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terça-feira, 25 de outubro de 2011

A procura do idioma universal

À PROCURA DO IDIOMA UNIVERSAL



Nesta torre de Babel chamada Terra existem cerca de três mil línguas diferentes. Mas o intercâmbio entre os povos exige cada vez mais uma comunicação universal. E ela somente foi possível até hoje em campos específicos, como a música e a matemática. As tentativas de maior alcance foram mal-sucedidas.

Até o ano 2000, a população mundial - inclusive a do Terceiro Mundo - estará viajando tanto que a exigência de uma língua comum entre os povos será uma necessidade imperiosa. O domínio de um idioma universal para se comunicar já não será privilégio apenas dos que têm maior acesso à cultura. Ainda não se decidiu qual será esta linguagem. Sabe-se apenas que ela não deverá ter fronteiras, além de ser pensada para a próxima e não para esta geração.
A ONU (Organização das Nações Unidas) tem cinco idiomas oficiais: inglês, espanhol, russo, chinês e francês; e seus tradutores não dão conta das montanhas de papéis acumuladas sobre suas mesas. Aqueles que, por causa do trabalho, são obrigados a percorrer diversos países, acabam aprendendo vários idiomas. Mas esta circunstância, em geral, implica em um conhecimento muito superficial. Defender-se não é dominar. Por este motivo, é possível escrever até uma enciclopédia com os erros de interpretação cometidos, inclusive na área diplomática.
Na visita que fez a Moscou em maio passado, o ministro de Assuntos Exteriores da Espanha, Fernando Morán, que fala inglês, cometeu uma gafe. Quando um jornalista Ihe perguntou em inglês se havia tratado do problema do dissidente Andrei Sakharov com as autoridades soviéticas, ele respondeu que "o tema do Sahara não foi incluído nas conversações". Outro exemplo: há alguns meses, a imprensa espanhola publicou a notícia "intoxicação alimentícia mata milhares de turcos". Na realidade, as vitimas não eram turcos, mas perus. Eles traduziram a palavra turkeys (em inglês, perus) por turcos (em inglês, turks).Existem aproximadamente três mil línguas no planeta. Cerca de cem são utilizadas por mais de um milhão de pessoas. A metade da população mundial se comunica em chinês, inglês, espanhol, russo, árabe, indu e português. O comércio internacional, o turismo, a política, os descobrimentos científicos obrigaram a intercomunicação entre homens e culturas e áreas lingüísticas distintas. Já é necessária a introdução de uma língua para a humanidade. No entanto, esta idéia, de vantagens indiscutíveis, não é tão fácil de ser colocada em prática.
O inglês, devido ao predomínio político e econômico dos Estados Unidos, se converteu em idioma quase universal. Um em cada quatro habitantes do planeta pode se entender, mais ou menos bem, nesta língua. Mas os chineses (mais de um bilhão de habitantes) e os soviéticos (277 milhões) se negam a acertá-la; e os dois países somam mais do que a quarta parte da população mundial. Esta circunstância levou os filólogos a considerar que somente um idioma novo deixaria de lado conotações políticas e sociais, pois pertenceria a todos e a ninguém ao mesmo tempo. Não deixa de parecer absurda, no entanto, a implantação de uma língua inventada quando existem mais de três mil faladas. Anos atrás, foi apresentada a proposta de eleger o finlandês ou o nayatl (asteca), para evitar ressentimentos e lutas de poder. A sugestão, no entanto, não foi levada em consideração.
