Mostrando postagens com marcador plantação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador plantação. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Cientistas conseguem cultivar plantas em solo lunar pela primeira vez

Cientistas conseguem cultivar plantas em solo lunar pela primeira vez

Se a técnica se provar eficiente, poderá abrir caminho para desenvolver a agricultura na Lua, o que seria crucial para missões a longo prazo.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Projeto de reflorestamento de 8 mil km na África deve criar maior estrutura viva do mundo

Projeto de reflorestamento de 8 mil km na África deve criar maior estrutura viva do mundo


Os impactos causados pelas mudanças climáticas afetam todos os continentes. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Desmatamento para plantio de café causou seca no Rio de Janeiro

Desmatamento para plantio de café causou seca no Rio de Janeiro


A ocorrência de desmatamentos é algo constante na história do Brasil. No século XIX, por exemplo, a prática de derrubar florestas para abrir terrenos destinados à plantação foi extremamente prejudicial para o Rio de Janeiro. 

terça-feira, 25 de junho de 2019

Explosão de bomba da Segunda Guerra deixa cratera em campo na Alemanha

Explosão de bomba da Segunda Guerra deixa cratera em campo na Alemanha


Moradores da cidade alemã de Limburg foram surpreendidos por um grande estrondo, que aconteceu no meio da noite, em um campo usado para plantação. 

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Drones são usados para reflorestamento e cada um pode plantar 1 bilhão de árvores por ano


Drones são usados para reflorestamento e cada um pode plantar 1 bilhão de árvores por ano


Todos sabemos da importância dos drones nos dias atuais, eles servem para despoluir os portos, salvam vidas na Ruanda, além de servir para segurança e tantas outras coisas. E agora, eles também podem frear o desmatamento e recuperar tudo o que foi destruído por ele.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Metanol o veneno sob nova suspeita - Saúde Pública


METANOL O VENENO SOB NOVA SUSPEITA - Saúde Pública


Num achado surpreendente, uma geneticista da Universidade de São Paulo mostra que o combustível alternativo, usado desde 1990 nos veículos a álcool, pode estar causando mutações genéticas. 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Seca - Clima


SECA - Clima


Correntes de ar que cruzam o Oceano Pacífico e a temperatura das águas no Atlântico norte, influenciadas pelas geleiras 
do Pólo Norte, determinam o ciclo das chuvas e secas no Nordeste do Brasil

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O milho e seus avós - Genética


O MILHO E SEUS AVÓS - Genética


Um cientista refaz as formidáveis mudanças por que passou este cereal desde que nasceu, há cerca de 7 000 anos, nas montanhas do México e da Guatemala.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A dura vida das Formigas - Natureza


A DURA VIDA DAS FORMIGAS - Natureza



Elas destroem lavouras, mas também revolvem a terra e defendem sua fertilidade.
Com uma refinada organização social, não cessam de maravilhar os pesquisadores.

"Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil", dizia na década de 40 uma campanha do Ministério da Agricultura. Desnecessário dizer que não aconteceu nem uma coisa nem outra, mas o ultimato, proferido originalmente em 1822 pelo naturalista francês August Saint-Hilaire (1779-1853) dá idéia da guerra sem quartel entre duas formas de vida muito bem organizadas: os homens e as formigas. Algumas vezes a preocupação das pessoas com os danos provocados pelas saúvas - rachaduras e buracos em leitos de estradas e em barragens, além de intensa retalhação das lavouras - desemboca em filmes com a pretensão de horrorizar, como Formigas gigantes, de 1977, em que insetos radioativos se transformam em monstros enormes. Mas, felizmente, a inquietação com os estragos provocados por tais formigas também serviu de estímulo a estudos cuidadosos sobre as saúvas e sua eficiente organização social. 
De fato, entre todos os insetos, as formigas são os mais evoluídos, dotadas de extraordinária capacidade de adaptação a qualquer ambiente, com estratégias de sobrevivência baseadas numa divisão de trabalho que deixaria embasbacado um administrador de empresas. Não é à toa que as formigas tenham sobrevivido, com poucas mudanças, a mais de 100 milhões de anos de vida como espécies. Os fósseis mais antigos, encontrados em âmbar, uma resina vegetal, no Mar Báltico no norte da Europa, provam que a sua atividade agrícola começou muito antes de o homem aparecer sobre a face do planeta. Entre as mais de 1 000 espécies existentes no Brasil, as saúvas, especificamente, podem ser encontradas em toda parte, supondo-se que existam algo como 3 bilhões de indivíduos (ou 23 para cada habitante) distribuídos em 300 milhões de colônias.
Elas atraíram a atenção do paulista Mário Autuori (1907-1982), que dedicou mais de cinqüenta anos de vida a pesquisá-las. Autodidata, Autuori foi o criador de um tipo de viveiro de formigas utilizado até hoje no mundo inteiro para se observar seu trabalho subterrâneo. Diretor do Zoológico de São Paulo durante 28 anos, ele se tornou conhecido do grande público em 1976, quando participou de um programa de auditório na Rede Globo, respondendo a questões sobre formigas. Junto com as abelhas e as vespas, as formigas formam a grande ordem Hymenoptera (do grego hymen, membrana, e pteron, asa) com mais de 8 000 espécies, entre elas as onze do gênero Atta - as saúvas propriamente ditas. Estas podem ser identificadas por apresentar três pares de espinhos sobre o tórax; algumas ainda possuem um cheiro semelhante ao do limão, facilmente reconhecido por quem quer que as esmague.
O que a maioria das pessoas conhece da vida das saúvas é o que podem observar nas trilhas superpovoadas de trabalhadoras carregando folhas para o interior do ninho. Pode-se ouvir o ruído do trabalho das possantes mandíbulas das operárias cortadeiras, que chegam a medir 7 milímetros, derrubando grandes pedaços de folhas no solo. Na verdade, elas constituem os principais herbívoros dos trópicos americanos, consumindo mais vegetação do que mamíferos, lagartos ou besouros. As saúvas podem cortar entre 12% e 17% das folhas e flores produzidas nas florestas tropicais, assim como 2 milhões de toneladas de cana por safra e grande quantidade de gramíneas em terrenos abertos - dez formigueiros consomem por dia 210 quilos de capim.
As cortadeiras, vulneráveis ao ataque de um tipo de mosca que se especializou em pôr ovos sobre seu abdômen, são obrigadas a pedir ajuda a operárias menores, que viajam de carona nas suas costas, afugentando o inseto ao agitar no ar o último par de patas. Enquanto algumas cortam, outras operárias carregam o que cai ao chão, erguendo pesos várias vezes superiores ao de seu próprio corpo. No caminho de casa, as transportadoras formam uma trilha de secreção de certos perfumes, guardada por colegas maiores, que chegam a atingir 17 milímetros. São as trilhas de feromônios, que indicam por meio de um código de cheiro a quantidade de alimento presente, a distância e o número de operárias que devem se dirigir para lá. Os odores que caracterizam o sauveiro servem, ainda, de identidade química aos guardas das várias entradas do ninho - os olheiros. Verdadeiros leões-de-chácara, eles não hesitam em matar uma saúva de outro formigueiro, portanto com cheiro diferente, que se aventure por uma das trilhas rumo ao interior do ninho. Formando um exército que pode chegar a 1 000 indivíduos num único formigueiro os guardas agem também como os burocratas da casa, controlando a entrada de material vegetal e o trabalho das operárias na formação de pontos de ventilação e na retirada de grãos de terra do interior.
Grandes sauveiros podem ser facilmente identificados pelos montes de terra que acumulam na superfície, chegando a 7 metros de diâmetro e cerca de 1 metro de altura. Endurecidos como um verdadeiro telhado de barro, esses montes atraem de longe a atenção de tatus e tamanduás, cujo prato predileto - e invariável o ano inteiro - são precisamente as formigas. Outros bichos preferem esperar a época da primavera, quando as formigas aladas encarregadas da reprodução (conhecidas como içás ou tanajuras, no caso das fêmeas, e bitus, os machos) começam a revoada de acasalamento.
Pardais, bem-te-vis, lagartos, sapos, alguns besouros e também o homem incluem esses suculentos insetos em suas dietas. "Os índios tupis já preparavam há centenas de anos as ycobas (içás), palavra que significa gordura, devido ao abdômen cheio de ovos", informa o zoólogo Nélson Papavero, no livro Insetos no folclore. "Eram torradas como amendoim, moqueadas e servidas com molho de tucupi bem apimentado ou então assadas em paçoca com farinha de mandioca", descreve Papavero. Ainda segundo ele, alguns grupos indígenas usam também as gigantes saúvas-soldados como grampos para ligar as bordas de cortes na pele. A aplicação é simples: colocam as formigas para morder a ferida e arrancam seus corpos, ficando a cabeça presa ao ferimento para auxiliar a cicatrização.
Justamente para evitar os predadores, as saúvas preferem fazer o corte de folhas à noite. Mas também é possível vê-las trabalhar durante o dia, caso pressintam, por mecanismos ainda desconhecidos, a chegada de chuvas no entardecer. Durante as tempestades, as incansáveis formigas finalmente param de trabalhar para se proteger no interior dos ninhos que, embora feitos de terra, não ficam completamente inundados. As câmaras internas ou panelas, como se denominam os grandes salões no interior do sauveiro, são dispostos lateralmente aos túneis de forma a evitar que sejam destruídos pelas grandes chuvas. Como nos diversos ambientes de uma residência humana, em cada panela pratica-se um tipo de atividade diferente.
No que se poderia chamar de cozinha ou horta comunitária cultiva-se um fungo para a alimentação de toda a colônia; nos quartos funciona um tipo de berçário para os ovos das saúvas, também criados em meio ao fungo, e em outras dependências funcionam o lixão e o cemitério. O fungo que serve de alimento às formigas, o Pholiota gonglyophora, por sinal, só pode ser encontrado em panelas. Ali, operárias jardineiras, medindo de 2 a 3 milímetros, picam em partes cada vez menores os pedaços de folhas que chegam, as quais são implantadas nas esponjas de fungos, que as utilizam como alimento.
Além disso, as jardineiras retiram constantemente pedaços mortos do fungo, assim como folhas secas, e mantêm as condições climáticas ideais para o desenvolvimento do fungo - 22ºC e umidade de 80%. Longe desses cuidados, o Pholiota  raramente sobrevive mas em compensação, sem sua capacidade de digerir a celulose e outras substâncias tóxicas dos vegetais, as formigas tampouco sobreviveriam. Somente as crias não são alimentadas pelos chamados corpos de frutificação que se originam das massas esponjosas de fungos. Os ovos e larvas do sauveiro são depositados também nessas massas, mas recebem ovos de alimentação postos pela rainha, que se compõem de substâncias nutritivas especiais.
Colocando centenas de ovos por dia durante os vinte anos de vida útil, a rainha, que pode chegar a 2,5 centímetros de comprimento, tem ainda a função de produzir o feromônio característico do sauveiro, o perfume que mantém a família unida. Dentro desse formigueiro, os insetos que se desenvolverem na seqüência de ovo para larva, ninfa e adulto terão assim o mesmo cheiro, mesmo que não sejam formigas. É o caso de uma espécie de besouro que deposita os ovos nas panelas de lixo dos sauveiros, onde são jogados os ovos que não se desenvolvem, as folhas secas, os pedaços de fungo e as operárias mortas. As larvas do besouro, que incorporaram o cheiro do lixo, se alimentam durante o crescimento desses restos ricos em nutrientes, sem serem incomodadas pelas formigas.
Não só outros insetos se beneficiam desse lixo, mas os próprios vegetais ganham um adubo natural para a terra próxima ao sauveiro. As saúvas, portanto exercem um importante papel ecológico juntamente com os fungos, acelerando a reciclagem dos nutrientes das plantas, que tornam ao solo para serem novamente aproveitados. Em certo sentido, isso significa que as formigas não são criaturas tão insignificantes quanto se possa pensar. Afinal, o que conta não é o indivíduo e sim a colônia inteira, uma sociedade organizada e integrada nos ciclos de vida da natureza. Para os entomologistas modernos, ao contrário do que temia o zeloso Saint-Hilaire, acabar com a saúva pode ser o mesmo que acabar com o Brasil. 

