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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Sinestesia: saiba o que a neurociência já avançou sobre a mistura dos sentidos


Sinestesia: saiba o que a neurociência já avançou sobre a mistura dos sentidos


Sentir o cheiro de uma cor, distinguir a forma de uma voz ou ouvir uma textura suave: metáforas utilizadas na poesia, na literatura e na arte, em geral, são o único modo que algumas pessoas têm de compreender a realidade.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O sentido da vida - O olfato

O SENTIDO DA VIDA - O olfato



Um simples aspirar e basta - qualquer cheiro é suficiente para despertar fome, provocar atração ou repulsa, trazer de volta cenas do passado. Cheirar é se emocionar sempre. Mas na maioria das vezes isso é tão sutil que não se dá importância e se acaba torcendo o nariz para o olfato - o mais primitivo e intrigante dos sentidos, e com certeza o menos conhecido pela ciência. Poucos percebem que, num mundo onde quase tudo tem odor, é esse sentido que decifra as mensagens químicas - das quais freqüentemente depende a própria sobrevivência - passadas pelos animais, vegetais, minerais e objetos manufaturados.
Além disso, é graças ao olfato, um aliado do paladar, que se sentem as diferenças de sabores, o que faz toda a diferença quando se está resfriado.
Para a maioria das espécies animais, o olfato é uma questão de vida ou morte. As gazelas são um exemplo: ao sentir o cheiro do leão ou de outro carnívoro feroz, saem correndo antes do ataque. Já entre os ratos, o olfato exerce um papel mais sofisticado: se uma rata é fecundada por um membro de sua própria família, aborta imediatamente ao sentir o odor de um rato estranho, com o qual se acasalará logo em seguida - como se tivesse consciência de que a mistura dos genes garante uma prole mais saudável.
Apesar de tudo, a função do olfato foi perdendo importância no decorrer da evolução das espécies. Os primeiros seres, que viviam nas profundezas dos oceanos, certamente só possuíam esse sentido, com o qual localizavam a comida, descobriam os parentes e evitavam os inimigos. O cérebro tinha apenas centros olfativos, que interpretavam os odores, e centros motores, que controlavam os movimentos. Quanto mais as espécies foram evoluindo, diminuía o tamanho da área cerebral especializada no olfato, chamada rinencéfalo, que cedeu espaço para outras estruturas especializadas. No homem, por exemplo, uma área do rinencéfalo foi ocupada pelo uncus, a parte do cérebro que controla as reações motoras do organismo diante das emoções, como tremer de medo.
No final das contas, o nariz do homem acabou perdendo para qualquer focinho de animal. No ser humano, as células olfativas cobrem uma área de 10 centímetros quadrados do nariz; já no cachorro, essas células ocupam 25 centímetros quadrados; e no tubarão, 60. Enquanto o homem, para perceber o cheiro do ácido acético - presente no vinagre - precisa de 500 milhões de moléculas dessa substância por metro cúbico de ar, o cão pode sentir o mesmo cheiro com apenas 200 mil moléculas.
Esse número de moléculas pode parecer imenso, mas é um nada perto da quantidade de substâncias odoríferas que as coisas exalam a todo instante. Uma pessoa produz cerca de meio litro de suor por dia; desse volume, apenas uma fração mínima passa pela sola do sapato. Mesmo assim, a cada passo deixa-se no chão cerca de 250 mil moléculas de ácido butírico, um dos componentes do suor. Com apenas um milésimo dessa quantidade, um cão poderia sentir seu cheiro - eis por que ele consegue farejar um rastro, mesmo quando a pessoa já passou há algum tempo e muitas das moléculas de seu suor se evaporaram.
