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sábado, 14 de fevereiro de 2015

É possível emagrecer com a força do pensamento?


É possível emagrecer com a força do pensamento?


Eric Robinson é um pesquisador da Universidade de Liverpool, na Grã-Bretanha, que tem uma ferramenta surpreendentemente útil para quem quer emagrecer. É algo que todos nós temos, mas talvez não usemos todo o seu potencial: a memória.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Cientistas criam 'mini-estômagos' em laboratório para estudar doenças


Cientistas criam 'mini-estômagos' em laboratório para estudar doenças

Imagem imunoflorescente do mini-estômago Kyle (Foto: McCracken/Nature/Divulgação)

Órgão artificial pode ser usado em pesquisa sobre câncer, úlcera e diabetes.
Mini-estômagos foram criados a partir de células-tronco pluripotentes.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A dura jornada de um sanduíche boca adentro - Biologia


A DURA JORNADA DE UM SANDUÍCHE BOCA ADENTRO - Biologia



De cara, o alimento é esmagado. Depois, é feito em pedacinhos. O organismo não quer que sobre nada -  a não ser energia.

A boca avança sobre o sanduíche. Os dentes cortam o pão e rasgam o recheio. A mordida marca a largada do percurso que o alimento fará por um tubo com cerca de 9 metros de comprimento, ora mais largo, ora mais estreito, na maior parte cheio de curvas. Alguns obstáculos diminuirão a velocidade dessa travessia, que deverá durar entre doze e catorze horas. O importante, porém, é que no final da jornada, as ligações químicas das moléculas do sanduíche estarão quebradas em porções suficientemente pequenas para permitir que elas penetrem nas células do corpo humano. Esse, aliás, é o ponto de chegada. A eficiência com que nosso organismo aproveita essa caminhada, que é o processo completo de digestão dos alimentos, garante entre outras coisas a capacidade de se decidir fazer uma refeição, andar até uma lanchonete, escolher entre as várias ofertas do cardápio, levar o sanduíche à boca e mordê-lo com vontade. Pois viver é gastar a energia proveniente do Sol, que somente as plantas conseguem aproveitar em estado, digamos assim, bruto. Pelo processo chamado fotossíntese, elas usam a energia solar como elos para construir verdadeiras correntes ou cadeias com os átomos de carbono, retirados da atmosfera. Quando essas correntes são quebradas, libera-se a energia para utilização. O corpo humano não consegue aproveitar diretamente a energia solar para formar tais cadeias. Assim, precisa consumi-las prontas, comendo os vegetais que, por sua vez alimentaram-se de plantas. Todo o processo de digestão tem por objetivo quebrar as correntes de carbono comidas nos alimentos, para que o organismo possa utilizar a energia de que precisa. Em seu sentido mais rudimentar, a vida, portanto, é uma constante busca de comida, ou melhor, das correntes ou cadeias de carbono - e a fome nada mais é do que um aviso do corpo de que a bateria está ficando descarregada. No entanto, na forma como costumam ser encontradas na alimentação, as cadeias de carbono quase sempre são muito compridas. Surge, de fato, um problema de espaço: as moléculas do sanduíche são muito grandes para penetrarem nas células.
"Por isso, o aparelho digestivo é relativamente longo. Assim, ao percorrê-lo, essas moléculas têm tempo para se tornarem menores", justifica o cirurgião Aldo Junqueira Rodrigues, especialista em Anatomia, da Universidade de São Paulo. Outra característica do tubo digestivo é ser impermeável na maior parte do trajeto do sanduíche, cujas moléculas são absorvidas apenas na reta final do intestino. Pão, carne, queijo, alface, tomate, maionese: nessa receita comum, encontram-se os três grupos de alimentos -carboidratos, gorduras e proteínas - que devem ser quebrados em órgãos diferentes do aparelho da digestão. A princípio, os ingredientes, juntos, são triturados na boca, por 32 dentes, nos adultos, ou apenas vinte, nas crianças. "Os músculos envolvidos na mastigação são tão fortes, que, com um único movimento, poderiam quebrar a dentição", comenta Junqueira. Uma mordida só não deixa ninguém banguela porque os dentes são enervados. "Os nervos que nos fazem experimentar a dor de uma cárie", diz o médico, "também nos dão a sensibilidade que regula a força aplicada em uma mordida." Enquanto a mastigação prossegue, a língua se move para todos os lados, ajudando assim a misturar o pedaço de sanduíche com a saliva.
O líquido, produzido por seis glândulas maiores e uma infinidade de glândulas menores espalhadas pela boca, é 99,5 por cento composto de água, que irá hidratar o bocado do sanduíche, transformando-o em uma papa fácil de ser engolida. A saliva ainda contém enzimas, capazes de destruir bactérias que, eventualmente, peguem carona no sanduíche. Por causa desse papel de defensora, ela não pára de ser fabricada, mesmo quando alguém permanece de boca fechada. Diariamente, uma pessoa produz cerca de 1,2 litro desse líquido, que passeia entre as gengivas, realizando uma limpeza constante. Durante a mastigação, o paladar determina se há necessidade de saliva extra. Se o sanduíche estiver salgado demais, haverá pouca salivação, gerando a sensação de sede. Mas se, acompanhando o sanduíche, a pessoa tomar uns goles de limonada haverá saliva à vontade, estimulada pelo gosto ácido que, por isso, merecidamente costuma receber o adjetivo refrescante. Já a Coca-Cola, companheira mais comum do sanduíche, não estimula nem inibe a salivação, como qualquer outro alimento ou bebida doce. Por causa do amido, um tipo de carboidrato contido no pão, a quebra química do sanduíche começa ainda na boca, graças a uma enzima salivar, conhecida como alfa-amilase. O amido possui até 2 000 átomos de carbono ligados entre si, e o máximo que o organismo consegue absorver são pequenos grupos de seis átomos - ou seja, uma mólecula de glicose.
