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terça-feira, 25 de junho de 2024

5 pontos para entender a democracia grega

5 pontos para entender a democracia grega

Sistema implementado em 507 a.C. na Grécia Antiga continua a influenciar a política global.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

O enigma sobre as últimas palavras de Alexandre, o Grande


O enigma sobre as últimas palavras de Alexandre, o Grande


A vida curta e intensa de Alexandre III da Macedônia terminou em circunstâncias obscuras, em junho de 323 a.C.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Computador Grego - Na história da tecnologia


Computador Grego - Na história da tecnologia

Frágil, intrigante e cheio de surpresas: item 15.087 do Museu Arqueológico Nacional em Atenas

Se não fosse uma forte tempestade na ilha grega de Anticítera, há pouco mais de um século, um dos objetos mais desconcertantes e complexos do mundo antigo jamais teria sido descoberto.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Descoberto lendário palácio perdido da Antiga Esparta


Descoberto lendário palácio perdido da Antiga Esparta


Os espartanos formaram a antiga civilização grega imortalizada na Ilíada de Homero. Conhecidos por sua força militar, eles dominaram a Grécia Antiga por séculos, mas desapareceram misteriosamente em 1200 a.C. 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Bíblia de Pedras - Arqueologia


BÍBLIA DE PEDRAS - Arqueologia



No Vale das Maravilhas, no sudeste da França, 30 000 símbolos e desenhos recém-decifrados contam uma história que, a despeito da distância, parece ser uma singela versão da mitologia grega.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Prometeu, Mártir e Herói - Mitologia


PROMETEU, MÁRTIR E HERÓI - Mitologia



Um dos mais poderosos mitos de todos os tempos conta a tragédia do titã que roubou o fogo do Olimpo para dá-lo aos homens. Simboliza o eterno combate pela liberdade e o conhecimento.

Para os antigos gregos, a conquista do fogo estava intimamente ligada à luta pela liberdade. Basta ver como eles contavam a história do domínio do fogo - num dos mais poderosos mitos já criados pelo homem. Existia no Olimpo, a montanha em que moravam os deuses, um titã (deus gigante) muito brincalhão, chamado Prometeu (que significa o que pensa antes), descendente do casamento de Urano, o céu, com Gea, a Terra. Eles tiveram, entre outros filhos, Japetos, que viria a ser pai de Prometeu. Como Zeus, a divindade suprema, era filho de Cronos, o tempo, irmão de Japetos, Zeus e Prometeu eram primos. Ora, Prometeu vivia fazendo artes e piadas. Uma de suas brincadeiras, justamente, foi criar o ser humano, ou melhor, só o homem, o sexo masculino, e colocar nele uma centelha do fogo divino, a alma. Os homens assim criados assumiram o compromisso de homenagear Zeus com sacrifícios animais. Em troca, podiam usar o fogo, até então considerado exclusivo das divindades.
Mas pouco depois Prometeu fez outra brincadeira: escondeu a carne de um animal sacrificado, de modo que Zeus ficou só com os ossos e a gordura. Irritado ao descobrir o engano, Zeus retirou o fogo dos homens e proibiu que eles o utilizassem novamente. Os homens começaram a passar frio e fome, pois não podiam mais usar o fogo nem para se aquecer, nem para cercar a caça, nem para moldar as armas usadas na caça, nem para cozinhar os alimentos, dos quais muitos, como os cereais, deixaram assim de ser comestíveis. Penalizado com a situação dos homens - afinal ele fora o seu criador -, Prometeu fez uma brincadeira a sério: roubou uma brasa da forja de Hefaistos, o deus ferreiro, escondeu-a no oco de um pau, com o qual saiu do Olimpo, sem que os outros deuses percebessem que desse modo ele estava entregando o fogo de novo aos homens. Com isso, os homens puderam voltar a fazer tudo o que precisavam para sobreviver.
Quando soube que o fogo tinha sido roubado do Olimpo, Zeus ficou furioso e resolveu se vingar duplamente: dos homens e de Prometeu. Dos homens, Zeus se vingou criando a primeira mulher, Pandora, com a idéia de que as mulheres passassem a infernizar-lhes a vida. E, de fato, Pandora logo seduziu Epimeteu (que significa, o que só pensa depois), um irmão menos esperto de Prometeu. E Epimeteu, ao contrário do que lhe aconselhava o irmão, casou-se com Pandora. Esta então abriu uma caixinha - os antigos, por sinal, designavam o objeto "caixinha" pela palavra "boceta"- e da caixinha ou boceta saíram todos os males que desde então têm atazanado os homens, como as discórdias, as doenças e a necessidade de trabalhar duro para sobreviver. Em seguida, Pandora fechou a tampa da caixinha, com o que ficou presa dentro dela a Esperança, desde então inacessível aos homens. Contra Prometeu, a vingança de Zeus foi particularmente cruel.
O deus supremo ordenou que o deus ferreiro Hefaistos forjasse uma corrente indestrutível, de elos invioláveis - incumbência que ele aceitou de bom grado porque afinal fora de sua forja que Prometeu roubara o fogo. Com essa corrente a toda prova, Prometeu ficou acorrentado ao alto de um pico no Cáucaso -  onde hoje fica a Geórgia, na União Soviética, portanto bem longe do Olimpo grego - condenado a ter o fígado eternamente devorado por uma águia. Cada vez que a águia terminava de devorar todo o fígado de Prometeu, a víscera renascia e a águia começava de novo a devorá-lo. Esse castigo impiedoso - e acima de tudo injusto, pois que mal podiam os homens mortais fazer com o fogo contra os deuses imortais? - deveria em princípio durar eternamente. E durou mesmo alguns séculos ou milênios, até que o herói Héracles (Hércules, para os romanos) entrou em cena. Para os gregos antigos, um herói era o filho de uma divindade com um ser humano, sendo portanto mais poderoso que um homem, mas não imortal como um deus. No caso, Héracles era filho de Zeus com a humana Alcmena. Ele matou a águia e com sua força literalmente hercúlea arrebentou a corrente dita indestrutível, libertando Prometeu.
O mito de Prometeu acabou se tornando a metáfora de um mártir pela liberdade, a terrível saga de quem ousa se contrapor à tirania arbitrária dos que governam o destino humano, como no caso de Zeus. Prometeu representa também um símbolo da luta pela civilização e a cultura, pois diz a lenda que, com o fogo, ele outorgou também à humanidade, as artes e as ciências. A aventura da busca do conhecimento, a matéria-prima da liberdade, imprimiu na mente humana, desde os tempos antigos, um claro sentido de tragédia. O sofrimento de Prometeu, ao menos, é redimido pela intervenção de Héracles. Outra lenda, porém, é irremediavelmente implacável: a expulsão de Adão e Eva do Éden não teve volta. Eles foram punidos por provarem do fruto da árvore do bem e do mal, ou seja, por terem se apropriado de uma preciosidade, o saber, tão exclusivo da divindade como o fogo dos senhores do Olimpo.
A história emocionante da conquista do fogo e da cultura por Prometeu há milênios inspira poetas e prosadores, suscitando diversas interpretações do mito. Um dos primeiros foi o grego Ésquilo (525-456 a.C.), que em sua peça Prometeu acorrentado, até hoje considerada um hino à liberdade, mostra Prometeu, preso à montanha e perseguido pela águias conversando com sucessivos visitantes que lhe trazem notícias. O titã reage violentamente contra o castigo imposto por Zeus. Sabe-se que Ésquilo escreveu ainda dois outros textos sobre o mesmo tema, Prometeu libertado e Prometeu traz o fogo, mas essas peças se perderam. Cerca de 23 séculos depois, o dramaturgo alemão Johann Elias Schlegel, em 1797, e o poeta inglês George Gordon Byron, em 1816, escreveram também sobre Prometeu. Nessa época, o personagem inspirou uma das maiores mudanças na história da música ocidental. Até fins do século XVIII, de fato, não era costume os grandes compositores fazerem música de balé, deixada para autores quase desconhecidos. Mas o alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827) abriu a primeira exceção para uma coreografia do italiano Salvatore Vigno e em 1801 compôs a música do balé As criaturas de Prometeu.
Exatamente dois decênios mais tarde, o poeta inglês Percy Bysshe Shelley (1792-1822), que passou os últimos anos da vida na Itália, lançou em 1821 a peça em versos Prometeu libertado. Shelley continuou a história de Ésquilo: Prometeu, que representa a espiritualidade, consegue destronar Zeus, símbolo do apego às coisas materiais, e assim começa uma nova idade de ouro para a humanidade. Depois foi a vez do suíço Carl Spitteler (1845-1924), que em 1880 publicou a epopéia Prometeu e Epimeteu, em que dá vazão a sua espiritualidade aristocrática e pessimista, que quer distância dos outros seres humanos. Não satisfeito com a beleza formal de sua obra, Spitteler tornou a publicá-la, reescrita, em 1924, por sinal, ano de sua morte, acrescentando ao trabalho uma recusa ao progresso material.
Talvez mais característica do espírito moderno seja a versão do francês André Gide (1869-1951), que em 1899 lançou o conto filosófico Prometeu mal acorrentado, fazendo uma reflexão sobre a luta de cada ser humano para conquistar seus próprios valores individuais e não os valores impostos pela sociedade. Gide escreve que Prometeu conseguiu comer a águia, símbolo das paixões que fazem o homem sofrer, e assim reencontrou seu equilíbrio. O titã da mitologia grega sobrevive ainda no nome do metal raro promécio, elemento ainda não encontrado na natureza, mas isolado em laboratório em 1947 - tal como o homem apropriou-se do fogo milênios atrás.


