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sábado, 8 de março de 2025

A emergência climática e os peixes da Amazônia - O que a ciência ensina para impedirmos uma perda catastrófica de biodiversidade

A emergência climática e os peixes da Amazônia - O que a ciência ensina para impedirmos uma perda catastrófica de biodiversidade

Durante a seca de 2024, o Lago Tefé, no norte do Estado do Amazonas, perdeu cerca de 75% de sua superfície e registrou temperaturas de até 41°C, um risco extremo para a biodiversidade local.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Projeto japonês pretende simular a gravidade na Lua e em Marte para abrigar humanos

Projeto japonês pretende simular a gravidade na Lua e em Marte para abrigar humanos

Iniciativa consiste em uma megaestrutura giratória, além de um ambiente que recria a biodiversidade terrestre e um trem interplanetário.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Raro esqueleto de baleia de 5 mil anos é encontrado bem preservado na Tailândia

Raro esqueleto de baleia de 5 mil anos é encontrado bem preservado na Tailândia

Um raro esqueleto de baleia foi encontrado a uma distância de 12 quilômetros da costa da Tailândia. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Incêndios na Austrália - Ameaça sem precedentes pode levar animais e plantas à extinção

Incêndios na Austrália - Ameaça sem precedentes pode levar animais e plantas à extinção


Segundo Chris Dickman, especialista em biodiversidade da Universidade de Sidney, os incêndios florestais que vêm acontecendo na Austrália podem devastar a fauna do país. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Encantado com a biodiversidade e indignado com a corrupção - O que Charles Darwin achou do Brasil do século 19

Encantado com a biodiversidade e indignado com a corrupção - O que Charles Darwin achou do Brasil do século 19



Legenda- 'Darwin ficou encantado com a nossa biodiversidade. A Mata Atlântica foi o bioma mais rico que ele conheceu. Por outro lado, ficou revoltado com a escravidão. Sua família lutava contra o comércio de escravos' — Foto: Getty Images/BBC


Nos quatro meses em que passou no país, em 1832 e 1836, o futuro pai da Teoria da Evolução se encantou com a natureza, mas também mencionou em seus relatos muita irritação com a corrupção e a burocracia.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Velocidade da extinção de plantas pelo mundo preocupa cientistas

Velocidade da extinção de plantas pelo mundo preocupa cientistas


A extinção de plantas em diversas regiões do mundo tem preocupado cientistas. 

sábado, 31 de agosto de 2019

Entenda por que a Amazônia não é o pulmão do mundo

Entenda por que a Amazônia não é o pulmão do mundo


Os incêndios que atingem a região amazônica vêm preocupando o mundo nas últimas semanas. 

quarta-feira, 4 de março de 2015

Torre que transforma umidade do ar em água potável tem versão melhorada


Torre que transforma umidade do ar em água potável tem versão melhorada

 O projeto deve ajudar comunidades que sofrem com a falta de água na Etiópia. O 

Água potável é um bem que ainda não está acessível a todas as pessoas no mundo. Pensando em uma solução prática para este problema, o arquiteto italiano Arturo Vittori criou a WarkaWater, uma torre que capta o vapor de água atmosférico e o transforma em água própria para o consumo. A ideia deu tão certo, que ele já desenvolveu uma versão melhorada do modelo.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Deu branco no Coral - Ecologia

DEU BRANCO NO CORAL - Ecologia


Os corais estão ficando descorados. Habitantes das águas quentes dos trópicos, eles são as vítimas mais visíveis do Efeito Estufa. A ONU vem estudando o fenômeno e agora o Brasil mergulha nessa pesquisa.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Lagamar, O milagre da sobrevivência - Meio Ambiente


LAGAMAR, O MILAGRE DA SOBREVIVÊNCIA - Meio Ambiente


Na região mais densamente ocupada do país, um paraíso serve de berçário à vida do Atlântico Sul e, junto com a Mata Atlântica que o envolve, abriga uma das maiores biodiversidades do Brasil.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pantanal, Terra das Águas - Natureza


PANTANAL, TERRA DAS ÁGUAS - Natureza



Uma das maiores planícies do mundo não é um pântano, mas um ecossistema único: pelo tamanho, pela diversidade de suas formas de vida e pelo lugar onde fica. Sua beleza é fruto disso tudo.

