ben Johnson levou a fama de bombado ao ser flagrado no antidoping. Mas a americana Florence Griffith Joyner se safou. Suspeita de usar drogas, cravou os recordes dos 100 e dos 200 metros, e se aposentou em 1989, quando se determinou a obrigatoriedade dos exames-surpresa
HEROÍNA POR ACASO - LOS ANGELES 1984
Entrou o que parecia uma zumbi no Estádio Olímpico de Los Angeles. Puxando a perna e com os braços caídos, a suíça Gabrielle Andersen-Scheiss cambaleou por 6 minutos para terminar a maratona. À beira da morte por exaustão, chegou em 37º sob aplausos. E virou heroína. Tudo graças a um intenso despreparo físico
Clima de Guerra - Livro
CLIMA DE GUERRA - Livro - Como a natureza mudou a História
Foi azar. No dia em que os americanos planejavam lançar a primeira bomba atômica, um dos poucos alvos japoneses não cobertos pela nebulosidade era Hiroshima. Os americanos optaram pela cidade onde se tinha maior visibilidade e, em 6 de agosto de 1945, o destino de muita gente foi traçado porque o dia estava bonito. Não foi a única vez que o clima fez história. O desfecho de muitas guerras seria bem diferente não fosse uma tempestade ou um tufão fora de hora. No livro Como a Natureza Mudou a História, o jornalista de guerra Erik Durschmied conta os momentos em que o clima influenciou o resultado de batalhas importantes, do século 9 d.C. à Guerra do Vietnã. No entanto, antes de chegar aos desastres naturais que mudaram a história, ele se concentra nos mínimos detalhes de cada guerra, a ponto de cansar quem não se interessa por nomes de tanques alemães ou modelos de uniformes romanos. No final, o autor deixa tensão no ar: meteorologistas militares americanos juram que poderão controlar o tempo a partir de 2025. Se algum dia isso acontecer, o homem terá dado origem à maior de todas as armas.
Como a Natureza Mudou a História
Erik Durschmied
Ediouro, 350 páginas, R$ 40
Foi azar. No dia em que os americanos planejavam lançar a primeira bomba atômica, um dos poucos alvos japoneses não cobertos pela nebulosidade era Hiroshima. Os americanos optaram pela cidade onde se tinha maior visibilidade e, em 6 de agosto de 1945, o destino de muita gente foi traçado porque o dia estava bonito. Não foi a única vez que o clima fez história. O desfecho de muitas guerras seria bem diferente não fosse uma tempestade ou um tufão fora de hora. No livro Como a Natureza Mudou a História, o jornalista de guerra Erik Durschmied conta os momentos em que o clima influenciou o resultado de batalhas importantes, do século 9 d.C. à Guerra do Vietnã. No entanto, antes de chegar aos desastres naturais que mudaram a história, ele se concentra nos mínimos detalhes de cada guerra, a ponto de cansar quem não se interessa por nomes de tanques alemães ou modelos de uniformes romanos. No final, o autor deixa tensão no ar: meteorologistas militares americanos juram que poderão controlar o tempo a partir de 2025. Se algum dia isso acontecer, o homem terá dado origem à maior de todas as armas.
Como a Natureza Mudou a História
Erik Durschmied
Ediouro, 350 páginas, R$ 40
Quanto mais quente melhor - Aquecimento Global
QUANTO MAIS QUENTE MELHOR - Aquecimento Global
A Terra está cada vez mais quente, o clima cada vez mais louco, as catástrofes naturais aumentam, os oceanos ameaçam transbordar e o homem tem a maior parcela de culpa nessa bagunça toda. Alguém ainda tem dúvida de que isso esteja realmente acontecendo com o planeta? Antes de responder, saiba que o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), consórcio de cientistas de todo o mundo reunidos pela ONU, confirmou todas as afirmações acima.
Se estivesse lendo esta entrevista, o americano John Christy, ele mesmo integrante do IPCC e signatário do relatório publicado em 2001, teria levantado o braço para responder que sim, ele discorda do quadro climático pintado por seus companheiros. Voto vencido entre os cerca de 130 especialistas que debateram o tema para a ONU, o meteorologista até acredita que a temperatura na Terra esteja aumentando, mas em ritmo lento e dentro da normalidade. Christy afirma também que qualquer análise é frágil frente à falta de dados históricos. Até 1979, quando começaram a ser feitas medições por satélite, tudo que existia eram termômetros espalhados quase que aleatoriamente pelo globo.
Professor da Universidade do Alabama, Christy faz parte de um grupo de especialistas pouco acreditados até serem alçados ao centro do poder de decisão, a partir do ano 2000, com o governo Bush - uma administração que vive às turras com defensores de acordos para controlar o clima. Para os adversários, eles estão "tocando violino enquanto Roma pega fogo". Passados quase quatro anos de comando republicano nos Estados Unidos, suas teses viraram campos de batalha - e colocaram em ponto de ebulição o debate sobre o aquecimento global.
Você acusa cientistas e mídia de fazerem alarmismo. Qual a segurança para dizer, sem qualquer dúvida, que o homem não está provocando alterações no clima?
Todas as observações mostram que não estamos caminhando para mudanças climáticas catastróficas. Quando medimos a incidência de tempestades, furacões ou temperaturas severas não encontramos uma tendência única ao redor do globo. Portanto, não é possível dizer que o clima está "piorando".
As conclusões dos seus estudos contrariam a maioria dos pesquisadores. Quais erros de análise você acha que seus adversários estão cometendo?
Em primeiro lugar, basearam suas conclusões em dados de termômetros espalhados próximo à superfície do planeta. Ocorre que uma indicação-chave das mudanças é medir a temperatura da atmosfera como um todo, em todas as camadas. E isso pode ser feito apenas por satélites. As temperaturas atmosféricas mostram que temos um aquecimento modesto, equivalente a 30% do que afirmam os modelos climáticos mais populares. É uma indicação clara de que as projeções alarmistas não são confiáveis. Satélites são capazes de medir todo o planeta de maneira sistemática e diária e, portanto, fazem um retrato melhor da situação do que termômetros distribuídos pela superfície. Baseando-me nesses dados, concluí que o aquecimento global existe, mas não na velocidade propagandeada por ambientalistas.
Quantos dos pesquisadores do IPCC concordam com suas conclusões?
O capítulo que trata desse tema teve cerca de 130 autores. Não saberia dizer quantos concordam com todos os meus pontos. Mas diria que a maioria acredita em mudanças climáticas mais rápidas do que as que eu medi.
O relatório do IPCC também apontou a ação humana como fator-chave para o aquecimento global. Para você, quem é responsável por esse processo?
Que tal culpar a mãe natureza? A temperatura do planeta nunca é estática. Ela sempre muda. O aquecimento - ou resfriamento - é resultado de uma série de forças que atuam no clima, como variações solares, erupções vulcânicas, gases do efeito estufa ou alterações da superfície terrestre. Não é possível separar qual força está causando as mudanças - nem se elas são humanas ou não.
Ainda que modesto, o aumento da temperatura não ameaça o ambiente?
É impossível fazer julgamentos e previsões exatas sobre as mudanças climáticas, mas acredito que as pessoas não terão problemas com elas, e, na verdade, talvez até encontrem benefícios num planeta um pouco mais quente. Não acredito que o aumento do efeito estufa seja algo com que a humanidade tenha dificuldade para lidar. Sabemos que mais gás carbônico ajudaria no crescimento das plantas, uma vez que ele é a comida básica dos vegetais. Estima-se que a produção de alimentos já tenha crescido 16% por conta do aumento da concentração de gás carbônico e eu creio que isso seja bom para nós. Vale lembrar que os mais devastadores problemas ecológicos não são causados por mudanças climáticas, mas pela falta de água limpa e destruição dos hábitats naturais.
