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sexta-feira, 4 de março de 2022

Descoberto um novo tipo de tempestade, até hoje desconhecido

Descoberto um novo tipo de tempestade, até hoje desconhecido

Fenômeno inédito, batizado de “lagos atmosféricos”, foi observado no Oceano Índico.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

NASA alerta que um alimento importante pode desaparecer devido às mudanças climáticas

NASA alerta que um alimento importante pode desaparecer devido às mudanças climáticas

Estudo prevê que o impacto das emissões de carbono afetará seriamente a produção agrícola na próxima década.

domingo, 27 de setembro de 2020

Quando a água potável do mundo chegará ao fim ???

 Quando a água potável do mundo chegará ao fim ???

Embora 70% da superfície da Terra seja coberta por água e seu volume permaneça constante (1.386.000.000 de quilômetros cúbicos), a humanidade enfrenta um grande problema: há uma crise global de água potável. 

terça-feira, 7 de julho de 2020

Novo estudo astronômico revela estranho planeta no qual chove ferro

Novo estudo astronômico revela estranho planeta no qual chove ferro


O professor David Ehrenreich, da Universidade de Genebra, e um grupo de astrônomos perceberam algumas características exóticas da atmosfera do exoplaneta Wasp-76b, descoberto em 2013. 

domingo, 12 de agosto de 2018

Por que o ‘cheiro’ da chuva é tão bom ?


Por que o ‘cheiro’ da chuva é tão bom ?

Há algo químico na fragrância agradável que sentimos de ar limpo e terra molhada, 
após a chuva (Foto: stevepb/Creative Commons)

Há algo químico na fragrância agradável que sentimos de ar limpo e terra molhada.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

O que queríamos dizer aos extraterrestres há 40 anos


O que queríamos dizer aos extraterrestres há 40 anos

Voyager Golden Record foi enviado ao espaço em 1977 com informações 
sobre o nosso planeta (Foto: NASA)


Discos de ouro lançados ao espaço em 1977 na missão Voyager levavam mais de cem fotografias, sons e dados sobre a Terra e a humanidade.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Esta noite - (13/12/2016) - A chuva de meteoros mais impressionante do ano que traz surpresas


Esta noite - 13/12/2016 - A chuva de meteoros mais impressionante do ano que traz surpresas


Entre a noite de hoje (13/12/2016) e a madrugada de quarta-feira, os habitantes do Hemisfério Sul poderão presenciar um magnífico espetáculo celestial: a chuva de estrelas cadentes e de meteoros das Gemínidas. Além disso, será possível ver também, durante uma rápida aparição, os planetas Vênus e Marte.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O jardim das esculturas - Geologia


O JARDIM DAS ESCULTURAS - Geologia


Maior concentração de arcos de pedra do mundo, o Parque Nacional Arches, nos Estados Unidos, exibe formas talhadas nas rochas pela ação das forças da natureza, como a chuva e o vento.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Japoneses criam guarda-chuva que protege o corpo inteiro


Japoneses criam guarda-chuva que protege o corpo inteiro


Se você acha que esse acessório nem sempre é eficaz, talvez a ideia a seguir faça você querer fazer umas comprinhas no Japão

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pantanal, Terra das Águas - Natureza


PANTANAL, TERRA DAS ÁGUAS - Natureza



Uma das maiores planícies do mundo não é um pântano, mas um ecossistema único: pelo tamanho, pela diversidade de suas formas de vida e pelo lugar onde fica. Sua beleza é fruto disso tudo.

