terça-feira, 12 de maio de 2009

Popularidade das redes sociais causa 'ressaca'

23/03/09 - 09h02 - Atualizado em 23/03/09 - 09h12

Popularidade das redes sociais causa 'ressaca' em seus veteranos
Fenônemo já visto no Orkut começa a se repetir no microblog Twitter.
Usuários antigos torcem o nariz para popularidade de seu 'clube virtual'.



Foto: Divulgação Popularização do Twitter desagrada muitos 'veteranos'.
(Foto: Divulgação)

“O Orkut é brega”, “Facebook é a bola da vez” e “Orkut sucks, Twitter rules” (“Orkut é péssimo, Twitter domina”) foram alguns dos comentários postados. Em outro texto, este sobre informações judiciais divulgadas nos microblogs, a reação seguiu o mesmo tom: “peço às autoridades jornalísticas que parem de divulgar o Twitter no Brasil. Já basta o Orkut ter sido infestado dessa ralé”, escreveu um leitor identificado como Seu Madruga, que ganhou o apoio de outros anônimos.
Os comentários mostram um comportamento que vem se tornando constante na web brasileira:
aqueles que aderem primeiro a uma rede social torcem o nariz ao ver seu “clube virtual” ser invadido.


Quando isso acontece, os pioneiros optam por abandonar o ambiente (ação conhecida como Orkuticídio, quando na rede social do Google) ou deixam de atualizar seus perfis com tanta frequência, geralmente investindo em algo novo. Essa debandada já foi vista no Orkut --
quando seus usuários partiram em busca do MySpace, Facebook e afins – e agora dá sinais no Twitter, serviço de microblog que vem ganhando adeptos no Brasil. Se você ainda não conhece o Twitter, entenda aqui como funciona.

Conforme acumulam seguidores (usuários que acompanham seus textos de até 140 caracteres), muitos twitteiros “veteranos” reclamam da invasão do site. O blog Maldita cultura pop fez uma previsão do que acontecerá, com base na experiência testemunhada no Orkut. Segundo o post, adolescentes marcarão briga usando o Twitter, surgirão os twitts pagos (como já fez o apresentador Marcelo Tas), o Google vai comprar o Twitter, estrangeiros vão discriminar brasileiros, casais de namorados brigarão por coisas que foram escritas no Twitter dos outros, uma enxurrada de perfis de gatos, cachorros e bebês serão criados e -- é claro -- usuários cometerão “twittercídio”.

Exclusividade

Foto: Juliana Carpanez/G1 Emerson Calegaretti, diretor-geral do MySpace no Brasil. (Foto: Juliana Carpanez/G1) Emerson Calegaretti, diretor-geral do MySpace no Brasil, concorda que essa tendência da ressaca das redes sociais existe. “Para uma pequena parcela da população, ter acesso exclusivo a um produto ou serviço tem muito mais valor do que sua utilidade ou benefício percebido”, afirma. “Os early adopters [adeptos às novidades] usam os sites de relacionamento como símbolo de status. Pertencer a uma rede que ninguém conhece ou usa torna essa pessoa um desbravador, um conhecedor de mistérios herméticos que os demais ainda não conhecem.” Calegaretti lembra, no entanto, que a tendência de sites sociais é crescer de forma geométrica.
É isso o que mostram os números do Ibope Nielsen Online: na internet residencial brasileira, o Twitter passou de 225 mil visitantes únicos em janeiro de 2009 para 344 mil em fevereiro – crescimento de 52,8% em um mês. No início do ano, o Orkut teve 17,5 milhões de internautas domésticos (mais de 70% dos usuários residenciais ativos no país), MySpace chegou a 1 milhão e Facebook teve 900 mil -- todas as páginas, diz o Ibope, apresentam crescimento.

