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quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Jarras de vinho de 5 mil anos são encontradas em tumba de misteriosa rainha do Egito

Jarras de vinho de 5 mil anos são encontradas em tumba de misteriosa rainha do Egito

Segundo o Ministério das Antiguidades e Turismo do país, centenas de recipientes fechados ainda contêm restos de bebida.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Fábrica de vinho de 1500 anos é encontrada em Israel

Fábrica de vinho de 1500 anos é encontrada em Israel

Os arqueólogos estimam que a vinícola tinha capacidade de produzir dois milhões de litros da bebida por ano.

terça-feira, 23 de março de 2021

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

PERIGO - 'Se beber, não nade': a perigosa ligação entre álcool e mortes por afogamento

PERIGO - 'Se beber, não nade': a perigosa ligação entre álcool e mortes por afogamento

Um dia de verão, um drink, um mergulho... Pode não parecer, mas há uma combinação que não cai bem aí, alertam organizações da área da saúde — Foto: Getty Images via BBC

No Brasil e no mundo, bebidas alcóolicas são um fator de risco importante para afogamentos, que matam mais de 300 mil pessoas no planeta anualmente.

terça-feira, 21 de maio de 2019

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Seis invenções incríveis da Coreia do Norte que você precisa conhecer

Seis invenções incríveis da Coreia do Norte que você precisa conhecer


Apresentamos algumas das invenções científicas mais surpreendentes de um dos países mais orgulhosamente fechados do mundo.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Vinho com mais de 1.600 anos intriga a ciência


Vinho com mais de 1.600 anos intriga a ciência


Ninguém ainda provou da bebida mais antiga de que se tem notícia!

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Manda mais vinho - Já pediam os hebreus há mais de 2000 anos


Manda mais vinho - Já pediam os hebreus há mais de 2000 anos


Mensagem encontrada em peça de 600 a.C. pedia que colega trouxesse mais bebida! 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Como uma ressaca ajudou na descoberta de um dos analgésicos mais usados no mundo


Como uma ressaca ajudou na descoberta de um dos analgésicos mais usados no mundo


Stewart Adams foi homenageado pela pesquisa que levou à descoberta do ibuprofeno na década de 1960 (Foto: Samuel Kirby/Boots UK)

Há mais de 50 anos, farmacologista britânico tomou substância que sua equipe estava testando para lidar com forte dor de cabeça; o ibuprofeno é hoje o mais popular remédio contra dores em vários países.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Cientistas encontram solução simples para acabar com a ressaca


Cientistas encontram solução simples para acabar com a ressaca


Diversas equipes científicas têm se dedicado ao estudo de algo relativamente comum em nossa sociedade: o mal-estar causado pelo consumo excessivo de álcool. Mas, até hoje, ainda não haviam chegado a nenhuma conclusão definitiva. Desta vez, entretanto, a história pode ser diferente, pois um grupo de pesquisadores australianos anunciou a descoberta de um antídoto simples e muito eficaz para evitar a ressaca: a pera. Eles afirmam que o consumo de pera ou do suco dessa fruta antes da ingestão de bebidas alcoólicas evita os efeitos nocivos do álcool, como a perda de memória e a dificuldade de concentração. 

sábado, 20 de julho de 2013

Máquina destila suor para criar água potável na Suécia


Máquina destila suor para criar água potável na Suécia


Máquina que 'recicla' suor para produzir água (Foto: Unicef/BBC)

Equipamento foi criado para a Unicef com o objetivo de promover campanha sobre falta de água potável no mundo.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Beber bastante água é bom para a pele-Mito ou realidade ?


Beber bastante água é bom para a pele-Mito ou realidade?


Estudos tentam comprovar se beber bastante água realmente faz bem à saúde (Foto: Getty Images)

Colunista da BBC Future tenta confirmar a tese de que ingerir muito líquido ajuda a manter a pele fresca e saudável.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Ingerir água em excesso pode matar


Ingerir água em excesso pode matar, afirmam especialistas em MS

Jovem morre após tomar tereré em evento (Foto: Arquivo Pessoal/ Welton Godoy Miranda)

Médico afirma que exagero provoca perda de sódio, potássio e magnésio.
Cardiologista explica que erva possui cafeína que acelera pressão arterial.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Copo de cerveja 'inteligente' adiciona amigo no Facebook ao brindar


Copo de cerveja 'inteligente' adiciona amigo no Facebook ao brindar

Copo tem chip que permite adicionar amigos ao Facebook durante o brinde (Foto: Divulgação/Budweiser)

Sensor em copos permitem adicionar amigos quando peças se tocam.
Mensagem especial aparece na Timeline do usuário sobre o novo amigo.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Coca-cola é isso ai - Costumes


COLA-COLA É ISSO AÍ - Costumes



A ascensão irresistível da bebida, que surgiu há um século como remédio para a indisposição, conquistou o mundo como refrigerante e já foi consumida até no espaço