Começa no mês que vem a temporada das chuvas no Pantanal Mato-grossense. Como acontece infalivelmente todos os anos, desde há pelo menos 30 milênios, um mar de água deverá se elevar lentamente, invadindo toda a planície do centro da América do Sul. As dimensões dessa inundação serão colossais. Aos poucos, 2/3 dos 150 000 quilômetros quadrados do território ficarão encharcados-uma área igual à do Estado de Santa Catarina ficará embaixo da água. Caso isso acontecesse no sul do país, seria uma tragédia de proporções inimagináveis. Mas, no Pantanal, encravado entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a chegada das águas significa renovação. Sem as enchentes, a região seria um deserto. Por causa delas, ali se encontra uma das mais deslumbrantes paisagens das Américas-aproveitá-la como cenário de telenovela é o menor tributo que o homem pode lhe prestar.
Até os anos 50, aproximadamente, os cientistas chegaram a desconfiar que, no passado remoto, um mar interior cobria a região, como um enorme lago de água salgada. Quando foi avistado pela primeira vez por uma expedição branca, no século XVI, a área estava inundada e recebeu o nome de Lago dos Xaraiés. Foi uma homenagem à tribo desse nome, da família dos guaranis, com quem os exploradores fizeram contato. O lago, depois se descobriu, não existia realmente. Mesmo durante a época das cheias, muitos terrenos, que os moradores do Pantanal chamam cordilheiras, escapam de ficar embaixo da água e, por isso mesmo, ali se refugiam bois e animais selvagens. Ademais, todo ano, durante os seis meses que dura a estiagem, quase toda a planície fica descoberta. E, com a falta de chuvas, o gado chega a passar sede.
Se não foi um mar nem um lago, o Pantanal tampouco é um pântano. Pelo menos, é o que dizem os pesquisadores, que implicam com o nome com que a região foi batizada, em época incerta, pelos habitantes do lugar. Aparentemente, eles se referiam às primeiras áreas inundadas pelos rios como pantanais-e o termo pegou. "Jamais se descobriram ali os charcos estagnados ou os lodaçais traiçoeiros típicos dos pântanos", objeta o geógrafo Aziz Ab´Saber, da Universidade de São Paulo, um dos maiores especialistas em Geomorfologia brasileira, o estudo do relevo terrestre. Ab´Saber prefere chamar o Pantanal de planície inundável - "única pelo seu tamanho porque está no interior do continente e pela diversidade de domínios da natureza", enumera.
A imagem de pântanos movediços não se aplica a nenhum pedaço do Pantanal Mato-grossense. Mesmo os filmes de terror classe B, onde costumavam aparecer, exageram as suas características. Trata-se, na verdade, de pequenos afloramentos de água estagnada, resultantes do movimento do subsolo, e de difícil escoamento. Em alguns lugares, as plantas ali acumuladas transformam-se em turfeiras, depósitos de carvão vegetal que deixam o solo mole e pegajoso, como em certas regiões da Inglaterra e também no Brasil, mais precisamente no Vale do Paraíba e em Ribeira de Iguape, São Paulo. As  planícies inundáveis  são muito mais comuns. Estão presentes do Amazonas ao Rio Grande do Sul e suas áreas mais facilmente alagadas são chamadas brejos, várzeas, banhados ou vargens, conforme a região. Também são comuns pelo mundo afora.
O magnífico cenário do Pantanal, hoje se sabe, enfeita um fundo de concha situado entre as terras altas bolivianas a oeste e as serras brasileiras a leste. Há cerca de 60 milhões de anos, quando se elevaram tanto a Cordilheira dos Andes como o Planalto Brasileiro, a região do Pantanal, ao contrário, esvaziou- se. Uma malha impressionante de rios, formada pelo Paraguai e seus afluentes, despencou nesse imenso anfiteatro, vinda do norte e do leste, escavando os planaltos vizinhos e acumulando os sedimentos na planície. A região foi sendo lentamente aterrada. O Rio Paraguai, muito raso para suportar a imensa descarga que recebe de seus afluentes, ainda encontrou obstáculos ao sul, ao atravessar a Serra do Bodoquena. Ao percorrer esse assoalho liso, cuja declividade não passa de 33 milímetros por quilômetro, não tem alternativa senão transbordar.
Assim, é fácil entender por que a enchente demora para baixar-avançando cerca de 10 quilômetros por dia, leva seis meses para atravessar o Pantanal. Enquanto ainda está ganhando terreno no sul, já começa a diminuir de volume no norte. Areia, vegetação decomposta, aguapés, tudo se movimenta com a cheia. Quando ocorre a vazante e a água escorre para outras paragens, fica no lugar uma sopa de detritos na qual nascem capim, ervas, arbustos e uma infinidade de flores-um conjunto exuberante de vegetação que jamais brotaria naquele solo pobre sem a contribuição das águas. Até porque no Pantanal não chove muito. Na tórrida cidade de Corumbá, no sul da planície, por exemplo, chove menos do que em São Paulo. Esse fenômeno lembra o que ocorre no Rio Nilo, na África, cujas enchentes fertilizaram o deserto e fizeram a grandeza do Egito há 5.000 anos.
Não é preciso ir muito longe para imaginar o que seria do Pantanal sem o constante vaivém das águas. Do outro lado da fronteira, no território da Bolívia, fica uma das áreas da planície do Chaco, formada na mesma época e da mesma maneira que a planície mato-grossense. Apesar do nome, que lembra charco e por isso pode dar margem a confusão, a terra ali não é úmida, mas árida. A palavra chaco vem do idioma quíchua, ainda hoje falado pelos indígenas da região, e significa terra de caça. Na sua parte central, o Chaco é um imenso descampado, dominado por bosques baixos e vegetação de savanas. Ali não ocorrem inundações. Os poucos córregos que percorrem a planície são parcamente alimentados nas cabeceiras, localizadas nos altiplanos andinos, onde raramente chove-ao contrário do que acontece nas úmidas serras nas bordas do Pantanal, onde estão as nascentes do Paraguai e seus afluentes.
Do lado de cá da fronteira, o verde se transforma à medida que o Paraguai atravessa os 700 quilômetros de seu percurso pantaneiro. De leste para oeste da planície, o grande rio e seus afluentes passam por matas, cerrados e campos que, em alguns trechos, lembram a caatinga nordestina. Na parte sul e na borda ocidental, a vegetação se parece com a dos bosques chaquenhos. Calcula-se que durante o Período Quaternário, há 20 ou 30.000 anos, espécies de vegetação tropical e subtropical dos cerrados, do Chaco e da periferia da Amazônia disputavam o espaço enquanto os rios abriam caminho na planície. É por isso que um cientista como Fernando Flávio Marques de Almeida, da Universidade Estadual de Campinas, que trocou a Engenharia pela Geologia e estuda a região há quarenta anos, desde que se apaixonou por ela, afirma que não existe um único Pantanal na região. "São quase uma dezena, cada um com características diferentes", esclarece. A gente do lugar reconhece esses pantanais por nomes diferentes: pantanal de Cáceres, ou de Poconé, ou de Nhecolândia etc.
"Trata-se de uma espécie de mosaico, onde se interpenetram diversos ecossistemas e suas respectivas faunas", concorda outro pantanólogo, Francisco de Arruda Machado, o Chico, biólogo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Filho de pescadores, nascido numa vila perto de Cuiabá, Chico só podia mesmo se especializar no estudo da multidão de peixes da bacia do Paraguai. Segundo ensina, eles representam um dos elos mais importantes da riquíssima cadeia alimentar do Pantanal, capaz de sustentar animais de grande porte, em vias de extinção  em outros pontos do território brasileiro, como a onça-pintada, o lobo-guará, o tamanduá, a capivara e o cervo.
Durante a época das cheias, cardumes e mais cardumes sobem os rios para a desova, no conhecido fenômeno da piracema. Os filhotes se alimentam de microorganismos e da vegetação aquática, como os aguapés, que cobrem as áreas inundadas, ou baías, conforme se diz na região. Quando vem a vazante, muitos rios interrompem seu curso, formando uma seqüência de pequenos lagos, onde jacarés, cobras, pequenos roedores e pássaros fazem a festa. "Numa lagoa de 2 metros quadrados se encontram sessenta espécies de peixes convivendo lado a lado", contabiliza Chico, orgulhoso.
Alterar esse sistema, a conseqüência inevitável da interferência humana em larga escala na região, significa desequilibrar o ciclo de vida no Pantanal. Sabe-se, por exemplo, que o acréscimo de aguapés, provocado pelo assoreamento dos rios, e a matança indiscriminada dos jacarés, estão aumentando os cardumes de piranhas nos rios. Não existem números comparativos a respeito, mas o fato é certo. As aves -a forma de vida que mais chama a atenção no Pantanal- também estão ameaçadas. No caso, o vilão é o uso de agrotóxicos nas plantações de soja a em volta da planície. Mas a fartura de asas e plumas é tamanha que, ao menos por enquanto, ainda não há por que se preocupar.
Infinidades de aves coloridas, entre os quais espécies migradoras, habitam os viveiros pantaneiros, que às vezes cobrem mais de 1 quilômetro de bosques. Ali voam garças, araras, papagaios, biguás, maçaricos, batuíras, colhereiros -e os tuiuiús, de corpo branco e pescoço vermelho, escolhidos por sua beleza como o símbolo oficial da região. Deslumbrados com toda essa abundância, os mais entusiasmados fãs leigos do Pantanal asseguram que a região, como manancial de espécies, é ainda mais rica que a Amazônia. É e não é. Na verdade, explica o ecólogo Wellington Braz Carvalho Delitti, da USP, "as espécies da floresta são mais variadas, mas no Pantanal a quantidade é mais perceptível". 