Seu trabalho é baseado em medições feitas por satélite, disponíveis a partir de 1979. Com essa base curta de comparação, não é temerário afirmar que inexistem riscos de o aquecimento global colocar o planeta numa condição perigosa?
Ninguém pode definir o que é "perigoso". Essa palavra traz embutido um juízo de valor que não contribui para o debate. Para fazer propaganda de um desastre climático próximo, os ambientalistas utilizam a medição de termômetros instalados desigualmente pelo planeta, próximos à superfície terrestre, e que mostram um aquecimento médio três vezes maior do que o registrado pelos satélites que medem a temperatura da atmosfera. Prefiro ficar com fatos, não com crenças.
Se suas teses fossem aceitas pela comunidade científica, como elas influenciariam a aplicação do protocolo de Kyoto?
O maior equívoco de Kyoto é que ele não tem efeito mensurável no sistema climático. Ainda que os Estados Unidos assinem o acordo e ele seja colocado em prática, não haverá qualquer influência no clima. Assim, é completamente irrelevante as pessoas aceitarem minhas descobertas ou não. O que aconteceria caso o protocolo fosse aplicado são efeitos econômicos significativos que certamente afetariam a capacidade americana de fazer comércio com parceiros como o Brasil. E isso causaria o declínio econômico brasileiro, com incremento da pobreza e outros efeitos.
Você é um homem muito religioso. De que maneira isso influencia suas pesquisas e análises científicas?
Minhas pesquisas são publicadas nas mais importantes revistas especializadas e resultam de métodos científicos convencionais. No entanto, como um ex-missionário na África, também sou muito preocupado com a maneira como o conhecimento científico é utilizado - ou mal utilizado - para influenciar políticas públicas que podem até matar. Me incomoda ver como projeções teóricas repletas de limitações são utilizadas para promover regulamentos que reduzem a qualidade de vida. Energia é sinônimo de vida mais longa e melhor. Reduzir o acesso a ela por meio de regulamentações como Kyoto não é do interesse público. Eu desejo para os brasileiros um nível melhor de saúde e segurança, e não um tratado que vá privá-los de avanços nesses campos.
A Terra está cada vez mais quente, o clima cada vez mais louco, as catástrofes naturais aumentam, os oceanos ameaçam transbordar e o homem tem a maior parcela de culpa nessa bagunça toda. Alguém ainda tem dúvida de que isso esteja realmente acontecendo com o planeta? Antes de responder, saiba que o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), consórcio de cientistas de todo o mundo reunidos pela ONU, confirmou todas as afirmações acima.
Se estivesse lendo esta entrevista, o americano John Christy, ele mesmo integrante do IPCC e signatário do relatório publicado em 2001, teria levantado o braço para responder que sim, ele discorda do quadro climático pintado por seus companheiros. Voto vencido entre os cerca de 130 especialistas que debateram o tema para a ONU, o meteorologista até acredita que a temperatura na Terra esteja aumentando, mas em ritmo lento e dentro da normalidade. Christy afirma também que qualquer análise é frágil frente à falta de dados históricos. Até 1979, quando começaram a ser feitas medições por satélite, tudo que existia eram termômetros espalhados quase que aleatoriamente pelo globo.
Professor da Universidade do Alabama, Christy faz parte de um grupo de especialistas pouco acreditados até serem alçados ao centro do poder de decisão, a partir do ano 2000, com o governo Bush - uma administração que vive às turras com defensores de acordos para controlar o clima. Para os adversários, eles estão "tocando violino enquanto Roma pega fogo". Passados quase quatro anos de comando republicano nos Estados Unidos, suas teses viraram campos de batalha - e colocaram em ponto de ebulição o debate sobre o aquecimento global.
Você acusa cientistas e mídia de fazerem alarmismo. Qual a segurança para dizer, sem qualquer dúvida, que o homem não está provocando alterações no clima?
Todas as observações mostram que não estamos caminhando para mudanças climáticas catastróficas. Quando medimos a incidência de tempestades, furacões ou temperaturas severas não encontramos uma tendência única ao redor do globo. Portanto, não é possível dizer que o clima está "piorando".
As conclusões dos seus estudos contrariam a maioria dos pesquisadores. Quais erros de análise você acha que seus adversários estão cometendo?
Em primeiro lugar, basearam suas conclusões em dados de termômetros espalhados próximo à superfície do planeta. Ocorre que uma indicação-chave das mudanças é medir a temperatura da atmosfera como um todo, em todas as camadas. E isso pode ser feito apenas por satélites. As temperaturas atmosféricas mostram que temos um aquecimento modesto, equivalente a 30% do que afirmam os modelos climáticos mais populares. É uma indicação clara de que as projeções alarmistas não são confiáveis. Satélites são capazes de medir todo o planeta de maneira sistemática e diária e, portanto, fazem um retrato melhor da situação do que termômetros distribuídos pela superfície. Baseando-me nesses dados, concluí que o aquecimento global existe, mas não na velocidade propagandeada por ambientalistas.
Quantos dos pesquisadores do IPCC concordam com suas conclusões?
O capítulo que trata desse tema teve cerca de 130 autores. Não saberia dizer quantos concordam com todos os meus pontos. Mas diria que a maioria acredita em mudanças climáticas mais rápidas do que as que eu medi.
O relatório do IPCC também apontou a ação humana como fator-chave para o aquecimento global. Para você, quem é responsável por esse processo?
Que tal culpar a mãe natureza? A temperatura do planeta nunca é estática. Ela sempre muda. O aquecimento - ou resfriamento - é resultado de uma série de forças que atuam no clima, como variações solares, erupções vulcânicas, gases do efeito estufa ou alterações da superfície terrestre. Não é possível separar qual força está causando as mudanças - nem se elas são humanas ou não.
Ainda que modesto, o aumento da temperatura não ameaça o ambiente?
É impossível fazer julgamentos e previsões exatas sobre as mudanças climáticas, mas acredito que as pessoas não terão problemas com elas, e, na verdade, talvez até encontrem benefícios num planeta um pouco mais quente. Não acredito que o aumento do efeito estufa seja algo com que a humanidade tenha dificuldade para lidar. Sabemos que mais gás carbônico ajudaria no crescimento das plantas, uma vez que ele é a comida básica dos vegetais. Estima-se que a produção de alimentos já tenha crescido 16% por conta do aumento da concentração de gás carbônico e eu creio que isso seja bom para nós. Vale lembrar que os mais devastadores problemas ecológicos não são causados por mudanças climáticas, mas pela falta de água limpa e destruição dos hábitats naturais.
Seu trabalho é baseado em medições feitas por satélite, disponíveis a partir de 1979. Com essa base curta de comparação, não é temerário afirmar que inexistem riscos de o aquecimento global colocar o planeta numa condição perigosa?
Ninguém pode definir o que é "perigoso". Essa palavra traz embutido um juízo de valor que não contribui para o debate. Para fazer propaganda de um desastre climático próximo, os ambientalistas utilizam a medição de termômetros instalados desigualmente pelo planeta, próximos à superfície terrestre, e que mostram um aquecimento médio três vezes maior do que o registrado pelos satélites que medem a temperatura da atmosfera. Prefiro ficar com fatos, não com crenças.
Se suas teses fossem aceitas pela comunidade científica, como elas influenciariam a aplicação do protocolo de Kyoto?
O maior equívoco de Kyoto é que ele não tem efeito mensurável no sistema climático. Ainda que os Estados Unidos assinem o acordo e ele seja colocado em prática, não haverá qualquer influência no clima. Assim, é completamente irrelevante as pessoas aceitarem minhas descobertas ou não. O que aconteceria caso o protocolo fosse aplicado são efeitos econômicos significativos que certamente afetariam a capacidade americana de fazer comércio com parceiros como o Brasil. E isso causaria o declínio econômico brasileiro, com incremento da pobreza e outros efeitos.
Você é um homem muito religioso. De que maneira isso influencia suas pesquisas e análises científicas?
