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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

O conselho que Albert Einstein deu a Marie Curie quando ela foi atacada pela imprensa

O conselho que Albert Einstein deu a Marie Curie quando ela foi atacada pela imprensa

Ganhadora do Nobel protagonizou um escândalo na França ao se relacionar com um homem casado.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Por que a teoria da relatividade não rendeu o Prêmio Nobel a Albert Einstein

Por que a teoria da relatividade não rendeu o Prêmio Nobel a Albert Einstein

Ao longo da história, o Prêmio Nobel foi um dos reconhecimentos de maior destaque para disciplinas como física, química, medicina, literatura e economia. 

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Polêmico livro de anatomia criado por nazistas ainda é referência na medicina

Polêmico livro de anatomia criado por nazistas ainda é referência na medicina


"A Anatomia Topográfica do Homem", de Eduard Pernkopf, é considerada a melhor obra de desenho anatômico do mundo. 

quarta-feira, 20 de março de 2019

Físico Marcelo Gleiser ganha 'Nobel' do diálogo e da espiritualidade

Físico Marcelo Gleiser ganha 'Nobel' do diálogo e da espiritualidade

Marcelo Gleiser, ganhador do prêmio Templeton em 2019 (Foto: reprodução)

Honra já foi concedida a Madre Teresa de Calcutá e Dalai Lama.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Saiba quais foram os ditadores já indicados ao Nobel da Paz

Saiba quais foram os ditadores já indicados ao Nobel da Paz


Certamente, o Prêmio Nobel da Paz é considerado um dos maiores prêmios a que qualquer figura pública pode aspirar. No entanto, ao longo da história, houve indicações que beiraram o inverossímil.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Morre aos 96 anos o Nobel de Física Leon Lederman, autor de 'Partícula de Deus'


Morre aos 96 anos o Nobel de Física Leon Lederman, autor de 'Partícula de Deus'

O físico Leon M. Lederman, vencedor do prêmio Nobel de Física de 1988, 
em foto de novembro de 2014 — Foto: Reidar Hahn, Fermilab via AP

Físico experimental foi premiado em 1988 por seu trabalho com partículas subatômicas. Em 2015, ele leiloou a medalha do Nobel e usou dinheiro para pagar a casa em que morava com a mulher.

sábado, 15 de setembro de 2018

Quão nutritiva é a carne humana ? O Vencedor do IG NOBEL respondeu !!!


Quão nutritiva é a carne humana ?  O Vencedor do IG NOBEL respondeu !!!


A ideia era descobrir se o canibalismo pré-histórico fazia sentido de um ponto de vista biológico

sexta-feira, 23 de março de 2018

Último estudo de Stephen Hawking sugeriria existência de universos paralelos


Último estudo de Stephen Hawking sugeriria existência de universos paralelos


De acordo com o jornal britânico Sunday Times, o esudo em questão é um trabalho matemático que passou por suas última revisão em 4 de março e do qual Hawking é coautor. O cientista teria finalizado sua participação na pesquisa quando já estava em seu leito de morte.

quarta-feira, 21 de março de 2018

AS 20 OBRAS MAIS IMPORTANTES DA LITERATURA RUSSA


AS 20 OBRAS MAIS IMPORTANTES DA LITERATURA RUSSA




Sabemos que uma lista é somente uma lista. Contudo, nunca um esforço foi tão destinado ao insucesso quanto este de preparar uma relação com apenas vinte obras representativas da literatura russa. 

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Estudo confirma teoria sobre primeira molécula da vida na Terra


Estudo confirma teoria sobre primeira molécula da vida na Terra


Um novo estudo confirma uma teoria proposta em 1986, que afirma que a primeira molécula de vida sobre a Terra poderia ter sido o ácido ribonucleico (RNA).

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Missão Rosetta é maior avanço científico de 2014 para 'Science'


Missão Rosetta é maior avanço científico de 2014 para 'Science'

Pouso de módulo da sonda Rosetta no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko foi eleito o evento científico mais importante de 2014 pela revista 'Science' (Foto: AP Photo/ESA)

Revista 'Science' divulgou a lista das 10 maiores descobertas do ano.
Comparação entre aves modernas e dinossauros também estava na lista.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Ignobel: a Ciência ri da Ciência - Bom Humor

IGNOBEL: A CIÊNCIA RI DA CIÊNCIA - Bom Humor


Temido por muitos pesquisadores do mundo inteiro, o IgNobel é o Prêmio Nobel às avessas. Seus ganhadores são pessoas ou institutos que gastaram tempo e dinheiro produzindo trabalhos inúteis, engraçados ou definitivamente absurdos.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Rita Levi-Montacini: A Detetive dos Nervos


RITA LEVI-MONTALCINI: A DETETIVE DE NERVOS



Aos 81 anos, a obstinada italiana, Prêmio Nobel de Medicina, adora uma investigação-seja nos livros policiais que lê, seja nos laboratórios onde persegue todas as pistas sobre o fator de crescimento das células nervosas

Naquela manhã de dezembro, de 1986, Rita Levi-Montalcini acordou, como todos os dias, antes que o relógio marcasse 6 da manhã. Abriu as cortinas sobre a Bala de Estocolmo e pediu à camareira do Grand Hotel o desjejum habitualmente frugal, chá e biscoitos. Diante do espelho, deu aos cabelos cândidos a costumeira onda, toda para um lado, que emoldura o rosto enrugado muito alvo, sereno, e ressalta o olhar risonho azul-claro. Finalmente, vestiu um conjunto de seda pérola, estampado com flores estilizadas, de caimento perfeito no corpo esguio, quase frágil, como o de um passarinho. Só assim, aparentemente pronta para um passeio, a elegante senhora sossegou em um canto, sentando-se na poltrona para folhear um romance policial de Agatha Christie. Há muito tempo, aprendeu a usar os livros da escritora inglesa feito um escudo diante da menor ameaça de tensão. Ela sempre carrega uma aventura do detetive Hercule Poirot, por exemplo, quando precisa enfrentar uma viagem aérea. Naquela vez, porém, as peripécias do personagem serviram para relaxar a leitora que, à noite, receberia o Prêmio Nobel de Medicina das mãos do rei Carlos Gustavo da Suécia.O Nobel premiou uma descoberta feita em parte no Brasil dos anos 50, nos laboratórios do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro: ali, a cientista italiana teve a certeza da existência do NGF, sigla, em inglês, de fator de crescimento dos nervos. Trata-se de um fluído produzido pelo próprio organismo, que, ao tocar as células nervosas, feito uma varinha mágica, tem a espantosa propriedade de fazê-las crescer. 

Hoje, com recursos da Engenharia Genética para produzir o NGF, sabe-se que sua aplicação clínica, no futuro, poderá curar uma série de doenças degenerativas do sistema nervoso-como, aliás, já está começando a se tentar na Suécia e nos Estados Unidos, para tratar o mal de Alzheimer, a atrofia dos nervos, e o mal de Parkinson, uma espécie de atrofia cerebral. 