Um mundo de formigas

Se todos os animais terrestres fossem colocados numa balança, 1/10 do peso - cerca de 900 000 toneladas - seria representado por formigas, um inseto com menos de um milionésimo da massa de um ser humano. Isso significa que a população de formigas é maior que a de todas as aves, répteis e anfíbios juntos, sendo estimada em torno de 10 quintilhões de indivíduos (o número 1 seguido de dezenove zeros). "Mas não é pelo peso ou pelo número que as formigas devem ser distinguidas", lembra o entomologista americano Edgard Wilson, da Universidade Harvard. "O desaparecimento desses insetos poderia levar à extinção milhares de espécies, desestabilizando a maioria dos ecossistemas." Junto com seu colega Bert Hölldobler, Wilson publicou recentemente nos Estados Unidos o alentado livro Ants (Formigas), logo aclamado como um clássico, em que analisa o comportamento de seus bichinhos preferidos e aponta várias peculiaridades de sua organização social. 
Com exceção dos pólos gelados, ele encontrou formigas de 1 milímetro a 2,5 centímetros em toda parte, incluindo os áridos desertos. Juntamente com os cupins, cerca de 8 800 espécies já descritas (das 20 000 que se suspeita existirem), agrupadas em 297 gêneros, cavoucam o solo, enriquecendo-o por drenagem e aeração. Além disso, são grandes disseminadoras de sementes de plantas e ainda faxineiras que comem até 90% dos cadáveres de pequenos animais. Todos esses trabalhos são levados muito a sério. Para começar, nada de sexo - atividade exclusiva das rainhas. As trabalhadoras devem se limitar a fazer a parte que lhes toca para conservar o lar comunitário e garantir a propagação dos genes de sua parenta privilegiada. Assim, para realizar suas funções com plena eficiência, cada uma se especializa ao máximo, mudando a própria anatomia. Os soldados são fêmeas que trocaram os órgãos reprodutores por um abdômen cheio de armas biológicas. O gênero asiático Camponotus, por exemplo, é uma verdadeira bomba, que rompe o próprio corpo para lançar veneno sobre os adversários.
As lava-pés, como são conhecidas as Solenopsis invicta nativas do sul do Brasil, tem um veneno forte que causa sensação de queimadura. Elas associam-se em colônias protegidas por um contingente de até 100 000 soldados. Longe de casa, são capazes de unir-se rapidamente para o combate por meio de ordens químicas. As formigas, por sinal, dominam uma linguagem química complexa. Uma colônia comum pode farejar no ar 1 trilionésimo de grama de uma dúzia de sinais de cheiros diferentes, de acordo com os feromônios secretados no solo por várias glândulas. É desse modo que uma operária indica a outra companheira o caminho até um inseto morto. Mas o talento das formigas como químicas tem seu melhor exemplo na Oecophylla, a formiga-tecelã que vive em árvores. Presentes em abundância nas florestas da África e no sudoeste da Ásia, elas se utilizam da seda produzida pelas larvas para ligar folhas e galhos, formando grandes e seguros pavilhões aéreos, que funcionam como as teias das aranhas.
De volta ao chão, o entomologista Wilson encontrou supercolônias com formigueiros de até 6 metros de profundidade espalhados em áreas de quase 3 quilômetros quadrados. Ali, ele calculou, vivem durante mais de dez anos cerca de 1 milhão de operárias, muitas vezes procedentes de diferentes colônias de várias espécies, escravizadas pela colônia original. As maiores escravagistas são as formigas amazonas, mestras em atacar outras colegas; tão dependentes de suas escravas, nem sequer sabem conseguir comida.

Que bicho é esse?

A formiga de ponta a ponta.

1. Cabeça - abriga o cérebro e os órgãos dos sentidos    
2. Ocelos - órgão estimulador da visão, percebe luz e formas
3. Olhos compostos - responsáveis pela visão de cores e formas 
4. Antenas - responsáveis pelo olfato
5. Mandíbulas - funcionam como as mãos humanas, cortando, mordendo e furando
6. Tórax - ponto de articulação das patas (usadas para locomoção e percepção de sons), compreende o sistema digestivo, composto de intestino, estômago social (que ocupa quase 4/5 do tórax e é o reservatório vivo de alimento para algumas espécies) e mais dois estômagos parecidos com os dos ruminantes
7. Abdômen - local das glândulas de cheiro, respiração traqueal, coração, intestino, células filtradoras de substâncias tóxicas, órgãos reprodutores (na rainha) e ferrão (em algumas espécies) 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Ardente Prazer - Cebola e Alho


ARDENTE PRAZER - Cebola e Alho



O alho e a cebola estão entre os primeiros vegetais que o homem aprendeu a cultivar. Valeu a pena - apesar do cheiro e do choro.