Minhas pesquisas são publicadas nas mais importantes revistas especializadas e resultam de métodos científicos convencionais. No entanto, como um ex-missionário na África, também sou muito preocupado com a maneira como o conhecimento científico é utilizado - ou mal utilizado - para influenciar políticas públicas que podem até matar. Me incomoda ver como projeções teóricas repletas de limitações são utilizadas para promover regulamentos que reduzem a qualidade de vida. Energia é sinônimo de vida mais longa e melhor. Reduzir o acesso a ela por meio de regulamentações como Kyoto não é do interesse público. Eu desejo para os brasileiros um nível melhor de saúde e segurança, e não um tratado que vá privá-los de avanços nesses campos.
Marcadores:
aquecimento,
aquecimento global,
ciencia,
clima,
climatologista,
Combustivel,
efeito estufa,
Geografia,
mãe natureza,
Planeta Terra,
Terra
Geometria Espacial - Cemitério de Aviões
GEOMETRIA ESPACIAL - Cemitério de Aviões
REPOUSO DO GUERREIRO
O cemitério de bombardeiros B-52, no Arizona, é resquício da Guerra Fria. As 350 aeronaves reunidas lá fazem parte de um tratado de desarmamento. Elas são expostas aos satélites russos, que podem confirmar o cumprimento do acordo
GIRA TREM
Todas as fotos deste ensaio são parte do projeto Landslides, publicado no ano passado. Esta, de uma plataforma giratória para locomotivas em Minneapolis, é a mais antiga: foi tirada em 1985
LATARIA ARTÍSTICA
Alex voa num monomotor Cessna com capacidade para dois passageiros. Quando fotografa, ele coloca boa parte do corpo para fora da aeronave. Só assim consegue encontrar em um ferro-velho como este, em Massachusetts, a imagem com jeitão de obra de arte.
CALMA OU CAOS?
Na pequena Duxbury, as docas abrigam um enigma: estamos diante de uma paisagem bucólica ou de uma imensa bagunça em que é impossível encontrar o próprio barco?
FUTEBOl ASFALTADO
"Esse gigantesco espaço asfaltado só é utilizado umas 20 vezes por ano", diz Alex. Ele reclama da área dedicada aos carros neste estádio de futebol americano em Maryland. É feio. Mas quem não queria uma dessas nos estádios brasileiros?
FLORES E QUÍMICOS
Os tanques para produtos químicos na Virgínia Ocidental até parecem embelezar a paisagem (à esq.). Em Chicago, as docas circulares se transformam em margaridas quando vistas do céu (à dir.). Os barcos, que parecem pequenos, na verdade são veleiros de grande porte.
REPOUSO DO GUERREIRO
O cemitério de bombardeiros B-52, no Arizona, é resquício da Guerra Fria. As 350 aeronaves reunidas lá fazem parte de um tratado de desarmamento. Elas são expostas aos satélites russos, que podem confirmar o cumprimento do acordo
GIRA TREM
Todas as fotos deste ensaio são parte do projeto Landslides, publicado no ano passado. Esta, de uma plataforma giratória para locomotivas em Minneapolis, é a mais antiga: foi tirada em 1985
LATARIA ARTÍSTICA
Alex voa num monomotor Cessna com capacidade para dois passageiros. Quando fotografa, ele coloca boa parte do corpo para fora da aeronave. Só assim consegue encontrar em um ferro-velho como este, em Massachusetts, a imagem com jeitão de obra de arte.
CALMA OU CAOS?
Na pequena Duxbury, as docas abrigam um enigma: estamos diante de uma paisagem bucólica ou de uma imensa bagunça em que é impossível encontrar o próprio barco?
FUTEBOl ASFALTADO
"Esse gigantesco espaço asfaltado só é utilizado umas 20 vezes por ano", diz Alex. Ele reclama da área dedicada aos carros neste estádio de futebol americano em Maryland. É feio. Mas quem não queria uma dessas nos estádios brasileiros?
FLORES E QUÍMICOS
Os tanques para produtos químicos na Virgínia Ocidental até parecem embelezar a paisagem (à esq.). Em Chicago, as docas circulares se transformam em margaridas quando vistas do céu (à dir.). Os barcos, que parecem pequenos, na verdade são veleiros de grande porte.
Marcadores:
Aeronautica,
Aeronave,
Arte,
campo,
EUA,
ferro-velho,
Fotografia,
industria,
Lixo,
maquina
sábado, 27 de novembro de 2010
Navajo Joe - Pistoleiro Implacavel - Filme
Navajo Joe - Pistoleiro Implacavel - Filme de 1966
Sinopse
Joe (Burt Reynolds, em um de seus primeiros papéis como protagonista) é o guerreiro Navajo que enfrenta sozinho o bando liderado por Duncan (Aldo Sambrell) após o massacre de sua aldeia. Demonstra certa crítica social abordando o tema dos índios. Trilha sonora épica de Ennio Morricone.
VISUALIZAÇÃO RAPIDA:
http://www.youtube.com/watch?v=qLDemFGdhuM
DOWNLOAD DO FILME LEGENDADO EM PORTUGUES:
http://www.4shared.com/file/SKCuiVJR/Joe-pistoleiro_implacavel.html
Sinopse
Joe (Burt Reynolds, em um de seus primeiros papéis como protagonista) é o guerreiro Navajo que enfrenta sozinho o bando liderado por Duncan (Aldo Sambrell) após o massacre de sua aldeia. Demonstra certa crítica social abordando o tema dos índios. Trilha sonora épica de Ennio Morricone.
VISUALIZAÇÃO RAPIDA:
http://www.youtube.com/watch?v=qLDemFGdhuM
DOWNLOAD DO FILME LEGENDADO EM PORTUGUES:
http://www.4shared.com/file/SKCuiVJR/Joe-pistoleiro_implacavel.html
Olimpiadas Bizarras - Curiosidades
OLIMPÍADAS BIZZARAS - Curiosidades
Criatividade - Amsterdã 1928
O remador australiano Henry Pearce era tão melhor que seus adversários que, no meio da prova de 1928, parou seu barco para dar passagem para uma família de patos atravessar. Mesmo assim levou o ouro, terminando bem à frente dos outros atletas
Criatividade - Londres 1908
O americano Walter Dray era o recordista mundial em salto com vara no início do século passado, com a marca de 3,90 metros. Ele levaria fácil o ouro em 1908, mas sua mãe achava que ele estava pulando muito alto e que poderia se machucar uma hora dessas. A pedido dela, Dray desistiu
Criatividade - Sidney 2000
O nadador Eric Moussambani, da Guiné Equatorial, levou a sério a denominação "livre" na prova dos 100 metros nado livre. Sem fôlego, mas com vontade de chegar ao fim, começou a nadar no popular estilo cachorrinho. Os juízes chegaram a achar que ele estava se afogando. Tempo final: 1 minuto e 52 segundos. O tempo médio numa prova dessas é de 50 segundos
Esperteza - Paris 1900
É difícil eleger o maior trapaceiro da história das Olimpíadas. Mas a tripulação do iate francês Carabinier é presença garantida. No dia da prova de vela não havia vento. O Carabinier terminou logo a prova, à frente de todos. A glória durou pouco: os juízes logo descobriram um motor escondido
Esperteza - Paris 1900
A equipe de remo da Holanda de 1900 demitiu o chefe do barco pouco antes da prova: ele estava muito gordo. Para o lugar, chamaram um menino francês da platéia, de uns 10 anos. Venceram e a vitória foi considerada como de uma equipe franco-holandesa
Esperteza - St. Louis 1904
A maratona de 1904 foi o caos. O calor insuportável e o percurso por estradas poeirentas pioravam a situação. Mas isso não justifica o que o americano Fred Lorz fez para vencer, 3 horas e 13 minutos depois da largada. Após 15 quilômetros, pegou uma carona de carro para completar o percurso. Não adiantou: chegou primeiro, mas não levou o ouro
Nervosismo - Melbourne 1976