Quando o NGF foi descoberto, porém, poucas pessoas Ihe deram a devida importância, talvez porque a substância pudesse ser encontrada em quase todos os tecidos do corpo. Incansável, Rita continuou colhendo pistas do NGF, determinada a provar que a substância também está por trás de outras funções importantes, como a imunológica, ajudando o organismo a vencer suas batalhas contra agentes nocivos. A história da cientista, nesse sentido, se parece com os romances que tanto aprecia, com investigações dignas dos mais perspicazes detetives lutas-não físicas, é verdade-, perseguições implacáveis, como a dos nazistas pelo fato de ser judia, e, sobretudo, cenas de grande-emoção."No verão carioca de 1953, o NGF saiu das sombras de maneira triunfal e grandiosa, como se fosse estimulado pela atmosfera dessa exuberante manifestação de vida que é o Carnaval do Rio". descreveu a cientista em sua autobiografia, O elogio da imperfeição. "Nas vésperas do Natal de 1986, o NGF apareceu de novo em público, sob a luz dos refletores, na presença dos reis suecos, de príncipes, de damas em vestidos de gala e cavalheiros em fraque." Nessa noite, Rita Levi-Montalcini também estava vestida de gala: usava um longo desenhado pelo refinado e pouco conhecido estilista romano Roberto Capucci, autor de verdadeiras esculturas em tecidos. Na verdade, Capucci confeccionou duas roupas para a ocasião, uma bordô e outra verde com mangas roxas. E por que duas? Porque a cientista, famosa por sua vaidade, queria escolher o modelo apenas no dia de receber o prêmio. O requinte da escolha-venceu o vestido com mangas roxas, sua cor predileta-surpreendeu quem estava acostumado a vê-la com o avental branco dos laboratórios.Há sessenta anos, contudo, ninguém imaginaria que aquela jovem, nascida em Turim, passaria boa parte da vida nesse ambiente. Afinal, Rita vinha de uma família culta, mas de convicções vitorianas a respeito do papel da mulher. Na adolescência, ela teve o mesmo destino de suas duas irmãs, isto é, o chamado colegial feminino, um curso que não dava acesso à faculdade: Nina, a mais velha, resolveu se casar; Paola, irmã gêmea da pesquisadora, dedicou-se à pintura e à escultura. Já o caminho de Rita foi traçado quando ela completou 22 anos, com a doença que causou a morte de sua velha babá. Então, contrariando os princípios paternos, Rita decidiu estudar Medicina.Hoje em dia, aos 81 anos de idade, a cientista não hesita em se declarar feminista, na entrevista a SUPERINTERESSANTE, realizada em Castelporziano, uma antiga reserva de caça nos arredores de Roma. Em um cenário de bosques, onde javalis pastavam e faisões ciscavam, 21 Prêmios Nobel se reuniram, em dezembro (1991), para trocar idéias sobre como estimular a pesquisa nos países da Comunidade Européia. Ali, Rita mergulhou em lembranças dos tempos de universitária, quando teve um mestre excepcional, o professor Giuseppe Levi, conhecido por suas idéias antifascistas. "Ele tinha um método de trabalho rigoroso, mas seguia de modo apaixonado as pesquisas de seus alunos", ela recorda.Na mesma época, Giuseppe Levi orientava três futuros Nobel de Medicina: além da própria Rita, Renato Dulbecco, premiado em 1975 pela identificação dos genes desencadeadores do câncer, e Salvador Luria, laureado em 1969 pela descoberta das características dos genes de vírus e de bactérias (veja quadro). "Rita trabalhava no laboratório ao lado do meu", conta Luria. "Por isso, seu Nobel me deixou particularmente contente, apesar de ter chegado atrasado", opina o orgulhoso colega. A perseguição anti-semita durante a Segunda Guerra interrompeu a carreira dos dois jovens pesquisadores de origem judaica. Luria fugiu de bicicleta, cruzando a fronteira da Itália. Rita, por sua vez, escondeu-se no quarto, onde improvisou um laboratório, como uma Robinson Crusoe da ciência.Quando a perseguição contra os judeus estendeu-se da Alemanha para a Itália, a família Levi-Montalcini partiu de Turim para viver refugiada em Florença. Mas, no último período da guerra após o desembarque dos soldados aliados na cidade, Rita saiu do esconderijo para socorrer a população florentina em meio a uma epidemia de tifo. "Só então percebi que não tinha desprendimento emocional para clinicar", diz ela. "Por isso, decidi me dedicar à pesquisa."Assim, em 1951, Rita embarcou para os Estados Unidos, determinada a passar horas com os olhos grudados no microscópio, observando o desenvolvimento dos nervos em embriões de galinha. Naquela época, ela intuía que algo, uma substância qualquer, fazia os nervos dos embriões crescer, quando lhes enxertava células de tumores de ratos-era ali, no tumor, que devia estar o que batizou de NGF. Faltava apenas provar cientificamente a sua presença. Rita, então, pensou em recorrer a uma técnica, que havia usado nos anos 40, com o professor Giuseppe Levi-a cultura de tecido. Ou seja, ao se mergulhar células em um coquetel de nutrientes, elas continuam vivas e, desse modo, consegue-se observá-las, pode-se dizer, em plena ação. Essa técnica estava sendo desenvolvida no Brasil pela cientista alemã Hertha Meyer, que Rita conhecera em Turim. Hertha também judia, tinha fugido para o Brasil em 1939, sendo acolhida pelo biólogo e biofísico Carlos Chagas Filho, no Instituto de Biofísica, no Rio de Janeiro-cidade em que, por sinal, Hertha morou até morrer, no ano passado."Rita me escreveu pedindo para estagiar conosco, com uma bolsa da Fundação Rockefeller", conta Chagas Filho, na sala do Instituto de Biofísica que hoje leva seu nome, atrás de uma de suas duas mesas de trabalho, onde muitas vezes ele almoça. No final de 1952, Rita desembarcou no Rio de Janeiro sob um pé-d´água tropical. "Eu a encontrei no aeroporto, extrovertida, com uma capa impermeável e dois ratinhos portadores de tumor no bolso", recorda o professor. O biofísico levou a estagiária italiana direto ao laboratório, para colocar os passageiros-clandestinos em gaiolas. Só agora Rita confessa: "Eu poderia ter feito a cultura de células nos Estados Unidos. Mas, diante da possibilidade de realizar o sonho de vir para o Brasil, eu não hesitei". Ela só lamenta a falta de tempo para visitar outras cidades-"nem São Paulo eu cheguei a conhecer".Um dia depois de chegar, Rita iniciou a experiência com Hertha Meyer, preparando uma cultura de gânglios embrionários de pintos com um pedacinho do tumor de ratos. Para comparar, as duas cientistas também prepararam uma cultura apenas de gânglios de embriões. Segundo Carlos Chagas Filho, o resultado surgiu no dia seguinte: "Foi espetacular, pois o gânglio com células de tumor tinha lançado inúmeras fibras nervosas-e nada tinha acontecido com o outro gânglio. É raro uma experiência ter sucesso logo na primeira tentativa. Mas nesse caso o êxito era tão evidente, que mandei estourar uma champanhe Moët et Chandon para comemorar". O Instituto de Biofísica, embora bem - aparelhado, não dispunha de um microscópio de fotografia. Por isso, Chagas Filho entrou em seu automóvel e saiu em busca de um equipamento emprestado. Assim, Rita conseguiu provar a existência do NGF.Para o professor, hoje com 80 anos, o episódio marcou o início de uma grande amizade: "A primeira coisa que faço, quando chego a Roma, é ligar para Rita", revela o cientista, que antes de deixar a presidência da Academia de Ciências do Vaticano, há cerca de dois anos, depois de tê-la exercido por dezesseis, ia várias vezes por ano à Itália. As viagens, agora, reduzem-se a dois passeios anuais-mas o hábito de telefonar para a colega permanece. "Ela é uma das mulheres mais femininas que eu conheço", diz ele, sem esconder a admiração. Tão logo sabe que o amigo brasileiro está em Roma, Rita toma seu Alfa Romeo branco, que ela mesma pilota, para ir encontrá-lo. Invariavelmente, eles jantam juntos-ou em elegantes restaurantes, como o do Jardim Borghese, ou no apartamento que Rita divide com a irmã pintora Paola.Os sustos que Chagas Filho leva no trajeto de carro-"ela dirige muito depressa, como todos os motoristas em Roma"-são compensados pela excelência dos jantares, segundo o professor, quando são servidos "seis pratos e vinhos deliciosos", embora Rita só beba água San Pallegrino. Nos encontros, o assunto costuma ser literatura, o lazer predileto da cientista, que adora discutir sobre autores italianos modernos, como Umberto Eco e Alberto Moravia. "Rita também tem um enorme interesse pela política do país", conta Chagas Filho é conhecida sua preocupação com os estudantes pobres, para os quais ela criou uma fundação com o dinheiro de vários prêmios que já recebeu. "Eu sempre digo aos jovens que o primeiro truque é não concentrar-se excessivamente em si próprios, pois isso equivale a fechar-se em um quartinho", ela ensina. "O segundo truque é buscar com obstinação o próprio caminho. O medo da opinião alheia não deve condicionar alguém a tomar uma decisão que, no fundo, sente ser a escolha errada." Por causa de seu carisma, Rita acaba de ser convidada a participar de uma campanha de televisão contra as drogas. Mas nem sempre a pesquisadora teve essa popularidade.Rita viveu toda a década de 50 nos Estados Unidos. Quando voltou para a Universidade de Washington, depois do estágio no Rio de Janeiro, ela conheceu o bioquímico americano Stanley Cohen, com quem, anos mais tarde, dividiria o Nobel pela investigação do NGF. Juntos, eles descobriram aos poucos molécula por molécula que compõe a substância-que os dois cientistas, aliás, identificaram como uma proteína. Preocupada com a mãe idosa e com a irmã gêmea, que vivia sozinha, Rita retornou ao seu país em 1962, quando foi discriminada por muitos cientistas italianos, por ter passado tanto tempo no exterior. Em 1974, no entanto, ela foi a primeira mulher a entrar para a Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, por indicação de Carlos Chagas Filho Os conhecimentos sobre o NGF permitem a busca de novos tratamentos para o câncer, o crescimento desenfreado de uma célula, assim como para uma série de processos degenerativos. "Nos animais, o NGF é capaz de regenerar células nervosas, mas não temos provas de que isso ocorre com o homem. Por enquanto, é apenas uma esperança, esclarece a cientista. Fora prováveis aplicações clínicas, graças as pesquisas coordenadas por Rita, hoje se sabe que o NGF é muito mais do que o responsável pelo crescimento das células nervosas. 

