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sábado, 11 de janeiro de 2025

NASA confirma que 2024 foi o ano mais quente da história

NASA confirma que 2024 foi o ano mais quente da história

Segundo os pesquisadores, os novos recordes de temperatura reforçam a necessidade de soluções urgentes para a crise climática.

sábado, 27 de maio de 2023

Planeta Terra pode superar o limite do aquecimento global antes de 2027

Planeta Terra pode superar o limite do aquecimento global antes de 2027

Isso significa que o mundo estaria 1,5°C mais quente do que na segunda metade do século XIX.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Descoberto fóssil fascinante de um animal com 3 olhos que viveu há 500 milhões de anos

Descoberto fóssil fascinante de um animal com 3 olhos que viveu há 500 milhões de anos

Pesquisadores dizem que esse fósseis são a "Pedra de Roseta" que ajudará a entender a evolução de insetos e aranhas.

domingo, 25 de abril de 2021

'Furacão espacial' é detectado pela primeira vez acima do Polo Norte

'Furacão espacial' é detectado pela primeira vez acima do Polo Norte

Astrônomos observaram pela primeira vez uma impressionante ocorrência registrada na alta atmosfera terrestre. 

sábado, 17 de outubro de 2020

Viagem no tempo - Veja como era há 600 milhões de anos o lugar onde você mora

 Viagem no tempo - Veja como era há 600 milhões de anos o lugar onde você mora

O engenheiro Ian Webster e o paleontólogo Christopher Scotese criaram um mapa interativo que nos permite ver a evolução do planeta ao longo das diferentes eras geológicas. 

sábado, 18 de novembro de 2017

Postagens Populares - Novembro de 2017


Postagens Populares - Novembro de 2017







No ano de 1936, o Exército Imperial Japonês (Dai-Nippon Teikoku Rikugun) criou o Departamento de Purificação da Água e Prevenção de Epidemias, que manteve suas atividades até a dissolução do EIJ em 1945. Sua missão pública, era a de prevenir a proliferaçaõ de epidemias e monitorar os suprimentos de água potável. Neste mesmo ano, o Imperador Hiroíto, assinou um decreto, estendendo as atribuições do Departamento de Purificação da Água e Prevenção de Epidemias  ao Exército de Guangdong (japonês: Kantogun). O  Exército de Guangdong , ao início do Século XX, era o maior e mais prestigioso comando dentro do EIJ, muitos de seus comandantes, como Hideki Tojo, foram promovidos para altas funções, tanto no governo civil quanto militar. 



02-Bomba Atômica de Hiroshima – o que não contaram na sala de aula


Vocês já se perguntaram se as famosas histórias descritas nos livros ou até mesmo aquelas contadas por muitos professores são reais? será que os fatos são aqueles mesmo? hoje trago uma postagem que pra mim é polêmica pois traz fatos que muitos nunca ouviram falar.

http://publicadosbrasil.blogspot.com.br/2016/08/bomba-atomica-de-hiroshima-o-que-nao.html





03-10 Curiosidades sobre a eletricidade


O campo da eletricidade é imenso, vasto e a cada dia novas descobertas são feitas e trazem ao ser humano mais tecnologia e inovação, muitas coisas curiosas são observadas nesta área de estudo. O que promove estas inúmeras descobertas é a curiosidade do ser humano.

http://publicadosbrasil.blogspot.com.br/2016/09/10-curiosidades-sobre-eletricidade.html





04-20 coisas que você talvez não saiba sobre o nosso maravilhoso planeta terra


A Terra é o nosso lar, nossa casa, ainda o único lugar onde experimentamos viver...



05-JogosRBL6 – Agora com PLAYSTATION ONE - SONY


JogosRBL6 é um FRONTEND simplificado (VERSÃO 6.0) ao qual foi feito no EXCEL
utilizando recursos do VBA (Active X). Uma listagem simples dos jogos e das capas,
para clicar e jogar.

DOWNLOAD PLUG&PLAY, BASTA BAIXAR E JOGAR !!!

http://publicadosbrasil.blogspot.com.br/2017/08/jogosrbl6-agora-com-playstation-one-sony.html





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Clonados e transgênicos que brilham no escuro



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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

20 coisas que você talvez não saiba sobre o nosso maravilhoso planeta terra


20 coisas que você talvez não saiba sobre o nosso maravilhoso planeta terra


A Terra é o nosso lar, nossa casa, ainda o único lugar onde experimentamos viver...

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Astrônomo explica como defender a Terra da ameaça de um asteroide


Astrônomo explica como defender a Terra da ameaça de um asteroide


Estamos preparados para nos defender de um asteroide gigante que poderá dar fim à vida na Terra? A resposta é não, de acordo com o astrônomo Phil Plait. Ele avisa que uma ameaça dessas não é esperada pelos próximos séculos, mas, mesmo assim, ele aponta uma sugestão que poderá evitar que a humanidade tenha o mesmo final trágico dos dinossauros, varridos do mapa depois que uma rocha de 10 quilômetros de diâmetro atingiu a Terra há 65 milhões de anos.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A Terra dentro de uma redoma - Espaço


A TERRA DENTRO DE UMA REDOMA - Espaço



Encerrados em uma perfeita réplica do planeta, quatro homens e quatro mulheres preparam-se para viver dois anos isolados do mundo.

O sonho de colonizar os planetas geralmente evoca uma vida de desconforto e monotonia num ambiente frio e artificial. Se depender da empresa americana Space Biospheres Ventures (SBV), no entanto, os pioneiros do cosmo mal sentirão a ausência de casa. E, para provar isso, ela construiu o que imagina ser um  modelo da futuras colônias em Marte ou em outros mundos. Trata-se de uma requintada réplica da Terra, reduzida às proporções de um quarteirão e selada dentro de uma redoma de vidro e aço tão alta quanto um prédio de oito andares. Denominada Biosfera II, para diferenciá-la da Biosfera I æ a própria Terra æ , é difícil lembrar de alguma coisa que os projetistas tenham esquecido de instalar no seu interior. A começar pelos seres humanos, já que neste início de ano oito corajosos cientistas, quatro mulheres e quatro homens, devem trancafiar-se nesse planeta modelo para tentar viver dois anos desconectados do mundo. 

