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quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Seis motivos pelos quais a Idade das Trevas não foi tão sombria

Seis motivos pelos quais a Idade das Trevas não foi tão sombria


O sábio italiano Petrarca cunhou a expressão “Idade das Trevas” nos anos 1330 para descrever o que ele considerava um declínio na qualidade da literatura da época em relação aos tempos dos antigos gregos e romanos. 

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Bill Gates cede "Codex Leicester" de Da Vinci à Itália


Bill Gates cede "Codex Leicester" de Da Vinci à Itália


O mais famoso manuscrito de Leonardo Da Vinci será exposto na Galeria dos Ofícios, em Florença, mais de 20 anos depois da sua última exibição na Itália.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Manuscritos provam que Da Vinci esboçou leis do atrito 2 séculos antes de elas surgirem



Manuscritos provam que Da Vinci esboçou leis do atrito 2 séculos antes de elas surgirem



Professor voltou a analisar os rabiscos do gênio e descobriu que Da Vinci havia pensado no atrito em 1493, 200 anos antes da publicação das leis.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Saiba quais são os fins mágicos e medicinais do canibalismo


Saiba quais são os fins mágicos e medicinais do canibalismo


A ingestão de corpos mortos fez parte de diversas tradições, integrando-se à medicina ou a rituais de magia, até pouco tempo atrás.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Livro menciona mensagens escondidas que Michelangelo teria deixado na Capela Sistina


Livro menciona mensagens escondidas que Michelangelo teria deixado na Capela Sistina


Um livro publicado recentemente pelo restaurador argentino Silvio Goren, Los mensajes ocultos de Miguel Ángel en el Vaticano, levanta dezenas de perguntas sobre a obra de Michelangelo na Capela Sistina, assim como supostas mensagens ocultas. Será que a obra do gênio renascentista era uma reação contra o poder absoluto da Igreja Católica de sua época? Será que sua pretensão era colocar o homem acima das divindades ou a ciência como doutrina superadora da religião? Que mensagem ele quis deixar através de sua obra?

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Cripta centenária é aberta na tentativa de identificar modelo da 'Mona Lisa'


Cripta centenária é aberta na tentativa de identificar modelo da 'Mona Lisa'

O historiador Silvano Vicenti e o geólogo Antonio Moretti (baixo) exploram o subsolo da basílica Santissima Annunziata, em Florença, Itália. Eles tentam identificar restos mortais de descendentes de Lisa Gherardini, suposta Mona Lisa de Leonardo Da Vinci. (Foto: Michele Barbero/AP e Stefano Rellandini/Reuters)

Cientistas estão à procura de restos de descendentes de Lisa Gherardini.
Eles acreditam que Lisa pode ter sido a modelo do quadro de Da Vinci.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Michelangelo - O Artista do Cristianismo


MICHELANGELO, O ARTISTA DO CRISTIANISMO


Os contemporâneos em Florença o chamavam II Divino. Por certo ele encarnou o ideal do artista do Renascimento, de que foi a figura máxima: escultor, arquiteto, pintor e erudito.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Catedrais de Papel - Cultura



CATEDRAIS DE PAPEL - Cultura



Uma viagem por algumas das melhores bibliotecas do mundo ajuda a entender por que o livro é a criação mais valiosa do homem.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Passagem para o Futuro - Renascimento

PASSAGEM PARA O FUTURO - Renascimento



Itália, 1400: a revolução comercial cria novas classes, abre as cidades e impõe outra mentalidade. Os efeitos sobre a cultura e a ciência são imediatos e profundos. É a explosão do Renascimento, que lança a semente do mundo moderno