Começa no mês que vem a temporada das chuvas no Pantanal Mato-grossense. Como acontece infalivelmente todos os anos, desde há pelo menos 30 milênios, um mar de água deverá se elevar lentamente, invadindo toda a planície do centro da América do Sul. As dimensões dessa inundação serão colossais. Aos poucos, 2/3 dos 150 000 quilômetros quadrados do território ficarão encharcados-uma área igual à do Estado de Santa Catarina ficará embaixo da água. Caso isso acontecesse no sul do país, seria uma tragédia de proporções inimagináveis. Mas, no Pantanal, encravado entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a chegada das águas significa renovação. Sem as enchentes, a região seria um deserto. Por causa delas, ali se encontra uma das mais deslumbrantes paisagens das Américas-aproveitá-la como cenário de telenovela é o menor tributo que o homem pode lhe prestar.
Até os anos 50, aproximadamente, os cientistas chegaram a desconfiar que, no passado remoto, um mar interior cobria a região, como um enorme lago de água salgada. Quando foi avistado pela primeira vez por uma expedição branca, no século XVI, a área estava inundada e recebeu o nome de Lago dos Xaraiés. Foi uma homenagem à tribo desse nome, da família dos guaranis, com quem os exploradores fizeram contato. O lago, depois se descobriu, não existia realmente. Mesmo durante a época das cheias, muitos terrenos, que os moradores do Pantanal chamam cordilheiras, escapam de ficar embaixo da água e, por isso mesmo, ali se refugiam bois e animais selvagens. Ademais, todo ano, durante os seis meses que dura a estiagem, quase toda a planície fica descoberta. E, com a falta de chuvas, o gado chega a passar sede.
Se não foi um mar nem um lago, o Pantanal tampouco é um pântano. Pelo menos, é o que dizem os pesquisadores, que implicam com o nome com que a região foi batizada, em época incerta, pelos habitantes do lugar. Aparentemente, eles se referiam às primeiras áreas inundadas pelos rios como pantanais-e o termo pegou. "Jamais se descobriram ali os charcos estagnados ou os lodaçais traiçoeiros típicos dos pântanos", objeta o geógrafo Aziz Ab´Saber, da Universidade de São Paulo, um dos maiores especialistas em Geomorfologia brasileira, o estudo do relevo terrestre. Ab´Saber prefere chamar o Pantanal de planície inundável - "única pelo seu tamanho porque está no interior do continente e pela diversidade de domínios da natureza", enumera.
A imagem de pântanos movediços não se aplica a nenhum pedaço do Pantanal Mato-grossense. Mesmo os filmes de terror classe B, onde costumavam aparecer, exageram as suas características. Trata-se, na verdade, de pequenos afloramentos de água estagnada, resultantes do movimento do subsolo, e de difícil escoamento. Em alguns lugares, as plantas ali acumuladas transformam-se em turfeiras, depósitos de carvão vegetal que deixam o solo mole e pegajoso, como em certas regiões da Inglaterra e também no Brasil, mais precisamente no Vale do Paraíba e em Ribeira de Iguape, São Paulo. As  planícies inundáveis  são muito mais comuns. Estão presentes do Amazonas ao Rio Grande do Sul e suas áreas mais facilmente alagadas são chamadas brejos, várzeas, banhados ou vargens, conforme a região. Também são comuns pelo mundo afora.
O magnífico cenário do Pantanal, hoje se sabe, enfeita um fundo de concha situado entre as terras altas bolivianas a oeste e as serras brasileiras a leste. Há cerca de 60 milhões de anos, quando se elevaram tanto a Cordilheira dos Andes como o Planalto Brasileiro, a região do Pantanal, ao contrário, esvaziou- se. Uma malha impressionante de rios, formada pelo Paraguai e seus afluentes, despencou nesse imenso anfiteatro, vinda do norte e do leste, escavando os planaltos vizinhos e acumulando os sedimentos na planície. A região foi sendo lentamente aterrada. O Rio Paraguai, muito raso para suportar a imensa descarga que recebe de seus afluentes, ainda encontrou obstáculos ao sul, ao atravessar a Serra do Bodoquena. Ao percorrer esse assoalho liso, cuja declividade não passa de 33 milímetros por quilômetro, não tem alternativa senão transbordar.
Assim, é fácil entender por que a enchente demora para baixar-avançando cerca de 10 quilômetros por dia, leva seis meses para atravessar o Pantanal. Enquanto ainda está ganhando terreno no sul, já começa a diminuir de volume no norte. Areia, vegetação decomposta, aguapés, tudo se movimenta com a cheia. Quando ocorre a vazante e a água escorre para outras paragens, fica no lugar uma sopa de detritos na qual nascem capim, ervas, arbustos e uma infinidade de flores-um conjunto exuberante de vegetação que jamais brotaria naquele solo pobre sem a contribuição das águas. Até porque no Pantanal não chove muito. Na tórrida cidade de Corumbá, no sul da planície, por exemplo, chove menos do que em São Paulo. Esse fenômeno lembra o que ocorre no Rio Nilo, na África, cujas enchentes fertilizaram o deserto e fizeram a grandeza do Egito há 5.000 anos.
Não é preciso ir muito longe para imaginar o que seria do Pantanal sem o constante vaivém das águas. Do outro lado da fronteira, no território da Bolívia, fica uma das áreas da planície do Chaco, formada na mesma época e da mesma maneira que a planície mato-grossense. Apesar do nome, que lembra charco e por isso pode dar margem a confusão, a terra ali não é úmida, mas árida. A palavra chaco vem do idioma quíchua, ainda hoje falado pelos indígenas da região, e significa terra de caça. Na sua parte central, o Chaco é um imenso descampado, dominado por bosques baixos e vegetação de savanas. Ali não ocorrem inundações. Os poucos córregos que percorrem a planície são parcamente alimentados nas cabeceiras, localizadas nos altiplanos andinos, onde raramente chove-ao contrário do que acontece nas úmidas serras nas bordas do Pantanal, onde estão as nascentes do Paraguai e seus afluentes.
Do lado de cá da fronteira, o verde se transforma à medida que o Paraguai atravessa os 700 quilômetros de seu percurso pantaneiro. De leste para oeste da planície, o grande rio e seus afluentes passam por matas, cerrados e campos que, em alguns trechos, lembram a caatinga nordestina. Na parte sul e na borda ocidental, a vegetação se parece com a dos bosques chaquenhos. Calcula-se que durante o Período Quaternário, há 20 ou 30.000 anos, espécies de vegetação tropical e subtropical dos cerrados, do Chaco e da periferia da Amazônia disputavam o espaço enquanto os rios abriam caminho na planície. É por isso que um cientista como Fernando Flávio Marques de Almeida, da Universidade Estadual de Campinas, que trocou a Engenharia pela Geologia e estuda a região há quarenta anos, desde que se apaixonou por ela, afirma que não existe um único Pantanal na região. "São quase uma dezena, cada um com características diferentes", esclarece. A gente do lugar reconhece esses pantanais por nomes diferentes: pantanal de Cáceres, ou de Poconé, ou de Nhecolândia etc.
"Trata-se de uma espécie de mosaico, onde se interpenetram diversos ecossistemas e suas respectivas faunas", concorda outro pantanólogo, Francisco de Arruda Machado, o Chico, biólogo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Filho de pescadores, nascido numa vila perto de Cuiabá, Chico só podia mesmo se especializar no estudo da multidão de peixes da bacia do Paraguai. Segundo ensina, eles representam um dos elos mais importantes da riquíssima cadeia alimentar do Pantanal, capaz de sustentar animais de grande porte, em vias de extinção  em outros pontos do território brasileiro, como a onça-pintada, o lobo-guará, o tamanduá, a capivara e o cervo.
Durante a época das cheias, cardumes e mais cardumes sobem os rios para a desova, no conhecido fenômeno da piracema. Os filhotes se alimentam de microorganismos e da vegetação aquática, como os aguapés, que cobrem as áreas inundadas, ou baías, conforme se diz na região. Quando vem a vazante, muitos rios interrompem seu curso, formando uma seqüência de pequenos lagos, onde jacarés, cobras, pequenos roedores e pássaros fazem a festa. "Numa lagoa de 2 metros quadrados se encontram sessenta espécies de peixes convivendo lado a lado", contabiliza Chico, orgulhoso.
Alterar esse sistema, a conseqüência inevitável da interferência humana em larga escala na região, significa desequilibrar o ciclo de vida no Pantanal. Sabe-se, por exemplo, que o acréscimo de aguapés, provocado pelo assoreamento dos rios, e a matança indiscriminada dos jacarés, estão aumentando os cardumes de piranhas nos rios. Não existem números comparativos a respeito, mas o fato é certo. As aves -a forma de vida que mais chama a atenção no Pantanal- também estão ameaçadas. No caso, o vilão é o uso de agrotóxicos nas plantações de soja a em volta da planície. Mas a fartura de asas e plumas é tamanha que, ao menos por enquanto, ainda não há por que se preocupar.
Infinidades de aves coloridas, entre os quais espécies migradoras, habitam os viveiros pantaneiros, que às vezes cobrem mais de 1 quilômetro de bosques. Ali voam garças, araras, papagaios, biguás, maçaricos, batuíras, colhereiros -e os tuiuiús, de corpo branco e pescoço vermelho, escolhidos por sua beleza como o símbolo oficial da região. Deslumbrados com toda essa abundância, os mais entusiasmados fãs leigos do Pantanal asseguram que a região, como manancial de espécies, é ainda mais rica que a Amazônia. É e não é. Na verdade, explica o ecólogo Wellington Braz Carvalho Delitti, da USP, "as espécies da floresta são mais variadas, mas no Pantanal a quantidade é mais perceptível". 

Um mundo de cheias

No coração da América do Sul, o Pantanal Mato-grossense é uma exceção à regra da formação das planícies inundáveis. As demais surgem quase sempre junto à costa e na altura dos deltas dos rios. A bacia do Amazonas, que se estende por quase 7 milhões de quilômetros quadrados, tem épocas variadas de cheias, conforme o trecho do rio, e apenas uma estreita faixa de várzea inundada. As maiores planícies inundáveis do mundo estão na Ásia. É o caso da planície do Rio Yang Tsé, na China, que ocupa 2 milhões de quilômetros quadrados, onde existem cidades, como Xangai, cujas populações também se contam aos milhões. As enchentes do Rio Yang Tsé podem inundar centenas de quilômetros de planície. Além deste, também o Rio Huang Ho, no norte da China, forma terras inundáveis e pantanosas.
No Sudeste Asiático, o Rio Mekong inunda as planícies do Laos, Camboja, Vietnã e Tailândia, sendo responsável pela principal cultura da região: o arroz. A planície do delta do Ganges, entre a Índia e Bangladesh, também forma um dos territórios mais férteis e por isso mesmo mais populosos do mundo. Ali, a paisagem alterna plantações de chá e de arroz com florestas tropicais e pântanos. Em contraste, no norte do continente, os rios siberianos Ob, Ienissei e Lena recebem a neve e o gelo derretido dos maciços da Ásia Central e inundam uma terra menos habitada e coberta pela vegetação de tundra, antes de desaguar no Ártico. Uma das planícies inundáveis mais famosas do mundo fica no delta do Mississípi, o maior rio dos Estados Unidos, que cobre uma área superior a 3 milhões de quilômetros quadrados. Antes de desaguar no Golfo do México, forma uma malha de canais, cercados por bosques baixos, povoados por uma infinidade de aves e jacarés-agora raros.

Mau exemplo na Flórida

Corresponde apenas a 6% do Pantanal Mato-grossense. No entanto, representa a maior planície inundável dos Estados Unidos. A região de Everglades (literalmente, clareira perpétua, em inglês), quase 10 mil quilômetros quadrados no sul da Flórida, foi até o século passado um emaranhado de pequenos córregos, lagos e brejos, uma terra pantanosa, habitada por crocodilos, panteras e aves a não poder mais. Hoje, quase dois terços do território estão ocupados por plantações. Grandes cidades, como Miami e Fort Lauderdale, se assentam sobre as suas bordas; uma rede de rodovias absorve a água das chuvas. O pantanal americano ficou confinado ao Parque Nacional de Everglades, que margeia o Atlântico até a ponta da península, e a algumas áreas vizinhas, onde subsistem treze espécies de animais em extinção, entre as quais, contadas uma a uma, trinta panteras.
A água circulava nessa planície sedimentar no mesmo ritmo lento de enchentes do Pantanal brasileiro. Mas em vez de um grande rio, ali está uma cadeia de lagos, ainda existente ao sul de Orlando, terra da Disneyworld. São esses lagos que alimentam o grande reservatório de Okeechobee, considerado o coração de Everglades. Dali, a água se espalha por quilômetros, inundando uma terra baixa e de vegetação rasteira até misturar-se com o mar. Para sustentar o desenvolvimento da região, todo esse sistema foi drenado. Mas, com o tempo, o solo secou. E o suprimento de água dos 5 milhões de habitantes do sul da Flórida corre o risco de entrar em colapso. Para evitar a calamidade, planeja-se o retorno aos bons velhos tempos. Isso significa restaurar o curso original de rios e o nível dos lagos, afastar os poluentes, reconstruir estradas e desapropriar terras-uma respeitável conta de 300 milhões de dólares.

