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sábado, 10 de fevereiro de 2024

Textos 'mágicos' revelam segredos de um período de transição no Egito

Textos 'mágicos' revelam segredos de um período de transição no Egito 

Documentos ajudam a entender uma época que abrange o fim do domínio romano, a influência cristã e a conquista árabe.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Relíquia de um dos primeiros papas pode ter sido encontrada no lixo


Relíquia de um dos primeiros papas pode ter sido encontrada no lixo


Uma companhia de limpeza de Londres pode ter encontrado no lixo um objeto religioso de valor inestimável. 

segunda-feira, 6 de março de 2017

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Ler Scans e Quadrinhos Digitais - Um mundo DIGITAL


Ler Scans e Quadrinhos Digitais - Um mundo DIGITAL


A intenção deste artigo não é fazer uma profunda reflexão sobre o valor moral ou ético da leitura de quadrinhos digitais ou scans, primeiramente por que acredito que esta já seja uma etapa superada e pela sua vivência, compreendida amplamente, ainda que possa ser discutida e desenvolvida.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Invenções egípcias que continuamos usando até hoje


Invenções egípcias que continuamos usando até hoje


Você acha que pavimentar ruas é uma prática moderna? Não se engane. Há 5 mil anos, os egípcios já tinham um tipo de asfalto.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A ‘magia’ das canetas esferográficas! Conheça sua história


A ‘magia’ das canetas esferográficas! Conheça sua história


Um vídeo postado pelo canal NRK, no Youtube, mostra um olhar detalhado sobre o uso de canetas esfereográficas e como é seu funcionamento.
Poucas pessoas, na verdade, notam que há uma esfera na ponta da caneta, que pode ser feita de aço, carbeto de tungstênio ou latão, que, ao ser pressionada sobre o papel, gira, aplicando a tinta e evitando o vazamento.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Haja Papel - Tecnologia


HAJA PAPEL - Tecnologia



Com auxílio até de computadores, as modernas indústrias papeleiras fabricam toneladas de folhas por
dia. Há, porem, o desafio de conseguir matéria-prima para a demanda gigantesca.