As tentativas de fabricar um meio de expressão artificial são antigas. As primeiras aproximações produziram línguas-catálogos, inúteis para a comunicação humana. Um bom exemplo disto é a invenção do escocês Dalgamo, composta de palavras divididas em partes: o n equivaleria a tudo o que se referisse a seres vivos; em combinação com a letra grega eta formaria o conceito de animais; completado com o k, animais de quatro patas.Mas um idioma vivo nunca é tão lógico, tão fechado, tão regulado. Por isso também não triunfou a fantasia de um francês chamado François Sudre, que em 1817 criou o Solresol, método baseado no solfejo: dó significava sim; ré era e; mi se tornou ou etc. A palavra solasi, ou seja, três tons ascendentes, indicaria subida, e assim seria construída uma variedade de frases. Esta linguagem permitiria também o canto, o que entusiasmou muitos dos intelectuais contemporâneos de Sudre; o poeta Victor Hugo e o imperador Napoleão III eram seus fãs incondicionais. O Solresol é hoje uma simples curiosidade da História da Lingüística.
Além dos idiomas artificiais, surgiram outras tentativas a partir da combinação de línguas vivas. No ano de 1879, o monsenhor alemão Johan Martin Schleyer inventou um sistema original, denominado Volapuk, que, em um primeiro momento, parecia uma revolução. Semelhante em sua estrutura ao húngaro e ao turco, alcançou grande êxito no final do século passado. Foram publicadas 316 gramáticas, traduzidas em 25 idiomas; 25 revistas e 283 clubes se dedicaram à promoção da língua.
Esta difusão, no entanto, foi bloqueada pelo próprio Schleyer. Durante um congresso, vários delegados propuseram a introdução de mudanças gramaticais. Schleyer as recusou violentamente, argumentando que aquele era o seu idioma e não havia autorizado ninguém a fazer modificações. Como se pode pretender que um meio de expressão pertença a apenas uma pessoa? Esta situação é ainda mais incongruente quando se trata de um modelo de linguagem universal.
Felizmente, muitas das tentativas de criação de idiomas não foram adiante. Foi o que ocorreu com o Tutônico, mistura de um mau inglês e um mau alemão, nascido no final do século passado e morto no começo deste. Surgiram ainda várias inovações lingüísticas, entre elas uma feita a partir da combinação do grego clássico, latim e chinês. Nos Estados Unidos, apareceu a idéia de promover um inglês básico, composto por 850 palavras; a idéia não prosperou porque seus defensores se esqueceram de que se tratava da língua materna de mais de duzentos milhões de pessoas que teriam um vocabulário mais rico, com expressões incompreensíveis para os praticantes da versão reduzida.
Somente o esperanto, um dos idiomas inventados, chegará a superar os cem anos de vida. Criado pelo oftalmologista polonês Ludwig Leizer Zamenhof em 1887, é formado pela síntese de várias línguas européias. Toda a sua gramática se resume a dezesseis regras, o que garante a aprendizagem no prazo de um ano. Pelas experiências comparativas, o esperanto exige um terço do tempo necessário para aprender um idioma como o francês. Atualmente, é empregado, com diferentes graus de perfeição, por dez milhões de pessoas em todo o planeta. Um grande número de romances e peças de teatro foi escrito originalmente em esperanto, para o qual já foram traduzidas cerca de dez mil obras da literatura universal. Emissoras de rádio de Viena, Varsóvia, Pequim, Berna, Roma, Sofia e Zagreb transmitem programas em esperanto. E o sistema internacional de telegrafia o aceita como meio de comunicação junto com as línguas vivas e o latim.
Apesar de tudo, o esperanto não alcançou seu objetivo e nem está a caminho de fazê-lo. Grande parte dos idiomas vivos podem ser considerados muito mais universais, ainda que tenham uma aprendizagem mais lenta. Alguns filólogos tentaram explicar a aceitação limitada do esperanto com razões de caráter fonético. Diziam que a pronúncia era complicada para pessoas de certas regiões. Por exemplo, os habitantes do Pacifico Sul teriam enorme dificuldade para pronunciar agrupamentos de letras como sp, st, sch; os chineses lutam com o r, os japoneses com o l. Mas em que linguagem isso não acontece? Só quando a fonética é ensinada desde a infância é possível ultrapassar esta barreira.