Perigos no paraíso

Mesmo os ambientalistas radicais hão de concordar que, às vezes, a intervenção do homem na natureza vem para bem. A introdução do gado no paraíso mato-grossense, nas primeiras décadas deste século, por exemplo, acabou trazendo benefícios insuspeitados. A criação extensiva preencheu milhares de quilômetros quadrados com atividades econômicas que jamais perturbaram o equilíbrio ecológico. E o terreno arenoso, que não se presta à agricultura, serve perfeitamente ao florescimento de pasto, excelente alimento para bois e outros herbívoros. A região possui poucas cidades (as maiores são Campo Grande, com perto de 400 000 habitantes, Cuiabá e Corumbá) e a maior parte do território é ocupado por fazendas pastoris, daquelas que se percorre melhor de avião, escassamente povoadas.
Outros perigos, no entanto, ameaçam este éden. Recentemente, um encontro realizado em São Paulo pela Fundação Pantanal Alerta Brasil, uma organização ambientalista, mostrou a fragilidade do equilíbrio ecológico da planície. "As terras inundáveis sofrem muito com as alterações que acontecem nas bordas da planície", acusou na ocasião o geólogo José Domingos Godoy Filho, da UFMT. "O Pantanal recebe toda a carga de agrotóxicos das plantações de soja situadas nas cabeceiras dos rios e sente seus efeitos, como a erosão, assoreamento e contaminação das águas." Além disso, a mineração, praticada na beira dos rios, já transformou trechos da paisagem idílica em verdadeiras crateras. Como também lembra o geólogo, um paulista seduzido pelo Pantanal, o mercúrio usado pelos garimpeiros para localizar ouro, depois de escapar para a atmosfera, retorna ao solo e aos rios, trazido pela chuva, contamina a natureza e envenena gente e bichos. Se isso não bastasse, descobriu-se que as queimadas realizadas nos cerrados do Brasil Central elevam a níveis alarmantes a concentração de gás carbônico na atmosfera do Pantanal, durante a estação seca. Como se sabe, o gás carbônico, resultante do fogo ou da combustão de derivados de petróleo, é um dos maiores causadores do efeito estufa. Como acontece em Porto Velho, a capital de Rondônia, por causa dos gigantescos incêndios provocados pelo desmatamento da Amazônia, também em Cuiabá, no Mato Grosso, que fica ao norte do Pantanal, a fumaça das queimadas obrigou várias vezes ao fechamento do aeroporto por falta de visibilidade.
No encontro de São Paulo, os cientistas brasileiros que defendem uma ocupação menos predadora do Centro Oeste, como uma forma de evitar a destruição da paisagem do Pantanal, contaram com o apoio de um ilustre colega americano. O biólogo Estus Whittfield, diretor da área de meio ambiente do governo da Flórida, comparou a região de Everglades, no seu Estado, ao Pantanal Mato-grossense. Segundo explicou, a ocupação do pântano de Everglades causou tamanho problema no abastecimento de água do sul da Flórida que hoje os americanos estão gastando cerca de 300 milhões de dólares para curar as dores de cabeça que o desenvolvimento trouxe à região. "Se eu lhes contar a nossa história, vocês não vão querer cometer os mesmos erros", ofereceu-se Whittfield. Resta esperar que os brasileiros estejam dispostos a ouvir.

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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Toda a vida do Mundo - Ambiente


TODA A VIDA DO MUNDO - Ambiente



Há mais vida na Terra do que o homem é capaz de saber: fala-se de 5 a 30 milhões de espécies. A biodiversidade fascina os cientistas, preocupados em conhecer e salvar toda essa riqueza.