Separam-se os filamentos de um vegetal qualquer para misturá-los com água até que assim, em suspensão, possam se emaranhar sobre um molde poroso. Depois de prensar e secar a massa, obtém-se uma película fina de celulose. Simples, a receita básica do papel, criada há quase dois milênios. é cada vez mais aplicada. Algumas pessoas chegaram a imaginar que o enorme consumo global desse produto diminuiria com a incorporação, no dia-a-dia, de recursos como a Informática. Mas quem arriscou esse palpite acabou fazendo um papelão, porque, de fato, a última década fechou gastando o dobro de celulose em relação à anterior.
Na realidade, o que se observa são trocas de papéis: os balanços das empresas, por exemplo, vêm dispensando as tradicionais folhas sulfites para serem impressos em metros dos formulários contínuos de computadores: já o papel timbrado das cartas pode ser substituído pelo papel térmico do fax. Engordando a demanda, as campanhas ambientalistas muitas vezes triunfam no sentido de aposentar o plástico das embalagens, cuja vida se aproxima do infinito, promovendo o retorno do reciclável papel cartão. Se insistir nesse ritmo de crescimento, a necessidade de papel no ano 2000 será cinco vezes maior do que a atual, uma projeção que aflige os pesquisadores. Pois, com os indíces vigentes de reposição de árvores, não há fibra no planeta que dê conta de toda essa papelada. Ao menos, por enquanto. Hoje, a madeira representa 95% da matéria-prima fibrosa usada pela indústria papeleira. No entanto, os cientistas começam a examinar com atenção fontes alternativas, como folhas de carnaúba, palmito e, mesmo, bagaço de cana. Além disso, laboratórios americanos e japoneses desenvolvem papéis de fibras sintéticas - feito o náilon -, embora seu preço ainda seja proibitivo.
De certo modo, a história se repete: não é a primeira vez que o homem se vê obrigado a buscar novos suportes à escrita. A pedra, em que os egípcios relatavam episódios importantes há mais de 6 500 anos, foi provavelmente o primeiro deles. três mil anos mais tarde, porém, os babilônicos criaram a tábua de argila-entre eles, a educação era obrigatória, ou seja, quase todo mundo escrevia e não era nem um pouco prático fazê-lo em monolitos. A popularização da escrita, aliás, levou os povos mediterrâneos a desenvolver tabuletas portáteis cobertas de cera, que podiam ser polidas e, desse modo, grafadas repetidas vezes. Já os orientais, em geral, empregavam folhas- daí essa palavra ser sinônimo de páginas-costuradas feito livros. Os antigos gregos e romanos, contudo, preferiam gravar em chapas metálicas, até que os egípcios inventaram o papiro, no início da era cristã, trançando fatias finíssimas de uma planta com o mesmo nome, das margens do rio Nilo.
No século II, o papiro fazia tanto sucesso entre os gregos e os romanos, que os mandatários do Egito decidiram proibir sua exportação, temendo a escassez do produto. Isso disparou a corrida atrás de outros materiais e não tardou que, na cidade de Pérgamo, na Antiga Grécia (hoje, Turquia), se encontrasse o pergaminho. obtido da parte interna da pele do carneiro. Grosso e resistente, ele era ideal para os pontiagudos instrumentos de escrita dos ocidentais, que cavavam sulcos na superfície do suporte, o quais eram, depois, pacientemente preenchidos com tinta. O pergaminho, entretanto, não era liso e macio o suficiente para resolver o problema dos chineses, que praticavam a caligrafia com o delicado pincel de pêlo, inventado por eles ainda no ano 250 a.C.-só lhes restava, assim, a solução nem um pouco econômica de escrever em tecidos como a seda. E tecido, naqueles tempos antigos, podia sair tão   caro quanto uma pedra preciosa.
Provavelmente, o papel já  existia na China desde 0 século Il a.C., como indicam os restos em uma tumba, na província de Shensi. Mas o fato é que somente no ano 1 05 A C. o Oficial da corte. T´sai Lun anunciou ao imperador a sua invenção. Tratava-se, afinal, de um material muito mais barato do que a seda, preparado sobre uma tela de pano esticada por uma armação de bambu. Nessa superfície, vertia-se uma mistura aquosa de fibras maceradas de redes de pescar e cascas de árvores. "No fundo, fazer papel ainda é molhar as fibras, socar e deixar secar", resume a museóloga paulista Lourdes Cedran presidente da Associação Brasileira de Papel Artesanal (Abrapa), que reúne 45 sócios, dispostos a colocar literalmente as mãos na massa, imitando a velha técnica que, aliás, os chineses esconderam por 600 anos 
Aproximadamente no ano 750 d.C., dois artesãos da China foram aprisionados pelos árabes. na antiga cidade de Samarkanda, aos pés das montanhas do Turquestão, hoje território soviético. A liberdade só lhes seria devolvida com uma condição-se eles ensinassem a fabricar o papel, que assim iniciou sua viagem pelo mundo. No século X, foram construídos moinhos papeleiros em Córdoba, na Espanha. "Os demais países da Europa, fervorosamente cristãos, demoraram para aceitar o produto oferecido pelos árabes", nota Lourdes. "Usava-se como desculpa a fragilidade do papel em comparação ao pergaminho."
Para diminuir essa desvantagem, os italianos da cidade de Fabriano começaram a fabricar papéis, por volta de 1268, à base de fibras de algodão e de linho, além de cola-substancia que, ao envolver as fibras, tornava-as mais resistentes às penas metálicas com que escreviam europeus. Quanto ao preço, no entanto, papel e pergaminho empatavam, pois era muito difícil conseguir roupas velhas para extrair a celulose. Quando, na Renascença, o advento da imprensa fez o consumo de papel aumentar terrivelmente, os ingleses chegaram a determinar que as pessoas só poderiam ser enterradas com trajes de lã, a fim de poupar os trapos de algodão, deixados compulsoriamente de herança para os papeleiros.
Já não se faz papel como antigamente, embora os especialistas reconheçam que o algodão oferece as melhores fibras. Economicamente é mais interessante que essa matéria-prima seja encaminhada à indústria têxtil. Mas até hoje o papel-moeda, por exemplo, não dispensa esse nobre ingrediente, que por ter fibras longuíssimas faz um produto difícil de se rasgar e de grande longevidade. O algodão demorou para ser substituído. Somente em 1719, o entomologista René de Réaumur (1683-1757) sugeriu trocá-lo pela madeira. Ele observou vespas construindo ninhos com uma pasta feita a partir da mastigação de minúsculos pedaços de troncos. Sob lentes de aumento, a obra das vespas e a dos artesãos papeleiros eram muito parecidas.
A idéia de Réaumur foi mal recebida, por questão estética: a celulose extraída da madeira dava origem a uma pasta de cor parda. Até o final do século XVIII, escrever em uma folha branca era um verdadeiro luxo-já era difícil conseguir qualquer pedaço de pano e essas folhas, particularmente, só podiam ser obtidas de tecidos igualmente alvos . Em 1744, porém, uma descoberta iria impulsionar a fabricação do papel com a celulose de árvores: o químico sueco Karl Scheele (1742-1786) isolou a molécula do cloro e revelou seus efeitos alvejantes. Ou seja, daí em diante, era possível produzir papel branco com qualquer madeira, que se tornou a protagonista do processo.
"São necessárias poucas horas desde o momento em que a árvore tomba no chão para que se comece a extração da celulose", conta Antonio dos Santos, o Riska, apelido que ganhou no time de futebol da escola primária e pelo qual é conhecido na Ripasa, uma das maiores indústrias de celulose e papel do país. Ali, ele é o gerente de produção, embora nunca tenha entrado na faculdade. "Trabalho há trinta anos no setor papeleiro", orgulha-se ele, capaz de escalar as imensas máquinas da empresa, que as vezes alcançam  10 metros de altura, para explicar cada detalhe de seu mecanismo. Em alguns segundos, equipamentos descascam os troncos de eucalipto, a espécie preferida pelos brasileiros para a extração de celulose. "As cascas são aproveitadas em caldeiras, e se transformam em combustível", diz Riska.
Outro equipamento pica as toras já descascadas com a precisão de um exímio cozinheiro, em cubos de 1,5 a 2 centímetros de espessura, nem mais, nem menos. "Esses pedaços de madeira, os cavacos, devem ser todos o mesmo tamanho para que se consiga celulose de boa qualidade", determina o gerente de produção. Faz sentido: dali, após serem lavados para não sobrar um grão de areia ou da terra, os cavacos passam para gigantescas panelas de pressão, os digestores, onde são cozinhados numa temperatura de 170 graus Célsius. "Se fossem de tamanhos diferentes, alguns cavacos ficariam no ponto antes de outros", explica Riska.  O cozimento costuma demorar somente duas horas, porque esses toquinhos são mergulhados em um caldo leitoso, o licor branco, que combina soda cáustica e sulfeto de sódio, entre outros ingredientes. Essas substâncias são catalisadoras, isto é, aceleram certas reações que, no caso, provocam  a dissolução na água de tudo o que não é celulose, como a lignina - outro componente da madeira, cujas propriedades vêm sendo estudadas, para seu uso industrial como adesivo ou aromatizante.
Outra lavagem com água fresca separa a celulose do restante-agora um caldo escuro, a lixívia negra, que pode ser reciclada para que os componentes formem novamente o licor branco do início do processo, em vez de poluirem rios. "A massa de celulose serve diretamente para se fazer papel pardo ou papelão", conta Riska. Ou é tratada com cloro para se tornar branca."
Na hora de fabricar o papel propriamente dito as laminas de celulose são molhadas em água, dentro de liquidificadores tamanho família. Nessa fase, misturam-se também aditivos, conforme a finalidade. "Acrescentamos sabões à base de resina vegetal, quando queremos um papel que dificilmente se desmanche em água, como o dos coadores descartáveis de café", exemplifica Riska. Indispensável, porém, é a adição do amido, que funciona como um adesivo entre as fibras de celulose.