Para que algo tenha cheiro é necessário que seja volátil, ou seja, que solte moléculas gasosas. E, no caso, justiça se faça ao nariz humano: apesar de menos equipado, entre todos os mamíferos, sua capacidade é maior do que se imagina. Segundo o otorrino Paulo Augusto de Lima Pontes, professor da Escola Paulista de Medicina, basta que apenas dez moléculas alcancem a câmara olfativa do nariz para que determinado odor seja sentido. "Todo o processo", ele explica, "não leva mais que um décimo de segundo." Tamanha rapidez não significa que tudo seja simples. A olfação é tão complexa que só no século passado foram formuladas cerca de quarenta teorias diferentes a respeito de seu funcionamento. No século passado, também se acreditava que existiam aromas básicos, que formariam todos os odores conhecidos, da mesma maneira como as cores primárias compõem as demais cores. Se fosse assim, as moléculas de uma rosa dentro da câmara olfativa acionariam células receptoras especializadas em aromas florais. Mas como o dono do nariz saberia a diferença entre o perfume da rosa e o do jasmim? Hoje em dia, os cientistas pensam que um determinado odor seria reconhecido no cérebro pela combinação dos tipos de receptores que estimulariam, e pela quantidade e intensidade desses estímulos. A variedade de odores que um nariz pode reconhecer é colossal. "Cada pessoa", diz o professor Pontes, "tem aproximadamente 25 milhões de receptores olfativos e todos eles podem ser diferentes entre si."
Todo esse equipamento está pronto para entrar em ação assim que se nasce - enquanto os demais sentidos só vão funcionar perfeitamente depois de alguns dias de vida. Observando o comportamento dos bebês, os cientistas concluíram que a partir da primeira semana eles já reconhecem o odor da mãe. Todas as pessoas, por sinal, têm um cheiro próprio, uma espécie de combinação final de todas as substâncias odoríferas liberadas através da pele. Não se sabe ainda se o cheiro de cada um é de fato uma marca registrada tão particular como uma impressão digital. É provável que sim.
Os adultos também reconhecem o odor de outras pessoas. Cientistas italianos descobriram que um dos primeiros sinais do final de um romance é quando um dos parceiros passa a não suportar o cheiro do outro - um cheiro, aliás, sutil, embaçado por perfumes e desodorantes, e que portanto necessita de muita intimidade para ser captado pelo nariz humano. Nos animais a relação olfato-sexo é absoluta. É pelo cheiro que os machos da quase totalidade das espécies ficam sabendo que uma fêmea está no cio. Nesse sistema de informação, as mariposas parecem imbatíveis: um macho pode sentir o cheiro de uma fêmea a 2 quilômetros de distância.
Se os seres humanos não precisam se cheirar uns aos outros para reconhecer quem é homem e quem é mulher, certamente precisam do olfato para experimentar a atração sexual, embora isso não seja consciente. Sexo sem cheiro também dá prazer, mas nem tanto, descobriram recentemente cientistas norte-americanos. Numa pesquisa, eles verificaram que uma de cada quatro pessoas com anosmia - perda total de olfato - tem problemas de desempenho sexual.
Não se sabe quantos brasileiros sofrem de perda parcial ou total do olfato, mas quando o problema ocorre quem mais reclama são as donas de casa. Elas percebem que não têm mais olfato quando deixam o feijão ou o café queimar. As donas de casa, ao menos, reclamam da falta de capacidade de sentir odores. Mas muitas pessoas que perdem o olfato não sabem que o perderam. "Quem vai aos consultórios porque perdeu o olfato", conta o alergista Fábio Morato Castro, de São Paulo, "geralmente reclama de que não sente mais o gosto da comida."
A perda de olfato, além de estar associada à depressão, pode levar à desnutrição. É lógico. O nariz é o grande responsável pelo apetite: qualquer pessoa, sem perceber, cheira melhor quanto mais perto da hora de comer, o que faz com que sinta o aroma da comida de longe. Quando isso acontece, o cérebro manda o estômago produzir sucos gástricos. As glândulas salivares, então, entram em ação: fica-se literalmente com água na boca.
Metade do sabor é cheiro. As papilas gustativas da língua, que sentem o gosto das coisas, identificam apenas quatro sabores básicos: amargo, azedo, doce e salgado. A diferença entre um pudim de leite e um copo de vinho, por exemplo, é dada pelo cheiro de cada um. Afinal, uma pessoa cheira o ar quando aspira e quando expira. Quando se expira, o fluxo de ar, que passa pela garganta, capta moléculas odoríferas do alimento que está sendo mastigado. Essas moléculas alcançam assim a câmara olfativa; o cérebro, então, soma as informações das papilas gustativas com as do olfato e o resultado é o paladar. Por isso, quando se está gripado e a câmara olfativa fica cheia de muco, impedindo que as moléculas entrem em contato com os receptores, não se sente direito o gosto das coisas.