Descobriu-se que a substância é capaz de estimular o sistema imunológico e o endócrino. Algumas experiências mostram que esse mesmo fator é capaz de condicionar a agressividade de ratos, o que mostra sua influência até no comportamento dos seres vivos. Diante de tudo isso, em abril do ano passado, a inquieta Rita Levi, elaborou uma hipótese: "O NGF pode ser uma espécie de maestro na orquestra do organismo", especula, os olhos brilhando de entusiasmo. "Ele parece estar ligando as funções vitais." 

Animada com a tese, ela não pára. Acorda quando o dia mal amanhece e vai direto para a máquina de escrever. Ela está sempre escrevendo-seja artigos, seja conferências. "Quando era adolescente, eu queria ser escritora, como a inglesa Virginia Woolf", conta. Em parte, esse sonho não deixou de ser realizado: sua autobiografia, lançada depois do Nobel, foi um best-seller nas livrarias italianas. E, agora, Rita aproveita os primeiros meses do ano para terminar dois livros de divulgação científica para o público jovem.Depois de escrever algumas folhas, ela pega o carro e dirige para o Instituto de Biologia Celular do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália. Ali. permanece três ou quatro horas trabalhando na sua antiga paixão, o NGF, até sair para o almoço- uma dieta espartana, à base de peixes e verduras cozidas. Às 17 horas, ela volta para o laboratório, onde fica pesquisando até o anoitecer. A agenda só é diferente quando a cientista faz conferências fora de Roma, o que costuma acontecer duas vezes por semana. Rita também é uma ativa militante pela conservação da memória da comunidade hebraica italiana, causa para a qual doou parte do dinheiro recebido com o Nobel. "Apesar disso, não sou religiosa, ela assume. "Minha crença se baseia no respeito à liberdade individual."De fato, ela não tolera a menor lembrança do anti-semitismo dos tempos de guerra-e um episódio doméstico recente ilustra bem esse horror. Em seu escritório, entre prateleiras de livros e plantas. Rita tinha um pôster do líder negro americano Martin Luther King. Mas, há poucos meses, caiu nas mãos da insaciável leitora uma biografia de Lutero, o fundador do protestantismo, que a deixou escandalizada pelo pensamento anti-semita. Ao chegar no ponto final do livro, a primeira atitude de Rita foi arrancar a imagem de Luther King da parede. Ainda o considero uma pessoa muito nobre" esclarece. "Só não quero esbarrar diariamente com o nome de seu xará."

Italianos premiados 

Com Rita Levi-Montalcini, dezessete italianos conquistaram o Nobel de disciplinas científicas-a Itália, aliás, é o nono país mais premiado. Isso não reflete uma tradição de investimento em pesquisa. A maioria desses pesquisadores teve de emigrar para se dedicar às suas experiências, como aconteceu com quatro dos cinco cientistas que receberam o Nobel de Medicina. Antes de Salvador Luria, Renato Dulbecco e Rita Levi Montalcini, foram contemplados Camilo Golgi, em 1906, por estudar o papel dos neurônios, e Daniele Bovet que, trabalhando na Suíça, descobriu os anti-histamínicos.


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domingo, 14 de outubro de 2012

Francês e americano ganham Nobel de Física de 2012


Francês e americano ganham Nobel de Física de 2012

Eles desenvolveram 'métodos de manipulação de sistemas quânticos'.
Anúncio aconteceu nesta terça-feira (9), na Suécia.

O Prêmio Nobel de Física de 2012 foi oferecido nesta terça-feira (9) ao francês Serge Haroche, do Collège de France, e ao americano David J. Wineland, da Universidade do Colorado, ambos de 68 anos, por seus trabalhos com "inovadores métodos experimentais que permitem medição e manipulação de sistemas quânticos individuais".

Eles desenvolveram formas de medir partículas quânticas (de escala minúscula) sem destruí-las, algo que antes parecia inatingível. Os premiados foram escolhidos pela Academia Real de Ciências da Suécia, que concedeu a eles um prêmio de 8 milhões de coroas suecas (US$ 1,2 milhão).
"Eles abriram a porta para uma nova era de experimentação em física quântica", declarou a Academia Real em nota.

Serge Haroche (esquerda) e David J. Wineland (Foto: Colllège de France e NIST/Divulgação)


“Para partículas individuais de luz ou matéria, as leis da física clássica deixam de se aplicar e assume a física quântica. Mas as partículas individuais não são facilmente isoladas do seu meio e elas perdem suas misteriosas propriedades quânticas, assim que interagem com o mundo exterior. Assim, muitos fenômenos aparentemente bizarros previstos pela física quântica não podiam ser diretamente observados”, explicou a academia.