Diz uma antiqüíssima lenda turca que, ao ser expulso por Deus do Paraíso, Satanás ao menos conseguiu cair sobre a Terra com equilíbrio e galhardia. Onde o Demônio colocou o seu pé esquerdo nasceu o alho. Onde ele pôs o pé direito brotou a cebola. De fato, tais produtos referem muito do Inferno em seu caráter e na sua biológica composição. A cebola, especialmente, ostenta em seu bulbo uma essência volátil e lacrimogênea, fortemente sulfurosa e cianídrica, como deve ser o Reinado das Trevas, se de fato existir em algum lugar.
Parentes muito próximos, o alho e a cebola, como o aspargo, provêm todos da ordem das Lilifloras. Como também a cebolinha-verde, a echalota e o poró, cebola e alho fazem parte da família botânica das Liliáceas e do gênero Allium, conforme a clássica descrição do taxionomista sueco Carolus Linnaeus (1707-1778). Desse ramo em diante, todavia, a confusão se estabelece através de 950 espécies diferentes.
A cebola se chama Allium cepa. O alho, A. sativum. O poró, A. porrum ou A. ampeloprasum, dependendo do definidor. A cebolinha-verde, A. shoenoprasum, A. fistulosum ou A. tuberosum. Denomina-se igualmente A. fistulosum a cebolinha-de-inverno, scallion para os ingleses e scalogno para os italianos, muito semelhante à verde, com a raiz bem mais gorducha e alentada. E ainda existe quem considere no mesmo molde a famosíssima echalota, miúda, de pele bronzeada e no formato de um dente gigantesco de alho, na realidade A. ascalonicum. O motivo da bagunça é fácil de explicar. Ocorre que o gênero Allium é desconhecido em estado selvagem.
Suas plantas estão entre as primeiras que o homem aprendeu a cultivar, perto de 10 ou 12 mil anos atrás, e todas parecem derivar de um certo A. oschaninii, que, posteriormente, por meio de misturas e hibridações, abriu-se no atual leque formidável de variedades bem semelhantes e ao mesmo tempo, em seus mais íntimos meandros, totalmente diferenciáveis. Só na categoria da A. cepa  há perto de 350 subtipos no formato, na cor, no aroma e no paladar. Ocorreu um emaranhado de perplexidades, por conseqüência, na determinação histórica do nome comum do produto.
A meada provavelmente iniciou-se no grego arcaico kepe, que significava ardência, e aos poucos foi-se transformando em kepaia  e, no latim, virou caepa  e no gaulês se tornou cepa  e cive, civet, ciboulette. Simultaneamente, nos dialetos românicos, falava-se em unio, pois a cebola é monocotiledônea, ou seja, possui uma única membrana embrionária ao redor da sua semente individual. De unio se chegou a unionen, a ungeon, a oingnon  e enfim ao francês oignon  e ao inglês onion. Felizmente perdeu-se na obscuridade o termo aigrum, que nos idos medievais se utilizava para caracterizar o alho, a cebola, a echalota, a raiz-forte e até o agrião.
Quem chorou primeiro ao cortar uma cebola? Provavelmente os mesopotâmicos, os assírios e os caldeus que a transportaram ao Egito. Uma inscrição cuneiforme na linguagem gráfica mais primitiva que se conhece, a sumeriana, relata que autoridades da cidade de Babilônia foram punidas, nos entornos de 2400 a.C., por roubarem a iguaria, acompanhada de pepinos, que os cidadãos deixavam num templo de oferendas divinas. O venerando Código de Hammurabi, princípio de todas as leis do planeta, já estipulava que os miseráveis receberiam como donativo do governo uma ração mensal de pão e cebola - aliás, o alimento básico dos escravos que erigiram as pirâmides de Quéops, Quéfrem e Miquerinos.
Era hábito, naqueles tempos, rodearem-se os corpos dos defuntos mumificados com cebolas, particularmente entre o tórax e os braços, sobre os olhos e junto às orelhas, e em toda a zona pélvica. Havia a crença de que o produto, por causa das suas infindáveis folhas superpostas, funcionaria como um caminho no rumo da imortalidade. Mágica sabedoria. De fato a A. cepa  dispõe da comprovada propriedade de auxiliar a conservação de outros alimentos, graças a um de seus componentes químicos, o qüercitol, admirável antioxidante e antifermentante natural. Ainda hoje, na França, sobrevive uma curiosa seita religiosa, com cerca de 4 mil fanáticos, que adoram a cebola como uma deidade capaz de lhes assegurar a vida eterna - cada fiel da coisa come meia dúzia delas, cruas, por dia. No século de Péricles, entre 500 e 400 a.C., o então famoso mercado ateniense de vegetais se destacava pelo vasto rol de espécies que os gregos comiam com alho, repolho, ervilhas e lentilhas.
Não se sabe exatamente, porém, de que maneira e quando a cebola desembarcou em Roma. No último século antes de Cristo, o poeta Horácio glorificou a A. cepa como um componente crucial de sua "dieta econômica". Marcus Gavius Apicius, na mesma época, desandou a usar a cebola nas receitas então muito requintadas de seu pioneiríssimo compêndio gastronômico, como integrante de marinadas, molhos ou companhia para pratos de carne ou de peixe. Logo, pão com cebola passou a representar uma combinação muito comum no desjejum dos romanos, rapidamente apegados ao seu cultivo na península inteira, em especial nas áreas mais pobres do centro e do sul.
No primeiro livro sobre agricultura jamais escrito, o filósofo Lucius Yunius Moderatus Columella, nos entornos do ano 50, manifestou a sua paixão ardente pela cebola de Pompéia, nos arredores de Nápoles. Ironicamente, quando os arqueólogos escavaram as ruínas da cidade destruída em minutos por uma erupção do vulcão Vesúvio, um dos itens encontrados foi uma cesta de cebolas calcinadas pelo calor. Local do achado: um bordel, circunstância capaz de demonstrar que os freqüentadores e/ou as damas do local não se constrangiam com a pungência da iguaria.