O odor é tão importante para o sabor que as indústrias de alimentos investem milhões nos chamados aromatizantes artificiais. Hoje já existem mais de dez mil aromatizantes - cada um o resultado da combinação de duzentas a trezentas moléculas de substâncias diferentes. O aroma artificial de morango, que existe desde a década de 60, consumiu exatamente vinte anos de pesquisas. Algumas vezes os aromatizantes artificiais são muito mais caros que os naturais. O aroma artificial de baunilha é cerca de duzentas vezes mais caro que a baunilha natural. Apesar disso, a indústria prefere o aromatizante porque tem o odor dez vezes mais forte, garantindo um sabor muito mais acentuado de baunilha.
Todos conhecem a chatice de não sentir o sabor e o cheiro das coisas, quando se fica resfriado. Mas, quando a causa é uma alergia, a recuperação pode levar anos. "A cura, de certa forma, é fácil", diz o doutor Fábio Castro. "Na maioria dos casos basta afastar a causa da alergia. Se for impossível o afastamento - por exemplo, se for alergia à grama, não podemos proibir a pessoa de passar na frente de praças -, recorremos a antialérgicos." A cura depende de se descobrir a causa da alergia - o que às vezes leva tempo.
O nariz, afinal, é vítima de muitas alergias - algumas causadas por fatores que o atacam diretamente. "Muitas vezes", explica o alergista Laércio José Zuppi, "os próprios medicamentos para gripes e rinites irritam a mucosa olfativa, levando a uma perda temporária do olfato. A poluição, cada vez maior nas grandes cidades também ajuda a enfraquecer o olfato. Em certos casos, os danos à mucosa são irreversíveis: mesmo recuperado da alergia, o paciente não volta a sentir bem os odores.
Conservantes de alimentos podem causar alergias a longo prazo, que por sua vez podem causar a anosmia. Os medicamentos, porém, encabeçam os fatores que provocam esse tipo de problema, em especial os remédios para hipertensos, os diuréticos e o ácido acetilsalicílico, o mais popular analgésico.
Mas a maior causa de perda de olfato são os acidentes. Calcula-se que uma entre cada quinze pessoas com traumatismo craniano passa a viver num mundo inodoro. No caminho dos nervos que levam a mensagem olfativa ao cérebro, existe uma lâmina cheia de furinhos, o osso etnóide, que pela fragilidade e localização - abaixo do crânio - está sujeita a rachar em acidentes. "Se apenas um lado da lâmina é danificado, muitas vezes a pessoa nem sente que perdeu o olfato, porque um único lado sadio da cavidade nasal basta para que se tenha a sensação de cheiro", explica o neurologista Luiz Celso Vilanova, da Escola Paulista de Medicina. Outros problemas neurológicos, como tumores, podem causar a perda da sensação de odor. Mas nesses casos os sintomas são tão graves, como fortes dores de cabeça, que a pessoa nem sequer percebe que não sente mais cheiros.
Pesquisas norte-americanas sugerem que a capacidade de cheirar se desgasta com o tempo, mesmo quando o indivíduo é são: um quarto das pessoas entre 65 e 75 anos tem dificuldade em identificar odores; com mais de oitenta anos, quase cem por cento têm o mesmo problema. Em qualquer idade, as mulheres têm melhor olfato que os homens - com exceção das grávidas. No começo da gestação, a hipófise pode inchar o suficiente para comprimir os nervos do olfato que passam pelo crânio. "Em conseqüência", conta o ginecologista Nicolau Caivano, "muitas gestantes ou deixam de sentir cheiros ou passam a sentir cheiros que nem existem". Daí com certeza vem a lenda de que as grávidas têm olfato mais apurado.
Uma das funções mais importantes e mais conhecidas do olfato é estimular a memória. Pessoas com problemas olfativos às vezes não conseguem evocar situações com facilidade. A ciência não sabe explicar essa relação. Supõe-se que, para reconhecer qualquer coisa, o cérebro puxe de seu arquivo um fato do passado. De outro modo, apenas registraria odores, sem saber exatamente do que são. Assim, diante de uma flor, talvez a mente produza associações com momentos do passado - uma brincadeira de criança num jardim ou um passeio com a namorada num parque. Pois, se não bastasse tudo o mais, o olfato é também, misteriosamente, o mais nostálgico dos sentidos.