Através de seus métodos de laboratório, Haroche e Wineland, juntamente com seus grupos de pesquisa, conseguiram medir e controlar estados quânticos muito frágeis, antes inacessíveis para observação direta. Esses novos métodos lhes permitem analisar, controlar e contar as partículas.
Embora desenvolvidos independentemente, seus métodos têm muitas coisas em comum. David Wineland prendeu átomos eletricamente carregados - ou íons – em “armadilhas”, controlando-os e medindo-os com a luz (fótons). Serge Haroche fez o caminho inverso: ele controla e mede fótons aprisionados através do envio de átomos por uma “armadilha”.

O professor Per Delsing explica, com dois espelhos, a forma como Haroche aprisiona fótons com uma 'armadilha', durante o anúncio do Nobel nesta terça-feira (9) (Foto: Reprodução)


Ambos trabalham no campo da óptica quântica e estudam a interação fundamental entre a luz e a matéria, área que tem progredido consideravelmente desde meados da década de 1980. Para a instituição sueca, seus inovadores métodos permitiram a esse tipo de pesquisa a dar os primeiros passos para a construção de um novo tipo de computador superrápido, com base na física quântica.

A pesquisa também levou à construção de relógios extremamente precisos que poderiam se tornar a base para um novo padrão de tempo, com mais de cem vezes maior precisão do que os relógios atuais de césio.





História do prêmio Nobel

Desde 1901, o Nobel de Física foi concedido a 192 pessoas em 105 premiações. O mais jovem a ser premiado foi Lawrence Bragg, que em 1915, quando ganhou, tinha apenas 25 anos. Ele é o mais jovem ganhador de qualquer Nobel, não apenas de física. O mais velho ganhador do de física é Raymond Davis Junior, que tinha 88 anos quando levou o prêmio, em 2002. John bardeen foi o único físico a receber o prêmio duas vezes - uma vez por seu trabalho com semicondutores e outra por sua pesquisa com supercondutividade. Em mais de um século de premiações, apenas duas mulheres ganharam o Nobel de Física.


Últimos ganhadores

Confira abaixo os últimos ganhadores do Nobel de Física:

2011: Saul Perlmutter e Adam Riess (Estados Unidos) e Brian Schmidt (Austrália/Estados Unidos)

2010: Andre Geim (Países-Baixos), Konstantin Novoselov (Rússia/Grã-Bretanha)

2009: Charles Kao (Estados Unidos/Grã-Bretanha), Willard Boyle (Estados Unidos/Canadá), George Smith (Estados Unidos)

2008: Yoichiro Nambu (Estados Unidos), Makoto Kobayashi e Toshihide Maskawa (Japão)

2007: Albert Fert (França) e Peter Grünberg (Alemanha)

2006: John C. Mather (Estados Unidos) e George F. Smoot (Estados Unidos)

2005: Roy J. Glauber (Estados Unidos), John L. Hall (Estados Unidos) e Theodor W. H¤nsch (Alemanha)

2004: David J. Gross, H. David Politzer e Frank Wilczek (Estados Unidos)

2003: Alexei A. Abrikosov (Rússia/Estados Unidos), Vitaly Ginzburg (Rússia) e Antony J. eggett (Grã-Bretanha/Estados Unidos)

2002: Raymond Davis Jr (Estados Unidos), Masatoshi Koshiba (Japão), e Riccardo Giacconi (Estados Unidos)





sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Casal Curie - Radium

O CASAL CURIE - Radium



Operários da ciência, Pierre e Marie construíram as bases do conhecimento moderno do átomo. Famosos, premiados, reclamavam que não podiam trabalhar tanto quanto queriam.

