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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Como cientista francês desvendou mistério das areias cantantes do deserto


Como cientista francês desvendou mistério das areias cantantes do deserto

Cientista francês ensina a fazer música com as areias do deserto (Foto: Mathias Théry)

Físico Stéphane Douady se deparou por acaso, há mais de uma década, com 'canto' de dunas e, desde então, busca respostas para esse fenômeno.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Lençóis de Areia - Ambiente


LENÇÓIS DE AREIA - Ambiente


Vista de avião, a paisagem lembra um imenso quintal coberto de panos brancos postos para secar ao sol, ondulados pelo vento. De perto, a gente descobre que tanta beleza é formada por enormes montanhas de areia, capazes de mudar de lugar e de forma conforme o movimento do ar. Os Lençóis Maranhenses, como é conhecida a região, são um espetáculo da natureza que se espalha por 1 500 quilômetros quadrados (o mesmo tamanho do município de São Paulo), cientificamente reconhecido como deserto. Mas um deserto estranho. Tem duas estações climáticas bem definidas. Em uma delas até chove, e muito. De janeiro a junho, a média de chuvas é de 1 500 milímetros, 300 vezes mais do que a média do Saara, na África. Com tanta água, as dunas maranhenses ficam entremeadas por milhares de lagoas. "Mas, de julho a dezembro, é uma secura só", disse à SUPER o geólogo marinho Edgard Freitas Parouco, da Universidade Federal do Maranhão. Mesmo assim, existem dois oásis de vegetação bem no meio desses montes de areia rica em quartzo. Em volta deles cresce mata de cerrado, com árvores baixas. Para proteger esse pedaço do Brasil - o único com essas características em todo o mundo -, em 1981 foi tombado o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, sob proteção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis. A medida não mudou muito o cotidiano do lugar, que continua praticamente isolado. Há uma única e péssima estrada, de 380 quilômetros, que liga São Luís, capital do Estado, a Barreirinha, cidade mais próxima ao parque. A opção é descer de barco pelo Rio Preguiça. Mas é preciso esperar baixar a maré que todos os dias invade o rio. Por isso, poucos aventureiros encaram o desafio de chegar ao areal. Isso garante a tranqüilidade das mil famílias que habitam a região, das tartarugas e das centenas de pássaros migrantes que se alimentam na borda costeira do deserto, vindos do Alasca.


Lençóis de vento

Dunas e lagos azuis que não param no lugar
Se você foi aos Lençóis em maio e voltar lá agora, em outubro, pode levar um susto: cadê as lagoas que estavam aqui no primeiro semestre? É que o deserto maranhense vive se mexendo, um fenômeno de autoria da dupla água e vento. 

Com as chuvas que caem na primeira metade do ano, afloram os lençóis freáticos (de água subterrânea). A água então vai se acumulando nos vales entre uma duna e outra, formando lagos de água doce, alguns com mais de cem metros de extensão. Em agosto, porém, pára de chover. Aí, o sol quente, com temperatura média de 32 graus, seca os lagos. Em dezembro, é só areia, apenas os rios resistem. Em janeiro, o ciclo de chuvas se repete e as lagoas voltam a se formar. Mas todo ano elas mudam de lugar e contorno, acompanhando a movimentação das dunas.

Os montes de areia andam graças aos alísios, ventos que sopram na parte mais baixa da atmosfera, sempre na direção litoral-interior. "Alguns cálculos indicam que as dunas avançam entre 15 e 20 metros por ano", conta o geógrafo Antônio Cordeiro Feitosa, da Universidade Federal do Maranhão. O movimento nunca pára e, numa dessas, a areia já soterrou vilas e até um aeroporto, em 1979, na cidade de Tutóia. O deserto vai crescendo. Há relatos indicando que, no início da década de 70, os Lençóis se estendiam apenas 20 quilômetros continente adentro. Hoje, alcançam 50 quilômetros. 



Os rios que alimentam o mar e a terra

Em nenhum canto do planeta o mar é capaz de produzir areia. Ele a consome, isso sim. Nos Lençóis, quem produz os grãos são os rios. Eles escavam o leito por onde vão passando e carregam minúsculos fragmentos de rocha rumo ao litoral. Um dos principais é o Parnaíba, que desemboca na divisa entre Piauí e Maranhão e arrasta sedimentos até o mar. As correntes marítimas no Brasil se movimentam de sul para norte e vão espalhando os grãos pela costa.