Como fazemos para cheirar bem.

Os odores são sentidos na chamada área olfativa da cavidade nasal. Trata-se de uma câmara situada num lugar pouco acessível, na parte mais alta e funda do nariz, longe do fluxo do ar que respiramos. Existe um motivo para isso: se as células olfativas, que são muito sensíveis, ficassem demasiado expostas ao ar, acabariam danificadas pela poeira e o sobe-desce da temperatura.
Por causa dessa localização, ocorre um fenômeno estranho: quando se respira normalmente não se sente cheiro algum. Mas, quando um odor qualquer existe no ar numa concentração relativamente alta, algumas poucas moléculas odoríferas podem alcançar a câmara. Diante dessa sensação ainda imprecisa, o cérebro ordena uma segunda aspiração mais forte - para provocar o que os cientistas chamam turbilhão de ar dentro do nariz, capaz de carregar as moléculas para a câmara olfativa. Tudo isso acontece num relance e sem que a pessoa se dê conta.
Na câmara, as moléculas são atraídas para a mucosa amarela formada pelas células olfativas, também chamadas de receptores. No lado externo, um receptor possui cílios microscópicos cobertos por uma fina camada de muco, no lado interno, ele se prolonga sob a forma de um nervo. Durante muito tempo, acreditou-se que os aromas eram reconhecidos graças a reações químicas entre as moléculas odoríferas e o muco. Tais reações seriam sentidas pelos cílios dos receptores, que as transformariam em estímulos nervosos.
"Hoje se sabe que o processo não é químico, mas físico", explica o professor Paulo Pontes. "Os receptores avaliam o peso e os prótons liberados pelas moléculas odoríferas e, a partir disso, engatilham um certo estímulo." O muco, por sua vez, serve para proteger os receptores, e também para diluir e expulsar da câmara olfativa as moléculas do odor.
Os impulsos dos receptores são ondas elétricas que percorrem os nervos até o bulbo olfativo, uma estrutura logo abaixo da parte frontal do cérebro. O bulbo mantém uma espécie de linha direta com o sistema nervoso central: nele se dará a sinapse ou conexão com o cérebro. Até aí, tudo bem. Mas a ciência ainda fareja explicações para a questão de como o cérebro identifica um odor.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Perfumes Eternos - Fragrâncias.

PERFUMES ETERNOS - Fragrâncias.



Serviam para homenagear os deuses. Depois, seu uso tornou-se arraigado costume, expressão de beleza e sensualidade. Fazê-los é uma arte.