Seria uma lúgubre perspectiva, se aí não encontrassem a riqueza paisagística e a vida dos principais habitats terrestres. Entre outras coisas, podem banhar-se em um pequeno oceano, chacoalhado por ondas artificiais e recortado por um recife de coral. Como alternativa, a poucos metros da praia, contam com a sombra de uma minifloresta tropical. Inspirada na Amazônia e muito úmida, ela situa-se em posição oposta a um terceiro ambiente, um deserto, necessariamente seco e quente. Entre esses dois pólos, além do mar, há ainda um pântano e uma  savana. "A Biosfera é uma ponte entre a ciência espacial e a ecologia", aposta um dos diretores da SBV, Mark Nelson. No total povoam a redoma 3 800 espécies de animais e plantas com as mais variadas aptidões. Algumas delas servem para recortar os ambientes, como uma cortina de bambus tolerantes ao sal, providencialmente disposta entre o mar e a floresta. As plantas do deserto também têm um papel prático, pois florescem no inverno, quando as outras espécies vegetais estão em fase de dormência. Assim, a vegetação  do deserto assume a tarefa essencial de absorver o gás carbônico, constantemente expirado pelos animais, e reemitir oxigênio. Essa reciclagem é tão importante, que impôs limites ao tipo e tamanho dos animais que podiam ser enclausurados.
Outro fator limitante, relacionado com esse, são as necessidades calóricas: animais que comem muito ficam de fora. Em vista disso, a maior parte dos bichos é composta por peixes, répteis e anfíbios, cujo organismo é mais lento e apresenta menor demanda energética. Os maiores mamíferos presentes, de fato, não passam de três gálagos, macacos quenianos de apenas 20 centímetros de comprimento. Isso, é claro, sem contar os humanos e suas presas, isto é, os animais domésticos incluídos como fonte de alimento. Mesmo nesse caso, porém, houve o cuidado de selecionar espécies pequenas, como um miniporco vietnamita, responsável pelo suprimento de carne, uma minicabra africana produtora de leite e minigalinhas japonesas, boas poedeiras.
Além disso, a contribuição desses animais para o cardápio restringe-se à variedade, ou um complemento à dieta básica. Da mesma forma, espera-se que pelo menos uma refeição por semana contenha frutos do mar, tais como ostras, mariscos, caranguejos e polvos. Mas nenhum desses itens compete em quantidade com as tilápias: elas fornecem o grosso das proteínas consumidas. Em seguida, vêm cinqüenta tipos de plantas cultivadas, como arroz, milho e legumes. Entre os vegetais, a variedade virá das frutas: até 85 por cento das espécies florestais são frutíferas e não haverá um único dia sem que pelo menos uma planta esteja frutificando."Os biosferianos terão a melhor dieta do mundo", opina o médico-chefe do projeto, Roy Walford, que vai ainda mais longe. Ele espera aumentar a expectativa de vida dos candidatos a colonizadores do espaço. Para isso, conta com uma fórmula que reduz o número de calorias e amplia a qualidade nutritiva das refeições. "Ratos submetidos a essa receita têm vida bem mais longa que a média da espécie", argumenta. Pode ser. Mas os verdadeiros desafios do projeto são outros. Aparentemente triviais, são muito difíceis de resolver.
Basta pensar na respiração. Ninguém se preocupa com o gás carbônico que exala ao respirar, porque as plantas o reconvertem continuamente em oxigênio. Num ambiente fechado, porém, o volume de gás carbônico cresce, em detrimento do de oxigênio, e mais cedo ou mais tarde acaba sufocando as pessoas e os animais presentes. O problema é tão sério, que na prática inviabiliza os vôos espaciais de longa duração. Os americanos, por exemplo, não podem ficar mais que dez dias em órbita, porque têm de levar consigo uma grande quantidade de oxigênio. Os cálculos mostram que cada astronauta precisa de pelo menos 5 quilos diários de alimentos, água e ar. Apenas em ar, o consumo alcança 3 quilos por dia, 60 por cento do peso total da mochila básica (os alimentos pesam 750 gramas e a água, 850 gramas).
Para que os astronautas não sufoquem, todos os dias é preciso recolher o gás carbônico gerado pela respiração e injetar nova cota de oxigênio nas cabines. Tudo isso, é claro, ocupa grande espaço no Shuttle, o principal veículo americano para operações em órbita, e custa caro - cada quilo de suprimentos sai pela pequena fortuna de 10 000 dólares. Diante desses números, fica fácil imaginar as dificuldades da grande estação orbital que os americanos planejam estacionar no espaço, em futuro próximo. Num projeto dessa envergadura, é preciso pensar em suprimentos para quatro ou cinco pessoas, em média, e durante um prazo de dois ou três anos. Nesse caso, a carga de provisões pode chegar a 20 toneladas, analisam os especialistas da NASA, a agência espacial americana.
Portanto, há razão de sobra para se pensar numa instalação auto-suficiente, isto é, que não exija novos suprimentos da Terra. É exatamente isso que se pretende com a Biosfera: estudar um meio ambiente fechado capaz de viver de si mesmo, como a Terra. Como é extremamente bem selada, tanto pode servir de suporte à vida no espaço, flutuando em órbita, como no solo hostil de um planeta vizinho. A redoma montada pela firma SBV, de fato, é capaz de reter o mesmo volume de ar, sem perdas significativas para o exterior, durante nada menos que 100 anos. Ao longo desse período, pelo menos em princípio, o oxigênio consumido seria reposto pelas plantas, em um sistema contínuo de reciclagem. Por outro lado, as fezes e a urina dos animais e do homem, seriam usadas para realimentar o solo e manter a produção vegetal em bom nível.
Algo semelhante já foi feito na União Soviética, no Instituto de Biofísica de Krasnoyarsk, onde três cientistas sobreviveram seis meses apenas com o ar reciclado por plantas. Também obtinham uma parte pequena de sua alimentação em hortas cultivadas. Apesar disso, os próprios soviéticos ainda encaram esse tipo de sistema como simples experiência e não o empregam em sua estação orbital Mir. Quando ela está ocupada, às vezes durante quase um ano, os astronautas têm que receber novas provisões regularmente. O fato é que não é brincadeira criar um sistema fechado, explica o biólogo Joe Hanson, do Laboratório de Jatopropulsão da NASA.Ele próprio imaginou uma experiência singular, mais pretensiosa do que simplesmente repor o ar com ajuda das plantas. Para isso, fabricou um globo de vidro, do tamanho de um melão, cheio de água e hermeticamente fechado, no qual encerrou um conjunto de bactérias, algas e camarões. Os camarões alimentavam-se de algas, respiravam oxigênio dissolvido na água e exalavam gás carbônico. Os seus dejetos, degradados pelas bactérias, serviam de alimento para as algas que, durante a fotossíntese, ao absorver gás carbônico, devolviam oxigênio à água. De maneira geral, o mecanismo funcionou, mas Hanson percebeu rateios perigosos em sua marcha. A reciclagem dos resíduos gasosos, por exemplo, não era constante, de modo que seu volume, em certos momentos, aumentava muito acima da média.
Essas flutuações não liquidaram os camarões porque eles toleram bem o excesso de gás carbônico. Mas os riscos aumentam muito quando se trabalha com organismos mais exigentes, afirma o cientista. "Ainda não foi possível manter vivo um vertebrado, como um peixe, por mais de dois meses." O projeto da Biosfera surgiu como uma ousada alternativa a esses resultados. Os seus autores argumentam que, quando se fala em reciclagem, talvez seja um erro tentar simplificar. Num ambiente onde vivem apenas camarões, algas e bactérias, perde-se a visão global e a grande variedade dos sistema reais. O ideal, segundo esse raciocínio, é montar habitats diversificados, como a própria Terra, e monitorá-los com precisão. Assim, os porões da Biosfera contêm um avantajado computador - o "sistema nervoso" do mundo artificial.
Ligado a 3 500 sensores espalhados pela redoma, ele é capaz de registrar dezenas de dados essenciais ao desempenho da experiência. Os sensores podem avaliar não apenas a quantidade de gases presentes na atmosfera, mas também o seu volume, já que o ar pode expandir-se ou contrair-se de acordo com a temperatura. A temperatura, por sua vez, também pode elevar-se devido ao excesso de gás carbônico, o qual retém calor por meio do temido efeito estufa. A umidade do ar é outro fator decisivo no desenvolvimento dos vegetais - uma das ousadias da Biosfera foi reunir, sob o mesmo teto, ambientes tão diferentes quanto um deserto e uma floresta tropical. O computador está preparado para ativar um sem - número de válvulas, ventiladores e bombas hidráulicas. Esse equipamento será responsável pelo controle de fenômenos como a chuva e o regime dos ventos, e também para corrigir falhas eventuais no curso dos acontecimentos. Certamente, é impossível prever o destino de um ambiente tão complexo. O oceano serve de ilustração, pois, por ser pequeno, rapidamente acumula resíduos orgânicos que absorvem oxigênio e ameaçam os corais e outros habitantes marinhos. Para que isso não aconteça, a água flui constantemente entre a superfície e o subsolo da redoma, onde passa por uma limpeza em regra. A operação, inteiramente automatizada, é feita por mais de trinta espécies de algas, que, em tanques especiais, devoram os resíduos orgânicos.
Na verdade, não há sequer garantia de que as plantas cultivadas vão sobreviver, ou se sua produção será suficiente para alimentar os humanos. Também não se sabe se os animais selvagens se adaptarão às novas circunstâncias. A maioria, num total de 45 espécies, é composta por insetos e foi escolhida por ser útil. Alguns deles revolvem o solo, outros servem de alimento para animais maiores e outros, enfim, contribuem para a reprodução das plantas, pois espalham as sementes e fazem a polinização. Resta saber se vão concretizar as expectativas.Mas as incertezas não preocupam os criadores da Biosfera. Para eles, mesmo se a reciclagem falhar, valerá a pena, pois será possível aprender com os defeitos. "A idéia é justamente essa", avalia o botânico inglês GhIllean Prance, consultor do projeto. "Preferimos reunir um grande número de espécies e observar quais delas se saem melhor. Estou preparado até para ver algumas sucumbirem à extinção." Confortavelmente instalados em apartamentos privados, os pesquisadores encerrados na Biosfera terão a tarefa de observar, em primeira mão, o desenvolvimento de seu micromundo.
Além de uma reunião informal para distribuir tarefas, realizada todos os dias, eles pretendem dedicar as manhãs à agricultura, deixando os trabalhos de pesquisa para a parte da tarde. Entre uma coisa e outra, podem ver televisão, ouvir música, ou mesmo fazer música, como é o caso do engenheiro eletrônico Taber MacCallum, autorizado a levar uma bateria para a Biosfera. A única exigência é que ele toque num quarto à prova de som, para não perturbar o trabalho - ou mesmo o descanso - dos outros. Talvez a principal diversão da equipe seja simplesmente passear em seu paraíso. Alguns dos escolhidos já haviam passado por experiência semelhante, em redomas menores construídas pela própria SBV, e estão agora encantados com o espaço disponível. É o caso da ecologista Linda Leigh, que viveu vinte dias em um módulo 300 vezes menor que a Biosfera. "Só o fato de poder me mover em três dimensões, me dá grande sensação de liberdade."Essa declaração revela uma perspectiva otimista que nem os mais ferozes críticos da experiência querem desabonar. Muitos cientistas duvidam da eficácia do projeto, em parte devido ao seu elevado preço - 180 milhões de dólares, financiados por um excêntrico bilionário americano, Edward Bass. Além disso, acredita-se que ele é complexo demais para ser monitorado, ou para, algum dia, ser enviado ao espaço. Mas a comunidade científica sempre simpatiza com a ousadia. É o que pensa, por exemplo, o especialista Arthur Galston, da Universidade Yale, para quem as perspectivas científicas são frágeis, na Biosfera. "Mesmo assim, ela abre caminho para uma região que nunca havia sido explorada antes." 


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Toda a vida do Mundo - Ambiente


TODA A VIDA DO MUNDO - Ambiente



Há mais vida na Terra do que o homem é capaz de saber: fala-se de 5 a 30 milhões de espécies. A biodiversidade fascina os cientistas, preocupados em conhecer e salvar toda essa riqueza.