As marés - duas altas e duas baixas no mesmo dia - lançam sobre a praia uma areia composta por grãos muito finos. Com o sol, ela seca e os ventos fortes, especialmente em outubro e novembro, levam-na de volta ao continente. O ar razoavelmente seco facilita o transporte. Assim que encontram um obstáculo, que pode ser um pequeno arbusto, uma pedra ou mesmo outra duna, os grãos se depositam na superfície. 

O principal tipo de duna que se forma nos Lençóis é chamado de barcana. Ela se parece com uma meia-lua (veja o infográfico acima) e a parte convexa, a "barriga", fica voltada para a direção do vento. A areia se acumula no topo da duna e depois, por desmoronamento, escorrega para trás. "Esse processo, que já espalhou areia por 270 quilômetros de extensão ao longo da costa e 50 quilômetros para o interior, começou cerca de 11 000 anos atrás", diz o geólogo Edgard Freitas Parouco. "E não vai parar tão cedo. Os rios devem continuar carregando sedimentos por pelo menos mais alguns milhares de anos".

Lençóis de água

Ciclos naturais mudam a rotina da paisagem
Além das famílias que teimam em morar no deserto, mudando cada vez que as casas são invadidas pela areia, os Lençóis servem de moradia para várias espécies de animais. No cerrado que contorna as dunas encontram-se guaxinins e macacos do tipo guariba e prego. A porção costeira serve de abrigo para pássaros que migram do Pólo Norte e para a desova de tartarugas marinhas. Até uma nova espécie de tartaruga de água doce foi encontrada na região (veja abaixo). 

Mas o ciclo natural mais curioso dos Lençóis acontece nas lagoas. Quando a chuva chega, em janeiro, elas se enchem de peixes como se fosse mágica. Mas não é. Durante a seca, os animais domésticos da região deixam fezes na areia. Quando vêm as águas, o dejeto vira comida para as larvas de insetos, o alimento preferido dos peixes. Algumas lagoas crescem tanto que se ligam a braços de rios ou lagoas já formadas, proporcionando o vai-e-vem aquático e a multiplicação dos peixes. Assim, as novas lagoas fazem a alegria dos pescadores. "Pode ser que também existam lá peixes que põem ovos resistentes à falta de água", diz o biólogo Antônio A. Rodrigues, da Universidade Federal do Maranhão. "Esses ovos provavelmente ficam enterrados na lama que sobra onde havia a lagoa e, com a chuva, se abrem."



Dois oásis resistem no meio do deserto

Existem dois focos de vegetação em Lençóis. O maior se chama Queimada, com 6 quilômetros de extensão por 3 de largura, formado de arbustos e árvores de frutos tropicais, como caju, que servem de alimento para a população local. "Realizamos um estudo e encontramos ali espécies características da Mata Amazônica", diz o biólogo Nivaldo de Figueiredo, da Universidade Federal do Maranhão. Para ele, as plantas podem ser resquício da mata pré-Amazônica que deve ter coberto parte do Maranhão até três milhões de anos atrás. 

O outro oásis é Baixa Grande, com características parecidas e metade do tamanho de Queimada. Com certeza já foi maior. "Sempre encontramos troncos enterrados no deserto", conta Nivaldo. Só não se sabe por que os dois focos de flora ainda não foram cobertos pela areia. Os biólogos acreditam que, por serem mais úmidos, eles brecam o avanço das dunas.

Fora dali, a flora ainda teima nos Lençóis. Nas margens dos rios a vegetação é de mangue, baixa e pobre porque o solo é salino. Mas, como nada é comum nesse lugar, as árvores chegam a 15 metros de altura. "Não se conhecem árvores de mangue tão altas em todo o Brasil", diz Nivaldo. Rodeando o deserto encontra-se o típico cerrado, com plantas retorcidas e de casca grossa. Bem menos exuberantes que os manguezais ou os oásis, são essas árvores baixas que, barrando a passagem da areia, conseguem conter sua fúria e evitar que elas cubram as cidades que se instalaram ao redor do parque. Por enquanto.