O olhar mostra segurança. O corpo, uma nudez sem pudor. A musculatura, relaxada, uma anatomia perfeita. A figura toda é uma procura de graça e beleza. A estátua é de um personagem bíblico, Davi, o pastor que virou rei de Israel por volta do ano 1000 a.C. Mas sua forma lembra antes um jovem deus pagão da mitologia grega. A beleza é fortemente idealizada, mas ainda assim indiscutivelmente humana. Sob a rigidez do mármore, há palpitação de vida. Diante do Davi de Michelangelo, esculpido na virada do século XVI não há dúvida de que se está contemplando um mundo diferente do da Idade Média.
De fato, desenhista soberbo, pintor, escultor, arquiteto e poeta, Michelangelo Buonarroti (1475-1564) foi uma das maiores expressões do Renascimento - essa grande convulsão cultural que sacudiu a Europa durante os séculos XV e XVI e abriu caminho aos tempos modernos. Quando Michelangelo terminou a obra, em abril de 1504, o Renascimento já havia completado um século na Itália. Foi, antes de tudo, um poderoso movimento artístico e literário, mas com grandes repercussões na filosofia e nas ciências, no pensamento político, na moda e nos costumes. Seus precursores foram poetas e prosadores italianos como Petrarca (1304-1374) e Boccaccio (1313-1375), pintores como Giotto (1266-1336) e Masaccio (1401-1428).
Por volta do final do século XV, o movimento atravessou os Alpes para atingir a Alemanha, a região que corresponde atualmente à Bélgica e Holanda, e a Suíça. Ramificou-se também pela França, Inglaterra, Espanha e Portugal. Sua força irresistível vinha de profundas transformações econômicas conduzidas por uma nova classe social urbana em ascensão - a burguesia mercantil. Na Itália, esses mercadores haviam enriquecido de maneira fantástica graças ao comércio com o Oriente e traziam consigo uma nova visão de mundo, baseada na valorização da realidade material, em contraste com a religiosidade profunda da Idade Média.
Estabelecendo representações nos países orientais, investindo na construção de navios e no desenvolvimento do transporte terrestre, eles compravam no Oriente, para vender na Europa, matérias-primas, como minerais para tinturas, produtos de luxo, como seda e brocados, e especiarias, como cravo e canela, utilizados na conservação e tempero dos alimentos e na produção de remédios.
O enorme dinheiro acumulado, administrado por novos métodos de contabilidade, era depois multiplicado várias vezes, por meio de atividades bancárias, com empréstimos a juros, e manufatureiras, com a produção de tecidos, mineração, siderurgia e metalurgia.
Com esses recursos econômicos, obtinham ainda dos príncipes governantes a concessão para cobrar tarifas aduaneiras e cunhar moedas. Subordinada à burguesia, surgia também uma nova e numerosa classe de assalariados, que trabalhavam juntos nas primeiras oficinas ou separados, cada qual em sua casa, recebendo dos patrões matérias-primas e ferramentas e entregando-lhes o produto acabado.
Era uma verdadeira revolução na vida européia, com a decadência das fechadas e hierarquizadas corporações de artesãos, que monopolizavam a produção industrial na Idade Média. Também os camponeses autônomos passavam a dedicar parte de seu tempo ao trabalho assalariado pelo sistema doméstico.
Por outro lado, a crescente demanda de alimentos e matérias-primas pelas cidades em expansão levava também a uma transformação na produção agrícola. Esta se voltava cada vez mais para o mercado e, portanto, deixava de ser fechada e auto-suficiente. O lugar de honra na estrutura social, antes ocupado pela nobreza latifundiária, era agora disputado pela burguesia ascendente. Na Itália, a mais ilustre família da nova classe de comerciantes enobrecidos foi a dos Medici, que governou Florença do século XV ao XVII.
Giovanni (1360-1429), o fundador da família, havia enriquecido graças ao comércio com o Oriente e ao monopólio da produção de alumínio, que obteve do papa. Somente no ramo têxtil, empregava mais de 10 mil trabalhadores, distribuídos por 300 indústrias - números para nenhum empresário moderno pôr defeito. Com o dinheiro e uma habilidosa política de casamentos, seus descendentes exerceriam enorme influência em toda a política européia, tornando-se príncipes e papas.
Sob o governo de Cosimo de Medici (1389-1464), filho de Giovanni, e principalmente de Lorenzo, o Magnífico (1449-1492), neto de Cosimo, Florença foi a capital do Renascimento. Arquitetos, escultores e pintores, como Donatello, Brunelleschi, Ghiberti e Filippo Lippi, patrocinados por Cosimo - ou Botticelli, o próprio Michelangelo e Leonardo da Vinci, protegidos por Lorenzo -, davam à corte dos Medici brilho, prestígio e sofisticação incomparáveis, que compensavam em muito as origens plebéias da família. O Renascimento foi também uma época de políticos refinados - e destituídos de escrúpulos.
Homens como Cesare Borgia (1475-1507), filho do papa Alexandre VI, que tentou conquistar toda a Itália para si e fazia da conspiração e assassínio de seus opositores sinistras obras de arte. E Niccoló Machiavelli (1469-1527), o fundador da ciência política moderna, via em Cesare o ideal do príncipe renascentista e nele depositou sua esperança de unificação da Itália. O que a impediu foi a rivalidade entre as cidades-Estado e a política papal.
Cultos, humanistas, mundanos e ambiciosos ao extremo, os grandes papas renascentistas não eram suficientemente fortes para promover eles mesmos a unificação do país, mas eram fortes e ardilosos o bastante para impedir que outro o fizesse. Paradoxalmente, a pulverização da Itália representou um forte estímulo ao Renascimento. Em lugar de um único centro de atração, representado em outros países pela corte real, vários centros, como Florença, Roma, Veneza e Milão, disputavam e patrocinavam a cultura. Ter a sua volta um punhado de artistas e intelectuais brilhantes era prova de prestígio para os príncipes e papas da época.
Nos jardins do palácio Medici, Cosimo fundou em 1440 a Academia Platônica, copiada da famosa escola de Filosofia ao ar livre mantida por Platão em Atenas, no século IV a.C. Sob a direção de Marsilio Ficino (1433-1499), a Academia tornou-se durante o governo de Lorenzo o mais importante centro de irradiação cultural do Renascimento. Ajudado por um grupo de eruditos bizantinos, fugidos de Constantinopla após a ocupação da cidade pelos turcos, em 1453, Ficino realizou um imenso trabalho de tradução e comentário das obras de Platão e seus seguidores. A biblioteca da Academia reunia enorme coleção de manuscritos gregos.
A obsessão do homem culto renascentista por tudo que viesse da Antiguidade clássica greco-romana levou os historiadores dos séculos XVIII e XIX a uma imagem tão fácil quanto falsa do Renascimento. A Idade Média teria sido um período de completo esquecimento da herança cultural da Antiguidade. Rompendo radicalmente com o obscurantismo medieval, o Renascimento - daí o seu nome - seria o renascer da cultura clássica. Essa interpretação é amplamente contestada pela pesquisa histórica do século XX. Nem a Idade Média foi, em toda a sua duração, um período de trevas nem o Renascimento representou uma ruptura total com a Idade Média.