Quando se fala em átomo, urânio, radioatividade, a primeira idéia que vem à cabeça é a de uma imensa usina recheada de aparelhos sofisticados. Mas foi num pequeno galpão improvisado em laboratório, mais parecido com um celeiro ou uma estrebaria, que, em dezembro de 1898, o casal francês Pierre e Marie Curie fez uma descoberta que está na base da ciência moderna: o elemento químico a que chamaram radium. Eles trabalhavam com duas panelas em um fogão que esquentava mal e escreviam suas anotações sobre mesas ordinárias de madeira. O lugar, nos fundos da modesta Escola Municipal de Física e Química, em Paris, onde Pierre era professor, tinha sido emprestado pela diretoria. Foi desse trabalho quase primitivo que brotaram dois prêmios Nobel, atribuídos, um, ao casal e, outro, a Marie Curie, já viúva.
Não que, naquela época, a França fosse um país pobre. Mas os Curie eram. Marie Sklodowska, imigrante polonesa, chegara a Paris em 1891 tendo como diploma apenas o de professora. Voluntariosa, calada, forte, dona de uma rara curiosidade científica, memória prodigiosa e acentuado gosto pela Matemática, ela entrou para a Sorbonne. Em quatro anos, formou-se em Física e em Matemática. Estudante, vivia com os parcos recursos de uma bolsa e o pouco dinheiro que a sua irmã Bronia lhe enviava da Polônia. Essa renda mínima permitia a Marie apenas alugar um quartinho minúsculo e comer o estritamente necessário para sobreviver-e é certo que durante um bom período viveu praticamente de pão, manteiga e chá, a ponto de os colegas temerem por sua saúde.
Em abril de 1894, aos 26 anos, ela se dedicava a uma pesquisa sobre as propriedades de certos metais e, para tanto, procurava um lugar onde pudesse fazer suas experiências. Foi quando um amigo polonês fez, para ajudá-la, algo que mudaria o curso da vida de Marie e da própria ciência. Ele a apresenta a um conhecido, chefe de pesquisa na Escola de Física, chamado Pierre Curie. Pierre era alto, usava os cabelos castanhos cortados a escovinha, tinha barbicha e doces olhos castanho-claros. Era imensamente inteligente e, como ela, adorava a Física e a Matemática. Enfim, essas qualidades, além de uma enorme ternura, conquistaram a estudante.
Como ela, Pierre era tímido e introvertido. Como ela também, preocupava-se com problemas sociais. Filho de médico, aos 35 anos ainda morava na casa dos pais, na periferia de Paris. Anos antes de conhecer Marie, em 1880, Pierre e seu irmão Jacques tinham feito uma descoberta importante: a piezeletricidade, ou seja, a produção de corrente elétrica em conseqüência da compressão ou dilatação de cristais cuja estrutura molecular não é simétrica. As antigas cápsulas de cerâmica dos toca- discos, o acendedor elétrico de fogão e o relógio a quartzo, por exemplo, seriam conseqüências a longo prazo desse trabalho.
Na época, o físico já era conhecido na comunidade científica francesa e preparava sua tese de doutorado. Pierre, naturalmente, encantou-se com aquela mulher com a qual podia conversar sobre ciência-e ser compreendido, coisa rara naquele tempo. O resto foi decorrência. Pouco mais de um ano depois do primeiro encontro, em setembro de 1895 os dois se casaram. Ao voltarem da lua-de-mel, passada esportivamente numa viagem pelo interior da França a bordo de duas bicicletas, foram morar num pequeno apartamento perto da escola.
A essa altura, Pierre tinha sido promovido a professor e ganhava um pouco mais. Marie, por seu lado, se preparava para o concurso de mestrado e procurava um trabalho de pesquisa remunerado.
Os dois primeiros anos do casamento, conforme ela escreveu em autobiografia, foram "os melhores de minha vida". Eles passavam o dia na escola, cujo diretor havia permitido que Marie usasse ali um laboratório. Enquanto Pierre se dedicava às aulas e pesquisas sobre cristais, ela mergulhava num trabalho sobre variações das propriedades magnéticas de diversos tipos de aço em função de suas propriedades químicas (proporção de ferro na composição). "Nossa vida é sempre a mesma", escreveu ela numa carta ao irmão, na Polônia. Essa rotina foi alterada quando Marie engravidou. Ela teve uma gravidez difícil, a ponto de muitas vezes nem conseguir trabalhar.
Em setembro de 1896, Irène nasceu. Marie não permitiu que a condição de mãe a afastasse da Física. Assim, ao mesmo tempo que preparava sua monografia sobre os aços, ela procurava uma tese para seu doutorado-um ato surpreendente, já que havia, em toda a Europa, uma única mulher com o título de doutora: a alemã Elsa Neumann, autora de uma tese sobre eletroquímica. Marie seria a segunda. Eram tempos prodigiosos aqueles. No mundo científico pontificavam figuras gigantescas como Sigmund Freud e Louis Pasteur, este falecido em 1985. Faziam-se espantosos progressos no conhecimento e no uso da eletricidade, media-se com precisão a velocidade da luz.
Pesquisadores ousados subiam em balões a 10 mil metros para fazer a previsão do tempo, enquanto nos Estados Unidos cartões perfurados ajudavam a coletar e interpretar os dados do recenseamento. Foi no ano em que Irène nasceu que o francês Antoine-Henri Becquerel (1852- 1908) descobriu que os sais de urânio emitiam raios que, como os raios X, penetram a matéria. Interessada, Marie resolveu tirar daí sua tese: medir esses raios e verificar se, além do urânio, havia outros elementos capazes de produzir radiações. Logo nas primeiras semanas fez uma descoberta animadora: o tório e seus compostos tinham as mesmas propriedades do urânio. Marie passou a outra série de experiências. Com um aparelho inventado por Pierre, mediu a intensidade da corrente provocada pelos compostos de urânio e tório. O primeiro resultado foi a descoberta de que a atividade dos compostos de urânio dependia apenas da quantidade de urânio neles presente-e de nada mais. Do ponto de vista científico, foi essa descoberta-e não as posteriores, às quais ela iria dever sua celebridade - que constitui a obra-mestra de Marie Curie.
Afinal, ela tinha provado que, ao contrário do que se poderia supor na época, a radiação não era conseqüência nem da interação entre as moléculas, nem da formação de novas moléculas, nem ainda da reorganização de moléculas em novos esquemas-como ocorre numa reação química normal.
A nova energia só podia se originar dos átomos propriamente ditos: a radiação é obrigatoriamente uma propriedade dos átomos de certos elementos químicos. A partir dessa descoberta, a ciência adquiria as primeiras condições de decifrar os mistérios atômicos.
Entre as substâncias manipuladas por Marie Curie estavam dois minerais que, segundo ela desconfiava continham forte proporção de urânio a pechblenda e a chalcolita. Ela intuía que esses minerais continham, na verdade, pequenas quantidades de outra substância-então ainda desconhecida-consideravelmente mais ativa que o próprio urânio. Ao ser colocado diante da hipótese, Pierre ficou intrigadíssimo e resolveu interromper seus trabalhos com os cristais e dedicar-se aos átomos. Era 14 de abril de 1898.
Marie tinha a mania de anotar tudo que fosse quantificável. Em cadernos meticulosamente organizados, marcava o preço dos sapatos do marido, a conta da lavanderia, da eletricidade ou dos queijos. Essa obsessão foi muito útil para sua atividade científica, já que as notas continham sempre observações objetivas. Se ela tivesse que registrar que estava cansada, diria "subi 25 degraus e tive de parar". Os cadernos de Marie revelam que o casal trabalhava até altas horas. As únicas distrações que se permitiam eram uma rara peça de teatro ou um passeio de bicicleta ou ainda uma reunião com os colegas cientistas, nas tardes de domingo. Nenhum dos dois gastava muito: comiam pouco e se vestiam modestamente.
Uma das marcas registradas de Marie, por exemplo, eram seus vestidos, sempre compridos e pretos, cinza ou marinho. Em junho de 1898, apenas dois meses depois de iniciada a pesquisa com a pechblenda, algo extraordinário aconteceu. No dia 6, sabe-se pelas anotações, Marie pegou uma solução de nitrato de bismuto e misturou-a a sulfato de hidrogênio. Depois, recolheu o sólido assim precipitado e mediu sua atividade. O resultado está sublinhado: " 150 vezes mais ativo que o urânio". No mesmo dia, depois de colocar sulfato de bismuto numa proveta e aquecê-lo a 300 graus, Pierre percebeu que um fino pó negro se depositara no vidro. Em dado momento, a proveta estourou, mas a atividade do pó negro foi medida: 330 vezes superior à do urânio. À medida que purificavam a substância, com a retirada do bismuto, mais ela se revelava radioativa.
Como suspeitava Marie, estavam diante de um novo elemento-e, em homenagem a seu país natal, chamaram- no polonium (polônio, em português). De julho a novembro de 1898, o casal se afastou do laboratório para cuidar da saúde. Ambos sentiam um cansaço inexplicável e dores leves mas preocupantes. Estavam frágeis e ficavam doentes continuamente. Pierre achava que estava com reumatismo. As pontas dos dedos de Marie doíam muito e rachavam à medida que ela manipulava as soluções purificadas. Eram já conseqüências da radioatividade-mas, à época, não se conheciam seus efeitos nocivos para o organismo.
De volta à pesquisa, obtiveram uma substância novecentas vezes mais radioativa que o urânio. Ao novo elemento deram o nome de radium (rádio). A 26 de dezembro, a descoberta é comunicada à Academia de Ciências numa nota assinada por Pierre, Marie e ainda pelo químico Georges Bémont-chefe da equipe de pesquisas da escola. Só faltava provar que o rádio era um elemento da natureza e não uma substância produzida em laboratório. Foi a isso que, de 1899 a 1902, o casal se dedicou. Pierre mergulhou no estudo das propriedades da radiação, enquanto Marie tentava isolar a substância e obter um frasco de sal de rádio. Para consegui-lo, ela trabalhou sobre toneladas de resíduos de pechblenda.
"Eu passava às vezes o dia inteiro a mexer uma massa em ebulição com um bastão de ferro quase tão grande quanto eu. A noite, estava quebrada de cansaço", escreveu Marie. Apesar disso, esse trabalho era sua paixão. À noite, depois de voltar para casa e cuidar da filha, eles retornavam ao laboratório. "Para dar uma olhada", dizia Marie. "Nossos preciosos produtos, para os quais não tínhamos abrigo, estavam colocados sobre mesas e prateleiras; de todos os lados víamos suas silhuetas fracamente luminosas, e essas luzes que pareciam suspensas na escuridão eram um motivo sempre novo de emoção e encantamento." O rádio purificado é uma substância luminosa e fluorescente.
Em 1900, Pierre foi finalmente convidado para professor da Sorbonne, enquanto Marie assumia o posto de professora de Ciências Físicas na Escola Normal Superior da cidade de Sèvres, perto de Paris, só para moças. Os novos empregos roubam tempo às pesquisas. Mas, em março de 1902, Marie escreve: "Ra = 225,92". Ou seja, ela havia chegado ao peso de um átomo de rádio. As experiências sobre as propriedades do rádio pareciam indicar que ele poderia ser útil no combate ao câncer.
A notícia correu mundo e o casal foi propelido à celebridade. Pierre é convidado a pronunciar uma conferência na respeitadíssima Royal Society de Londres, o templo supremo da ciência européia. Marie recebe menção honrosa ao apresentar sua tese de doutorado em Física, na Sorbonne. Em dezembro de 1903, enfim, a Academia Sueca concede o Prêmio Nobel de Física ao casal Curie e a Antoine-Henri Becquerel. A fama chegou para atrapalhar o casal. Acostumados a uma vida quieta, eles não conseguem se livrar dos inúmeros convites para entrevistas, recepções, jantares ou espetáculos ao lado dos grandes nomes da sociedade. Um ano depois do Prêmio Nobel, sua filha Eve nasce-e isso complica ainda mais as coisas.
Pierre se incomoda profundamente com o novo ritmo. Numa carta enviada a um amigo de infância, em julho de 1905, desabafa: "Há mais de um ano não faço nenhum trabalho e não tenho um minuto para mim. Esta é uma questão de vida ou de morte do ponto de vista intelectual". Mesmo assim, pressionado pelo reitor da Universidade de Paris, no mesmo ano Pierre aceita disputar uma cadeira na Academia de Ciências-na primeira tentativa, anos antes, ele fora derrotado e sofrera com isso. Desta vez, ganha. Em abril de 1906, Pierre acabara de abandonar os trabalhos com a radioatividade e se preparava para voltar a seus velhos cristais. Na tarde do dia 5, depois do almoço dos professores da Faculdade de Ciências, foi a pé até a editora que publicava seus artigos. A porta estava fechada: gráficos em greve. Pierre. Então, decidiu caminhar até o cais do Sena, em direção à Academia.
No meio do caminho, foi atropelado: a roda de uma charrete passou por cima de sua cabeça. Tinha apenas 47 anos. Arrasada com a notícia, Marie se abandonou a uma dor profunda. Sete meses mais tarde, depois de muita insistência, aceitou ocupar a cadeira que pertencera ao marido na Sorbonne. Sua aula inaugural reuniu mais de uma centena de pessoas dos mais diferentes meios. Ela não fez por menos: começou o curso retomando a última aula de Pierre, exatamente onde ele havia terminado. Nos quatro anos seguintes, além de lecionar, dedicou-se a extrair rádio puro, numa tarefa penosa.
Taciturna, reservada, preocupada em preservar sua privacidade, Marie viu-se em 1911 no centro de um escândalo. A mulher do físico Paul Langevin -que freqüentou a roda dos Curie por longos anos-tornou pública a correspondência amorosa entre Marie e seu marido. O escândalo foi tal que, por alguns meses, com a saúde abalada, ela viveu escondida fora de Paris, com o nome de solteira. No meio desse furacão, a Academia Sueca Ihe concede seu segundo Prêmio Nobel-desta vez de Química, pela descoberta do rádio e do polônio.
Em 1914, graças à doação do milionário americano Andrew Carnegie, é construído em Paris o Instituto do Radium-e um dos prédios é o Pavilhão Curie, onde ela instalará seu laboratório. Mas o trabalho científico teria que esperar: a Primeira Guerra Mundial mobiliza as energias da cientista. Ela cria uma rede de postos volantes de raios X em todo o front francês.
No fim da guerra, retoma suas pesquisas e, desde então, passa os dias trabalhando doze, catorze horas por dia no laboratório. Em 1921, um giro de conferências a leva a vários países, entre eles o Brasil. Nos Estados Unidos teve uma acolhida triunfal-as mulheres se cotizaram para doar-lhe um grama de rádio, que ela utilizaria nas pesquisas sobre aplicações da radioatividade em Medicina.
A essa altura, Marie era amiga de todos os grandes nomes da ciência, Albert Einstein, por exemplo, chegou a passar férias com ela, na sua casa no sul da França. O curie tornou-se a unidade de medida da radioatividade. Com a saúde minada e quase cega, Marie morreria aos 66 anos, em 1934, vítima de leucemia-provável conseqüência de anos de manipulação de substâncias radioativas. Um ano a mais de vida e ela teria tido a alegria de ver a filha Irène e o genro Frédéric Joliot-ambos físicos e formados à sombra da velha dama-receberem o terceiro Prêmio Nobel (de Química) da família Curie.