Nos tempos bíblicos, Deus ordenou ao patriarca Noé que construísse uma arca para abrigar um casal de cada espécie de bicho enquanto o mundo se afogava no dilúvio universal. A missão de Noé pode ter sido ainda mais extravagante do que a lenda sugere. De fato, passados dois séculos desde que o botânico sueco Carolus Linnaeus (1707-1778) começou a classificar as formas animais e vegetais de vida, não se sabe quantas espécies dotadas de patas, rabos, antenas, asas, guelras, folhas, caules ou raízes existem. "Em todas as classes, a cada dia se descobre uma espécie nova", garante o zoólogo Miguel Trefaut Rodrigues, da Universidade de São Paulo. Há algum tempo, com outros pesquisadores, ele passou vinte dias enfurnado na Mata Atlântica do sul da Bahia, onde encontrou nada menos de catorze espécies ao que tudo indica desconhecidas de répteis e anfíbios, incluindo uma perereca que, com seus 10 centímetros de comprimento, talvez seja uma das maiores da América do Sul.
Isso é biodiversidade, o explosivo potencial que a vida possui de se multiplicar em miríades de formas adaptadas aos mais variados ambientes. Desbravando o globo de pólo a pólo, embrenhando-se em florestas e mergulhando nos mares, o homem conseguiu descrever 1,4 milhão de espécies, como se designa a unidade biológica fundamental. Cerca de 750 000 são insetos, 41 000 são vertebrados, 250 000 são plantas e o restante é uma coleção desconjuntada de outros invertebrados, algas, fungos e ainda microorganismos como bactérias e vírus. Parece um desvario da natureza - mas é pouco mais do que uma amostra. A maioria dos biólogos concorda que aquele censo não dá conta nem da terça parte dos passageiros convidados a embarcar na arca de Noé.
Os cientistas reconhecem, por exemplo, serem parcos os seus conhecimentos sobre a diversidade e a distribuição dos insetos, uma categoria que parece ter a preferência da natureza, pois constitui folgadamente a maioria dos seres vivos. O pesquisador americano Terry Erwin e seus colaboradores do Instituto Smithsonian de Washington tiveram a santa paciência de contar, uma a uma, as espécies de bichinhos nas copas de algumas árvores na Amazônia brasileira e peruana e extrapolaram o número encontrado para a área total de florestas tropicais. Resultado: somando as espécies estimadas dos insetos às outras presumivelmente existentes ali, obtiveram um megatotal de 30 milhões de formas distintas de vida. Mesmo quem acha que esse é um cálculo inflacionado demais aceita a hipótese de que pelo menos 5 milhões de espécies povoam o mundo. E não há dúvida de que a maioria anônima está escondida no verde e na água das florestas tropicais.
Sabe-se preto no branco que mais da metade da bicharada do planeta tem seu endereço nos trópicos, mais precisamente nos 7% da superfície do globo coberta por florestas tropicais. A desmedida variedade das espécies vegetais ainda é menor que a de insetos, peixes e microorganismos. Uma pesquisa recente mostrou que 950 espécies de besouros, 80% das quais desconhecidas, estavam instaladas em apenas dezenove árvores da selva tropical do Panamá. Como em cada hectare da Floresta Amazônica existem 300 espécies de árvores, dez vezes mais do que nas regiões temperadas da América do Norte, por exemplo, não é de espantar que o Brasil, onde a floresta ocupa 42% do território, seja o campeão mundial da biodiversidade.
Segundo uma classificação elaborada pela respeitável organização ambientalista internacional World Wide Fund for Nature (Fundo Mundial para a Natureza), o Brasil é o primeiro país do mundo em número de espécies de plantas e de anfíbios, o terceiro em aves e o quarto em borboletas, répteis e mamíferos. "Das 1 100 espécies conhecidas de sempre-vivas (um tipo de flor comum em adornos), 700 encontram-se entre Minas Gerais e Bahia", contabiliza a botânica Ana Maria Giulietti, da USP. "Só numa lagoa do Parque do Rio Doce, em Minas, existem mais espécies de libélulas do que em todo o território britânico", compara, por sua vez, o entomologista Ângelo Machado, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele é também presidente da Fundação Biodiversitas para a Conservação da Diversidade Biológica, uma entidade de cientistas ambientalistas criada há dois anos em Belo Horizonte que, como o nome já diz, se dedica à defesa desse incomparável tesouro que o homem vem dilapidando.
Machado explica por que "nossas várzeas têm mais flores, nossas flores têm mais vida", como se gabam os versos ufanistas de Gonçalves Dias. "No passado", ensina ele, "as zonas temperadas sofreram o rigor das glaciações, que sacrificaram inúmeras espécies e empurraram outras a regiões de climas mais quentes. Enquanto isso, próximo dos trópicos, o ambiente permaneceu estável, o que facilitou o desenvolvimento de ecossistemas mais ricos e complexos, adaptados a um clima com pouca variação." É o que aconteceu, não apenas no Brasil, mas também no México, na Colômbia, na África central e no sul da Ásia, igualmente bem situados no ranking da World Wide Fund. A Colômbia é o país mais rico em diversidade de espécies por unidade de área. Já a Indonésia se destaca não apenas pela variedade de espécies terrestres mas por possuir no seu litoral o mais rico tesouro de organismos marinhos.
Mesmo nas regiões tropicais existem áreas de preferência da bicharada. Perplexos com essa valorização, biólogos do mundo inteiro seguiram o exemplo do brasileiro Paulo Emílio Vanzolini e foram buscar respostas na Geomorfologia, ramo da ciência que estuda as formas do relevo terrestre. Baseado por sua vez nos trabalhos de um colega da USP, o geógrafo Aziz Ab´Saber, Vanzolini - um especialista no mecanismo de multiplicação das espécies, também conhecido por seus sambas - descobriu que a distribuição da vida nas florestas da Amazônia e na Mata Atlântica está relacionada à história antiga dessas formações. Durante a mais recente glaciação, que durou cerca de 10 000 anos, nesta parte do globo períodos frios e secos alternaram-se com outros mais quentes.
Quando o clima esfriava, as florestas encolhiam, cercadas por cerrados, pradarias e caatingas. Os pequenos grupos de espécies, isolados de seu território ancestral, lentamente começaram a se adaptar às peculiaridades locais. É o que os cientistas chamam de diferenciação em isolamento, um processo que leva ao endemismo. Este fenômeno, que ocorre em lugares menos acessíveis, montanhas e ilhas, marcou a peculiar flora e fauna da Austrália - simbolizada pelos cangurus e coalas - assim como da ilha de Madagascar, na costa oriental da África, o paraíso das orquídeas e dos primatas. Muito mais tarde, quando a floresta voltou a se expandir, aquelas espécies já tinham acumulado tantas variações genéticas que perderam por completo o parentesco com seus antepassados.
Comparados às espécies terrestres, os organismos marinhos estão mais bem distribuídos justamente porque toparam com menos barreiras físicas. Não é de estranhar, portanto, que a diversidade de espécies nos oceanos seja também menor. Em compensação, como a vida surgiu na água muitos milhões de anos antes que em terra, os oceanos abrigam formas mais antigas, como algas, moluscos, esponjas e corais. Para o biólogo Eurico Cabral de Oliveira, ex-diretor do Centro de Biologia Marinha da USP, "o equivalente marinho das florestas tropicais são os recifes de coral" - colônias de organismos invertebrados onde vivem numerosas espécies de peixes, moluscos, além de pássaros e tartarugas. "Como as florestas", compara o biólogo, "os corais são ecossistemas complexos e por isso mesmo de equilíbrio delicado."
Por pouco que se saiba sobre as espécies terrestres, ainda é muito comparado com o que se sabe dos oceanos. Recentemente - para surpresa de quem achava que a vida em profusão só existia nas águas mais iluminadas - se descobriu no fundo do Pacífico nada menos de uma centena de espécies estranhíssimas de organismos. Mais do que quaisquer outros terráqueos, são uma prova da incrível capacidade de diversificação e adaptação a todo tipo de ambiente. Costuma-se dizer que a variedade é a própria essência da vida, pois sem a matéria-prima que ela proporciona não haveria evolução. Cada organismo, como se sabe, contém uma quantidade colossal de informações genéticas que determinam todas as suas características. Mas os organismos individuais não evoluem - eles só podem crescer, reproduzir-se e morrer. As mudanças que entram para a história ocorrem nas espécies, a unidade básica da evolução. "Assim, de um mesmo ancestral podem se originar espécies tão diferentes como as lhamas que se adaptaram à Cordilheira dos Andes e os camelos aos desertos da África", lembra o biólogo Vanzolini.
Quando o clima, a água e a alimentação são constantes, as espécies podem repartir o ambiente para não tropeçar umas nas outras, ocupando diferentes nichos ecológicos, como dizem os biólogos. Nas planícies africanas, por exemplo, existem vários tipos de mamíferos que se alimentam de folhagens. Só que as girafas vão buscar o almoço nas copas das árvores, os rinocerontes preferem os arbustos e as zebras comem gramíneas. Mas o destino de uma dada espécie está sujeito a mais interferências do que é capaz de conceber a ciência humana - sem falar que o acaso desempenha um papel não desprezível nessa loteria. Desse modo, sem que se saiba ao certo por quê, algumas espécies tiveram mais sucesso, ao passo que outras passaram despercebidas pelo livro da vida e outras ainda desapareceram abruptamente durante as grandes extinções do passado, como aconteceu com os dinossauros há 65 milhões de ano.
Diante da interdependência e da complexidade dos processos que acontecem na natureza, nunca se sabe quando uma espécie pode representar um papel fundamental para a sobrevivência do homem. Assim, se não por um respeito moral à vida, ou pelo desfrute da beleza que sua variedade proporciona, o mero egoísmo aconselharia salvar o próximo. Não se trata de um raciocínio hipotético. Quem acha, por exemplo, que o mundo estaria melhor sem a enorme variedade de insetos que parecem ter nascido com a exclusiva finalidade de nos infernizar deveria dar uma olhada numa pesquisa feita pelos americanos. Eles calcularam que os insetos causavam um prejuízo de 7 bilhões de dólares anuais nos Estados Unidos. Ruim com eles, pior sem eles. Se os insetos fossem destruídos, os prejuízos que a agricultura teria com a ausência de polinização das plantas seria da ordem de 9 bilhões de dólares. Um exemplo brasileiro: se desaparecesse a mosca que poliniza o cacau no sul da Bahia ou a abelha que faz o mesmo com a castanha no Pará, estaria decretada a falência de importantes atividades econômicas dessas duas regiões.
Com o advento da Engenharia Genética, o estudo da diversidade de animais e plantas tornou-se uma prioridade científica nos países ricos. Isso porque, cada espécie, seja de macaco, barata, rosa ou bactéria, representa um estoque de genes cujo potencial apenas começa a ser arranhado. A humanidade já lucra muito com a herança transmitida por alguns organismos: calcula-se que um em cada quatro tipos de medicamentos contém ingredientes derivados de plantas silvestres. Pacientes com leucemia sobrevivem graças a substâncias contidas numa planta chamada pervinca. A dedaleira ajuda a regular os batimentos cardíacos. O cará proporciona o ingrediente ativo dos anticoncepcionais. O jaborandi combate o glaucoma. A barba-de-bode e a casca do salgueiro têm propriedades analgésicas semelhantes às da aspirina. Fungos e microorganismos-categorias ainda menos identificadas que a dos insetos - foram a chave para o desenvolvimento dos antibióticos e mais recentemente da ciclosporina, o bendito remédio que diminui os riscos de rejeição em transplantes.
O problema é que, para onde quer que se olhe, o homem parece ter declarado guerra às plantas e aos animais. É o desmatamento, os acidentes ecológicos, a ocupação desordenada e a poluição em terra. Os conservacionistas fizeram as contas e obtiveram um número de arrepiar. Se continuar o ritmo atual de destruição da natureza, nos próximos 25 anos cerca de 1,2 milhão de espécies desaparecerão por completo da face da Terra. Ou seja, estamos assistindo sem saber a um genocídio de cem espécies por dia.
O entomologista Ângelo Machado, da Fundação Biodiversitas, se irrita quando lhe perguntam por que conservar animais como o mico-leão-dourado, um primata característico da Mata Atlântica, que está na lista das 207 espécies ameaçadas de extinção elaborada pela Sociedade Brasileira de Zoologia. "O homem é uma espécie curiosa", raciocina ele. "Tem um apreço enorme pelas coisas bonitas que ele mesmo cria, mas destrói as que encontra prontas na natureza. Já imaginou se algum tipo de fungo destruidor de pinturas se alastrasse pelos museus e acabasse com a Mona Lisa ou com as telas de Van Gogh? Antes de mais nada é preciso preservar o mico-leão e outras espécies porque são obras de arte da natureza que levaram milhões de anos para serem criadas."
É possível preservar em parte, em zoológicos, jardins botânicos e bancos de sementes, o muito que ainda resta das espécies. Um exemplo é dado pelo paisagista Roberto Burle Marx. que reúne em seu sítio de Guaratiba, Rio de Janeiro, 3 500 espécies de plantas. Os ecologistas, no entanto, não querem apenas salvar espécies exóticas, mas processos evolutivos. E estes só podem ocorrer nos ecossistemas que Ihes deram abrigo. "Temos que dar chutes na direção certa", recomenda o biólogo Gustavo Fonseca, que leciona Ecologia na UFMG. "É impraticável preservar indefinidamente os ambientes naturais, mas se pode lutar por uma política realista de áreas de conservação."