Um mundo de cheias

No coração da América do Sul, o Pantanal Mato-grossense é uma exceção à regra da formação das planícies inundáveis. As demais surgem quase sempre junto à costa e na altura dos deltas dos rios. A bacia do Amazonas, que se estende por quase 7 milhões de quilômetros quadrados, tem épocas variadas de cheias, conforme o trecho do rio, e apenas uma estreita faixa de várzea inundada. As maiores planícies inundáveis do mundo estão na Ásia. É o caso da planície do Rio Yang Tsé, na China, que ocupa 2 milhões de quilômetros quadrados, onde existem cidades, como Xangai, cujas populações também se contam aos milhões. As enchentes do Rio Yang Tsé podem inundar centenas de quilômetros de planície. Além deste, também o Rio Huang Ho, no norte da China, forma terras inundáveis e pantanosas.
No Sudeste Asiático, o Rio Mekong inunda as planícies do Laos, Camboja, Vietnã e Tailândia, sendo responsável pela principal cultura da região: o arroz. A planície do delta do Ganges, entre a Índia e Bangladesh, também forma um dos territórios mais férteis e por isso mesmo mais populosos do mundo. Ali, a paisagem alterna plantações de chá e de arroz com florestas tropicais e pântanos. Em contraste, no norte do continente, os rios siberianos Ob, Ienissei e Lena recebem a neve e o gelo derretido dos maciços da Ásia Central e inundam uma terra menos habitada e coberta pela vegetação de tundra, antes de desaguar no Ártico. Uma das planícies inundáveis mais famosas do mundo fica no delta do Mississípi, o maior rio dos Estados Unidos, que cobre uma área superior a 3 milhões de quilômetros quadrados. Antes de desaguar no Golfo do México, forma uma malha de canais, cercados por bosques baixos, povoados por uma infinidade de aves e jacarés-agora raros.

Mau exemplo na Flórida

Corresponde apenas a 6% do Pantanal Mato-grossense. No entanto, representa a maior planície inundável dos Estados Unidos. A região de Everglades (literalmente, clareira perpétua, em inglês), quase 10 mil quilômetros quadrados no sul da Flórida, foi até o século passado um emaranhado de pequenos córregos, lagos e brejos, uma terra pantanosa, habitada por crocodilos, panteras e aves a não poder mais. Hoje, quase dois terços do território estão ocupados por plantações. Grandes cidades, como Miami e Fort Lauderdale, se assentam sobre as suas bordas; uma rede de rodovias absorve a água das chuvas. O pantanal americano ficou confinado ao Parque Nacional de Everglades, que margeia o Atlântico até a ponta da península, e a algumas áreas vizinhas, onde subsistem treze espécies de animais em extinção, entre as quais, contadas uma a uma, trinta panteras.
A água circulava nessa planície sedimentar no mesmo ritmo lento de enchentes do Pantanal brasileiro. Mas em vez de um grande rio, ali está uma cadeia de lagos, ainda existente ao sul de Orlando, terra da Disneyworld. São esses lagos que alimentam o grande reservatório de Okeechobee, considerado o coração de Everglades. Dali, a água se espalha por quilômetros, inundando uma terra baixa e de vegetação rasteira até misturar-se com o mar. Para sustentar o desenvolvimento da região, todo esse sistema foi drenado. Mas, com o tempo, o solo secou. E o suprimento de água dos 5 milhões de habitantes do sul da Flórida corre o risco de entrar em colapso. Para evitar a calamidade, planeja-se o retorno aos bons velhos tempos. Isso significa restaurar o curso original de rios e o nível dos lagos, afastar os poluentes, reconstruir estradas e desapropriar terras-uma respeitável conta de 300 milhões de dólares.

Perigos no paraíso

Mesmo os ambientalistas radicais hão de concordar que, às vezes, a intervenção do homem na natureza vem para bem. A introdução do gado no paraíso mato-grossense, nas primeiras décadas deste século, por exemplo, acabou trazendo benefícios insuspeitados. A criação extensiva preencheu milhares de quilômetros quadrados com atividades econômicas que jamais perturbaram o equilíbrio ecológico. E o terreno arenoso, que não se presta à agricultura, serve perfeitamente ao florescimento de pasto, excelente alimento para bois e outros herbívoros. A região possui poucas cidades (as maiores são Campo Grande, com perto de 400 000 habitantes, Cuiabá e Corumbá) e a maior parte do território é ocupado por fazendas pastoris, daquelas que se percorre melhor de avião, escassamente povoadas.
Outros perigos, no entanto, ameaçam este éden. Recentemente, um encontro realizado em São Paulo pela Fundação Pantanal Alerta Brasil, uma organização ambientalista, mostrou a fragilidade do equilíbrio ecológico da planície. "As terras inundáveis sofrem muito com as alterações que acontecem nas bordas da planície", acusou na ocasião o geólogo José Domingos Godoy Filho, da UFMT. "O Pantanal recebe toda a carga de agrotóxicos das plantações de soja situadas nas cabeceiras dos rios e sente seus efeitos, como a erosão, assoreamento e contaminação das águas." Além disso, a mineração, praticada na beira dos rios, já transformou trechos da paisagem idílica em verdadeiras crateras. Como também lembra o geólogo, um paulista seduzido pelo Pantanal, o mercúrio usado pelos garimpeiros para localizar ouro, depois de escapar para a atmosfera, retorna ao solo e aos rios, trazido pela chuva, contamina a natureza e envenena gente e bichos. Se isso não bastasse, descobriu-se que as queimadas realizadas nos cerrados do Brasil Central elevam a níveis alarmantes a concentração de gás carbônico na atmosfera do Pantanal, durante a estação seca. Como se sabe, o gás carbônico, resultante do fogo ou da combustão de derivados de petróleo, é um dos maiores causadores do efeito estufa. Como acontece em Porto Velho, a capital de Rondônia, por causa dos gigantescos incêndios provocados pelo desmatamento da Amazônia, também em Cuiabá, no Mato Grosso, que fica ao norte do Pantanal, a fumaça das queimadas obrigou várias vezes ao fechamento do aeroporto por falta de visibilidade.
No encontro de São Paulo, os cientistas brasileiros que defendem uma ocupação menos predadora do Centro Oeste, como uma forma de evitar a destruição da paisagem do Pantanal, contaram com o apoio de um ilustre colega americano. O biólogo Estus Whittfield, diretor da área de meio ambiente do governo da Flórida, comparou a região de Everglades, no seu Estado, ao Pantanal Mato-grossense. Segundo explicou, a ocupação do pântano de Everglades causou tamanho problema no abastecimento de água do sul da Flórida que hoje os americanos estão gastando cerca de 300 milhões de dólares para curar as dores de cabeça que o desenvolvimento trouxe à região. "Se eu lhes contar a nossa história, vocês não vão querer cometer os mesmos erros", ofereceu-se Whittfield. Resta esperar que os brasileiros estejam dispostos a ouvir.