A molécula de amido pode ser descrita como um longo colar, cujas contas, no formato de balões, seriam glicose. A enzima alfa-amilase não irá separar conta por conta, mas quebrará esse cordão em diversos pedaços, criando maltoses e dextrinas. A maltose nada mais seria do que duas contas juntas ou duas moléculas de glicose ligadas entre si. Dextrina, por sua vez, é a designação de várias moléculas de glicose, sem número específico, em cadeias menores que as do amido.
O tempo que o sanduíche permanece na boca, sendo esmagado entre os dentes, depende da vontade de cada um. Existe uma controvérsia: alguns cientistas defendem que a mastigação deve se prolongar pelo maior tempo possível, pois assim o alimento se mistura com mais saliva, o que ajuda na digestão dos carboidratos. Outros pesquisadores, porém, acreditam que o número de vezes que se mastiga um alimento faz pouca diferença, caso contrário, os desdentados morreriam de indigestão. Mas todos concordam que quanto mais triturada a comida mais fácil fica de ser engolida. A deglutição é um momento critico, quando o alimento atravessa o cruzamento entre o aparelho digestivo e o respiratório, na faringe, um tubo muscular com cerca de 12 centímetros, na altura da garganta. "Se o sanduíche pegar a via errada, na direção dos pulmões, ele logo será expulso por um jato de ar, no fenômeno do engasgo", descreve Junqueira. Os pulmões não suportam elementos estranhos. Uma partícula do sanduíche em seus domínios pode causar até pneumonia. Para evitar isso, ao mesmo tempo em que a língua joga o alimento para trás, pressionando-o contra o céu de boca, um osso chamado hióide sobe, fechando a laringe, no caminho exclusivo do ar. Se a pessoa fala de boca cheia, é bem provável que engasgue, porque a coordenação desses movimentos só é possível quando se interrompe a respiração por um ou dois segundos.
Da faringe, o bolo alimentar segue pelo esôfago, o tubo de aproximadamente 25 centímetros que vai do pescoço ao tórax. É uma pista de alta velocidade, por onde os líquidos passam em um único segundo; os alimentos sólidos demoram no máximo oito segundos. O ritmo acelerado não é mérito da força da gravidade, tanto que o sanduíche pode ser engolido quando alguém está de ponta-cabeça: a proeza se deve a movimentos ondulatórios, existentes em todo o aparelho digestivo que empurram o alimento na direção certa. O sanduíche alcança, enfim, o estômago. Se essa bolsa, de formato variável, estiver vazia, parecerá pequena como um pêssego, com espaço para guardar o conteúdo de meia xícara de chá. Mas o estômago é campeão em elasticidade, aumentando até quarenta vezes de tamanho-nas mulheres, perde apenas para o útero, que tem o triplo dessa capacidade. Estufado, o estômago pode armazenar 2 litros de alimento. Nele, os líquidos fazem uma pequena parada, de poucos minutos. O sanduíche, porém, ficará ali durante duas a seis horas, sendo sovado como uma massa de pão, com movimentos em todos os sentidos, a cada quinze ou vinte segundos. A estada do sanduíche no estômago poderá ser atrasada, se ele chegar misturado com refrigerante ou qualquer outra bebida gaseificada. O gás carbônico da bebida reagirá com o ácido clorídrico, componente do suco gástrico secretado por glândulas na parede estomacal. A combinação atrapalha a tarefa da víscera, que fica cheia de gases.
"O ácido clorídrico continua o trabalho de quebrar os carboidratos do pão. O próprio estômago não sai queimado porque é revestido por uma camada protetora de muco", conta o fisiologista Francisco Gacek, que há quinze anos dá aulas sobre o aparelho digestivo, na Universidade de São Paulo. "Quando surgem falhas nesse escudo viscoso, aparecem feridas - as úlceras ", explica o professor. Diariamente, o estômago fabrica cerca de 2 litros de suco gástrico, no qual se encontra também uma enzima, a pepsina, que inicia a quebra das proteínas, o principal ingrediente do queijo e da carne do recheio do sanduíche. As proteínas também são longas cadeias de átomos, que devem terminar o percurso da digestão na forma de pequeninas moléculas, no caso chamadas aminoácidos.
"A pepsina divide a proteína em proteoses, moléculas ainda muito grandes para a absorção", diz Gacek. Embora seja o personagem mais famoso do aparelho digestivo, é apenas isso o que o estômago faz. Logo depois, ele deixa sair uma amostra dessa pasta de sanduíche pelo chamado piloro, uma passagem estreita, sempre entreaberta. Essa pequena colherada vai para o duodeno, um trecho de 18 centímetros na entrada do intestino delgado, que tem 6 metros. "Esse é, por excelência, o órgão de digestão", opina Gacek. Faz sentido: é a única parte do aparelho digestivo que trabalhará com todos os ingredientes do sanduíche ao mesmo tempo, incluindo a gordura da maionese que, até então, continuava do mesmo jeito que entrou pela boca. "No duodeno, células especiais analisam o serviço que o intestino terá pela frente, avaliando a proporção de cada grupo de nutrientes", conta Gacek. "Como as gorduras  demoram para serem quebradas, se o sanduíche tiver muita maionese, o intestino liberará hormônios, ordenando que o estômago segure a sua carga." Obedecendo a esse comando químico, o piloro se fecha. Só quando todo o alimento no intestino já estiver pronto para a absorção, o duodeno permitirá a entrada de um segundo bocado e assim por diante.