O ato de perfumar-se é um dos mais duradouros costumes do ser humano. Seja para disfarçar os odores naturais do corpo, seja como complemento de elegância e sensualidade, ou ainda para ter e transmitir a sensação de higiene, as pessoas consomem cheirosas essências, loções, desodorantes, talcos, colônias. Em tempos remotos, o uso de perfumes esteve inicialmente associado a ritos religiosos. Há mais ou menos 500 mil anos, quando o homem descobriu o fogo, tratou logo de prestar homenagem aos deuses oferecendo-lhes a fumaça que emanava das resinas e madeiras que queimavam.
Os vapores aromáticos que subiam dos altares dariam prazer aos deuses através da fumaça - ou como diriam muito tempo depois os romanos, per fumum. Os primeiros perfumistas a entrar para a História foram os sacerdotes do Egito antigo. Em breve, os egípcios descobriram que o que era bom para os deuses devia ser bom também para eles, pobres mortais nem sempre bem cheirosos. Assim, o perfume conquistou a vida profana- para nunca mais deixá-la.
Nos banquetes nos palácios dos faraós, por exemplo, era costume derreter uma espécie de gordura perfumada sobre a cabeça dos convidados em sinal de estima. Os hebreus untavam os cabelos de seus reis com óleos aromáticos, como narra a Bíblia. As mulheres gregas e romanas mandavam buscar nos jardins do Oriente ervas e flores raras. Com elas fabricavam-se ungüentos, pomadas e essências para fins cosméticos, Por essa época, perfumar-se já fazia parte dos ritos de beleza. Com o advento do cristianismo, os aromas caíram em desgraça, por estarem ligados aos costumes pagãos. A arte da perfumaria só não desapareceu graças aos árabes, cuja religião não os impedia de cultivar os prazeres sensuais.
No século X, os alquimistas descobriram o alambique-engrenagem através da qual os líquidos se transformam em gasosos e novamente em líquidos, num processo chamado destilação. Graças a isso e contando com a propriedade solvente do álcool, os árabes puderam pela primeira vez destilar água de rosas.
Mas foram os mercadores que voltavam das Índias carregados de especiarias que acabaram propiciando o ressurgimento da perfumaria no Ocidente. Já no final do século XIII, a cidade de Paris transformara-se na capital mundial do perfume.
A água-de-colônia, porém, nasceu na Alemanha em 1792 na cidade de Köln (Colônia), às margens do Reno. O fabricante era um certo Wilhelm Mülhens. Ao casar, ele recebeu de presente a fórmula secreta de uma aqua mirabilis. Mülhens resolveu fabricar essa água milagrosa e montou um laboratório em casa. Nascia assim a água-de-colônia. Dois anos mais tarde, as tropas francesas comandadas por Napoleão Bonaparte invadiram a cidade. Como os soldados não conseguissem pronunciar os nomes das ruas, Napoleão ordenou que os nomes fossem abolidos e as casas, numeradas. A de Mülhens recebeu o número 4711-e é por isso que a autêntica água-de-colônia veio a ser chamada de 4711, como é conhecida hoje no mundo inteiro.
Napoleão Bonaparte, um dos primeiros fãs do perfume de herr Mülhens, parecia acreditar que além de fazer bem ao olfato, fazia bem à saúde. Conta-se que antes de cada batalha ele tomava vários goles da água-de-colônia. Os ingleses, que derrotariam Napoleão na célebre batalha de Waterloo, na Bélgica, também acreditavam nas propaladas qualidades terapêuticas do perfume e tentaram, inutilmente, combater com lavanda a peste que assolou Londres no final do século XVII.
Arte sutil de combinar odores, a perfumaria trabalha com cerca de dez mil essências básicas, das quais apenas mil são encontradas na natureza. Geralmente os aromas vêm das flores, mas outras fragrâncias estranhas às vezes ajudam a compô-los. Entre elas, produtos animais, indispensáveis na fabricação, embora não exatamente atraentes no estado original.
É o caso do almíscar, uma secreção das glândulas sexuais das cabras do Tibete, na Ásia. A palavra almíscar, por sinal, vem do persa mushk, que quer dizer "testículo". Igualmente desagradável é o ambar cinzento produzido pelos cachalotes (cetáceos como as baleias), que flutua no mar como uma grande massa compacta. Almiscar e âmbar possuem propriedades fixadoras importantes na alquimia dos perfumes.
Extrair substâncias aromáticas dos vegetais não é complicado. O problema é que elas estão se tornando tão raras como as essências de animais. Por isso, desde o princípio do século, produz-se cada vez mais em laboratórios compostos sintéticos, seja para reconstituir aromas naturais ou para criar novos.
Obter essência natural de jasmim é trabalhoso e caro. Para cada quilo são necessários 600 quilos de flores, colhidas ao amanhecer. A partir de solventes voláteis, extrai-se das flores o concreto, um produto cremoso de textura semelhante à cera. Depois, mistura-se com o álcool e filtra-se. Quando o álcool evapora, fica o absoluto, a essência pura. Os perfumes são classificados em grandes famílias de essências.
As mais importantes são as florais (que podem agregar fragrâncias de uma só flor, de várias flores e componentes químicos), o verde (fragrâncias de plantas e arbustos), o chipre (combinação do musgo do tronco de carvalho. com a bergamota e o âmbar) e a amadeirada (fragrâncias compostas de raízes ou misturas de troncos de árvores como o cedro e o sândalo).
E na combinação dessas famílias que o perfumista vai desenvolver um trabalho longo e paciente até que se possa lançar um novo perfume. Como um diretor de orquestra, ele tem de alcançar a perfeita harmonia das três notas - denominação que se dá à combinação das famílias de essências que compõem essa sinfonia de aromas. As primeiras são as notas de cabeça, dadas pelos elementos mais voláteis, obtidas de frutas cítricas. Duram alguns minutos e correspondem ao cheiro que se sente ao abrir o frasco. Depois, desenvolvem-se as notas de coração, que duram mais tempo e são dadas pelas essências de rosas e gerânios. Finalmente as notas de fundo determinadas pelos elementos mais fortes, chamados fixadores, que duram horas e são proporcionados por essências de jasmim, sândalo, musgo de carvalho, almíscar, âmbar etc.
Apesar dos modernos procedimentos químicos não é fácil imitar um perfume. Com o conhecimento que se tem e mais uma boa dose de intuição, só é possível detectar de 30 a 60 por cento dos diversos componentes de um deles. Como os elementos naturais são difíceis de identificar, se o perfumista, com seu aparado olfato, descobrir que um perfume contém bergamota, terá depois de determinar sua procedência, já que pode ter vindo da África, do Brasil ou do sul da Itália
Por isso, a perfumaria, dos tempos, sempre guardou zelosamente suas fórmulas. Um bom exemplo é o Chanel nº 5, o perfume francês mais conhecido do mundo. Quando certa vez perguntaram a Marlilyn Monroe o que ela usava para dormir, a resposta foi: "Duas gotas de Chanel nº 5". Lançado pela faladíssima estilista de moda Coco Chanel em 1921, sua criação teve até lances de espionagem, envolvendo o sumiço de um perfumista de uma firma concorrente. Tratava se de encontrar uma nova essência que durasse mais que qualquer outra. Antes de surgir o n.° 5, quem quisesse chegar ao fim do dia perfumado deveria literalmente banhar-se em perfume, de manhã, já que as misturas se volatilizavam com rapidez.
As fragrâncias que faziam sucesso no princípio do século sucumbiram ante o entusiasmo despertado pelos perfumes chipre dos anos vinte. A partir de então, a tendência se acelerou. A cada década renovam-se os perfumes: os aromas verdes e refrescantes que faziam furor no fim da Segunda Guerra Mundial foram substituídos por fragrâncias de musgos e flores; na década de 70 ressurgiram os florais, que no inicio dos anos 80 foram abandonados em favor dos aromas orientais. Hoje em dia, a moda em perfume muda tão depressa que as pessoas mal têm tempo de consumir um frasco inteiro de um mesmo tipo -ainda que os melhores perfumes, como se diz, estejam nos menores frascos.