Faltava menos de um ano para que a Coca-Cola, a bebida mais famosa do mundo, completasse um século. No dia 23 de abril de 1985, a direção da empresa convocou uma entrevista à imprensa em Nova York para anunciar a mais de 200 jornalistas uma novidade sensacional: a Coca-Cola ia mudar de gosto. A decisão, explicou o presidente da companhia, Roberto C. Goizueta, fora tomada depois que mais de 200 000 testes com consumidores fiéis haviam revelado uma flagrante preferência por um novo sabor, mais doce, obtido pelos químicos da Coca-Cola. A empresa não tardaria a perceber que cometera um gravíssimo engano.
O simples anúncio da mudança começou a gerar protestos antes mesmo que a versão mais adocicada chegasse ao mercado. Em poucos dias, a companhia foi bombardeada por milhares de cartas de consumidores indignados. Ao contrário do que haviam indicado as pesquisas, o público na verdade execrava a inovação e exigia a volta da fórmula clássica. Assim, passados menos de três meses, a direção da Coca-Cola chamou novamente os jornalistas, desta vez para anunciar, num episódio inédito na história das grandes corporações, que voltara atrás e relançaria o produto tal qual era conhecido.
Não é difícil compreender a reação conservadora do público. Bebida apreciada por nove em cada dez americanos, segundo os números apresentados pelos fabricantes, a Coca-Cola é um símbolo tão característico dos Estados Unidos como a Estátua da Liberdade e a bandeira das listras e estrelas. Quando o governo de algum país quer fazer um desaforo a Washington, tem sido isso aí: rompe relações diplomáticas e proíbe a venda do refrigerante. Foi o que aconteceu em Cuba de Fidel Castro em 1960 e no Irã do aiatolá Khomeini em 1980. É um paradoxo: americana até o fundo do casco, a Coca-Cola no entanto derramou-se de tal modo por todo o planeta que perdeu a identidade nacional.Nenhuma outra bebida industrializada é tão consumida: existe em pelo menos 160 dos 168 países da Terra. Depois dos americanos, os canadenses, os italianos e os espanhóis são os principais apreciadores per capita, à frente dos alemães, mexicanos e  brasileiros. Estima-se que a humanidade tome todo santo dia 1,3 bilhão de litros do refrigerante, um mundaréu de água equivalente a 688 piscinas olímpicas. Volume com o qual o químico americano John Styth Pemberton jamais ousaria sonhar, ao gastar 74 dólares em 1886 para conceber sua fórmula - até porque a Coca-Cola não se destinava originalmente ao consumo de massa.
No início, era apenas mais uma entre as incontáveis beberagens apregoadas nos Estados Unidos das últimas décadas do século passado como infalíveis remédios para uma série de mazelas do corpo e do espírito, como depressões nervosas, desânimo e indisposições variadas. A maioria era uma misturança de ervas e óleos vegetais, mas várias fórmulas continham também pequenas doses de substâncias já não tão inofensivas, como álcool, ópio e cocaína. 
Farmacêutico e dono de drogaria em Atlanta, capital do Estado da Georgia, no sul do país, Pemberton (1831-1888) já havia inventado um tônico, a que dera o nome de French Wine Coca, à base de álcool e folhas de coca. O elixir era uma variante do então famoso vinho Mariani, inventado por um químico da Córsega e largamente apreciado na Europa. Como um ingrediente essencial, o vinho de Bordeaux, tornara-se muito caro nos Estados Unidos, Pemberton decidiu eliminá-lo da fórmula. Para que o tônico mantivesse as alegadas propriedades revigorantes, substituiu-o por uma substância que a América descobrira com os escravos trazidos da África e que se habituara a usar como antídoto contra a ressaca: o extrato da noz de cola, o fruto da Cola acuminata, árvore da família das esterculiáceas (como o cacaueiro), de origem sudanesa. Um grão vermelho, com teor de cafeína de 24%, contendo ainda teobromina, alcalóide diurético e vasodilatador, a noz era mascada pelos nativos africanos para combater a fome e o cansaço, a exemplo do que os índios dos Andes fazem com as folhas da coca.
A combinação entre a coca e a cola, porém, dava à bebida um gosto amargo, que precisava ser disfarçado. Meses a fio, instalado em seu laboratório, Pemberton dedicou-se como um alquimista medieval a misturar dúzias de ingredientes em um xarope de cor escura e gosto agradável. Seu sócio e guarda-livros, Frank Robinson, foi quem se saiu com um nome sonoro, de fácil memorização, para o produto: Coca-Cola. Com sua caligrafia floreada, o mesmo Robinson desenhou aquela que viria a ser a inconfundível marca da bebida, patenteada em 1893. O passo seguinte foi anunciá-la como um novo medicamento capaz de suprimir a fadiga, facilitar a digestão, revigorar nervos extenuados, curar dores de cabeça, insônia, nevralgia, histeria e melancolia - tudo isso por 5 cents o copo. Como o capitalismo na época era risonho e franco, sem leis de defesa do consumidor nem castigos para a publicidade enganosa, essa milagreira Coca-Cola passou a ser vendida livremente em pequenos frascos cujos rótulos a descreviam como "deliciosa, refrescante, estimulante e revigorante!"
Estavam na moda então as soda-fountains, as ancestrais das máquinas de refrigerantes das lanchonetes de hoje. Instaladas atrás de elegantes balcões de mármore à entrada de farmácias e drogarias, distribuíam refrescos à base de água gaseificada e xarope de frutas ou de ervas. Diz a lenda que a irresistível ascensão da Coca-Cola começou numa dessas farmácias - por puro acaso. Certo dia, um cliente acometido de enxaqueca entrou na drogaria Jacob´s, em Atlanta, para comprar um frasco de Coca-Cola, com o qual esperava aliviar a dor. Decidindo tomar uma dose ali mesmo, pediu ao farmacêutico para diluir o remédio. Mr. Jacob teve a idéia de misturar o xarope à água gasosa, em vez de usar água de torneira. O freguês sentiu-se recuperado na hora, com certeza mais pelo paladar agradável da nova bebida do que por suas supostas virtudes medicinais.
Seja como for, o episódio passou de boca em boca e em pouco tempo a Coca-Cola gasosa tornou-se procurada, sendo vendida em todas as drogarias. A marca, porém, não ficaria muito tempo nas mãos de Pemberton. Cinco anos depois de inventar a.fórmula mágica, ele a vendeu a outro farmacêutico de Atlanta, Asa Griggs Candler, que se encarregaria de instalar fábricas do xarope em outras cidades. (Em 1893 surgiu a Pepsi, que hoje detém 26% do mercado americano de refrigerantes, três pontos abaixo da Coca-Cola.) Na virada do século, Candler inaugurou a prática inteligente de vender o xarope a terceiros, que fabricariam, engarrafariam e distribuiriam a bebida sob licença da Coca-Cola Company. A empresa mudaria de mãos mais uma vez, em 1919, ao ser comprada por 25 milhões de dólares pelo empresário Ernest Woodruff. Seu filho Robert iria dirigir a companhia de 1923 a 1955.Pouco a pouco, o caráter medicinal da bebida foi deixado de lado e sua publicidade conservou apenas o slogan "deliciosa e refrescante", que a acompanharia durante muitos anos. (A expressão mais famosa, "a pausa que refresca", data de 1929.) À medida que a Coca-Cola passou a ser consumida como simples refrigerante, a cocaína foi eliminada de sua composição. Em 1906, quando o Food and Drug Act entrou em vigor nos Estados Unidos, regulamentando severamente a adição em produtos alimentares e farmacêuticos de substâncias consideradas perigosas à saúde, todos os traços da droga já haviam sido suprimidos da bebida. Atualmente, a única companhia americana autorizada oficialmente a importar folhas de coca é um laboratório comercial, que extrai os alcalóides para a indústria farmacêutica e vende os resíduos da planta à Coca-Cola, que os utiliza para efeito aromatizante.Se é sabido que a Coca-Cola não contém cocaína, não se sabe até hoje precisamente o que ela contém. Sua fórmula, referida também pelo código  "7 X", como num romance policial, é um dos segredos comerciais mais bem guardados do mundo. Inúmeras análises químicas já tentaram decifrá-lo, em vão. Naturalmente, os principais componentes são de domínio público, até por exigência do FDA, o órgão que controla os produtos alimentícios e medicinais nos Estados Unidos para garantir que as substâncias vendidas legalmente no país não façam mal.Sabe-se, por isso, que além de água gasosa e açúcar a fórmula contém cafeína, noz de cola, folhas de coca descocainizadas, baunilha, caramelo, limão verde, noz-moscada, canela e ácido fosfórico, mas não se conhecem as proporções desses ingredientes, nem os vários outros temperos adicionados em doses mínimas, aos quais a bebida deve seu sabor peculiar. "É exatamente como um bom perfume: pode-se imitá-lo, mas apenas o laboratório que concebeu sua fórmula é capaz de produzi-lo à perfeição", costumava explicar o proprietário Robert Woodruff. "Um bom conhecedor pode identificar com precisão grande parte de seus componentes, mas é impossível definir sua dosagem, seu fixador e outros detalhes fundamentais."Durante muitos anos, a receita secreta era transmitida oralmente apenas para um punhado de químicos e diretores da companhia. Nenhuma nota escrita era autorizada. As etiquetas dos recipientes que continham os ingredientes eram retiradas logo depois da entrega. A partir daí eles só eram identificados pelo cheiro e por seu lugar nas prateleiras. O único documento que descreve toda a receita do sucesso é mantido a sete chaves num cofre na sede da companhia em Atlanta. A Coca-Cola tanto acredita que o segredo é a alma do negócio que em 1977 preferiu renunciar ao imenso mercado representado pelos 800 milhões de habitantes da Índia, a revelar a fórmula da bebida, como queria o governo hindu para permitir a instalação da empresa.
Além da fórmula e do logotipo, a terceira principal característica da Coca-Cola é a garrafa. No começo do século, quando se difundiu a praxe do licenciamento a terceiros para a fabricação da bebida a partir do xarope fornecido pela companhia de Atlanta, não havia um modelo único de garrafa, podendo cada distribuidor utilizar os vasilhames que quisesse. Isso, naturalmente, dificultava a identificação da verdadeira bebida entre as muitas Kolas, Colas e até Nolas que pipocavam por toda parte. As campanhas publicitárias martelavam sempre: "Exija a Coca-Cola genuína. Recuse as imitações".
Levaria ainda muito tempo até se perceber que seria muito mais fácil combater os imitadores com uma embalagem padrão, de características inconfundíveis. Só em 1916, quando já existiam 153 marcas impostoras disputando o mercado com a real thing, como a chamava a publicidade, o advogado da empresa, Harold Hirsh, propôs a criação de um modelo único de garrafa. Uma concorrência foi então aberta entre os produtores de embalagens de vidro. Um deles era a Root Glass Company, de Indiana. Seu diretor, Alex Samuelson, apostou na idéia de um design capaz de ser diretamente relacionado pelo consumidor com os ingredientes que davam nome à bebida: a noz de cola e a folha de coca.Não tendo porém a menor idéia do aspecto dessas plantas, Samuelson mandou um assistente fazer uma pesquisa numa biblioteca. Este, que tampouco entendia coisa alguma de Botânica, enganou-se: em vez de trazer uma ilustração da planta da coca, trouxe o desenho de um cacau. Samuelson, naturalmente, não percebeu o erro; ao contrário. achou que a forma do cacau era extremamente adequada para inspirar uma embalagem. E foi assim que acabou nascendo a garrafa que o mundo aprenderia a identificar num piscar de olhos, bojuda no meio, alongada no gargalo e recortada em gomos. Houve até quem a comparasse às curvas sensuais da pin-up americana Mae West.
Apenas a partir de 1923, contudo, quando Robert Woodruff assumiu a presidência da empresa, a Coca-Cola decolaria para valer. Sob a direção de Woodruff, uma política comercial e publicitária extremamente dinâmica projetou a bebida internacionalmente. Desde o começo, Woodruff centrou sua estratégia na distribuição do produto e no reforço de sua imagem junto ao público. Assim que assumiu, criou as primeiras embalagens de papelão para seis garrafas (as famosas six pack), a bordo das quais a bebida adentraria em massa as casas americanas. Outra idéia revolucionária de Woodruff, esta de 1930, foram as geladeiras vermelhas para conservar o refrigerante nos pontos-de-venda, uma das quais viria a ser concebida pelo designer Raymond Loewy. Uma grande sacada, em 1933, foram os distribuidores automáticos de copos de Coca-Cola, que permitiriam à bebida estar presente, sempre gelada, em fábricas, escritórios, estádios, clubes, cinemas etc.
A  conquista do mundo, porém, começou com a Segunda Guerra Mundial. Graças à antiga amizade de Woodruff com o general Dwight D. Eisenhower, comandante-em-chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos. a empresa colheu em Washington uma autorização excepcional para importar todo o açúcar de que necessitasse, um artigo que o conflito tornara escasso e sujeito a racionamento. Isso representou uma vantagem incalculável, já que a concorrência não foi beneficiada pelo mesmo privilégio. Woodruff conseguiu a concessão seduzindo Eisenhower com a promessa de que todo soldado americano, onde quer que estivesse, poderia comprar uma garrafa de Coca-Cola por 5 cents, pelo tempo que durasse a guerra.A manobra de Woodruff permitiu-lhe ainda embarcar gratuitamente nos navios de transporte militar a maior parte das instalações de engarrafamento que a empresa montaria na Europa. Nada menos de 64 fábricas foram assim enviadas além-mar. Depois da vitória, elas permaneceram onde estavam e as populações civis substituíram a clientela militar. A partir de então, a Coca-Cola seria lançada sucessivamente em quase todos os países do mundo, incluindo a China e a União Soviética, enquanto a empresa criaria uma série de outros produtos aparentados, como a Fanta e a Cherry Coke, e ainda a Diet Coke.
Em 1985, acondicionada numa embalagem especial, ela atravessou as fronteiras do planeta a bordo do ônibus espacial Discovery, tornando-se assim o primeiro refrigerante a ser consumido no espaço. Hoje a empresa é responsável pela produção de pouco mais de 1/3 de todas as bebidas não alcoólicas consumidas no mundo, tendo faturado em 1989 quase 9 bilhões de dólares. Um sucesso que talvez tenha sido explicado melhor do que ninguém pelo falecido artista plástico americano Andy Warhol, por sinal um de seus maiores fãs: "Todo mundo bebe Coca-Cola, do garçom do bar ao presidente dos Estados Unidos, passando por você e por Elizabeth Taylor. E não há fortuna no mundo capaz de comprar uma Coca melhor do que aquela que você bebe". 