"A gordura freia a velocidade da trajetória, daí a sensação que as pessoas têm de estômago pesado quando comem. Por exemplo, uma feijoada", esclarece o fisiologista. Em 24 horas, o intestino, enrolado como um caracol, fabrica cerca de 3 litros do chamado suco intestinal, que serve apenas para dissolver a massa proveniente do estômago. As enzimas que quebrarão o sanduíche - nesse instante, já líquido como uma sopa grossa - são produzidas pelo pâncreas, uma glândula que fica fora do intestino, logo abaixo do estômago. Todos os dias, 1,5 litro de suco pancreático desemboca por um estreito canal, no inicio do duodeno e, ainda ali, começa a dividir as moléculas. Apenas 40 por cento do amido do pão se transformaram em maltose ou dextrina quando os carboidratos chegam no intestino delgado. Para completar o trabalho iniciado durante a mastigação, o suco pancreático contém uma segunda dose da enzima amilase, idêntica à da saliva. "Nenhum suco, porém, quebra a molécula de maltose em duas de glicose", revela Gacek. "As substâncias capazes de fazer isso estão grudadas nas próprias células do intestino. Por isso, o alimento perde quatro ou cinco horas para percorrer esse trecho. Só assim, há chance de a maioria das moléculas de maltose encostar em suas paredes." Formadas nesse contato, as pequeninas moléculas de glicose atravessam os microscópicos vasos capilares das células intestinais, caindo na circulação sangüínea.
Outros carboidratos, como a sacarose do açúcar de cana ou a frutose das frutas, têm um destino semelhante. O suco pancreático usa a mesma estratégia com as proteoses, usando enzimas para dividi-las em dipeptídeos, moléculas com dois aminoácidos. A separação dos aminoácidos acontece igualmente graças a substâncias coladas nas células na superfície intestinal. "A gordura, porém, é um capítulo à parte", define Gacek. Um químico descreveria uma molécula de gordura como três átomos de carbono, cada um deles, por sua vez, ligado a uma cadeia de ácidos graxos. Uma enzima presente no suco pancreático, a lipase, romperá a junção desses átomos. Resultado: cada gordura se tornará uma molécula de glicerol (como são chamados três carbonos ligados entre si) e três moléculas de ácido graxo. Contudo, essa separação ainda não será suficiente.
O problema é que, na digestão, tudo acontece em meio líquido, e a gordura, como se sabe, não se dissolve em água. Daí a importância de um último suco: a bile, produzida no fígado, que também escorre por um canal no duodeno. "Em primeiro lugar, os sais existentes na bile repartem uma gota de gordura em inúmeras gotículas, o que facilita o trabalho da lipase do pâncreas, que só age na superfície dessas moléculas", explica Gacek. "Além disso, os sais biliares, derivados do famoso colesterol, parecem um fósforo com duas cabeças. De um lado, são solúveis em água; de outro, em gordura, funcionando como um elo entre as gotículas gordurosas e a água." A gordura, então, pode ser transportada no fluxo do intestino. Como de costume, a absorção acontece quando o nutriente encosta na parede. Ali, a própria membrana celular contém gordura em sua composição. "Como gordura se dissolve em gordura, fica fácil atravessar a célula", conclui o fisiologista.
A etapa final do tubo digestivo mede cerca de 1 metro: é o intestino grosso. Em uma ou duas horas, ele absorve não só a água que se bebe como os cerca de 9 litros de sucos diversos que o aparelho digestivo despejou na trajetória do alimento. Nesse momento, o organismo traga as vitaminas e os sais minerais que estavam, principalmente, na alface e no tomate do sanduíche. Restará assim o chamado bolo fecal, que o aparelho digestivo mandará para fora do organismo-uma mistura de tudo o que não foi absorvido. O sanduíche ainda levará outras dez ou doze horas, antes de se tornar energia dentro de cada célula do corpo humano. Na verdade, uma pessoa ingere hoje o combustível que irá gastar amanhã. É ilusão, portanto, comer um chocolate antes de uma aula de ginástica, para garantir o fôlego. Ainda assim, a glicose, de todos os nutrientes, é o que se transforma mais rapidamente em energia. "Por isso, os músculos preferem usar da glicose quando precisam realizar um movimento repentino como o dos primeiros passos de uma marcha", exemplifica o bioquímico mineiro Walter Terra, da Universidade de São Paulo. A gordura, no entanto, é uma fonte de energia mais eficiente, embora demore mais para ser acionada. "Depois de algum tempo caminhando", continua o bioquímico, "os músculos abandonam a glicose, para consumirem gordura." Os aminoácidos, por sua vez, servem como matéria-prima para o organismo construir suas próprias proteínas Elas se transformam em energia somente quando não há glicose ou gordura disponível. Contudo, nas células, através de processos variados, esses três tipos de nutrientes podem se transformar em moléculas de ATP (sigla de adenosinatrifosfato), que funcionam feito uma embalagem de energia. Quando o ATP encosta nas pontas das fibras musculares, provoca uma contração. Caso se trate das fibras de um certo músculo facial, a boca poderá se abrir para, quem sabe, morder mais um sanduíche.