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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Flor usada no Egito antigo tem sucesso contra câncer

Flor usada no Egito antigo tem sucesso contra câncer em pesquisa
Remédio feito com açafrão-do-prado destruiria células cancerígenas, preservando tecidos saudáveis.


O pesquisador Laurence Patterson (Foto: PA)
Um novo remédio feito com uma flor que já tinha usos medicinais no Egito antigo pode destruir células de câncer, segundo uma pesquisa realizada por cientistas britânicos.
A nova droga produzida a partir do açafrão-do-prado (Colchicum autumnale) circula na corrente sanguínea, mas só é ativada por uma substância química emitida por tumores malignos.
Ela atacaria então as células cancerosas que se espalharam, mas deixaria intactos os tecidos saudáveis.
O remédio foi testado com sucesso em camundongos contra câncer de mama, intestino, pulmão e próstata, mas deve ser eficiente contra qualquer tipo de tumor sólido, segundo os pesquisadores.
Nos testes de laboratório, metade dos camundongos ficou completamente curada após uma única injeção da droga e houve redução no ritmo de crescimento dos tumores em todos os animais testados.
Os testes clínicos devem começar em até dois anos.


Açafrão-do-prado (Foto: Arnhoffer Károly/Creative Commons)
'Inanição'
Os pesquisadores dizem que a chave para o sucesso do tratamento é que ele é ativado por uma enzima usada pelos tumores para invadir os tecidos a seu redor.
Uma vez ativado, o remédio destrói as veias que alimentam o tumor e faz com que o câncer morra de inanição.
'O que criamos é, efetivamente, uma 'bomba inteligente', que pode ser direcionada a matar qualquer tumor sólido, aparentemente sem danificar os tecidos saudáveis', disse o líder da pesquisa da Universidade de Bradford, Laurence Patterson.
Veneno
O extrato do açafrão-do-prado tem um histórico de usos medicinais e também como veneno na Grécia e no Egito antigos.
Mais frequentemente, a substância colchicina, retirada da planta, é usada no tratamento de crises de gota.
Tentativas anteriores de usá-la no combate ao câncer fracassaram devido à alta toxicidade do composto, mas o problema teria sido resolvido depois que a equipe britânica conseguiu torná-la inofensiva até entrar em contato com um tumor.
A nova droga pertence à mesma família de remédios do Paclitaxel, o agente de quimioterapia mais usado no mundo, produzido a partir da casca da árvoreTaxus brevifolia.
'Se (os resultados) forem confirmados em testes de laboratórios mais extensos, os remédios baseados nessa abordagem podem ser muito úteis como parte de uma combinação de tratamentos contra diversos tipos de câncer', disse Paul Workman, do Instituto de Pesquisa do Câncer, em Londres.
Pacientes do Hospital de St. James, em Leeds, poderão ser os primeiros a testar o novo remédio dentro de 18 a 24 meses.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Foi quase - César Lattes


FOI QUASE - César Lattes



No dia 24 de maio de 1947, o mundo foi informado de que, ao contrário do que aprendemos na escola, a composição do átomo não se resume a nêutrons, prótons e elétrons. A prestigiada revista Nature anunciou a descoberta e a comprovação da existência da partícula subatômica méson pi, responsável pela ligação das partículas nucleares, e sem a qual tudo o que chamamos de matéria não poderia existir. Por trás da pesquisa, decisiva para a exploração do átomo e favorita ao Nobel de Física desde o momento em que foi divulgada, estava o brasileiro César Lattes. Ele tinha 22 anos.