PARA SABER MAIS



Maratur - Empresa Maranhense de Turismo, tel.: 098 221 1276 e 232 5667

Jogo de empurra no litoral maranhense

1 - Rio abaixo
O rio escava o leito por onde passa e carrega sedimentos que são depositados na costa.



2 - Terra firme

Na maré baixa, o vento leva a areia de volta para o continente, formando dunas.



3 - Férias no mar

Os grãos são carregados pelas correntes marinhas, que os empurram no sentido sul-norte.


A tartaruga inédita

 Vinte anos atrás, o pesquisador Antenor Leitão de Carvalho, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, entrou no laboratório do biólogo Paulo Vanzolini, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), com uma tartaruga debaixo do braço. Carvalho queria estudá-la mas, por falta de tempo, o animal acabou se aboletando em seu jardim e gerando filhotes. Há quatro anos, Vanzolini decidiu recolher algumas dessas tartarugas para analisá-las. "Com a ajuda de uma aluna maranhense, em 1993 descobri que se tratava de um animal das lagoas dos Lençóis conhecido como pininga", diz Vanzolini. Terminada a pesquisa, o biólogo da USP não teve dúvidas de que era uma nova espécie de tartaruga. Um dos traços característicos são faixas e círculos em amarelo e laranja na carapaça.

O milagre dos peixes que se repete todo ano

1 - Andando por aí
No período de estiagem, os animais que pastam por ali depositam fezes na areia, que também pode ter ovos de peixes enterrados.



2 - Chove chuva

No primeiro semestre, alguns lagos se enchem tanto de água que se ligam temporariamente a rios e outras lagoas maiores.



3 - A caça e o caçador

Os insetos depositam na lagoa suas larvas que se alimentam das fezes. As larvas, por sua vez, viram comida de peixe.



4 - Banquete aquático 

Alguns peixes migram dos rios para os lagos atrás de alimento e se reproduzem enquanto outros ovos de peixe enterrados na areia se abrem.


terça-feira, 17 de junho de 2014

Os donos da praia - Zoologia

OS DONOS DA PRAIA - Zoologia


Quando você pisa na areia molhada da praia e seu pé afunda uns 10 centímetros, está provocando um terremoto na casa de 35 000 monstrinhos como este aí da foto. Não se sabe quantos morrem. Mas muitos conseguem sobreviver à catástrofe. E continuam povoando os pequenos espaços entre os grãos de areia, um mundo cheio de espécies. Seus habitantes, os verdadeiros donos da praia, são uns bichos estranhos, que os cientistas chamam de meiofauna. Seriam assustadores se fossem grandes. Mas eles têm menos de 1 milímetro e, ao contrário de outros pequenos intrusos que são levados à areia pelo homem ou pelos cães, não fazem mal a ninguém. São faxineiros que comem restos de animais e algas em decomposição. Agora que você sabe que eles existem, não precisa ficar com remorso nem medo de caminhar na areia, mas lembre-se de que sob os seus pés há uma microscópica selva, cheia de animais alucinantes.

domingo, 23 de junho de 2013

Campeonato de esculturas de areia reúne obras incríveis do mundo todo


Campeonato de esculturas de areia reúne obras incríveis do mundo todo

O escultor americano Matt Long, membro do programa de viagens ‘Sand Masters’, durante o Campeonato Mundial de Esculturas de Areia (Foto: The Press of Atlantic City, Ben Fogletto/AP)

Evento é realizado no estado de Nova Jérsei, nos EUA.
Competidores exibiram esculturas em píer de Atlantic City.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Mundo Deserto - Geologia



MUNDO DESERTO - Geologia



Um terço das terras do planeta são extensões estéreis. É o resultado da açào milenar das forças que moldam o clima. Agora, o homem começa a fazer a sua parte - para piorar tudo.