Foto: Arquivo pessoal Gilberto Pavoni Junior, que se declara viciado no universo virtual, está em cerca de 30 comunidades. (Foto: Arquivo pessoal) Gilberto Pavoni Junior, jornalista que se diz viciado no universo virtual, afirma que o movimento de migração surgiu paralelamente à popularização das redes sociais. “A Tecnologia da Informação é uma indústria de bolhas. Os novidadeiros ajudam a criar, enquanto o público comum ajuda a estourar, e assim começa tudo de novo. Os novidadeiros não querem correr o risco de serem confundidos com um cidadão médio: por isso eles migram em busca de algo novo”, diz Pavoni, que está cadastrado em cerca de 30 dessas redes.
Ele não acredita que esse movimento represente o fim de sites sociais. “Eles podem morrer para os early adopters, mas permanecem para os demais.” Pessoalmente, Pavoni não se incomoda com a popularização dos grupos: para ele, isso mostra que os novidadeiros estavam certos, cria um mercado para sustentação comercial do que foi descoberto e empurra os fãs de novidades para outras descobertas. “Alguns encontram uma praia. Quando a muvuca invade e fica surfando, é hora de procurar uma nova praia deserta.”

Confusão

O administrador de sistemas Rodrigo Correia, 32, se considera um early adopter por gostar de novidades tecnológicas. Ele, que em meados do ano passado fez uma lista com “bons motivos para sair do Orkut e migrar para o Facebook” diz não se importar com a popularização de uma rede, um indicador de sucesso. “O que me incomoda não são os usuários genuínos, mas os spammers que inevitavelmente chegam com o crescimento desses sites”, conta (saiba como funcionam as mensagens indesejadas no Twitter).

Foto: Arquivo pessoal Fernando Gouveia saiu do Twitter, mas depois voltou. (Foto: Arquivo pessoal ) Ícaro Leal da Silva, 17, faz parte da primeira leva de internautas brasileiros a cometer twittercídio – ele disse preferir outros serviços de microblog, como Jaiku e Plurk.

Participante de diversas redes sociais, Silva reforça a tese de que o medo em relação à popularização das páginas está ligado à confusão que eles viram com a adesão de um grande número de pessoas. “Aconteceu isso no Orkut, que tem excesso de spam e comunidades inúteis. É como se fosse um trauma”, acredita.

Também nas estatísticas dos twittercidas, Fernando Gouveia, 32, abandonou o site e depois voltou. Conhecido como Gravataí Merengue, por causa de seu blog, o advogado saiu quando estava sobrecarregado de trabalho, por achar que o microblog atrapalhava na concentração.
Encontrou mais paz para trabalhar, mas acabou voltando com o objetivo de participar de discussões e conversas que considera interessantes.

“Algumas pessoas se irritam nos sites de relacionamento porque não gostam de povo. Quanto mais popular for um twitteiro, menos ele é ‘pop’ no sentido lato. Menos ele tolera um ‘miguxo’, uma pessoa mais humilde ou que cometa mais erros de português do que ele”, diz Gouveia.

Fidelidade

Foto: Arquivo Pessoal Silvio Meira acredita que usuários abandonam redes sociais quando nada os prende lá. (Foto: Arquivo Pessoal ) O professor e pesquisador Silvio Meira não acredita que sites de relacionamento sejam abandonados porque se tornam populares. “O pessoal que começa a rede tem acesso a essa tecnologia em estado alfa e beta, quando os demais usuários ainda não estão lá. Se os early adopters não estiverem usando os sites como parte do que seriam processos essenciais para seu trabalho e vida, não há razão para permanecerem lá, onde nada os prende.”

“Ninguém troca seu provedor de e-mail de uma hora para outra. Há um custo relativamente alto envolvido nesse tipo de mudança, como mensagens que enviamos, que recebemos e muitas pessoas que conhecem aquele endereço”, compara o professor de engenharia de software do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, e cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife.

Meira exemplifica, dizendo que grupos -- sejam eles de ciclistas ou de um maracatu -- que usam sites de relacionamento para se articular continuarão lá por muito tempo, pois a atividade dos integrantes será a motivação do uso. “Se abandonarem o serviço, seja ele qual for, será porque não veem ali agregação de valor que remunere o custo de usá-lo. No caso das redes socais, esse custo é o trabalho de manter um perfil ativo”, reforça.

De olho nisso, o MySpace tem uma estratégia de ir além da rede social, oferecendo aos seus usuários conteúdo exclusivo, de seu interesse – exemplo disso são os off-line shows promovidos pelo site e também lançamentos on-line de novas músicas. Outra aposta da companhia, assim como de seus concorrentes diretos, são ferramentas de gerenciamento de privacidade. Com elas, os internautas podem selecionar as pessoas que verão as informações divulgadas nos sites, como recados e fotos.

FOTOS:



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