É isso aqui

Em números absolutos, o Brasil é o terceiro consumidor mundial de Coca-Cola, abaixo apenas dos Estados Unidos e do México. Estima-e que em 1990 os brasileiros beberam perto de 2,6 bilhões de litros do refrigerante, o que daria algo como 17 litros para cada homem, mulher, velho e criança. É um gosto duradouro. O país foi apresentado à Coca-Cola numa época de intenso namoro com os Estados Unidos, no curso da Segunda Guerra Mundial. Para combater a influência alemã, Washington construiu uma estratégia de aproximação com o Brasil, a famosa Política de Boa Vizinhança. Dela descenderiam em linha direta os requebros de Carmen Miranda em Hollywood e as malandragens do Zé Carioca nos quadrinhos Disney - e também, em última análise, os dólares para a usina de Volta Redonda e os tiros dos pracinhas no front italiano.
As primeiras Coca-Colas made in Brazil, nas clássicas garrafinhas de 185 ml, apareceram em abril de 1942, distribuídas por uma fábrica inaugurada um mês antes no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Logo de saída venderam-se 1 843 caixas. Em junho de 1943 foi instalada uma filial em São Paulo. Mas o decreto autorizando a Coca-Cola Company a funcionar no Brasil só seria assinado no ano seguinte pelo presidente Getúlio Vargas - que por sinal dispensou a empresa de revelar o segredo do refrigerante. De todo modo, a companhia informa ter fornecido às autoridades amostras para análises físicas, químicas e microbiológicas, além de cumprir os padrões que definem os aditivos permitidos e proibidos em alimentos e bebidas.Segundo a empresa, só alguns ingredientes do refrigerante são importados. A Coca-Cola assegura que a bebida é a mesma em qualquer parte do mundo: tem 88% de água, 9,976% de açúcar, 2% de gás carbônico e 0,024% do tal xarope que é a alma do negócio. Se a Coca brasileira parece algo mais doce, isso se deveria a variações da matéria-prima empregada como edulcorante. No Brasil, como na maioria dos países, utiliza-se o açúcar de cana.


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A verdade está nos bons vinhos - Química


A VERDADE ESTÁ NOS BONS VINHOS - Química



Um bom francês não pode repousar à luz do dia, viver agitado nem respirar demais enquanto envelhece. A ciência explica porque são dispensados tantos cuidados aos nobres líquidos tintos e brancos.

O vinho à mesa, liturgia.

Respeito silencioso paira sobre a toalha. A garrafa espera o gesto, o saca-rolha espera o gesto que há de ser lento e ritual.

Ergue-se o pai, grão sacerdote prende a garrafa entre os joelhos gira regira a espira metálica até o coração do gargalo. Não faz esforço não enviesa não rompe a rolha É grave, simples, de velha norma.(...)

O Vinho,
Carlos Drurnmond de Andrade

Mais do que bebida, o vinho é um ritual. Os connaisseurs o tratam como um ser vivo, que se reproduz anualmente, cada geração diferente da outra, com peculiaridades que as distinguem e as fazem mais ou menos amadas. Têm na memória os nomes das grandes marcas e das melhores safras. Deixam suas raridades repousando longe da luz e do calor, sem barulho, sem movimento. Abrem as garrafas horas antes de servi-las, para que o líquido respire; sabem a exata quantidade que devem colocar no copo, e não pode ser em qualquer copo. Não apenas o bebem, mas aspiram seu perfume, desfrutam-no. Essa profusão de ritos tem jeito de mistério, domínio exclusivo de iniciados, mas pode ser desvendada pela ciência-que tanto justifica como derruba alguns desses mitos.
Conforme querem os connaisseurs, ou conhecedores de vinho, ele tem mesmo vida. Ao contrário dos destilados, como uísque ou vodca, que saem das destilarias prontos e acabados, o vinho carrega substâncias vivas para a garrafa, repousando em estado latente ou trabalhando muito lentamente, num processo contínuo de ligação entre os elementos químicos que o formam. Esses elementos são resultado de absolutamente tudo o que aconteceu com a uva, de todas as interferências e variáveis que sofreu, desde o momento em que brotou na videira até tornar-se vinho. Essas sutis diferenças explicam o motivo de tanta badalação em torno de um tinto de Bordeaux ou um Chablis (branco) de Bourgogne, e por que nem todo vinho fica tanto melhor quanto mais envelhece.
O bom vinho começa a nascer na terra, em solo calcáreo. Esse é o tipo de solo das grandes regiões viníferas de, países como a França e Portugal. Igual a qualquer vegetal, a videira se alimenta de compostos orgânicos contendo sobretudo nitrogênio, fósforo e potássio, e os sais minerais do solo (cálcio, magnésio, sódio, ferro). Para manter sempre a mesma qualidade, a videira recebe um tratamento espartano. "A uva precisa sofrer um pouco para dar um bom vinho", diz o químico francês Alain Parentheon, chefe do laboratório de controle e desenvolvimento da Moët & Chandon, na região francesa de Champagne. "Em solos muito ricos, os nutrientes puxados da terra pelo pé da videira são distribuídos por muitas frutas e se diluem, dando uvas de menor qualidade", explica ele.
A Vitis vinifera, espécie mais cultivada pelo mundo afora para a produção de vinhos finos, se vira como pode nesse regime para acumular a maior quantidade de nutrientes. É nessa hora que pesa um dos mais importantes fatores de qualidade da uva - o clima. A videira descansa durante o inverno muito frio, assim como as demais plantas que vivem nas zonas temperadas. Na primavera começa a acordar, dá as flores e depois os frutos que vão amadurecer no verão. Uvas para vinhos finos precisam estar bem maduras, e quem vai ajudar nesse trabalho é o sol. Por isso o verão do sul europeu é tão bom para elas - há muito sol e pouquíssima chuva. As uvas começam a precisar de sol quando, já crescidinhas, transformam sua casca, verde opaca em vermelho ou branco translúcido.
Quanto mais sol recebe, mais madura a uva fica; portanto, maior teor de açúcar e menor de ácido terá. A luz e o calor solar atravessam a pele e ativam dentro da uva as enzimas, moléculas de proteínas. Uma extremidade da enzima capta gás carbônico (CO2), outra capta água (H2O), e tem-se como resultado açúcar (frutose e glicose) e oxigênio (O2). Para funcionar direito, as enzimas devem ter metais nas extremidades, aqueles mesmos que a videira puxou do solo. O teor de açúcar é fundamental, pois é ele que vai virar álcool na fabricação do vinho. Mas a intenção da Vitis vinifera  ao deixar o sol entrar não era produzir um vinho de primeira, e sim sobreviver. Essa acumulação de açúcar nada mais é do que reserva de energia para sua semente, que no outono-inverno seria largada no mundo com a missão de perpetuar a espécie.
Justamente por causa do clima, o Brasil não tem vinhos de qualidade comparável aos melhores da Europa. O verão brasileiro, ao contrário do europeu, é muito úmido e chuvoso. Cai água demais sobre a videira, causando assim a diluição do açúcar, além de a uva não chegar ao mesmo ponto de maturação das européias. O enólogo Adolfo Alberto Lona, da Martini & Rossi, demonstra as conseqüências: em 1 litro de suco de uva, cada 17 gramas de açúcar produzem 1 grau de álcool. Para se obter a gradação ideal, em torno de 11 graus, é necessário ter 187 gramas de açúcar em 1 litro de suco. No Brasil, 1 litro só tem entre 150 e 160 gramas. O que falta é completado com sacarose, o açúcar de cana.
Colhidas as uvas, elas são levadas à prensagem para virar suco. No caso do vinho branco, o esmagamento é muito lento e cuidadoso, pois o suco mais equilibrado entre açúcar e ácido da uva concentra-se no meio da polpa, entre a região da pele e da semente, e é justamente o primeiro a ser liberado quando a uva sofre pressão. O mosto - suco da uva pronto para ser fermentado - fica depois pouco tempo em contato com a pele, pois é lá que estão as antocianinas, polifenóis responsáveis pela pigmentação vermelha. Por esse motivo é que mesmo uvas vermelhas produzem vinhos brancos - quanto menor o tempo de contato entre pele e mosto, menos antocianinas passarão para o líquido.
Com o vinho tinto o cuidado não é tão grande. Retirado o engaço, os "cabinhos" da uva, os frutos são todos esmagados com pele e semente. Para que o vinho adquira a cor vermelha, o mosto é deixado mais tempo em contato com a pele. Junto com as antocianinas passa grande quantidade de taninos, também polifenóis, que dão um sabor extremamente adstringente ao vinho. Aqui começam a se diferenciar os vinhos tintos dos brancos. Em conseqüência do maior contato com a pele e mesmo com as sementes, o tinto carregará muito mais substâncias e elementos químicos que o branco, sendo portanto de estrutura bem mais complexa e mais resistente. Tal resistência se traduzirá no tempo que o vinho agüenta na garrafa sem se deteriorar - o branco não passa de três anos. A vida do tinto será definida na maturação, a fase posterior à fermentação.
Todo o açúcar que a uva armazenou vai virar álcool na fermentação. O trabalho é feito pelas leveduras, microorganismos que são uma variedade de fungo. Elas existem pairando pelo ar, mas basicamente duas cepas foram selecionadas em laboratório para produzir os vinhos finos: Saccharomyces cerevisae e Saccharomyces bayanus. As leveduras transformam açúcar em álcool (etanol) e gás carbônico. Acontece uma primeira fermentação, chamada tumultuosa, depois uma segunda, em que o açúcar vai acabar de ser consumido. Nos vinhos brancos, a fermentação tem que ocorrer a baixa temperatura, até 15 graus Celsius, para que os aromas frutados e florais, provenientes da uva, não escapem junto com o gás carbônico. Esses aromas vêm de álcoois complexos, como terpenos, terpinos e terpenóides. Por isso, quando os apreciadores giram o copo suavemente sob o nariz, com ar embevecido, antes de tomar o primeiro gole, não estão apenas representando uma cena de ritual sem sentido; um desses terpenos, o geraniol, encontrado sobretudo nas uvas da região alemã do Reno, é a mesma substância química que dá aroma às rosas.
Quando do açúcar só tiver ficado um pouco, entra em cena a fermentação malo-láctica, feita dessa vez por bactérias originárias da uva. Um dos dois principais ácidos existentes na fruta, o tartárico, é bem-vindo, pois é o responsável pela adstringência refrescante do vinho. Mas o outro, o ácido málico, deixa um sabor amargo na boca. Para eliminá-lo, são ativadas as bactérias que convertem ácido málico em ácido láctico, bem menos adstringente e amargo, e em glicerina, outro componente que contribui para amaciar o sabor do vinho. Terminada a fermentação, o vinho branco já estará praticamente pronto, mas o tinto ainda terá um longo caminho a percorrer. Só a quantidade de tanino que carrega basta para deixá-lo intragável. Seu destino é então o amadurecimento, um tempo de repouso e vida mansa, indispensável para que se produzam as reações químicas que aprimorarão as propriedades organolépticas da bebida, ou seja, o conjunto de cor, sabor e aroma.
Esqueça a idéia muito difundida de que o vinho amadurece em barris de carvalho para adquirir cor - isso é coisa de uísque. O carvalho entra na história por ser uma das madeiras mais porosas que existem, permitindo assim que continuamente uma pequena quantidade de oxigênio entre em contato com a bebida. É ele que vai chamar leveduras e bactérias ao trabalho, promovendo oxidações. As oxidações fazem álcool virar aldeído, aldeídos combinados com ácidos viram ésteres, todos eles compostos orgânicos cada vez menos duros ao paladar, deixando o vinho, na linguagem dos enófilos, mais "redondo".
Nessa fase se estabelece a diferença entre vinhos tintos jovens e maduros. Jovens são os que passam pouco tempo nos barris, no máximo um ou dois anos. Conseqüentemente, acontecem nele menos oxidações, sua estrutura será mais simples e seu sabor mais adstringente. O vinho maduro repousa entre três e cinco anos nos barris, e durante esse descanso as reações químicas entre centenas de elementos tornam sua estrutura mais complexa, seu sabor e bouquet mais sofisticados. Só resistem longos envelhecimentos em garrafas os vinhos tintos maduros, dos quais os melhores Bordeaux são um belo exemplo. Eles não só resistem como pedem envelhecimento na garrafa, para continuar vagarosamente a sofrer reações da mesma maneira que no amadurecimento, até atingir o ápice na qualidade de sabor e bouquet. Um Bordeaux ou um italiano Brunello di Montalcino levam de cinco a vinte anos para chegar lá, enquanto os jovens Beaujolais e Chianti apenas de um a três anos.
Quando entra na garrafa, o vinho é composto, nesta ordem descrescente, de água, álcool, glicerina, açúcares, ácidos, ésteres e álcoois superiores. "Além dessas, existem mais 
2 000 substâncias químicas em quantidades ínfimas, mas capazes de reagir umas com as outras e alterar as propriedades organolépticas do vinho", conta o bioquímico e enófilo Toshio Fujisaka. Enquanto viver na garrafa, repousando em adegas ou levando safanões em caminhões de transporte pela estrada afora, esse líquido sensível vai responder à altura do tratamento que receber. Eis o motivo de tantos mitos e ritos a cercar os vinhos nobres. O primeiro mandamento do enófilo reza que a garrafa deve ser conservada deitada, longe do calor, a no máximo 15 graus. Temperaturas maiores ativam as leveduras e bactérias que sobrevivem latentes no vinho; se acordarem, podem provocar uma nova fermentação, fazer ligações químicas indesejáveis, quebrar outras.
Caso a garrafa fique em pé, há o risco de a rolha secar, murchar e deixar entrar mais ar do que deveria, e nele vêm mais leveduras, bactérias e oxigênio, seu alimento preferido. O vinho também deve repousar quietinho, sem agitação, para que o pouco de ar que existe lá dentro não se incorpore ao líquido, pois um pouco de oxigênio que ali esteja causará oxidações. Mas nem sempre o vinho na presença de ar vira vinagre, como faz crer a lenda. Só vira se entrar em contato com a Acetobacter sp, cuja especialidade é transformar etanol em ácido acético (vinagre). Obviamente ela existe pelo ar e pode entrar na garrafa - ou não. Porém, quando a garrafa é aberta para a degustação, alguns enófilos até gostam que o ar se incorpore ao líquido, pois ficará mais fluido, tornando os álcoois e ésteres do bouquet mais voláteis e facilmente perceptíveis. Daí a recomendação para as garrafas serem abertas algum tempo antes de consumidas.
Outra obrigação do conhecedor é deixar as garrafas ao abrigo da luz, sobretudo luz solar e de lâmpadas fluorescentes. O perigo é a radiação ultravioleta, catalisadora de reações fotoquímicas, principalmente nas instáveis antocianinas, as responsáveis pela cor do vinho. A luz quebra suas ligações moleculares e sabe-se lá aonde os componentes vão se religar; o vinho branco fica amarelado, o tinto passa a ser cor de tijolo. Mudando a cor por causa das reações químicas, é bem provável que o sabor também fique comprometido. Todas essas agruras pelas quais o vinho passa não são percebidas por qualquer leigo, mas os sentidos muito aguçados e treinados dos sommeliers os denunciam com facilidade. Por isso restaurantes de altíssima categoria mantêm um desses especialistas de plantão, só para cuidar do capítulo dos vinhos: eles indicam diferenças de safras e eventualmente provam a garrafa escolhida, antes de servi-la, para assegurar que ela não se deteriorou.
Sendo assim tão sensíveis, podem os maravilhosos vinhos franceses, italianos ou portugueses resistir ao sofrimento de uma viagem através do oceano até o Brasil, e chegar aqui com a mesma qualidade? Não, ainda que isso não signifique tragicamente que não se possa mais bebê- los. Com o calor e a agitação sofridos durante a viagem, o vinho certamente passa pelas reações que o prejudicam. Quando se compra um bom vinho, deve-se deixá-lo repousar por um a dois meses numa adega, para que se recupere das canseiras da viagem. "Esse descanso pode reverter algumas reações indesejáveis que o vinho tenha sofrido, mas nunca a totalidade delas", explica Orlando Zancanaro Junior, professor de Tecnologia de Fermentações na Universidade de São Paulo. Os enófilos dos trópicos, se quiserem beber o mais puro e imaculado néctar, têm que buscá- lo na fonte.