Um apetite misterioso

Durante muito tempo, acreditou-se que a queda na quantidade de glicose do sangue provocava a sensação de fome. Na última década, porém, poucos cientistas ousaram dar essa justificativa para a vontade de comer. "Mesmo quando alguém fica em jejum completo, a queda da chamada curva glicêmica é desprezível", nota o fisiologista Marcus Vinícius Baldo, da Universidade de São Paulo, especialista em sistema nervoso. Em teoria. na falta de alimentação, a dosagem de glicose deveria diminuir. Se isso não acontece, é porque existe um esforço do organismo, que libera uma série de hormônios, tentando manter seu funcionamento na mais perfeita normalidade. "A nova hipótese é de que esse esforço - e não a diminuição da glicose em si - seria percebido na região cerebral do hipotálamo", conta Baldo.
O fisiologista lembra que fatores secundários fazem o sistema nervoso desencadear ou aumentar a sensação de fome, como as contrações do estômago vazio ou certos estímulos captados pelos órgãos dos sentidos, como a foto de um prato ou o cheiro de uma comida. Segundo o químico Franco Lajollo, que pesquisa alimentos na USP, uma coisa é certa: "Ninguém provou que, ao se comer ou beber algo, a fome aumente ainda mais". Isso desmistificaria o conceito do aperitivo, servido antes das refeições para abrir o apetite. "O álcool, especialmente, além de ser irritante para o estômago, é uma bebida muito energética, ou seja, deve diminuir a fome e não aumentá-la", raciocina Lajollo. Em todo caso, o pesquisador reconhece que uma dose de bebida alcoólica provoca relaxamento: "Essa descontração talvez ajude as pessoas a comerem mais. Afinal, comer é também um prazer social".

Uma questão de bom gosto

Pesquisadores americanos resolveram servir a dois grupos de ratinhos menus diferentes: o primeiro grupo teve de comer uma insípida ração; o segundo, mais sortudo, recebia queijos sortidos e frutas. Os dois cardápios continham os mesmos nutrientes e uma quantidade idêntica de calorias. Mas apenas os ratinhos do segundo grupo engordaram -sinal de que comiam mais do que aqueles servidos com uma refeição sem gosto. Isso mostra que o paladar existe para reforçar a fome, estimulando os seres vivos a se alimentarem, garantindo a energia para viver. Nos seres humanos, as células gustativas, especializadas em discernir sabores, se concentram na língua, embora existam em menor proporção no céu da boca e na faringe. Guiando-se pelo formato das moléculas da comida, essas células só distinguem quatro tipos de gosto: o doce, o salgado, o azedo e o amargo.
Portanto, a princípio, são sutis as diferenças entre um sanduíche e uma sopa. Afinal, as células gustativas mandam a mesma informação para a região cerebral do tálamo: os dois pratos são salgados. O sistema nervoso só consegue fazer a diferenciação com pistas, por exemplo, de outros receptores da boca, que percebem a consistência e a temperatura da comida. Mas é um vizinho da boca que dá o voto decisivo: através da garganta, os receptores do nariz captam o cheiro do alimento sendo mastigado e revelam o que é sopa e o que é sanduíche. Isso só é difícil quando alguém está resfriado - então, tudo perde o sabor.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Batalha da Balança - Biologia


A BATALHA DA BALANÇA - Biologia



Por que uns são gordos e outros magros? Por que uns engordam com facilidade e outros comem muito e ainda emagrecem? As respostas estão nas engrenagens da máquina humana.