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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Castigo do Céu - Chuva Ácida



CASTIGO DO CÉU - Chuva Ácida



A chuva ácida faz cair sobre o homem a poluição que ele mesmo lança ao ar. As gotas contaminadas estão envenenando florestas e lagos, corroem monumentos e podem fazer mal à saúde.

Há três meses, setecentos cientistas de mais de trinta países reuniram-se em Hilton Head, na Carolina do Sul, Estados Unidos, para discutir um problema que está literalmente caindo sobre a cabeça de todos: a chuva. Não bastasse provocar um rombo na camada de ozônio da alta atmosfera e ameaçar o planeta de superaquecimento, a poluição, nas suas diversas modalidades, também envenena a chuva - algo tão benfazejo e essencial à vida como o próprio ar. Em conseqüência, 10 mil lagos na Suécia estão praticamente mortos. Na Noruega, outros 2 mil perderam seus peixes. Na Alemanha Ocidental, 35 por cento das florestas estão doentes. O Taj Mahal, um dos mais belos monumentos hindus, está perdendo a sua imaculada cor branca. E na Península de Yucatán, ao sul do México, a chuva está rapidamente destruindo obras da civilização maia, que floresceu ali pelo menos 1500 anos antes da chegada do homem branco.
No Brasil, a poluição da chuva quase não é estudada. Isso não quer dizer que os aguaceiros que aqui desabam sejam sempre limpos. Há quatro anos, pesquisadores da Universidade Federal Fluminense constataram que a vegetação da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, estava sendo afetada pela sujeira da chuva. Outros estudos, estes realizados pela Universidade Federal de Viçosa, mostraram que a flora do Parque Florestal do Rio Doce, nas proximidades do Vale do Aço, em Minas Gerais, também teria sido atingida. Apesar disso, o químico Cláudio Alonso, da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), que controla a poluição do ar em São Paulo, afirma que "o problema não tem a gravidade que adquiriu em outros países".
Como sempre, em todos os lugares onde a chuva está servindo de meio de transporte para a poluição, os vilões da história são as indústrias e os veículos que despejam no ar, todo santo dia, toneladas de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio. Esses gases reagem com o vapor de água e outros compostos químicos da atmosfera para formar os perigosos ácido sulfúrico (H2SO4) e ácido nítrico (HNO3). Nem por isso se deve entrar em pânico quando um toró nos apanha desprevenidos sem guarda- chuva - o risco maior ainda é ficar resfriado. "Ninguém vai sentir picadas na pele ou ficar com a roupa corroída por causa da poluição", brinca Cláudio Alonso, da Cetesb. "O problema da chuva ácida é a degradação do meio ambiente a longo prazo."
Além de poluir rios e lagos e acabar com a flora e a fauna aquática, a chuva ácida se infiltra no solo liberando certos metais potencialmente tóxicos, como alumínio, chumbo e cádmio. Estes podem se introduzir na cadeia alimentar através das plantas e acabar prejudicando a saúde do homem. Segundo o médico Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Universidade de São Paulo, "a presença de gotículas ácidas na atmosfera talvez represente um risco para a saúde de asmáticos, pessoas com infecções pulmonares, crianças e velhos".
Ao contrário do que se imagina, mesmo nos locais mais limpos, como o Ártico, a água da chuva é levemente ácida, ou seja, tem pH 5,6. O pH mede o teor de íons positivos de hidrogênio de uma solução. (Por uma convenção, pH designa o inverso do logaritmo da concentração desses íons.) Explica o professor Ivano Gutz, do Instituto de Química da USP, que a tabela do pH vai de zero a catorze: "Quanto maior for a concentração daqueles íons, menor será o pH logo, mais ácida a chuva". Em várias cidades do oeste da Europa e do leste dos Estados Unidos, a chuva chegou a ter pH entre 2 e 3, ou seja, entre o do vinagre e o do suco de limão. A diferença é maior do que parece: uma chuva com pH3 contém dez vezes mais hidrogênio do que outra com pH 4 e cem vezes mais do que outra com pH 5. Gutz, porém, explica que o conceito de chuva ácida vai mais além: "A acidez é a ponta do iceberg. Como a manifestação mais óbvia de que a chuva está poluída é o baixo pH, adota-se o nome chuva ácida para qualquer precipitação com alto teor de poluentes".
Nesses últimos anos, quando o homem parece acordar para os estragos que vem causando à natureza, a chuva ácida costuma ser citada - até com certo exagero - como uma espécie de holocausto ecológico recente em forma líquida. Mas a ameaça é quase tão antiga quanto a própria Revolução Industrial. A expressão foi usada originalmente no século passado, mais precisamente em 1872, quando o químico inglês Robert Argus Smith analisou a qualidade do ar da cidade de Manchester. No seu livro Air and rain: the beginnings of a chemical climatology  (Ar e chuva: os inícios de uma climatologia química), Smith estabelece pela primeira vez uma ligação entre o pH da chuva e a combustão do carvão naquele centro industrial. Quase meio século depois, o biólogo norueguês Knut Dahl reconhecia a relação entre a acidez das chuvas e a morte de plantas e peixes em vários lagos de seu país.
Os lagos saudáveis em toda a Escandinávia, aqueles dos cartões-postais, teriam um pH em torno de 7,0. Em muitos deles, esse valor baixou para 5,0. A acidez matou algas, plânctons e insetos. Sem esta vida microscópica, as águas adquiriram uma transparência não natural. Depois, à medida que o pH baixava, desapareceram os peixes, em especial salmões e trutas. Enfim, os pássaros, sem ter o que comer, também sumiram. Na primeira Conferência Mundial do Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972 (a próxima, por sinal, será no Brasil, em 1992), os suecos deram o alerta. Se a guerra química do homem contra a natureza continuasse, em cinqüenta anos, calcularam eles, metade dos lagos de seu país estariam mortos. Por ironia da sorte - ou mais exatamente devido ao complexo mecanismo do clima no planeta -, suecos e noruegueses estavam arcando com um desastre armado a bons mil quilômetros de distância, na nevoenta e industrializada Inglaterra.