Os sobreviventes e as vítimas.

O desaparecimento das espécies - e a conseqüente perda do seu material genético - é um fenômeno quase tão antigo quanto a própria vida. Os paleontólogos distinguem cinco episódios de extinção em massa durante os quais uma fração significativa de biodiversidade foi extinta. Os motivos são ignorados ou controversos. O primeiro caso ocorreu no Ordoviciano, há cerca de 450 milhões de anos, quando foram quase eliminados os trilobites, espécies de animais invertebrados. No Devoniano, desapareceu a maior parte das espécies de peixes, diminuíram os corais e os crinóides, animais marinhos. Mas a vida na Terra correu real perigo uma centena de milhões de anos adiante, no Permiano, quando mais de 90% das espécies e todos os trilobites desapareceram. Os sobreviventes abriram caminho para o aparecimento, entre outros, dos dinossauros.
As extinções continuaram. No Jurássico, morreram 75% das espécies de amonites (moluscos) e de crinóides. A mais falada extinção foi a dos dinossauros, que desapareceram no final do Cretáceo junto com os amonites. Em compensação os mamíferos se espalharam pela Terra. Muitos cientistas acusam um descendente desses mamíferos, o homem moderno, de estar promovendo a próxima extinção em massa das espécies. No seu livro O polegar do panda, o biólogo americano Stephen Jay Gould afirma que "aquele que se alegra com a diversidade da natureza e sente que aprende com cada animal tende a considerar o Homo sapiens como a maior catástrofe desde a extinção cretácea".

Comida no congelador.

Há quinze anos, a Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) criou uma rede mundial de recursos genéticos, destinada a salvar centenas de espécies de plantas silvestres das quais o mundo pode vir a precisar como alimento e remédio. São os bancos de germoplasma, o material genético estocado nas sementes, mudas, células e sêmen, guardados em geladeira, a temperatura de 20° C negativos. No Brasil, o Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), em Brasília, mantém cerca de 35 mil amostras de sementes de espécies de mandioca, milho, batata, feijão, arroz - alimentos que fazem parte do cardápio da população - e outras que talvez só os índios e os especialistas conheçam. Ao preservar dessa maneira a diversidade da natureza, os cientistas pretendem em primeiro lugar melhorar a produtividade agrícola das espécies conhecidas, especialmente agora que a Biotecnologia e a Engenharia Genética permitem selecionar plantas mais resistentes. Muitas variedades silvestres também podem substituir as vinte espécies de plantas responsáveis pela maior parte da alimentação do homem. Pode chegar um tempo em que espécies como a quinua, um grão que já entrou na dieta básica dos incas, mas é quase desconhecido fora dos países andinos, se tornem uma das mais produtivas fontes de proteína para o homem.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Cientistas acham planeta com a massa da Terra


Cientistas acham planeta com a massa da Terra em sistema 'vizinho'

Corpo celeste fica a 4,3 anos-luz de nós, mas em região não habitável.
Técnicas de observação podem ajudar a buscar mais planetas parecidos.

Sistema Alpha Centauri é o mais próximo do Sistema Solar, a 4,3 anos-luz da Terra (Foto: ESO/Divulgação)

Astrônomos europeus descobriram um planeta com quase a mesma massa da Terra que orbita uma estrela no sistema mais próximo de nós, o Alpha Centauri, a apenas 4,3 anos-luz de distância. Segundo os cientistas, esse exoplaneta – nome dado a planetas fora do Sistema Solar – é o primeiro corpo celeste "leve", parecido com o nosso, encontrado ao redor de uma estrela como o Sol.

O achado aparece na edição online da revista "Nature" desta quarta-feira (17). O planeta, porém, fica fora da chamada "zona habitável" – distância da estrela principal onde a água, se estivesse presente, estaria em estado líquido –, o que significa que esse não é um "irmão gêmeo" da Terra.
Apesar disso, os autores dizem que as técnicas de observação usadas nesse estudo são capazes de atingir a precisão necessária para pesquisar outros planetas semelhantes ao nosso.

A equipe do Observatório da Universidade de Genebra, na Suíça, e do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, em Portugal, contou com a ajuda de um instrumento chamado Harps, instalado em um telescópio do Observatório Europeu do Sul (ESO), na localidade de La Silla, no norte do Chile.

Na concepção artística acima, o planeta está perto da estrela Alpha Centauri B – semelhante ao Sol, embora menor e não tão intensa –, e à direita da Alpha Centauri A, uma das mais brilhantes do Hemisfério Sul. Esses dois astros, junto com outro mais fraco, avermelhado e perto da Terra, chamado Proxima Centauri, formam um sistema estelar triplo na constelação do Centauro.

O planeta fica a uma distância aproximada de 6 milhões de quilômetros da Alpha Centauri B, muito mais perto do que Mercúrio está do Sol, e demora 3,2 dias para orbitar a estrela – enquanto aqui na Terra, levamos 365 dias para dar uma volta completa ao redor do Sol.

Segundo o principal autor do estudo, Xavier Dumusque, do Observatório da Universidade de Genebra, as observações foram feitas durante mais de quatro anos. Os sinais da existência do planeta são pequenos, mas reais. A equipe detectou esse corpo ao identificar desvios de movimento da estrela Alpha Centauri B, criados pela ação gravitacional do planeta em volta.
De acordo com os astrônomos, essa interação faz com que a estrela se desloque para a frente e para trás a 51 centímetros por segundo, ou 1,8 km por hora, velocidade correspondente a um bebê engatinhando.



Alpha Centauri A é vista a partir de imagens do banco de dados Digitized Sky Survey 2. O astro parece muito grande, mas é a impressão causada pela radiação dispersa na emulsão fotográfica (Foto: ESO/Divulgação)

Outros exoplanetas
O primeiro exoplaneta a orbitar uma estrela como o Sol foi visto por essa mesma equipe em 1995. Desde então, já foram descobertos outros 800. Apesar disso, a maioria dos planetas é maior que a Terra e muitos são tão grandes quanto Júpiter – o gigante do Sistema Solar. A massa mínima desse "novo" planeta foi estimada, mas a previsão geralmente se aproxima da real.

O grande desafio dos cientistas agora é encontrar um planeta com massa comparável à da Terra que orbite uma estrela como o Sol e esteja a uma distância dele favorável à vida. Na opinião da coautora Stéphane Udry, também de Genebra, esse pode ser um planeta em um sistema com vários do tipo. Isso porque, segundo achados anteriores, corpos celestes pequenos assim costumam estar em sistemas mais amplos.



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Destino: Terra - Espaço


DESTINO: TERRA - Espaço



A preocupação com o ambiente invade os programas espaciais. Uma batelada de novos satélites vai ajudar os cientistas a entender melhor o que acontece com o planeta.