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Como é escolhida a Sede da Olimpíada ?

COMO É ESCOLHIDA A SEDE DA OLIMPÍADA?



No dia 6 de julho, o Comitê Olímpico Internacional (COI) vai escolher a cidade -sede dos Jogos Olímpicos de 2012. A corrida começou há 2 anos, com 9 competidores. Rio de Janeiro, Leipzig (Alemanha), Havana (Cuba) e Istambul (Turquia) foram deixados para trás no fim da primeira etapa. Ficaram no páreo Londres, Madri, Moscou, Nova York e Paris.

É a primeira vez que o COI faz a seleção em 2 fases. Na primeira, foram analisados 11 critérios e as cidades receberam notas de 1 a 10 para cada item. Com base nesse resultado, o COI decidiu quais poderiam continuar na disputa.

A segunda etapa avalia 17 critérios e inclui uma visita da Comissão Avaliadora às cidades candidatas. O resultado é um relatório (divulgado em 6 de junho) que não dá notas, mas aponta trunfos e fraquezas de cada projeto, a fim de ajudar os membros do Comitê Olímpico na hora da escolha.

A eleição deste ano acontece em Cingapura e, dos 115 membros do COI, só não votam os representantes de países concorrentes. Diversos turnos se sucedem até que uma das cidades tenha a maioria absoluta dos votos. A cada turno, a cidade com menos votos é excluída da votação.

A SUPER está acompanhando a corrida e mostra ao lado quais são os pontos fortes e fracos de cada uma das 5 candidatas.



1. Legado

Avalia o impacto na cidade depois dos Jogos e como valores olímpicos serão promovidos. Paris e Londres ficam na frente porque têm boas políticas de inclusão social e desenvolvimento sustentável.



2. Apoio político

Avalia o envolvimento dos governos municipal, estadual e nacional no planejamento e financiamento dos Jogos. Londres pretende criar um órgão com poderes ministeriais para a Olimpíada.



3. Legislação

Avalia se as candidatas respeitam todas as regras do Movimento Olímpico e as propostas de leis para garantir os Jogos. Moscou ganha pontos porque não precisaria criar nenhuma nova lei.



4. Fronteira

Todas as cidades se comprometeram com facilidades aduaneiras. Nova York perde pontos pelas complicações com a aprovação de vistos, o que pode dificultar a ida de jornalistas ou de alguns visitantes.



5. Meio ambiente

O projeto de Paris é bastante cuidadoso com impactos ambientais. Madri fica atrás porque incluiu no projeto a compra de direitos de emissão de poluentes e o COI determina emissão neutra de gás carbônico.



6. Finanças

O orçamento das 5 cidades é de, em média, 5 bilhões de dólares e o COI doa 600 milhões para a sede. O projeto de Nova York conta com muito capital privado (o que pode ser visto como falta de apoio do governo).



7. Marketing

Avalia as ações que podem ajudar a promover uma imagem positiva dos Jogos junto aos visitantes. Nova York tem vantagem porque garantiu 87% dos ingressos com preço menor que 100 dólares.



8. Locais de provas

Avalia as propostas de uso durante e depois dos Jogos. O ideal é usar o menor número de locais e evitar a construção de "elefantes brancos". Nova York é a única que não tem estádio olímpico.



9. Para-olímpíadas

As cidades adaptam a estrutura usada nos Jogos e os planos são avaliados com rigor. A Vila Paraolímpica de Paris tem a maior capacidade (abrigaria 9 500 pessoas).



10. Vila Olímpica

Deve ter capacidade para cerca de 17 mil atletas. O COI avalia a distância até os locais de competição, o uso depois dos Jogos e o ambiente ao redor. Todos os projetos preenchem os requisitos.



11. Saúde

O atendimento médico durante os Jogos não deve atrapalhar as operações normais da cidade. Nova York fica atrás porque o atendimento não seria gratuito .



12. Segurança

Considera desde a possibilidade de ataques terroristas até índices de crimes urbanos. Paris foi bem avaliada na primeira fase. Nova York e Madri perdem pontos por causa dos ataques terroristas.



13. Acomodações

O COI exige pelo menos 40 mil quartos 3, 4 ou 5 estrelas. Madri garantiu preços reduzidos e Moscou é a única que ainda precisaria construir quartos (pelo menos mais 20 mil).



14. Transporte

A sede recebe em média 25 mil pessoas, o que sobrecarrega a estrutura de transportes. Todas as cidades têm bons planos de expansão de estradas, aeroportos e redes urbanas.



15. Tecnologia

A infra-estrutura de telecomunicações deve estar atualizada com as inovações tecnológicas. O projeto de Moscou é o único que não é muito claro neste critério.



16. Mídia

A cidade deve garantir a construção de um centro de imprensa bem equipado, além de um plano para o uso depois dos Jogos. Todas as cidades apresentaram bons projetos.



17. Cultura

O COI quer garantir planos de educação e cultura que expressem a verdadeira natureza dos Jogos. Todas as cidades apresentaram projetos e idéias criativos neste quesito.



Ranking final

As 5 cidades têm chances reais de sediar os Jogos, mas Paris é apontada como favorita pelas vantagens em quesitos importantes como segurança e legado.


Fontes: comitês de candidatura de Londres, Madri, Moscou, Nova York e Paris; Comitê Olímpico Internacional; Essar Gabriel, Diretor de operações da candidatura de Paris, Ed Hula www.aroundtherings.com


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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A Indiscreta História da Pornografia


A (INDISCRETA) HISTÓRIA DA PORNOGRAFIA



Os gregos se divertiriam muito se visitassem um sex shop. Os habitantes de Atenas, há cerca de 2 500 anos, adoravam ver representações de sexo e nudez. As ruas eram decoradas com estátuas de corpos bem definidos. Nas casas, cenas eróticas enfeitavam vasos. Em procissões, famílias erguiam peças fálicas como se fossem imagens sagradas, cantando hinos recheados de palavrões cabeludos. Depois do evento, muita gente ia para casa fazer festinhas em que o deus do vinho, Dionísio, era venerado na prática.