Tem gente que chora quando não consegue uma boa atuação numa Olimpíada. Os iatistas ingleses David Hunt e Alan Warren não. Depois de ganhar a prata em 1972, não conseguiram nem o bronze em 1976. Estourando de raiva, atearam fogo no próprio barco logo depois do fracasso
Nervosismo - Seul 1988
Alguns atletas frustrados gostam de colocar a culpa pela derrota em juízes. Mas o campeão olímpico em protesto prolongado contra a autoridade é o boxeador Byun Jong-Li. Em 1988, o norte-coreano ficou 1 hora e 7 minutos sentado no ringue depois de perder por decisão do juiz
Nervosismo - Atenas 1896
Mesmo para quem está acostumado, correr 42 quilômetros pode provocar reações bizarras. Em 1896, o australiano Edwin Flack estava tão exausto que começou a delirar. Imaginando-se atacado pela turba, espancou um espectador. Em seguida, ele é que foi derrubado. Pelo cansaço
Criatividade - Amsterdã 1928
O remador australiano Henry Pearce era tão melhor que seus adversários que, no meio da prova de 1928, parou seu barco para dar passagem para uma família de patos atravessar. Mesmo assim levou o ouro, terminando bem à frente dos outros atletas
Criatividade - Londres 1908
O americano Walter Dray era o recordista mundial em salto com vara no início do século passado, com a marca de 3,90 metros. Ele levaria fácil o ouro em 1908, mas sua mãe achava que ele estava pulando muito alto e que poderia se machucar uma hora dessas. A pedido dela, Dray desistiu
Criatividade - Sidney 2000
O nadador Eric Moussambani, da Guiné Equatorial, levou a sério a denominação "livre" na prova dos 100 metros nado livre. Sem fôlego, mas com vontade de chegar ao fim, começou a nadar no popular estilo cachorrinho. Os juízes chegaram a achar que ele estava se afogando. Tempo final: 1 minuto e 52 segundos. O tempo médio numa prova dessas é de 50 segundos
Esperteza - Paris 1900
É difícil eleger o maior trapaceiro da história das Olimpíadas. Mas a tripulação do iate francês Carabinier é presença garantida. No dia da prova de vela não havia vento. O Carabinier terminou logo a prova, à frente de todos. A glória durou pouco: os juízes logo descobriram um motor escondido
Esperteza - Paris 1900
A equipe de remo da Holanda de 1900 demitiu o chefe do barco pouco antes da prova: ele estava muito gordo. Para o lugar, chamaram um menino francês da platéia, de uns 10 anos. Venceram e a vitória foi considerada como de uma equipe franco-holandesa
Esperteza - St. Louis 1904
A maratona de 1904 foi o caos. O calor insuportável e o percurso por estradas poeirentas pioravam a situação. Mas isso não justifica o que o americano Fred Lorz fez para vencer, 3 horas e 13 minutos depois da largada. Após 15 quilômetros, pegou uma carona de carro para completar o percurso. Não adiantou: chegou primeiro, mas não levou o ouro
Nervosismo - Melbourne 1976
Tem gente que chora quando não consegue uma boa atuação numa Olimpíada. Os iatistas ingleses David Hunt e Alan Warren não. Depois de ganhar a prata em 1972, não conseguiram nem o bronze em 1976. Estourando de raiva, atearam fogo no próprio barco logo depois do fracasso
Nervosismo - Seul 1988
Alguns atletas frustrados gostam de colocar a culpa pela derrota em juízes. Mas o campeão olímpico em protesto prolongado contra a autoridade é o boxeador Byun Jong-Li. Em 1988, o norte-coreano ficou 1 hora e 7 minutos sentado no ringue depois de perder por decisão do juiz
Nervosismo - Atenas 1896
Mesmo para quem está acostumado, correr 42 quilômetros pode provocar reações bizarras. Em 1896, o australiano Edwin Flack estava tão exausto que começou a delirar. Imaginando-se atacado pela turba, espancou um espectador. Em seguida, ele é que foi derrubado. Pelo cansaço
Todos os Chineses - E se ???
E SE... TODOS OS CHINESES...
...Cuspissem no mesmo lugar?
Eles fariam um espetáculo razoável de 1 segundo nas cataratas do Iguaçu. Um cuspe mediamente salivado tem cerca de 1 mililitro. Se os chineses cuspissem no mesmo lugar produziriam 1,3 milhão de litros, um pouco menos que a vazão média do Iguaçu, que é de 1,5 milhão de litros por segundo. Mas se usarmos a medida internacional de grande quantidade de líquido, os chineses não impressionam tanto: encheriam pouco mais de meia piscina olímpica
...Plantassem uma árvore?
Apenas 0,7% da área devastada da Mata Atlântica estaria recuperada ao fim do mutirão ecológico. Cada chinês teria de plantar 139 árvores, um lote quadrado de 30 metros de lado, para que o litoral brasileiro voltasse a ser tão verde quanto o que Cabral avistou. Se o reflorestamento fosse feito na Amazônia, os chineses conseguiriam recuperar apenas 37% da área desmatada por ano. E a paciência oriental seria muito útil nessa tarefa: mesmo viveiros grandes de espécies que se reproduzem rapidamente, como o pinus, produzem apenas 20 milhões de mudas por ano
...Bebessem uma xícara de café brasileiro por dia?
Não teríamos nem um grão no estoque. E, mesmo assim, não daria para cada um beber uma xícara por dia. Os chineses precisariam de 2,3 milhões de toneladas por ano, e nossa produção em 2003 foi de 1,9 milhão. A demanda aumentaria o preço do grão e seu café da manhã poderia acabar tão caro quanto comer caviar em Nova York
...Gritassem ao mesmo tempo?
Eles poderiam matar você. O grito coletivo atingiria mais de 150 decibéis, um som capaz de provocar uma onda de choque igual à de uma bomba quando explode. Se a distância fosse o único fator que faz o som ficar mais fraco enquanto se propaga, os chineses poderiam jogar War com alguém em Vladivostok, na Rússia, a 100 quilômetros da China. Na prática, a ação dos ventos, o relevo e absorção do som pelo ar impediriam o berreiro
...Formassem uma roda?
Mesmo se fossem bebês com 35 centímetros de comprimento entre uma mão e outra, poderiam dar um abraço coletivo no equador de Júpiter. Mas a envergadura média dos chineses deve ser de aproximadamente 1,85 metro, segundo o professor do Departamento de Anatomia da Universidade Federal de Pernambuco Alexandre Bittencourt. É o suficiente para formar cinco rodas no maior planeta do Sistema Solar ou 60 sobre o Equador da Terra
...Acessassem a internet?
Hoje, isso seria impossível. As estimativas americanas são de que existem 1 bilhão de computadores no mundo. Mesmo se cada chinês tivesse um computador, um modem e uma linha telefônica, os provedores seriam insuficientes. Ainda se não fossem, os canais de acesso da rede não suportariam o fluxo de dados. E, mesmo que suportassem, o servidor não conseguiria responder a 1,3 bilhão de requisições simultâneas. A tecnologia atual escreveria "servidor ocupado" na tela de muitos computadores made in China
...Cuspissem no mesmo lugar?
Eles fariam um espetáculo razoável de 1 segundo nas cataratas do Iguaçu. Um cuspe mediamente salivado tem cerca de 1 mililitro. Se os chineses cuspissem no mesmo lugar produziriam 1,3 milhão de litros, um pouco menos que a vazão média do Iguaçu, que é de 1,5 milhão de litros por segundo. Mas se usarmos a medida internacional de grande quantidade de líquido, os chineses não impressionam tanto: encheriam pouco mais de meia piscina olímpica
...Plantassem uma árvore?
