24/04/09 - 12h02 - Atualizado em 24/04/09 - 12h02
Fuligem de fogões a lenha é novo alvo na luta contra aquecimento global
'Carbono negro' pode ser responsável por 18% da mudança climática.
Vastas regiões da Índia e da África emitem esse tipo de poluente.
"É difícil de acreditar que isso está derretendo as geleiras", disse Veerabhadran Ramanathan, um dos maiores cientistas do clima do mundo, enquanto percorria cabanas feitas de tijolo de barro, cada uma contendo um forno de barro que libera fuligem na atmosfera. Enquanto mulheres envoltas em sáris multicoloridos fabricam pão e cozinham lentilhas no começo da noite sobre o fogo alimentado de galhos e esterco, crianças tossem devido à densa fumaça que preenche as casas. Uma sujeira preta reveste o lado de dentro de tetos de palha. No nascer do dia, uma nuvem negra se estica pela paisagem como um lençol escuro e diáfano.
Vila de Pipal Kheda, na Índia, coberta da fumaça do fogo usado para cozinhar (Foto: Adam Ferguson/NYT)
Em Kohlua, na Índia central, sem carros e sem eletricidade, as emissões de dióxido de carbono, o principal gás detentor de calor relacionado ao aquecimento global, são quase nulas. No entanto, a fuligem – conhecida também como carbono negro – produzida por dezenas de milhares de vilas como esta está emergindo como uma grande e antes minimizada fonte causadora do aquecimento climático global.
Apesar do dióxido de carbono ser o contribuidor número um para o aumento das temperaturas no mundo, afirmam cientistas, o carbono negro emergiu como o número 2 em importância. Estudos recentes estimam que ele é responsável por 18% do aquecimento do planeta, em comparação aos 40% atribuídos ao dióxido de carbono. Diminuir as emissões de carbono negro poderia ser uma forma relativamente barata de frear significativamente o aquecimento global – especialmente no curto prazo, sustentam especialistas em clima. Substituir fornos primitivos por versões mais modernas, capazes de emitirem muito menos fuligem, poderia se tornar uma solução temporária bastante necessária, enquanto os países lidam com a tarefa mais difícil de iniciar programas e desenvolver tecnologias com o objetivo de restringir as emissões de dióxido de carbono a partir de combustíveis fósseis.
Na verdade, reduzir o carbono negro é apenas um de uma série de reparos climáticos, relativamente rápidos e simples, usando tecnologias existentes – geralmente chamados de "fruta ao alcance da mão" – que os cientistas reafirmam a necessidade de serem colhidas imediatamente, a fim de evitar as conseqüências mais desastrosas já projetadas para o aquecimento global. "Está claro para qualquer pessoa que se importa com as mudanças climáticas que isto terá um enorme impacto no ambiente global", disse Ramanathan, professor de ciências climáticas do Scripps Institute of Oceanography, atualmente desenvolvendo trabalhos com o Instituto de Energia e Recursos de Nova Déli num projeto para ajudar famílias pobres a adquirir novos fornos.
"Em termos de mudanças climáticas, estamos indo rapidamente em direção a um penhasco. Isso nos pouparia algum tempo", disse Ramanathan, que deixou a Índia há 40 anos, mas voltou ao seu país-natal por causa do projeto.
Efeito rápido
Melhor ainda, a diminuição da fuligem poderia ter um efeito bastante rápido. Ao contrário do dióxido de carbono, capaz de perdurar na atmosfera por anos, a fuligem permanece ali por algumas semanas. Mudar para fornos que emitem pouca fuligem removeria rapidamente os efeitos de aquecimento do carbono negro. Fechar um local de produção de carvão leva anos para reduzir substancialmente as concentrações globais do gás. Na Ásia e na África, fornos de cocção produzem grande parte do carbono, apesar dele também emanar de motores a diesel e produtoras de carvão. Nos Estados Unidos e na Europa, as emissões de carbono negro já foram reduzidas significativamente por filtros e outras ferramentas.
Como minúsculos absorvedores de calor, as partículas de fuligem aquecem o ar e derretem o gelo ao absorver o calor do Sol quando elas se estabelecem nas geleiras. Um estudo recente calculou que o carbono negro pode ser responsável por cerca da metade do aquecimento do Ártico. Apesar das partículas tenderem a se estabilizar com o tempo e não terem o alcance global dos gases do efeito estufa, elas se deslocam, descobriram os cientistas. A fuligem originária da Índia foi encontrada nas Ilhas Maldivas e no platô tibetano; a partir dos Estados Unidos, ela viaja para o Ártico. As implicações ambientais e geopolíticas das emissões de fuligem são enormes. Estima-se que as geleiras do Himalaia irão perder 75% do seu gelo até 2020, segundo o professor Syed Iqbal Hasnain, especialista em geleiras do estado indiano de Sikkim.
