sexta-feira, 6 de março de 2020

Escravo que projetava igrejas é reconhecido como arquiteto 200 anos após sua morte

Escravo que projetava igrejas é reconhecido como arquiteto 200 anos após sua morte

Igreja Matriz da Sé, onde Tebas construiu a torre, em 1750, 
e executou a reforma do prédio, entre 1777 e 1778

Um escravo conhecido como Tebas se destacou no século XVIII em São Paulo por criar projetos de edifícios, principalmente religiosos. 


Ele era famoso por dominar a técnica da cantaria, arte de talhar pedras em formas geométricas. Apesar da importância de suas obras, ele só foi reconhecido como arquiteto 200 anos após sua morte.

Entre os trabalhos de Tebas estão a ornamentação da fachada da antiga igreja do Mosteiro de São Bento e a construção do Chafariz da Misericórdia, o primeiro chafariz público da capital paulista. Algumas dessas obras, como as partes frontais da igreja da Ordem Terceira do Carmo e da igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco ainda existem. Mesmo tendo feito trabalhos de destaque, seu nome acabou caindo no esquecimento.

Sua história foi relembrada recentemente com o lançamento do livro Tebas: Um Negro Arquiteto na São Paulo Escravocrata, organizado pelo jornalista Abilio Ferreira. Nascido em Santos, em 1791, o nome verdadeiro de Tebas era Joaquim Pinto de Oliveira. Como escravo, seu proprietário era um renomado mestre de obras da cidade chamado Bento de Oliveira Lima, com quem aprendeu o ofício. Segundo o inventário de Lima, Tebas era mais valioso do que seus outros quatro escravos que atuavam como pedreiros juntos. 


Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco, no centro: 
vizinha à Faculdade de Direito 


Com o tempo, Lima e Tebas passaram a ser solicitados para trabalhar em São Paulo. Entre as obras em que atuaram estava a restauração da antiga Catedral da Sé (demolida em 1911). Como Lima morreu antes de terminar a obra, sua viúva ficou endividada e teve que vender Tebas. Como queria concluir a fachada da igreja, o arcebispo Matheus Lourenço de Carvalho comprou Tebas. Após a conclusão da reforma, o religioso concedeu a alforria a ele no fim da década de 1770.

Livre, Tebas continuou a trabalhar na área da construção. Ele morreu aos 90 anos. Em 2018, foi considerado oficialmente arquiteto pelo Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo.




O LIVRO DE "Abílio Ferreira"
Livro analisa legado de Tebas, negro escravizado que se tornou arquiteto no Brasil Colonial

Escravizado até os 58 anos de idade, Tebas executou emblemáticas obras do Brasil Colonial e se consolidou como um dos maiores arquitetos brasileiros do século 18. Porém, sua história ainda é pouco conhecida do público e até mesmo de muitos pesquisadores. Mas isso está prestes a mudar. Pela primeira vez uma publicação se propõe a analisar, em profundidade, o legado e a trajetória de Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811), mais conhecido como Tebas.


O Livro - Tebas
Um Arquiteto na São Paulo Escravocrata (abordagens)
Abílio Ferreira


Tebas: um negro arquiteto na São Paulo escravocrata (abordagens), organizado pelo escritor e jornalista Abilio Ferreira, é a primeira publicação de não ficção dedicada ao construtor, reunindo artigos de cinco especialistas. Tebas foi o responsável pela construção do Chafariz da Misericórdia (1792), sua obra mais conhecida, além dos ornamentos de pedra da fachada das principais igrejas paulistanas da época, como a da Ordem Terceira do Carmo (1775-1776), a do Mosteiro de São Bento (1766 e 1798), a da velha Catedral da Sé (1778), a da Ordem Terceira do Seráfico São Francisco (1783) e, também, do enorme Cruzeiro Franciscano da cidade de Itu (1795).

O evento de lançamento do livro será no dia 14 de março, às 19h, na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. No dia 21 de março, às 20h, também haverá uma segunda atividade de lançamento durante a “Caminha Noturna pelo Centro”, na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo.


Mais sobre Tebas
As origens africanas de Joaquim Pinto de Oliveira ainda não são conhecidas. Sabe-se, no entanto, que ele nasceu em Santos e foi transferido para São Paulo, em meados do século 18, pelo seu então proprietário, o português Bento de Oliveira Lima, célebre mestre de obras da região.

A capital vivia, na época, um boom na construção civil, baseada no método construtivo da taipa. Tebas se destacava por ser um especialista na arte e na técnica de talhar e aparelhar pedras, um profissional raro na São Paulo colonial. Seu trabalho era muito requisitado, sobretudo pelas poderosas ordens religiosas presentes na cidade desde a fundação.

Alforriado entre 1777 e 1778, aos 57 ou 58 anos de idade, Tebas morreu no dia 11 de janeiro de 1811, vítima de gangrena, aos 90 anos. O velório e o sepultamento foram realizados na Igreja de São Gonçalo, ainda hoje existente na Praça João Mendes.


Benedito Lima de Toledo, professor emérito da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, em entrevista concedida à revista Leituras da História (2012), destacou que Joaquim Pinto de Oliveira soube captar a religiosidade da época e expressá-la de maneira muito pessoal. “Essa expressão da religiosidade”, disse Toledo, na ocasião, “é que o transformou em arquiteto e as suas obras em arte”.


Tebas - Arquiteto Negro na São Paulo Escravocrata | Livro





Fonte: Veja São Paulo

Veja São Paulo - Site Fonte



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