Os homens tinham outra maneira de se divertir: concursos com mulheres nuas. O que mais chamava atenção era uma específica parte do corpo, "as nádegas de Vênus", que eram avaliadas e recebiam notas de juízes. Para os mais cultos, o teatro contava histórias picantes. Em Lisístrata, de Aristófanes, a personagem principal convoca as atenienses à greve de sexo enquanto durar a Guerra do Peloponeso. "Nenhum amante se aproximará de mim com ereção", brada uma personagem. "Não erguerei ao teto minhas sandálias persas", berra outra. Desesperados, os guerreiros encerram o conflito.

Atenas deixou o protagonismo na história, mas a sacanagem não. Toda civilização deu um jeito de manifestar seus ímpetos sexuais. Coube aos gregos definir a devassidão. O termo "pornográfico" apareceu pela primeira vez nos Diários de uma Cortesã, em que Luciano narra histórias sobre prostitutas e orgias - a palavra pornographos significa "escritos sobre prostitutas". "Aos poucos, qualificou-se como pornográfico tudo o que descrevia as relações sexuais sem amor", afirma o historiador francês Sarane Alexandrian, em História da Literatura Erótica.

O sentido da palavra mudou. Hoje, nos dicionários, pornografia é a expressão ou sugestão de assuntos obscenos. E por que a maioria de nós gosta de ver pornografia? O proibido e "o buraco da fechadura" podem explicar esse hábito que há mais de 30 mil anos sobrevive a todas tentativas de repressão em nome da moral e dos bons costumes.



Primeiras orgias

O registro mais antigo de um objeto representando o nu é uma peça com aparência nada sensual: a Vênus de Willendorf, encontrada em 1908 na cidade austríaca de mesmo nome, à beira do rio Danúbio, esculpida em calcário por volta do ano 30 000 a.C. Alguns padrões de beleza definitivamente mudaram de lá para cá: a ninfa das cavernas tem peito e quadris enormes, barriga saliente e lábios grossos (veja no quadro ao lado). Há outras peças arqueológicas parecidas, do mesmo período, encontradas na África, Américas e Oceania. Curiosamente, todas com formas exageradas. Provavelmente eram objetos de culto - parte da pornografia da época vinha sob o manto da adoração aos deuses e deusas da fertilidade.

Com o tempo, o homem parou de usar eufemismos religiosos para dar vazão às suas taras. Os romanos já não escondiam os verdadeiros intuitos de seus hábitos. Famosos pelas festas de sexo em banhos públicos, eles decoravam as casas com esculturas eróticas. Luminárias em forma de falo não faltavam numa sala de classe alta - o pênis ereto era considerado símbolo da sorte. Nos muros de Pompéia, arqueólogos encontraram grafites com frases obscenas e desenhos de transas. Nas paredes do templo ao deus da virilidade Príapo, em Roma, os fiéis deixavam textos pornográficos. A decoração inusitada foi idéia do imperador Augusto, que governou entre 27 a.C. e 14 d.C., e gostava de que seus súditos venerassem Príapo. Um dos textos é assinado por uma dançarina, que reza pedindo ao deus: "Que uma multidão de amantes fique excitada como a Sua imagem".

Havia até escritor especializado em vida sexual. Em Ars Amatoria ("A Arte de Amar"), Ovídio descreve, intimamente, seu casamento e suas escapadas: "Feliz daquele que esgota o duelo amoroso! Façam os deuses com que isso seja a causa de minha morte." Ovídio elaborou um guia do sexo em Roma, como os que a revista Playboy publica hoje. Há sugestões de como e onde homens e mulheres da capital do império podem encontrar os mais belos parceiros, como abordá-los e como satisfazê-los. Também sugere como um amante deve proceder na cama para aumentar o prazer do outro, com direito a minúcias de especialista.

Ars Amatoria é contemporâneo a um trabalho semelhante, mas que ganhou fama internacional como estrela maior da pornografia. O Kama Sutra, escrito na Índia no século 2 d.C., tem passagens ainda mais detalhadas que as do livro de Ovídio. Na cultuada coletânea compilada pelo nobre Mallanaga Vatsyayana, há descrições de mais de 500 posições sexuais. O estudioso indiano selecionou textos milenares sobre sexo e fez uma defesa da liberdade sexual. Para ele, o sexo faz parte da criação divina, e por isso precisa ser venerado e praticado. Não é à toa que o livro faz sucesso até hoje.



Pecado capital

No início da Idade Média, por volta do século 6, clérigos católicos listaram a luxúria entre os pecados capitais. Na opinião deles, entregar-se aos prazeres carnais afastava o cristão da redenção espiritual. Aos tarados, sobrou apenas a opção de ouvir os "contadores de história", como eram conhecidos os andarilhos que faziam aparições em tabernas narrando histórias picantes sobre mulheres insaciáveis, defloramento de virgens e orgias.

A tolerância foi diminuindo até que, em 1231, a criação da Inquisição fez sumir da vista de todos a nudez e o sexo. A partir dali, homens e mulheres deveriam ser retratados com túnicas largas e longas. Nem mesmo o menino Jesus podia ser retratado do jeito que veio ao mundo. E os que narravam estripulias sexuais podiam ser condenados à fogueira ou ao exílio.

Foi o que aconteceu com um dos mais criativos autores da Idade Média. O florentino Giovanni Boccaccio, que escreveu o lendário Decameron entre 1349 e 1351, tornou-se uma espécie de Galileu da pornografia, um digníssimo mártir da carne. Seu livro tem cem histórias narradas por sete mulheres e três homens reunidos numa casa isolada, onde contam peripécias de sexo com sátiras à Igreja.

Numa delas, o personagem Filostrato descreve as peripécias de um jardineiro que se finge de mudo para conseguir emprego num convento de freiras. Contratado, ele transa com todas as religiosas. Em outro trecho, um monge seduz uma virgem durante uma prece. Para azar de Boccaccio, entre os poucos que tiveram acesso ao livro na época (adaptado para o cinema pelo italiano Píer Paolo Pasolini, em 1970) estavam alguns clérigos, que o acusaram de heresia. Boccaccio teve de fugir e se isolar no vilarejo de Certaldo, onde morreria em 1375. Só por volta do século 15, já no Renascimento, é que os artistas aproveitariam o afrouxamento do poder católico para deixar escapar uns pelados nas telas. Foi o que fez Sandro Botticcelli na pintura O Nascimento de Vênus, quadro clássico da época, que exibe no centro uma mulher nua e voluptuosa (veja no quadro da página seguinte).



Os libertinos

A tolerância renascentista não durou muito tempo e a censura voltou a operar com força durante a Reforma, no século 16, que tratou de reacender o lado carola do velho continente. Entraram em cena, então, autores "subversivos" que questionavam o moralismo religioso. Na França, em meados do século 18, surgiram os primeiros libertinos, artistas e intelectuais pró-liberdade sexual que se reuniam em organizações secretas como a Sociedade para a Promoção do Vício, Clube do Fogo do Inferno ou Ordem Hermafrodita, onde promoviam leituras ou encenações de livros eróticos que culminavam em orgias. Os franceses tinham à disposição mais de cem desses clubes, alguns com até 400 integrantes entre homens e mulheres.