Durante os últimos 33 anos, desde que os soviéticos lançaram ao espaço o primeiro satélite artificial, o homem se acostumou a pensar nas conquistas espaciais como uma corrida para chegar cada vez mais longe. O Sputnik foi jogado numa órbita entre 228 e 947 quilômetros de distância. Em 1969, astronautas pisaram na Lua, a 384 mil quilômetros da Terra. Depois, naves automáticas rumaram para outros mundos, pousando em Marte e Vênus, tiraram fotos inesquecíveis dos gigantes Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. A sonda Pioneer cruzou os limites do sistema solar e enviou sinais a mais de 6 bilhões de quilômetros. Mas aquela que talvez venha a ser a maior conquista de todos os tempos e está sendo planejada agora dirá respeito a um corpo celeste do qual se supõe conhecer muita coisa: a própria Terra. A idéia de explorar do alto a casa do homem começou a tomar corpo num período relativamente breve. Há três anos, a então astronauta Sally Ryde, hoje professora da Universidade de Stanford, na Califórnia, referiu-se a uma certa Missão ao Planeta Terra no seu relatório sobre o futuro do programa espacial americano depois do desastre com a nave Challenger em 1986. O relatório feito a pedido da NASA desestimulava a busca de proezas mais ousadas, como a ida do homem a Marte ou o estabelecimento de uma colônia lunar, mostrando que a ciência espacial bem poderia contribuir para necessárias pesquisas aqui mesmo na Terra. Mas foi preciso que a crise ambiental se transformasse em assunto de todos os dias para que os promotores da conquista do espaço começassem a pensar seriamente em usar mais esse valioso instrumento para enxergar melhor o que acontece no quintal terrestre.
Na realidade, há anos que o homem aproveita os avanços tecnológicos que possibilitaram às naves espaciais ir tão longe para ter uma idéia melhor das ameaças ao meio ambiente. Já no final da década de 70, por exemplo, as imagens enviadas pelo satélite meteorológico Nimbus-7 deram aos cientistas a péssima noticia de que havia um buraco sazonal na camada de ozônio sobre a Antártida, um dos mais sérios problemas criados pela poluição industrial. As naves espaciais documentaram também o desmatamento das florestas tropicais, a desertificação na África, o ar envenenado das grandes cidades e o mau uso do solo. Os satélites de sensoriamento remoto verdadeiros olhos no espaço, captaram as radiações emitidas pela superfície do planeta tanto na faixa do visível como no infravermelho e em microondas.
Com essas imagens hoje se faz desde a avaliação dos recursos naturais a estimativas de colheitas agrícolas, passando pela observação de acidentes ecológicos, além de planejamento urbano e cartográfico. Mas os instrumentos disponíveis precisam evoluir muito para documentar todas as complexas interações entre o solo, os oceanos e a atmosfera. "A física e a química do funcionamento do planeta ainda não foram compreendidas e a nossa habilidade de prever mudanças é falha", diagnostica o microbiólogo sueco Thomas Rosswall, diretor-executivo do Programa Internacional de Geosfera e Biosfera (IGBP), ouvido por nos. Ele esteve há pouco no Brasil para participar de um seminário sobre mudanças ambientais na América Latina, no Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) em São José dos Campos.
Segundo explicou, o programa IGBP, que funciona em 34 países, pretende justamente reunir dados que permitam aos pesquisadores prever a repercussão da atividade humana no meio ambiente, especialmente nas concentrações e misturas de gases na atmosfera, no clima e nas interações entre esses fenômenos. "Para isso precisamos de novos e mais eficientes instrumentos de trabalho", afirmou o cientista. "Não podemos compreender o funcionamento da Terra apenas vigiando aqui e medindo acolá, sem integrar todas as peças no quebra-cabeça." Para facilitar essa integração, cujos benefícios talvez incluam projeções menos polêmicas sobre as conseqüências do efeito estufa sobre o nível dos mares, os países envolvidos na exploração espacial planejam lançar até o final da década de 90 quinze satélites equipados com instrumentos para medir praticamente tudo que vale a pena neste mundo - da espessura do gelo na Groenlândia à força das tempestades tropicais no Oceano Índico.
Para o sueco Rosswall, esta nova versão daquilo que Sally Ride chamou Missão ao Planeta Terra apenas terá sentido se todas as informações forem usadas em pesquisas interdisciplinares - diferentemente dos experimentos espaciais anteriores que coletavam dados apenas para determinados estudos. Em sua opinião, "só assim os cientistas vão entender o delicado sistema de funcionamento do planeta e influenciar os responsáveis pelas decisões políticas para que tomem as medidas necessárias à redução da atividade destrutiva do homem".
O maior dos projetos que compõem a Missão ao Planeta Terra é o Earth Observing System (EOS), ou Sistema de Observação da Terra, de responsabilidade sobretudo da NASA, composto a princípio de duas séries de três plataformas polares, pesando cada uma 15 toneladas e com carga útil de 3,5 toneladas. Como comparação, um satélite de sensoriamento remoto da série Landsat, atualmente em órbita, pesa cerca de oito vezes menos. O projeto prevê o funcionamento ao mesmo tempo de duas plataformas, uma de cada série. O primeiro lançamento será em 1997. Cada plataforma ficará em órbita durante cinco anos a 824 quilômetros de altitude. Como os lançamentos serão sucessivos, espera-se que durante quinze anos o sistema forneça informações praticamente diárias sobre o planeta. Fazem também parte do projeto outras plataformas semelhantes, que serão lançadas pelo Japão e pela Agência Espacial Européia, e ainda a colocação de uma série de pequenos satélites em órbita equatorial com missões específicas, como por exemplo acompanhar as variações na espessura da camada de ozônio na atmosfera.
Se a NASA conseguir os dólares necessários, serão lançados mais cinco satélites em órbita geoestacionária a 36 mil quilômetros do equador. Nessa altitude, igual à dos satélites meteorológicos, estarão sempre na mesma posição e assim poderão medir qualquer processo no planeta de maneira contínua. Desde já, a Missão ao Planeta Terra é considerada um dos maiores e mais caros projetos concebidos pela agência espacial americana-estima-se que terá um orçamento de 20 bilhões de dólares, uns 3 milhões a menos do que serão gastos na controvertida estação espacial Freedom, onde também se prevê a instalação de medidores de chuva, de ventos e de radiação solar na região equatorial. Os defensores da Missão batalham para que os Estados Unidos o adotem como prioridade nacional, à maneira do projeto Apolo na década de 60, que levou o homem à Lua. Desta vez, poucos teriam a coragem de dizer, como então, que se trata de dinheiro jogado fora para satisfazer uma vaidade patriótica: o projeto pode ajudar a recuperar o meio em que o homem vive.
Embora o lançamento da primeira plataforma polar EOS só vá ocorrer daqui a sete anos - se não houver atrasos -, o seu funcionamento está sendo desenhado desde já. "É um projeto que requer planejamento e um complexo programa de análise e tratamento de dados", informa o engenheiro agrônomo Getúlio Batista, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). "O Sistema de Observação da Terra deve coletar mil vezes mais informações do que os satélites Landsat." Batista, que vai passar os próximos dois anos no Goddard Space Flight Center, em Maryland, Estados Unidos, é o coordenador de um dos 55 projetos aprovados pela NASA para serem desenvolvidos com o auxílio dos dezenove sensores da plataforma polar. Ele vai acompanhar o ciclo da água na Amazônia para entender como o desmatamento afeta o ecossistema da floresta tropical.
"É uma oportunidade única para estudar o papel da floresta no clima do globo", entusiasma-se o pesquisador, um dos integrantes da equipe de sensoriamento remoto do INPE acostumada a denunciar com imagens vindas do espaço a extensão das queimadas brasileiras. Os satélites atuais não são capazes de detectar as taxas de evaporação e transpiração da floresta, o que significa que até hoje não se sabe com precisão quanto chove de verdade na Amazônia. Mas os sensores da plataforma polar do EOS podem medir temperatura, umidade e quantidade de poeira na atmosfera. Eles também vão fornecer a cada três dias, com resolução de até 500 metros, imagens da vegetação - ou de sua perda - na superfície da floresta.
A plataforma polar do EOS conta ainda com um instrumento de alta resolução e sensibilidade para observar mudanças biológicas nos rios da Amazônia, capaz de rivalizar com os satélites-espiões que Estados Unidos e União Soviética tanto apreciam para bisbilhotar as armas secretas um do outro. "Será uma espécie de lente zoom no espaço", compara Batista. "O sensor tem resolução de 30 metros, igual ao do Landsat, mas suas bandas espectrais, divisões das faixas de luz, serão 192, contra sete do satélite americano e quatro do francês Spot", contabiliza o pesquisador. "Com ele vamos acompanhar a vazão dos rios, a quantidade de sedimentos depositados, a qualidade da água nos reservatórios e o impacto das barragens." Esse mesmo sensor poderá identificar minerais e tipos de solos, quantidade de plânctons nas zonas costeiras, impurezas na neve e o efeito da umidade e da poluição nas folhas. Haja pesquisadores para interpretar tamanha constelação de dados.
Outro instrumento, dotado de laser deve medir os movimentos da crosta terrestre -proporcionando, quem sabe, informações de vital importância a populações de áreas sujeitas a terremotos, como a Califórnia -, a cobertura da camada de gelo nos pólos e até a altura das ondas oceânicas. E um radar, enfim, fará o mapeamento das terras, mares e superfícies geladas mesmo nos dias nublados e durante a noite. Além de participarem do EOS, os países que já mandaram seus brinquedos ao espaço têm outros projetos em andamento para esta década. Um deles é o Topex/ Poseidon, um empreendimento conjunto dos Estados Unidos e da Agência Espacial Européia, que será lançado em dois anos. Como o nome sugere, o engenho deverá estudar os padrões de circulação dos oceanos e sua relação com as mudanças no clima terrestre.
O satélite americano Space Radar Observatory, por sua vez, com lançamento marcado também para 1992, será o primeiro a fazer um mapeamento completo do planeta por radar, o que certamente será a alegria dos geógrafos. Mais importante ainda, o aparelho medirá as taxas de dióxido de carbono da atmosfera que são o principal indicador do efeito estufa. Os japoneses devem lançar o Geotail, destinado a estudar a energia na magnetosfera, camada além da ionosfera que se estende até a faixa-limite do espaço interplanetário. Os soviéticos têm dois satélites programados para estudar a influência da energia solar no planeta, um tema que por sinal vem mobilizando especialmente os cientistas desde o ano passado devido à intensificação da atividade do Sol neste período.
Estudar a Terra certamente não provoca tanta excitação quanto o sonho de enviar missões tripuladas a outros planetas, mas os próprios cientistas que têm a cabeça em Marte ou mais longe ainda estão acordando para o imperativo de que consertar o planeta é prioritário à sobrevivência da humanidade. Como diz o astrofísico americano John Eddy, da Universidade do Colorado, um dos integrantes do Programa Internacional de Geosfera e Biosfera, "quando escreverem o livro da História do século XXI, as próximas gerações se perguntarão porque demoramos tanto até olhar para a nossa casa". Antes tarde do que nunca: justamente para recuperar o tempo perdido, o Ano Internacional do Espaço, marcado para 1992 a fim de coincidir com as comemorações dos quinhentos anos da descoberta da América, será dedicado à Missão ao Planeta Terra. 

A cor do mar e o efeito estufa

Que será que os plânctons, microscópicos organismos da superfície dos oceanos, tem a ver com o equilíbrio climático da Terra? As imagens coloridas dos oceanos transmitidas pelo satélite Nimbus-7 de 1978 a 1986 dão uma pista e mostram de maneira exemplar o que os cientistas do Programa Internacional de Geosfera e Biosfera (IGBP) querem dizer quando falam em interação dos processos físicos, químicos e biológicos do sistema terrestre. Como os vegetais do solo, os plânctons contêm clorofila e outros pigmentos que absorvem a luz solar nas faixas azul, amarela e vermelha do espectro. Assim, existe uma relação entre as cores das camadas superiores do oceano, captadas pelos sensores do infravermelho do satélite, e a concentração de plânctons ali.
Os cientistas que estudam o clima terrestre, os climatologistas, não sabem ainda qual o volume de dióxido de carbono, emitido pela queima de combustíveis fósseis, que acaba absorvido pelos oceanos, mas calculam que seja significativo. Uma boa porcentagem desse gás, um dos principais causadores do efeito estufa, é usada biologicamente pelos plânctons na fotossíntese e portanto não contribui para o aquecimento da atmosfera. Esses organismos também são responsáveis pela absorção de nitrogênio e partículas de fósforo e ferro da atmosfera na síntese de proteínas. Quanto eles absorvem dessas substâncias é uma questão por responder. E a resposta pode fornecer uma indicação a mais sobre a quantas anda o ar do mundo.