Nos tempos bíblicos, Deus ordenou ao patriarca Noé que construísse uma arca para abrigar um casal de cada espécie de bicho enquanto o mundo se afogava no dilúvio universal. A missão de Noé pode ter sido ainda mais extravagante do que a lenda sugere. De fato, passados dois séculos desde que o botânico sueco Carolus Linnaeus (1707-1778) começou a classificar as formas animais e vegetais de vida, não se sabe quantas espécies dotadas de patas, rabos, antenas, asas, guelras, folhas, caules ou raízes existem. "Em todas as classes, a cada dia se descobre uma espécie nova", garante o zoólogo Miguel Trefaut Rodrigues, da Universidade de São Paulo. Há algum tempo, com outros pesquisadores, ele passou vinte dias enfurnado na Mata Atlântica do sul da Bahia, onde encontrou nada menos de catorze espécies ao que tudo indica desconhecidas de répteis e anfíbios, incluindo uma perereca que, com seus 10 centímetros de comprimento, talvez seja uma das maiores da América do Sul.
Isso é biodiversidade, o explosivo potencial que a vida possui de se multiplicar em miríades de formas adaptadas aos mais variados ambientes. Desbravando o globo de pólo a pólo, embrenhando-se em florestas e mergulhando nos mares, o homem conseguiu descrever 1,4 milhão de espécies, como se designa a unidade biológica fundamental. Cerca de 750 000 são insetos, 41 000 são vertebrados, 250 000 são plantas e o restante é uma coleção desconjuntada de outros invertebrados, algas, fungos e ainda microorganismos como bactérias e vírus. Parece um desvario da natureza - mas é pouco mais do que uma amostra. A maioria dos biólogos concorda que aquele censo não dá conta nem da terça parte dos passageiros convidados a embarcar na arca de Noé.
Os cientistas reconhecem, por exemplo, serem parcos os seus conhecimentos sobre a diversidade e a distribuição dos insetos, uma categoria que parece ter a preferência da natureza, pois constitui folgadamente a maioria dos seres vivos. O pesquisador americano Terry Erwin e seus colaboradores do Instituto Smithsonian de Washington tiveram a santa paciência de contar, uma a uma, as espécies de bichinhos nas copas de algumas árvores na Amazônia brasileira e peruana e extrapolaram o número encontrado para a área total de florestas tropicais. Resultado: somando as espécies estimadas dos insetos às outras presumivelmente existentes ali, obtiveram um megatotal de 30 milhões de formas distintas de vida. Mesmo quem acha que esse é um cálculo inflacionado demais aceita a hipótese de que pelo menos 5 milhões de espécies povoam o mundo. E não há dúvida de que a maioria anônima está escondida no verde e na água das florestas tropicais.
Sabe-se preto no branco que mais da metade da bicharada do planeta tem seu endereço nos trópicos, mais precisamente nos 7% da superfície do globo coberta por florestas tropicais. A desmedida variedade das espécies vegetais ainda é menor que a de insetos, peixes e microorganismos. Uma pesquisa recente mostrou que 950 espécies de besouros, 80% das quais desconhecidas, estavam instaladas em apenas dezenove árvores da selva tropical do Panamá. Como em cada hectare da Floresta Amazônica existem 300 espécies de árvores, dez vezes mais do que nas regiões temperadas da América do Norte, por exemplo, não é de espantar que o Brasil, onde a floresta ocupa 42% do território, seja o campeão mundial da biodiversidade.
Segundo uma classificação elaborada pela respeitável organização ambientalista internacional World Wide Fund for Nature (Fundo Mundial para a Natureza), o Brasil é o primeiro país do mundo em número de espécies de plantas e de anfíbios, o terceiro em aves e o quarto em borboletas, répteis e mamíferos. "Das 1 100 espécies conhecidas de sempre-vivas (um tipo de flor comum em adornos), 700 encontram-se entre Minas Gerais e Bahia", contabiliza a botânica Ana Maria Giulietti, da USP. "Só numa lagoa do Parque do Rio Doce, em Minas, existem mais espécies de libélulas do que em todo o território britânico", compara, por sua vez, o entomologista Ângelo Machado, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele é também presidente da Fundação Biodiversitas para a Conservação da Diversidade Biológica, uma entidade de cientistas ambientalistas criada há dois anos em Belo Horizonte que, como o nome já diz, se dedica à defesa desse incomparável tesouro que o homem vem dilapidando.
Machado explica por que "nossas várzeas têm mais flores, nossas flores têm mais vida", como se gabam os versos ufanistas de Gonçalves Dias. "No passado", ensina ele, "as zonas temperadas sofreram o rigor das glaciações, que sacrificaram inúmeras espécies e empurraram outras a regiões de climas mais quentes. Enquanto isso, próximo dos trópicos, o ambiente permaneceu estável, o que facilitou o desenvolvimento de ecossistemas mais ricos e complexos, adaptados a um clima com pouca variação." É o que aconteceu, não apenas no Brasil, mas também no México, na Colômbia, na África central e no sul da Ásia, igualmente bem situados no ranking da World Wide Fund. A Colômbia é o país mais rico em diversidade de espécies por unidade de área. Já a Indonésia se destaca não apenas pela variedade de espécies terrestres mas por possuir no seu litoral o mais rico tesouro de organismos marinhos.
Mesmo nas regiões tropicais existem áreas de preferência da bicharada. Perplexos com essa valorização, biólogos do mundo inteiro seguiram o exemplo do brasileiro Paulo Emílio Vanzolini e foram buscar respostas na Geomorfologia, ramo da ciência que estuda as formas do relevo terrestre. Baseado por sua vez nos trabalhos de um colega da USP, o geógrafo Aziz Ab´Saber, Vanzolini - um especialista no mecanismo de multiplicação das espécies, também conhecido por seus sambas - descobriu que a distribuição da vida nas florestas da Amazônia e na Mata Atlântica está relacionada à história antiga dessas formações. Durante a mais recente glaciação, que durou cerca de 10 000 anos, nesta parte do globo períodos frios e secos alternaram-se com outros mais quentes.
Quando o clima esfriava, as florestas encolhiam, cercadas por cerrados, pradarias e caatingas. Os pequenos grupos de espécies, isolados de seu território ancestral, lentamente começaram a se adaptar às peculiaridades locais. É o que os cientistas chamam de diferenciação em isolamento, um processo que leva ao endemismo. Este fenômeno, que ocorre em lugares menos acessíveis, montanhas e ilhas, marcou a peculiar flora e fauna da Austrália - simbolizada pelos cangurus e coalas - assim como da ilha de Madagascar, na costa oriental da África, o paraíso das orquídeas e dos primatas. Muito mais tarde, quando a floresta voltou a se expandir, aquelas espécies já tinham acumulado tantas variações genéticas que perderam por completo o parentesco com seus antepassados.
Comparados às espécies terrestres, os organismos marinhos estão mais bem distribuídos justamente porque toparam com menos barreiras físicas. Não é de estranhar, portanto, que a diversidade de espécies nos oceanos seja também menor. Em compensação, como a vida surgiu na água muitos milhões de anos antes que em terra, os oceanos abrigam formas mais antigas, como algas, moluscos, esponjas e corais. Para o biólogo Eurico Cabral de Oliveira, ex-diretor do Centro de Biologia Marinha da USP, "o equivalente marinho das florestas tropicais são os recifes de coral" - colônias de organismos invertebrados onde vivem numerosas espécies de peixes, moluscos, além de pássaros e tartarugas. "Como as florestas", compara o biólogo, "os corais são ecossistemas complexos e por isso mesmo de equilíbrio delicado."
Por pouco que se saiba sobre as espécies terrestres, ainda é muito comparado com o que se sabe dos oceanos. Recentemente - para surpresa de quem achava que a vida em profusão só existia nas águas mais iluminadas - se descobriu no fundo do Pacífico nada menos de uma centena de espécies estranhíssimas de organismos. Mais do que quaisquer outros terráqueos, são uma prova da incrível capacidade de diversificação e adaptação a todo tipo de ambiente. Costuma-se dizer que a variedade é a própria essência da vida, pois sem a matéria-prima que ela proporciona não haveria evolução. Cada organismo, como se sabe, contém uma quantidade colossal de informações genéticas que determinam todas as suas características. Mas os organismos individuais não evoluem - eles só podem crescer, reproduzir-se e morrer. As mudanças que entram para a história ocorrem nas espécies, a unidade básica da evolução. "Assim, de um mesmo ancestral podem se originar espécies tão diferentes como as lhamas que se adaptaram à Cordilheira dos Andes e os camelos aos desertos da África", lembra o biólogo Vanzolini.
Quando o clima, a água e a alimentação são constantes, as espécies podem repartir o ambiente para não tropeçar umas nas outras, ocupando diferentes nichos ecológicos, como dizem os biólogos. Nas planícies africanas, por exemplo, existem vários tipos de mamíferos que se alimentam de folhagens. Só que as girafas vão buscar o almoço nas copas das árvores, os rinocerontes preferem os arbustos e as zebras comem gramíneas. Mas o destino de uma dada espécie está sujeito a mais interferências do que é capaz de conceber a ciência humana - sem falar que o acaso desempenha um papel não desprezível nessa loteria. Desse modo, sem que se saiba ao certo por quê, algumas espécies tiveram mais sucesso, ao passo que outras passaram despercebidas pelo livro da vida e outras ainda desapareceram abruptamente durante as grandes extinções do passado, como aconteceu com os dinossauros há 65 milhões de ano.
Diante da interdependência e da complexidade dos processos que acontecem na natureza, nunca se sabe quando uma espécie pode representar um papel fundamental para a sobrevivência do homem. Assim, se não por um respeito moral à vida, ou pelo desfrute da beleza que sua variedade proporciona, o mero egoísmo aconselharia salvar o próximo. Não se trata de um raciocínio hipotético. Quem acha, por exemplo, que o mundo estaria melhor sem a enorme variedade de insetos que parecem ter nascido com a exclusiva finalidade de nos infernizar deveria dar uma olhada numa pesquisa feita pelos americanos. Eles calcularam que os insetos causavam um prejuízo de 7 bilhões de dólares anuais nos Estados Unidos. Ruim com eles, pior sem eles. Se os insetos fossem destruídos, os prejuízos que a agricultura teria com a ausência de polinização das plantas seria da ordem de 9 bilhões de dólares. Um exemplo brasileiro: se desaparecesse a mosca que poliniza o cacau no sul da Bahia ou a abelha que faz o mesmo com a castanha no Pará, estaria decretada a falência de importantes atividades econômicas dessas duas regiões.
Com o advento da Engenharia Genética, o estudo da diversidade de animais e plantas tornou-se uma prioridade científica nos países ricos. Isso porque, cada espécie, seja de macaco, barata, rosa ou bactéria, representa um estoque de genes cujo potencial apenas começa a ser arranhado. A humanidade já lucra muito com a herança transmitida por alguns organismos: calcula-se que um em cada quatro tipos de medicamentos contém ingredientes derivados de plantas silvestres. Pacientes com leucemia sobrevivem graças a substâncias contidas numa planta chamada pervinca. A dedaleira ajuda a regular os batimentos cardíacos. O cará proporciona o ingrediente ativo dos anticoncepcionais. O jaborandi combate o glaucoma. A barba-de-bode e a casca do salgueiro têm propriedades analgésicas semelhantes às da aspirina. Fungos e microorganismos-categorias ainda menos identificadas que a dos insetos - foram a chave para o desenvolvimento dos antibióticos e mais recentemente da ciclosporina, o bendito remédio que diminui os riscos de rejeição em transplantes.
O problema é que, para onde quer que se olhe, o homem parece ter declarado guerra às plantas e aos animais. É o desmatamento, os acidentes ecológicos, a ocupação desordenada e a poluição em terra. Os conservacionistas fizeram as contas e obtiveram um número de arrepiar. Se continuar o ritmo atual de destruição da natureza, nos próximos 25 anos cerca de 1,2 milhão de espécies desaparecerão por completo da face da Terra. Ou seja, estamos assistindo sem saber a um genocídio de cem espécies por dia.
O entomologista Ângelo Machado, da Fundação Biodiversitas, se irrita quando lhe perguntam por que conservar animais como o mico-leão-dourado, um primata característico da Mata Atlântica, que está na lista das 207 espécies ameaçadas de extinção elaborada pela Sociedade Brasileira de Zoologia. "O homem é uma espécie curiosa", raciocina ele. "Tem um apreço enorme pelas coisas bonitas que ele mesmo cria, mas destrói as que encontra prontas na natureza. Já imaginou se algum tipo de fungo destruidor de pinturas se alastrasse pelos museus e acabasse com a Mona Lisa ou com as telas de Van Gogh? Antes de mais nada é preciso preservar o mico-leão e outras espécies porque são obras de arte da natureza que levaram milhões de anos para serem criadas."
É possível preservar em parte, em zoológicos, jardins botânicos e bancos de sementes, o muito que ainda resta das espécies. Um exemplo é dado pelo paisagista Roberto Burle Marx. que reúne em seu sítio de Guaratiba, Rio de Janeiro, 3 500 espécies de plantas. Os ecologistas, no entanto, não querem apenas salvar espécies exóticas, mas processos evolutivos. E estes só podem ocorrer nos ecossistemas que Ihes deram abrigo. "Temos que dar chutes na direção certa", recomenda o biólogo Gustavo Fonseca, que leciona Ecologia na UFMG. "É impraticável preservar indefinidamente os ambientes naturais, mas se pode lutar por uma política realista de áreas de conservação."