Para atravessar em 1990 o deserto de Gobi, que se estende por 1600 desolados quilômetros na Mongólia, Asia Central, o explorador britânico Sir Aurel Stein, se muniu de muita coragem e de um antigo mapa. Nele, um viajante veneziano chamado Marco Polo tinha anotado, seiscentos anos antes, 28 indicações literalmente vitais para uma travessia desse porte - os oásis, onde pudera matar a sede nos quatro anos que levou para ir de Bassora, no extremo norte do Golfo Pérsico, a Pequim, na China. Para Sir Aurel, que passou quinze anos em Gobi, o mapa foi um guia precioso: sua exatidão poupou a caravana que comandava do risco de perecer por falta de água. Pior sorte tiveram os pioneiros colonizadores da Austrália, no século passado. Convencidos de que havia uma espécie de grande mar interior no centro do território, como o Cáspio, no sul da União Soviética - já que a maioria dos rios ali correm em direção ao mar - empreenderam expedições que acabaram liquidadas ou pelas setas dos aborígenes ou pela implacável aridez da natureza.
Experiências tão diversas como aquelas recheiam a volumosa, multissecular crônica dos desbravadores, cientistas, comerciantes e aventureiros que por motivos não menos variados ousaram confrontar as imensidões inóspitas de terras conhecidas como desertos, que, somadas, ocupam uma área surpreendente. "Se descontarmos as calotas glaciais, constituem pouco mais de um terço das terras emersas do planeta", calcula o professor francês Pierre Rognon, geólogo especializado no estudo dos desertos, ou Eremologia, como dizem seus praticantes. "E em todo esse espaço, a vida se limita a poucas e obstinadas plantas e animais, além dos bandos nômades, cada vez menos numerosos." Diretor do Laboratório de Geodinâmica dos Meios Continentais da Universidade de Paris VI, Rognon conhece como poucos o maior e mais famoso deserto do mundo: o Saara, que atravessa onze países no norte da África e cujos 8,6 milhões de quilômetros quadrados - pouco mais que um Brasil inteiro - ele vem pesquisando desde 1953, viajando de camelo, jipe e helicóptero. Haja dedicação: ali, a temperatura alcança 43 graus de dia e desce a 10 graus à noite.
Como o nome quer dizer em árabe antigo, é um "espaço vazio de solo nu e sem vegetação". A descrição traça adequadamente o perfil das regiões desérticas do globo, caracterizadas por receberem menos de 250 milímetros anuais de chuva. A origem dos desertos está diretamente ligada ao clima da Terra. Não por acaso, a maioria deles se situa nos trópicos, onde zonas de alta pressão impedem que a superfície seja umedecida. Segundo a explicação mais aceita pelos cientistas, isso acontece porque nas zonas de clima tropical, mais próximas ao Equador, o Sol se avizinha do zênite, o ponto mais alto da abóbada celeste. Sua radiação, que por isso incide quase perpendicularmente, é em boa parte absorvida pela superfície, que a transforma em calor. O ar assim aquecido, por ser mais leve, ganha as camadas superiores da atmosfera, leva consigo grande quantidade de vapor de água proveniente dos oceanos e cria, num processo semelhante ao de um desentupidor de pia, uma zona de baixa pressão acima do solo.
À medida que o ar sobe, encontra regiões cada vez mais frias e começa a se expandir em direção aos pólos, dissipando seu calor. O vapor de água, que se condensa na presença do frio, forma pesadas nuvens que desabam em temporais que irrigam florestas como a da Amazônia, onde chove 3 mil milímetros anuais, ou do Vietnã. O ar, já então ressecado e resfriado, se torna mais denso e começa a descer exatamente sobre os trópicos, formando assim as zonas de alta pressão, também chamadas anticiclones. Quando chega perto da superfície, é atraído pela região vizinha, de baixa pressão - e o ciclo recomeça. Dessa forma, superfícies imensas no norte da África, na Austrália e na Península Arábica ficam privadas de chuva, pois o ar não consegue levar a água até elas. Existem ainda desertos, como os do Peru e do Chile, que