Apenas 0,7% da área devastada da Mata Atlântica estaria recuperada ao fim do mutirão ecológico. Cada chinês teria de plantar 139 árvores, um lote quadrado de 30 metros de lado, para que o litoral brasileiro voltasse a ser tão verde quanto o que Cabral avistou. Se o reflorestamento fosse feito na Amazônia, os chineses conseguiriam recuperar apenas 37% da área desmatada por ano. E a paciência oriental seria muito útil nessa tarefa: mesmo viveiros grandes de espécies que se reproduzem rapidamente, como o pinus, produzem apenas 20 milhões de mudas por ano
...Bebessem uma xícara de café brasileiro por dia?
Não teríamos nem um grão no estoque. E, mesmo assim, não daria para cada um beber uma xícara por dia. Os chineses precisariam de 2,3 milhões de toneladas por ano, e nossa produção em 2003 foi de 1,9 milhão. A demanda aumentaria o preço do grão e seu café da manhã poderia acabar tão caro quanto comer caviar em Nova York
...Gritassem ao mesmo tempo?
Eles poderiam matar você. O grito coletivo atingiria mais de 150 decibéis, um som capaz de provocar uma onda de choque igual à de uma bomba quando explode. Se a distância fosse o único fator que faz o som ficar mais fraco enquanto se propaga, os chineses poderiam jogar War com alguém em Vladivostok, na Rússia, a 100 quilômetros da China. Na prática, a ação dos ventos, o relevo e absorção do som pelo ar impediriam o berreiro
...Formassem uma roda?
Mesmo se fossem bebês com 35 centímetros de comprimento entre uma mão e outra, poderiam dar um abraço coletivo no equador de Júpiter. Mas a envergadura média dos chineses deve ser de aproximadamente 1,85 metro, segundo o professor do Departamento de Anatomia da Universidade Federal de Pernambuco Alexandre Bittencourt. É o suficiente para formar cinco rodas no maior planeta do Sistema Solar ou 60 sobre o Equador da Terra
...Acessassem a internet?
Hoje, isso seria impossível. As estimativas americanas são de que existem 1 bilhão de computadores no mundo. Mesmo se cada chinês tivesse um computador, um modem e uma linha telefônica, os provedores seriam insuficientes. Ainda se não fossem, os canais de acesso da rede não suportariam o fluxo de dados. E, mesmo que suportassem, o servidor não conseguiria responder a 1,3 bilhão de requisições simultâneas. A tecnologia atual escreveria "servidor ocupado" na tela de muitos computadores made in China
Marcadores:
Asia,
China,
Chines,
civilização,
densidade demografica,
Geografia,
kung fu,
população
Em busca da era Glacial - Historia do Clima
EM BUSCA DA ERA GLACIAL - HISTORIA DO CLIMA
A história do clima no planeta Terra está guardada num arquivo de gelo gigantesco - o solo glacial da Antártica. São quase 1 milhão de anos literalmente congelados no tempo, que cientistas do Projeto Europeu para Núcleos de Gelo da Antártica (Epica, na sigla em inglês) estão escavando. O processo é muito parecido com o da arqueologia, mas trata-se de uma ciência com nome próprio: a paleoclimatologia.
No final do ano passado, os pesquisadores retiraram da região uma coluna glacial com 3,19 quilômetros de profundidade. O estudo dela pode fornecer dados bastante precisos das condições atmosféricas no mundo nos últimos 740 mil anos. E pode ajudar os cientistas a conhecer mais sobre as eras glaciais.
Há 2 milhões de anos, a Terra vem atravessando fases de aquecimento e resfriamento constantes. Os períodos gelados (chamados de eras glaciais) duram em média 100 mil anos e são intercalados por eras temperadas (chamadas de interglaciais), como a que vivemos atualmente. Sabe-se muito pouco sobre cada um desses períodos e muitas das respostas que procuramos podem estar no bloco retirado pelo Epica.
Os períodos interglaciais costumam durar 10 mil anos, embora o atual já se estenda por 12 mil. Mas não é preciso tirar os casacos do armário. Segundo pesquisadores do Epica, essa fase tem características parecidas com as de um outro período temperado, que aconteceu há três glaciações, e que foi bem mais longo: 28 mil anos de clima hospitaleiro.
Cientistas menos otimistas pensam diferente. Para eles, as atividades do homem elevaram tanto a concentração de gás carbônico que o bom clima vai acabar bem antes da próxima idade do gelo.
A história do clima no planeta Terra está guardada num arquivo de gelo gigantesco - o solo glacial da Antártica. São quase 1 milhão de anos literalmente congelados no tempo, que cientistas do Projeto Europeu para Núcleos de Gelo da Antártica (Epica, na sigla em inglês) estão escavando. O processo é muito parecido com o da arqueologia, mas trata-se de uma ciência com nome próprio: a paleoclimatologia.
No final do ano passado, os pesquisadores retiraram da região uma coluna glacial com 3,19 quilômetros de profundidade. O estudo dela pode fornecer dados bastante precisos das condições atmosféricas no mundo nos últimos 740 mil anos. E pode ajudar os cientistas a conhecer mais sobre as eras glaciais.
Há 2 milhões de anos, a Terra vem atravessando fases de aquecimento e resfriamento constantes. Os períodos gelados (chamados de eras glaciais) duram em média 100 mil anos e são intercalados por eras temperadas (chamadas de interglaciais), como a que vivemos atualmente. Sabe-se muito pouco sobre cada um desses períodos e muitas das respostas que procuramos podem estar no bloco retirado pelo Epica.
Os períodos interglaciais costumam durar 10 mil anos, embora o atual já se estenda por 12 mil. Mas não é preciso tirar os casacos do armário. Segundo pesquisadores do Epica, essa fase tem características parecidas com as de um outro período temperado, que aconteceu há três glaciações, e que foi bem mais longo: 28 mil anos de clima hospitaleiro.
Cientistas menos otimistas pensam diferente. Para eles, as atividades do homem elevaram tanto a concentração de gás carbônico que o bom clima vai acabar bem antes da próxima idade do gelo.
Marcadores:
aquecimento global,
clima,
climatologia,
elefante,
era do gelo,
era glacial,
extinção,
gelo,
glacial,
homem,
humanidade,
mamute,
Natureza
Para que serve a música ? - Musicoterapia
PARA QUE SERVE A MÚSICA? MUSICOTERAPIA
Antes de ler este relato, tente lembrar quantas vezes na última semana você ouviu música. Não só as baladas do rádio, mas também as pílulas de sonolência na sala de espera do dentista. Ou o canto de alguém a seu lado no ônibus. É muito provável que você não tenha passado um único de seus últimos dias sem escutar alguns acordes. Às vezes nem nos damos conta, mas a música nos cerca por todos os lados. Há música para dançar, namorar, estudar. Música para enfrentar o trânsito, trabalhar, fazer ginástica e para relaxar no final do dia. Música para rezar, curar e memorizar. Para comunicar as emoções que não conseguimos transmitir só por meio de palavras. E música simplesmente para ouvir e curtir. Dos aborígines australianos aos esquimós no Alasca, todas as sociedades do mundo a têm em sua cultura - até porque, você pode não saber, mas a música está conosco desde quando ainda nem éramos seres humanos propriamente ditos.
Com base no achado de flautas de ossos feitas há 53 mil anos pelos neandertais, pesquisadores estimam que a atividade musical deve ter pelo menos 200 mil anos - contra 100 mil anos de vida do Homo sapiens. É bacana imaginar que talvez esses hominídeos já buscassem formas de diversão. Mas, pensando bem, que sentido pode fazer a música em um período no qual nossos ancestrais estavam muito mais preocupados em não ser devorados por um leão do que com o próprio prazer? E mesmo na sociedade contemporânea, se nos cercamos de música com tanto afinco, é de supor que, assim como a fala, ela sirva para alguma coisa, tenha alguma função específica para a humanidade. Mas qual?