Oficialmente, o objetivo não era apenas o culto à carne. Quando dava tempo, os participantes também discutiam política. Mais tarde, alguns dos integrantes dessas organizações se juntariam ao pensamento iluminista - o mesmo que lutaria pelo fim da monarquia absolutista na Revolução Francesa. Outros viraram autores que atacavam a nobreza e a moral religiosa. Um deles, Donatien-Alphonse-François, o Marquês de Sade, entraria para a história como um ícone da pornografia.

Nascido em 1740, o nobre foi oficial do exército e se casou aos 23 anos. Como libertino que se preze, apaixonou-se pela empregada da casa, Juliette, a quem dedicou o romance que leva o nome dela. Quando Juliette morreu, Sade partiu para a libertinagem desenfreada, nos clubes secretos. Experimentou num deles aquilo que o tornaria célebre - juntar brutalidade ao sexo, prática conhecida mais tarde por sadismo. Acabou preso na Bastilha, acusado de estuprar e açoitar uma mulher de 36 anos e participar de orgias com flagelações. Foi nessa época que escreveu suas obras mais famosas, Os 120 dias de Sodoma e Os Crimes de Amor. Morreu num hospício, um final de vida comum para os pornógrafos do passado. "Sade soube retratar, com precisão, o que acontecia na época. E nesses eventos, os participantes muitas vezes incorporavam práticas de brutalidade e tortura ao sexo", diz a professora da PUC-SP Eliane Robert de Moraes, autora de Marquês de Sade, Um Libertino no Salão dos Filósofos.



Pornografia digital

A fotografia e as máquinas de impressão, que tornavam a produção em série mais barata, deram força à pornografia a partir da segunda metade do século 19. Fotos de modelos nuas e livros ilustrados começaram a ser vendidos nas principais cidades do mundo. A onda chegou ao Brasil por volta de 1870 e ganhou milhares de fãs. No Rio de Janeiro, circulavam centenas de títulos com histórias picantes. "No final do século, metade dos 500 mil habitantes da cidade sabia ler. Muitos compravam livros eróticos importados. Os editores perceberam o filão e lançaram autores nacionais", diz a antropóloga Alessandra El Far, autora de Páginas de Sensação, que conta a trajetória da literatura pornô brasileira entre 1870 e 1924. Os livros que tratavam de sexo, ou "romances para homens", falavam de adultério, padres que largavam a batina, aventuras em prostíbulos ou incestos. Os autores, anônimos, morreram desconhecidos. Mas deixaram alguns títulos históricos - entre os melhores, Memórias do Frei Saturnino; Amar, Gozar, Morrer; As Sete Noites de Lucrécia e o enigmático Camarões Apimentados.

No fim do século, mais uma vez a tecnologia seria peça fundamental para a popularização pornográfica. Agora, a novidade era o cinema. Em 1896, apenas um ano após os irmãos Lumière estrearem seu invento com a exibição de A Saída dos Operários da Fábrica, cineastas já utilizavam a novidade para fins sacanas. Os filmes tinham nomes como Wonders of the Unseen World ("Maravilhas de um mundo não visto") e mostravam strippers tirando a roupa para a câmera. Um escândalo. Com o sucesso - e o lucro - desses filmetes, produtores resolveram ir além e exibir cenas de sexo explícito. Uma das mais antigas de que se têm registro está em Free Ride, de 1915, sobre um sujeito que dá carona em seu calhambeque a duas mocinhas - com quem transaria depois, sob uma árvore. Chamadas de stags films ("filmes para rapazes"), as fitas tinham de 7 a 15 minutos e eram filmadas na França, Estados Unidos e Argentina, um dos primeiros pólos mundiais de produção cinematográfica erótica. Os diretores não aliviavam no repertório de opções: havia sexo oral, lesbianismo e ménage à trois, sempre em cenas reais. A ousadia pode ser explicada porque os censores ainda não haviam atentado para o "perigo da imoralidade pornográfica".

Nas décadas de 1930 e 1940, os americanos aprovaram a primeira lei sobre censura no país e as fitas escassearam. O explícito deu lugar à insinuação. Assim entraram em moda os peep shows, onde o espectador pagava para assistir a um filme com mulheres dançando e tirando a roupa - mas não tudo. Poucos produtores arriscavam e faziam circular fitas de sexo explícito, exibidas em prostíbulos, cinemas clandestinos ou festas de ricaços moderninhos. Eram rodadas na Suécia, que permitia a pornografia.

O clima hippie de paz e amor e as passeatas por mais liberdade sexual nos anos 60 contribuíram para que os fãs dos filmes de sexo explícito pudessem, enfim, ser felizes para sempre - ainda que escondidinhos em cinemas de qualidade duvidosa. Em 1972, pela primeira vez uma produção pornográfica fez sucesso comercial. Era Deep Throat, a Garganta Profunda, história louquíssima de uma ex-engolidora de espadas que tem o clitóris na traquéia e procura solução para o problema transando com o médico, amigos e namorados. O filme arrecadou cerca de 600 milhões de dólares e fez de Linda Lovelace, a atriz principal, uma celebridade.

Linda tinha 23 anos quando filmou Garganta Profunda e recebeu 1 250 dólares de cachê. Ninguém poderia imaginar que, após Linda, as atrizes pornôs seriam multimilionárias e teriam trânsito livre em festas badaladas. Entre as estrelas da pornografia, ninguém supera a húngara radicada na Itália Ilona Staller, a Cicciolina. Em 1987, após fazer campanha mostrando os seios, ela foi eleita deputada. No Parlamento, defendeu projetos como a liberação da pedofilia e atuou entre militantes pela paz. Na primeira Guerra do Golfo, ofereceu uma solução ao seu estilo para o conflito: transar com George Bush e Saddam Hussein. "Um de cada vez!", dizia.

Muito do sucesso de Cicciolina aconteceu graças à invenção do videocassete. A conexão é simples: com as fitas em VHS, os apreciadores do pornô não precisavam mais se expor na porta de salas sujas e lotadas. Podiam se divertir na privacidade de casa. "Com a chegada do vídeo, o pornô passou a ser produzido em larga escala, como uma linha de montagem. E isso marcou uma transformação significativa do produto", diz Nuno César Abreu, autor do livro O Olhar Pornô. O videocassete também barateou a produção pornô e fez o mercado erótico se multiplicar. Milhares de fitas com cenas de sexo, nas mais variadas modalidades, lotaram as locadoras. Hoje, estima-se que o mercado de DVDs, fitas VHS e canais de TV a cabo pornô movimente, anualmente, cerca de 14 bilhões de dólares no mundo - equivalente às vendas anuais de armamentos dos Estados Unidos.
O maior símbolo da fase "erótico em casa" é o americano John Stagliano, o Buttman (ou o "homem-bunda"). Dono de um império comercial, ele inventou um gênero conhecido como "porno-humorístico", em que manipula a câmera e, com ela ligada, conversa e faz piadinhas com os atores em cena. Muitas vezes, sai dos bastidores e participa da ação. A fórmula fez de Stagliano o maior vendedor mundial de filmes nas duas últimas décadas, lançando títulos como Exercícios de Buttman, As Férias Européias de Buttman e Buttman Vai ao Rio - ele adora filmar no Brasil, apesar de ter contraído aqui o vírus HIV. Buttman ficou milionário e sua empresa, a Evil Empire, é umas das gigantes do gênero, editando revistas e distribuindo filmes dele e de outros diretores para o mundo todo. "Sou um voyeur incansável. Adoro mostrar o sexo desse jeito divertido", costuma dizer. Será que os gregos gostariam desse estilo?


