A FERA É AZUL - Natureza
Cientistas brasileiros conseguem, pela primeira vez, provar quecertas aranhas emitem luz para atrair suas presas, os insetos.
Desde 1954 se sabe que diversas espécies de aranhas são fluorescentes: elas emitem luz, mais ou menos como os vagalumes. A diferença é que os vagalu- mes usam energia química do própio corpo para brilhar, e as aranhas obtêm sua energia absorvendo radiação ultravioleta do sol. Em seguida, a radiação é reemitida pelo aracnídeo na forma de uma luz azul muito fraca, geralmente invisível aos olhos humanos. Tanto que, até agora, os cientistas viam o brilho azul como um acidente: algo que acontecia no corpo da aranha, sem ter nenhuma utilidade para ela. Mas dois pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp) acham que mataram a charada. "A fluorescência das aranhas é um mecanismo para enganar suas presas, os insetos que visitam flores", diz o zoólogo João Vasconcelos, coordenador da pesquisa que levou à descoberta. As vítimas são algumas moscas que comem néctar, as borboletas e as vespas (as abelhas não se deixam iludir com facilidade).
Os olhos desses insetos estão entre os mais evoluídos nessa classe de animais. Eles captam três tipos de colorações básicas: ultravioleta, azul e amarelo. Assim, fascinados pela luz das aranhas fluorescentes, se aproximam delas sem perceber o perigo. A mais evoluída caçadora de insetos é a espécie Epicadus heterogaster, mais conhecida como aranha-caranguejo ou aranha-flor.
Essa espécie foi submetida a um banho de raios laser ultravioleta para aumentar a intensidade da luz azul emitida. Foi possível, então, fazer uma análise detalhada do fenômeno, explica Ramires. "A luz ficou tão forte que iluminou todo o laboratório". Ramires e Vasconcelos passaram cinco anos tentando decifrar os segredos dessa aranha, que ocupa diversas regiões da América do Sul. Foi estudada na Serra do Japi, em Jundiaí, SP, na Mata de Santa Genebra, em Campinas, SP, e na Ilha do Cardoso, no litoral sul paulista. Dura em média dois anos e mede 2,5 centímetros de comprimento. Todo o seu comportamento mostra que sua luz é uma isca. Ela tem forma, cor e jeito de flor (seu corpo se move e imita o balanço causado pelo vento).
A aranha-flor foi descrita pela primeira vez em 1931. Pensava-se que existiam três espécies diferentes: uma branca, uma amarela e uma lilás. "Em 1991 descobrimos que não havia diferença. É a mesma aranha, que muda de coloração conforme a flor onde está caçando", afirma Vasconcelos. O próximo erro foi achar que a aranha mudava de cor para enganar suas vítimas. A verdade é o oposto: ela faz isso para não se tornar vítima de seus próprios predadores, os pássaros. Confundida com as flores, a aranha engana os pássaros.
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