Recentemente, ao completar 50 anos, um responsável pai de família resolveu fazer um seguro de vida. "Nunca se sabe o que pode acontecer", raciocinou, sensatamente. Dirigiu-se então a uma companhia de seguros indicada por um amigo. Escolhido o plano de pagamento, o cliente assustou-se com a quantia que teria de desembolsar todo mês. "Mas isso é muito mais do que meu amigo paga, no mesmo plano", reclamou. O motivo logo foi-lhe explicado. Como ele não só pesava 30 quilos a mais do que o amigo mas também estava muito acima da média de peso de pessoas do seu tipo físico, o acréscimo era inevitável.
A idéia de cobrar mais caro pelos seguros de pessoas com excesso de peso surgiu nos Estados Unidos há alguns anos, devido à descoberta de que as pessoas gordas são mais suscetíveis a doenças, algumas das quais podem apressar a sua morte. Entre os males que geralmente acompanham o excesso de gordura, destacam-se os problemas cardiovasculares, principalmente a aterosclerose - entupimento das artérias causado por hipertensão ou por aumento do nível do colesterol, ambas complicações associadas ao excesso de gordura - , e a insuficiência cardíaca. Tendo conhecimento desses dados, as companhias de seguros foram criando, com a ajuda de especialistas, tabelas de correspondência entre o peso, a altura e o sexo de um indivíduo. A idéia era estabelecer uma base para o peso ideal de cada um, segundo um conjunto de características biológicas e físicas.
Essas tabelas são aceitas pelos médicos como uma referência confiável para avaliar a quantas andam seus pacientes em matéria de peso, mas elas não se destinam a esclarecer as causas das enormes diferenças que pode haver entre as pessoas nesse particular. Por que uns parecem viver permanentemente em regime de greve de fome e ainda assim perdem todas as batalhas contra a balança? E por que outros se deliciam, sem sentimentos de culpa, com uma porção extra de torta de chocolate e ainda assim permanecem esbeltos? A Medicina tem uma tonelada de respostas para dúvidas desse gênero. Mas, como acontece com muita gente em relação ao próprio peso, os cientistas não estão satisfeitos com o que sabem. 
De fato, é difícil saber: não faltam enigmas por trás dessa questão aparentemente simples. O peso é um traço característico de uma pessoa, assim como a altura ou a cor dos olhos. A sua constância, em condições normais de saúde, é um prodígio da natureza. Exprime o equilíbrio entre as entradas e saídas de energias no organismo, como o extrato de uma conta bancária em que débitos e créditos estão bem administrados.
Por exemplo: se não houvesse um consumo equivalente de energia, uma colherzinha de açúcar a mais por dia acarretaria, ao fim de trinta anos, um aumento de peso de 20 quilos. O segredo da constância de peso num indivíduo saudável está na constância de certa quantidade de gordura no corpo. Nome genérico dado a substâncias como o glicerol e os ácidos graxos, a gordura habita células específicas, chamadas adipócitos, que constituem o tecido adiposo (de adipe, gordura em latim). O obeso é aquele cuja massa adiposa representa mais de 20 por cento do peso do corpo (25 por cento no caso das mulheres). Sob a forma de gordura, o tecido adiposo armazena 95 por cento das reservas energéticas do organismo. Os outros 5 por cento são supridos pelas reservas de glicogênio - um derivado da glicose - existentes no fígado e no tecido muscular. Embora seja o responsável pelos volumes e saliências que, geralmente concentrados em volta da cintura, fazem a infelicidade de tanta gente, o tecido adiposo é também o que torna os corpos mais atraentes, modelando as formas ao rechear os espaços entre ossos e músculos.
Para manter constante o peso, o organismo deve, portanto, gastar tudo o que ganha por meio dos alimentos. Se todos gastassem por igual, a questão se resolveria com uma simples operação aritmética: gordos seriam aqueles que comem mais do que precisam, e magros, os que comem menos. É lógico que comer demais está na base de todo excesso de peso, mas há situações em que a fisiologia desarruma a lógica. No caso dos magros que comem muito e dos gordos que se alimentam muito mal, o problema não parece ser o que entra em forma de alimento, mas o que sai em forma de energia. Todos os nutrientes contidos nos alimentos e bebidas que o homem ingere são utilizados para fazer o organismo funcionar.
Proteínas são transformadas para a produção de hormônios e enzimas; carboidratos - os açúcares - são queimados para a produção de energia; as gorduras - ou lípides - vão constituir a reserva adiposa. As reações bioquímicas que ocorrem nos processos de digestão, absorção e armazenamento dos nutrientes são extremamente complexas, mas todas estão a serviço de uma nobre causa: como dizem os médicos, o organismo deve manter o seu equilíbrio homeostático. Isto é, precisa conservar o seu meio interno constante, ao mesmo tempo que gere suas economias. O corpo humano é um modelo de avareza: tudo o que sobra do processo de digestão dos alimentos será transformado em gordura e em glicogênio. Esse potencial energético fica inteiro à disposição do organismo, até que este resolva utilizá-lo em situações de grande necessidade de calorias.
O gasto total de energia de um indivíduo - homem ou mulher, jovem ou velho - resulta de três fatores: o metabolismo basal, a termogênese e as atividades físicas. O metabolismo basal representa o gasto de calorias de uma pessoa em jejum e em repouso. É a energia requerida para as atividades necessárias à sobrevivência do organismo, como a respiração e os batimentos cardíacos. O metabolismo basal varia com a quantidade de chamada massa corpórea magra. Essa massa, formada pelos músculos e por outros órgãos, é que depende da energia para desempenhar suas funções biológicas. Quanto mais massa corpórea magra, maior será a energia despendida no metabolismo basal.
Esse fator também pode variar com o sexo e a idade. Os homens apresentam um metabolismo basal mais elevado (medindo a partir da respiração), já que possuem maior quantidade de massa corpórea magra do que as mulheres. Os mais jovens, igualmente, gastam mais para manter suas funções vitais do que as pessoas de meia-idade e os velhos, que já alcançaram a maturidade física e não precisam despender muita energia. Em condições normais, 73 por cento do consumo de energia pelo organismo se destina ao metabolismo basal. O resto é dividido entre os outros dois fatores. As atividades físicas ficam com 12 por cento e a termogênese com 15 por cento dos gastos calóricos do corpo.
A termogênese, por sua vez, é a energia consumida durante a digestão, a absorção, o transporte e a utilização dos nutrientes. A absorção intestinal,  por exemplo, consome cerca de 3 por cento da energia fornecida pelos alimentos durante uma refeição. A estocagem de gordura no tecido adiposo custa 2 por cento e a conversão de glicose em glicogênio para o fígado consome algo como 6 por cento da energia total. A variação de temperatura também exige um maior ou menor dispêndio de energia. Quando está frio, o organismo deve gastar mais para manter a temperatura interna constante. Já em temperaturas mais altas, isso não é necessário. A termogênese ainda pode variar de acordo com o estado psicológico.
Situações de estresse, por exemplo, fazem com que o organismo gaste mais energia para funcionar. Por isso é comum pessoas em períodos emocionalmente difíceis perderem peso, ainda que se alimentem como sempre. Mas o contrário também pode acontecer, quando se passa a comer mais como forma de compensação psicológica numa situação de crise. Trata-se, segundo o psiquiatra Sérgio Bettarello da Universidade de São Paulo, de um comportamento aprendido na infância: "Se a mãe alimenta o filho toda vez que ele chora, a comida pode virar um substituto para outra emoções".