As correntes de ar que se deslocavam do oceano para o continente carregavam a maior parte dos 5 milhões de toneladas anuais de dióxido de enxofre expelidas pelas centrais elétricas movidas a carvão das Ilhas Britânicas. Quando alcança o sul da Noruega e o sudoeste da Suécia, a mistura poluída se precipita sob a forma de chuva. Calcula- se que algumas regiões da Suécia chegaram a ser contempladas todo ano com um presente de grego: 2 gramas de ácido sulfúrico por metro quadrado de chão. A Península Escandinava não foi a única premiada. As emissões de dióxido de enxofre na Europa na última década foram estimadas em 70 milhões de toneladas anuais. Esses gases não respeitaram fronteiras: Alemanha Ocidental, França, Checoslováquia, União Soviética, Itália e Espanha tiveram sua cota de participação no involuntário comércio internacional de poluição. No Brasil, a termelétrica de Candiota, em Bagé, Rio Grande do Sul, por queimar carvão de má qualidade, acidifica as chuvas que caem no Uruguai. Paradoxalmente, até as medidas antipoluentes adotadas na década de 70 contribuíram para o mercado exportador da chuva ácida. Foi o que aconteceu, por exemplo, no Parque Nacional de Adirondack, uma extensa área verde no nordeste dos Estados Unidos com montanhas e lagos aprazíveis, protegidos por uma rigorosa legislação de defesa do meio ambiente. Ninguém imaginaria que naquele paraíso terrestre houvesse qualquer sinal de poluição. Mas em 1976 constatou-se que os peixes de mais da metade dos lagos de Adirondack haviam desaparecido. De onde veio o veneno que teria acabado com eles? O autor do crime estava a cerca de 800 quilômetros do Parque. Trata-se do complexo siderúrgico de Sudbury, em Ontário, no Canadá.
Para impedir que a poluição prejudicasse as áreas vizinhas, em Sudbury as chaminés têm descomunais 400 metros de altura. Lançados às camadas mais altas da atmosfera, os gases venenosos são levados pelo ventos que sopram para o leste até encontrar a barreira dos Montes Apalaches e se precipitar como chuva ácida em pleno parque. Os americanos se queixaram, mas não puderam fazer papel de vítima inocente. Segundo as últimas pesquisas, o Canadá recebe dos Estados Unidos quatro vezes mais dióxido de enxofre e onze vezes mais óxido de nitrogênio do que envia para esse país.
As florestas da América do Norte não foram afetadas pela chuva ácida. Mas, na Europa, os efeitos parecem devastadores. Na Alemanha Ocidental, Suíça, França e Áustria, as árvores estão doentes, talvez porque o solo ou o tipo de vegetação seja especialmente vulnerável à acidez. Na Alemanha, uma paisagem desoladora: pinheiros e abetos, antes grandiosos, apresentam folhagem amarelada, com manchas escuras que provam a falta de nutrientes (cálcio e magnésio). As árvores mais afetadas já perderam a folhagem: os troncos nus estão cobertos de ramos finos, raquíticos e quebradiços.
Nas cidades, a corrosão dos monumentos, edifícios e veículos é de duas a dez vezes mais rápida do que no campo. Na região de Katowice, no sul da Polônia, por exemplo, os trens não podem correr a mais de 40 quilômetros por hora devido à corrosão dos trilhos. Os gregos, por sua vez, estão lutando contra o tempo para contra-atacar a chuva ácida que aos poucos dissolve seus conhecidos monumentos históricos. Para o especialista em corrosão, T. N. Skoulidikis, alguns dos grandes templos do seu país, como o Partenon, em Atenas, se deterioraram mais nesse último quarto de século do que em todos os 2 400 anos anteriores. A poluição praticamente já apagou as delicadas frisas e figuras gravadas na entrada da construção.
Ali, a solução de ácido sulfúrico reage com o mármore transformando a superfície em gesso macio. Problema semelhante se suspeita que esteja ocorrendo com o Coliseu, em Roma. Às vezes, são falsos alarmes. Quando as esculturas dos doze profetas, obra em pedra-sabão do Aleijadinho, na cidade mineira de Congonhas do Campo, começaram a ser corroídas, afirmou-se que a culpada era também a chuva ácida. Dessa vez, parece que tudo não passou de um ataque de fungos. Melhor sorte não tiveram os monumentos no sul do México. Um estudo mostrou que as esculturas e ruínas maias estão sendo destruídas pela chuva ácida.
Na América do Sul, chuvas com pH médio 4,7 têm sido registradas tanto em áreas urbanas e industrializadas como em regiões remotas. "Isso não quer dizer que a poluição se espalhou por toda parte", tranqüiliza a física Lycia Moreira Nordemann, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) de São José dos Campos, no interior paulista, uma das poucas pesquisadoras brasileiras de chuva. Ela observa, por exemplo, que os estudos realizados na floresta amazônica mostraram que os valores dos pH na região (entre 4,5 e 4,7) estão próximos daqueles observados em áreas das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A explicação é natural. A chuva ácida provem da oxidação do sulfeto de hidrogênio, ou seja a reação do sulfeto em contato com o oxigênio do ar, que se volatiliza nas regiões alagadas. Mas resulta principalmente da grande quantidade de ácidos orgânicos emitidos pela própria floresta.
Nos últimos dois anos, a equipe de Lycia Nordemann analisou a composição das chuvas em seis cidades do litoral brasileiro. "Nossa preocupação foi determinar o índice de poluição e não apenas o pH", frisa a pesquisadora. Como exemplo, ela cita o caso de Cubatão, cidade em que já havia medido a acidez da chuva há cinco anos. Naquela época, quando Cubatão era considerada um dos lugares mais poluídos do mundo, o pH da chuva ali era 6,4, ou seja, acima do índice perigoso. Isso porque uma das principais fontes de poluição, as indústrias de adubos químicos, jogavam no ar toneladas de fosfato de cálcio que acabavam por neutralizar a acidez da chuva. "O pH da água estava dentro dos padrões, mas havia uma concentração elevada de poluentes", interpreta Lycia.
Ela afirma que a poluição começa a ser detectada na costa cearense e já é pronunciada na região fluminense de Niterói. Ali, o pH é 5,5, o que em princípio deveria ser tranqüilizador. "Mas a acidez que poderia resultar da alta concentração de nitratos e sulfetos é neutralizada pela presença de cálcio e amônio", avalia Lycia. A pesquisadora do INPE concorda com o químico da Cetesb, Cláudio Alonso, quando ele sustenta que a chuva ácida, por enquanto, não é um problema grave - nem em São Paulo, onde o pH gira em torno de 5,0. Mas a pesquisadora avisa: "Se a emissão de dióxido de enxofre e de óxido de nitrogênio aumentar, aí poderemos ter motivo de preocupação, porque nossos solos já são naturalmente muito ácidos".