Um exercício de sensações

Degustar um vinho é muito mais do que bebê-lo. Mesmo porque o paladar só pode dizer se ele é doce, salgado, azedo ou amargo. Para desfrutar até a última gota de sua riqueza e complexidade, os enófilos se valem também do olfato e da visão. O processo de degustação, pleno de detalhes e sutilezas, basicamente começa com o exame visual. Segura-se o copo de vinho pela haste e, contra a luz, analisam-se cor, transparência e brilho. Depois vem o exame olfativo, quando se sente o aroma (cheiro originário da uva) e o bouquet (cheiro produzido nas fases de fermentação e envelhecimento). Para isso, o copo deve ser agitado várias vezes, aspirando-se nos intervalos. Os connaisseurs, pela experiência, chegam ao luxo de distinguir odores como florais, vegetais, picantes ou balsâmicos.
A última etapa é o exame gustativo, quando se toma um grande gole de vinho deixando-o alguns segundos em contato com toda a superfície da boca. Essa cerimônia exige um copo especial, chamado tulipa, alto e de boca estreita, para evitar que o aroma e o bouquet escapem rapidamente. A capacidade de distinguir vinhos bons dos nem tanto é sobretudo um exercício de memória e comparação. O enófilo paulista Clóvis Siqueira sugere, para quem quer se iniciar na degustação, começar comparando três vinhos comuns com um de reconhecida qualidade superior, para sentir a diferença. Depois passa- se à descoberta das preferências pessoais. Pegam-se cinco garrafas de vinho produzido com a mesma uva- Cabernet Sauvignon, por exemplo - em regiões demarcadas diferentes, como Bordeaux, Rhône, Bourgogne, Rioja e Dão. Como a personalidade e a característica de cada vinho são únicas, certamente um deles agradará mais ao olhar, olfato e gosto do provador.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Chá de todas as horas - Costumes



CHÁ DE TODAS AS HORAS - Costumes



Das folhas de uma planta originária da Índia se faz a mais apreciada infusão do mundo. Um escritor, não por acaso inglês, chegou a dizer que sua falta abalaria a ordem do Universo.