Quem leu o livro O nome da rosa, de Umberto Eco, ou assistiu ao filme baseado nele, teve uma brilhante amostra da veneração quase religiosa do sábio medieval pelo filósofo grego Aristóteles (384-322 a. C.). A obra de Aristóteles formava uma verdadeira enciclopédia do saber humano. Nela se encontrava de tudo: Matemática e Lógica, Física e Metafísica, Medicina e Astronomia, Ciências Naturais e Psicologia, Política, Ética e Estética. Embora se baseasse mais na especulação do que na observação direta da natureza, era para o mundo das coisas concretas que ela se voltava. A Igreja refutou muito em aceitar esse corpo de conhecimentos. Aristóteles teve que ser, de certa forma, cristianizado por filósofos como São Tomás de Aquino (1224-1274), antes que sua obra se transformasse numa segunda Bíblia da Idade Média.
Assim, o aristotelismo tornou-se, pouco a pouco, um congelado sistema de dogmas, verdades prontas e acabadas, em que havia um lugar para cada coisa. Cada coisa devia estar no seu lugar e nenhum espaço existia para a inovação - um espelho da organização social da época. Foi justamente contra esse sistema petrificado que o homem culto do Renascimento se rebelou, estimulado pelas formidáveis transformações materiais que o desenvolvimento burguês colocava diante de seus olhos. O platonismo da Academia florentina, altamente espiritual e místico, era antes de tudo uma reação ao aristotelismo na versão consagrada pela Igreja medieval.
Por outro lado, se admirava o passado clássico, o homem renascentista tinha também a consciência de que o estava ultrapassando. A febril exploração dos mares - que levou o português Bartolomeu Dias a atingir a ponta meridional da África (1487), o genovês Cristóvão Colombo a alcançar a América (1492), o português Vasco da Gama a chegar à Índia (1498) e também o português Fernão de Magalhães a circunavegar a Terra (1519-1522) - exerceu um tremendo impacto no Renascimento. Ficava claro que havia muito mais maravilhas no mundo do que haviam pensado os gregos.
O desenvolvimento das cidades na época renascentista ampliou o lugar ocupado pela cultura. Antes, o conhecimento estava confinado às raras universidades e aos mosteiros. Agora, a multiplicação das universidades, junto com a invenção da imprensa de tipos móveis pelo alemão Johannes Gutenberg (1400-1468), permitia uma difusão muitíssimo maior do conhecimento. A laboriosa atividade do copista medieval, que reproduzia a mão os preciosos manuscritos gregos e latinos, era substituída com enorme vantagem pelo trabalho dos impressores.
Do ponto de vista cultural, um dos resultados mais espetaculares da Reforma protestante foi a tradução da Bíblia do latim para o alemão, por Martinho Lutero (1483-1546) e o amplo movimento de educação inspirado pela idéia de que todo fiel deveria ser capaz de ler e interpretar por conta própria as Escrituras Sagradas. No mundo da grande cultura, porém, o latim continuava a ser a língua oficial. Um dos traços mais característicos da época, aliás, era a existência de uma multinacional comunidade de eruditos que dominavam o saber clássico e não só se expressavam em latim como tinham seus próprios nomes latinizados.
Eles formavam o que o escritor húngaro Arthur Koestler (1905-1983) denominou a "República das Letras" e foram a própria alma do Renascimento. Para esses homens, a demolição do sistema escolástico representava uma enorme liberdade de pensamento, a possibilidade de uma especulação intelectual sem limites. A verdade já não devia ser procurada nos livros de Aristóteles, mas na grande obra da natureza. Ocorre que a destruição da ciência aristotélica deixou o Renascimento desprovido de uma ciência sistematizada. Os sábios da época estavam deslumbrados demais com a infinita variedade das coisas deste mundo para se dar ao árido trabalho de sistematização dos novos conhecimentos.
Eles procuravam por toda a parte a diversidade, lançavam-se à aventurosa exploração de mundos desconhecidos, criavam jardins botânicos e jardins zoológicos, colecionavam minerais, dissecavam cadáveres humanos e de animais, mediam o movimento dos astros, escreviam minuciosas descrições das mais diversas atividades profissionais e técnicas, mas seus tratados não ultrapassavam ainda o estágio dos catálogos. O alemão Leonhard Fuchs (1501-1566), por exemplo, escreveu e arrolou em ordem alfabética cerca de quinhentas plantas. Foi incapaz, porém, de formular qualquer teoria sobre a vida vegetal.
As exceções são o monumental livro de anatomia do belga André Vesálio (1514-1564), De humani corporis fabrica (A organização do corpo humano), e o livro de cosmologia do polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), De revolutionibus orbium coelestium (A revolução das esferas celestes). Nele, o cônego Copérnico afirmava, contrariando as teorias dominantes, que o Sol - e não a Terra - estava no centro do Cosmo. Antes, o alemão Nicolau de Cusa (1401-1464) já havia dito que o Sol era apenas o centro de um sistema, e não do Universo.
As idéias de Cusa influenciaram o filósofo italiano Giordano Bruno (1548-1600). Ele afirmava existirem no Universo infinitos mundos habitados, como a Terra. Mas nem Cusa nem Bruno eram astrônomos, e suas corajosas hipóteses permaneceram meras especulações. A grande sistematização científica na qual iria se basear o pensamento moderno foi um produto do século XVII. Mas aí já não se pode falar em Renascimento. No período renascentista, assistiu-se a um enorme interesse pela magia e pelo hermetismo. A idéia de um Renascimento banhado em ciência, em oposição a uma Idade Média mística e supersticiosa, é outro estereótipo que não resistiu à pesquisa histórica.
Um trabalho mais orientado para a ciência, embora dispersivo, como o de Leonardo da Vinci (1452-1519), permaneceu inédito. Para os homens cultos do Renascimento, já que Aristóteles não era mais a autoridade suprema, então tudo era possível. E foi com óculos de mágico que procuraram ler o livro da natureza. Quando, em 1460, um agente de Cosimo de Medici trouxe-lhe da Macedônia um manuscrito grego com catorze dos quinze tratados que constituíam o Corpus hermeticum, isso causou enorme sensação. O texto era atribuído a um autor mitológico, Hermes Trismegisto, ou Hermes "Três Vezes Grande", síntese do deus egípcio Toth, inventor do cálculo e da escrita, e do deus grego Hermes, mensageiro e detentor dos segredos dos deuses.
Na verdade, tratava-se de um escrito dos primeiros séculos da era cristã, originário provavelmente de Alexandria, no Egito, o grande centro da cultura helenística. Com caráter misterioso, os manuscritos combinavam filosofia grega e helenística (Pitágoras, Platão, Aristóteles, Plotino etc. ), cabala (o misticismo judaico) e elementos cristãos. Seu corpo englobava Matemática e Alquimia, Astronomia e astrologia, magia e várias formas de ocultismo. A idéia central era a de uma afinidade mística entre o mundo e o homem, sendo este capaz de descobrir elementos divinos dentro de si.
Pela tradução de Ficino, o diretor da Academia Platônica, esses escritores exerceram enorme influência no Renascimento, mexendo com as artes, as ciências e a Filosofia. Seu principal herdeiro foi o suíço Paracelso. Ele pode ser considerado o mais acabado representante de um momento na História da civilização que, sem romper drasticamente com o passado, plantou uma semente de exuberância e ousadia da qual nasceria o mundo moderno.