Os sobreviventes e as vítimas.

O desaparecimento das espécies - e a conseqüente perda do seu material genético - é um fenômeno quase tão antigo quanto a própria vida. Os paleontólogos distinguem cinco episódios de extinção em massa durante os quais uma fração significativa de biodiversidade foi extinta. Os motivos são ignorados ou controversos. O primeiro caso ocorreu no Ordoviciano, há cerca de 450 milhões de anos, quando foram quase eliminados os trilobites, espécies de animais invertebrados. No Devoniano, desapareceu a maior parte das espécies de peixes, diminuíram os corais e os crinóides, animais marinhos. Mas a vida na Terra correu real perigo uma centena de milhões de anos adiante, no Permiano, quando mais de 90% das espécies e todos os trilobites desapareceram. Os sobreviventes abriram caminho para o aparecimento, entre outros, dos dinossauros.
As extinções continuaram. No Jurássico, morreram 75% das espécies de amonites (moluscos) e de crinóides. A mais falada extinção foi a dos dinossauros, que desapareceram no final do Cretáceo junto com os amonites. Em compensação os mamíferos se espalharam pela Terra. Muitos cientistas acusam um descendente desses mamíferos, o homem moderno, de estar promovendo a próxima extinção em massa das espécies. No seu livro O polegar do panda, o biólogo americano Stephen Jay Gould afirma que "aquele que se alegra com a diversidade da natureza e sente que aprende com cada animal tende a considerar o Homo sapiens como a maior catástrofe desde a extinção cretácea".

Comida no congelador.

Há quinze anos, a Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) criou uma rede mundial de recursos genéticos, destinada a salvar centenas de espécies de plantas silvestres das quais o mundo pode vir a precisar como alimento e remédio. São os bancos de germoplasma, o material genético estocado nas sementes, mudas, células e sêmen, guardados em geladeira, a temperatura de 20° C negativos. No Brasil, o Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), em Brasília, mantém cerca de 35 mil amostras de sementes de espécies de mandioca, milho, batata, feijão, arroz - alimentos que fazem parte do cardápio da população - e outras que talvez só os índios e os especialistas conheçam. Ao preservar dessa maneira a diversidade da natureza, os cientistas pretendem em primeiro lugar melhorar a produtividade agrícola das espécies conhecidas, especialmente agora que a Biotecnologia e a Engenharia Genética permitem selecionar plantas mais resistentes. Muitas variedades silvestres também podem substituir as vinte espécies de plantas responsáveis pela maior parte da alimentação do homem. Pode chegar um tempo em que espécies como a quinua, um grão que já entrou na dieta básica dos incas, mas é quase desconhecido fora dos países andinos, se tornem uma das mais produtivas fontes de proteína para o homem.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A pequena fera - Tigre de Bali

A PEQUENA FERA - Tigre de Bali



Cem quilos era o peso máximo que atingia um macho de Panthera tigris balica, ou tigre-de-báli, considerado extinto desde 1937, quando o último exemplar foi abatido em Sumbar Kima, no oeste de Báli. Menor das oito subespécies do Panthera tigris, com tamanho parecido ao do leopardo, esse animal se diferenciava dos parentes mais próximos também pelos formatos do crânio, do osso do focinho e da arcada dentária. A pelagem, curta e densa, se assemelhava à do tigre-de-java, subespécie também extinta, com listras mais densas. Essa semelhança encontra explicação na Era Glacial, ocorrida entre 20 000 e 12 000 anos atrás, quando as ilhas de Báli e Java, na Indonésia, ainda não haviam sido separadas.
A aproximação do homem e o avanço da agricultura mudaram as características do habitat do felino. No início do século 20, era possível que o bicho vivesse apenas nas áreas mais montanhosas e no oeste da ilha, onde a população humana estava mais espalhada. Entre as duas grandes guerras mundiais, os europeus que moravam em Java desembarcavam em Báli para caçar o tigre, até o dizimarem por completo. Aliás, essa subespécie foi a primeira das oito a se extinguir. Depois dela, duas outras - os tigres-do-cáspio e os tigres-de-java - também desapareceram do planeta, e as demais estão todas ameaçadas.
Se um tigre-de-báli macho não passava de 100 quilos, as fêmeas eram ainda menores - pesavam entre 65 e 80 quilos. E eram carnívoros e se alimentavam de mamíferos robustos. Por serem capazes de comer até 18 quilos de carne em uma única refeição, perseguiam animais pequenos apenas quando estavam velhos ou machucados, já que os hábitos solitários dos tigres não permitiam que eles vivessem em bandos. Portanto, tinham de se virar para conseguir comida sozinhos.
Os cientistas não tiveram tempo suficiente para avaliar o Panthera tigris balica antes da extinção. Mas, por se tratar de uma subespécie, ele tinha muito em comum com outros tigres, como o gosto pela água. Atrair a presa para as margens de um riacho ou lago e persegui-la cada vez mais para o fundo era uma das formas mais eficientes de caçar. As unhas, retráteis e importantes para os ataques, jamais perdiam o fio, mesmo que o animal caminhasse por solos rochosos, úmidos, gramados ou lamacentos. Capazes de se camuflar e com um andar leve e silencioso, esses felinos só partiam para cima da vítima quando já estavam muito próximos. Geralmente, um tigre não invadia o território de outro do mesmo sexo, mas os domínios de um macho se estendiam sobre os de várias fêmeas. Assim, ele formava um harém, que contava com a sua proteção. Como as outras subespécies, o tigre-de-báli podia matar os recém-nascidos se o instinto indicasse que não eram seus filhotes. Dessa forma, logo a fêmea entraria num novo período de cio. Passado um ano e meio, o filhote que conseguisse sobreviver já era considerado maduro, mas só se afastava da mãe seis meses depois.

Tigre-de-bÁli
Nome científico: Panthera tigris balica
Ano da extinção: 1937
Habitat: Ilha de Báli

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Congo - Região Selvagem

CONGO - Região Selvagem



Poucos lugares do planeta mexem tanto com o imaginário dos homens quanto as florestas do coração da África. É nessa região que estão aqueles mamíferos de grande porte que fazem sucesso em filmes de safári, como os gorilas, antílopes, girafas e búfalos. São os bichos que as crianças gostam, os bichos que lotam zoológicos e que, em seu hábitat, provocam um encanto inevitável.

Macacos, tucanos e papagaios enfeitam as árvores. Crocodilos e hipopótamos são os donos das margens dos rios. Nas relvas, imperam os antílopes e búfalos. Costuram as paisagens, criam caminhos, abrem clareiras, alimentam-se de outros bichos, isolam-se quando necessário. A cena se passa na frente de quem consegue chegar em torno do rio Congo, um dos maiores do mundo em volume d’água. Ali está o segundo maior bloco de florestas tropicais - só perde em tamanho para a Amazônia. Sete países englobam esse bioma: República Democrática do Congo, República do Congo, Gabão, Camarões, República da África Central, Guiné Equatorial e Angola.

O grande atrativo do Congo é a concentração de gorilas acima da média: mais de cinco indivíduos por quilômetro quadrado. Os que melhor representam a área são os de grande porte: o gorila de terras baixas, o chimpanzé da África Central e o bonobo, o parente mais próximo do ser humano, com o qual dividimos 98% de nosso DNA. O número de gorilas de terras baixas é o maior do mundo, mais de 100 mil indivíduos. Endêmico da região da República Democrática do Congo, o bonobo é encontrado entre os rios Congo e Kasai e se espalha por uma área de 840 mil quilômetros quadrados. Sua população está estimada em até 20 mil indivíduos. A caça desses macacos não é apenas um ameaça à existência deles, mas também aos próprios seres humanos que se alimentam dos bichinhos: são fortes as evidências da conexão entre as epidemias do mortal vírus Ebola e o consumo de carne de macaco. Talvez um dos primeiros grandes castigos à invasão humana numa das regiões selvagens mais importantes do mundo.