Nas feiras romanas, de todo modo, os vendedores de cebola eram obrigados a expor a sua mercadoria bem distante dos tabuleiros com frutas e outros vegetais. Apenas por volta de 110, quando o imperador Trajano construiu o seu fantástico mercado em Roma, a cebola mereceu mais respeito num recanto da edificação em que réstias gigantescas, como uma floresta de estalactites, desciam do teto ao piso do andar inferior. Germanos e eslavos também se fascinaram com o produto, uma escolta indispensável de seus assados. Carlos Magno (742-814), o inspirado e visionário rei dos francos, fundador do Sacro Império Romano - Germânico, dominador de um território que se espraiava da Áustria à Bélgica, exigiu a sua plantação organizada nas hortas de seu palácio; aliás, grande gastrônomo e fascinado pela agronomia, ele foi o responsável pela implantação extensiva na Europa de uma infinidade de cultivares.
A cebola fazia parte obrigatória das relações de dotes que os camponeses entregavam, como pagamento de impostos, aos senhores feudais. Na Inglaterra de Elizabeth I (1533-1603), o matrimônio de cebola e alho-poró, representava a salada predileta da aristocracia. E A. cepa  ia fazendo o seu providencial sucesso também no Novo Mundo. Em 1624, um certo padre francês, Père Marchette, instalou uma colônia num ponto remotíssimo ao sul do Lago Michigan, nos futuros Estados Unidos, e deu-lhe o nome de Chicago, a palavra que os nativos locais utilizavam para definir o forte olor que emanava das abundantes plantações de cebola da região. Tal iguaria acabou codificada, por Linnaeus, como Allium canadensis.
Do outro lado do planeta, os arquitetos eslavos se baseavam nos desenhos bulbosos da A. cepa e das suas variedades para com eles enfeitarem as cúpulas e as torres das igrejas, um hábito que se estenderia do apogeu do czarismo russo até a vitória dos revolucionários comunistas sobre o despotismo e o desgoverno de Nicolau II em 1917. Nesse trajeto, ninguém resolveu, porém, a questão do choro induzido imediatamente pelo corte de uma cebola.
As simpatias antilágrimas se multiplicaram, certamente a um número incomparável dentro das atividades culinárias. Há quem descasque e fatie o produto debaixo da água ou perto do fogo, na esperança de dissipar os gases da incômoda essência. Há quem congele a cebola antecipadamente e há quem lhe dê um banho de forno aceso em ponto forte. Há quem coloque um palito de fósforo na boca - a madeira teria a capacidade de absorver a oleosidade sulfurosa e cianídrica que a cebola dissipa no ar. Há, enfim, quem crie uma máscara protetora, mordendo uma lasca bem grande de casca de pão.
Patetices à parte, a solução ideal é sempre a mais simples e mais prática. Basta talhar a cebola ao meio e então cortá-la finalmente, no sentido vertical, o miolo voltado para baixo, com uma faca bem delgada, superafiada, com movimentos firmes, que separem sem machucar. O cheiro que perdurar nas mãos pode ser eliminado com sal e limão, ou sal e vinagre. Encontram-se amostras de A. cepa o ano inteiro, embora as melhores costumem maturar nos meses de frio. A produção mundial, em 1988, situou-se em torno de 20 milhões de toneladas, quase a metade delas proveniente da Ásia, em particular da China, o maior plantador mundial.
O Brasil participa com quase 3,5 por cento da produção, 650 mil toneladas, 40 por cento colhidas no Estado de São Paulo, dos tipos Baía-Piracicaba (de aspecto periforme, bojudo, película clara e interior creme-avermelhado) e Monte Alegre (de bulbo esférico e tonalidades creme-amareladas). Em geral, as cebolas menores e mais jovens apresentam maciez e pungência superiores, devendo ser privilegiadas, na gastronomia, em relação às maiores e às idosas. De todo modo, durante o cozimento, praticamente todos os tipos de A. cepa se igualam. O ideal é se escolherem cebolas firmes, de bom peso em relação ao seu volume, com as peles exteriores bem secas e transparentes, sem machucaduras ou brotos aparentes. Evitar, sempre, as molengas, umedecidas ou transpirantes, com pontos pretos nas camadas de fora.
Dependuradas em algum lugar fresco, enxuto, escuro e ventilado, as cebolas podem resistir várias semanas ao armazenamento, sem desperdício de suas características alquímicas. Evitar, sempre, sacos de plástico ou outro material não poroso. Jamais guardar cebolas no refrigerador. No caso, eventual, de surgirem brotos numa A. cepa, os seus verdes podem tranqüilamente ser utilizados como cebolinhas. No departamento das técnicas culinárias, a A. cepa  é tratada com extrema simplicidade. Os seus múltiplos métodos de cozimento não exigem espertezas especiais de chef algum. De todo modo parece interessante revelar alguns truques. Por exemplo, quando se despejam cebolas inteiras num caldo ou molho, não se esquecer de furá-las até o meio, com um garfo ou um espeto, cruzadamente, a fim de aliviar as pressões internas e impedir que o bulbo exploda. Durante uma fritura, usar o fogo forte exclusivamente no princípio da operação e rebaixar a chama pouco a pouco para que os óleos essenciais do produto se misturem à gordura em vez de se evaporar. Nunca permitir que as cebolas se queimem, pois isso as tornará acres e difíceis de digerir.
A A. cepa  não se destaca por seu conteúdo vitamínico. Dentre os sais minerais que contém, os mais abundantes são o cálcio, o potássio, o sódio, o fósforo e principalmente o flúor. Na sua composição, 88 por cento corresponde à água e 10 por cento aos glicídios, numa correlação de aproximadamente 40 calorias por cada 100 gramas. Medicinalmente, desde os mesopotâmicos a cebola carrega a tradição de ser um bom diurético, auxiliando as funções renais. Também se comprovou a sua competência no tratamento das bronquites asmáticas de estimulação alérgica.