Um tipo muito curioso.

O próprio nome latino que adotou já era um exagero: Theophrastus Philippus Aureolus Bombastus Paracelsus. Não se sabe se a palavra Paracelsus queria dizer "superior a Celsus", o célebre médico romano do século I. Mas não há dúvida de que Theophrastus von Hohenheim, como foi batizado, se considerava superior a qualquer medalhão da Antiguidade. Esse personagem tipicamente renascentista nasceu numa família de médicos, em Einsiedeln, Suíça, em 1493. Depois de estudar nas universidades de Basiléia (Suíça) e Ferrara (Itália), tornou-se um Robin Hood da medicina, cobrando honorários exorbitantes dos ricos e tratando os pobres de graça.
Seu espírito anticonvencional e incansável curiosidade, aliás, surpreendem mesmo pelos padrões atuais. Condenava com estardalhaço as ciências tradicionais, ao mesmo tempo que procurava aprender com os camponeses outros métodos de cura. Bebedor de marca maior, vencia os camponeses em monumentais competições etílicas nas tabernas; depois, passava a noite ditando seus tratados.
O fato de ter salvado a vida do influente editor Johannes Froben e de ter curado também o escritor e filósofo humanista Erasmo de Rotterdam (1466-1536) assegurou-lhe, em 1527, o cargo de médico municipal e professor de Medicina em Basiléia. Logo, porém, entrou em atrito com as autoridades acadêmicas, recusando-se a apresentar seus documentos de qualificação, fazendo conferências em alemão em vez de latim e admitindo cirurgiões-barbeiros em suas classes. Com a morte do protetor Froben, teve de abandonar a cidade - não sem antes queimar em praça pública o célebre cânon de medicina do persa Avicena (980-1037). Daí para a frente, até sua morte, em 1541, perambulou de lugar em lugar, como uma espécie de cavaleiro andante do anticonvencionalismo.
Alquimista, ao lado dos "quatro elementos fundamentais" enunciados no pensamento grego clássico - terra, água, ar e fogo -, reconhecia "três princípios básicos" - sal, enxofre e mercúrio -, que estariam presentes, em diferentes proporções, em todas as substâncias. O sal, simbolizado pelas cinzas que sobrevivem ao fogo, seria responsável pelo estado sólido; o enxofre, que desaparece ao queimar, pela natureza inflamável das coisas; e o mercúrio, que se volatiliza, pelo estado líquido e gasoso. Uma força geradora universal, o arqueu, combinaria os três princípios. De uma falha dela se originariam as doenças. Paracelso é reconhecido como um dos precursores da homeopatia.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Crônica de uma Obra-prima