O lugar é como a floresta Amazônica, mas chove bem menos que no bioma brasileiro. Embrenhar-se pelas florestas do Congo também é trabalhoso, mas a mata é mais aberta e há clareiras naturais, chamadas bai, onde os animais procuram por água, sais minerais e comida. Cada um fica na sua - difícil ver mamíferos grandes como elefantes e macacos dividindo a mesma bai.

Para chegar lá, porém, é necessário fazer uma via sacra. Viajar horas pelo rio Congo, em pequenas canoas. Dormir em tendas de campana no meio da selva e caminhar em trilhas - algumas, até mesmo, são criadas por elefantes! Pelo caminho, navegando o Congo, já é possível ouvir macacos gritões se jogando das árvores e o barulho agudo dos pássaros. O acesso a esse mundo colorido é mais comum pelo Parque Nacional de Odazala, um dos dois parques mais importantes da região. O outro é o Parque Nacional de Nouabalé-Ndoki.

Até hoje, poucos estudos mapearam a vegetação da África Central. Três áreas principais podem ser identificadas: a floresta tropical perene, a floresta tropical semidecidual e os pantanais, às margens dos rios Congo e Sangha - lar do mítico animal mokélé mbembe, o matador de elefantes, uma criatura folclórica que parece um dinossauro que alguns habitantes dizem avistar na região.



Área total - 1 725 221 km²

Área intacta - 70%
Área protegida - 8,1%


Conservação e ameaça
A exploração comercial dos recursos naturais ocorre há séculos na África Central e ainda é intensa nos dias de hoje, causando conflitos entre os diversos países do Congo. A instabilidade que essas batalhas trazem para a área somadas à exploração são as maiores ameaças à biodiversidade. As matas são cortadas mais rapidamente do que podem crescer e os animais são caçados em velocidade maior que sua reprodução. A construção de estradas, a instalação de indústrias e a conversão da agricultura são preocupações ainda mais imediatas. Na República da África Central, quase todas as regiões de florestas do país serão transformadas em terras agrícolas até 2025, se nada não for feito. A manutenção da biodiversidade da vida selvagem nas florestas do Congo dependerá da atenção e ação de organismos internacionais, já que há, no país, instabilidade política e econômica.

PANTANAL - Região Selvagem

PANTANAL - Região Selvagem



Metade do ano inundado, um paraíso gigantesco que fica no meio do Brasil. Banhado periodicamente pelo rio Paraguai e seus afluentes - Cuiabá, Aquidauana, Miranda e Negro -, o Pantanal é um dos lugares mais animadores para aventureiros que adoram ver animais selvagens. Não é difícil, porém, perder o horizonte de vista na maior planície inundável do mundo: a luz vem de todos os lados e parece que o sol se põe devagar. As águas caudalosas movem-se calmamente e os milhares de jacarés parecem viver em extrema tranqüilidade. Tanta facilidade para estar no meio do bioma é uma porta aberta para ecoturistas, mas pode ser um pesadelo para os preocupados com a preservação do local, ainda em estado bastante selvagem.

O Pantanal é situado 35% no estado do Mato Grosso e 65% no Mato Grosso do Sul. Tem duas estações distintas: a de seca e a de chuva. Por mais que a paisagem se altere em cada uma delas, o visual é eminentemente plano. Como está localizado no centro da América do Sul, a região não sofre influência direta dos oceanos. Se o clima tropical se altera além do normal é por massas de ar que podem vir dos pampas e do chaco. Geralmente, faz muito calor no Pantanal mas a temperatura pode chegar próxima a 0° C. De qualquer forma, são as águas doces dos rios alimentados pela chuva que vão determinar o funcionamento dos ecossistemas desse lugar. Os ecologistas chamam o processo anual de enchente e seca no Pantanal de "processo ecológico essencial". Traduzindo, é o processo que comanda a abundância e distribuição de vida nesse lugar.

Entre novembro e março, quando os rios transbordam - as terras arenosas e as gramíneas não dão conta de absorver toda a água -, depressões se transformam em grandes lagos. Parte da vegetação alagada morre e a matéria orgânica serve de alimento para peixes e substrato para a formação de algas e microorganismos. Os alagamentos não são tão rápidos. Dá tempo de os bichos fugirem em busca de terrenos mais elevados. Isso se eles não forem os jacarés, animal presente em grande quantidade na região, que adora a volta das águas.

Quando vem a época de seca no Pantanal, a vegetação terrestre cresce de novo nas áreas que eram alagadas e as regiões mais baixas viram ótimas pastagens para o gado. Mais altas que os rios, as árvores perdem suas folhas para proteger-se. Agora para se defender do calor e da falta de água, muitos jacarés se enterram na lama, entre as folhagens ou debaixo dos galhos perto de poças d’água. Estudos comprovaram que os jacarés não se movimentam só na água, mas em distâncias de mais de 10 quilômetros por terra, mesmo que em procura de locais mais úmidos.

Os jacarés estão espalhados por toda a planície pantaneira: jacaré-do-pantanal, jacaré-do-papo-amarelo e jacaré-paguá. É comum vê-los aglomerados: milhares podem estar em apenas centenas de metros quadrados, um em cima do outro. A aparência nada amigável, no entanto, assusta mais do que deve. Eles geralmente não atacam humanos, só quando são molestados. E andam em bandos.

O animal mais simbólico na região é a onça-pintada. Bem mais difícil de ser vista - quem a encontrar na beira de um lago tomando água, deve parar, observar e agradecer a sorte de ter contemplado um bicho selvagem tão encantador. Não faz parte de sua natureza atacar as pessoas, mas é bom tomar cuidado. Andam sozinhas, atacam répteis, mamíferos e até peixes. Num só salto conseguem capturar a presa. Sobem em árvores se for necessário. Apesar de ágeis, são espécie ameaçada pelo homem.

Mansa mesmo, e espalhada aos montes pelo Pantanal, é a capivara. Um dos maiores roedores do mundo, esse animal está presente em toda a América do Sul, mas, no Brasil, principalmente nessas terras centrais onde há água, campo de pastagem e mata. Circulam livremente perto de humanos. Entram na água para se refrescar nos picos de calor e passeiam pelos campos nos fins de tarde. Mas os reis da paisagem são as aves. Há mais de 400 espécies de cores e tamanhos diversos. Habitam o Pantanal cerca de 5 mil pássaros. São garças, araras, maguaris e outros. A ave-símbolo é o tuiuiú. Espetáculo mais procurado entre pesquisadores e turistas são os grandes ninhais que as aves formam nas árvores para se procriar juntas. O aspecto selvagem está tão presente e tão acessível que a preocupação com essa área deveria ser redobrada.



Área total - 210 000 km²

Área intacta - 80%
Área protegida - 2,7%


Conservação e ameaça
O maior desafio à preservação da região do Pantanal é controlar as atividades econômicas e suas modificações. A pecuária, o turismo e a pesca são práticas tradicionais dessa região e, até agora, não causaram impactos muito significativos ao bioma. O Ministério do Meio Ambiente, no entanto, concluiu recentemente que a forma como essas atividades têm sido desenvolvidas pode mudar o quadro da relativa estabilidade. E para pior. A pecuária está mais competitiva: os fazendeiros estão desmatando as partes mais altas das planícies para o gado fugir para lá na época da enchente. O turismo, praticado geralmente sem grandes preocupações com a conservação, atrai cada vez mais novos visitantes por causa da divulgação das belezas do Pantanal. A pesca artesanal, que sempre foi praticada pela população local de forma inofensiva tem sofrido concorrência com a pesca recreativa. Uma competição injusta, já que uma é para a alimentação e a outra apenas para a diversão. Tendo em vista esses problemas, o governo federal montou o Programa de Desenvolvimento Sustentável do Pantanal, que prevê gestão dos recursos hídricos e solos, proteção dos ecossistemas e melhoria das condições ambientais das áreas indígenas. Paralelamente ao governo há ação de ONGs e iniciativas privadas. Há13 reservas particulares do patrimônio natural que protegem mais de 200 mil hectares. Uma dessas é a Fazenda Rio Negro, adquirida pela Conservação Internacional, que tem feito pesquisas, workshops e projetos de conservação no Pantanal.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Retrato em close da mata Atlântica

RETRATO EM CLOSE DA MATA ATLÂNTICA



A Mata Atlântica é uma região que possui uma das mais ricas biodiversidades do planeta. Originalmente, ela se estendia por toda a costa brasileira, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Após cinco séculos de destruição pelo homem, porém, restam apenas 7% do 1,47 milhão de quilômetros quadrados originais. A cada quatro minutos, ela perde o equivalente a um campo de futebol. Para preservar o que restou desse importante bioma (região com características de clima, solo, fauna e flora que a tornam única), um grupo de empresários, cientistas e ambientalistas criou, em 1986, a Fundação SOS Mata Atlântica, uma organização não-governamental.