Males para a saúde

Desde que os cientistas começaram a estudar os efeitos da chuva ácida, especulou-se sobre os danos que ela causaria ao organismo humano. Mas os médicos não chegaram a resultados conclusivos. Segundo o patologista Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP, tudo indica que as partículas ácidas presentes na chuva têm efeito cumulativo sobre o organismo, podendo acelerar o desenvolvimento de doenças em pessoas menos saudáveis. "Em geral, antes de alcançar os pulmões, as partículas se acumulam no nariz e na garganta", informa. "Quando isso acontece, pioram os casos de asma, rinite e sinusite alérgica."
Se as partículas de ácido sulfúrico e ácido nítrico solúveis na chuva se infiltram nos brônquios, reduzem os seus mecanismos de defesa contra infecções. Isso, segundo Saldiva, predispõe ao aparecimento de broncopneumonias. "Se chegam aos pulmões", diagnostica, "podem aumentar os riscos de enfisemas." Ele acredita que o acúmulo de secreção, a forma de defesa do organismo contra os intrusos, pode obrigar o coração a um trabalho extra para bombear o sangue através dos pulmões - o que predisporia a doenças cardiovasculares. Por último, os olhos expostos à poluição da chuva têm probabilidade maior de apresentar conjuntivite.

Onde o organismo sofre

Nariz e garganta
Mais casos de asma e sinusite.
Olhos
Maior probabilidade de conjuntivite.
Brônquios
Predisposição à broncopneumonia.
Pulmões
Riscos de enfisema.
Coração
Mais doenças cardiovasculares.


Em busca do guarda-chuva

Cerca de 90 por cento do dióxido de enxofre encontrado no ar da Noruega vem de outros países. É claro que os noruegueses pouco poderão fazer para salvar seus lagos do envenenamento, se não contarem com a ajuda dos vizinhos europeus. Isso vale também para outros países do continente. Assim, há dois anos, os membros do Mercado Comum Europeu assinaram um acordo que prevê, até 2003, a redução pela metade no total das emissões do dióxido de enxofre em relação aos níveis da década de 80. O mesmo acordo determina uma redução de 30 por cento nas emissões de óxido de nitrogênio até 1998. O documento estabelece patamares diferentes para cada país segundo o volume de poluentes que atravessa suas fronteiras e sua dependência do carvão, uma das maiores fontes de enxofre.
Aproveitando os novos ventos políticos, os países ocidentais se prontificaram a ajudar os vizinhos do Leste europeu. As duas Alemanhas, por exemplo, assinaram um acordo de intercâmbio de tecnologia e controle da qualidade do ar. A Suécia ofereceu 45 milhões de dólares para assistência ambiental à Polônia nos próximos três anos; os Estados Unidos repartirão outros 40 milhões entre a Polônia e a Hungria. Na frente interna americana, por outro lado, corre solto no Congresso e na Casa Branca o debate sobre a ampliação do Clean Air Act, legislação ambiental criada em 1970 e nunca obedecida ao pé da letra, visando reduzir pela metade as emissões dos gases geradores da chuva ácida.

domingo, 14 de outubro de 2012

Um Show entre o Céu e a Terra - Física



UM SHOW ENTRE O CÉU E A TERRA - Física



O relâmpago é um dos eventos naturais mais fáceis de observar - e mais difíceis de estudar. As nuvens onde ocorrem as descargas que os produzem ainda guardam alguns mistérios.