CRÔNICA DE UMA OBRA-PRIMA



Michelangelo não pintou a Capela Sistina deitado, tampouco sozinho - na verdade, tinha uma dezena de ajudantes e trabalhava sobre andaimes a dois metros do teto. Detalhes como esses são o melhor de Michelangelo e o Teto do Papa, do canadense Ross King, que retrata os quatro anos em que o florentino produziu uma das mais fabulosas expressões artísticas da história. Durante o trabalho, o mestre sofria com a concorrência do jovem Rafael, tinha problemas com a família e temia as guerras promovidas pelo papa Julio II, seu patrocinador. O livro mostra como grandes obras são feitas em meio a turbulências - internas e externas.



A técnica ...

- Os afrescos eram pintados sobre uma fina camada de revestimento de cal, água e areia chamado intonaco, que só absorve tinta enquanto molhado - período que varia entre doze e vinte e quatro horas, dependendo do clima

- Para pintar os 1 100 m2 de teto, Michelangelo dividiu o espaço em várias giornatas (jornadas), que correspondiam aos trechos que ele e a equipe davam conta de pintar em um único dia

- Antes das pinceladas, Michelangelo produzia até sete rascunhos para definir expressão e posição da figura. Depois, passava os esboços para cartões que eram fixados no teto e delineavam o intonaco

...E os segredos do teto mais famoso do mundo

1. Há quem diga que Michelangelo fez um auto-elogio ao pintar o profeta Jonas com a cabeça curvada para cima, como se estivesse olhando para as cenas do teto. Verdade ou não, a expressão embasbacada da figura é a mesma dos que visitam a Capela Sistina

2. A Criação de Adão é considerada a obra-prima dentro da obra-prima. Neste painel, Michelangelo superou-se no propósito de dar vida e movimento às figuras. Eva também aparece na cena. É a jovem de cabelos claros protegida pelo braço direito de Deus

3. Ao lado de uma das figuras femininas, Michelangelo pintou duas crianças nuas. Uma delas faz uma figa com as mãos. Para os contemporâneos do pintor florentino, o gesto significava o mesmo que erguer o dedo médio nos dias de hoje