devem sua extrema aridez a cadeias de montanhas, no caso os Andes, que barram a passagem das nuvens carregadas de água. E existem, enfim, os desertos de gelo, dos quais o melhor exemplo é a Antártida, com seus 13 milhões de quilômetros quadrados. Ironicamente, embora retenha o maior volume de água doce do planeta, a Antártida quase desconhece a chuva. "É o deserto perfeito", define Rognon. "Ali, caem por ano ínfimos 127 milímetros, como na região de Tanezrouft, no coração do Saara. Além disso, o frio intenso, que chega a 50 graus centígrados abaixo de zero, contribui para restringir dramaticamente quaisquer manifestações de vida." Embora pareçam à primeira vista extremos opostos, os desertos quentes e frios apresentam estranhas coincidências quanto às origens. Como um espelho, o gelo reflete a maior parte da radiação solar em direção à alta atmosfera e o ar é resfriado sem cessar em contato com a superfície.
Principalmente nos desertos quentes, onde as dunas penteadas pelo vento não representam mais de um quinto da área total, a natureza parece um eterno vazio, para além de qualquer mudança possível. Grande engano. Em 1981, a nave espacial americana Columbia, dotada de um aparelho de radar que emitia os sinais captados do solo para uma estação receptora nos Estados Unidos, sepultou aquela percepção. Vasculhando um trecho do Deserto da Líbia entre o Egito e o Sudão, onde a camada de areia é particularmente espessa e pode esperar até seis anos por uma chuva, a nave transmitiu uma imagem desconcertante para a equipe de geólogos de plantão em terra."Meu Deus, que aconteceu com a areia?", reagiu atordoada a cientista Carol Breed. Alguns minutos foram necessários para que se percebesse que o solo, de tão seco, foi incapaz de refletir as ondas eletromagnéticas do radar. A radiação ecoou, isso sim, nas rochas 5 metros abaixo da superfície. As fotografias resultantes, um verdadeiro tesouro, permitem dizer que, há mais de 20 mil anos, o Saara era uma região cortada por numerosos rios e, portanto, apta a abrigar exuberante vegetação e muitas formas de vida, incluindo a espécie humana. No meio do deserto onde hoje apenas algumas aves migratórias arriscam as penas, pode-se de fato encontrar um mar de inscrições rupestres, teslemunhas da ocupação humana da época do Neolítico, há cerca de 9 500 anos. São desenhos reveladores: mostram crocodilos, leões, girafas. elefantes e hipopótamos  uma fauna pouco dada a freqüentar regiões extremamente áridas. Mas, naqueles idos, quando o bicho homem começava a adquirir endereço certo e sabido com a prática da agricultura, as terras do norte africano, embora cada vez menos providas de umidade, ainda podiam amparar a presença de vida.
A exploração superintensiva do solo acabaria ao longo do tempo por interromper o ciclo vital primitivo oriundo de um passado muito mais longínquo. Realmente, troncos fossilizados do que teriam sido frondosas árvores são indícios inequívocos de que o Saara foi há 70 milhões de anos uma exuberante floresta. A África estava então a mais de meio caminho de sua localização atual - as áreas que correspondem a países norte-africanos, como Argélia, Marrocos, Líbia e Egito, se encontravam na linha do Equador, onde estão hoje Gabão, Zaire, Uganda e Quênia, no coração do continente. Ainda antes disso, na quase inimaginável época que remonta a meio bilhão de anos, a placa africana fazia parte do aglomerado de terras situadas no Pólo Sul, ou seja, era um imenso deserto de gelo.