Olhando-se um papel no microscópio, vê-se que essas fibras nem sempre se dispõem homogeneamente-ora estão mais unidas; ora, mais separadas. "Sem o amido. tapando os buracos dessa superfície, o papel daria sempre a impressão de estar engordurado, com partes mais transparentes e partes mais opacas" descreve Riska. A pasta de celulose é finalmente derramada na máquina de papel, que surgiu ainda em 1799, criada por dois ingleses, os irmãos Fourdrinier. Ela se divide em três seções: formação, prensas e secagem.
"As máquinas modernas produzem 1 200 metros de papel por minuto", informa José Luiz Malerbi gerente de marketing da Voith, empresa alemã que está entre os três maiores fabricantes mundiais de equipamentos para a indústria papeleira. "Essa velocidade é para compensar os dois anos que elas demoram para ficar prontas", brinca. Uma máquina é sempre desenhada de acordo com as características da encomenda. "Com mais de 125 metros de comprimento é 10 metros de altura, só vale a pena montá-la em seu endereço definitivo", conta Malerbi.
Os equipamentos mais recentes, como os que se encontram na fábrica da Ripasa, em Americana, interior de São Paulo, são monitorados por computador. Na tela, o técnico pode ver o desenho do tanque de celulose e conferir se ele está cheio da pasta. Com aparência de coalhada, ela se derrama em jatos na chamada mesa formadora-o que também pode ser visto na telinha -, cujo comprimento é comparável ao de uma piscina olímpica. A massa é jorrada em alta velocidade-para haver o mínino de turbulência, o que provocaria ondulações no papel-, através de inúmeros tubinhos, dispostos na mesma direção em que se pretende deixar as fibras. Isto é, no papel de boa qualidade, esses microscópicos fios de celulose não se espalham ao acaso, mas enfileiram-se longitudinal ou transversalmente.
Ao sair da mesa formadora, a composição da folha é 80% água e 20% sólidos. Parte dessa água será retirada por pesadas prensas de aço, revestidas com feltros de fibras sintéticas. O revestimento, idéia que os alemães tiveram ainda em 1829, ajuda a alisar a folha, aumentando seu brilho. No final da seção de prensagem, apenas seis em cada dez moléculas do papel, que viaja a 60 quilômetros por hora na esteira do equipamento, são de água. Durante o percurso, o líquido é sugado por rolos perfurados e, então, escoados até um tanque sob a máquina.
"Essa água é filtrada para ser novamente aproveitada", conta Eduardo Antonio Mambrim, gerente de meio ambiente da Ripasa. Depois de trabalhar trinta anos na produção de papel, ele se anima com o desafio de arrancar dessa indústria a fama que sempre teve - a de destruir florestas para conseguir matéria-prima, ser poluidora, despejando, por exemplo, o cloro do branqueamento nos rios e, ainda, consumir água indiscriminadamente. Segundo Mambrim, graças a um sistema fechado, que não permite muita perda do líquido cada máquina gasta apenas cerca de 420 000 litros de água por dia o equivalente a cerca de três banheiras comuns cheias.
Na parte final da prensagem, a folha passa por cilindros aquecidos com vapor, até ficar com 4 a 5% de água. "Nesse setor, ela pode receber ainda banhos de substâncias específicas na superfície", explica Mambrim. Por exemplo, o papel que embala seringas descartáveis são revestidos com camadas de bactericidas, servindo assim de barreira, que evita a contaminação do produto embrulhado. Cada máquina moderna fabrica entre 400 a 600 toneladas de papel por dia. No ano passado as indústrias brasileiras, juntas, produziram 1 321 000 toneladas de papel para escrever e imprimir; 246 000 toneladas de papel de imprensa para jornais; 2 269 000 toneladas de papel para embalagem; 404 000 toneladas de papel sanitário; 487 000 toneladas de cartões e cartolinas; 116 000 toneladas de papéis especiais, como os dos passaportes. Contudo, apenas um terço de todo esse papel é reciclado-isso é metade do que reaproveitam países como o Japão, a França e a Alemanha.
Para conseguir fibras para essa montanha de papel novinho em folha, a Aracruz, por exemplo, que lidera o mercado nacional de celulose, derruba 11 900 eucaliptos por dia, aproximadamente. "Para evitar danos à natureza, não basta um simples programa de reflorestamento", adverte Leopold Rodés, ex-diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, que hoje dá consultoria à Klabin, a maior fabricante brasileira de papel. "É preciso plantar aquelas árvores com maior quantidade de madeira e mais resistentes às pragas." Para Rodés, com isso as indústrias poderiam manter a produção de papel, serrando menos eucaliptos. Segundo o engenheiro florestal José Zani Filho, da Ripasa, no Brasil o eucalipto cresce em menos de sete anos, graças a um feliz casamento de clima e solo: "No Hemisfério Norte e o mesmo na Austrália, o período de amadurecimento é de 20 a 25 anos", compara. "Podemos acelerar um pouco mais o crescimento, verificando a influência de cada componente do solo". A paixão de Zani, no entanto, é passar o dia trancafiado na estufa, em Araraquara, interior de São Paulo, onde crescem milhões de mudas de eucaliptos dentro de tubetes, feito provetas. "Escolhemos as melhores sementes sob lentes de aumento", conta. "No ano passado, plantamos 20 milhões de eucaliptos, 2 milhões a mais do que cortamos", comemora.