4. Apesar dos desentendimentos com o patrocinador, o pintor fez um agrado a Júlio II. Desenhou o profeta Zacarias com as feições do papa. Zacarias previu a reconstrução do Templo de Salomão, cujas proporções inspiraram a construção da Capela Sistina



MICHELANGELO E O TETO DO PAPA

Ross King
Record, 391 páginas, R$ 55

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Mona Lisa guarda em pupila a chave de sua identidade

13/12/2010 13h15 - Atualizado em 13/12/2010 13h15

Mona Lisa guarda em pupila a chave de sua identidade, diz nova teoria
Italiano diz que 'B' e 'S e iniciais 'CE' estão registradas no olho esquerdo.
Mistério já foi objeto de teorias na ficção, como em 'O Código Da Vinci'.



As teorias mais comuns são as de que La Gioconda seria a mãe de Leonardo ou a mulher de um mercador de Florença (Foto: Wiki commons)A Mona Lisa de Leonardo da Vinci guarda em sua pupila esquerda a chave da identidade da modelo em que o pintor se inspirou, segundo o investigador italiano Silvano Vinceti, cujas teorias são divulgas nesta segunda-feira (13) pelo jornal "The Guardian".


Cientistas querem exumar Da Vinci para provar semelhança com Mona LisaDe acordo com Vinceti, que é presidente da comissão nacional de patrimônio cultural em seu país, o gênio renascentista, amante dos códigos, pintou uma série de letras pequenas nas duas pupilas de Mona Lisa.

"Invisíveis ao olho humano e pintadas em preto sobre verde e marrom, estão as letras LV em sua pupila direita, obviamente as iniciais de Leonardo, mas o mais interessante está em sua pupila esquerda", afirma o investigador, em declarações recolhidas pelo jornal.

Leonardo gostava de utilizar símbolos e códigos para transmitir mensagens, e queria que descobríssemos a identidade da modelo através de seus olhos"Silvano Vinceti, presidente da comissão nacional de patrimônio cultural da ItáliaVinceti sustenta que no olho aparecem as letras "B" e "S", além de, possivelmente, as iniciais "CE", o que considera de vital importância para averiguar a identidade da modelo.

A modelo foi identificada frequentemente como Lisa Gherardini, a esposa de um mercador florentino, mas o investigador italiano não está de acordo, já que mantém que a Mona Lisa foi pintada em Milão.

"Atrás do quadro aparecem os números 149, com um quarto número médio apagado, o que sugere que Da Vinci o pintou quando estava em Milão na década de 1490, usando como modelo uma mulher da corte de Ludovico Sforza, o duque de Milão", declara ao jornal.

"Leonardo gostava de utilizar símbolos e códigos para transmitir mensagens, e queria que descobríssemos a identidade da modelo através de seus olhos", prossegue o italiano, que deve detalhar suas conclusões no próximo mês.

O mistério da Mona Lisa já foi objeto de teorias também na ficção, como no caso do romance "O Código Da Vinci", na qual o autor, Dan Brown, sugere que o nome é um anagrama para Amon l'Isa, em referência a antigas divindades egípcias.

sábado, 13 de novembro de 2010

Vidro - Material Incrivel

Vidro - Material Incrivel



No século 16, as pinturas passaram a retratar o mundo de maneira fiel. Em grande parte da Europa, e principalmente na Itália, quadros até então cheios de símbolos e imagens achatadas deram lugar a figuras reais com informações confiáveis sobre espaço, luminosidade e perspectiva. Foi uma revolução para a cultura humana que deu origem ao Renascimento e precipitou o desmoronamento da ordem social medieval, mas por trás dessa enorme ruptura histórica está uma invenção banal: o espelho. Um dos mestres da época, Leonardo da Vinci, sempre comparava a figura da tela com aquela refletida em um vidro metalizado. Esse macete se espalhou por diversos artistas e se cristalizou em um movimento que valorizava o real e o humano em vez do divino. Graças ao vidro, o Renascimento mudou o mundo.

Não foi a primeira vez que o vidro causou revoluções. Sem ele, a trajetória da humanidade - e especialmente a do Ocidente - seria totalmente diferente. "Algumas substâncias, como madeira, bambu, pedra e argila, podem substituir esse material em algumas situações. Mas o vidro combina diversos usos práticos com a capacidade de aumentar nosso sentido mais potente, a visão, e nosso órgão mais formidável, o cérebro", dizem o antropólogo Alan Macfarlane e o historiador Gerry Martin no livro Glass - A World History ("Vidro - Uma História do Mundo", sem versão em português).