O fenômeno inverso também ocorreu: calcula-se que a Terra tenha tido desertos no mínimo desde o período Permiano, que terminou há 230 milhões de anos. Florestas como a da Amazônia, por exemplo, eram regiões semi-áridas naquele período. "A prova disso", aponta o geólogo Kenitiro Suguio, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, "é que ainda há pontos onde a vegetação típica das savanas secas convive com a floresta úmida."As mudanças geológicas fizeram desaparecer os desertos desta parte do mundo, para sorte dos brasileiros. O maior deles era o da Bacia Sedimentar do Paraná, que existiu no Jurássico, há mais de 135 milhões de anos, tomando todo o sul do continente. "Dentro desta grande evolução, existem pequenos ciclos", precisa o geólogo francês Pierre Rognon. "Há épocas, como a atual, em que as regiões áridas se expandem e outras em que elas encolhem até quase desaparecer."Hoje, apenas algumas variedades de escorpiões, serpentes e besouros se aventuram por zonas como o "Quarteirão (ou corredor) Vazio", no sul da Península Arábica, uma das áreas menos habitadas do mundo.
Ali onde o clima é um pouco menos infernal, até alguns pequenos mamíferos insistem em sobreviver, ao custo de drásticas mutações. As espertas raposas do deserto, por exemplo, desenvolveram longas orelhas para, ao que tudo indica, aumentar a superfície de evaporação e assim manter estável a temperatura interna do corpo. Os lagartos chegaram a um verdadeiro requinte. Algumas espécies adquiriram nada menos que pálpebras transparentes, espécie de óculos naturais que permitem ao animal permanecer eternamente com os olhos fechados, a melhor defesa contra as tempestades de areia. Outros mamíferos armazenam na cauda grandes quantidades de gordura, que podem ser metabolizadas em água, num processo equivalente ao da corcova dos dromedários. Já as franzinas e desfolhadas plantas, por disputar cada gota das raríssimas chuvas, crescem a uma boa distância umas das outras e esticam as raízes por dezenas de metros para captar o máximo possível de umidade.
Os únicos lugares onde se pode encontrar formas de vida um pouco mais exuberantes são os oásis, que representam menos de 0,5 por cento das áreas desérticas. Sua origem é curiosa. As águas das chuvas que caem sobre encostas de montanhas, às vezes a milhares de quilômetros, infiltram-se em rochas porosas e seguem cursos que podem se dirigir para as regiões desérticas. Se, em pleno deserto, um vale ou uma fenda entre as rochas forem mais baixos que a zona regada pelas chuvas, a água aflora, podendo formar-se uma espécie de lago constantemente alimentado, ao redor do qual se juntam bichos e pessoas em busca de sombra e água fresca. Ainda hoje, grupos nômades mantêm a tradição de viver sob tendas desmontáveis, com seus magros rebanhos, prontos a levantar acampamento assim que percebem a escassez do precioso líquido. As cidades da periferia do Saara, instaladas perto de indústrias e assoladas por um invencível crescimento demográfico, causam por sua vez um fenômeno que assusta cada vez mais os estudiosos. Trata-se da desertificação, a formação de desertos pelo homem, que galopa à assustadora velocidade de 60 mil quilômetros quadrados por ano, o equivalente a quarenta cidades do tamanho de São Paulo.
Associando-se aos fatores naturais.como a falta de chuvas e os fortes ventos, o homem perpetra outra agressão ao ambiente, já não bastassem o efeito estufa, o buraco no ozônio e a chuva ácida. De fato, o crescimento demográfico nas áreas semi-áridas leva à ampliação dos rebanhos, que devoram as pastagens e esterilizam enormes extensões de terra. A produção de alimentos diminui devido ao encurtamento dos ciclos de plantio e colheita. Exausto, o solo passa a sofrer a erosão. Isso força o homem a buscar novas terras, incluindo as florestas nativas. As árvores são cortadas e consumidas, os arbustos e as plantas rasteiras comidos ou esmagados pelos animais; o solo, nu, é então varrido pelo vento e pela areia, que se liberta e invade as terras vizinhas. "Não há dúvida de que aí está um dos grandes problemas a serem resolvidos no século XXI", comentou recentemente o geógrafo francês Edmond Bernus, dias antes de partir para uma temporada de dois anos no miserável Mali, no noroeste da África. O Mali, onde vivem atualmente mais de 8 milhões de pessoas, será, ao que tudo indica, o primeiro país do mundo a ficar literalmente inabitável em conseqüência dessa catástrofe ecológica. 