Castigo do Céu - Chuva Ácida



CASTIGO DO CÉU - Chuva Ácida



A chuva ácida faz cair sobre o homem a poluição que ele mesmo lança ao ar. As gotas contaminadas estão envenenando florestas e lagos, corroem monumentos e podem fazer mal à saúde.

Há três meses, setecentos cientistas de mais de trinta países reuniram-se em Hilton Head, na Carolina do Sul, Estados Unidos, para discutir um problema que está literalmente caindo sobre a cabeça de todos: a chuva. Não bastasse provocar um rombo na camada de ozônio da alta atmosfera e ameaçar o planeta de superaquecimento, a poluição, nas suas diversas modalidades, também envenena a chuva - algo tão benfazejo e essencial à vida como o próprio ar. Em conseqüência, 10 mil lagos na Suécia estão praticamente mortos. Na Noruega, outros 2 mil perderam seus peixes. Na Alemanha Ocidental, 35 por cento das florestas estão doentes. O Taj Mahal, um dos mais belos monumentos hindus, está perdendo a sua imaculada cor branca. E na Península de Yucatán, ao sul do México, a chuva está rapidamente destruindo obras da civilização maia, que floresceu ali pelo menos 1500 anos antes da chegada do homem branco.
No Brasil, a poluição da chuva quase não é estudada. Isso não quer dizer que os aguaceiros que aqui desabam sejam sempre limpos. Há quatro anos, pesquisadores da Universidade Federal Fluminense constataram que a vegetação da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, estava sendo afetada pela sujeira da chuva. Outros estudos, estes realizados pela Universidade Federal de Viçosa, mostraram que a flora do Parque Florestal do Rio Doce, nas proximidades do Vale do Aço, em Minas Gerais, também teria sido atingida. Apesar disso, o químico Cláudio Alonso, da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), que controla a poluição do ar em São Paulo, afirma que "o problema não tem a gravidade que adquiriu em outros países".
Como sempre, em todos os lugares onde a chuva está servindo de meio de transporte para a poluição, os vilões da história são as indústrias e os veículos que despejam no ar, todo santo dia, toneladas de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio. Esses gases reagem com o vapor de água e outros compostos químicos da atmosfera para formar os perigosos ácido sulfúrico (H2SO4) e ácido nítrico (HNO3). Nem por isso se deve entrar em pânico quando um toró nos apanha desprevenidos sem guarda- chuva - o risco maior ainda é ficar resfriado. "Ninguém vai sentir picadas na pele ou ficar com a roupa corroída por causa da poluição", brinca Cláudio Alonso, da Cetesb. "O problema da chuva ácida é a degradação do meio ambiente a longo prazo."
Além de poluir rios e lagos e acabar com a flora e a fauna aquática, a chuva ácida se infiltra no solo liberando certos metais potencialmente tóxicos, como alumínio, chumbo e cádmio. Estes podem se introduzir na cadeia alimentar através das plantas e acabar prejudicando a saúde do homem. Segundo o médico Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Universidade de São Paulo, "a presença de gotículas ácidas na atmosfera talvez represente um risco para a saúde de asmáticos, pessoas com infecções pulmonares, crianças e velhos".
Ao contrário do que se imagina, mesmo nos locais mais limpos, como o Ártico, a água da chuva é levemente ácida, ou seja, tem pH 5,6. O pH mede o teor de íons positivos de hidrogênio de uma solução. (Por uma convenção, pH designa o inverso do logaritmo da concentração desses íons.) Explica o professor Ivano Gutz, do Instituto de Química da USP, que a tabela do pH vai de zero a catorze: "Quanto maior for a concentração daqueles íons, menor será o pH logo, mais ácida a chuva". Em várias cidades do oeste da Europa e do leste dos Estados Unidos, a chuva chegou a ter pH entre 2 e 3, ou seja, entre o do vinagre e o do suco de limão. A diferença é maior do que parece: uma chuva com pH3 contém dez vezes mais hidrogênio do que outra com pH 4 e cem vezes mais do que outra com pH 5. Gutz, porém, explica que o conceito de chuva ácida vai mais além: "A acidez é a ponta do iceberg. Como a manifestação mais óbvia de que a chuva está poluída é o baixo pH, adota-se o nome chuva ácida para qualquer precipitação com alto teor de poluentes".
Nesses últimos anos, quando o homem parece acordar para os estragos que vem causando à natureza, a chuva ácida costuma ser citada - até com certo exagero - como uma espécie de holocausto ecológico recente em forma líquida. Mas a ameaça é quase tão antiga quanto a própria Revolução Industrial. A expressão foi usada originalmente no século passado, mais precisamente em 1872, quando o químico inglês Robert Argus Smith analisou a qualidade do ar da cidade de Manchester. No seu livro Air and rain: the beginnings of a chemical climatology  (Ar e chuva: os inícios de uma climatologia química), Smith estabelece pela primeira vez uma ligação entre o pH da chuva e a combustão do carvão naquele centro industrial. Quase meio século depois, o biólogo norueguês Knut Dahl reconhecia a relação entre a acidez das chuvas e a morte de plantas e peixes em vários lagos de seu país.
Os lagos saudáveis em toda a Escandinávia, aqueles dos cartões-postais, teriam um pH em torno de 7,0. Em muitos deles, esse valor baixou para 5,0. A acidez matou algas, plânctons e insetos. Sem esta vida microscópica, as águas adquiriram uma transparência não natural. Depois, à medida que o pH baixava, desapareceram os peixes, em especial salmões e trutas. Enfim, os pássaros, sem ter o que comer, também sumiram. Na primeira Conferência Mundial do Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972 (a próxima, por sinal, será no Brasil, em 1992), os suecos deram o alerta. Se a guerra química do homem contra a natureza continuasse, em cinqüenta anos, calcularam eles, metade dos lagos de seu país estariam mortos. Por ironia da sorte - ou mais exatamente devido ao complexo mecanismo do clima no planeta -, suecos e noruegueses estavam arcando com um desastre armado a bons mil quilômetros de distância, na nevoenta e industrializada Inglaterra.
As correntes de ar que se deslocavam do oceano para o continente carregavam a maior parte dos 5 milhões de toneladas anuais de dióxido de enxofre expelidas pelas centrais elétricas movidas a carvão das Ilhas Britânicas. Quando alcança o sul da Noruega e o sudoeste da Suécia, a mistura poluída se precipita sob a forma de chuva. Calcula- se que algumas regiões da Suécia chegaram a ser contempladas todo ano com um presente de grego: 2 gramas de ácido sulfúrico por metro quadrado de chão. A Península Escandinava não foi a única premiada. As emissões de dióxido de enxofre na Europa na última década foram estimadas em 70 milhões de toneladas anuais. Esses gases não respeitaram fronteiras: Alemanha Ocidental, França, Checoslováquia, União Soviética, Itália e Espanha tiveram sua cota de participação no involuntário comércio internacional de poluição. No Brasil, a termelétrica de Candiota, em Bagé, Rio Grande do Sul, por queimar carvão de má qualidade, acidifica as chuvas que caem no Uruguai. Paradoxalmente, até as medidas antipoluentes adotadas na década de 70 contribuíram para o mercado exportador da chuva ácida. Foi o que aconteceu, por exemplo, no Parque Nacional de Adirondack, uma extensa área verde no nordeste dos Estados Unidos com montanhas e lagos aprazíveis, protegidos por uma rigorosa legislação de defesa do meio ambiente. Ninguém imaginaria que naquele paraíso terrestre houvesse qualquer sinal de poluição. Mas em 1976 constatou-se que os peixes de mais da metade dos lagos de Adirondack haviam desaparecido. De onde veio o veneno que teria acabado com eles? O autor do crime estava a cerca de 800 quilômetros do Parque. Trata-se do complexo siderúrgico de Sudbury, em Ontário, no Canadá.
Para impedir que a poluição prejudicasse as áreas vizinhas, em Sudbury as chaminés têm descomunais 400 metros de altura. Lançados às camadas mais altas da atmosfera, os gases venenosos são levados pelo ventos que sopram para o leste até encontrar a barreira dos Montes Apalaches e se precipitar como chuva ácida em pleno parque. Os americanos se queixaram, mas não puderam fazer papel de vítima inocente. Segundo as últimas pesquisas, o Canadá recebe dos Estados Unidos quatro vezes mais dióxido de enxofre e onze vezes mais óxido de nitrogênio do que envia para esse país.
As florestas da América do Norte não foram afetadas pela chuva ácida. Mas, na Europa, os efeitos parecem devastadores. Na Alemanha Ocidental, Suíça, França e Áustria, as árvores estão doentes, talvez porque o solo ou o tipo de vegetação seja especialmente vulnerável à acidez. Na Alemanha, uma paisagem desoladora: pinheiros e abetos, antes grandiosos, apresentam folhagem amarelada, com manchas escuras que provam a falta de nutrientes (cálcio e magnésio). As árvores mais afetadas já perderam a folhagem: os troncos nus estão cobertos de ramos finos, raquíticos e quebradiços.
Nas cidades, a corrosão dos monumentos, edifícios e veículos é de duas a dez vezes mais rápida do que no campo. Na região de Katowice, no sul da Polônia, por exemplo, os trens não podem correr a mais de 40 quilômetros por hora devido à corrosão dos trilhos. Os gregos, por sua vez, estão lutando contra o tempo para contra-atacar a chuva ácida que aos poucos dissolve seus conhecidos monumentos históricos. Para o especialista em corrosão, T. N. Skoulidikis, alguns dos grandes templos do seu país, como o Partenon, em Atenas, se deterioraram mais nesse último quarto de século do que em todos os 2 400 anos anteriores. A poluição praticamente já apagou as delicadas frisas e figuras gravadas na entrada da construção.
Ali, a solução de ácido sulfúrico reage com o mármore transformando a superfície em gesso macio. Problema semelhante se suspeita que esteja ocorrendo com o Coliseu, em Roma. Às vezes, são falsos alarmes. Quando as esculturas dos doze profetas, obra em pedra-sabão do Aleijadinho, na cidade mineira de Congonhas do Campo, começaram a ser corroídas, afirmou-se que a culpada era também a chuva ácida. Dessa vez, parece que tudo não passou de um ataque de fungos. Melhor sorte não tiveram os monumentos no sul do México. Um estudo mostrou que as esculturas e ruínas maias estão sendo destruídas pela chuva ácida.
Na América do Sul, chuvas com pH médio 4,7 têm sido registradas tanto em áreas urbanas e industrializadas como em regiões remotas. "Isso não quer dizer que a poluição se espalhou por toda parte", tranqüiliza a física Lycia Moreira Nordemann, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) de São José dos Campos, no interior paulista, uma das poucas pesquisadoras brasileiras de chuva. Ela observa, por exemplo, que os estudos realizados na floresta amazônica mostraram que os valores dos pH na região (entre 4,5 e 4,7) estão próximos daqueles observados em áreas das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A explicação é natural. A chuva ácida provem da oxidação do sulfeto de hidrogênio, ou seja a reação do sulfeto em contato com o oxigênio do ar, que se volatiliza nas regiões alagadas. Mas resulta principalmente da grande quantidade de ácidos orgânicos emitidos pela própria floresta.
Nos últimos dois anos, a equipe de Lycia Nordemann analisou a composição das chuvas em seis cidades do litoral brasileiro. "Nossa preocupação foi determinar o índice de poluição e não apenas o pH", frisa a pesquisadora. Como exemplo, ela cita o caso de Cubatão, cidade em que já havia medido a acidez da chuva há cinco anos. Naquela época, quando Cubatão era considerada um dos lugares mais poluídos do mundo, o pH da chuva ali era 6,4, ou seja, acima do índice perigoso. Isso porque uma das principais fontes de poluição, as indústrias de adubos químicos, jogavam no ar toneladas de fosfato de cálcio que acabavam por neutralizar a acidez da chuva. "O pH da água estava dentro dos padrões, mas havia uma concentração elevada de poluentes", interpreta Lycia.
Ela afirma que a poluição começa a ser detectada na costa cearense e já é pronunciada na região fluminense de Niterói. Ali, o pH é 5,5, o que em princípio deveria ser tranqüilizador. "Mas a acidez que poderia resultar da alta concentração de nitratos e sulfetos é neutralizada pela presença de cálcio e amônio", avalia Lycia. A pesquisadora do INPE concorda com o químico da Cetesb, Cláudio Alonso, quando ele sustenta que a chuva ácida, por enquanto, não é um problema grave - nem em São Paulo, onde o pH gira em torno de 5,0. Mas a pesquisadora avisa: "Se a emissão de dióxido de enxofre e de óxido de nitrogênio aumentar, aí poderemos ter motivo de preocupação, porque nossos solos já são naturalmente muito ácidos".