No principio, há mais de 4 bilhões de anos, quando a Terra estava em formação, existiam na atmosfera apenas nuvens dos quatro gases chamados primordiais: amônia, metano, hidrogênio e vapor de água. Eis que, inesperadamente, começam a irromper relâmpagos por toda parte. Tempos depois, surgem os primeiros compostos orgânicos, matéria-prima para o aparecimento de vida no planeta. Esse grandioso acontecimento, já reproduzido em escala de laboratório, dá a medida da importância dos relâmpagos na complexa engrenagem da natureza. De fato, a colossal quantidade de energia elétrica liberada no evento - de que o relâmpago, um clarão intenso e breve, é a rigor apenas o produto - foi a força que naquele passado remoto rompeu as moléculas dos quatro gases; o resultado, a partir da recomposição dos fragmentos de moléculas, foi o nascimento dos aminoácidos estrutura básica das proteínas, os tijolos da vida. Até hoje, porém, a mesma ciência que se revelou capaz de conceber e reproduzir o mais plausível momento culminante da origem da matéria orgânica na Terra ainda não conseguiu esclarecer plenamente os segredos dessa espetacular descarga de eletricidade tão comum e efêmera que acontece cerca de cem vezes por segundo pelo mundo afora.
Desde que o pensador, diplomata, inventor e cientista americano Benjamin Franklin (1706-1790) demonstrou que um relâmpago é a evidência de uma fantástica descarga de eletricidade, incontáveis pesquisas têm procurado descobrir o que acontece no interior das nuvens onde ela se origina. No entanto, apesar de toda a tecnologia atualmente disponível para tais investigações, a natureza dos relâmpagos e o mecanismo pelo qual nuvens de chuva são eletrificadas permanecem obscuras. Franklin observara em 1752, por exemplo, que "as nuvens de uma pancada de chuva estão em sua maioria no estado negativo de eletricidade, mas algumas vezes num estado positivo".
Só recentemente se esclareceu o dilema se essa descrição ambígua foi resultado de uma observação falha ou se é a ambigüidade inerente ao fenômeno. É inerente. O criativo cientista americano provou, em todo caso, que o relâmpago transfere cargas tanto positivas quanto negativas de uma área da nuvem para outra ou entre a nuvem e a Terra. Para que essa transferência aconteça, a nuvem tem de estar eletrificada, ou seja, é necessário que as cargas positivas e negativas dentro dela estejam separadas. Mas como será que essas cargas se separam? Por enquanto, somente uma parte da pergunta foi respondida.
Todo e qualquer objeto possui cargas positivas e negativas. Quando é igual o número de umas e outras, não existindo carga alguma sobrando - e há um equilíbrio entre cargas opostas -, se diz que esses objetos são eletricamente neutros. Alguns acontecimentos microfísicos, porém, podem causar uma separação de cargas, com o resultado de que, embora o objeto como um todo permaneça neutro, uma área tem mais cargas positivas ou negativas do que outra. Nesse caso, o objeto está carregado ou eletrificado. A separação das cargas é medida em volts. Quanto maior a separação, maior a voltagem. Quando se anda dentro de um quarto, por exemplo, todo o quarto permanece neutro, mas a ação de atrito dos sapatos sobre um tapete carrega-o com uma polaridade, ficando os sapatos e o corpo da pessoa com polaridade oposta. Isso pode acarretar uma diferença de potencial de vários volts entre as cargas positivas e negativas. O que fica evidente quando se provoca uma pequena descarga elétrica ao se tocar no trinco da porta.
A descarga tornada visível no relâmpago pode surgir numa tempestade de gelo ou numa tempestade de areia. Bem como numa erupção vulcânica, numa explosão nuclear e, aparentemente, até mesmo em pleno céu azul. Mas os cientistas preferem analisar a mais familiar de todas: a que sai da nuvem em direção à Terra e, ao voltar, se manifesta no clarão. Tudo começa quando o ar quente e úmido próximo ao solo se eleva na atmosfera e, chegando a certa altitude, esfria. O resultado é uma nuvem em forma de bigorna, chamada cúmulo-nimbo pelos meteorologistas. No seu estágio mais avançado, esse tipo de nuvem tem uma conformação macia, parecida a um monte de algodão flutuando no ar, com uma base escura, resultado da interrupção da passagem da luz do Sol. Quando um cúmulonimbo alcança uma altura de cerca de 10 mil metros, a baixíssima temperatura na sua parte mais alta (35° C abaixo de zero) provoca a precipitação de partículas de água e cristais de gelo.
À medida que os pingos de chuva e os cristais caem no interior da nuvem, arrastam o ar consigo. Assim, violentas correntes descem por dentro da nuvem, com velocidades de até 200 quilômetros por hora. Mais água e partículas de gelo são carregadas por esses ventos, alcançando também altas velocidades. Ao longo do caminho, o choque entre as partículas torna algumas delas eletrificadas: perdem ou ganham elétrons e assim adquirem cargas positivas ou negativas. "Já se tem certeza de que concentrações de cargas positivas e negativas ficam separadas no interior da nuvem, embora não se saiba por que isso acontece", escreveu Earle Williams, professor de Meteorologia do Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos. As cargas positivas se concentram no topo da nuvem, bem como, em menor quantidade, na parte mais baixa. Na região central ficam as cargas negativas.
Um típico raio acontece quando o campo elétrico em qualquer parte da nuvem se torna tão forte com a intensidade das correntes de ventos que arranca um elétron de uma molécula de ar, tornando-a carregada e, por isso mesmo, transformando aquela parte do ar de isolante em condutor elétrico. Instantaneamente, 10 20 (o número 1 seguido de vinte zeros) elétrons são arrancados numa descomunal reação em cadeia, criando o chamado raio precursor: um raio muito tênue, com carga negativa, que ainda não pode ser visto a olho nu, dispara do fundo da nuvem em direção à Terra, completando o percurso em milionésimos de segundo; seu traçado se assemelha aos galhos de uma árvore porque corre pelos caminhos mais fáceis que encontra, da mesma forma que a água que escorre por um vidro se ramifica.
A quantidade de corrente nessa descida não passa de algumas centenas de ampères (um típico circuito elétrico doméstico carrega apenas 15 ampéres). Quando esse raio chega perto do chão, a carga positiva da Terra se intensifica naquele lugar e dispara uma descarga em sentido contrário ao do raio. Aí sim, ocorre o espetáculo. A luminosidade do raio de retorno, ou seja, o relâmpago, é o que realmente se enxerga a distância.
Ele percorre, com um terço da velocidade da luz, o mesmo caminho aberto pelo raio precursor, descarregando entre 10 mil e 200 mil ampères e alcançando uma temperatura cinco vezes maior que a da superfície do Sol. Quase instantaneamente, outro raio é disparado pela nuvem em direção ao solo, seguindo o mesmo traçado do anterior. E mais outro relâmpago de retorno deixa a Terra e vai em direção à nuvem. Isso se repete três ou quatro vezes - o recorde registrado é 26 vezes. "Mas, sejam quantos forem os raios que sobem e descem, o olho humano os enxerga como se fossem apenas um", explica o pesquisador Osmar Pinto Jr., do Departamento de Geofísica Espacial do Instituto de Pesquisas Espaciais ((INPE), em São José dos Campos, São Paulo.
Como o ar em volta do relâmpago aquece instantaneamente e se expande, cria uma onda de choque inicialmente supersônica que depois se iguala à velocidade do som. É o momento em que se ouve o trovão. No mar, o evento é mais raro, porque na área atingida pelo raio precursor precisa haver uma grande concentração de cargas positivas, o que é incomum na superfície dos oceanos. A vontade dos cientistas de entender a origem dos raios nas nuvens de tempestades não é apenas acadêmica. Existe a preocupação de reduzir eventualmente o risco de danos às pessoas e às propriedades. Calcula-se que centenas de pessoas morrem todos os anos eletrocutadas por raios. Recentemente, constatou-se também que o relâmpago de retorno é tão rápido e seu pico de corrente tão poderoso, que as indústrias eletrônica e aeroespacial terão de reformular suas tecnologias. Isso porque a aguardada próxima geração de aviões comerciais deveria empregar os chamados novos materiais, laminados de grafite e epóxi, mais suscetíveis aos relâmpagos do que o alumínio e o titânio empregados atualmente.
A carcaça de metal de um avião, assim como a de um automóvel, forma o que os físicos chamam gaiola de Faraday, em alusão ao cientista inglês Michael Faraday (1791-1867), um dos precursores dos estudos sobre o eletromagnetismo. Na gaiola, a corrente elétrica flui em torno do metal mas não no seu interior. Uma vez que o grafite e o epóxi não conduzem energia elétrica, não têm como manter a eletricidade do raio do lado de fora dos aviões. "Não apenas os computadores de navegação e os sistemas de comunicação, mas também qualquer outro dos mais recentes aviões à base de microcircuitos ficariam mais vulneráveis", inquieta-se Philip Krider, pesquisador da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Um raio pode matar porque é uma corrente elétrica de alta voltagem. Embora dure apenas frações de segundo, fulmina pelo choque ou pelo calor que produz. As estatísticas informam que os homens estão mais sujeitos a serem atingidos do que as mulheres - pela simples razão de que mais homens do que mulheres trabalham a céu aberto.
Mas os raios também podem matar ou pelo menos ferir dentro de quatro paredes, especialmente se a vítima estiver perto de bombas de água ou circuitos elétricos. Uma antena de TV no alto de uma torre pode ser um perigo à medida que conduza a corrente elétrica para dentro de casa, via antenas domésticas. Esses acidentes só não acontecem com mais freqüência nas cidades grandes porque as descargas são atraídas para os pára-raios dos edifícios - como se sabe, uma invenção do velho Franklin. De todos os mitos a respeito de relâmpagos e trovões, o de que um raio nunca acerta o mesmo lugar duas vezes seguidas já foi derrubado pelas pesquisas: como o campo elétrico permanece por algum tempo depois de uma descarga, existe realmente a possibilidade de que outro raio volte a fazer o mesmo trajeto. 

