terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Livro acadêmico estuda efeitos de ataque de zumbis no mundo

11/12/2010 07h00 - Atualizado em 11/12/2010 07h28

Livro acadêmico estuda efeitos de ataque de zumbis no mundo
Daniel Drezner tentou dar ar sério a hipótese de ataque de mortos-vivos.
'Jovens sabem mais sobre zumbis de que sobre relações internacionais', diz.
Daniel Buarque


O livro de Daniel Drezner, que vai ser lançado em
2011 nos EUA (Foto: Divulgação)Depois de atacar a cultura pop, os cinemas e a literatura, os zumbis agora estão se tornando um assunto sério. A prova disso é que um respeitado professor de política internacional passou meses analisando de forma profunda o impacto que o aparecimento de mortos-vivos teria nas relações exteriores. Depois de misturar o que chama de “cânone” desse tipo de ficção com as principais teorias de relações internacionais, Daniel Drezner, da universidade Tufts, diz que apenas parte do mundo estaria pronta para lidar com os efeitos de um hipotético ataque zumbi.

“Olhando de forma séria, os mortos-vivos são como qualquer outro choque sistêmico global, como uma pandemia ou o próprio aquecimento global. Os países mais ricos e avançados, as maiores potências, provavelmente estariam prontos para lidar bem com este problema”, disse Drezner, em entrevista ao G1. A tese dele é parte do livro "Principles of international politcs and zombies" (Princípios de política internacional e zumbis), que vai ser publicado em 2011 pela editora da Universidade Princeton, nos Estados Unidos. “É um livro que tenta ser ao mesmo tempo sério e engraçado”, explica.

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Seu trabalho teve início depois de ele ler um estudo de matemáticos do Canadá, avaliando pandemias, analisando os zumbis como um agente patógeno e mostrando que, a menos que destruíssemos os zumbis muito rapidamente, a civilização como conhecemos iria acabar. “Percebi que no trabalho não se falava em política, e achei que era preciso analisar as questões de política internacional.” Ele então fez esta análise em um texto no site da revista "Foreign Policy". “Estava sendo ao mesmo tempo sério e bobo. Mas houve uma reação imensa, com vários colegas que ensinam relações internacionais achando uma ótima forma de atrair a atenção dos estudantes. A verdade é que os jovens de 18 anos sabem mais sobre zumbis do que sobre relações internacionais. Esta é uma forma de prender a atenção deles.”

A pesquisa dele usou como base os trabalhos existentes sobre "política de desastre", que é como os estados respondem a problemas parecidos com zumbis, como pandemias, furacões, terremotos, bioterrorismo. “Tive que pensar em uma atualização disso para um problema global no século XXI. O livro é obviamente escrito para fazer as pessoas rirem, mas foi escrito de uma forma completamente séria. Eu defendo publicamente tudo o que escrevi, pois fiz uma pesquisa séria.”


Ator fantasiado de zumbi faz promoção de seriado de TV em rua da capital dos Estados Unidos (Foto: AFP)Brasil
Segundo Drezner, o Brasil provavelmente não estaria entre os países mais afetados por um possível ataque de mortos-vivos. “Os países mais pobres, os estados falidos, provavelmente sofreriam mais. Mas o Brasil é uma potência ascendente, e provavelmente conseguiria evitar um problema maior com os zumbis.”

Ele alega, entretanto, que isso depende do local em que este problema surgisse. “Se tudo começasse no hemisfério oriental, o Brasil e o continente americano como um todo teriam mais tempo para se preparar e reagir. Se começasse, entretanto, numa favela do Rio de Janeiro, então o problema para o Brasil seria bem maior”, diz.

Em “Guerra Mundial Z”, ficção escrita por Max Brooks que Drezner diz ser “a descrição mais realista de como seria um ataque zumbi na terra”, os primeiros zumbis aparecem na China, mas não demora para que sejam registrados casos no Rio de Janeiro. No livro, que se propõe uma história oral da guerra contra os mortos-vivos, o primeiro zumbi no Brasil surge depois que uma clínica clandestina faz um transplante de coração usando um órgão contrabandeado (e infectado) da China em um austríaco.


Mexicanos se vestem de mortos-vivos para participar da 'caminhada zumbi', festa à fantasia temática que acontece em vários países (Foto: AFP)'Risco real'
Por conta da “moda” dos zumbis na ficção pop, já houve trabalhos científicos analisando as possibilidades reais de um ataque de zumbis. Segundo Drezner, que estudou quase tudo o que já se escreveu sobre os mortos-vivos, “as conclusões mais aprofundadas mostram que a existência de zumbis é um pouco mais provável de que a de vampiros. Por isso defendo que devemos dar mais atenção a zumbis de que a vampiros”.

Ele diz, entretanto, que em um debate sobre política internacional no caso de um ataque de zumbis, as causas e o tamanho real do risco são menos relevantes. “Há teorias muito heterogêneas sobre o que poderia causar este tipo de coisa e, independentemente da origem do problema, ações de prevenção não funcionariam, e seria preciso remediar, lutar contra ele. A questão que é mais importante é que, se isso acontecer em qualquer lugar, vai se tornar imediatamente um sério problema de segurança de fronteiras.”

Segundo o professor, zumbis são um exemplo clássico do que os departamentos de inteligência dos Estados Unidos chamam de “desconhecidos desconhecidos”, que são ameaças não-antecipadas para as quais o governo quer está preparado. “Depois do 11 de Setembro, houve um contato do governo americano com Hollywood. Por causa da surpresa do ataque, a inteligência americana começou a procurar meios de criação, buscando formas de se preparar para lidar com ameaças não-antecipadas. Zumbis são um exemplo clássico de "desconhecido desconhecido" em segurança e política internacional.”


Nova-iorquinos se fantasiam durante edição local da 'zombie walk' (Foto: AFP)Ele diz que, por conta desse estado de alerta permanente, o mundo reagiria melhor a qualquer ataque zumbi de que a ficção costuma mostrar. “O cânone zumbi é muito pessimista a respeito da reação do mundo. Eles costumam mostrar que em pouquíssimo tempo os zumbis já destruíram o planeta. Acho que isso não aconteceria dessa forma, e as pessoas saberiam reagir melhor de que na ficção”, defende.

Drezner disse ter tido esperança que as informações de despachos diplomáticos vazados pelo site WikiLeaks trouxessem alguma informação sobre zumbis. Sem que nada assim tenha aparecido, ele diz, entretanto, que a transparência desse tipo de vazamento ajudaria a acelerar a reação contra o ataque dos mortos-vivos.


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