Um importante mecanismo de queima das reservas adiposas do corpo é comandado pelo hipotálamo, uma pequena região em forma de funil, situada na base do cérebro. A queima depende da liberação de um hormônio chamado noradrenalina, que age diretamente sobre o tecido adiposo. Quando o hormônio chega ali, transportado pela corrente sanguínea, é reconhecido por outras substâncias que, a partir de então, desencadeiam o processo de queima das gorduras, transformando-as em energia. Qualquer desequilíbrio na delicada trama que regula as entradas e saídas de energia pode ser o responsável pelo fato de alguém ser gordo ou magro
Segundo várias pesquisas, todas relacionadas à gordura, esses mecanismos são sujeitos a falhas. Isso não quer dizer que a magreza excessiva não possa resultar de um defeito naquela engrenagem. Quer dizer apenas que a esmagadora maioria das pesquisas busca descobrir mais sobre a gordura - e não sobre o seu oposto. Não é de estranhar: no mundo inteiro, apesar das legiões de desnutridos, a obesidade é que causa maior preocupação. De fato, não é todo dia que se vê uma pessoa indo ao médico porque precisa engordar. Nem as revistas femininas têm o hábito de publicar dietas de engorda. Nem, enfim, se morre do coração por escassez de quilos.
Segundo o endocrinologista Alfredo Halpern, da USP, existem pessoas que apresentam um déficit calórico nos gastos de energia, isto é, nelas, o organismo desempenha suas funções muito economicamente, poupando energia. Essas pessoas, fatalmente, acabam engordando. Hoje em dia, uma batelada de estudos em vários países tenta localizar esse déficit e identificar suas causas. Algumas pesquisas flagram o déficit nos mecanismos da termogênese. Isso pode acontecer no caso de pessoas que gastam menos energia ao se alimentar. "São indivíduos que aproveitam melhor os alimentos, devido a uma causa não muito bem esclarecida", diz Halpern. Essa causa pode estar na intrincada rede de reações químicas envolvidas nesses processos. 
Os cientistas já conseguiram demonstrar, por exemplo, que a hiperfagia - a vontade irresistível de comer - pode estar relacionada às substâncias liberadas pelo hipotálamo. De fato, é nessa parte do cérebro que se localizam dois centros importantíssimos para o processo de alimentação: os centros da fome e da saciedade. Ao contrário do que pode parecer, fome e saciedade não são duas faces da mesma moeda. A necessidade de ingerir comida, de um lado, e a satisfação provocada por certa quantidade de alimento, de outro, são duas sensações distintas, geradas em locais diferentes do hipotálamo. As pesquisas mostram que ambas as sensações dependem de uma infinidade de estímulos químicos e hormonais desencadeados dentro ou fora do organismo.
O hormônio noradrenalina, por exemplo, age no centro da fome, diminuindo a sua intensidade, enquanto outro hormônio, chamado serotonina, age no centro da saciedade, aguçando esta sensação. Existem evidências de que certas pessoas com problemas de excesso de peso apresentam níveis menores de serotonina no centro da saciedade. Isso faz com que elas nunca se sintam plenamente satisfeitas por mais que se alimentem. Outras pesquisas, relacionadas às atividades físicas de gordos e magros, são motivo de controvérsia. Os cientistas já observaram que os gordos geralmente têm menos atividade do que os magros - entendendo-se por atividade física tudo que se faz com o corpo.
A observação tem sentido. Afinal o trabalho que os gordos devem fazer é bem maior, pois o esforço é diretamente proporcional à massa que carregam. Mas também essa regra tem suas exceções. Existem gordos superativos que, apesar de toda a movimentação, mantêm os seus quilos. E existem os magros sedentários, que, apesar da aversão por qualquer tipo de atividade física, mantêm-se esbeltos e saudáveis. Uma pista importante para se compreender melhor parte desses aparentes contra-sensos surgiu recentemente nos Estados Unidos: pesquisadores verificaram que pessoas mais gordas apresentam menos movimentos involuntários do que as outras. O conjunto desses movimentos, denominado fidgeting (inquietar-se, agitar-se em inglês), inclui atos, como coçar a cabeça, cruzar e descruzar as pernas, acender um cigarro ou andar de um lado para o outro.
Onde quer que ocorram, os desequilíbrios no processo de ganho e perda de energia talvez tenham uma causa anterior. Assim, as respostas às questões envolvendo obesidade estariam codificadas nas sequência de DNA - a bagagem genética de todo ser vivo - presente nos cromossomos das células. Embora os estudos sobre o assunto sejam indiretos - lidam com famílias e gêmeos, por exemplo, mas não investigam o que ocorre em nível molecular - os cientistas tendem a acreditar pelo menos que os genes herdados dos pais podem determinar o peso de um indivíduo na vida adulta - algo que, de resto, a observação do senso comum sempre sustentou.
Uma pesquisa sobre obesidade, realizada pouco tempo atrás na França, revelou que 69 por cento dos entrevistados, todos gordos, tinham pelo menos um dos genitores com problemas de gordura; outros 18 por cento tinham pai e mãe na mesma situação. Em geral, o risco de uma criança se tornar gorda chega a 40 por cento se um dos pais tiver excesso de peso; e dobra se os dois apresentarem a característica. Se nenhum deles for obeso, a taxa cai para 10 por cento.
Então, ser gordo ou magro é uma fatalidade contra a qual não adianta lutar? Nem tanto. Embora, como se viu, os filhos de pais gordos apresentem uma grande disposição para imitá-los, isso não é inevitável. Basta que a pessoa vigie o que come - tipo e quantidade de alimentos - durante toda a vida. O que, como se sabe, é mais fácil dizer que fazer. Durante algum tempo, as pesquisas sobre as bases genéticas que influem no peso esbarraram em um problema: os hábitos alimentares da família, ou seja, o fato de uma pessoa ser gorda ou magra poderia mesmo traduzir uma questão de herança, mas não herança genética - e sim dos hábitos alimentares adquiridos desde a infância. Assim, gordos e magros seriam aquilo que aprenderam a comer.
Como em tantas outras áreas da ciência, o que está em jogo aqui é a interminável polêmica sobre o que pesa mais na vida: a hereditariedade ou o ambiente. Os partidários da primazia genética citam estudos em países escandinavos com filhos adotivos: eles têm, em adulto, maior correspondência de peso com os pais biológicos do que com os que os adotaram, não importam quais tenham sido os hábitos alimentares da casa em que foram criados. A rigor, os filhos parecem ter maior correspondência de peso com suas mães biológicas - o que fornece uma arma aos defensores do fator ambiente. Pois, para eles, isso prova que o peso, em última instância, seria determinado pelo tipo de nutrição recebido pelo feto.
De fato, outros estudos com gêmeos univitelinos - originários de um único óvulo - mostram que o irmão mais pesado ao nascer tende a se tornar obeso em adulto. Como sua bagagem genética é idêntica, a diferença só poderia resultar da circunstância de um deles absorver melhor a alimentação intra-uterina. Seja qual for a predisposição genética de cada um, os hábitos alimentares acabam dizendo a última palavra. Ao contrário dos outros bichos, o homem aprendeu a comer por prazer. Além disso, estudos indicam que nos países desenvolvidos se come menos do que há cem anos e, no entanto, se engorda mais.
O homem ocidental deste final de século XX chega aos 50 anos, como o pai de família que queria fazer um seguro e se surpreendeu com o custo, carregando em média 12 quilos além do que pesava aos 20 anos. A culpa - está provado - é da variedade de nossa dieta. Numa pesquisa, camundongos submetidos a uma dieta sempre igual só comiam ao ter fome, mantendo assim o peso constante. Quando a dieta era alterada todos os dias, incluindo-se grande variedade de alimento, os ratos engordavam rapidamente. Ser um Stan Laurel ou um Oliver Hardy depende, em suma, de um variado cardápio de circunstâncias - em que muitas vezes o que parece desimportante pode ser  decisivo e aquilo que se toma por fundamental pode ser apenas uma exceção. Muitos gordos, por exemplos, juram, sem ir ao médico, que seu sofrimento é fruto de uma "disfunção glandular". Ledo engano. Problemas glandulares são responsáveis por apenas cinco em cada cem casos de obesidade.

