29/04/09 - 07h00 - Atualizado em 29/04/09 - 07h00
Proporção entre sexos varia com a latitude e intriga cientistas
Somando o mundo todo, nascem mais meninos que meninas.
Entretanto, quanto mais perto do equador, a diferença fica menor.
Nascem mais meninos do que meninas ao redor do mundo. Todavia, um novo estudo descobriu que, quanto mais perto as pessoas vivem do equador, menor se torna essa diferença. E ninguém sabe por que.
A proporção descentralizada dos sexos no nascimento é conhecida há centenas de anos, e pesquisadores descobriram uma ampla variedade de fatores sociais, econômicos, e biológicos que se correlacionam a ela – guerras, stress econômico, idade, alimentação, aborto seletivo, infanticídio, etc. Isolar a contribuição de qualquer variável cultural ou política se provou um exercício quase infinitamente complicado.
Entretanto, a latitude é um fenômeno natural, não afetado por fatores culturais ou econômicos. Para examinar seu efeito, Kristen J. Navara, da Universidade da Georgia, usou a latitude da cidade capital de 202 países, além de dez anos de dados sobre proporção dos sexos ao nascimento e variações anuais em duração do dia e temperatura.
Para estimar o status socioeconômico em cada país, Navara utilizou estatísticas sobre desemprego e produto interno bruto. Ela também calculou um índice de instabilidade política através da análise de fracasso e conflitos do Estado, publicada pelo Fundo Pela Paz, uma organização de pesquisa que combina doze indicadores sociais, econômicos e políticos para estimar a estabilidade relativa das nações do mundo.
Em seguida, Navara realizou uma análise estatística para determinar quais variáveis afetam a proporção dos sexos. O relatório apareceu online, em 1º de abril, no site da publicação Biology Letters.
O número de meninos nascidos não tinha relação com fatores socioeconômicos e políticos, mas havia uma correlação significativa entre as proporções de sexo, inclinadas em favor de meninos, de acordo com a latitude e as variáveis climáticas que a acompanham. Países africanos produziram as proporções de sexo mais baixas – 50,7% meninos – e países europeus e asiáticos atingiram as mais altas, com 51,4%.
O efeito da latitude, conforme Navara descobriu, persistiu ao longo de amplas variações em estilo de vida e status socioeconômico. Houve grandes diferenças na proporção de sexos entre regiões tropicais, dentro de 23 graus do equador, e as regiões temperadas, de 23 a 50 graus norte ou sul, mas nenhuma diferença entre as regiões temperadas e o norte subártico de 50 graus. A população vivendo ao sul de 50 graus era pequena demais para ser incluída na análise.
A correlação com a latitude manteve-se inalterada mesmo após a exclusão de dados de países asiáticos e africanos que pudessem ter sido desviados por abortos ou pelo extermínio de bebês meninas. Logo, a seleção de sexo pelos pais, antes ou após nascimento, não explica a correlação.
Um perito não envolvido no estudo questionou a validez da técnica estatística de Navara.
“Não há dúvidas de que a grande maioria das pessoas nos trópicos vive em sociedades relativamente pobres e estressantes”, disse Ralph Catalano, professor de saúde pública da Universidade da Califórnia, em Berkeley. “Se você controlar pelos estresses da pobreza, quem sobraria?”
Navara defendeu sua análise. “Análises estatísticas envolvendo populações humanas são sempre complicadas”, disse ela, “todavia, as análises usadas aqui são robustas e não eliminam quaisquer variações que veríamos nessas populações”.
Existem algumas explicações possíveis, mas nenhuma é inteiramente satisfatória. Pode ser que exista algum valor de sobrevivência em produzir mais meninas em regiões mais quentes, mas não se sabe qual seria ele. Poderia haver diferenças genéticas ou raciais capazes de explicar isso, mas a correlação persiste sobre populações tão variadas que parece improvável. Hamsters, camundongos, e ratos do campo também produzem mais filhotes machos em épocas com dias mais curtos e clima mais frio, mas os motivos para esses animais são tão misteriosos quanto para os humanos.
Ninguém nem mesmo sabe se a proporção dos sexos entre humanos é definida antes ou depois da concepção. Poderia a qualidade do esperma, exposto a diferentes temperaturas, causar a variação no momento da fecundação? Ou há algum acontecimento durante a gestação em temperaturas mais quentes capaz de fazer mais fetos masculinos, ou menos femininos, abortem espontaneamente?
“Há a possibilidade de que os humanos estejam reagindo a fatores programados para responder a muito tempo atrás – não culturais ou socioeconômicos, mas climáticos, incluindo fatores como a latitude”, disse Navara. “O interessante é que podemos estar presenciando algo remetido da nossa descendência animal”.
PUBLICADOS BRASIL NO ORKUT
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