O nobre bagaço da cana

Fazer papel com a celulose extraida do bagaço de cana-de-açúcar começa a se tornar possível, com resultados semelhantes aos dos processos que utilizam madeiras. Pesquisas realizadas por Priscila Benar, do Instituto de Química da Unicamp, SP, mostram que o rejeito das usinas de açúcar e álcool pode ser aproveitado pelas indústrias de papel, com a vantagem de não prejudicar o ambiente. Graças a esse trabalho, ela ganhou o Prêmio Jovem Cientista de 1990, no último mês de junho.
A extração da celulose foi baseada em um método europeu que, no caso, combina madeira de pinus e solventes orgânicos, como etanol e acetona. Com um processo parecido, Priscila, primeiro, separou os componentes do bagaço, atacando-o com ácido acético, o popular vinagre, e catalisadores capazes de adiantar a obtenção da polpa de celulose. Esses reagentes são reaproveitados, numa escala de 90 a 95%, evitando a poluição ambiental.
Depois, a química de 23 anos desenvolveu um projeto, inspirado na planta piloto de uma fábrica de celulose alemã. "Nela, o espaço físico ocupado é dez vezes menor que o de uma indústria papeleira convencional, mas o rendimento é o mesmo", conta Priscila, entusiasmada. Se comprovada a eficiência do modelo criado por Priscila, o setor se beneficiará com a possibilidade de montar pequenas indústrias, nas vizinhanças das usinas de álcool e açúcar. Bolsista da Fapesp-Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Priscila ainda não produziu papel com a celulose do bagaço: "Será a última etapa do trabalho", explica. "O lixo e a queima em caldeiras, para geração de energia, são finalidades pouco nobres para uma matéria-prima tão rica", afirma a pesquisadora.
Marcelo Afini


Arte do lixo

A garagem da casa antiga, no bairro do Sumaré, em São Paulo, abriga tachos, varais, ferros de passar. É nesse espaço que a artista plástica e museóloga Lourdes Cedran faz pequenos cartões, folhas coloridas, livros, cadernos, telas, cúpulas de luminárias, trabalhos que, hoje, estão expostos na Suíça. "Fazer papel se tornou um vício", diz ela, entre meia dúzia de gatos siameses, que passeiam pelo ateliê. A apixão surgiu em uma viagem ao Japão, quando Lourdes trouxe alguns exemplares de papel artesanal. "Tive pena de usá-los. Eles continuam intactos na gaveta", conta. Desde então, ela estuda técnicas de preparar papel, em que a máquina é substituída por moldes, os cilindros secadores, por ferros de passar roupa. O mais interessante porém, é a matéria-prima usada para esses papéis: cascas de legumes e galhos de árvores podado pela prefeitura. "O melhor desse trabalho é transformar lixo em arte", conta a artesã, que agora prepara um livro e um curso, sob encomenda da Unesco.