GORDOS & MAGROS DE PESO.

Do alto dos seus 120 quilos, muito desigualmente distribuídos por 1,70 de altura, o gordo mais famoso do Brasil, o humorista Jô Soares, 51 anos, é a prova viva de que o talento e a inteligência podem não só neutralizar o que em outras circunstâncias talvez fosse uma avantajada desvantagem como ainda transformá-la em trampolim para o sucesso. Jô, que não faz dieta, mas vigia a balança para manter o atual peso, que julga "ideal", vigia também a própria imagem pública para não virar uma espécie de gordo profissional. Por isso, entre outros cuidados, foge do assunto obesidade, que o persegue "desde que me entendo por gente" para não se tornar "chato e repetitivo". E zela para que sua arte não fique escrava do peso. "Meu humor não é humor de gordo", esclarece. "Meus personagens não ficam entalados em cadeias."
Vinte e três quilos mais magra e dezesseis anos mais jovem que o carioca Jô Soares, outra gorda muito popular no país, a cantora paulista Cida Moreira - cujo repertório vai de rock a canções alemãs dos anos 20 - usa a obesidade no palco à maneira de um recurso teatral. "Fica bacana", diz. Mas, se pudesse, seria magra: "Primeiro, por uma questão de saúde. Segundo, porque é mais bonito". Tentar, ela bem que tentou; "Fiz todas as dietas milagrosas", conta. "Mas no fim engordava tudo de novo." Resta o consolo de que, com 1,72 m e 97 quilos, está bem abaixo do seu recorde de 140.
Na outra ponta da balança, a também cantora Ná Ozzetti, com 51 quilos espetados em 1,70 de altura, irradia felicidade: "Nunca tive problema por ser magra", entoa. Do time da nova geração de cantoras paulistas, tão eclética quanto Cida Moreira, Ná, 30 anos, é de deixar gordos de todas as idades ralados de inveja: come de tudo, bastante, várias vezes ao dia. "Vai ver, sou magra de ruindade". brinca. Outro magro famoso de bem com seu peso, é o espigado senador pernambucano Marco Maciel, do PFL, cujo 1,80 de altura abriga não mais de 56 quilos. "Nunca fiz regime", conta o hiperativo ex-governador e ex-ministro, conhecido também pelas magras horas que dedica ao sono todas as noites. A falta de peso, por sinal, foi-lhe muito útil certa vez. Aos 18 anos, leve como uma pluma nos seus 45 quilos, acabou dispensado do serviço militar. "Foi ótimo", lembra Maciel "pois tinha acabado de entrar na faculdade."