A pergunta atormenta filósofos e cientistas há séculos e, infelizmente, ainda não tem resposta conclusiva. Já se imaginou, por exemplo, que a música é responsável por reger a harmonia entre os homens e os astros que mantém a ordem do Universo - uma idéia formulada por Pitágoras no século 5 a.C. Hoje, boa parte da pesquisa científica por explicações tem uma perspectiva evolutiva e biológica. Muitos ainda a vêem apenas como produto cultural voltado ao prazer, sem nenhuma importância para o desenvolvimento humano. "Uma primorosa iguaria que estimula as nossas outras faculdades mentais", defende o psicólogo Steven Pinker em seu livro Como a Mente Funciona. Apesar de meramente especulativas, teorias evolutivas são as que parecem estar mais próximas de nos responder as perguntas acima. Então, vamos a elas.
INICIAÇÃO MUSICAL
A primeira hipótese sobre a função da música foi levantada por Charles Darwin. O biólogo que popularizou o conceito de evolução das espécies dizia que a música é determinante para a escolha de parceiros sexuais, uma vez que as fêmeas seriam atraídas pelos melhores cantores. "O homem que canta bem, é afinado, expõe melhor seus sentimentos. Parece mais sensível, mais inteligente. E isso agrada as mulheres", afirma o jornalista e músico brasileiro Paulo Estêvão Andrade, que está escrevendo um livro sobre pesquisas que relacionam música e cérebro. Isso soa bastante familiar: qual mulher nunca teve uma quedinha pelos músicos - dos modernosos DJs aos eternos tocadores de violão em rodas de amigos? "A música sempre está ligada ao comportamento sexual, desde os rituais de acasalamento, até as conquistas dos jovens de hoje em danceterias ou shows", afirma o neurocientista americano Mark Tramo, que coordena o Instituto para Ciências da Música e do Cérebro, da Universidade Harvard.
Muitos cientistas não se convencem de que essa teoria explica, sozinha, toda a importância da música para diferentes sociedades do planeta. Uma das hipóteses mais aceitas hoje é a de que a música teve função primordial na formação e sobrevivência dos grupos e na amenização de conflitos. Se ela existe e persiste, é porque provoca respostas que agem como um forte fator de coesão social. "Precisávamos caçar e nos defender juntos e para isso tivemos de nos organizar. A música abriu o caminho para nos comunicarmos e dividir nossas emoções", explica Mark.
Mas como era essa música feita por nossos antepassados? Provavelmente ela surgiu como uma manifestação das emoções. Uma sofisticação, por exemplo, do choro e da risada. Principalmente, como uma forma de chamar a atenção do grupo e motivá-lo para a realização de uma atividade que precisava ser feita em conjunto. É possível imaginar que um indivíduo batesse palmas, ou pedras ou gravetos, mas o mais plausível é que o primeiro instrumento musical tenha sido mesmo a voz humana. O cientista cognitivo William Benzon, autor do livro Beethoven’s Anvil ("A Bigorna de Beethoven", sem tradução para o português) especula que tudo começou muito tempo antes, com a imitação dos sons de outros animais.
Benzon sugere que o Homo erectus, ao se espalhar pelo planeta a partir do leste da África, há 2 milhões de anos, teve de procurar novas formas de se proteger enquanto atravessava as estepes, já que não contava mais com o abrigo das árvores das florestas. Entre muitas outras artimanhas, esses hominídeos teriam começado a emitir chamados ameaçadores. "Se rosnar e rugir como um leão, você não só vai dispersar as presas naturais dele como também outras espécies que estejam por perto", afirma. Essa imitação teria proporcionado o início do controle do aparelho vocal, primeiro passo para a origem da música e da linguagem. A reprodução dos sons dos animais e da natureza, como o vento ou os trovões, deve ter evoluído até que as necessidades passaram a ser outras, e a imitação deu espaço para a criação. Daí a perceber como o som do "uh-uh-uh" servia para instigar a guerra, por exemplo, não deve ter demorado. Tudo isso sem que fosse necessário dizer uma palavra.
Chegamos então a um ponto delicado: a música surgiu antes ou depois da linguagem falada? Essa é outra pergunta que divide cientistas. As duas aptidões são universais, mas a linguagem obviamente parece muito mais útil que a música, o que leva a crer que ela tenha se desenvolvido primeiro, "com a música ramificando-se da linguagem apenas após ter sido feita boa parte do trabalho evolucionário pesado", como escreveu o pianista Robert Jourdain em seu livro Música, Cérebro e Êxtase.
Acreditar que primeiro desenvolvemos a fala e depois apuramos a técnica musical pode parecer um caminho lógico. Mas a verdade é que não é exatamente assim que funciona nosso ciclo de aprendizado. Antes de os bebês saberem falar, eles já balbuciam de uma forma muito musical. "É comum vê-los inventando musiquinhas mesmo desconhecendo a reprodução dos sons convencionais", diz a psicóloga Sandra Trehub, da Universidade de Toronto, que pesquisou a percepção musical em crianças. Isso pode ser um indicativo de como nossos ancestrais se manifestavam antes de desenvolver a linguagem. "Talvez as cordas vocais e bocas deles ainda não estivessem prontas para falar, mas eles tinham ritmo e podiam grunhir e fazer sons. Isso poderia ser tomado como música, ou ao menos como sua raiz", afirma Mark Tramo.
CANTAR PARA QUÊ?
Mas se o uso da música como ferramenta de comunicação foi ultrapassado pela linguagem, por que ela continuou existindo? Para essa pergunta nem precisamos da ajuda dos cientistas. Todo mundo que já se apaixonou e dedicou uma música ao ser amado pode responder sem medo. É porque ela assumiu um papel que a fala sozinha não deu conta: transmitir emoções. E essa característica nós podemos notar independentemente das preferências pessoais de cada um. Para provar isso o psicólogo John Sloboda, da Universidade de Keele, na Inglaterra, uma das maiores autoridades em emoção musical do mundo, fez um teste interessante. Ele colocou 83 voltuntários para ouvir uma série de peças musicais e depois pediu que eles descrevessem qual sensação tiveram. Cerca de 90% reportaram "frio na espinha" e "nó na garganta". Alguns chegaram a chorar. Ao checar quais trechos haviam provocado essas reações, Sloboda constatou que eram basicamente os mesmos.
Alguns acordes parecerem tristes e outros felizes pode ter também uma explicação evolutiva. Essa interpretação é relacionada com a forma como o nosso cérebro processa sons amistosos e ameaçadores desde a época em que éramos presas fáceis. "Pense num cão. Quando ele quer demostrar carinho faz um som mais agudo, mais tonal. Quando está agressivo é mais grave e ruidoso", diz Paulo Estêvão Andrade. Assim, dependendo da combinação de tons, a música é capaz de provocar uma sensação que vai do prazeroso ao desagradável. Quanto mais dissonantes forem os intervalos das notas musicais, maior será a sensação de tensão ou medo. Isso é fácil de ser identificado se ouvirmos as trilhas sonoras de filmes de terror ou suspense, como a clássica de Psicose, de Alfred Hitchcock.
Essa função musical de comunicar sentimentos faz sentido não só hoje, mas em sua própria origem. Se os animais também modificam a expressão vocal para demonstrar um sinal de pacto, como o ganido de submissão de um cachorro, "parece inevitável que as expressões formais de emoção sejam aos poucos fundidas em algo semelhante à melodia", escreve Jourdain. "É exercitando ou aplacando emoções que estabelecemos relação com outros seres humanos." E a música corporifica isso.
Para quem começou a reportagem falando que não havia utilidade aparente para a música, até que já alcançamos uma boa marca. Mas alguns pesquisadores ainda vão além. Para Ian Cross, diretor do Centro para Música e Ciência da Universidade de Cambridge, a música também é capaz de ativar capacidades como a memória e talvez até mesmo a inteligência. O efeito sobre a memória é facilmente detectado no dia-a-dia. Pegue, por exemplo, a época de eleições. Quem acompanhou a campanha para a Presidência em 1989 deve se lembrar até hoje de muitas das musiquinhas dos candidatos, como os clássicos "Lula-lá" e "Ey, ey, Eymael". Para fixar alguma informação, nada melhor do que musicá-la - veja as técnicas de alunos de cursinho para decorar fórmulas. Essa faceta da música parece ter sido útil para a transmissão da cultura na pré-história, quando ainda não dominávamos a escrita.