O verdadeiro motivo está no fato de que os países que possuem o predomínio econômico e político impõem sua língua nas áreas em que exercem influência. Por isso o inglês se converteu no esperanto do mundo ocidental. Apesar do seu uso estar restrito a determinados países, tamanha é a sua difusão que, dentro de uma década, os jovens de todos os países industrializados do Ocidente já poderão comunicar-se sem problemas neste idioma. De fato, nas nações mais desenvolvidas da Europa, as gerações mais jovens, com um nÍvel cultural médio, o praticam como segunda língua.
O que se pretende porém não é uma língua ocidental, mas mundial. E em grandes regiões da Terra não se percebe nenhuma inclinação pelo inglês. Portanto, ainda está pela frente a tarefa de elegê-lo linguagem universal e assumir o compromisso de ensiná-lo como primeiro idioma estrangeiro a todas as crianças do mundo. Segundo os estudos psicológicos e lingüísticos, a idade apropriada para estudar um segundo idioma é em torno dos seis anos.Apesar disso, as crianças do futuro nunca chegarão a ser bilíngües. Entre outros motivos porque o bilingüismo puro não existe. Nos casos em que o pai fala uma língua diferente ou que a família tenha emigrado para outro país, a criança estabelece inconsciente mente uma separação entre as duas línguas: a materna é recebida com mais emoção enquanto que a paterna ou a do novo país Ihe permite pensar de maneira mais madura e intelectualizada. A possibilidade de um conflito lingüístico entre a primeira e a segunda língua entre o idioma vernáculo e o estrangeiro, pode provocar atrasos na aprendizagem, principalmente se o ensino começa cedo. Não é possível esquecer também que a riqueza do pensamento caminha paralelamente à da linguagem.
O ditador soviético Stálin sonhava que, quando a revolução comunista mundial estivesse concluída, todos os homens falariam russo. Ninguém seria pressionado a fazê-lo. Mas ele estava convencido de que o ideal comunista estabeleceria laços tão estreitos na humanidade que os diversos idiomas da Terra resultariam em um único. Deixando de lado os desejos utópicos de Stálin, o certo é que existem alguns exemplos de linguagem universal no campo da cultura e da ciência. Pensemos na música, na matemática, nas fórmulas químicas. Todos os matemáticos e todos os químicos são capazes de entender os resultados dos trabalhos de seus colegas, sejam quais forem os países de origem. Todos os músicos têm condições de escrever, ler e interpretar qualquer partitura. Estamos iniciando uma nova era em que se torna mais necessário do que nunca uma base de entendimento: a era da eletrônica, que somente alcançará a plenitude quando todos os computadores se expressarem com a mesma linguagem.
Uma equipe de especialistas norte-americanos em Semiótica começou a estudar um sistema de sinalização para o futuro. O método de identificação deverá ser compreensível em qualquer linguagem humana. Trata-se de um programa governamental que tem como objetivo fazer com que todos os habitantes do planeta saibam reconhecer resíduos radioativos que a indústria atômica aloja sob a superfície. O responsável pelo projeto é Thomas Sebeok, presidente da Associação Semiótica Internacional, especializada no tema da comunicação animal e humana.
Poder falar com todos os habitantes da Terra. Entender qualquer estrangeiro. O velho sonho da humanidade. Em épocas passadas, a língua cosmopolita foi o latim; com ela se expressavam as pessoas mais cultas, os estadistas, a Igreja. Nos Estados Unidos se dá muita importância ao aprendizado do chinês. O homem conquistou o espaço e ensinou os computadores a falar, mas não superou a história bíblica da torre de Babel.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Corra para não cair - A Gravidade