O ENGODO DAS DIETAS.

Ser gordo ou magro também pode ser questão de moda. A opulenta Vênus do pintor italiano Botticelli (1445-1510) foi considerada durante muito tempo um símbolo de feminilidade, assim como as banhistas do francês Renoir (1841-1919). Hoje não há mulher que não trema em imaginar-se com um corpo como o delas. A preocupação ocidental com o peso e a gordura é um fenômeno que começou depois da Segunda Guerra Mundial para explodir na década de 60, como parte da revolução dos costumes. As décadas seguintes viram a disseminação das dietas - de Beverly Hills, do abacaxi, do leite, da lua, do astronauta e da alga, entre outras. a maior parte delas não passa de engodo. Logo depois do período de contenção, os quilos tendem a voltar, às vezes em dobro. É significativo que, mesmo carecendo de base científica, os livros que veiculam essas dietas são consumidos aos milhões. 
Para o endocrinologista Alfredo Halpern, numa dieta, tão importante quanto o número de calorias ingeridas é a sua procedência - proteínas, lípides ou carboidratos. Ou seja, nem sempre dois alimentos com igual número de calorias engordam por igual. Segundo ele, a maior novidade na área das dietas é o reconhecimento de que fibras não absorvíveis, como as do arroz, pão integral e alguns vegetais, podem ajudar na perda de peso - talvez porque diminuam a absorção de nutrientes ou porque retardem o esvaziamento do estômago. Um meio controvertido de diminuir a ingestão de calorias é o uso de medicamentos. São os anorexígenos, que inibem o apetite. A maioria dos médicos evita receitá-los, a não ser em casos imprescindíveis, devido aos efeitos colaterais sobre o sistema nervoso.


A VANTAGEM DOS BICHOS.

Gordura não é problema para os animais selvagens. Eles mantêm um peso constante durante toda a vida porque só comem quando precisam repor os gastos de energia. Isso já não acontece com os animais domésticos, que entram no regime alimentar da casa onde moram e acabam engordando, como o famoso gato Garfield. Homens e animais se distinguem a esse respeito por mais uma característica também: a composição do tecido adiposo animal permite-lhe ser mais energético (é marrom, enquanto a gordura humana é amarela). O tecido animal é perfeitamente adaptado à termogênese, podendo ser queimado rapidamente. Essa queima ultra-rápida é útil sempre que uma grande quantidade de energia é necessária, tanto no dia da caça quanto no do caçador. Graças à queima instantânea, animais como o urso conseguem se levantar de uma só vez depois de meses de hibernação, período em que seu metabolismo basal chega a níveis muito baixos. Curiosamente, o tecido adiposo marrom existe também nos recém-nascidos humanos, mas depois desaparece. É um meio de a natureza equipar os bebês para a chegada a um ambiente frio e inóspito.