Questão de concentração

As diferenças que resultam da concentração de essências e álcool utilizados na confecção dos perfumes determinam sua divisão em cinco tipos diferentes, quase todos conhecidos pelos seus nomes em francês:

Extrato
É o que contém maior quantidade de essência pura; portanto, é mais concentrado e duradouro. Algumas gotinhas bastam para que o aroma perdure de quatro a oito horas.

Eau de parfum
Sua mistura envolve a metade da quantidade necessária para se obter o extrato; logo, seu efeito dura menos.

Eau de toilette
Ainda menos concentrada do que a anterior, seu perfume evapora com muita rapidez.

Eau de fraiche
Tem a mesma estrutura da anterior, porém sua fragrância se define como citrica-florai-amadeirada.

Eau de cologne ou colônia
É a forma mais suave de perfume, com menor quantidade de essência, e a mais refrescante de todas.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Sinto muito - Os Sentidos

SINTO MUITO - Os Sentidos



Tente descrever qual é a graça de andar em uma montanha russa usando só os 5 sentidos. Enquanto você coça a cabeça para descobrir se a vertigem e o frio na barriga se encaixam no tato, na visão, no olfato, na audição ou no paladar, aproveite para pensar em outra coisa: como você sabe que seu braço está de fato coçando a sua cabeça, se não consegue vê-lo? Se quiser mais desafios, olhe de novo a página anterior e responda: por que a imagem de um prego no olho traz uma sensação de dor? Por que alguns padrões de cor e de formas dão a ilusão de vibrar? Por que ver uma mulher beijando um rato embrulha o estômago? Aliás, qual dos 5 sentidos lhe diz que você teve um embrulho no estômago?