sexta-feira, 8 de julho de 2011

Alexandre o cara

ALEXANDRE, O CARA



Em 356 a.C., no sexto dia do mês grego de Hecatombeon, o grande templo de Artemis, em Éfeso, onde hoje fica a costa da Turquia, foi destruído pelas chamas. Entre os habitantes da cidade, o incêndio da magnífica construção - uma das sete maravilhas do mundo antigo - foi visto como um sinal divino. Enquanto o templo queimava, os magos de Éfeso corriam em volta das labaredas, batendo as mãos no rosto e anunciando que feitos grandiosos e terríveis se aproximavam.
No mesmo dia, segundo o escritor grego Plutarco, do outro lado do mar Egeu, uma mulher chamada Olímpias dava à luz seu primeiro filho. Olímpias era rainha da Macedônia, no norte do que hoje é a Grécia. Segundo ela, na noite em que o garoto foi concebido, um relâmpago a atingiu no ventre. O rei Filipe II, marido de Olímpias, disse ter encontrado a esposa adormecida ao lado de uma enorme serpente.
Se essas histórias são verdadeiras, não sabemos. O que sabemos é que o menino ganhou o nome de Alexandre. Sabemos também que, antes de completar 30 anos, o filho de Olímpias e Filipe se tornaria o maior conquistador que o mundo já vira - e um dos maiores que veria até hoje. Alexandre foi senhor de um império gigantesco e responsável por uma das campanhas militares mais espetaculares da história. Seu nome tornou-se um mito - e sua personalidade continua até hoje mergulhada em polêmica e mistério.
O nascimento se deu numa época conturbada. Fazia mais de um século que a bacia do mar Egeu era palco de um sangrento duelo entre duas potências rivais: as cidades-estado da Grécia e o enorme Império Persa. Até aquele momento, os gregos haviam sido vitoriosos, mas as poderosas e independentes cidades-estado, divididas por rivalidades seculares, mostravam-se incapazes de transformar a Grécia em uma nação coesa. Enquanto o Império Persa se recuperava das antigas derrotas, os gregos lutavam entre si, arrastando o país à beira da anarquia.
Filipe, pai de Alexandre e rei da Macedônia, dedicou-se a reverter essa situação. Dotado de um incansável gênio político, ele transformou seu reino em uma potência internacional e criou um exército organizado e eficaz (veja o quadro à direita). No auge de seu poder, Filipe fundou a Liga de Corinto, organismo que unificava todas as cidades da Grécia - menos Esparta - sob a hegemonia macedônica. No entanto, não teve tempo de realizar seu projeto mais ambicioso: unir gregos e macedônios em uma expedição contra o inimigo comum, o Império Persa.
Durante uma festa, em 336 a.C., Filipe foi apunhalado. Alexandre subiu ao trono em meio a uma tempestade de intrigas, cercado por inimigos dentro e fora do reino. Para manter-se no poder, ele foi implacável: eliminou adversários na corte, esmagou rebeliões e provou que Filipe tinha um herdeiro à altura. Com o reino pacificado, Alexandre estava pronto para levar adiante os projetos do pai - e superá-los. Caberia a ele conduzir a Macedônia ao auge de seu poder e abrir um novo capítulo na história do mundo.

Jovem rei
Quando tomou as rédeas do reino, Alexandre tinha só 20 anos, mas já era um político habilidoso e um guerreiro indomável. Desde a infância, a ambição foi sua característica dominante. Certa vez, ao receber notícias de uma vitória de Filipe, o príncipe lamentou-se com seus amigos: "Meu pai vai acabar conquistando tudo, e não deixará para nós nenhum feito grandioso". Aos 18 anos, quando comandou a cavalaria macedônica na batalha de Queronéia, sua coragem transformou-o em um ídolo entre os soldados. O gosto pelo perigo, unido a um profundo magnetismo pessoal, encantava seus companheiros e fazia de Alexandre um líder irresistível.
Além da bravura militar, ele havia demonstrado desde menino uma grande curiosidade intelectual. Apaixonado pelas artes e pelas ciências, sempre respeitou os poetas, filósofos e eruditos (veja o quadro na página 45). Certa vez, afirmou que teria preferido superar os outros em conhecimento do que em poder político. O macedônio sabia de cor os versos da Ilíada e costumava dormir com o livro debaixo do travesseiro - junto com a espada, claro. Sua mãe o convenceu de que era descendente de Aquiles, o grande herói da Guerra de Tróia. Essa guerra mítica teria sido a origem ancestral da rivalidade entre gregos e persas. Alexandre adotou Aquiles como modelo e, assim como o semideus fabuloso, o rei dos macedônios era generoso com os amigos e capaz da maior cortesia com os adversários, mas também vivia obcecado pela idéia de sua própria grandeza e deixava-se arrastar por surtos de cólera.
Em 334 a.C., ele pôs em ação o velho projeto do pai: à frente de um exército de 37 mil soldados, marchou para a Ásia Menor e atacou os persas em seus próprios domínios. A primeira grande batalha ocorreu às margens do rio Granico (que hoje se chama Koçabas). Galopando à frente da cavalaria, Alexandre foi cercado por uma multidão - e teria morrido ali mesmo, em começo de carreira, atravessado pela cimitarra de um comandante persa, se não fosse seu amigo Clito, que decepou o braço do atacante e salvou a vida do rei por uma fração de segundo.
O exército macedônico deparou com o grosso das forças adversárias em uma planície próxima de Issus, na Síria. Lá, Dario III, imperador da Pérsia, aguardava-o com um exército de provavelmente 50 mil a 75 mil homens (alguns historiadores antigos chegam a falar de 600 mil homens, mas os historiadores antigos não se notabilizam pela exatidão numérica). As tropas de Alexandre eram menores em número, mas superiores em tática e disciplina - e o resultado foi um banho de sangue. Os macedônios massacraram milhares de soldados inimigos e o resto fugiu em pânico - incluindo o próprio Dario III, que abandonou sua mãe, sua esposa e suas filhas no acampamento real. Ao encontrar a família do inimigo, Alexandre se comportou como um cavalheiro: garantiu às cativas que seriam tratadas como rainhas e jamais permitiu que alguém as desrespeitasse. As prisioneiras afeiçoaram-se tanto a seu captor que, após a morte de Alexandre, Sisigâmbis, mãe de Dario, suicidou-se por inanição.
Depois dessa vitória esmagadora, nada parecia impossível. Pouco a pouco, as verdadeiras ambições de Alexandre começavam a se revelar. Ele não pretendia apenas derrotar o Império Persa. Seu desejo ia um pouco além: dominar o mundo.

Filho de deuses
Antes de completar a conquista da Ásia, Alexandre dirigiu-se para a África e penetrou triunfalmente no Egito. A terra das pirâmides, que durante séculos fora dominada pelos persas, saudou-o como libertador - e o rei da Macedônia foi declarado herdeiro dos faraós. Após iniciar a construção de Alexandria - uma das muitas cidades que levariam seu nome (veja o quadro da página 47) -, o conquistador cavalgou pelo deserto para visitar o oásis de Siva, na Líbia, onde se localizava o célebre oráculo do deus solar Amon - que, na Grécia, era associado a Zeus, o senhor do Olimpo. De acordo com alguns relatos, os sacerdotes do templo, vendo aproximar-se o monarca, saudaram-no como "filho de Zeus" e anunciaram que seu destino era dominar o Universo.
As palavras dos sacerdotes alimentaram o velho rumor de que Alexandre não era um simples mortal - mas um filho dos deuses. "Para a mentalidade oriental, isso caía como uma luva. Especialmente no Egito", diz o historiador clássico Anderson Zalewski, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "O fato de um conquistador se apresentar como deus não era anormal por lá. Um dos elementos da monarquia oriental era o caráter divino", afirma.
Jamais saberemos com certeza se o próprio Alexandre acreditava em sua natureza divina, mas, entre seus seguidores gregos e macedônios, essa pretensão - mesmo que não passasse de truque político - era encarada com desconfiança. Muitos pensavam que, ao declarar-se filho de um deus, Alexandre renegava a memória de seu pai, Filipe. Outros acreditavam que a vaidade do jovem soberano estava indo longe demais. Em 324 a.C., quando Alexandre ordenou que os súditos o reconhecessem como um deus vivo, seus inimigos denunciaram o ato como pura megalomania. Em Esparta, comentou-se com desprezo: "Deixem Alexandre ser um deus, se isso lhe agrada..."