Na época se tinha uma idéia aproximada do desmatamento em curso, mas não havia um quadro real de onde e como a vegetação estava sumindo. "Tínhamos bastante conhecimento do desmatamento e da situação a partir das bordas, mas eram poucas as informações precisas do miolo", lembra o geógrafo Mario Mantovani, diretor da SOS. A preocupação em conhecer a verdadeira dimensão do problema para buscar soluções mais eficientes levou a ONG a fazer uma parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). "Queríamos documentar o que restava do bioma e os pequenos focos de desmatamento, mas os instrumentos disponíveis não atendiam às nossas necessidades. Precisávamos do maior nível de detalhamento possível de uma área que cobre 16 Estados brasileiros."

Depois de quase quatro anos de trabalho, o Inpe apresentou, em 1991, um software que abriu um novo caminho para o mapeamento de biomas e o acompanhamento de sua degradação. A tecnologia deu origem ao Atlas da Mata Atlântica, lançado em 2004, e começa a ser usada também na Amazônia. "Antes, conseguíamos informações por meio de sobreposições de imagens e, no máximo, em uma escala de 1 para 250 000. O software nos proporcionou dados em uma escala de 1 para 50 000", diz geógrafo. "E o melhor é que essa tecnologia também permitiu que tudo seja disponibilizado para a sociedade de forma simples e prática."

Ao mudar a escala de visualização das áreas, o software possibilitou a confecção de mapas mais minuciosos. Até então, ao se fazer o levantamento da vegetação de áreas tão grandes, cada centímetro representado no documento correspondia a, no mínimo, uma área de 2,5 quilômetros. Com a nova tecnologia, a SOS conseguiu mapear os 16 Estados por onde a floresta se espalha com maior nível de detalhamento: cada centímetro do mapa corresponde a área de apenas 500 metros.

"Há diversos softwares no mundo que geram mapeamentos até mais detalhados, mas não de áreas tão grandes nem com a vegetação como tema. Com isso, passamos a identificar focos mínimos de desmatamento, aqueles feitos por pequenos proprietários, por exemplo. Pessoas que, se bem orientadas, podem perceber que têm maiores possibilidades de lucros, inclusive financeiros, conservando a mata do que a eliminando", diz Mantovani.
Em termos práticos, outro ganho importante com esta tecnologia é o desenvolvimento de políticas públicas locais. A região da Mata Atlântica está dividida no Atlas município a município. Assim, qualquer prefeitura, ONG, universidade ou até uma pessoa sozinha pode examinar a situação da Mata Atlântica no seu município e, com base nas informações dos mapas, promover ações locais. Essa base de dados serve para estimular pequenas ações que, somadas, podem ter grande efeito no bioma como um todo. "É praticamente impossível estabelecer medidas eficientes em nível nacional. Precisamos dessa soma de pequenas ações em rede para a recuperação da floresta", diz Mantovani. Ele acredita que, sem esse mapeamento, a mata certamente estaria condenada a desaparecer em poucos anos. Mantovani prevê que a tecnologia desenvolvida no Brasil poderá ser exportada em breve e contribuir para a conservação de biomas no mundo inteiro.®

Grande e frágil
A Mata Atlântica que Pedro Álvares Cabral encontrou nestas terras, ao desembarcar em 1500, estendia-se sobre um mar de morros e trechos baixos ao longo de toda a costa brasileira. Era uma verdadeira muralha, coberta com árvores de até 60 metros de altura e formava um sistema auto-suficiente de vida. Hoje, é impossível traduzir a biodiversidade da Mata Atlântica em números. Apenas uma pequena parte das espécies foi estudada - e muitas desapareceram sem que o homem ao menos soubesse que elas existiram algum dia.
As copas das árvores mais altas se fecham, formando uma cúpula protetora das espécies que se desenvolvem debaixo delas. As folhas e sementes que caem servem de alimento para insetos e outros animais que compõem a cadeia alimentar. Muitos são responsáveis pelo transporte de sementes e outras formas de reprodução da floresta, fechando o ciclo de vida. Qualquer intervenção, mesmo numa única espécie animal ou vegetal, pode levar a uma destruição em cadeia. A variação de características geográficas ajuda a enriquecer o grupo de ecossistemas. A diversidade vegetal e animal é tamanha que uma árvore da mesma espécie pode apresentar características diferentes conforme esteja no nível do mar ou no alto do morro.

O impacto da descoberta
Mapeamento minucioso, feito com a ajuda de um software desenvolvido pelo Inpe, permitiu verificar que apenas 7% da área original da Mata Atlântica está preservada, chamando a atenção para a necessidade de sua preservação

domingo, 5 de dezembro de 2010

O mapa quente da biodiversidade - Extinção

O MAPA QUENTE DA BIODIVERSIDADE - Extinção



Com tantas regiões na Terra sofrendo a ação devastadora do homem, é difícil para governos, ONGs e demais associações de proteção ambiental definirem suas prioridades. Quais são as áreas mais importantes para preservar a biodiversidade do planeta? Em 1988, o ecologista inglês Normam Myers identificou as áreas mais emergenciais. Elegeu dez locais no mundo que chamou de hotspots (literalmente, "pontos quentes", ou zonas de perigo). Na década seguinte, entre 1996 e 1999, o primatólogo americano Russell A. Mittermeier, presidente da ONG Conservação Internacional, reviu e ampliou esse conceito, delimitando 25 hotspots em todo o planeta, dois deles no Brasil: a Mata Atlântica e o Cerrado. Para ser caracterizada como hotspot, a área deve ter pelo menos 1 500 espécies endêmicas de plantas - que só existem naquela região - e já ter perdido mais de três quartos de sua vegetação original. Embora representem apenas 1,4% da área do planeta, os 25 hotspots abrigam 44% de todas as espécies de plantas e 35% das espécies de vertebrados terrestres. Veja no mapa.