A fabricação do dinheiro vivo

Pode ser o pagamento de uma dívida de jogo, de drogas ou mesmo de um resgate. Na cena, comum em filmes policiais, bandido que se preza só aceita dinheiro vivo, feito com o inimitável papel-moeda. Afinal, o bom falsário engana, mas seu trabalho jamais atinje a perfeição, tamanha a tecnologia por trás de uma cédula. Além de usar fibras especiais, como as de algodão, que dão maior durabilidade às notas, esse papel especial apresenta o que se chama itens de segurança.
Basta colocar 50 cruzeiros contra a luz, por exemplo, para ver o desenho sombreado e a linha que corta a cédula verticalmente conhecido como marca-d´água, esse efeito é obtido com uma moldagem no papel, quando a massa não está completamente seca. Além disso, o dinheiro exibe inúmeras fibras coloridas, espalhadas aleatoriamente, impossíveis de ser reproduzidas em um papel depois de pronto. Há apenas treze anos, o Banco Central parou de importar o chamado papel-moeda. O Brasil, no entanto, não tinha tecnologia para fabricar o próprio dinheiro. Por isso, foi aberta uma licitação internacional: a proposta vencedora, então, foi a do Grupo Simão em parceria com o francês Arjomari, prevendo não só o repasse de tecnologia como sua instalação no Brasil.
A fábrica, fruto dessa parceria, fica no miolo do prédio de uma indústria que produz outros tipos de papéis especiais, como os dos vales-refeições. É como se uma fábrica servisse de segundo muro ou barreira para a outra duplicando a segurança", explica Michel Giordani, o neto de franceses que dirige a Arjomari no Brasil. Isso, no entanto, não dispensa circuitos de televisão, guardas e cães treinados, que cercam o edifício em Salto, no interior de São Paulo. 
"Há apenas uma entrada, que também serve de saída. As paredes de cimento são capazes de resistir até a explosão de bomba", contra Michel Giordani.
Até certo ponto, a fabricação do papel-moeda é semelhante à do papel comum. Uma máquina transforma a pasta de celulose em folhas secas, que são cortadas, conforme especificações da casa da moeda. Primeiro, é feita uma contagem manual, por mulheres que verificam nota por nota, observando eventuais deformações ou bordas nas folhas, que comprometeriam a segunda contagem. Esta é realizada por máquinas: o número de folhas deve ser exato - não podem existir notas a mais nem a menos. Finalmente, o papel é transportado por caminhões-baús, enviados pelo próprio cliente, lacrados e escoltados por viaturas de seguranças armados, até o município de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, onde fica a casa da moeda. "Tinta impressão e numeração, por exemplo, são fatores menores na hora de separar o falso do verdadeiro. Só o papel responde por 70% da autenticidade de uma nota", garante giordani. O Brasil exporta esse produto para quase todos os países da América Latina. "Infelizmente, porém, os brasileiros não tratam bem suas notas. Armafanhadas em bolsos e carteiras, elas acabam se deteriorando mais rápido", lamenta Giordani. "Isso não ocorre em países onde a inflação é menor. A duração de uma nota costuma acompanhar a do valor estampado em sua face".  

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O Papel de Cada Um - Comportamento


O PAPEL DE CADA UM - Comportamento



Todos levantam a voz para clamar contra a poluição, mas poucos se levantam para jogar seu lixo no cesto. Como acabar com essa sujeira?