Todas as tardes, por volta das 17 horas, no longo intervalo entre as refeições, a duquesa Anna de Beresford, mulher do sétimo duque de Beresford, conselheiro da Coroa britânica, costumava ficar indisposta, com a sensação de vazio no estômago. Para amenizar o desconforto, ela ordenava à criada que Ihe levasse aos aposentos uma bandeja com chá, pão e manteiga. O mal-estar passava e o hábito da duquesa começou a ser imitado pelas amigas, pelas amigas das amigas e também pelos respectivos maridos. E foi assim que ofive orsquo;clock tea, tendo nascido em 1840, como um santo remédio para aplacar o apetite da senhora de Beresford, dez anos depois tinha se tornado uma instituição nacional, o chá das cinco, tão confiável como a monarquia e tão inevitável como os impostos. As ladies da sociedade passaram a se reunir ao entardecer em volta dos elegantes serviços de porcelana para contar os últimos mexericos, enquanto os homens discutiam as mais recentes peripécias da expansão colonial britânica também sorvendo a fumegante infusão, um símbolo da respeitabilidade do Império e da era vitoriana.
A tal ponto o chá se instalou na vida britânica que o escritor Rudyard Kipling (1865-1936), um dos grandes propagandistas das virtudes civilizadoras da política colonial de Sua Majestade, permitia-se advertir que "a falta de chá durante uma semana abalaria a ordem do Universo". O poder das folhas dessa planta da família das camélias, conhecida pelos botânicos como Thea sinensis (chá da China), era tão difundido que um século antes já havia servido indiretamente de estopim para o movimento de libertação dos Estados Unidos. Em 1773, a três anos do nascimento da nação, americanos de Boston, na então colônia britânica de Massachusetts, disfarçados de índios, jogaram ao mar 342 caixas de chá que esperavam o desembarque a bordo de três veleiros da Companhia das Índias Orientais. Indignados com tamanha provocação, os ingleses adotaram uma série de represálias que apenas serviram para unir as colônias contra o domínio imperial e apressar a Guerra de Independência.
No Brasil, onde se bebe em média cinco xícaras de chá por ano, menos do que um inglês numa semana, é difícil avaliar a presença da Thea sinensis na história dos costumes humanos - ingleses ou não. Por estas paragens, de fato, a palavra chá continua comumente associada à idéia de um geralmente infalível remédio caseiro contra males prosaicos o suficiente para dispensar a mão-de-obra da ida ao médico, males que afligem de preferência a metade menos nobre do corpo humano. Sinônimo de várias ervas de propriedades medicinais específicas, o chá tal qual é falado incorretamente no Brasil tanto pode ser a erva-doce como a camomila, a carqueja e o confrei, o boldo e a catuaba, talvez os mais conhecidos entre algumas centenas de modalidades de nomes peculiares, como alfavaca e espinheira santa, cavalinha e cana-do-brejo, cáscara-sagrada e pepino-de-são-gregório. A confusão está em chamar chá, nome próprio de uma planta, a infusão de um sem-número de ervas - cujos atributos terapêuticos são com justa razão levados a sério pela veneranda Medicina chinesa, que prefere ainda hoje prescrever em forma natural os princípios ativos sintetizados em laboratório. Pois a verdadeira Thea sinensis, a bebida estimulante, rica em cafeína, cuja falta "abalaria a ordem do Universo" e cujo nome contém um equívoco geográfico é um arbusto originário, não da China, mas de Assam, região do norte da Índia.
O arbusto mede pouco mais de 1 metro de altura e tem folhas pequenas, ovaladas, de cor verde-escura. As melhores folhinhas, ou pekoes, na versão ocidentalizada do chinês pak-ho, são colhidas nas montanhas da Índia, Sri-Lanka (Ceilão), China, Japão e Indonésia. Há também variedades que proporcionam uma bebida aprazível, procedentes de lugares tão diversos como o Quênia, no coração da África, e o Vale do Ribeira, no sul de São Paulo. Venha de onde vier o chá, a receita é sempre a mesma. As folhas, inteiras ou moídas, devem permanecer em água fervente de três a cinco minutos. Para o chá a granel, usa-se uma colher de sobremesa para cada quatro xícaras. Os ingleses preferem temperar a infusão forte com um pouco de leite, uma fórmula menos difundida que o chá com limão dos europeus do Leste e dos americanos. Os japoneses usam as folhas verdes, não fermentadas e muito amargas na sua célebre cerimônia do chá. Em climas mais tropicais, há quem goste de chá gelado, que deve ser derramado aos poucos num copo cheio de gelo.
Quentes ou frios, os melhores chás, como os melhores vinhos, resultam de colheitas especiais, têm sabores distintos e irresistíveis aromas remanescentes de ervas, flores, frutas e especiarias. Um dos mais apreciados, por exemplo, é o Darjeeling, colhido nas escarpas do Himalaia, na Índia. Outro é o Oolong, originário de Formosa. Outro ainda chama-se Earl Grey, aromatizado com tangerina, cujo nome é uma homenagem ao chanceler inglês Edward Grey (1862-1933), que descobriu essa maravilha numa viagem diplomática ao Oriente. Foi, aliás, nessa parte do mundo que surgiu o costume de tomar chá. Diz a lenda que, para manter-se acordado, um certo monge budista hindu, de nome Bodhidarma, que introduziu a doutrina zen no Japão e na China, no século VI da era cristã, cortou as próprias pálpebras. No lugar onde caíram nasceu a planta cujas folhas em infusão serviriam para mantê-lo desperto durante as longas horas que dedicava à meditação. A lenda, como se vê, consagra as propriedades estimulantes do chá, mas falha na data de seu aparecimento. O mais provável é que se tornou conhecido muito antes, há cerca de 2 mil anos, quando o budismo se alastrou pela China.
Os primeiros consumidores do chá preferiam-no sólido. As folhas eram cozidas em vapor, espremidas e secas. Formavam assim bolos misturados com arroz, gengibre, sal, casca de laranja, cravo, leite e cebola. Até hoje, no Tibete, uma espécie de bolo de chá, o tsampa, é saboreado com manteiga de iaque, o gado do lugar. Mais tarde, os chineses começaram a apreciar o chá bebida, feito de folhas moídas em infusão na água fervente. Esse método se difundiu para o Japão, onde, até o século XII, o mancha, como se chamava o chá verde em pó, era consumido apenas pelos monges budistas. Duzentos anos depois, o hábito já havia transposto as portas dos mosteiros e atravessado os umbrais dos palácios. Os convidados da corte, depois de provarem várias xícaras de chá, tratavam de identificar as melhores regiões produtoras; quando acertavam, ganhavam belos prêmios.
Como esse costume tivesse se tornado moda, as plantações prosperaram e o chá se tornou uma bebida tão popular no Japão como o cafezinho seria no Brasil. Em contraste, as tradições associadas ao seu consumo desapareceram da China com as invasões mongóis do século XIII. embora os chineses ainda produzam e apreciem em larga escala a bebida. No Oriente como no Ocidente, o processo de transformação do chá não difere muito desde então. O connaisseur sabe que uma importante referência para avaliar a qualidade da bebida é a parte da planta utilizada para beneficiamento. As folhas superiores, naturalmente as mais novas, são também as melhores. No passado, eram as únicas que serviam. A colheita manual feita, por exemplo, na região indiana de Darjeeling, ainda hoje se limita a essas folhas e as duas seguintes. Mas, fora dali, no mundo inteiro, a colheita é quase sempre mecanizada, o que exclui qualquer seleção. As fases posteriores de produção obedecem as mesmas regras dos tempos antigos. No processo de beneficiamento, espalham-se as folhas sobre prateleiras de bambu para secar. Depois são enroladas a fim de não quebrar. Atualmente, as máquinas retiram todo o suco das folhas. No caso do chá preto, elas ainda passam por um período de fermentação, antes de serem classificadas. Os bons produtores de chá possuem provadores especializados em notar as mínimas diferenças nas amostras. Em geral, as melhores folhas chamam-se orange pekoe, por causa das pontas alaranjadas. Em seguida, vêm as pekoe, pekoe souchong  (folhas pequenas, grossas e mais velhas) e as souchong  (ainda mais velhas). Mas a classificação pode ser mais complicada. Os chás do tipo oolong, por exemplo, variam conforme a estação em que é feita a colheita. Existem pelo menos oito qualidades, cujo gosto vai da castanha ao mel. As folhas quebradas (broken, em inglês) obedecem às mesmas classificações. Muitos consumidores, no entanto, só conhecem os chás de folhas pulverizadas, chamadas fannings ou dusts, de qualidade relativamente inferior, vendidos em saquinhos.
No Ocidente, até o século XVI, a rigor, nem sequer se conhecia a planta asiática. Somente em 1550, o autor veneziano Gian Battista Ramusio (1485-1557), citando mercadores da Pérsia, exaltaria as virtudes medicinais do chá na obra Delle navigationi et viaggi, sua versão das aventuras de Marco Polo. Também nessa época, os portugueses que estabeleceram uma colônia em Macau, no sul da China, tomaram contato com a Thea sinensis pela primeira vez. Mas, não sabendo como fazer o chá de folhas secas, perderam a glória de serem os primeiros a levá-lo à Europa. Esse privilégio coube aos navegadores holandeses, que compraram toda a produção de uma pequena ilha japonesa no interior da baía de Nagasáqui.
No Velho Mundo, o chá precisou concorrer com duas outras bebidas estimulantes que também abriam caminho rumo às xícaras dos consumidores: o café e o chocolate. Para vencê-los, a propaganda nos jornais londrinos louvava as qualidades "dessa bebida chinesa, aprovada pelos médicos e chamada pelos chineses tcha, por outras nações tay, aliás, tea". Dissesse o que dissesse a publicidade, o sabor, no entanto, não ajudava. Pois, enquanto todos apreciavam as delícias do café árabe bem forte ou do chocolate quentinho, aquela que viria a ser a bebida nacional inglesa tinha então o gosto de um purgante. Certamente porque ninguém sabia como prepará-la - às vezes a infusão ficava guardada feito cerveja em barril durante semanas, antes de ir para as xícaras. Um horror que bem poderia servir de fundamento à antiga teoria oriental de que o homem branco não passa de um bárbaro sem o mais remoto refinamento. Não é de admirar, portanto, que antes de ser apreciado pelo seu delicioso sabor o chá fosse procurado por suas faladas qualidades medicinais.
No tempo em que a falta de higiene e o excesso de ignorância reduziam drasticamente a expectativa de vida das populações européias, o chá era considerado uma espécie de panacéia - capaz de curar desde pedra na bexiga a diarréia, passando por cansaço e melancolia. Na verdade, como exigia água fervida para o seu preparo, indiretamente impediu a disseminação de verminoses. A par disso, as folhinhas da Thea sinensis de fato podem fazer bem à saúde. "O chá contém vitamina B1 e B2, além de potássio, que contribui para a regularidade dos batimentos cardíacos", informa a nutricionista Flora Spolidoro, responsável por uma empresa de projetos alimentares em São Paulo. "E em sua composição entram tanino e cafeína, ambos excelentes digestivos." A cafeína, que aparece em maior proporção no café, também serve para estimular o cérebro e o sistema nervoso, proporcionando bem-estar. Isso deu origem à crença popular de que uma xícara de chá preto antes de dormir tem efeito calmante. Ledo engano: pode, isso sim, acarretar uma indesejável insônia. Aliás, tomada indiscriminadamente, a bebida não é aconselhada para quem é nervoso, tenso ou sofre de problemas cardíacos. Como não tem sal nem calorias, recomenda-se, porém sem açúcar, em casos de complicações estomacais.
Segundo cálculos de 1830, cada súdito de Sua Majestade britânica, homem, mulher e criança com mais de 10 anos, consumia pelo menos uma xícara por dia, o que dava uma média de 14 toneladas de chá por ano. Naquele mesmo ano, em comparação, o resto do mundo todo não bebia mais de 10 toneladas de chá. Atualmente, a produção mundial é de 1 bilhão de toneladas anuais, das quais 20 por cento made in India e 15 por cento consumidas na Inglaterra e Irlanda do Norte. Surpreende até certo ponto que o chá tenha conseguido tamanha popularidade na Inglaterra, pois, no século XVIII, a bebida custava caro ali. Uma libra-peso de folhas, ou 453,5 gramas, valia um terço do salário de um trabalhador qualificado. Ainda assim, os fabricantes de cerveja escocesa se ressentiam da concorrência. Em documento datado de 1742 fizeram a queixa suprema:"Mesmo as famílias mais miseráveis acompanham suas refeições da manhã com chá... em vez de cerveja". Como os impostos eram extorsivos, poucos se sentiam constrangjdos em apelar para o contrabando. Nas costas da Irlanda e da Inglaterra, os párocos reservavam esconderijos para os contrabandistas perseguidos, em troca, é claro, de um, digamos, dízimo das preciosas folhas. Havia até chá falsificado: mistura de folhas autênticas com cinzas de outras plantas, sulfato de ferro e estrume de carneiro.
Só quando os ingleses passaram a importar o chá diretamente da Índia, em 1834, a bebida tornou-se efetivamente acessível a quase todos os bolsos. A preciosa bebida dos ingleses só voltou a ser racionada durante a Segunda Guerra Mundial, com o fechamento dos centros de produção no Oriente, e no inicio da década de 50. Com a entrada em cena do café solúvel e a enxurrada dos refrigerantes do tipo cola, o chá passou por seu mais duro teste de popularidade. Muitos jovens, na onda contestatária dos anos 60, adotaram a pose de torcer o nariz para o que chamavam com desprezo "essa água quente dos velhos". Mais recentemente, a franja mais radical da geração verde incluiu o chá preto no rol de produtos tabus para a saúde, junto com o café, o açúcar, as bebidas alcoólicas e as carnes vermelhas. Ao que tudo indica, pouco importa: segundo as últimas estatísticas, o chá aparece nas xícaras de metade da população mundial. E na Inglaterra, para variar, onde o consumo anual por habitante é de quase 3 quilos de folhas, só perde para outra bebida: a água.