Já o impacto sobre a inteligência é mais difícil de constatar. A tentativa mais famosa ficou conhecida como "efeito Mozart". Quando foi proposta, em 1993, levou a um surto de compras de discos do compositor, mas até hoje é polêmica. Na ocasião o neurocientista Fran Rauscher, da Universidade de Wisconsin, e o neurologista Gordon Shaw, da Universidade da Califórnia, mostraram que crianças apresentavam desempenho matemático melhor após ouvir sonatas do compositor austríaco. O efeito da simples audição, no entanto, nunca foi comprovado. O que parece fazer mais sentido é quanto a possíveis benefícios relacionados ao aprendizado de música, que induz ao prolongamento dos neurônios e aumento das conexões entre eles. Os cérebros dos músicos, inclusive, acabam apresentando uma massa maior de neurônios, o que sugere maior inteligência.
CURA PELO SOM
De todas as funções abordadas até agora, nenhuma é tão misteriosa quanto o possível uso medicinal da música, principalmente para pacientes com mal de Parkinson ou Alzheimer e vítimas de derrame que só melhoram escutando música. Histórias complexas são relatadas pelo neurologista Oliver Sacks em livros como Tempo de Despertar, que foi adaptado para o cinema. É exemplar o caso da paciente Frances D., que sofria de Parkinson e durante as crises ficava paralisada, rangendo os dentes e sofrendo muito.
Sacks descobriu que a única coisa que acalmava os sintomas era a música. Quando Frances ouvia o som, desapareciam completamente todos os fenômenos "obstrutivo-explosivos" e ela ficava feliz. "A senhora D., repentinamente livre de seus automatismos, ‘regia’ sorridente a música ou se levantava e dançava ao seu som", escreveu Sacks. O médico percebeu o mesmo efeito em vários outros pacientes. Em alguns casos, só de pensar em música eles ficavam melhores.
Mas, infelizmente, o remédio é temporário, proporcionando uma espécie de equilíbrio momentâneo para o cérebro doente. "A música vence os sintomas ao transportar o cérebro para um nível de integração acima do normal. Ela estabelece fluxo no cérebro, enquanto, ao mesmo tempo, estimula e coordena as atividades cerebrais, colocando suas antecipações na marcha correta", diz Robert Jourdain. Para o pianista - que busca responder em seu livro por que gostamos tanto de música -, a mágica que ocorre com os pacientes é a mesma que ocorre com todos nós. "A música nos tira de hábitos mentais congelados e faz a mente se movimentar como habitualmente não é capaz. Quando somos envolvidos por música bem escrita, temos entendimentos que superam os da nossa existência. E quando o som pára, voltamos para nossas cadeiras de rodas mentais."
Antes de ler este relato, tente lembrar quantas vezes na última semana você ouviu música. Não só as baladas do rádio, mas também as pílulas de sonolência na sala de espera do dentista. Ou o canto de alguém a seu lado no ônibus. É muito provável que você não tenha passado um único de seus últimos dias sem escutar alguns acordes. Às vezes nem nos damos conta, mas a música nos cerca por todos os lados. Há música para dançar, namorar, estudar. Música para enfrentar o trânsito, trabalhar, fazer ginástica e para relaxar no final do dia. Música para rezar, curar e memorizar. Para comunicar as emoções que não conseguimos transmitir só por meio de palavras. E música simplesmente para ouvir e curtir. Dos aborígines australianos aos esquimós no Alasca, todas as sociedades do mundo a têm em sua cultura - até porque, você pode não saber, mas a música está conosco desde quando ainda nem éramos seres humanos propriamente ditos.
Com base no achado de flautas de ossos feitas há 53 mil anos pelos neandertais, pesquisadores estimam que a atividade musical deve ter pelo menos 200 mil anos - contra 100 mil anos de vida do Homo sapiens. É bacana imaginar que talvez esses hominídeos já buscassem formas de diversão. Mas, pensando bem, que sentido pode fazer a música em um período no qual nossos ancestrais estavam muito mais preocupados em não ser devorados por um leão do que com o próprio prazer? E mesmo na sociedade contemporânea, se nos cercamos de música com tanto afinco, é de supor que, assim como a fala, ela sirva para alguma coisa, tenha alguma função específica para a humanidade. Mas qual?
A pergunta atormenta filósofos e cientistas há séculos e, infelizmente, ainda não tem resposta conclusiva. Já se imaginou, por exemplo, que a música é responsável por reger a harmonia entre os homens e os astros que mantém a ordem do Universo - uma idéia formulada por Pitágoras no século 5 a.C. Hoje, boa parte da pesquisa científica por explicações tem uma perspectiva evolutiva e biológica. Muitos ainda a vêem apenas como produto cultural voltado ao prazer, sem nenhuma importância para o desenvolvimento humano. "Uma primorosa iguaria que estimula as nossas outras faculdades mentais", defende o psicólogo Steven Pinker em seu livro Como a Mente Funciona. Apesar de meramente especulativas, teorias evolutivas são as que parecem estar mais próximas de nos responder as perguntas acima. Então, vamos a elas.
INICIAÇÃO MUSICAL
A primeira hipótese sobre a função da música foi levantada por Charles Darwin. O biólogo que popularizou o conceito de evolução das espécies dizia que a música é determinante para a escolha de parceiros sexuais, uma vez que as fêmeas seriam atraídas pelos melhores cantores. "O homem que canta bem, é afinado, expõe melhor seus sentimentos. Parece mais sensível, mais inteligente. E isso agrada as mulheres", afirma o jornalista e músico brasileiro Paulo Estêvão Andrade, que está escrevendo um livro sobre pesquisas que relacionam música e cérebro. Isso soa bastante familiar: qual mulher nunca teve uma quedinha pelos músicos - dos modernosos DJs aos eternos tocadores de violão em rodas de amigos? "A música sempre está ligada ao comportamento sexual, desde os rituais de acasalamento, até as conquistas dos jovens de hoje em danceterias ou shows", afirma o neurocientista americano Mark Tramo, que coordena o Instituto para Ciências da Música e do Cérebro, da Universidade Harvard.
Muitos cientistas não se convencem de que essa teoria explica, sozinha, toda a importância da música para diferentes sociedades do planeta. Uma das hipóteses mais aceitas hoje é a de que a música teve função primordial na formação e sobrevivência dos grupos e na amenização de conflitos. Se ela existe e persiste, é porque provoca respostas que agem como um forte fator de coesão social. "Precisávamos caçar e nos defender juntos e para isso tivemos de nos organizar. A música abriu o caminho para nos comunicarmos e dividir nossas emoções", explica Mark.
Mas como era essa música feita por nossos antepassados? Provavelmente ela surgiu como uma manifestação das emoções. Uma sofisticação, por exemplo, do choro e da risada. Principalmente, como uma forma de chamar a atenção do grupo e motivá-lo para a realização de uma atividade que precisava ser feita em conjunto. É possível imaginar que um indivíduo batesse palmas, ou pedras ou gravetos, mas o mais plausível é que o primeiro instrumento musical tenha sido mesmo a voz humana. O cientista cognitivo William Benzon, autor do livro Beethoven’s Anvil ("A Bigorna de Beethoven", sem tradução para o português) especula que tudo começou muito tempo antes, com a imitação dos sons de outros animais.