Rei dos Reis
Conquistado o Egito, Alexandre não voltou para casa. Ele preferiu rumar para a Ásia, onde iniciou uma caçada humana - cuja presa era Dario III. "Se te consideras um rei", escreveu o macedônio ao imperador da Pérsia, "prepara-te para a luta e não fujas, pois eu te perseguirei aonde quer que vás". Os inimigos voltaram a se defrontar em 331 a.C., em Gaugamela (atual Tell Gomal, no Iraque). Dario fugiu pela segunda vez e acabou sendo assassinado por um de seus próprios oficiais. Em Susa, uma das antigas capitais do império, Alexandre sentou-se triunfalmente no trono dos soberanos persas. Agora ele era o "Rei dos Reis", senhor de gregos e dos asiáticos. Tinha apenas 25 anos.
No entanto, ao mesmo tempo em que o rei atingia o ápice da glória, as tensões entre ele e seus seguidores chegavam a um ponto crítico. O macedônio começava a se comportar como um monarca absoluto - e muitos de seus oficiais ressentiam-se dessa transformação. Alexandre instituiu em sua corte a cerimônia da proskynesis, ou prostração - gesto de humildade em que o súdito se curva perante o soberano. Entre os persas, esse ritual não passava de uma mostra de respeito. Para os gregos e macedônios, era um ultraje. "Os soldados de Alexandre consideravam-se seus companheiros, e o ato de se prostar era visto como uma degradação própria de escravos", afirma o historiador Zalewski.
Alexandre passou a favorecer cada vez mais os súditos asiáticos e começou a imitar muitos de seus costumes. Incluiu nobres persas em seu círculo de amizades, entregou o governo de províncias a antigos funcionários de Dario e adotou trajes orientais. Também estimulou a união entre seus oficiais e mulheres asiáticas - chegando ele próprio a se casar com uma nobre iraniana chamada Roxane. Muitos gregos e macedônios acusavam o rei de estar se afeiçoando perigosamente ao inimigo.
Durante os anos que Alexandre passou na Ásia, a antiguidade e o mistério das culturas orientais exerceram grande fascínio sobre seu espírito. No livro Alexandre e o Império Helênico, o historiador britânico A.R. Burn, da Universidade de Glasgow, Escócia, afirma que o macedônio "aprendera a respeitar os persas por sua coragem em luta, e mesmo por sua eficiência administrativa". Além disso, certamente lhe agradava o ego ser tratado como um soberano supremo. Acima de tudo, no entanto, havia uma questão de ordem estratégica: para governar um império que pretendia ser universal, era preciso ganhar o coração dos novos súditos e estabelecer uma unidade cultural em seus domínios. "Sua tática era mimetizar os costumes dos povos dominados, procurando conciliar a tradição helênica e a memória cultural local", diz o historiador e arqueólogo Francisco Marshall, também da UFRGS. "O grande motivo por trás da orientalização de Alexandre e de sua política de mestiçagem é o desejo de evitar a fragmentação em seus domínios", afirma.
É claro que um projeto tão complexo não poderia ser totalmente compreendido por aqueles que o cercavam. "A orientalização de Alexandre causou amargo rancor entre os macedônios e a tensão passou a disseminar-se pela corte", afirma o historiador britânico John Maxwell O’Brien em Alexander the Great: the Invisible Enemy ("Alexandre, o Grande: o Inimigo Invisível", sem tradução no Brasil). Murmúrios de descontentamento fervilhavam entre as tropas e o rei já sentia a solidão do poder absoluto. Desconfiado e taciturno, bebia cada vez mais, enxergava inimigos por todos os lados e tratava sem piedade os suspeitos de traição.
Em 328 a.C., durante um banquete de casamento na cidade de Samarcanda, Clito, o heróico oficial que tinha salvado a vida de Alexandre anos antes, às margens do Granico, deixou-se levar pela raiva e lançou na face do rei uma série de acusações amargas. "Tenho inveja dos mortos" gritou ele, "que não viveram para ver macedônios açoitados com varas, implorando aos persas, como se fosse um favor, uma audiência com nosso próprio rei!" A inveja de Clito não duraria muito. Alexandre, que estava completamente embriagado, arrancou uma lança das mãos de um de seus guardas e atravessou com ela o coração do amigo. Clito caiu com um gemido e morreu na hora. Ao ver o cadáver estirado a seus pés, Alexandre ficou imediatamente sóbrio e entrou em desespero. O remorso o manteve na cama durante três dias, sem aceitar comida nem vinho.
O episódio, contudo, não diminuiu a determinação do macedônio - e, passado o choque inicial, sua ambição e seus modos autoritários voltaram com força redobrada. Os domínios de Alexandre já abrangiam três continentes, mas ele não estava disposto a descansar enquanto não alcançasse os limites do mundo conhecido. Assim, em 327 a.C., o rei voltou a reunir suas tropas e marchou. Rumo à Índia.

Deus caído
Para os gregos, a Índia era uma região misteriosa e de geografia incerta. Alguns afirmavam que, para além dela, estendia-se o Oceano Exterior - uma gigantesca massa de água que demarcava os limites da Terra. Acreditasse ou não nessas lendas, o fato é que Alexandre pretendia ultrapassar as antigas fronteiras do Império Persa e estabelecer seu domínio sobre as "terras incógnitas" do Extremo Oriente. Ele queria nada menos do que a China.
Às margens do rio Hidaspes (hoje Jhelum, na Caxemira, região disputada pela Índia e o Paquistão), Alexandre encontrou um adversário à altura: o rajá de Paurava, conhecido entre os gregos como rei Porus. Porus era um gigante - dizem que tinha mais de 2 metros - e poucos igualavam sua coragem em batalha. Segundo algumas fontes, seu exército contava com 23 mil homens, 300 carros de guerra e 85 elefantes. A luta começou sob chuva, na penumbra da madrugada, enquanto os cavaleiros gregos atravessavam o rio com água no peito. Montado em seu elefante, Porus continuou a lutar com fúria mesmo após a morte de seus dois filhos e a dispersão de quase todas as tropas. Quando o indiano finalmente se rendeu, Alexandre estava impressionado com sua bravura. Perguntou-lhe como desejava ser tratado, ao que Porus respondeu: "Como um rei". Alexandre atendeu seu pedido: manteve Porus no poder e fez dele um aliado. O rajá permaneceu leal ao rei da Macedônia até o fim da vida. Foi nessa batalha que morreu Bucéfalo, o célebre cavalo de Alexandre.
Entusiasmado com a vitória, o conquistador preparava-se para avançar até o rio Ganges. Mas a encarniçada batalha contra Porus havia esfriado o ânimo das tropas. Esgotados pelo sufocante verão indiano e pelas incessantes chuvas de monção, os soldados, que acompanhavam Alexandre havia oito anos, só pensavam em voltar para casa. Às margens do rio Hífaso, o exército recusou-se a dar um único passo adiante. Furioso, Alexandre afirmou que seguiria sozinho se fosse preciso. Encerrou-se em sua barraca e, por dois dias, recusou-se a ver qualquer pessoa. Mas, dessa vez, sua ira foi inútil. Compreendendo que não lhe restava opção, ele cedeu ao apelo dos oficiais. Quando souberam que iam voltar, os soldados choraram de alegria.
Retornando ao centro do império, Alexandre começou a sonhar com novas campanhas. Mas seu corpo e sua mente estavam esgotados por uma década de guerras. Em 324 a.C., o espírito combalido do macedônio recebeu um golpe duro: Heféstion, seu amigo mais íntimo (e, segundo alguns, seu amante), morreu por excesso de bebida. O rei chorou sobre o cadáver do companheiro e resolveu afogar as mágoas de seu jeito favorito: marchou contra a tribo dos cosseanos e ordenou que toda a população masculina fosse passada no fio da espada.
Com a alma envenenada pela solidão e pela desconfiança, o homem mais poderoso do mundo deixou-se derrotar pelo vinho. Seus banquetes estendiam-se noite adentro. Numa dessas ocasiões, segundo Plutarco, 41 convivas morreram de tanto beber. Com a saúde destroçada, Alexandre foi dominado por fantasias supersticiosas e começou a ver presságios de sua própria morte por todos os lados.
Em 323 a.C., na Babilônia, os presságios se confirmaram. Após um dia e uma noite de bebedeira, o imperador caiu de cama, ardendo em febre. No dia 10 de junho, ao pôr-do-sol, Alexandre, o Grande, estava morto. Para alguns, a causa foi a bebida; para outros, uma doença não diagnosticada, como malária (pesquisadores atuais cogitam a hipótese de ter sido sífilis). Há quem fale em envenenamento. Alexandre ainda não tinha 33 anos.
O rei não deixou herdeiros - e quando, no leito de morte, perguntaram-lhe a quem legaria o trono, ele murmurou: "Ao mais forte". Enquanto os soldados pranteavam o grande líder, seus generais já se batiam pela soberania. Em meio a uma profusão de assassinatos, lutas e traições, o sonho de um império universal chegava ao fim.