CORRA PARA NÃO CAIR - A Gravidade



Basta olhar para baixo, de um lugar alto e sem proteção, para ver a razão: o pânico que paralisa a mente e gela o corpo numa hora dessa mostra que você pode não saber direito o que é a gravidade, mas tem perfeita noção de seu significado essencial.

A vertigem é a primeira lição sobre a mais corriqueira e decisiva força do Universo, além de ser, atualmente, um dos dois ou três assuntos mais importantes da ciência: a gravidade.

Sentir vertigem à beira do abismo não é vergonha. O medo é real e, segundo os astrônomos, vai muito além de uma queda até o chão - ele alcança as estrelas, estremece as galáxias e, no final das contas, ameaça engolir o cosmo inteiro. Estamos sempre caindo, porque a gravidade não é exatamente uma força como estamos acostumados a pensar: é um eterno tombo para um único ponto. Para onde, é difícil saber. No caso da Terra, é fácil - tudo cai para o centro exato do planeta. Aliás, a Terra é uma bola justamente por isso: toda a sua massa converge para o centro e se aperta por igual em torno desse ponto, formando uma esfera no espaço.

Mas, quando se pensa no Universo, a resposta não é tão simples. Como todos os corpos celestes se atraem sempre, podem se amontoar em uma única massa descomunal. A atração final se tornaria tão grande que a esfera esmagaria a si mesma e continuaria encolhendo para o resto da eternidade. Ninguém sabe direito aonde isso iria dar.

O que os planetas geralmente fazem para adiar o tombo é fugir da trajetória de queda. Veja, por exemplo, a Lua, que está caindo para o centro da Terra. Ela hoje está a salvo por que gira - ou seja, dribla, sem parar, a atração fatal. Mas só está a salvo assim: se parasse, seria tombo na certa. E por aí vai: a Terra também corre em volta do Sol e o Sol corre em volta do centro da Via Láctea, que por sua vez rodopia num carrossel de galáxias vizinhas no nosso canto do Universo. A correria é o que estabelece o equilíbrio precário do mundo diante da gravidade, que o físico americano Freeman Dyson, um dos maiores divulgadores da ciência da atualidade, já comparou a uma ladeira que é adrenalina pura - você simplesmente não tem onde se segurar.

Descendo do céu para o solo, é a mesma situação. Os bebês descobrem o domínio da gravidade quando aprendem a andar, que é apenas uma outra forma de atrasar a queda universal. Só ficamos de pé enquanto temos músculos e ossos para resistir a ela - sem falar na comida e no ar, que constantemente repõem a força dos ossos e dos músculos. Se o combustível acaba, o corpo vai ao chão. O único jeito de escapar da queda é correr sem parar, no caso dos astros, ou nunca parar de comer, no caso dos seres vivos.

Qual será o fim desse jogo? Depende, diz Dyson. Uma das pesquisas mais importantes dos últimos anos é a que busca decidir se a estabilidade do cosmo persistirá para sempre ou se é provisória - se o Universo vai, afinal, cair em cima de si mesmo algum dia. Essa angústia persiste há décadas, e ainda não está, de maneira alguma, decidida.

A questão pode ser resumida a uma contagem trivial: se houver uma grande quantidade de energia gravitacional, a queda vencerá. Mais cedo ou mais tarde, todas as galáxias vão começar a despencar umas sobre as outras e a partir daí já não haverá meio de parar a concentração. É claro: quanto mais a gravidade se concentra, mais a queda se acentua. As galáxias vão se apertar, cada vez mais, num único volume de densidade altíssima, arrastando junto com ela as estrelas, os planetas e os seres vivos.

É isso o que se chama de buraco negro: um lugar onde a concentração da gravidade ficou tão grande que a queda não pode mais ser interrompida. O mais estranho nesses buracos é que eles são feitos de matéria em queda permanente para o centro deles. Vale a pena entender esse mistério: aqui na Terra, por exemplo, a gravidade é fraca e pode ser contida pelas forças químicas, ou seja, pelas forças elétricas e magnéticas que unem e sustentam átomos e moléculas. É a química que dá resistência às rochas e impede que elas caiam para o centro da Terra. De quebra, servem de apoio para os seres vivos também evitarem a queda. No caso do Sol, a situação é parecida, só que a força que "segura" a gravidade não é a eletricidade, mas a força nuclear - a energia que une os elementos no núcleo dos átomos.

O mistério dos buracos negros acontece quando a gravidade se torna tão intensa que já não pode ser contida por nenhuma outra força. Aí, a queda se torna permanente. Para ter uma idéia, se o peso do Sol fosse apenas 3,2 vezes maior do que é, ele viraria um buraco negro. Toda a sua massa despencaria para dentro de si mesma numa queda sem fim. A estrela desapareceria, deixando no lugar só uma esfera opaca, mais ou menos do tamanho da cidade de São Paulo. Não haveria superfície: seu volume serviria só para demarcar a distância a partir da qual o abismo se torna invencível. Nem a luz, que é a coisa mais rápida que existe, escaparia ao destino misterioso da queda.