Morador de uma cidade grande, João Brasileiro engole diariamente a fumaça lançada no ar por automóveis e fábricas. Tossindo de raiva, acende o último cigarro e joga o maço pela janela do carro. No domingo de sol, leva os filhos a passear no parque e compra sorvetes para os garotos. Cada um, é claro, vai jogar o copinho ou papel por cima do ombro assim que degustar a iguaria. Quando vai à praia, Brasileiro fica horrorizado com o mar sujo pelos esgotos e esbraveja enquanto toma um refrigerante e come uma espiga de milho, cujos vestígios ficarão repousando na areia quando ele sair de lá. Brasileiro gosta muito de reclamar da poluição e da sujeira - dos outros. Em seu próprio rastro, que ele ignora, acumulam-se quilos de detritos - restos de alimentos, copos, latas, garrafas, papéis e toda sorte de objetos dos mais variados materiais e usos, atirados nas ruas, praias, estradas, parques, casas de espetáculo e por aí afora. O lado mais detestável do lixo espalhado em tudo quanto é lugar público, às vezes pelas mesmas pessoas que debateram contra a poluição industrial, é justamente aquele que agride os olhos. Desde que a sociedade ocidental começou a se preocupar com higiene e limpeza pública, no contexto da modernização trazida pela Revolução Industrial do século XVIII, lixo e sujeira se tornaram objeto de repugnância. Aos poucos, a noção de asseio passou a fazer parte dos valores cultivados pelos europeus - pelo menos das classes sociais cujas condições de vida lhes permitiam preocupar-se com isso.
Limpeza, dentro de casa e fora dela, foi sendo associada a boa educação, prova, por sua vez, de boa posição na sociedade. O homem ocidental, em suma, aprendeu a torcer o nariz à sujeira à medida que o desenvolvimento das cidades deu origem ao modo de vida urbano, entendendo-se por isso, entre tantas outras coisas, a prática de tratar o próximo com respeito (urbanidade) e não emporcalhar o que é de todos - o espaço público. "Qualquer lixo nas ruas provoca um efeito multiplicador de desleixo. Se o lugar está limpo, a pessoa sente constrangimento em ser a primeira a sujar", observa Arlindo Phillipi Jr., da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Ainda que fosse apenas uma questão estética, a sujeira a nossos pés já seria suficiente para provocar desagrado. Ocorre, porém, que o lixo esparramado é também um problema de saúde. Todo lixo pode ser dividido basicamente em material orgânico e inorgânico. Orgânico é todo dejeto biodegradável, como restos de comida - cascas de frutas, por exemplo -, que serão decompostos pela ação de microorganismos, o que se chama apodrecimento. Largado na rua, esse lixo apodrecido servirá de alimento a ratos, baratas e moscas, transmissores de doenças. Naturalmente, quanto maior o volume de detritos orgânicos, com mais facilidade poderão crescer e multiplicar-se. 
A parte inorgânica do lixo é composta de dejetos que não apodrecem, como papel, plástico, borracha, metais e vidro. Tais restos também contribuem para a proliferação de formas daninhas de vida, para as quais servem de ninho. Além disso, podem causar estragos quando não são varridos das ruas. Com a chuva, plásticos e papéis navegam na enxurradas até as bocas-de-lobo e galerias pluviais, que, se não forem limpas periodicamente, entopem, provocando as inundações tão conhecidas dos habitantes das cidades brasileiras. O mesmo acontece em lugares onde há córregos não canalizados, que representam verdadeiros depósitos de lixo em potencial para os moradores dos barracos instalados nas sua margens, onde muitas vezes nem chegam os serviços de limpeza pública.
Longe do asfalto, os transtornos causados pela sujeira não são menores. Uma praia transformada em monturo por hordas de turistas até que é capaz de absorver boa parte dos dejetos, mas devolve o excesso na mesma moeda. Ou seja, restos de alimentos aqui e ali podem sofrer decomposição de modo a ser absorvidos pela areia, mas nas praias mais movimentadas os banhistas sempre conseguem sujar muito mais rápido do que o solo consegue absorver. Como nas cidades, a conseqüência do lixão à beira-mar é a proliferação de moscas e, o que é próprio das praias, o aparecimento de uma profusão de doenças de pele. Quando os detritos são latas e vidros, os riscos de acidentes para pés descalços são óbvios.
Restos de papel também acabam sendo absorvidos em alguns anos, mas quem espalha embalagens plásticas deve saber que está deixando rastro para os arqueólogos do futuro. De fato, plásticos e borrachas simplesmente não são decompostos pela  natureza, permanecendo indefinidamente onde foram deixados se ninguém os retirar. "A poluição da praia pelo lixo é pequena em relação à poluição industrial, mas atinge diretamente os indivíduos", compara João Meirelles Filho, vice-presidente da Fundação S.O.S. Mata Atlântica, que batalha pela preservação da natureza no litoral do país. O lixo que se jogou ontem é o foco de contaminação de amanhã.
Os esgotos lançados ao mar podem causar hepatite e gastroenterite, por bactérias. Já o lixo em decomposição na areia, deixado pelo próprio turista em animadas férias, pode provocar micoses por ação dos fungos nos objetos orgânicos. Conclusões apressadas e socialmente míopes levam a supor que o acúmulo de detritos nas areias é coisa de farofeiros - os turistas dominicais que chegam em caravanas de ônibus para ruidosos piqueniques à beira-mar. "O lixo deixado nas praias freqüentadas pela classe alta é muito maior", assegura João Meirelles, da S.O.S. Nas praias do Guarujá, as preferidas da burguesia paulistana, por exemplo, são recolhidas 180 toneladas de lixo por mês. Nos meses de temporada, quando a população local duplica, a quantidade de lixo é quase quatro vezes maior.
Quanto mais gente, mais - ou muito mais - lixo pelo caminho. Em São Paulo, são coletadas diariamente 12 mil toneladas de lixo, volume que a coloca em quarto lugar no ranking mundial das cidades produtoras de dejetos, depois da Cidade do México, Nova York e Tóquio. Desse total, porém, mais de um quarto, ou 3600 toneladas, vêm exclusivamente da varreção das ruas. É o produto acabado, literalmente, do comportamento anti-social.
Dói no bolso, é feio, faz mal à saúde - e descreve à sua maneira o lado menos envaidecedor da convivência dos brasileiros com seu país. É uma paisagem que começa a ser desenhada a partir da idéia de que o Brasil é um paraíso inesgotável. Aqui, onde o mar é mais azul, o sol mais amarelo e os periquitos mais verdes, em se plantando tudo dá - e em se sujando tudo some. 
"Como o país é muito grande, temos a falsa noção de que, se um lugar ficar sujo, podemos partir para outro", avalia a socióloga Laura Tetti, diretora da Companhia Estadual de Tecnologia e Saneamento Básico ( Cetesb), em São Paulo. Mais grave do que isso, é outra suposição implícita na conduta das pessoas. "O brasileiro pensa que o espaço público é, não o espaço de todos, mas o espaço de ninguém", resume Laura.