A herança
A partir de 321 a.C., os domínios de Alexandre foram divididos entre seus oficiais: Seleuco apoderou-se da Ásia Ocidental, Antígono reinou sobre a Macedônia e Ptolomeu fundou uma dinastia no Egito, cuja herdeira mais famosa foi a rainha Cleópatra. O gigantesco império fragmentou-se em pedaços que acabaram sendo subjugados pelos romanos, cerca de dois séculos depois. Alguns detratores de Alexandre chegaram a negar sua contribuição para a história - um texto anônimo afirma que "nada do que ele fez permaneceu, exceto pelas pessoas que matou, e essas continuam mortas".
A verdade, no entanto, é que as conquistas macedônicas, motivadas em grande parte pela ambição e pelo orgulho de um único homem, tiveram conseqüências tão vastas e profundas que deram início a um novo período histórico - conhecido como "época helenística". Em sua passagem pela Ásia e pela África, Alexandre fundou cidades, estabeleceu rotas de comércio e abriu as portas do mundo para a cultura helênica. Gregos passaram a migrar para o Oriente e metrópoles floresceram, como Pérgamo, Antióquia e Alexandria do Egito. Nas regiões mais remotas, governantes cercavam-se de filósofos, historiadores, geógrafos, pintores e escultores, ajudando a criar novos estilos artísticos e dando início a um período de curiosidade intelectual e avanço científico.
Para o classicista Marshall, a helenização do mundo antigo pode ser interpretada como a primeira globalização da história. "Alexandre foi o primeiro a realizar um projeto de unificação dirigida, planificada, deliberada. Com a fundação de cidades gregas por todo o Oriente, ele estabeleceu focos de irradiação da cultura clássica."
O período foi marcado por um intenso diálogo entre civilizações. O fascínio das culturas orientais logo começou a agir sobre o helenismo, transformando o espírito dos dominadores. Deuses como Ísis e Serápis, vindos do Egito, passaram a ser adorados pelos gregos. Ao redor do Mediterrâneo, fiéis eram iniciados em novos cultos, que prometiam salvação individual e imortalidade para a alma. Surgia, assim, o caldo heterogêneo no qual nasceria o cristianismo. "Os conquistadores gregos e macedônios passaram a interagir com as elites e as populações das terras dominadas, e o resultado foi uma experiência de total encontro de culturas", diz a arqueóloga Maria Beatriz Borba Florenzano, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.
Embora Alexandre tenha inaugurado uma era de tanto florescimento, seria ingênuo imaginar que o objetivo de seus atos fosse a fraternidade universal ou o bem das nações. Como escreveu Burn, "a idéia de que a ambição e o desejo de dominar são motivos indignos só surgiria na Europa sob influência do cristianismo". Alexandre viveu na certeza de que a dominação em larga escala era o único alvo digno de seus talentos. E foi seguindo a implacável lógica da conquista que ele escreveu seu nome, em letras de fogo e sangue, na história da humanidade.


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terça-feira, 9 de novembro de 2010

De que somos feitos ?

DE QUE SOMOS FEITOS ?



Se um dia alguém lhe pedir para construir um planeta como a Terra, vai aqui uma dica: o segredo de toda receita, como qualquer químico ou dona-de-casa pode lhe dizer, é escolher bem os ingredientes. Cumpra direitinho esse estágio e o resto vai ser só aquele trabalho besta de bater a massa e deixá-la descansar por alguns bilhões de anos. O esforço de construir um planeta fica restrito a apenas uma pergunta: "Que diabos de ingredientes eu uso para cozinhar a Terra?"

A resposta depende da época em que você nasceu. O primeiro a tentar solucionar o problema foi o filósofo grego Empédocles (490 a 430 a.C.). Para ele, era possível construir tudo o que existe na Terra com apenas quatro elementos: ar, água, fogo e terra. De acordo com a concentração de cada um na mistura, dava para fazer coisas tão diferentes como a rocha, a madeira, o vapor ou o barro. Para haver o equilíbrio e a vida continuar a existir, tais substâncias estariam sujeitas à ação de dois princípios: amor e ódio. Os dois se comportariam como as forças responsáveis por organizar e harmonizar as quatro partes essenciais, ora misturando, ora separando cada uma delas. Pronto, estava explicado o mundo.

Era uma idéia tão engenhosa que foi aceita pelas mentes mais afiadas da Grécia, entre elas a de Aristóteles (384 a 322 a.C.), que aprimorou o sistema. Para ele, amor e ódio não só misturavam os elementos como podiam transformar um em outro. Cada um dos ingredientes básicos tinha uma temperatura e uma umidade (veja ilustração ao lado) e era só mudar essas propriedades que os elementos se transformavam. Esfriando o ar, por exemplo, consegue-se água; molhando o fogo surge o ar, e assim por diante. Essa possibilidade deu origem ao sonho de encontrar a "pedra filosofal", capaz de fazer qualquer metal virar ouro. Os chamados alquimistas se esforçavam, sempre sem sucesso, para chegar lá.

Essa história - e como a química evoluiu a partir dela - é o tema do livro The Ingredients ("Os Ingredientes", ainda não traduzido), do jornalista inglês Philip Ball. Hoje se sabe que as experiências de Aristóteles nada mais faziam que trocar o estado físico da matéria. Terra era o nome dado para todos os sólidos (desde a areia até as lanças de metal), ar batizava os gases e água identificava os líquidos. Era só resfriar o vapor e transformá-lo em líquido que ele virava outro "elemento" - mesmo que tudo não passasse de água. O problema era o fogo, um fenômeno esquisito em que partículas ficavam se movimentando, excitadas pelo calor. Os antigos pensadores perceberam essa particularidade e conviveram com ela. Mas nunca a entenderam.