Males para a saúde

Desde que os cientistas começaram a estudar os efeitos da chuva ácida, especulou-se sobre os danos que ela causaria ao organismo humano. Mas os médicos não chegaram a resultados conclusivos. Segundo o patologista Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP, tudo indica que as partículas ácidas presentes na chuva têm efeito cumulativo sobre o organismo, podendo acelerar o desenvolvimento de doenças em pessoas menos saudáveis. "Em geral, antes de alcançar os pulmões, as partículas se acumulam no nariz e na garganta", informa. "Quando isso acontece, pioram os casos de asma, rinite e sinusite alérgica."
Se as partículas de ácido sulfúrico e ácido nítrico solúveis na chuva se infiltram nos brônquios, reduzem os seus mecanismos de defesa contra infecções. Isso, segundo Saldiva, predispõe ao aparecimento de broncopneumonias. "Se chegam aos pulmões", diagnostica, "podem aumentar os riscos de enfisemas." Ele acredita que o acúmulo de secreção, a forma de defesa do organismo contra os intrusos, pode obrigar o coração a um trabalho extra para bombear o sangue através dos pulmões - o que predisporia a doenças cardiovasculares. Por último, os olhos expostos à poluição da chuva têm probabilidade maior de apresentar conjuntivite.

Onde o organismo sofre

Nariz e garganta
Mais casos de asma e sinusite.
Olhos
Maior probabilidade de conjuntivite.
Brônquios
Predisposição à broncopneumonia.
Pulmões
Riscos de enfisema.
Coração
Mais doenças cardiovasculares.


Em busca do guarda-chuva

Cerca de 90 por cento do dióxido de enxofre encontrado no ar da Noruega vem de outros países. É claro que os noruegueses pouco poderão fazer para salvar seus lagos do envenenamento, se não contarem com a ajuda dos vizinhos europeus. Isso vale também para outros países do continente. Assim, há dois anos, os membros do Mercado Comum Europeu assinaram um acordo que prevê, até 2003, a redução pela metade no total das emissões do dióxido de enxofre em relação aos níveis da década de 80. O mesmo acordo determina uma redução de 30 por cento nas emissões de óxido de nitrogênio até 1998. O documento estabelece patamares diferentes para cada país segundo o volume de poluentes que atravessa suas fronteiras e sua dependência do carvão, uma das maiores fontes de enxofre.
Aproveitando os novos ventos políticos, os países ocidentais se prontificaram a ajudar os vizinhos do Leste europeu. As duas Alemanhas, por exemplo, assinaram um acordo de intercâmbio de tecnologia e controle da qualidade do ar. A Suécia ofereceu 45 milhões de dólares para assistência ambiental à Polônia nos próximos três anos; os Estados Unidos repartirão outros 40 milhões entre a Polônia e a Hungria. Na frente interna americana, por outro lado, corre solto no Congresso e na Casa Branca o debate sobre a ampliação do Clean Air Act, legislação ambiental criada em 1970 e nunca obedecida ao pé da letra, visando reduzir pela metade as emissões dos gases geradores da chuva ácida.

domingo, 14 de outubro de 2012

O Mundo de cada um - Ambiente


O MUNDO DE CADA UM - Ambiente



Os ecologistas acham que qualquer pessoa pode fazer algo para mudar o planeta e - dizem como. Esse é o mote do Dia da Terra.

A nave espacial Terra não transporta passageiros. Somos todos tripulantes.
Marshall McLuhan (1911-1980), sociólogo canadense