C=171.270

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A Reabilitação do Tomate - Costumes



A REABILITAÇÃO DO TOMATE - Costumes



O tomate dos astecas já foi temido como se fosse veneno. Hoje se sabe que é um dos melhores frutos da terra.

Certamente o pão. Talvez o arroz. Nenhum outro alimento, todavia, pode-se orgulhar de sua abrangência multinacional, de sua inabalável universalidade, como o trivial tomate. Sim, trivial, e ao mesmo tempo belo, vibrante, disponível e sensual, o tomate de 2002 utilidades, capaz de se portar com galhardia num cardápio inteiro, da entrada à sobremesa. O tomate da elementar salada e o tomate dos rubros sorvetes que há uma década encantam os desserts das cozinhas novas da Europa e dos Estados Unidos. Mais fantástico ainda, o poder do tomate é recentíssimo. Fala-se do pão já na Bíblia. Existe arroz no Oriente há mais de cinco milênios. O tomate, todavia, não se tornou conhecido na civilização antes do século XVI. E não virou alimento de verdade antes do século XVII.
Na ciência apelidado de Solanum lycopersicum em seu estado selvagem, e de Solanum esculentum na sua versão cultivada, o tomate se originou na costa latino-americana do Pacífico, desde o Peru até o México. Daí o seu nome asteca tomatl. Ostentava então um mínimo tamanho, como um jiló, e era extremamente perecível, apodrecendo meras horas depois de colhido. Navegadores espanhóis levaram sua sementes ao Velho Mundo, provavelmente impressionados com a sua rápida proliferação: qualquer criança pode plantar um tomateiro num canto do quintal que a planta crescerá sem  nenhum cuidado especial. Os ibéricos, todavia, instantaneamente repudiaram a novidade.Ocorre que, naqueles idos, a Europa tinha pavor de outra filha da família das solanáceas, a venenosa beladona, de idêntico formato, textura semelhante e pele negra. Ocorre, também, que, na tentativa de evitar a fruta, os espanhóis decidiram experimentar os seus verdes talos e as suas folhas, com patéticas conseqüências - disenterias e intoxicações. Nos arredores de 1535, a corte da Espanha decidiu a questão com um edito real, liberando o tomate exclusivamente para uso decorativo, em arranjos de mesa, por exemplo. Os alquimistas e os botânicos de plantão poderiam muito bem ter economizado o tempo do planeta, analisando a matéria-prima e definindo sua perfeita utilização. Fraquejaram, porém.
Em 1544, o veneziano Pierandrea Mattioli admitiu o parentesco do tomate com a preciosa berinjela que os sicilianos já consumiam com paixão. Matioli, no entanto, batizou o tomate de mela insana, o pomo doentio. Vários dos seus colegas, assustados com a parecença das suas folhas com aquelas da perigosa mandrágora, engataram no raciocínio do veneziano e desaconselharam a iguaria. Inúmeras gerações de suas sementes, de todo modo, começaram a viajar da Espanha à Itália, ou pelas costas francesas, ou via Mar Mediterrâneo. Por volta de 1600, sob o sol majestoso da província da Campânia, na Velha Bota, o Solanum lycopersicum havia crescido de volume e adquirido uma coloração sensacional. Incapaz de resistir a seu sanguíneo magnetismo, algum cozinheiro napolitano mais inspirado mesclou lâminas de tomate a uma salada de alface, dentes de alho e azeite. Deu certo no sabor - com a vantagem nem um pouco desprezível de que ninguém morreu.
O cuca esperto voltou a ousar e fritou fatias hipnotizantes em óleo e manteiga. Maravilha inigualável. Daí para o molho dos spaghetti foi seguramente um passo apenas. Consagrado em Nápolis, o tomate refez o seu trajeto através da Europa. Àquela altura carregava títulos bem mais charmosos do que mela insana, ora o pomo d´oro, ou fruto de ouro, ora o  pomo d´amore, o fruto do amor. Subiu à Alemanha com a alcunha de Paradiseapfel, a maçã do paraíso. Aterrissou até mesmo na Polônia, como pomodory. Só nos meados do século XVIII, entretanto, a solanácea resgataria seu nome de batismo. Ao realizar as investigações que redundariam na sua obra fundamental, o biólogo sueco Carl von Linné, o Linnaeus ( 1707-1778), pioneiro no mundo a definir um sistema adequado de identificação dos gêneros e das espécies das plantas e dos animais, ainda com cautela sugeriu o seu consumo sem muitas restrições. Linnaeus refez a linhagem genética do tomate, cristalizando a sua descendência do tomatl das Américas.
Daí o português tomate, o francês idem, o espanhol também, o alemão Tomate com a inicial maiúscula dos substantivos tedescos, o inglês tomato, o holandês tomaat, o turco Tomates. De banido e vilipendiado, o produto se internacionalizou e hoje é apreciado até na China e no Japão. Foi o medo caseiro de suas possíveis agressões que, no princípio de seu uso culinário, compeliu as mamães italianas a perpetuar os seus capitosos molhos de spaghetti em cinco ou seis horas de meticuloso cozimento. Imaginavam elas que o longo tempo de caldeirão ajudaria a eliminar todas as eventuais toxinas dos seus pomidori. Tolice. E inutilidade. Na realidade, estavam queimando o que existia de nutriente na matéria-prima.
Hoje, sabe-se que em meros cinco minutos de fogo de médio porte, acima de 60 graus centígrados, um vero sugo de tomates começa a perder todos os seus nutrientes principais, os sais minerais que se sublimam com a água evaporada. O pavor, de todo modo, se transformou em tradição. Determinados chefs amadores, e mesmo os profissionais, se envaidecem quando afirmam a demora quase absurda com que cometem os seus molhos. Oficialmente, o primeiro mestre a se aproveitar sabiamente do tomate numa panela foi o romano Francesco Leonardi, cozinheiro predileto de Catarina II da Rússia. A Leonardi, cujo apogeu pode ser datado entre 1750 e 1780, se atribui a receita de sugo que serve de base a todas as outras espalhadas pela Terra: solanácea macerada em azeite, na companhia de um pouco de cebola, cenoura e salsão, tudo refogadinho meigamente e então passado numa peneira ultrafina.
Por emulação, os chefs franceses da imperatriz Eugénie, mulher de Napoleão III, acabariam introduzindo o molho de tomates na corte de Paris. A rendição total ao sucesso do produto aconteceu por intermédio do naturalista Charles Darwin (1809-1882), o pesquisador da origem e da evolução das espécies. Um fanático pela solanácea, quase diariamente Darwin se aboletava em casa num banquinho de jardim bem à frente de um pomar de tomateiros, e lá ficava minutos a fio, a soar um cintilante trombone, na esperança de estimular o crescimento dos frutos com a sua música solene. Pelo menos é o que consta.
Do molho de tomates nasceu o catsup ( na versão chinesa ) ou Ketchup 
(interpretação britânica da palavra ). A raiz da preciosidade é discutível. Não, contudo, a delícia da sua combinação, o suco reduzido da fruta na companhia de um bom vinagre e especiarias. Num dos seus mágicos livros. As aventuras de Mr. Pickwick, datado de 1836, o inglês Charles Dickens fez o seu caro personagem encerrar cripticamente uma carta: "Um picadão e molho de tomates. Do seu Pickwick". Com certeza o filósofo ambulante de Dickens se referia ao Ketchup.
O momento culminante da história do tomate levaria pouco além de cinqüenta anos para eclodir. Aconteceu em Nápoles, em junho de 1889, quando o pizzaiolo Raffaele Esposito foi convidado a preparar em repasto em homenagem à rainha Margherita, da Itália recém-unificada. Esperto e politiqueiro, Esposito resolveu compor uma pizza nas três cores da bandeira do país, o verde, o branco e o vermelho. Resolveu a questão cobrindo o disco de massa com purê de tomates frescos, lascas de mozzarella de búfala e folhas rebrilhantes de manjericão. Elogiado por sua Majestade, deu à pizza o nome, Margherita.
A solanácea, que já se casava perfeitamente ao macarrão em suas infinitas variedades, encontraria mais um motivo para pretender a eternidade. Cerca de uma década atrás, um levantamento da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, colocou o tomate na décima quarta posição entre os alimentos mais nutritivos da natureza - atrás dos brócolos, espinafres, couves-de-bruxelas, vagens, ervilhas, aspargos, alcachofras, couves-flores, batatas-doces, cenouras, milho verde, batatas comuns e repolhos. Ao mesmo tempo, porém, o tomate foi relacionado na liderança dos alimentos que, pelo volume de seu consumo, mais contribuem com nutrientes para as dietas da humanidade: à frente das laranjas, batatas comuns, alfaces, milho verde, bananas, cenouras, repolhos, cebolas, batatas-doces, ervilhas, espinafres, brócolos, vagens, aspargos e couves-flores. Um grande passo para uma iguaria tão jovem. 
De baixíssimas calorias, meras dezenove a cada 100 gramas, o Solanum lycopersicum é riquíssimo em vitaminas e sais minerais, particularmente sódio, potássio, cálcio, fósforo e ferro, vitamina A (um agente da defesa orgânica contra as infecções ) e vitamina C (ou ácido ascórbico, protetor do sistema vascular e importante na cicatrização de machucaduras). Opostamente ao que se imagina, o tomate é um produto ácido somente na lenda. Uma das suas qualidades principais: alcaliniza, ou torna básicos, os fluidos do corpo, a água, o soro e o sangue, complicando, assim, a proliferação de bactérias e outros microorganismos indesejáveis.
Melhor, como sugere o seu próprio nome italiano, o tomate adora absorver as energias do Sol. Consegue conservá-las até o amadurecimento e as desprende, saudavelmente, num simples contato com os lábios, a língua e as papilas gustativas. E não se devem retirar a sua pele e suas sementes a não ser em casos extremos de dificuldades digestivas e estomacais. As sementes, principalmente, são recobertas por uma substância mucilaginosa, viscosa, que lubrifica as paredes intestinais e facilita o desprendimento dos dejetos. A pele, por sua vez, contém a celulose que dá consistência aos alimentos. Muita gente acredita que o tomate estimula as diarréias. Errado. Esse risco só existe quando se ingere o fruto sem a casca. De ação desintoxicante e regeneradora dos tecidos, o seu suco fresco e natural, ingerido imediatamente depois de perpetrado, para que as vitaminas não se enfraqueçam, auxilia na terapia das inflamações e de certos distúrbios cardíacos produzidos pelo espassamento do sangue.
Na gastronomia, devem-se escolher, invariavelmente, aqueles bem firmes, homogeneamente vermelhos, que os feirantes costumam vender para saladas. E fugir dos que os mesmos feirantes, picaretas, oferecem para o molho. Esses, infelizmente, não passam de frutos passados e amassados nos fundos das caixas, coisa que gente ignorante ou inescrupulosa não hesita em mandar adiante a fim de salvar o seu bolso.