Benzon sugere que o Homo erectus, ao se espalhar pelo planeta a partir do leste da África, há 2 milhões de anos, teve de procurar novas formas de se proteger enquanto atravessava as estepes, já que não contava mais com o abrigo das árvores das florestas. Entre muitas outras artimanhas, esses hominídeos teriam começado a emitir chamados ameaçadores. "Se rosnar e rugir como um leão, você não só vai dispersar as presas naturais dele como também outras espécies que estejam por perto", afirma. Essa imitação teria proporcionado o início do controle do aparelho vocal, primeiro passo para a origem da música e da linguagem. A reprodução dos sons dos animais e da natureza, como o vento ou os trovões, deve ter evoluído até que as necessidades passaram a ser outras, e a imitação deu espaço para a criação. Daí a perceber como o som do "uh-uh-uh" servia para instigar a guerra, por exemplo, não deve ter demorado. Tudo isso sem que fosse necessário dizer uma palavra.
Chegamos então a um ponto delicado: a música surgiu antes ou depois da linguagem falada? Essa é outra pergunta que divide cientistas. As duas aptidões são universais, mas a linguagem obviamente parece muito mais útil que a música, o que leva a crer que ela tenha se desenvolvido primeiro, "com a música ramificando-se da linguagem apenas após ter sido feita boa parte do trabalho evolucionário pesado", como escreveu o pianista Robert Jourdain em seu livro Música, Cérebro e Êxtase.
Acreditar que primeiro desenvolvemos a fala e depois apuramos a técnica musical pode parecer um caminho lógico. Mas a verdade é que não é exatamente assim que funciona nosso ciclo de aprendizado. Antes de os bebês saberem falar, eles já balbuciam de uma forma muito musical. "É comum vê-los inventando musiquinhas mesmo desconhecendo a reprodução dos sons convencionais", diz a psicóloga Sandra Trehub, da Universidade de Toronto, que pesquisou a percepção musical em crianças. Isso pode ser um indicativo de como nossos ancestrais se manifestavam antes de desenvolver a linguagem. "Talvez as cordas vocais e bocas deles ainda não estivessem prontas para falar, mas eles tinham ritmo e podiam grunhir e fazer sons. Isso poderia ser tomado como música, ou ao menos como sua raiz", afirma Mark Tramo.
CANTAR PARA QUÊ?
Mas se o uso da música como ferramenta de comunicação foi ultrapassado pela linguagem, por que ela continuou existindo? Para essa pergunta nem precisamos da ajuda dos cientistas. Todo mundo que já se apaixonou e dedicou uma música ao ser amado pode responder sem medo. É porque ela assumiu um papel que a fala sozinha não deu conta: transmitir emoções. E essa característica nós podemos notar independentemente das preferências pessoais de cada um. Para provar isso o psicólogo John Sloboda, da Universidade de Keele, na Inglaterra, uma das maiores autoridades em emoção musical do mundo, fez um teste interessante. Ele colocou 83 voltuntários para ouvir uma série de peças musicais e depois pediu que eles descrevessem qual sensação tiveram. Cerca de 90% reportaram "frio na espinha" e "nó na garganta". Alguns chegaram a chorar. Ao checar quais trechos haviam provocado essas reações, Sloboda constatou que eram basicamente os mesmos.
Alguns acordes parecerem tristes e outros felizes pode ter também uma explicação evolutiva. Essa interpretação é relacionada com a forma como o nosso cérebro processa sons amistosos e ameaçadores desde a época em que éramos presas fáceis. "Pense num cão. Quando ele quer demostrar carinho faz um som mais agudo, mais tonal. Quando está agressivo é mais grave e ruidoso", diz Paulo Estêvão Andrade. Assim, dependendo da combinação de tons, a música é capaz de provocar uma sensação que vai do prazeroso ao desagradável. Quanto mais dissonantes forem os intervalos das notas musicais, maior será a sensação de tensão ou medo. Isso é fácil de ser identificado se ouvirmos as trilhas sonoras de filmes de terror ou suspense, como a clássica de Psicose, de Alfred Hitchcock.
Essa função musical de comunicar sentimentos faz sentido não só hoje, mas em sua própria origem. Se os animais também modificam a expressão vocal para demonstrar um sinal de pacto, como o ganido de submissão de um cachorro, "parece inevitável que as expressões formais de emoção sejam aos poucos fundidas em algo semelhante à melodia", escreve Jourdain. "É exercitando ou aplacando emoções que estabelecemos relação com outros seres humanos." E a música corporifica isso.
Para quem começou a reportagem falando que não havia utilidade aparente para a música, até que já alcançamos uma boa marca. Mas alguns pesquisadores ainda vão além. Para Ian Cross, diretor do Centro para Música e Ciência da Universidade de Cambridge, a música também é capaz de ativar capacidades como a memória e talvez até mesmo a inteligência. O efeito sobre a memória é facilmente detectado no dia-a-dia. Pegue, por exemplo, a época de eleições. Quem acompanhou a campanha para a Presidência em 1989 deve se lembrar até hoje de muitas das musiquinhas dos candidatos, como os clássicos "Lula-lá" e "Ey, ey, Eymael". Para fixar alguma informação, nada melhor do que musicá-la - veja as técnicas de alunos de cursinho para decorar fórmulas. Essa faceta da música parece ter sido útil para a transmissão da cultura na pré-história, quando ainda não dominávamos a escrita.
Já o impacto sobre a inteligência é mais difícil de constatar. A tentativa mais famosa ficou conhecida como "efeito Mozart". Quando foi proposta, em 1993, levou a um surto de compras de discos do compositor, mas até hoje é polêmica. Na ocasião o neurocientista Fran Rauscher, da Universidade de Wisconsin, e o neurologista Gordon Shaw, da Universidade da Califórnia, mostraram que crianças apresentavam desempenho matemático melhor após ouvir sonatas do compositor austríaco. O efeito da simples audição, no entanto, nunca foi comprovado. O que parece fazer mais sentido é quanto a possíveis benefícios relacionados ao aprendizado de música, que induz ao prolongamento dos neurônios e aumento das conexões entre eles. Os cérebros dos músicos, inclusive, acabam apresentando uma massa maior de neurônios, o que sugere maior inteligência.
CURA PELO SOM
De todas as funções abordadas até agora, nenhuma é tão misteriosa quanto o possível uso medicinal da música, principalmente para pacientes com mal de Parkinson ou Alzheimer e vítimas de derrame que só melhoram escutando música. Histórias complexas são relatadas pelo neurologista Oliver Sacks em livros como Tempo de Despertar, que foi adaptado para o cinema. É exemplar o caso da paciente Frances D., que sofria de Parkinson e durante as crises ficava paralisada, rangendo os dentes e sofrendo muito.
Sacks descobriu que a única coisa que acalmava os sintomas era a música. Quando Frances ouvia o som, desapareciam completamente todos os fenômenos "obstrutivo-explosivos" e ela ficava feliz. "A senhora D., repentinamente livre de seus automatismos, ‘regia’ sorridente a música ou se levantava e dançava ao seu som", escreveu Sacks. O médico percebeu o mesmo efeito em vários outros pacientes. Em alguns casos, só de pensar em música eles ficavam melhores.
Mas, infelizmente, o remédio é temporário, proporcionando uma espécie de equilíbrio momentâneo para o cérebro doente. "A música vence os sintomas ao transportar o cérebro para um nível de integração acima do normal. Ela estabelece fluxo no cérebro, enquanto, ao mesmo tempo, estimula e coordena as atividades cerebrais, colocando suas antecipações na marcha correta", diz Robert Jourdain. Para o pianista - que busca responder em seu livro por que gostamos tanto de música -, a mágica que ocorre com os pacientes é a mesma que ocorre com todos nós. "A música nos tira de hábitos mentais congelados e faz a mente se movimentar como habitualmente não é capaz. Quando somos envolvidos por música bem escrita, temos entendimentos que superam os da nossa existência. E quando o som pára, voltamos para nossas cadeiras de rodas mentais."
Assinar:
Postagens (Atom)