BRINCANDO COM FOGO
Os mistérios do fogo tiveram que esperar até o século 17 para ganharem uma explicação - mesmo assim, bastante peculiar. Nessa época, imaginou-se que as chamas não seriam um elemento em si, mas sim uma essência inflamável contida em praticamente todas as substâncias - chamada de flogístico -, que poderia ser liberada com o fornecimento de calor. Essa teoria mudou para sempre a história da química, principalmente porque nem todos concordaram em diminuir para três a lista de ingredientes no mundo. Um dos céticos era o pastor inglês Joseph Priestley (1733-1804). Ele descobriu que, com o aquecimento do óxido de mercúrio, havia liberação de um gás especial (na verdade, oxigênio) em cuja presença era possível produzir fogo com chamas muito mais intensas. Segundo a ciência da época, isso era um problema: o fogo estava aumentando quando o flogístico já havia sido consumido. O pastor denominou esse no gás de "ar sem flogístico" e, em estudos seguintes, notou que ele possuía propriedades milagrosas, capazes até mesmo de prolongar a vida. Um ratinho, colocado em uma caixa lacrada cheia do intrigante gás, sobrevivia por mais tempo que outro roedor envolto em ar comum.

Quatro anos depois, em 1778,0 químico francês Antoine Lavoisier interpretou essas observações como indícios de que esse gás era um novo elemento e batizou-o de oxigênio. A teoria do flogístico veio abaixo. Até então, acreditava-se que uma substância queimando dentro de um recipiente fechado se apagasse uma hora porque o ar ficava saturado de flogístico. Já a nova teoria propunha que o oxigênio era consumido durante a combustão, de modo que a queima terminava quando o ar ficava pobre desse gás. A compreensão mais exata do processo de queima permitiu ainda a Lavoisier identificar os três estados físicos da matéria: sólido, líquido e gasoso. Com isso, foi possível distinguir as variações de cada substância. Era o fim definitivo das confusões que descabelaram os velhos pesquisadores - água, gelo e vapor passaram a ser simplesmente água.

Daí para uma nova definição dos ingredientes do Universo foi um pulo. "Elemento é qualquer substância que não pode ser dividida em componentes mais simples a partir de reações químicas", afirmou Lavoisier, que listou 33 deles. Nem todos estavam corretos - constavam da lista a luz, o calor e a lima, hoje conhecida como óxido de cálcio, um composto resultante da combinação entre cálcio e oxigênio.

A partir desse momento, tudo era uma questão de saber se o elemento se apresentava em sua versão mais simples. Se ele pudesse ser dividido em duas coisas diferentes, é porque não era ainda o ingrediente básico. Em 1800, já se conheciam mais de 36 elementos e a tendência era que essa lista aumentasse rapidamente. Conscientes disso, os químicos passaram a ter a preocupação de criar uma maneira fácil de representar e organizar esse monte de substâncias.

O pontapé inicial foi dado por John Dalton. Ele comparou a mesma quantidade dos 36 elementos e viu quais eram mais pesados. Dividiu então os elementos tendo por base o peso, associando um desenho para cada um deles. O resultado foi um painel confuso, formado por três dúzias de símbolos esféricos. Uma solução mais prática veio do sueco Jons Jacob Berzelius em 1811. Ele propôs que cada elemento fosse representado pela inicial do nome em latim e, em caso de coincidência, pelas duas primeiras letras. Assim, oxigênio virou O e carbono passou a ser C, enquanto o cobalto tomou-se Co.

O próximo passo seria separar os elementos em grupos, de acordo com alguns critérios. O primeiro deles, proposto por Lavoisier, era dividir as substâncias em gases, não-metais, metais e "terrenos", que incluíam a lima. Dezenas de outras tentativas se seguiram até a elaboração do modelo mais aceitável, que se tornaria a base para a tabela periódica atual. O pai dessa nova disposição foi o russo Dmitri Mendeleyev (1834-1907). Ele bolou um arranjo em que os elementos apareciam identificados pelo esquema de Berzelius e dispostos em colunas verticais (a disposição horizontal era mais comum na época). Também estavam divididos por propriedades físicas e químicas e em ordem crescente de peso. Mendeleyev teve até o cuidado de deixar lacunas na tabela, para elementos a serem descobertos (e que de fato o foram). O resultado final foi a primeira versão da tabela que aparece acima.

Essa representação ganhou força com a descoberta de partículas ainda menores que os átomos. Descobriram-se prótons - partículas de carga positiva no núcleo do átomo - e nêutrons - sem carga elétrica mas capazes de aumentar o peso do núcleo. Por fim, existem pedaços minúsculos de matéria girando em volta disso tudo, os elétrons, que têm carga negativa. A diferença entre os elementos está no número de prótons que possuem. Com essa descoberta, pode-se contar o número de ingredientes do Universo: 92. Junte todos os itens da tabela acima até chegar ao urânio e você terá material para construir um planetinha bacana.

FAZENDO OURO
Não era só na química primitiva de Aristóteles que um elemento podia se transformar em outro. Milênios depois, os cientistas observaram em laboratório uma série de metamorfoses misteriosas. Um punhado de átomos de tório, por exemplo, podia começar a emitir outro elemento, o radônio, mesmo que este não estivesse ali originalmente. Como pode?

Para chegar à resposta, os cientistas precisaram conhecer as misteriosas substâncias emitidas por alguns elementos (que hoje conhecemos como radiativos"). Essas partículas - chamadas de alfa e beta - conseguem aumentar ou diminuir o número de prótons no átomo. Aprenda a lidar com elas e será possível transformar um elemento em outro. O tórío (com 90 prótons), por exemplo, emite partículas alfa até ficar com apenas 86 prótons e, assim, virar radônio.

A descoberta reviveu o sonho dos alquimistas - produzir ouro a partir de metais comuns. Os químicos tentaram até conseguir, o que ocorreu em 1941, ao extraírem um próton do núcleo de mercúrio e transformarem o metal em ouro. Só que a experiência não era tão simples, o que acabou com o sonho de riqueza instantânea desses desbravadores. A tecnologia permitia, no entanto, aumentar a tabela. Os cientistas conheciam agora os ingredientes do Universo, mas, como qualquer químico ou dona-de-casa pode lhe dizer, ater-se à receita original é coisa de principiante. A lista, na verdade, não tem fim: sempre é possível colocar um próton a mais no núcleo e conseguir um novo componente da tabela periódica. Um átomo de urânio com um próton a mais vira um netúnio, uma substância que ninguém nunca havia visto, mas que poderia ser feita em laboratório. Desde então, o grupo formado por elementos artificiais não parou de crescer, em parte graças à variedade de reações nucleares que os cientistas descobriram.

Foi possível, por exemplo, somar dois átomos e criar os maiores elementos que aparecem na tabela periódica, alguns com mais de 110 prótons. Não é uma tarefa fácil. Essa reação, a fusão de átomos, envolve energias altíssimas e técnicas que ainda precisam ser aprimoradas. Para piorar, os átomos mais pesados emitem radiação e se transformam em outros mais leves em milésimos de segundo, dificultando a observação. Encontrar um jeito fácil de somar os átomos, no entanto, é um dos grandes sonhos dos cientistas. Esse truque é tão poderoso que está nele a fonte de energia do Sol, onde 600 bilhões de toneladas de hidrogênio são fundidas a cada segundo e transformadas em hélio, em uma temperatura que alcança 10 milhões de graus centígrados.
Até hoje, os químicos conseguiram produzir e observar 116 elementos. E provável que, no futuro, essas pesquisas levem não só a mais substâncias como a uma compreensão melhor a respeito daquelas que já conhecemos. Não é pouca coisa. O nível atômico abriga as maiores energias que o homem conhece e, por conseqüência, as maiores oportunidades. Se desvendarmos os quebra-cabeças escondidos na tabela periódica, poderemos até, quem sabe, descobrir uma receita para construir novos planetas. Mas não é preciso sonhar tanto: mudar a Terra já seria um tremendo avanço.