Não fique tonto com essas questões (até porque a tontura é outra sensação que não dá para explicar só com audição, visão, tato, olfato e paladar). Como você já deve desconfiar pelas perguntas acima, os nossos sentidos são muito mais complexos do que sempre nos disseram. A idéia de que temos apenas 5 formas de perceber o mundo foi formulada pelo filósofo grego Aristóteles no século 4 a.C. e, de forma um tanto impressionante, permanece popular até hoje. A ciência, no entanto, já percebeu que os nossos sentidos passam de 20 e são bastante maleáveis, complexos e interessantes. Quando começaram a estudar as portas da percepção, coisas incríveis aconteceram: pessoas passaram a enxergar pela língua ou pelo ouvido, pintar coisas que nunca viram, sentir o tato só pela visão. É a nova ciência dos sentidos - e ela pode mudar tudo o que sabemos sobre a realidade à nossa volta.



Vendo tudo

Quantas formas de perceber o mundo nós temos? Não é uma pergunta fácil, principalmente porque, para respondê-la, precisamos antes saber de que mundo estamos falando. É que, nesse caso, existem dois: o externo e o interno. Os 5 sentidos tradicionais são específicos para observar o que acontece fora de nós. Além deles, existem aqueles que servem para percebermos nós mesmos e a relação do nosso corpo com o espaço. Mesmo de olhos fechados, você sabe que tem pés, braços, cabeça, um corpo inteiro, certo? O sentido encarregado de informar o que faz parte do nosso corpo é a propriocepção. O neurologista inglês Oliver Sacks, no livro O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu, cita o caso real de Christina, que, aos 27 anos, perdeu a propriocepção depois de receber antibióticos. De uma hora para outra, ficou incapaz de sentir o próprio corpo e precisou aprender a se virar usando outros sentidos, como a visão e a audição. Precisava ver as pernas ou as mãos para andar ou pegar um objeto. Falar se tornou muito difícil - é graças à propriocepção que sentimos a posição da boca.

Comece a viajar nesse mundo interno e vão pipocar sentidos que nos informam situações como o equilíbrio, a pressão sanguínea, a sede ou a fome. Um exemplo é a cinestesia, que nos diz quando cada parte do corpo se move. Só que alguns cientistas acreditam que, mesmo somando todos esses sentidos, ainda não temos o retrato completo. Quem sabe se cada um desses não é um agrupamento simplista de muitas formas de percepção? Afinal, sentir um toque gelado é diferente de sentir um toque com pressão. E enxergar formas é diferente de enxergar cores - o que é comprovado pelo fato de que é possível ficar cego apenas para as cores, como bem sabem os daltônicos. Será correto agrupar no nome "visão" a percepção das formas, dos vermelhos, dos verdes e dos azuis? Ou deveríamos falar de pelo menos 4 sentidos? Não existe ainda entre os cientistas um consenso sobre o que deve ou não ser considerado um sentido isolado. As diferentes respostas a essas perguntas podem fazer o nosso número total de sentidos oscilar entre 10 e 33 (veja tabela à direita). Sentiu o problema? Pois ele é só o começo.



Fazendo sentido

Os sentidos são como uma gangue: além de serem muitos, agem sempre em grupo. E basta acionar um para que todos respondam. Segundo Alvaro Pascual-Leone, neurologista da Universidade Harvard, em Massachusetts, EUA, nosso cérebro está sempre usando todas as percepções para criar um cenário mental da situação. É o que se chama de "mãos da mente": ao olhar para um abacaxi, você sente a textura espinhenta da fruta, enquanto mentalmente é capaz de sentir seu cheiro e o sabor doce e ácido.

