sábado, 14 de fevereiro de 2015

É possível emagrecer com a força do pensamento?


É possível emagrecer com a força do pensamento?


Eric Robinson é um pesquisador da Universidade de Liverpool, na Grã-Bretanha, que tem uma ferramenta surpreendentemente útil para quem quer emagrecer. É algo que todos nós temos, mas talvez não usemos todo o seu potencial: a memória.

Pessoas que entram em uma dieta geralmente sentem que estão travando uma guerra com seus estômagos, mas psicólogos como Robinson acreditam que o apetite é formado na mente tanto quanto na barriga. Segundo ele, se você tentar se lembrar da última coisa que comeu, será capaz de emagrecer sem passar fome.
"Muitas pesquisas já indicam que fatores psicológicos sutis podem ter um impacto na quantidade de comida ingerida – mas as pessoas ainda não estão cientes dessa influência", afirma o cientista. Mas, se isso é mesmo verdade, como poderia funcionar?

A inspiração para essa corrente de ideias vem, em parte, de pessoas que sofrem de um problema chamado de amnésia anterógrada. Ou seja, que se esquecem de fatos recentemente passados. "Você pode passar 20 minutos conversando com alguém com esse problema mas dali a pouco ele não vai ter nenhuma lembrança do diálogo", explica Robinson.


Refeição esquecida

Técnicas de visualização e memória ajudariam a diminuir o desejo por comer

O mesmo acontece com o que essas pessoas comem. Um dos principais estudos no assunto, realizado na Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, consistiu em pedir para que dois homens com esse tipo de amnésia se servissem de sanduíches e bolo até se saciarem.

As bandejas vazias eram então retiradas e trazidas de volta cheias 15 minutos depois. "Enquanto voluntários saudáveis recusaram alegando estarem satisfeitos, os dois homens se serviram novamente porque esqueceram que já tinham comido", conta Glyn Humphreys, que conduziu o estudo.
Em uma segunda parte da experiência, os dois homens eram oferecidos comidas doces e salgadas. Em uma segunda rodada, assim como a maioria das pessoas, eles procuravam um sabor contrastante ao da primeira.

Isso mostra que eles não tinham problema com o processamento sensorial dos alimentos. Apenas não conseguiam formar uma memória explícita e consciente da refeição. E sem essa memória, eles continuavam sentindo fome, mesmo de estômago cheio.
Seria de se suspeitar que um cérebro saudável é suficientemente esperto para perceber que você comeu. Mas algumas pesquisas recentes mostram que ele pode ser facilmente enganado.

Veja o que ocorreu neste experimento de Jeff Brunstrom, da Universidade de Bristol: ele pediu a um grupo de voluntários para comerem um prato de sopa. Mas sem que eles soubessem, Brunstrom havia acoplado um tubo a alguns dos pratos, o que permitia que ele acrescentasse mais sopa sem que os voluntários percebessem. Ele notou que mais tarde, ao serem oferecidos um lanche, os voluntários comiam de acordo com o que se lembravam da sopa no início da refeição – se havia muita ou pouca sopa no prato antes de começarem a comer.

Tudo isso enfraquece a percepção comum de que a fome é regida apenas pelos hormônios do aparelho digestivo. "Não estou sugerindo que esse tipo de sinal não é importante. Mas é preciso notarmos o papel da cognição", afirma Brunstrom.
Isso poderia facilmente ter um impacto na nossa vida corrida de hoje em dia. Os almoços de trabalho viraram lugar-comum, enquanto muita gente assiste TV ou brinca em seu smartphone enquanto se alimenta. Todas essas distrações podem afetar a lembrança do que você comeu, podendo induzi-lo a beliscar mais horas depois.


Impulso sensorial

Para cientistas, apetite é uma resposta a hormônios digestivos e a impulsos do cérebro

É por isso que os pesquisadores agora estão tentando encontrar maneiras de melhorar a memória sensorial da comida.

Robinson recentemente fez um teste para verificar se uma gravação tocada durante a refeição poderia ajudar um grupo de mulheres obesas a comer com mais atenção. O áudio pedia para que elas se concentrassem no aspecto sensorial da comida – seu visual, seu sabor e seu cheiro. Um segundo grupo comeu ao som de cantos de pássaros. O resultado foi que as primeiras mulheres conseguiram descrever melhor suas refeições e comeram menos na hora do lanche, três horas depois, consumindo 30% menos calorias.

Pode ser que essa abordagem não funcione para todo mundo, mas o cientista tem ideias de técnicas alternativas: ao pedir para as pessoas lembrarem do que comeram durante o dia, elas se sentiam menos incentivadas a comer demais mais tarde.
Usar a imaginação também pode dar certo: uma equipe da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, descobriu que visualizar em detalhes uma comida que se deseja muito pode ajudar a enganar a mente e fazê-la "pensar" que de fato comeu aquilo – reduzindo o desejo e a ingestão de calorias.
Robinson agora está desenvolvendo um aplicativo que pretende alertar o usuário a lembrar suas refeições anteriores durante o dia.

Mas, apesar de todos esses esforços, ele destaca que ainda são necessários ensaios clínicos mais abrangentes para provar se esses pequenos truques de memória são realmente eficientes na atual batalha global contra a obesidade.

Ele também reconhece que algumas pessoas podem se entediar com o procedimento, principalmente se tiverem que ouvir uma gravação toda vez que sentarem para comer.
Um aspecto positivo é que o "comer com atenção" não tira dos voluntários o prazer de comer. Ao contrário, eles se surpreendem com os sabores que descobrem.
Se esses truques de memória funcionarem, eles poderiam oferecer algo quase impossível: uma dieta que aumenta o prazer da refeição. Uma solução mais do que palatável para a luta contra a obesidade.


FONTE: BBC Future

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