Província Florística da Califórnia

Área original - 324 000 km2

Área que restou - 80 000 km2

Área protegida - 31 400 km2

Espécies identificadas* - 5 010

Endêmicas* - 2 196

Ameaçadas ou em extinção** - 14

Extintas** - 0



Micronésia e Polinésia

Área original - 46 000 km2

Área que restou - 10 000 km2

Área protegida - 4 900 km2

Espécies identificadas* - 6 899

Endêmicas* - 3 557

Ameaçadas ou em extinção** - 112

Extintas** - 38



Choco Darien

Área original - 260 600 km2

Área que restou - 63 000 km2

Área protegida - 16 400 km2

Espécies identificadas* - 10 625

Endêmicas* - 2 618

Ameaçadas ou em extinção** - 36

Extintas** - 0



Andes Tropicais

Área original - 1 250 000 km2

Área que restou - 314 500 km2

Área protegida - 79 600 km2

Espécies identificadas* - 48 389

Endêmicas* - 21 557

Ameaçadas ou em extinção** - 150

Extintas** - 2



América Central ou Mesoamérica

Área original - 1 150 000 km2

Área que restou - 231 000 km2

Área protegida - 138 400 km2

Espécies identificadas* - 26 859

Endêmicas* - 6 159

Ameaçadas ou em extinção** - 74

Extintas** - 4



Chile Central

Área original - 300 000 km2

Área que restou - 90 000 km2

Área protegida - 9 100 km2

Espécies identificadas* - 3 764

Endêmicas* - 1 666

Ameaçadas ou em extinção** - 8

Extintas** - 0



Caribe

Área original - 263 500 km2

Área que restou - 29 840 km2

Área protegida - 41 000 km2

Espécies identificadas* - 13 518

Endêmicas* - 7 779

Ameaçadas ou em extinção** - 131

Extintas** - 51



Cerrado Brasileiro

Área original - 1 780 000 km2

Área que restou - 356 600 km2

Área protegida - 92 700 km2

Espécies identificadas* - 11 268

Endêmicas* - 4 517

Ameaçadas ou em extinção** - 27

Extintas** - 0



Mata Atlântica

Área original - 1 470 000 km2

Área que restou - 121 600 km2

Área protegida - 33 000 km2

Espécies identificadas* - 21 668

Endêmicas* - 8 563

Ameaçadas ou em extinção** - 134

Extintas** - 1



Florestas do Oeste da África

Área original - 1 260 000 km2

Área que restou - 126 500 km2

Área protegida - 20 300 km2

Espécies identificadas* - 10 320

Endêmicas* - 2 520

Ameaçadas ou em extinção** - 77

Extintas** - 0



Bacia do mediterrâneo

Área original - 2 360 000 km2

Área que restou - 110 000 km2

Área protegida - 42 100 km2

Espécies identificadas* - 25 770

Endêmicas* - 13 235

Ameaçadas ou em extinção** - 52

Extintas** - 4



Karoo

Área original - 116 000 km2

Área que restou - 30 000 km2

Área protegida - 2 350 km2

Espécies identificadas* - 5 321

Endêmicas* - 1 985

Ameaçadas ou em extinção** - 13

Extintas** - 0



Cáucaso

Área original - 500 000 km2

Área que restou - 50 000 km2

Área protegida - 14 000 km2

Espécies identificadas* - 6 932

Endêmicas* - 1 659

Ameaçadas ou em extinção** - 13

Extintas** - 0



Florestas Costeiras da Tanzânia e do Quênia

Área original - 30 000 km2

Área que restou - 2 000 km2

Área protegida - 5 800 km2

Espécies identificadas* - 5 019

Endêmicas* - 1 621

Ameaçadas ou em extinção** - 50

Extintas** - 1



Madagascar

Área original - 594 100 km2

Área que restou - 59 000 km2

Área protegida - 11 500 km2

Espécies identificadas* - 12 987

Endêmicas* - 10 475

Ameaçadas ou em extinção** - 146

Extintas** - 46



Província Florística do Cabo

Área original - 74 000 km2

Área que restou - 18 000 km2

Área protegida - 14 000 km2

Espécies identificadas* - 8 762

Endêmicas* - 5 735

Ameaçadas ou em extinção** - 17

Extintas** - 2



Indo-Burma

Área original - 2 000 000 km2

Área que restou - 100 000 km2

Área protegida - 100 000 km2

Espécies identificadas* - 15 685

Endêmicas* - 7 528

Ameaçadas ou em extinção** - 126

Extintas** - 1



Costa Oeste da índia e Sri Lanka

Área original - 182 500 km2

Área que restou - 12 450 km2

Área protegida - 12 450 km2

Espécies identificadas* - 5 817

Endêmicas* - 2 535

Ameaçadas ou em extinção** - 35

Extintas** - 0



Sundaland

Área original - 1 600 000 km2

Área que restou - 125 000 km2

Área protegida - 90 000 km2

Espécies identificadas* - 26 800

Endêmicas* - 15 701

Ameaçadas ou em extinção** - 95

Extintas** - 0



Sudoeste da Austrália

Área original - 309 800 km2

Área que restou - 33 300 km2

Área protegida - 33 300 km2

Espécies identificadas* - 5 925

Endêmicas* - 4 441

Ameaçadas ou em extinção** - 26

Extintas** - 5



Montanhas do Sudeste da China

Área original - 800 000 km2

Área que restou - 64 000 km2

Área protegida - 16 500 km2

Espécies identificadas* - 13 141

Endêmicas* - 3 678

Ameaçadas ou em extinção** - 36

Extintas** - 0



Filipinas

Área original - 300 800 km2

Área que restou - 21 000 km2

Área protegida - 25 900 km2

Espécies identificadas* - 8 754

Endêmicas* - 6 387

Ameaçadas ou em extinção** - 123

Extintas** - 0



Wallacea

Área original - 347 000 km2

Área que restou - 52 000 km2

Área protegida - 20 400 km2

Espécies identificadas* - 11 142

Endêmicas* - 2 029

Ameaçadas ou em extinção** - 88

Extintas** - 0



Nova Caledônia

Área original - 18 600 km2

Área que restou - 5 200 km2

Área protegida - 526,7 km2

Espécies identificadas* - 3 522

Endêmicas* - 2 635

Ameaçadas ou em extinção** - 12

Extintas** - 1



Nova Zelândia

Área original - 270 500 km2

Área que restou - 59 400 km2

Área protegida - 52 000 km2

Espécies identificadas* - 2 517

Endêmicas* - 2 001

Ameaçadas ou em extinção** - 66

Extintas** - 25



* Plantas e animais vertebrados terrestres

** Animais vertebrados terrestres

*** Abrange proteção do entorno


Fonte: Conservação Internacional

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Evolução dos mamíferos é mais rápida em regiões quentes

25/06/09 - 15h01 - Atualizado em 25/06/09 - 15h35

Evolução dos mamíferos é mais rápida em regiões quentes, diz estudo
Pesquisa poderia explicar a riqueza da biodiversidade nos trópicos.

Um estudo realizado na Nova Zelândia sugere que a evolução molecular dos mamíferos é mais acelerada em regiões de climas mais quentes.

Os pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Auckland analisaram pares de mamíferos da mesma espécie e descobriram que o DNA dos que vivem em climas quentes muda com mais rapidez.

Essas mudanças â?? em que uma parte do código genético é substituída por outra - são conhecidas como "microevoluções" e representam o primeiro passo em direção à evolução.

Segundo os pesquisadores, o estudo ajudaria a explicar a riqueza da biodiversidade dos trópicos, já que a taxa de evolução seria maior nessas regiões mais quentes.

Diferenças
A pesquisa, publicada na revista científica Proceedings of the Royal Academy B, comparou o DNA de 130 pares de mamíferos -- um de cada par morava em altitude e latitude diferentes - de "espécies irmãs", que possuem similaridades genéticas.

Os pesquisadores observaram então as mudanças de um gene que codifica uma proteína conhecida como citocromo b, comparando o mesmo gene a um outro de "referência" em um ancestral em comum entre cada par de mamíferos.

Observando mutações desse gene no código de DNA - quando cada ponto de uma tabela do código genético era substituída por outra â?? os pesquisadores foram capazes de ver qual dos dois mamíferos tinha desenvolvido as "microevoluções" com maior rapidez.

Os resultados indicam que animais que habitam locais onde o clima é mais quente faziam uma vez e meia mais essas substituições genéticas do que aqueles que vivem em regiões mais frias.

Len Gillman, que coordenou o estudo, afirma que em latitudes mais altas, onde os ambientes são mais frios e menos produtivos, animais frequentemente conservam suas energias â?? hibernando ou descansando, para reduzir suas atividades metabólicas.

"Em climas mais quentes, a atividade metabólica anual é geralmente maior, o que os condicionará a um total maior de divisão de células por ano na linha germinativa", disse o pesquisador.

"Inesperado"
A ideia de que microevoluções ocorram com maior rapidez em ambientes mais quentes não é nova. Mas essa é a primeira vez que o efeito dessas mudanças pôde ser mostrado em mamíferos, animais que regulam a temperatura do próprio corpo.

"Nós já tínhamos encontrado um resultado parecido em espécies de plantas e, outros pesquisadores, em animais marinhos. Mas já que esses animais são ectotérmicos - ou seja, a temperatura de seus corpos é controlada diretamente pelo ambiente - todos assumiram que o efeito era causado pela condição climática, alterando, assim, a taxa de metabolismo desses animais."

Cientistas acreditam que essa ligação entre a temperatura e a taxa de metabolismo faz com que, em climas mais quentes, as células germinativas - que eventualmente desenvolvem-se em esperma e óvulos - se dividam com mais frequência.

"Ao passar do tempo, o aumento da divisão de células proporciona mais oportunidades para mutações ocorrerem em populações da mesma espécie. Isso aumenta a probabilidade de mutações favoráveis serem selecionadas de dentro de populações da mesma espécie", afirmou o pesquisador. .

"Nós suspeitamos que o mesmo efeito pudesse estar acontecendo em mamíferos, já que mudanças sazonais afetam as atividades dos animais", disse Gillman à BBC. "O resultado foi inesperado."