Os cinco maiores vazios .

a-Nome    
b-Localização    
c-Área        (km2)    
d-Chuvas             (mm/ano)    
e-Temperatura (máx. e min. em C°)
_______________
a- Saara    
b- Norte da África    
c- 8 600 000 km2
d- 200 mm/ano    
e- 43C°máx. e 10C°min
_______________
a- Arábia    
b- Sudoeste da Ásia    
c- 2 330 000 km2    
d- 100 mm/ano    
e- 51C°    máx. e 12C° min.
_______________
a- Gobi    
b- Ásia Central    
c- 1 166 000    70 km2 a 
d- 200    mm/ano
e- 45C° máx. e     -40C°min.
_______________
a- Patagônia    
b- América do Sul
c- 673 000    90 km2 a 
d- 430    mm/ano
e- 45C°    máx. e -11C° min. 
_______________
a- Grande Vitória    
b- Sudoeste da Austrália       
c- 647 000km2    
d- sem dados    
e- sem dados


O inferno branco.

A paisagem sugere um ofuscante tapete de gelo que se perde no horizonte, como na imensidão da Antártida. O calor, não raro, alcança calamitosos 50 graus. Trata-se, provavelmente, do lugar mais inóspito do planeta - a Depressão de Danakil, 5 mil quilômetros quadrados de puro inferno entre as montanhas que cortam a Etiópia, a oeste, e o Mar Vermelho, a leste, na África oriental. A brancura do cenário se deve à enorme camada de sal que recobre o solo e, em alguns pontos, desce 5 mil metros terra adentro. Isso porque, há muitos milhares de anos, a depressão era um braço do Mar Vermelho. Devido à intensa atividade vulcânica e das placas terrestres na região, o mar dividiu-se em grandes lagos. Estes, castigados pelo sol, acabaram por evaporar, deixando apenas a camada salina, algo como 1 milhão de toneladas ao todo, principal fonte de sobrevivência dos nativos das áreas próximas. Arrancados a golpes de picareta, os blocos de sal são transportados por mulas até o mercado de Makale, a 120 quilômetros, onde a carga é vendida aos comerciantes africanos.

Uma árida batalha.

Em 1974, após uma prolongada seca na região da África conhecida como Sahel - faixa de terra árida ao sul do Saara -, a ONU convocou uma Conferência Mundial sobre Desertificação. Delegados do mundo inteiro se reuniram em Nairóbi, no Quênia, para estudar medidas que evitassem a expansão das áreas desérticas, como havia ocorrido no Sahel. Na época, estimava-se que um em cada oito seres humanos, a metade do gado bovino, um terço dos bovinos e dois terços dos caprinos já viviam nessas áreas, sendo necessários investimentos anuais da ordem de 4,5 bilhões de dólares para frear o processo até a virada do século. Esses números pioraram tanto, sem que se passasse dos projetos aos atos efetivos de combate à calamidade, que, uma década depois, previa-se que um terço da superfície do planeta estará morto até o ano 2000, ameaçando a já precária sobrevivência de 850 milhões de pessoas.
"A desertificação não é propriamente a formação de dunas, mas o esgotamento de toda a capacidade do solo de suportar a vida", define o geólogo João José Bigarela, presidente da Associação de Defesa e Educação Ambiental de Curitiba, conhecido pela sua luta em defesa da natureza. "Entendido o processo como o aumento da aridez, podemos ver exemplos em todo o pais", adverte ele.
O Brasil, segundo dados de 1983, da ONU, tinha cerca de 780 quilômetros quadrados de áreas desertificadas, concentradas principalmente no Nordeste, onde viviam mais de 10 milhões de pessoas. As autoridades negam a desertificação, entendendo o termo no sentido mais restrito, mas o fato é que a substituição das florestas tropicais pelo plantio extensivo para exportação, prática por sinal comum desde a chegada do homem branco ao continente, vem criando e alargando regiões áridas e semi-áridas.
Em menos de um século, por exemplo, destruiu-se 81 por cento da cobertura florestal do Estado de São Paulo. O Pontal do Paranapanema, na divisa com Mato Grosso, com mais de 1 500 quilômetros quadrados de área verde em 1950, está totalmente devastado, a exemplo das florestas subtropicais que cobriam a maior parte do território paranaense ou da Zona da Mata nordestina. Pelo menos 500 mil quilômetros quadrados do sertão nordestino já viraram desertos de verdade. Da mesma forma, os menos irrigados pampas gaúchos cresceram, apenas na última década, mais de 20 quilômetros quadrados. Até a floresta amazônica acusa o problema. Explica Bigarela: "Devido à composição química da terra e à grande quantidade de detritos vegetais que a cobre, o desmatamento ali nem chega a liberar para o cultivo solos férteis, que se degradam pela erosão das águas das chuvas."