No quarto domingo deste mês, dia 22, pelo menos um em cada cinqüenta homens, mulheres e crianças dos quatro cantos do mundo, algo como 100 milhões de pessoas ao todo, fará a sua parte naquela que será a maior manifestação coletiva da história: a comemoração do Dia da Terra.
Trata-se de uma invenção americana que agora, ao completar vinte anos, já transpôs todas as fronteiras, nas asas dos movimentos de defesa do ambiente.
O importante é que um evento dessa grandeza tem tudo para carimbar com o signo da universalidade um tipo de preocupação e de ativismo que de modo geral ainda permanece confinado aos guetos verdes da militância ecológica. E não é por outro motivo que a palavra de ordem deste Dia da Terra, modelo 1990 é a desafiadora pergunta "Quem diz que você não pode mudar o mundo?"
Eis um declarado, irrestrito convite à ação individual para deter o processo de deterioração de um planeta que em seus presumíveis 4,5 bilhões de anos sobreviveu a traumas geológicos e climáticos sem que neles houvesse a marca da mão do homem. No entanto, em um prazo muitíssimo mais curto, medido no horizonte de um punhado de gerações, a Terra provavelmente não será a mesma que o homem se acostumou a conhecer ao longo de alguns milênios. E para que ela não mude tanto a ponto de desfigurar ou mesmo impedir a presença humana em sua superfície é que se quer convencer cada pessoa de que está ao seu alcance fazer algo para mudar esse mundo de previsões apocalípticas, subscritas pela ciência, das quais emergem o pesadelo do buraco na camada de ozônio e o horror do efeito estufa.
Além da penetração maior dos nefastos raios ultravioleta, o acúmulo de gás carbônico na atmosfera, rastro do avanço mal traçado da civilização industrial apoiada na queima de combustíveis fósseis, poderá fazer com que a temperatura do globo aumente até 4,5 graus centígrados nos próximos cinqüenta anos. Com isso o clima que tornou possível a existência humana em quase todos os rincões da Terra se tornará irreconhecível: o nível dos oceanos subirá o suficiente para inundar enormes áreas costeiras e transformar solos férteis em desertos salgados - catástrofes que prenunciarão outras, afetando o conjunto da natureza.
Nesse cenário cada vez mais verossímil, no mínimo 8 bilhões de pessoas terão de ganhar o pão e a água de todo dia em condições dramaticamente adversas. Até que ponto mudanças no comportamento individual podem abrandar esse cenário? Para os ambientalistas, pequenas alterações de hábitos cotidianos tenderão a acumular benefícios em escala literalmente planetária, sendo o primeiro deles a percepção de que governos complacentes e empresas gananciosas não são os únicos vilões nessa história: cada qual tem seu grão de responsabilidade própria pela avalanche de desacertos ecológicos que castiga o mundo.
Embora produtores de apenas 5 por cento do gás carbônico lançado na atmosfera, menos de um quarto do volume made USA, os brasileiros sem dúvida estão entre os mais cobrados a se engajar na luta para salvar a Terra. A razão não há criança que ignore. A Amazônia Legal brasileira representa, afinal, um terço de todas as florestas tropicais do globo e sua preservação tornou-se uma preocupação mundial. Duas mil queimadas por dia, em média, já destruíram nos últimos anos quase um décimo da mata tropical e lançaram aos céus uma quantidade de gás carbônico suficiente para figurar entre os culpados pelo efeito estufa.
A Amazônia certamente não será salva por pequenas mudanças de hábitos cotidianos de pessoas vivendo a milhares de quilômetros da floresta, mas entre o que se passa na mata e o que se faz na cidade existe um parentesco que a vista não alcança - e que os ecologistas se esforçam por exibir assim como evidenciam o nexo entre as diversas agressões ao ambiente. "Temos a destruição das nascentes dos rios pelo garimpo, caça e pesca predatórias incontroláveis, cidades ameaçadas por nuvens de fumaça e praias imundas", relaciona o jornalista Fernando César Mesquita, 51 anos, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no governo José Sarney. "Temos, acima de tudo, um problema cultural. As pessoas ainda não reconhecem o seu papel no ambiente."
Mas é patente que já há algum tempo os ventos sopram a favor do ambientalismo. Em 1988, por exemplo, cálculos americanos indicavam que a população mundial de militantes do que se convencionou chamar movimentos ecológicos somava 13 milhões de pessoas; na virada para os anos 90, outros 3 milhões se incorporaram à onda verde. No Brasil, a contabilidade disponível se refere a organizações: são já mais de 2 500 entidades ambientalistas, a maioria núcleos de algumas centenas de pessoas dedicadas à defesa de causas específicas. A maior é a Fundação S.O.S. Mata Atlântica, com 3 mil sócios. Outra de bom tamanho é a Associação de Defesa da Juréia, cujos 1400 sócios pretendem preservar a região paulista da Mata Atlântica entre Peruíbe e Iguape.
"Há quinze anos, se você falasse em meio ambiente seria rotulado de romântico e antiprogressista", lembra o arquiteto Clayton Ferreira Lino, diretor da Fundação S.O.S Mata Atlântica, em São Paulo. "Atualmente, em compensação, a verdadeira militância convive com a moda da militância". E entre o discurso bonito e a prática de cada um existe um abismo", critica. Isso talvez se entenda pela constatação de que a bandeira verde nem sempre é leve. Muitas vezes, a busca do melhor para o meio ambiente exige no dia-a-dia individual mais paciência, mais despesas, menos conforto imediato. Isso explicaria por que, embora quatro em cada cinco americanos se considerem ambientalistas, poucos entre eles mudam a própria vida para mudar o mundo - a população dos Estados Unidos roda cerca de 1 bilhão de quilômetros por ano, queimando pouco mais de um quarto do combustível usado na Terra.
"Ninguém está pedindo para que se ande a pé", assegura o engenheiro Gabriel Murgel Branco, gerente do Programa de Controle de Veículos (Proconve), um bem-preparado plano de metas, aprovado há três anos pelo governo federal, que prevê a fabricação de carros nacionais menos poluidores, estabelecendo limites graduais de emissão de gases pelo escapamento. "Se as pessoas regulassem o motor com freqüência, seguindo sempre a indicação do fabricante, se só comprassem peças originais que garantam o desempenho programado para aquele motor e, finalmente, se não inventassem na garagem coquetéis incrementados de combustível, apenas com isso a poluição nas cidades diminuiria no mínimo 30 por cento", garante o engenheiro.
Se com um automóvel bem cuidado se pode atenuar parte do problema do aquecimento da atmosfera e mesmo da chuva ácida - a reação das gotas com os poluentes do ar -, em relação à poluição marinha a ação individual só tem a saída da precaução. Claro que jogar lixo na praia é arruinar o lugar ao sol do próprio usuário sujão, mas há coisa pior neste departamento. Na opinião de Luiz Roberto Tomazzi, diretor do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo, a grande inimiga dos mares é a especulação imobiliária. "Ao tirar os vegetais à beira-mar, o solo exposto à erosão é arrastado pela chuva para o mar; ali, as partículas de terra ficam em suspensão, impedindo a luz de penetrar na água", ele explica. "Assim, sem poder realizar a fotossíntese (a conversão de energia solar em nutrientes), morrem vegetais aquáticos e, em seguida, seus dependentes sucessivos, até chegar aos peixes. Nesse toma-lá, dá-cá todo o ecossistema marinho fica abalado."
Quando, meses atrás, técnicos da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo chegaram à Ilha Comprida, no litoral sul paulista, descobriram que ali tinham sido vendidos 300 mil lotes em uma área que, para se evitar o excesso de esgoto, comportaria no máximo 70 mil. "Quem compra um terreno no litoral deve exigir um comprovante de que o loteamento tem licença do órgão ambiental da região", aconselha Ivan Gânglio, diretor de Planejamento Ambiental da Secretaria. "Caso contrário, estará comprando hoje um pedaço do paraíso, para ter amanhã uma casa no inferno."
Quem se encontra no litoral ainda tem de cuidar em dobro do desperdício de água. Apenas 3 por cento da água que banha o planeta serviria para matar a sede do homem, ou seja, é água fresca; ocorre, porém, que três quartos desse total permanecem congelados nas regiões polares. Para tornar o líquido ainda mais precioso, três em cada dez lençóis aquáticos subterrâneos - formados pela chuva filtrada pela terra que se satura a determinada profundidade - estão contaminados também devido ao uso exagerado de pesticidas na agricultura, cujos resíduos tóxicos são arrastados solo abaixo pela água.
Para o geólogo Nélson Ellert, da Universidade de São Paulo, que há dez anos pesquisa a poluição desses lençóis, "o consumo excessivo de água causa estragos principalmente na região litorânea". Ali costuma haver o que se chama sobreexplotação, ou seja, a água fresca, menos densa fica sobre um lençol de água salgada, mais densa. "A diminuição em ritmo acelerado do volume de água doce faz subir aquela água que está logo abaixo, salgando portanto toda a fonte. O fenômeno não é raro, informa o pesquisador, citando áreas do litoral do Rio Grande do Norte, entre os casos mais recentes.
No hemisfério norte, cada vez com mais freqüência quem vai lavar as mãos depara com uma torneira seca e não se surpreende com isso: equipamentos hidráulicos modernos acoplam células fotossensíveis, que fazem a água jorrar apenas quando as mãos estiverem na direção do jato. Isso evita por exemplo a velha cena da escovação dos dentes enquanto a água fresca escorre pelo ralo, um descuido de quem desconhece o seu valor para o homem. Estuda-se também acima do equador a possibilidade de reaproveitar no vaso sanitário a água usada na pia. Faz sentido: cada vez que se aperta a válvula da descarga. o jato contém no mínimo 5 litros de água fresca tratada, a mesma que serviria para a higiene pessoal.
O desperdício é provavelmente o mais curto estopim da bomba ecológica que está para estourar nos próximos anos. Aparece camuflado nas atitudes mais inocentes. como a da dona de casa caprichosa que verte doses generosas de amaciante de roupa no tanque. "Detergentes, sabões, amaciantes, tudo isso no mercado nacional é declarado biodegradável, ou seja, suas moléculas são naturalmente assimiladas pelo ambiente. Mas na prática é outra história", adverte o químico Omar El Seoud, da Universidade de São Paulo, especialista no assunto. "Se o esgoto não passar por três etapas de tratamento - o que nem sempre acontece -, o produto não terá condições de ser degradado, transformando-se em mais uma substância tóxica no ambiente", adverte. "Por isso. ultrapassar a recomendação da embalagem é gerar doses extras de poluição."
Pior é quando se trata daquilo que se joga fora - no sentido literal: a humanidade precisará de aterros suficientes para os 60 milhões de toneladas de lixo que se estima serão produzidos nos próximos sessenta anos. O problema não é apenas a falta de espaço, que já desespera os americanos, por exemplo, mas a contaminação do solo, quando este não é preparado para receber os resíduos, como acontece com oito de cada dez aterros no Brasil. "A única saída é a reciclagem", prevê a engenheira Maria Helena Orth, diretora de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), uma mulher bem-vestida e de hábitos refinados que há quinze anos está de olho nos cerca de 700 gramas que cada brasileiro põe fora todo dia. "É a metade do que ele consome", calcula.
Reaproveitar aquilo que se elimina é um costume em relação ao qual o Brasil  
engatinha. O Japão, mestre nessa tecnologia recicla aproximadamente 
metade dos 100 milhões de toneladas do lixo produzidos por ano - fabricam com a matéria-prima das lixeiras, entre outras coisas, papel higiênico suficiente para embrulhar a Terra quatro vezes. Na Europa Ocidental, em média, um terço do lixo é reciclado: para estimular a população a separar embalagens de resíduos orgânicos. os franceses até criaram postos onde se trocam garrafas latas e caixas de papelão por billets de metrô ou de ônibus.
Muitas vezes, pode-se ajudar o ambiente simplesmente criando menos lixo, como, fiel às suas convicções, pretende o deputado federal Fábio Feldman, do PSDB de São Paulo, primeiro representante do ambientalismo no Congresso. Ele prepara um projeto pelo qual a indústria que utiliza embalagens descartáveis terá a obrigação de reaver 40 por cento desse material depois de vendido. "O consumidor deveria optar pelo descartável só em último caso, quando vai viajar, por exemplo, ensina. Seria ingênuo em todo caso imaginar que, se cada um cuidar das pequenas questões, as grandes se resolverão sozinhas.
O zelo ecológico na vida pessoal não exclui outras formas de ação, destinadas a influenciar as decisões dos poderosos deste mundo. É por isso que cientistas laureados como o astrônomo Carl Sagan e o químico Linus Pauling, além de manterem regulados os motores de seus carros, como se presume, assinam manifestos dirigidos ao governo americano pedindo leis mais duras de defesa do ambiente. Não é por mero otimismo que observadores como a socióloga Laura Tetti, da Cetesb, a agência de saneamento ambiental do governo paulista, acreditam que as pessoas estão dispostas a pagar o preço necessário para conservar o ambiente e, em última análise, a própria qualidade de vida. "Já passou a fase do ambientalismo romântico", analisa ela. "Todos agora querem receitas para cooperar."

Dinheiro no lixo

No Brasil, apenas 0,8 por cento do lixo é reaproveitado - e isso graças aos garrafeiros e catadores de papel. Mas o governo começa a remexer o problema. De dezembro do ano passado a março último, os moradores do bairro paulistano de Vila Madalena participaram de uma experiência pioneira: receberam sacolas para recolher papéis, latas, vidros, enfim, materiais recicláveis que habitualmente vão parar no lixo. Mais que o zelo ambiental, o que moveu a Prefeitura foi a preocupação com o dinheiro. Não é para menos: tratar as 12 mil toneladas de lixo que os paulistanos produzem todos os dias consome 15 de cada 100 cruzados da receita municipal. Em quatro meses de experiência a Administração conseguiu vender 70 toneladas daquele tipo de material - diante desse resultado,o projeto deverá ser implantado para valer  na cidade.