O prêmio não veio. E menos de um ano após descobrir o méson pi, Lattes chacoalhou a ciência novamente ao reproduzi-lo artificialmente. Dessa vez o experimento levou o Nobel, mas quem ficou com a honraria foi o americano Cecil Powell, que era chefe do brasileiro e não tinha participado diretamente das pesquisas. Ninguém entendeu. "Deixa isso pra lá, prêmios grandiosos não ajudam a ciência", dizia.

Desde a morte da esposa, há dois anos, Lattes saía pouco de sua casa em Campinas, interior de São Paulo. Foi lá que recebeu o repórter Daniel Azevedo, colaborador de um jornal científico de São Carlos, para aquela que seria sua última entrevista, no final de fevereiro. O físico morreu de parada cardíaca no dia 8 de março, aos 80 anos.

Sem exagero, os obituários o descreveram como o mais importante físico brasileiro de todos os tempos. Além da descoberta e criação artificial do méson pi, ele ajudou a criar o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF ) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O merecido Nobel acabou vindo postumamente, na forma de um erro de imprensa: ao anunciar a morte de Lattes, a agência de notícias Associated Press (AP) o descreveu como "físico ganhador de um Prêmio Nobel."



Você faz críticas seguidas a algumas das mais respeitadas teorias da física. Em especial, ao surgimento do Universo a partir de uma explosão, o big-bang. Como o Universo pode ter surgido sem um ponto inicial?

Ele pode ter tido vários núcleos iniciais. Por que não? Acredito em um Universo indefinido, que é diferente de iniciado ou infinito. Qualquer teoria que tente explicar a origem do Universo é bobagem. O big-bang é a teoria de um traque, uma charlatanice. Na verdade, nem mesmo é uma teoria. É apenas uma hipótese. Perguntam para mim: então, de onde surgiu a matéria? A resposta é: não sabemos. O que existe de real são apenas dados experimentais. As pessoas afirmam coisas sobre as quais não se pode fazer experiências para comprovar.



Albert Einstein também recebeu críticas suas. Quais foram os erros dele?

A teoria da relatividade começou a ser concebida por volta de 1880 por um físico francês chamado Jules Poincaré. Depois, Einstein fez uma teoria da gravitação fajuta, que chamou de relatividade geral, algo que não existe. Einstein, na verdade, é um plagiador. Este ano completamos 100 anos da divulgação da teoria da relatividade e até hoje ninguém o desmascarou.



Quem, então, é o mais importante físico moderno?

São dois: Niels Bohr e Ernst Rutherford. Eles são dois monstros. O Rutherford, que descobriu a existência do núcleo atômico [em 1911], era mais pé-no- chão. O Bohr [teórico da estrutura e dos espectros atômicos, ganhador do Nobel de Física em 1922], mais visionário: morreu tentando convencer os americanos a não fazerem a bomba atômica.



Como você avalia a importância da descoberta do méson pi?

Por volta de 1946, eu estava com a idéia fixa de que havia partículas intermediárias que garantiam a ligação entre prótons e nêutrons. Na verdade, já se sabia que seria impossível existir matéria sem essas partículas, sem elas não haveria ligação no núcleo atômico. Demonstrar a existência do méson pi foi útil para entendermos como uma forma de energia se transforma em outra. Mas a importância é antes de tudo teórica, não diria que ela abriu perspectivas na física aplicada. Até hoje não existe uma máquina que funcione graças à descoberta. Apenas entendemos que esta partícula está em toda matéria.



E como foi o processo para a descoberta e criação artificial do méson pi?

Foi uma grande aventura. Durante as pesquisas, precisava fazer uma experiência numa cidade com grande altitude. Escolhi Chacaltaya, na Bolívia, para onde voaria com uma companhia aérea inglesa. Logo depois, fui aconselhado a não viajar em aviões ingleses, que ainda enfrentavam problemas mecânicos por culpa da Segunda Guerra, que acabara um ano antes. Troquei a passagem para um avião brasileiro, da Panair. Quando cheguei, fiquei sabendo que o avião inglês havia se esborrachado no Senegal.



Você tinha 22 anos quando demonstrou a existência do méson pi. Como a notícia de que um jovem descobrira algo tão importante foi recebida?

Entre os cientistas, a recepção foi normal. Na época, outros grupos estavam fazendo pesquisas parecidas, então não foi uma surpresa. Mais forte foi a atenção da imprensa européia e do Brasil. A notícia saiu na primeira página de vários jornais.



Você acha que o fato de ser brasileiro contribuiu para que outro pesquisador ganhasse o Nobel de Física nas pesquisas em que você participou?

Apesar de a comissão julgadora ser formada por ingleses, acredito que não foi minha nacionalidade que pesou na decisão do vencedor. Tanto na descoberta do méson pi, em 1946, como na sua criação artificial, em 1948, tive colaboração do Giuseppe Occhialini. Quem deveria ter ganho era ele. E, em 1950, quem levou o prêmio foi o Cecil Powell, que também participou do trabalho. Mas deixa isso para lá. Esses prêmios grandiosos não ajudam a ciência.



Cientistas costumam ter uma relação conturbada com a religião. Como você lida com a fé?

Não tenho ligação com a religião. Tenho em casa algumas bíblias que ganhei. São livros bonitos, mas com os quais eu não tenho qualquer relação. Não sei como religião e ciência se aproximam. Como um Deus onipotente deixa acontecer um maremoto que mata centenas de milhares de pessoas?



O que pode ser feito para avançarmos no conhecimento da física no Brasil?

Acho que está sendo feito o necessário, dentro da possibilidade brasileira. Acho apenas que o ensino da física deveria ter mais experiências. É sempre melhor que o aluno faça o próprio equipamento. Hoje, ninguém constrói o próprio equipamento - vai à loja e compra. Isso é ruim porque coisas compradas limitam os resultados.



Qual a contribuição que a física ainda pode dar à vida na Terra?

A física só explica e entende a natureza. Aplicá-la é outra questão. Com a física fica muito mais fácil obter coisas que no passado eram penosas. Mas existem problemas novos que a física ainda não conseguiu abarcar. E eu não tenho idéia do que poderá ser feito com novos conhecimentos.



A física ainda tem muito a explicar?
Em relação ao que ainda está aí para ser descoberto, falta tudo.


domingo, 5 de setembro de 2010

Físico que ganhou Nobel por descoberta aos 21 anos se dedica à literatura

10/01/10 - 09h30 - Atualizado em 10/01/10 - 10h01

Físico que ganhou Nobel por descoberta aos 21 anos se dedica à literatura
Frank Wilczek confirmou algumas das ideias mais básicas de Einstein.
Seu trabalho de doutorado dos anos 1970 recebeu o prêmio em 2004.




Frank Wilczek, de 58 anos, recebeu o Nobel por seu trabalho sobre cromodinâmica quântica, um avanço teórico que faz parte da base da física moderna. (Foto: Gretchen Ertl/The New York Times)

Frank Wilczek, de 58 anos, é professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e um dos três ganhadores do Nobel de Física de 2004. O prêmio veio pelo trabalho que ele fez na época em que tinha vinte e poucos anos, com David Gross, de Princeton, sobre cromodinâmica quântica, um avanço teórico que faz parte da base da física moderna.