A cerimônia da serenidade

No Japão, tomar chá pode ser um ritual, nascido nos mosteiros zen. A liturgia, ou chanoyu (água quente para o chá), parece uma interminável sucessão de meros gestos de boas maneiras. Mas, para os japoneses, cada procedimento exprime a filosofia de vida baseada na simplicidade, no bom gosto e na harmonia com o mundo. A cerimônia ocorre numa casa de chá, construída com a aparente modéstia de uma choupana e separada das instalações principais da residência do anfitrião. Num dos cantos há sempre um nicho, onde é colocado um rolo de pergaminhos e um arranjo de flores. A sala também contém um fogareiro usado para a preparação da bebida. Os convidados entram agachados por uma pequena porta, para sugerir humildade. Mas o ritual propriamente dito começa antes, com o oferecimento de água fresca para uma purificação simbólica. Enquanto participam da cerimônia, os visitantes tratam de mostrar com reverência a sua apreciação da casa, do jardim, dos utensílios, da decoração do ambiente e dos arranjos.
Finalmente, o anfitrião oferece doces enquanto prepara a infusão do matcha - chá verde em pó - no pequeno fogareiro. A cerimônia toda pode durar quatro horas e termina com novas reverências, agradecimentos e gestos de humildade. Para Sokei Hayashi, há seis anos em São Paulo ensinando as minúcias do ritual, ao oferecer a bebida aos visitantes, "o anfitrião procura compartilhar a paz numa tigela de chá". Para quem pensa que o chanoyu não encontra mais lugar no Japão supermodernizado de hoje, mestre Hayashi informa que cerca de 100 mil pessoas se matriculam todo ano no Centro Urasenke, uma das mais tradicionais escolas de chá do país. Em São Paulo, no ano passado, trezentas pessoas, na maioria descendentes de imigrantes, interrompiam uma vez por semana sua rotina para buscar a serenidade na tigela de chá.

Era uma vez no Brasil

Há cerca de cinqüenta anos, o imigrante japonês radicado no Brasil Torazo Okamoto e sua mulher Hishe fizeram uma viagem à ilha do Ceilão, hoje Sri Lanka, de onde trouxeram sessenta sementes de chá. Dito deste modo, pode parecer uma banalidade. Mas a operação envolveu uma série de peripécias dignas de filme de espionagem. A planta, que se desenvolvia tão bem na ilha, não podia ser exportada. Suas sementes acabaram contrabandeadas, escondidas dentro do pão que os marinheiros do navio de Okamoto levavam para o lanche. Ao, longo de dois meses de travessia, o esperto imigrante tratou de alojar as sementes em baldes de madeira cheios de terra. Resultado: ao chegarem afinal ao Brasil, mais precisamente em Registro, na região sul paulista, as sementes da Thea sinensis tinham germinado e se tornariam as ancestrais das plantinhas cultivadas nos 2 mil alqueires dos campos de chá da região.
A história de Okamoto, falecido em 1977, é contada por seu filho Hitoshi, um senhor de 60 anos, proprietário do Chá Ribeira, não por acaso o maior dos seis fabricantes brasileiros da infusão. A variedade que o pai se apressou em cultivar no pequeno pedaço de terra que recebeu ao desembarcar aqui pela primeira vez em 1919, era mais indicada para fazer chá verde, não-fermentado, popular apenas entre os imigrantes. "O velho não podia competir com o chá preto, na época importado da Índia pela Lipton", lembra Hitoshi. "Por isso aventurou-se ao Ceilão." Hoje a lavoura do chá do Vale do Ribeira representa a quase totalidade da produção nacional de 10 mil toneladas, ou seja, irrisório 0,5 por cento da oferta mundial. O consumo de chá neste país do café também é desprezível, mas, segundo Hitoshi, "se cada brasileiro tomasse uma xícara de chá por mês, a produção não atenderia o consumo porque 80 por cento do total é exportado".

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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sabor de Espuma - Champanhe



SABOR DE ESPUMA - Champanhe



Gerações de agricultores torceram o nariz para aquele estranho vinho que fermentava duas vezes. Quando souberam aprisionar sua inigualável efervescência, nasceu a mais feliz das bebidas - o champanhe.