Ouro rubro o ano inteiro

Existem no planeta vários tipos diferentes de tomate. O caseiro e mais comum se chama, apropriadamente, money maker, fazedor de dinheiro. É abundante nos cachos da haste-mãe, mas por ser tão prolífico acaba oferecendo um resultado irregular no tamanho e na cor. A sua contrapartida é o marmande, o tomatão-caqui, um híbrido de evolução complexa que exige um solo de colina para a maior movimentação da águas ao redor das suas raízes. Na Itália predomina o espetacular San Marzano, de desenho alongado, polpa muito espessa e sementes miudinhas.
Originalmente, o tomate medrava e amadurecia apenas nos meses de primavera, de setembro a dezembro no hemisfério sul, de março a junho no hemisfério norte. O homem, contudo, aprendeu a controlar as manhas da matéria-prima. Hoje é possível, digamos assim, enganar o tomateiro, por meio do calor artificial das estufas, de modo que ele proponha os seus frutos no ano inteiro sem variações de qualidade. No Brasil, o Estado de São Paulo dispõe das mais modernas e preciosas condições de produção, por causa da proximidade de grandes indústrias de processamento de molhos e purês. Em peso, a colheita nacional de tomates atinge a casa dos 2 milhões de toneladas anuais - quase um terço do total proveniente de São Paulo. O Estado de Pernambuco ocupa o segundo lugar, com aproximadamente 280 mil toneladas.

À moda do autor

A receita que segue carrega uma sabedoria de cinco gerações - com os devidos enriquecimentos. Trata-se  do sugo essencial de tomates que herdei de meus ancestrais e que atualmente cometo de acordo com os modernos parâmetros que a teoria e a prática me ensinaram. Sua companhia ideal: obviamente os spaghetti de número 8.