Existe a possibilidade de o Universo inteiro se tornar um buraco negro no futuro distante, mas parece improvável. Primeiro, porque o cosmo está em expansão. As galáxias estão, visivelmente, se afastando umas das outras. Então, não estão se amontoando e, pelo menos por enquanto, não há risco de virarem buraco negro. Além disso, somando todo o conjunto das galáxias, parece haver muito pouca energia gravitacional no Universo todo.

A questão não está fechada porque tudo indica que as galáxias não são feitas apenas de objetos que brilham e que, por isso, podemos ver. Elas também incluem a chamada matéria escura - objetos que não podemos ver e não sabemos muito bem o que são. Talvez sejam buracos negros, que não deixam a luz escapar. Mas também podem ser estrelas pequenas, vinte vezes mais leves que o Sol. Com esse peso, não podem esmagar os átomos em seu interior e disparar as reações nucleares que criam a luz e fazem as estrelas reluzirem.

Outra alternativa são partículas atômicas como os neutrinos, incrivelmente leves, mas muito numerosas. Imagine, leitor: a cada segundo passam 60 bilhões de neutrinos em cada centímetro quadrado de sua pele.

Eles são produzidos pelo Sol e nessa conta estão incluídos apenas os que vêm na direção da Terra. Por aí se pode avaliar a vasta enxurrada de neutrinos vazando da superfície solar a cada segundo, em todas as direções. Agora, some todas as estrelas e entenda por que os neutrinos são os objetos mais abundantes do cosmo - excelentes candidatos a componentes da matéria escura.

Mas ainda não dá para ter certeza. Afinal, a matéria escura nunca pôde ser vista, detectada ou testada de qualquer maneira. Só se sabe que ela existe porque as galáxias estão girando mais depressa do que deveriam. Lembre-se: no espaço vazio, correr é única maneira de fugir da queda gravitacional. Se a Terra fosse mais pesada do que é, a Lua teria de correr mais para não cair.

Então, se as galáxias estão rodopiando muito depressa, é porque são muito pesadas, isto é, reúnem muita energia gravitacional. Mas de onde vem essa energia? Se dependesse só do peso das estrelas, as galáxias não precisariam correr tanto quanto estão correndo em torno do seu centro. E mais importante: quando se observam grandes grupos de galáxias, todas rodando em torno umas das outras, vê-se que a disparada é ainda maior do que a rotação das galáxias sozinhas, individualmente.

A matéria escura é pesquisada há quase meio século, e sua quantidade cresce à medida que se aprimoram as buscas. Hoje acredita-se que ela seja quase seis vezes mais abundante que toda a matéria brilhante do Universo. Para cada quilo de matéria visível, existem 5,75 quilos de matéria invisível.

De acordo com o astrofísico Dave Spergel, da Universidade Princeton, nos Estados Unidos, a matéria escura continua a desafiar a ciência. Um grande pesquisador de planetas desgarrados, ele diz que nenhum tipo de matéria conhecida - sejam neutrinos ou buracos negros - passa ileso pelos testes que a ciência usa para identificar a massa fantasma das galáxias. Esses testes são indiretos e trabalhosos.

Já se supôs, por exemplo, que a matéria escura fosse composta de poeira interestelar. Como poeira nem sempre brilha, podia ser uma boa candidata. Mas os astrônomos avaliaram que a quantidade de poeira necessária para aumentar a rotação de uma galáxia na proporção que haviam observado era muito grande. Se a matéria escura fosse mesmo poeira, seu volume ofuscaria as estrelas - e isso não estava acontecendo. A teoria foi descartada.

Segundo Sperger, o mais provável, nesse momento, é que a matéria escura inclua objetos nunca vistos - especialmente certas partículas atômicas previstas apenas em teoria. Não foram, ainda, encontradas no laboratório. Uma dessas partículas é um tipo novo de neutrino bem mais pesado que seu primo comum. É uma possibilidade, mas não ajuda muito, pois não está certo se esse neutrino gordo existe mesmo.