Ser um cidadão respeitador de sinais de trânsito ou das regras básicas de limpeza nunca esteve exatamente na moda, assim como o próprio substantivo. "No Brasil, ´cidadão´ é uma das formas que o policial usa para chamar o infrator", ironiza a engenheira ambiental Wanda Maria Risso, da Faculdade de Saúde Pública da USP. De fato, o brasileiro, como não encara a rua como um bem que também lhe pertence e não respeita o próprio como a si mesmo, suja o que é de todos sem cerimônia. O engenheiro Celso Giosa, diretor de operações do Metrô de São Paulo, vai além da educação. "O brasileiro tem um comportamento condizente com a sociedade em que vive", diz. Sua afirmação está respaldada na experiência de comandar uma ilha de limpeza dentro da metrópole.
Não raro, porém, até o bem-educado cidadão, consciente de que ele mesmo acaba se prejudicando ao pontilhar de detritos a sua passagem cotidiana pela cidade onde vive, consegue exercer seu respeito por ela. Caminhando por ruas onde é tão difícil achar uma lixeira como um bilhete premiado, enfrenta uma situação que beira o ridículo quando quer se desfazer civilizadamente de algo. "O sujeito chega a se sentir um idiota por ser o único a perambular com um papel de sorvete na mão procurando um cesto, enquanto todo mundo joga mil coisas no chão", comenta Paulo Ganc, diretor do Departamento de Limpeza Urbana de São Paulo. 
A prova, novamente, está nos números. Das 17300 lixeiras encomendadas para a capital, apenas umas 3500 estão instaladas. As empresas que colocariam as lixeiras, em troca da venda de espaço publicitário nas caixas, desistem no meio do caminho, pela boa e simples razão de que o nível de depredação chega a 100 por cento - um desastre muito pior, portanto, do que acomete os orelhões. No entanto, jogar toda a culpa nos ombros da população é fechar os olhos ao outro lado do problema - a origem da falta de educação que faz o brasileiro comportar-se como se comporta.
Tadayuki Yoshimura, diretor de operações da Vega Sopave, empresa de limpeza pública que atua em dez cidades brasileiras, lembra o exemplo de Tóquio. Escolhida para sediar os jogos olímpicos de 1964, a capital do Japão, na época tão suja quanto qualquer grande cidade brasileira, foi bombardeada por uma campanha de limpeza sem precedentes. Lixeiras foram espalhadas pelas calçadas e a população tornou-se alvo de uma maciça doutrinação para jogar o lixo ali dentro, e não no chão. Afinal, o que diriam do país os milhares de turistas esperados para o evento? Ao final de quatro anos, às vésperas da abertura da Olimpíada, Tóquio era um modelo de limpeza para estrangeiro nenhum pôr defeito - e continua desse modo até hoje. "Não adianta dizer que o brasileiro é mal-educado se ninguém começar a fazer algo para mudar", nota, sensatamente, Tadayuki Yoshimura.
Diga-se, a bem da verdade, que o brasileiro não está nem um pouco sozinho no planeta em matéria de maus hábitos no capítulo de limpeza. Há poucos meses, a Comissão Real de Belas-Artes da Inglaterra concluiu, num estudo que Londres - quem diria? - se tornou "suja, degradante e deprimente". A comissão atribuiu o acúmulo de sujeira nas ruas e nos intermináveis corredores das estações do metrô à falta de disciplina pessoal do grosso de seus 6,8 milhões de habitantes, que espalham lixo em qualquer lugar. Já em Paris, onde parece haver tantos cachorros quanto crianças, o maior problema são as calçadas pontilhadas de excrementos em tamanha quantidade que os limpadores a bordo de motocicletas não conseguem dar conta da limpeza.
Um passeio pela outrora imaculada avenida Champs Elysées sugere que em matéria de descaso pelo que fazem seus animais de estimação, muitos parisienses superam até certos donos de cachorros de Copacabana ou Ipanema. Em compensação, os motoristas alemães, por exemplo, têm o que ensinar aos brasileiros. Seus carros já vêm equipados com uma armação para um saquinho de plástico junto ao console, onde os passageiros depositarão o lixo pessoal. Mesmo porque o gesto displicente de jogar um papel de bala pela janela pode custar caro, sob a forma de multas não menos pesadas do que o castigo por furar um sinal vermelho. Em certos estados americanos, como a Califórnia, placas ao longo das estradas informam aos motorista que jogar lixo pela janela pode valer uma multa de mil dólares.
Para tirar a sujeira de cada um do caminho de todos, o bom senso diz que a preparação dos espíritos deve começar nas escolas de primeiro grau. É um investimento a longo prazo, mas indispensável se deseja ter uma população adulta capaz de se interessar pelo ambiente não apenas da boca para fora. Enquanto essas crianças não crescem, os grandes também podem ser reeducados por campanha. Essa é a estratégia adotada pela Fundação S.O.S Mata Atlântica, que recentemente divulgou em jornais e revistas do país um anúncio com o título: "Qual o animal que deixou essas pegadas?" São latas, maços de cigarros e pacotes de biscoitos largados por gatões e gatinhas nas praias e nas matas. A publicitária Helga Miethke, da agência DPZ, que criou o anúncio, escolheu o caminho do bom humor ao comparar a um animal o despreocupado que sinaliza com lixo os lugares por onde passa. "É melhor ser bem-humorado do que agressivo ou paternalista", diz Helga.
No Rio de Janeiro, a prefeitura também foi à luta no último verão com uma campanha para que o carioca não despejasse os restos de seu piquenique na areia. Foram espalhadas lixeiras nas praias a cada 70 metros - pois ninguém se disporia a colocar o lixo nas lixeiras dos calçadões. Em São Paulo, a Cetesb, com o apoio da Rede Globo e da Tang, investiu numa campanha no litoral, cobrindo 24 praias e alcançando cerca de 2,5 milhões de pessoas. Uma equipe de quatrocentos monitores distribuía sacos plásticos aos freqüentadores, tentando convencê-los com uma conversa simpática a jogar ali o lixo.
Em Curitiba, por fim, o prefeito Jayme Lerner teve uma idéia original para tornar a cidade mais limpa: trocar lixo por vale-transporte onde os caminhões da limpeza não chegam: 10 quilos recolhidos pelos moradores valem 17 centavos. Enquanto faz uma campanha de impacto imediato nos meios de comunicação, a S.O.S. Mata Atlântica também  aposta no futuro, com o Programa de Educação Ambiental dirigido a escolas. A engenheira florestal Marina Ugo Santo, coordenadora do programa, não deixa por menos: para ela, dispor do lixo não é um favor, mas um dever. "O problema do lixo é de quem o produz", define Marina. "Se você está numa praia e sabe que lá não tem lixeira, paciência: guarde o lixo para jogar mais tarde no lugar certo." Em matéria de lixo, portanto, o papel de cada um é sua própria responsabilidade. 