Conta a lenda que, ao provar a bebida espumante que havia inventado, o monge beneditino Dom Pérignon, incorrendo com certeza no pecado da soberba, exclamou: "Estou bebendo estrelas". A hipérbole, bela e romântica, é uma apropriada homenagem às siderais virtudes de seu vinho incomparável - mas a verdade dos fatos não deve perder a sobriedade. Pois o champanhe não foi propriamente inventado, porém surgiu graças a uma série de circunstâncias peculiares. Seria até mais acertado dizer que o champanhe se inventou a si mesmo do que atribuir a quem quer que seja o seu advento. Mas, quando é mais interessante que a realidade, a lenda é que acaba prevalecendo, principalmente se contribui para os bons fluidos da indústria do champanhe.
Afinal, a empresa francesa Moet-Chandon, de longe a maior produtora, tem um célebre champanhe com o nome Dom Pérignon e até comprou a abadia de Hautvillers - de cujas adegas o monge era encarregado, entre 1668 e 1715 - para montar um atraente museu do vinho. A região de Champagne fica no norte da França, a cerca de 150 quilômetros de Paris. Os principais pontos de referência  para localizá-la são o Rio Marne e as cidades de Épernay, Reims e Ay, que praticamente centralizam toda a produção vinícola do lugar.
A região empresta o nome à bebida e isso deixa bem claro que podem existir muitos espumantes, mas só um champanhe, aquele feito ali mesmo, assim como nem toda aguardente de uva é um cognac. A primeira das circunstância sque levaram ao nascimento do champagne foram as peculiaridades de clima e solo da própria região, onde os invernos são frios, muito duros. Champagne designa na agricultura francesa um campo aberto com uma fina camada superior de terra arável e um subsolo com muito calcário. Mais parece uma massa compacta de giz, na qual os habitantes do lugar, durante gerações, cavaram túneis para se proteger das guerras e pilhagens. Esses túneis acabaram sendo usados para produzir e armazenar vinhos. A Champagne, com efeito, foi uma das regiões da Europa mais assoladas pelas guerras. Ali, Clóvis (466-511) ganhou a batalha que levou à sua coroação e ao estabelecimento da monarquia francesa; em Reims, ele foi sagrado pelo bispo que seria beatificado como Saint Rémy.
Para se ter uma idéia dos estragos que as guerras provocaram na região, basta dizer que a cidade de Épernay foi saqueada e destruída nada menos de 25 vezes ao longo da história. Também neste século, a Champagne assistiu a muitas batalhas no decorrer da duas guerras mundiais, notadamente a do Marne, que praticamente decidiu a Primeira Guerra. A catedral de Reims, uma das mais bonitas da Europa, ainda guarda as cicatrizes dos bombardeios alemães. O vinho que era feito ali no tempo de Dom Pérignon nada tinha a ver com o espumante. Para começar, era tinto, não branco. Além disso havia um problema muito sério, derivado das condições climáticas e geográficas, e combatido de todas as maneiras possíveis por gerações de vinhateiros. Em vão, felizmente. É que o vinho feito na boca do inverno tornava a fermentar, a criar uma efervescência, quando a temperatura começava a subir na primavera. Durante o inverno, o vinho ficava tranqüilo nas crayères (túneis), mas na primavera voltava a trabalhar. A produção em massa da garrafa e a utilização da rolha de cortiça completaram o cenário que levaria ao espumante. Usada pelos antigos romanos para fechar suas ânforas, a rolha caiu no esquecimento durante a Idade Média, quando barris de madeira passaram a ser utilizados para armazenar e transportar o vinho. Para irritação dos franceses, os ingleses reivindicam a primazia pela boa idéia de tapar o champanhe com rolha, o que lhes transferiria parte da glória do vinho. Já os espanhóis garantem que foram eles que mostraram a Dom Pérignon e a outros vinhateiros franceses as virtudes da rolha de cortiça, comum em seu país.
Seja de quem tiver sido a idéia, a rolha representou um grande progresso. Antes, as garrafas eram fechadas com chumaços de algodão ou com trapos embebidos em azeite. A garrafa, por sinal, era conhecida já no Egito antigo, embora naqueles idos fosse usada apenas para levar o vinho à mesa. Durante a Idade Média e na Renascença, a Sereníssima República de Veneza detinha a liderança na produção artesanal de garrafas. No século XVIII, com a Revolução Industrial, a garrafa passou a ser fabricada em série, principalmente na Inglaterra, e começou a ser usada também para acolher vinhos. Estes então puderam envelhecer tranqüilamente, sem virar vinagre. O porto, famoso vinho de Portugal, foi o primeiro a ser engarrafado e arrolhado. Assim, com a garrafa e a rolha, os vinhateiros franceses do fim do século XVII adquiriram os meios para aprisionar aquela efervescência que tanto incomodara os seus antepassados. Nascia o champanhe. E certamente o monge Dom Pérignon usou as inovações técnicas da época. Ele pode não ter inventado a bebida, mas seguramente teve papel importante em seu desenvolvimento. Dizia-se que, já velho e cego, Dom Pérignon podia afirmar, só provando as uvas, de que área da Champagne elas vinham.
A ele se credita também o chamado corte champenois, que é a mistura das uvas com as quais o champanhe é feito até hoje: pinot noir, que traz o corpo e lhe dá o aroma característico; pinot meunier, ou pinot do moleiro, assim chamada porque suas folhas são cobertas por um pó branco, que lembra a farinha - a uva mais comum, responsável pelo paladar frutado; e a chardonnay, que dá ao vinho elegância e frescor. O champanhe acabou conquistando a corte da França e depois o mundo. Madame Pompadour (1721-1764), a célebre amante de Luís XV, contribuiu muito para difundir o seu consumo ao dizer que era a única bebida capaz de tornar as mulheres mais belas. Durante a Revolução Francesa, a bebida caiu em desgraça; afinal, representava o luxo aristocrático. Mas não durou muito a supremacia da doutrina sobre o prazer. Na época de Napoleão, foi reabilitada e voltou a ser popular. Posteriormente, no começo deste século, tornou-se o símbolo espoucante de uma época alegre e irresponsável, a belle époque, quando corria como água nos melhores restaurantes e cabarés de Paris.
Hoje é o vinho mais conhecido no mundo inteiro, presença constante em comemorações de toda espécie, desde festas familiares a lançamentos de navios, sem contar os rituais da vitória nas corridas de Fórmula 1. Há poucos meses, quando milhares de alemães orientais conseguiram passar para o Ocidente via Hungria, os jornais mostraram nas primeiras páginas fotos de felizes emigrantes em seus carros, já em território austríaco, com os novos passaportes numa das mãos e uma garrafa de bom sekt, a versão alemã do champanhe, na outra. Não deixa de ser irônico que, mesmo não o tendo inventado, um bom e piedoso monge esteja ligado ao nascimento desse vinho mundano por excelência, que justifica plenamente a máxima de Anthelme Brillat-Savarin (1755-1826), o grande teórico da gastronomia francesa e emérito fazedor de frases: "O Bourgogne faz a gente pensar em bobagens, o Bordeaux faz a gente falar bobagens e o champanhe faz a gente fazer bobagens".
É evidente que não se faz mais champanhe como nos tempos de Dom Pérignon, mas os princípios básicos para produzir e aprisionar a espuma são os mesmos. O vinho contínua passando por duas fermentações, a primeira nas cubas e a segunda nas próprias garrafas. É essa fermentação na garrafa a essência do chamado método champanhês. Para se produzir o champanhe, primeiro é preciso amassar as uvas com muito cuidado para não retirar a cor das cascas. É que aquelas duas uvas usadas na elaboração da bebida - a pinot noir e a pinot meunier - são tintas; portanto, é necessário prensá-las cuidadosamente para que a cor não passe para o mosto.
Acontece, então, a fermentação alcoólica. Nesse processo, o açúcar do mosto se transforma em álcool pela ação dos fermentos, liberando gás carbônico e gerando calor. Um processo simples, comum a todos os vinhos, conhecido pelo homem desde a Antigüidade, mas que só foi cientificamente explicado por Louis Pasteur, no século passado. Depois de feito o corte, ou seja, a mistura de vinhos de várias procedências, ele vai para as garrafas junto com as substâncias que vão provocar a segunda fermentação. Começa o processo da prise de mousse, a transformação do vinho sossegado em espumante. O próximo passo, que dura três meses, é a retirada dos restos dos fermentos. As garrafas são então colocadas nas pupîtres, armações de madeira onde ficam presas pelo gargalo.
Esse processo é chamado remuage. Nele, operários especializados vão virando as garrafas com movimentos firmes e precisos para que os fermentos se desprendam das paredes do vidro. Ao mesmo tempo, colocam as garrafas de cabeça para baixo. Cada trabalhador vira seis mil garrafas por dia. Vê-los em ação lembra as cenas do célebre filme Tempos modernos, em que Charles Chaplin descreve com imagens hilariantes a tirania do trabalho condicionado pelo ritmo da máquina. Finalmente, vem o dégorgement. Os fermentos já estão colados à rolha (ou às tampinhas, bastante usadas hoje em dia) e só os gargalos são congelados. Ao ser expulso, esse gelo leva consigo os fermentos; as garrafas são completadas com vinho já pronto. Junto, vai a quantidade de açúcar que determina o tipo do champanhe: nature, sem açúcar nenhum; brut, bem seco, com 9 a 15 gramas de açúcar por litro; extra brut, de 12 a 15 gramas; sec, com 17 a 35 gramas; demi-sec, com 33 a 50 gramas; e doux, doce, com mais de 50 gramas de açúcar. Tintim.

A batalha do bom nome

Mais de 500 milhões de garrafas descansam tranqüilamente no imenso labirinto de cerca de 200 quilômetros de túneis (as crayères), nas regiões de Reims e Épernay. Esses túneis fazem a delícia dos turistas que vão ver ali como nasce o champanhe. Para cada garrafa vendida, os produtores mantêm duas nas caves a fim de garantir o estoque nos anos mais fracos, quando a oferta não dá para o consumo. Isso é relativamente comum, pois nessa região fria as geadas fazem grandes estragos nas parreiras. Nos anos melhores, naturalmente, as reservas aumentam. Em 1987, por exemplo, a Champagne produziu 257 milhões de garrafas e vendeu 195,4 milhões. As restantes foram se juntar àquele estoque regulador.
A champagne não tem problemas para colocar seus vinhos no mercado, mas zela muito bem pelo seu nome. Os produtores argumentam que espumantes existem muitos, mas champagne é um só, e já foram à Justiça muitas vezes para evitar que o nome fosse usado por produtos de outras regiões. No Mercado Comum Europeu e nos outros países que também fazem parte da Organização Internacional do Vinho está condenada até a indicação nos rótulos da expressão méthode champenoise - para significar que o espumante foi feito por processo idêntico ao usado na Champagne, de segunda fermentação na garrafa. Como muitas regiões da França e praticamente todos os países que fabricam vinhos têm os seus espumantes, vão ter de encontrar outra maneira para indicar que seus produtos foram feitos por aquele método.
Na Itália, por exemplo, já se usa a inscrição método clássico e na Espanha a palavra cava no rótulo é sinal de que espumante foi elaborado pelo sistema champanhês. No Brasil, o nome Champanha é legal, pois a Justiça decidiu que poderia ser usado pelos fabricantes nacionais. Aqui com duas exceções, o método mais usado é o Charmat, mais simples e rápido. Nele, a segunda fermentação, aquela que faz a espuma, é produzida em grandes cubas fechadas, as autoclaves. Independente do sistema, alguns espumantes brasileiros estão entre os melhores vinhos produzidos no país.

Abertura lenta e gradual

Como os demais espumantes, o champanhe deve ser servido bem gelado, de preferência num balde com muito gelo e um pouco de água. Mas não deve ficar muito tempo na geladeira e sim ser resfriado no dia em que for servido. Por maior que seja a tentação num ambiente de festa, desaconselha-se espoucar a rolha. O estouro faz perder o gás e ainda derrama vinho, o que é um sério desperdício. Assim, é melhor não sacudir a garrafa, mas abri-la com todo o cuidado. Ao retirar a armação de arame que protege a rolha, é prudente colocar sobre ela o polegar, pois algumas rolhas saltam espontaneamente com uma velocidade incrível e podem causar problemas, sobretudo se atingirem partes delicadas, como os olhos. Depois, com a ajuda de um guardanapo, deve-se girar a rolha aos poucos. Se ela não ceder, pode-se fazer pressão em vários pontos com o polegar, como se fosse uma alavanca.
Quando a rolha ceder, volta-se aos movimentos delicados e circulares. Se nada disso der certo, o jeito é colocar o gargalo (e só o gargalo) sob um jato de água quente. Para servir, o copo ideal é a flûte, taça fininha e comprida. Nela, as borbulhas - que os vinhateiros tiveram tanto trabalho para fazer - não desaparecem rapidamente e o vinho contínua espumante por mais tempo, ao contrário do que ocorre com a taça tradicional, bem aberta e rasa. Diz a lenda que essa taça teria sido moldada nos seios da desditosa rainha Maria Antonieta. Com todo respeito às formas e à memória de Sua Alteza, tais taças devem ser deixadas para acepipes mais triviais, como sorvetes ou saladas de frutas.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Grãos de Alegria - Cerveja

GRÃOS DE ALEGRIA - Cerveja



Uma boa porção de cevada, um pouco de arroz e milho, água, lúpulo e fermento: eis a receita básica da cerveja. Com muito orgulho, os cervejeiros dizem que é a bebida mais antiga do mundo. As primeiras notícias de sua fabricação remontam a mais de 6 mil anos.