Pense na vida sem lâmpadas. Se o vidro não existisse, seria impossível produzir luz artificial, tornando tochas e velas indispensáveis. Não haveria espelhos, aparelhos de TV, computadores, rádios, máquinas fotográficas, óculos e lentes de contato. Carros, trens, helicópteros e aviões não poderiam circular, pois as janelas protegem pilotos e passageiros sem atrapalhar sua visão. Talvez esses veículos não fossem nem inventados. Se você gosta das tecnologias e confortos do mundo moderno, agradeça ao vidro mais perto de você. Grande parte do nosso conhecimento do Universo precisou de lentes e lâminas. Os microscópios possibilitaram o desenvolvimento da medicina, a criação de remédios, os estudos sobre vírus e bactérias e a descoberta do DNA. Nos telescópios, as mesmas lentes foram responsáveis pelo entendimento do espaço, destacando planetas e galáxias invisíveis a olho nu.

A humanidade está mergulhada na utilização do vidro, essencial à arte, à tecnologia, à ciência e ao nosso bem-estar. Usamos esse material com tanta freqüência em nosso dia-a-dia que nem o percebemos - ele se torna, digamos, invisível. Para ter noção de sua grandeza é necessário deixar de olhar o que está atrás de cada lâmina e focar toda sua atenção nela mesma, por mais difícil que isso possa parecer.

Fogueira das novidades
É impressionante que tanta coisa tenha sido feita com um material que, em última análise, não passa de areia. Esquente os grãos a mais de mil graus centígrados e eles viram um líquido que, ao esfriar, se solidifica como vidro. Dependendo da fôrma em que você a colocar, essa sopa de areia se transforma em coisas tão diferentes quanto um vaso, uns óculos ou uma janela. Essa receita básica se sofisticou com o tempo e passou a incluir outros elementos, dando origem a milhares de tipos de vidro. Para aumentar a resistência, mudar de cor ou facilitar a produção, passou-se a acrescentar substâncias como soda cáustica, urânio, cal, alumínio ou chumbo. No entanto, algumas dessas impurezas correm o risco de escurecer o vidro - apenas o material em estado puro é transparente.

Ninguém sabe direito como é que a humanidade descobriu essa nova substância. Uma das hipóteses mais aceitas fala que foi há 4 mil anos, em fogueiras feitas sobre solo arenoso que, queimado, dava origem ao líquido. Nas regiões onde a descoberta aconteceu - pelas redondezas do Oriente Médio, provavelmente Egito e Mesopotâmia - a intenção dos descobridores obviamente não era estudar microorganismos ou observar planetas. Eles o usavam principalmente para criar objetos decorativos, como vasos e potes. Mesmo assim, os objetos envidraçados viraram moda e se espalharam por todo o Mediterrâneo entre 1500 e 100 a.C. Foi nessa época que muitos novos objetos e técnicas de fabricação de vidro se desenvolveram.

Por volta de 2 d.C., a história do vidro cruzou com a de um personagem histórico mais conhecido: o Império Romano. Viciados nesse material, eles abusavam dele em vitrais, lentes, espelhos, na decoração de interiores e, é claro, em taças transparentes para beber o tão apreciado vinho. Os romanos criaram a base para o mundo envidraçado em que vivemos hoje e espalharam a matéria por toda a Europa.

O Ocidente passou a viver entre belos potes, vasos e janelas, mas, convenhamos, essas não são coisas capazes de mudar o rumo de civilizações. Quando o vidro iria mostrar a que veio? Uma primeira revolução aconteceu em 1285, no norte da Itália, época em que surgiram os primeiros óculos da história. As milhares de pessoas que dependem deles para ler este texto sabem que essa novidade sem dúvida mudou o mundo. Não demorou muito: ela logo se espalhou pela Europa e foi capaz de prolongar a vida profissional de trabalhadores em 15 anos ou mais. Uma prova do poder de fogo do apetrecho veio em 1445, com a invenção da prensa de Gutenberg: as publicações passaram a ter um padrão pequeno de letras e a venda de óculos explodiu. Era só a primeira revolução feita pelo vidro.

Novos mundos
Nem todas as alternativas de vidro disponíveis hoje existiam há centenas de anos. Mesmo com recursos tão limitados, cientistas de diversas épocas viram no material uma ferramenta bastante útil para entender as leis da natureza. No final do século 16, havia um clima de curiosidade, de busca por respostas, uma crença de que leis da existência se escondiam em um universo invisível e o papel do homem era descobri-las. Para testar as novas idéias que surgiram, era preciso abrir as portas desses mundos escondidos, e a chave estava nos vidros - fossem eles de microscópios, telescópios ou simples frascos. Foi o berço da ciência como a conhecemos - o estudo do mundo por meio do tripé verificação, repetição e possibilidade de contestação. Tudo naquele estilo de quem só acredita vendo.