Um casal nas nuvens

Uma das formas de estudar uma nuvem de tempestade e seus relâmpagos é ir à origem do acontecimento - por meio de balões atmosféricos. No final do ano passado, um casal de físicos do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) iniciou uma cuidadosa investigação do fenômeno depois de lançar um balão desse tipo. O lançamento foi um dia de festa, não por tratar-se de uma proeza científica, mas porque os pesquisadores Osmar Pinto Jr. e Iara Cardoso de Almeida Pinto comemoraram dez anos de casados justamente naquela data. Tendo se doutorado praticamente juntos em Ciência Espacial, no próprio INPE, trabalham em equipe para desvendar os mistérios dos relâmpagos. Nessa pesquisa eles utilizam uma sonda esférica de alumínio pesando 50 quilos, pintada com tinta especial à base de carbono, em cujo interior instalaram vários equipamentos de medição.
Num passeio que não durou mais de dez horas, a sonda permitiu medir as cargas elétricas dentro das nuvens de tempestade, os raios e a atuação dessas nuvens nas camadas superiores da atmosfera. O balão levou a esfera a 30 mil metros de altitude e seguiu uma rota a oeste de Cachoeira Paulista, município do interior de São Paulo onde está instalado um centro de lançamento de balões do INPE. "Um dos resultados práticos imediatos do estudo será a possibilidade de alterar algumas rotas de aviões comerciais, para ficarem fora das regiões com maior concentração de cúmulos-nimbos", relata Osmar, "além de obter mais informações para os sistemas de proteção das redes de transmissão de energia elétrica."

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Quando uma gota cai na àgua

QUANDO UMA GOTA CAI NA ÁGUA



Graças à câmera fotográfica ultra-rápida, você pode acompanhar o que acontece quando uma gota de água (colorida de vermelho) cai numa superfície de água em ´repouso (colorida de azul). A ação contida nessas fotos durou 1/8 de segundo e começou quando a gota estava exatamente sobre a superfície da água em repouso. Na segunda foto, ela já mergulhou pela metade , mas ainda conserva sua forma .
Nas fotos seguintes, é possível observar como a gota desloca um volume de água igual ao seu (conforme o Principio de Arquimedes). A água azul deslocada forma uma espécie de coroa , que se alarga como se fosse uma cratera. Em seguida se destaca, na superfície da água azul, um cone que cresce, se afina e forma em, sua ponta uma bola , que acaba por separar-se dele: é a primitiva bola vermelha que volta a subir . A água vermelha foi absorvida e logo repelida pela água azul,: de forma muito rápida, por isso elas não se misturaram.
Deve-se isso à tensão superficial, que, leva cada líquido a procurar manter sua forma original. Na primeira vez. a gota golpeou a água inerte com uma determinada força e conseguiu abrir um buraco sem deformar-se. Mas, quando cair pela segunda vez, encontrará a água azul em movimento, pronta a reagir na forma de um trampolim elástico. um fenômeno chamado puxo laminar reversível. A gota ainda conservará sua forma, mas a cada vez cairá de mais baixo e com menos força - até que sua energia se iguale à da água azul. Então, as moléculas das duas se misturarão.