Quando o termômetro marca 30 graus, a salvação do brasileiro é uma cerveja gelada - a bebida oficial do verão neste país onde ela começou a ser fabricada apenas há pouco mais de um século e cuja população, ao contrário da lenda, não faria boa figura num eventual campeonato mundial de levantamento de copos. O brasileiro bebe, em média, 28 litros por ano - algo como 1 litro a cada 13 dias. Isso nos deixa num modesto 14.° lugar no ranking mundial. Os eternos campeões são os alemães, que entornam 152 litros ao ano. E os maiores produtores, os norte-americanos.
O que o Brasil tem que os outros não têm é o costume de enxugar quase a metade de toda a sua produção anual de 3,1 bilhões de litros nos gloriosos três meses de verão. Já no Hemisfério Norte, cerveja é coisa de beber o ano todo. No Brasil, as marcas são poucas e os tipos basicamente três - normal, pilsen e escura. A cerveja preta doce na Alemanha nem é rotulada como cerveja. Ali e na Inglaterra, por exemplo, a variedade é tão grande que há tipos adequados a cada estação do ano, embora praticamente os ingredientes não mudem. Na Europa, ao que parece, o ditado "de amarga basta a vida" não é levado muito ao pé da letra porque, ao contrário do Brasil, a preferência é por cervejas mais amargas.
Mas, se os ingredientes são sempre os mesmos, como é possível produzir tantas variedades, das menos às mais amargas, das mais claras às mais escuras? É tudo uma questão de dosagem dos componentes. Em primeiro lugar vem a cevada, cujos grãos devem ser umidificados até que comecem a germinar ou até o estágio que o mestre cervejeiro determine. Depois, os grãos são secados e deles se obtém o malte. Se o cervejeiro desejar um malte claro, a secagem será feita a uma temperatura de 80 graus e entrará na composição de uma cerveja clara. Mas se o cervejeiro quiser um malte para elaborar uma cerveja mais escura, os grãos devem ser secados entre 100 e 105 graus.
Para uma cerveja ainda mais escura, exigem-se grãos torrados. Geralmente, em quase todos os países do mundo, à exceção da Alemanha, uma pequena parte do malte empregado é substituída por cereais como arroz ou milho. Os grãos são então moídos e transformados em farinha à qual se junta água, também importante na coloração da cerveja. Se for rica em sais de cálcio, será ideal para fabricar cervejas escuras. Graças aos avanços tecnológicos, é possível tratá-la quimicamente caso se queira fazer com a mesma água uma cerveja clara. Essa mistura da água com a farinha é aquecida; depois, dela são retiradas as cascas do malte e dos cereais.
Adicionam-se então flores de lúpulo - planta que começou a ser cultivada na Europa no século IX, mas só sete séculos mais tarde seria aproveitada pela indústria cervejeira. Ela influi no sabor menos ou mais amargo que se queira dar à cerveja. O resultado do cozimento dessa mistura é o mosto, que uma vez filtrado será resfriado para receber o fermento - microrganismos cultivados e testados em laboratório. Diz-se que uma cerveja tem baixa fermentação quando ao fim do processo o fermento é decantado, isto é, separa-se do líquido. Quando ele se deposita acima do líquido, a cerveja será de alta fermentação, caso de algumas cervejas escuras, como a celebrada stout inglesa.
É nesse processo que os açúcares que compõem o mosto se transformam parcialmente em álcool e gás carbônico; só então a bebida passa a ser chamada de cerveja. A palavra vem do latim cervisia ou cerevisia e foi empregada pelo escritor romano Plínio, o Velho (22-79 a.C.), autor da primeira documentação escrita sobre a bebida. Mas há noticias muito mais antigas sobre ela - e aí reside o grande orgulho dos cervejeiros: dizer que a cerveja - e não o vinho - é a bebida mais antiga do mundo. Eles se apóiam na descoberta de que, há quase sete mil anos, os sumérios, um povo que habitou a Mesopotâmia, hoje território do Iraque, tinham em suas oficinas caldeiras e cubas de maceração, além de barris para transportar líquidos.
Fabricavam uma bebida feita de trigo e de um cereal chamado emer. Também os faraós egípcios tinham por hábito saborear em vasilhas de barro uma bebida escura, feita com fragmentos de pão fermentados em recipientes de água por vários dias. Os judeus, durante seu cativeiro no Egito, teriam assimilado as técnicas de fabricação da bebida à qual atribuíam poderes medicinais, entre os quais proteger contra a temida lepra. Mas serão os monges alemães do século IX os primeiros responsáveis pela fabricação de cerveja em larga escala. O motivo foi estritamente religioso: é que durante a Quaresma nos monastérios medievais só se podia comer uma vez por dia. Como a abstinência não se estendesse aos líquidos, os monges tomavam cerveja para enganar a fome.
Evidentemente, todas aquelas cervejas pouco tinham a ver com as de hoje. Afinal, na Idade Média, conseguir que a temperatura de cozimento dos ingredientes atingisse o ponto ideal era uma dificuldade, pois uns graus a mais ou a menos influíam decisivamente no sabor da bebida. As cervejas de antigamente não tinham espuma, dada pelo lúpulo, que só começou a ser usado por volta do século XVI. Mesmo sem a espuma, compreende-se o que levava os monges alemães a ingeri-la em grandes quantidades na Quaresma. Afinal, um litro de cerveja normal tem basicamente 90 por cento de água e de 3 a 5 por cento de álcool; o restante são vitaminas, carboidratos, proteínas, aminoácidos e nutrientes como cálcio, potássio, sódio e fósforo.
Também o levedo ou fermento da cerveja contém vitaminas B e sais minerais. Isso tudo se traduz em 450 calorias por litro, algo como duas xícaras e meia de leite integral ou pouco mais de 120 gramas de queijo suíço. Não exatamente uma refeição, mas sem dúvida de grande valia para aplacar a fome. As propriedades nutrientes da cerveja são inegáveis. Além do mais, é uma bebida geralmente de médio teor alcoólico, o que permite às pessoas ingerir quantidades mais generosas - ao contrário do que acontece com as bebidas destiladas como o uísque ou a vodca.
O teor alcoólico, determinado pela quantidade de matéria-prima empregada na fabricação de cada tipo de cerveja, é classificado de acordo com a porcentagem de álcool presente em cada um deles. As cervejas normais e a pilsen têm teor alcoólico médio (de 3,6 a 4,5 por cento), enquanto as escuras apresentam alto teor alcoólico (de 6 a 7 por cento). As de baixo teor alcoólico (2,5 por cento) são as chamadas light. Como tudo na vida, a escolha da marca e do tipo de cerveja é uma questão de gosto. Mas o apurado paladar dos entendidos aconselha que um bom bebedor deve ter como preocupação primeira tomar uma cerveja de boa qualidade e não apenas um líquido ligeiramente alcoólico e gasoso, "estupidamente gelado", só para matar a sede.

Você entende de cerveja?

Os segredos para saber saborear uma cerveja começam na escolha da marca - ao gosto de cada um -, passam pela maneira de levar as garrafas para casa e terminam no ato de encher o copo. Veja aqui se você entende de cerveja. Cada resposta certa vale um ponto. De 0 a 3 pontos: quem sabe você entende de água mineral; de 4 a 7: continue no bom caminho; de 8 a 10: você não tem nada a nos ensinar?
1 Cerveja preta doce é ótima para mulheres que estão amamentando, porque aumenta o leite. Verdadeiro ou falso?

Falso. A cerveja apenas fornece ao organismo um pouco mais de proteína e hidratos de carbono.

2 .Não se deve nunca agitar uma garrafa de cerveja. É verdade?

Sim, é verdade. Quanto mais se chacoalha a garrafa, mais depressa reage o oxigênio, que fica entre o líquido e a tampa, oxidando os compostos da cerveja e alterando seu sabor.

3 Quanto mais gelada, mais saborosa a cerveja. Falso ou verdadeiro?

Falso. A temperatura ideal para tomar uma cerveja não deve ser inferior a 4 graus. Abaixo disso, o frio tira a sensibilidade das papilas da língua e você não sente quase mais nada.

4 Cerveja gostosa é aquela que se serve com o mínimo possível de colarinho.

Falso. Tudo é questão de preferência, mas para os entendidos tomar cerveja sem colarinho é heresia. Eles sabem o que dizem: é na espuma que está o aroma e é ela que evita a rápida liberação do gás.



5 As cervejas que não forem para a geladeira devem ser conservadas em lugares escuros e ventilados.

Verdadeiro. O sol é o maior inimigo da cerveja; portanto, quanto mais longe dele melhor. Prova disso são os cascos, sempre escuros, para proteger a bebida.

6 Nunca se deve segurar uma cerveja pelo gargalo.

Falso. Só se deve segurá-la assim. Do contrário, o contato da mão com a garrafa altera a temperatura da cerveja.

7 Os melhores recipientes para beber cerveja ou chope são as canecas de vidro.

Falso. Na verdade, os copos devem ser de vidro bem fino ou se possível de cristal, porque mantêm por mais tempo o aroma e a espuma.

8 Comer queijo com cerveja faz mal

Falso. Afinal, quem foi que disse que só se come queijo com vinho? Quem não gosta de queijo pode optar por azeitonas ou frios, embora a cerveja não seja exatamente uma bebida que exija estômago bem forrado.

9 Limão e sal na borda do copo ou da latinha melhoram o gosto da cerveja.

Você tem que escolher. Ou gosta do gosto da cerveja ou então bebe por obrigação e faz uma mistura com aparência de cerveja e gosto de limão. Quem sabe uma caipirinha não resolve o seu dilema?

10 As garrafas devem ser guardadas sempre deitadas.

Falso. Com a garrafa em pé, a pequenina parte de oxigênio que fica no gargalo vai demorar mais para reagir. Portanto, o sabor permanecerá inalterado por mais tempo.