Essas geleiras são a fonte da maioria dos grandes rios da Ásia. O resultado no curto prazo do derretimento glacial são inundações graves em comunidades montanhosas. O número de inundações a partir de lagos glaciais já está aumentando acentuadamente, disse Hasnain. Quando as geleiras encolherem, os grandes rios da Ásia vão ter seu fluxo diminuído ou secar durante parte do ano. Batalhas desesperadas por água certamente surgirão como conseqüência, numa região já cheia de conflitos.
Médicos há muito tempo condenam o carbono negro por seus efeitos devastadores à saúde em países pobres. A combinação de benefícios à saúde e ao meio ambiente significam que a redução da fuligem oferece "um excelente retorno", disse Erika Rosenthal, experiente advogada da Earth Justice, organização baseada em Washington. "Agora, faz parte do interesse pessoal de cada um lidar com coisas como esse tipo de forno – não só porque milhares de mulheres e crianças lá longe estão morrendo cedo."
Mulher cozinha com lenha na vila de Kohlua, na Índia (Foto: Adam Ferguson/NYT)
Nos Estados Unidos, uma lei foi apresentada pelo Congresso, em março, que poderia exigir da Agência de Proteção Ambiental o direcionamento de ajuda a projetos para a redução do carbono negro no exterior, incluindo introduzir novos fornos em 20 milhões de lares. Eles custariam cerca de US$ 20 cada e usariam energia solar, ou outra mais eficiente. A fuligem seria reduzida em mais de 90%. Os fornos solares não usam galhos nem esterco. Outros fornos novos simplesmente queimam o combustível de forma mais limpa, geralmente pulverizando o combustível primeiro e adicionando um pequeno ventilador capaz de melhorar a combustão.
É difícil imaginar que vilas rurais remotas, como Kohlua, possam ter um papel fundamental para lidar com a crise do aquecimento global. Não existem carros aqui – o jipe branco antigo do chefe do vilarejo fica estacionado, porém sem uso, na frente de sua casa, como uma peça de museu. Não existe água corrente e a energia elétrica é esporádica, responsável por alimentar apenas algumas lâmpadas. Os 1.500 moradores daqui cultivam trigo, mostarda e batatas, e trabalham diariamente em Agra, onde fica o Taj Majal, a cerca de duas horas de ônibus.
Dois dólares por dia
Eles ganham cerca de US$ 2 por dia e, em sua maioria, nunca ouviram falar sobre aquecimento global. Porém, eles notaram períodos de seca frequentes nos últimos anos, o que muitos cientistas atribuem ao fenômeno do aquecimento. Os moradores também estão cientes de que o carbono negro é corrosivo. Em Agra, fornos e motores a diesel são proibidos na área ao redor do Taj Majal, pois a fuligem pode causar danos à preciosa fachada.
Ainda assim, substituir centenas de milhares de fornos – a fonte de calor, comida e água potável – não é uma questão simples. "Tenho certeza de que eles seriam lindos, mas teria que primeiro vê-los, experimentá-los", disse Chetram Jatrav, enquanto se agachava junto ao seu forno, fazendo chá e um pão chamado roti. Suas três crianças tossiam.
Ela gostaria de ter um forno "que fizesse menos fumaça e usasse menos combustível", mas não pode comprar, disse ela, jogando no fogo o esterco comprado por um rupee (moeda local). Ela havia acabado de comprar seu primeiro rolo de massa, assim o pão poderia sair "redondinho", como seus filhos tinham visto na escola. Igualmente importante, a chama aberta do forno dá sabor a alguns dos alimentos tradicionais. Pressionar os moradores das vilas a fazer roti num forno solar é quase como pedir a um italiano que cozinhe risoto no micro-ondas.
Em março, o projeto dos fornos novos, disse Surya, começou "uma fase de teste" com seis fornos alternativos nas vilas, em parte para quantificar seus benefícios. Os pesquisadores já se preocupam com o fato de que os novos fornos parecem instrumentos científicos e são frágeis; um deles até quebrou quando um morador local empurrou objetos com muita força.
No entanto, se o carbono negro tiver de ser administrado em grande escala, a aceitação dos novos fornos é crucial. "Não vou chegar para os moradores e dizer que o dióxido de carbono está aumentando e que em 50 anos poderemos ter enchentes", disse Ibrahim Rehman, colaborador de Ramanathan no Instituto de Energia e Recursos. "Vou falar com a mulher sobre seus pulmões e os dos seus filhos, mas sei que isso também vai ajudar com as mudanças climáticas."
Caro tibia
ResponderExcluirClaro que todos temos que lutar contra a poluicao e proteger a natureza, mas voce acha realmente que o aquecimento global como é mostrado pela ONU e estas organizacoes de bilionarios e as medidas para combate-lo sao verdadeiras?
Por favor assista a este filme e podemos voltar a falar do assunto:
http://umanovaordemmundial.blogspot.com/2009/06/o-canal-britanico-channel-4-produziu.html