Ingredientes (para oito pessoas):
- um salsão inteiro
- duas cenouras
- 6 colheres (de sopa) de azeite de oliva
- 6 colheres (de sopa) de manteiga
- 6 quilos de tomates maduros mas de polpa rija, cortados ao meio e livres do entalhe das hastes e dos eventuais brancos internos
- 100 gramas de cogumelos secos
- sal, pimenta-do-reino moída no momento e noz-moscada raladinha na hora

Modo de Fazer

Abro o salsão e lavo perfeitamente suas folhas, do bulbo aos verdes superiores. Corto em tiras, esfregando com vigor. Elimino alguns milímetros de suas cabeças e corto em fatias, grosseiramente. Num caldeirão bem fundo, aqueço o azeite e a manteiga, sem permitir que dourem. Lanço o salsão e as cenouras. Mexo, entusiasmadamente, com uma colher de madeira, até que comece, a transpirar, cerca de 3 a 4 minutos.
Despejo os tomates. Mexo e remexo por mais cerca de 2 a 3 minutos. Rebaixo a chama ao mínimo viável. Tampo a panela. Mantenho por 15 minutos, remisturando a cada 3. Agrego os cogumelos. Mexo e remexo. Mantenho por mais 15 minutos, sempre com o caldeirão coberto. Retiro. Bato tudo no liquidificador, de maneira a injetar ar no molho e a torná-lo mais leve. Passo numa peneira fina. Devolvo à panela e condimento com sal, pimenta-do-reino e noz-moscada. Observação: com a mesma base é possível conseguir um excelente molho de tomates e carne.
Para as mesmas oito pessoas, uso uma peça bem torneada e sem gorduras de coxão duro, 1 quilo, mais um pedaço de uns 10 centímetros de lingüiça calabresa e picante. Depois de refogar o salsão e as cenouras, incorporo o músculo e a lingüiça e lhes dou uma rápida e equilibrada bronzeada. Então, despejo os tomates. Quando retiro os ingredientes para batê-los no liquidificador, deixo o músculo e a lingüiça de lado - e os devolvo ao molho a fim de reaquecer tudo. Nesse caso, dependendo da textura da carne, talvez seja preciso mantê-la em cozimento por mais tempo além do indicado. O ponto ideal ocorre quando o músculo se mostra macio e quase desmanchável à ponta de um garfo.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Polêmica sem FIM - Transgênicos

POLÊMICA SEM FIM - Transgênicos



Criados nos anos 80, os alimentos transgênicos continuam a dividir os cientistas. A falta de respostas conclusivas para várias questões - econômicas, ambientais, sanitárias - tem dado margem a debates apaixonados entre partidários e detratores desses produtos. De um lado, há os que promovem os transgênicos como verdadeira salvação da lavoura: a criação de variedades mais resistentes a pragas e doenças levaria ao aumento da produtividade e à gradual queda dos preços, contribuindo assim para a diminuição da fome no mundo.

De outro, os críticos argumentam que a fome é uma questão política e de distribuição de renda. As multinacionais estariam interessadas apenas em engordar seus lucros, já que um dos resultados da transgenia é a geração de sementes estéreis: cada vez que quiserem plantar, os agricultores precisam comprar novas sementes da empresa que detém a patente.

Outro motivo de preocupação é o impacto ambiental, cuja extensão a ciência ainda desconhece. Há o receio de que as lavouras transgênicas contaminem plantações vizinhas, ameaçando a biodiversidade.

Discutem-se também os possíveis danos à saúde humana. Em 1996, o médico alemão Walter Doefler divulgou um estudo sobre as conseqüências da ingestão de alimentos transgênicos. Por meio de experiências com cobaias, ele concluiu que o DNA exógeno (introduzido de outra espécie) de um vegetal transgênico pode entrar na nossa corrente sangüínea e se tornar ativo, quebrando a barreira entre as espécies. O pesquisador Francisco Aragão, da Embrapa, afirma que tal estudo não tem credibilidade e que o corpo humano é capaz de destruir os genes exógenos.
Polêmica à parte, Aragão aposta que, nos próximos anos, muito se investirá em organismos geneticamente modificados, mas prioritariamente alterando características genéticas da mesma espécie, em vez de introduzir genes de outras, como se faz na transgenia. Segundo Aragão, do ponto de vista científico não há muita diferença, mas a aceitação, pelos consumidores, de um alimento modificado é mais fácil quando não se misturam espécies.

O impacto da descoberta
Os estudos sobre alimentos transgênicos avançaram nos anos 90, mas ainda há muitos pontos de interrogação, o que serve de munição para debates apaixonados. A ciência deve encontrar respostas claras para as dúvidas que causam uma apreensão natural nos consumidores

Enquanto isso...
Transgênicos são organismos vegetais ou animais geneticamente modificados, ou seja, que tiveram o gene de uma outra espécie introduzido em seu DNA. O objetivo é obter uma característica desejada da outra espécie, como a resistência a uma determinada praga.

Um marco nas pesquisas nessa área foi em 1980, quando os cientistas americanos Jon Gordon e Frank Ruddle realizaram experimentos com camundongos e usaram pela primeira vez o termo "transgênico". Pouco depois, em 1983, quatro equipes que trabalhavam de forma independente nos Estados Unidos e na Bélgica anunciaram as primeiras plantas transgênicas, entre elas uma variedade de fumo resistente a um antibiótico. Nos anos 90, dois alimentos básicos chegaram à mesa do consumidor por meio da transgenia: o tomate, em 1992, e a soja, em 1996. Hoje são cultivadas sete plantas transgênicas em escala comercial: soja, milho, algodão, canola, arroz, batata e tomate. Além dessas, há cerca de 60 culturas em teste. No Brasil, a Embrapa desenvolveu o primeiro feijão resistente ao vírus do mosaico dourado.
Em 2003, estima-se que as culturas transgênicas ocupavam 68 milhões de hectares, um quinto da área plantada no mundo, envolvendo 7 milhões de agricultores.