Veja a versão editada de duas conversas com Wilczek, em outubro e dezembro de 2009. O físico, cujo trabalho confirmou algumas das ideias de Einstein, está escrevendo um romance de mistério.

Nos dias de hoje, quando todo mundo acha que seu próprio filho é um gênio, você, quando era criança, era um bebê Einstein?

Meus pais não pensavam assim. Eles eram filhos de imigrantes da Polônia e da Itália, pessoas bem humildes. Eu cresci no Queens e frequentei escolas públicas.

Quando criança, gostava de quebra-cabeças, tentava descobrir como coisas abstratas se encaixavam. A grande lembrança da minha infância é que toda semana meus pais me levavam a uma loja de brinquedos, e eu podia escolher qualquer coisa. Se eu queria um modelo B-57 ou um carrinho de brinquedo? Tinha de fazer escolhas e eu realmente pensava sobre minhas prioridades. Isso moldou meu cérebro para ser o que é. Ainda penso dessa forma.

Então, quando foi que os Wilczeks perceberam que tinham um prodígio em casa?

Fiz um teste de QI no ensino básico. Os professores disseram: "Hmm, talvez vocês devam tirá-lo do ensino público". Isso realmente mudou meu relacionamento com meus pais. De repente, em vez de ter uma criança que simplesmente queria ser o manda-chuva, eles tinham esse... fenômeno. Eles davam conselhos com cautela. Era tipo "Você é o chefe". Mas eu frequentei escola normal, a Martin Van Buren High. Sempre estava alguns anos à frente. Tinha acabado de completar 15 anos quando fui para a Universidade de Chicago.

A descoberta pela qual você ganhou o Nobel, você conseguiu isso aos 21 anos, certo?

Era minha tese de doutorado. No começo da década de 1970, estava fazendo trabalho de pós-graduação em matemática em Princeton, e não tinha certeza se queria ser matemático. Por sorte, o prédio de matemática estava ligado ao de física. De alguma forma, fluí para lá e conheci David Gross.

Havia bastante coisa interessante acontecendo na física naquela época. Quando comecei naquela direção, não tinha como voltar atrás. Descobri que eu era muito bom em física teórica e que havia muitas coisas que eu podia fazer. Uma ideia veio depois da outra.

Com a QCD, pensei: 'Puxa, a natureza obedece a leis matemáticas"
Você poderia explicar a tese para um leigo em física?

Uma grande pergunta na época era: qual é a grande força, uma das quatro forças básicas, a força mais poderosa da natureza, que, entre outras coisas, mantém unido o núcleo do átomo? Havia muitos fatos conhecidos sobre a grande força, mas nenhuma teoria real.

Freeman Dyson tinha dito que levaria cem anos para que pudéssemos entender. Mas David e eu progredimos para fazer uma proposta para as equações fundamentais que governam essa grande força. Também propusemos experimentos para verificar as equações, que depois foram provadas. O segredo era uma propriedade de quarks chamada "liberdade assintótica".

É única entre as forças da natureza no que ela desliga as partículas para chegar uma perto da outra. De forma contrária, o poder da força cresce com a distância. Isso foi visto através de experimentos, mas mostrou ser muito difícil relacionar com a mecânica quântica e a relatividade.

Bem, David e eu descobrimos que isso poderia ser relacionado. Porém, apenas em uma teoria única, matematicamente intricada e altamente simétrica cujas lindas equações poderíamos escrever. Essa teoria é hoje chamada de cromodinâmica quântica, ou QCD.

Ela resultaria em novos conhecimentos sobre as partículas que formam o universo, sobre como a matéria obtém massa. Ela nos ajudou a entender mais sobre o universo mais antigo e sugeriu novas ideias sobre a unidade das forças na natureza.

Você fez tudo isso em menos de um ano. O que você pensou depois de terminar?

Que aquilo era lindo. Filósofos da época de Aristóteles em diante diziam que a ciência fundamental era parecida como a experiência do dia a dia, onde há princípios básicos, que não poderiam ser precisos, pois você cairia em paradoxos e contradições. Então, com a QCD, pensei: "Puxa, a natureza obedece a leis matemáticas".

Essa foi uma conseqüência maravilhosa daquele trabalho, não a tínhamos previsto. Ele propôs essa possibilidade de converter massa em energia, e viceversa. Foi o que fizemos em teoria: mostramos que a maior parte da massa de matérias ordinárias vem da energia dos quarks e glúons que se movem. Então, confirmamos, estendemos e alcançamos suas ideias.

Como você pode imaginar, Einstein era um dos meus maiores heróis quando eu era criança. Acho que ele iria gostar do meu trabalho. Assim espero. O trabalho sobre a QCD, que a energia é a fonte da massa, confirmou algumas das ideias mais básicas de Einstein. Foi boa a sensação de confirmar o mestre?




Apesar de não estar diretamente envolvido nos testes, o trabalho de Wilczek serve de base para as pesquisas do Grande Colisor de Hádrons do CERN (Foto: NYT)

Como você pode imaginar, Einstein era um dos meus maiores heróis quando eu era criança. Acho que ele iria gostar do meu trabalho. Assim espero"
Agora que o Grande Colisor de Hádrons do CERN está se preparando para mais experimentos, você vai trabalhar lá?

Não, eu iria atrapalhar. Porém, propus algumas equações fundamentais, e espero que elas sejam testadas e verificadas no GCH. Não me envolvi com os detalhes.

No entanto, a QCD terá muita prática no GCH porque grande parte do que acontece ali é governado pela QCD. É a teoria da forte interação, que acontece muitas vezes nas colisões que eles irão produzir.

Em que você esteve trabalhando desde o Nobel?

Tenho pensado sobre essas partículas chamadas axions e como elas influenciam a cosmologia. Estou tentando me dedicar mais seriamente a unir tudo que eu pensei antes – a ideia de supersimetria e axions, o que acontece se você unir os dois.

Também tenho trabalhado em uma eletrônica exótica. Peguei ideias desenvolvidas na física de alta energia, sobre propriedades incomuns que as partículas podem ter, e tentei encontrar alguns exemplos que emergem em materiais em baixas temperaturas, onde a mecânica quântica realmente produz o rendimento máximo. Há algumas ideias nisso para possivelmente ajudar a fazer um computador quântico futuro.

Além disso, estou escrevendo um livro de mistério, que estou chamando de "A Atração da Escuridão" (tradução livre). O fio condutor central dele são quatro físicos, dois homens e duas mulheres, que colaboram e descobrem o que é a matéria escura. Por isso, eles devem receber o prêmio Nobel. Porém, as regras dizem que no máximo três pessoas podem dividir o prêmio. Um dos quatro morre, um suposto suicídio, mas depois vemos que talvez não. Estou colocando muito sexo, música e filosofia no livro.

De onde veio a ideia da história?
Existem situações assim. Há muitos casos onde alguma descoberta notável contesta suas origens. Às vezes, há cinco ou seis pessoas que podem ser candidatas a determinado prêmio. A situação traz várias possibilidades para uma história de mistério.

Comecei a pensar nisso quando estava em Estocolmo recebendo o Nobel. Toda a visão de conjunto da coisa, comecei a ter consciência. Comecei a pensar no processo e como todas as coisas que aconteciam pareciam exageradas. Minha promessa de Ano Novo é terminar o livro até meu aniversário, em meados de maio.