A BRIGA DOS GRAFITES.

Não é apenas no chão que o espaço comum é invadido. Como se não bastassem as pichações, muros e paredes têm sido há algum tempo usados como canal de manifestação daquilo que para seus autores é arte rebelde, mas para muita gente não passa de garatujas de mau gosto - os grafites. A controvérsia corre solta. "Pichação é lixo, grafite de boa qualidade é arte", defende a crítica de arte Angélica de Moraes. O artista plástico e grafiteiro Hudinilson Jr. sustenta que o grafite tem até a função de preservar muros e paredes encobrindo a poluição de cartazes, fuligem e pichações. "É uma maneira de levar para a rua a idéia de arte", argumenta Hudinilson. Com desenhos e personagens que tanto podem  significar um comentário irônico à vida da cidade como alusões a histórias em quadrinhos, os grafites, geralmente bem-humorados, não agridem tanto quanto as pichações, mas para alguns carregam uma cor autoritária. Afinal, depois que foi pintado, quem passa pelo local é obrigado a vê-lo, goste ou não - como também ocorre com os outdoors de publicidade. É por esse motivo que o crítico João Cândido Galvão, curador da Bienal de São Paulo, julga severamente o grafite: "É uma arte fascista".

UM EXEMPLO SOB O SOLO

Ao longo das 37 estações do metrô paulistano, é difícil ver um papel sobrando. Se alguém jogar algo no chão, logo surgirá um funcionário encarregado de apanhar o lixo fora do lugar. Não há pichações nas paredes e os bancos raramente aparecem quebrados ou riscados. Com 2 milhões de usuários por dia, o metrô completa quase quinze anos como um lugar público excepcionalmente limpo - uma raridade mundial em termos de transporte subterrâneo. Como se explica isso? Desde que o metrô foi inaugurado, sabíamos que o essencial seria ter o usuário do nosso lado", conta Celso Giosa, diretor de operações.
Para tanto, a companhia precisou mostrar serviço: todos os dias são retiradas das estações, plataformas, terminais e trens 3,7 toneladas de lixo. Limpezas completas são feitas por todas as dependências do metrô em busca do menor resquício de sujeira. À noite, o lixo é retirado das plataformas por uma composição que circula sem passageiros. Tantos empenho custa à empresa cerca de 670 mil cruzados novos por mês - e nenhum centavo em reparos de estragos provocados por sujeira, porque não há o que reparar. O ambiente limpo constrange o passageiro que, de outro modo, se sentiria tentado a jogar lixo no chão. Não é incomum pessoas saírem do trem numa estação, apenas para colocar o lixo no cesto - e voltar ao carro.