Além disso, restam dois problemas a resolver. O primeiro é que, mesmo juntando toda a matéria escura e toda a matéria visível, ainda assim fica faltando muita energia gravitacional para "desequilibrar" o Universo e, um dia, transformá-lo num buraco negro. Essas duas formas de matéria somadas correspondem a apenas 27% do que seria necessário para que toda a matéria do cosmo começasse a se reunir. Para piorar, descobriu-se, em 1997, uma complicação ainda maior: a expansão cósmica está se acelerando.

Para ver por quê, basta voltar à metáfora da ladeira: a gravidade faz o cosmo parecer um buraco, mas a descoberta da expansão cósmica, em 1929, mostrou que a ladeira que leva ao fundo do buraco estica muito. Ou seja, as galáxias caem, mas, como a distância entre elas cresce, só se amontoarão se despencarem umas sobre as outras mais rápido que o aumento da distância. A grande novidade, em 1997, foi o anúncio de que a distância não está só crescendo: ela aumenta cada vez mais rápido.

Se isso se confirmar, está decidido: o Universo jamais se transformará num buraco negro e, para ser exato, nem é um buraco. É liso como a tampa de uma mesa (se é que dá para imaginar a tampa de uma mesa em três dimensões). A gravidade entorta o espaço, mas a aceleração cósmica compensa a curvatura de maneira automática. Com isso, a "ladeira" está sempre perfeitamente reta.

A tentação agora é dizer que está resolvida uma dúvida que começou com a própria descoberta da gravidade pelo físico inglês Isaac Newton, em 1686. Newton percebeu o futuro dilema: se a gravidade era sempre atrativa, o Universo acabaria amontoado num único ponto. Essa angústia da implosão cósmica hoje está superada, mas, mesmo assim, seria prematuro fazer afirmações categóricas sobre o destino do Universo. A verdade é que ninguém esperava a expansão - e muito menos a aceleração cósmica - e ninguém sabe exatamente qual é a sua causa. A matéria escura, seja lá o que for, continua sem explicação. E nenhum cientista sequer sabe dizer o que acontece dentro de um buraco negro.

Isso sugere que não está clara a queda de braço entre a gravidade, de um lado, e, de outro, as outras grandes forças do Universo: a eletromagnética e a nuclear. Einstein morreu acreditando numa idéia incrível, que continua a mobilizar muitos pesquisadores. Para eles, existe algum tipo de parentesco entre a gravidade e as outras forças do Universo. Elas parecem diferentes entre si, mas talvez isso seja apenas aparência. Os polvos, por exemplo, parecem diferentes das ostras, mas evoluíram da mesma espécie e são bem parecidos. As cascas agora ficam dentro do organismo dos polvos, e não por fora, como nas suas tias-avós. Por isso, ostras e polvos são ambos incluídos na família dos moluscos.

Os físicos aplicam esse mesmo tipo de comparação às forças, tentando mostrar que são apenas "espécies" distintas, ou variantes, de uma mesma força cósmica universal. Às vezes, essa força-mãe aparece de forma avassaladora, trilhões de vezes mais intensa que a gravitacional. É o caso das detonações atômicas, causadas pela força nuclear.

Se as outras forças forem primas da gravidade, deve haver uma fórmula só que calcule todas elas. O problema é que ainda não sabemos o parentesco entre a energia atômica e a gravitacional, então não podemos usar as equações da gravidade para calcular a energia de uma explosão. Ela tem de ser calculada por meio de fórmulas exclusivas. O mesmo vale para a eletricidade, que é cerca de 100 vezes mais intensa que a gravidade e também tem suas próprias fórmulas. Mas, se a idéia do parentesco der certo, ela também poderá ser calculada por uma fórmula geral das forças.

A caça a essa equação definitiva consome atualmente grande parte dos recursos financeiros da ciência e alguns dos cérebros mais badalados das universidades, como o físico inglês Stephen Hawking. Outro grupo importante são os responsáveis pelas chamadas teorias das cordas. Todos esses trabalhos são tentativas de unificar a gravidade, a eletricidade e a energia nuclear.
Talvez, quando terminarmos esse trabalho (se é que isso acontecerá algum dia), a ciência tenha uma explicação mais clara para a matéria escura, a aceleração cósmica e os buracos negros. Até lá, o jeito é agüentar a vertigem de não saber como o Universo irá acabar.