O vidro é essencial nos laboratórios. É fácil de limpar, selar, moldar, pode ser utilizado como isolante, condutor, é resistente a altas temperaturas e agüenta fortes pressões, como aquelas criadas pelo vácuo. E, é claro, é transparente. Outra vantagem no campo da ciência é a realização de experiências em frascos de vidro. "Salvo raras exceções, este material interfere pouco nas reações químicas, porque a força de união entre seus átomos é muito alta. Portanto, não contamina o que está dentro dele", diz o físico Walter Maigon Pontuschka, da USP.

Em meados do século 17, cientistas de várias partes da Europa começaram a combinar e aperfeiçoar lentes de aumento até chegar a algo bem parecido com os microscópios ópticos de hoje. Em 1665, na Inglaterra, o cientista Robert Hooke utilizou um desses instrumentos para observar pequenas cavidades em um pedaço de cortiça. Deu a elas o nome de células. Também analisou fósseis microscópicos a ponto de ter alguns dos primeiros indícios de que a evolução existia. Na mesma época, na Holanda, Antonie von Leeuwenhoek descobria bactérias e protozoários em qualquer objeto que colocasse embaixo de suas lentes. Esses instrumentos chegaram com poucas modificações até o século 20, quando deram origem a microscópios de elétrons e de tunelamento, capazes de estudar objetos pequenos como átomos.

A revolução causada pelo microscópio pode ser comparada às mudanças ocorridas com a invenção do telescópio, que também ocorreu no início do século 17. Trazer o distante para perto e revelar astros até então invisíveis criou a confiança de que o Universo possuía muitos fenômenos e verdades que se mal conheciam. A principal conseqüência dessa novidade, assim como daquela que revelou o mundo microscópico, foi a transformação dos conceitos e a crença de que nem sempre o óbvio é necessariamente o real.

Vida sem vidro
Mas será que muitas dessas evoluções não teriam ocorrido mesmo que nunca tivéssemos descoberto o vidro? Um bom retrato da importância do material está nos países que até o conheciam, mas não levavam seu uso a sério. No século 17, acessórios feitos com essa matéria foram levados para civilizações islâmicas, Índia, Japão e China, mas não fizeram sucesso. Isso porque nesses locais valorizavam-se muito os objetos de argila e porcelana, produzidos com arte havia gerações. "Os orientais têm curiosidade sobre vidros e cristais europeus, mas não sentem falta deles, pois acreditam que sua porcelana seja de ótima qualidade. Ela agüenta líquidos com altas temperaturas, não transmite para as mãos o calor dos chás, tem muito brilho e é bastante resistente", escreveu Du Halde, um jesuíta francês que visitou a China no século 18.

Com tantas qualidades, mudar para quê? A resposta só veio tempos depois, quando a diferença entre regiões que utilizavam e não utilizavam o vidro pôde ser observada. Quando os jesuítas foram para a China, no século 17, serviram-se do material para impressionar os habitantes locais com seus conhecimentos sobre óptica, geometria e astronomia. Somente um século depois da chegada dos missionários, os orientais descobriram a importância de estudos que envolviam objetos transparentes. Com os japoneses a história foi idêntica. No século 18, eles redescobriram a matéria esquecida durante séculos e foram à loucura com os microscópios, ou mikorosukopyumu. "Cristais de sal têm forma hexagonal, enquanto a farinha é triangular. O mofo se parece com cogumelos e saquê é como água fervendo, cheio de bolhas em movimento", descreveu um japonês maravilhado com a visão do mundo micro, então já bastante explorado pelos europeus.

A falta de óculos também pode ter influenciado a cultura desses dois últimos países, onde os habitantes têm dificuldades para enxergar longas distâncias, principalmente por uma questão genética. No caso do Japão, essa característica deu origem ao kabuki, teatro que enfatiza a interpretação corporal (o rosto dos atores é pintado com expressões fixas), algo fácil de ser identificado de longe. Já na China, a pintura típica tem seu fundo sempre borrado, sem definição exata, como a visão de um míope.
Essas histórias ficam ainda mais impressionantes quando lembramos que, até a Idade Média, o mundo árabe e o asiático estavam muito à frente da atrasada Europa. O livro de Macfarlane e Martin dá a entender que o vidro tenha muito da responsabilidade pela ultrapassagem tecnológica do Ocidente sobre o Oriente - um fenômeno histórico que se prolonga até hoje. O final da história é que, depois de usar o vidro para conquistar o mundo, o Ocidente criou formas de substituí-lo em muitos casos por outros materiais, como o plástico. Ê, ingratidão!