Por que isso acontece? Antes de mais nada, é importante entender que sensação e percepção são processos complementares, mas diferentes. A sensação é a parte passiva da coisa, quando simplesmente recebemos um estímulo. É quando as ondas sonoras atingem o aparelho auditivo, fazem o tímpano vibrar e, na forma de impulsos elétricos, são levadas pelo nervo auditivo até o cérebro. A partir daí, entra em cena a percepção, que assimila, decodifica e processa esses dados.

As nossas sensações estão sempre funcionando, mas nossa percepção varia bastante. Ela pode ser temporariamente desativada: como qualquer um que tenha assistido a uma aula chata pode dizer, é possível escutar palavras sem ouvir nada. Por outro lado, é só andar em uma rua deserta para perceber como ficamos mais perceptivos a barulhos e sombras. O desligamento é seletivo: quando queremos conversar com alguém em uma festa barulhenta, precisamos ignorar todas as conversas paralelas, mas basta mencionarem nosso nome para voltarmos a atenção a outra conversa. Na Universidade Harvard, os psicólogos Daniel Simons e Christopher Chabris pediram que voluntários contassem o número de passes dados em um jogo de basquete, o que fez com que muitos não percebessem uma pessoa vestida de gorila atravessando a quadra. (Preste atenção: alguém pode estar chamando o seu nome enquanto você lê esta matéria.)

É possível ter problemas na percepção - um mal neurológico conhecido como agnosia que impede o reconhecimento de qualquer imagem, cheiro ou som. Existem relatos de pessoas incapazes de diferenciar um círculo de um quadrado, apesar de enxergar bem as duas formas. Oliver Sacks cita o caso de um professor de música com um processo degenerativo nas partes visuais do seu cérebro que foi aos poucos perdendo a capacidade de enxergar o todo de uma imagem. Identificava apenas os detalhes ou os movimentos. A confusão chegou a tal ponto que ele não conseguia mais entender uma rosa, apesar de descrevê-la com riqueza de detalhes. Durante uma consulta médica, confundiu seu pé com o sapato e, depois, pegou a cabeça de sua mulher para colocá-la na sua própria cabeça, literalmente confundindo-a com um chapéu.

Mais impressionantes ainda são os casos em que a sensação não acontece, mas a percepção sim. Nosso cérebro é capaz de sentir texturas através da visão (olhe para um cachorro fofinho, por exemplo) ou formar imagens através do tato. O pintor turco Esref Armagan é cego de nascença e seus olhos não detectam nenhum tipo de luz, mas mesmo assim ele é capaz de pintar imagens complexas, como paisagens ou peixes, respeitando as regras da perspectiva. Ele retrata até mesmo objetos distantes, como montanhas e nuvens. Como consegue?

Em primeiro lugar, ele conhece os objetos através do tato e pelas explicações de pessoas que enxergam. Para saber o que está pintando, ele usa uma tinta com textura que lhe permite sentir os próprios traços. Mas o segredo mesmo está na cabeça de Armagan. O córtex visual (área responsável por processar a visão) de uma pessoa funciona mesmo sem estímulos visuais objetivos. Por exemplo, ao fechar os olhos e imaginar uma cena, seu cérebro vai ativar a área relacionada às imagens, mesmo que em uma intensidade mais baixa. O mesmo acontece com o cérebro de Armagan: atividade leve quando ele imagina alguma imagem e bem mais alta quando está desenhando ou pintando. Nessas horas, sua atividade no córtex visual é praticamente igual à de alguém que enxerga perfeitamente. Usando informações da memória, tato, descrição, localização espacial e outros sentidos, ele consegue formar uma imagem parecida com a que temos ao enxergar.

Definir a visão parecia ser uma tarefa simples, mas se torna um pouco mais complicado agora: um indivíduo com agnosia é capaz de reagir à luz, mas não vê certos objetos. Armagan não reage à luz, mas usa relatos para "enxergar" a ponto de pintar melhor do que muita gente com a visão perfeita. Casos como o dele reforçam a teoria de que a percepção das coisas não depende exatamente do caminho pelo qual o estímulo chega. Ou seja, seu cérebro consegue ver de várias formas - os olhos são apenas o caminho mais tradicional.



Olhando pela língua

Em uma pesquisa na Inglaterra, tudo o que voluntários precisavam fazer era colocar o braço debaixo de uma mesa. Por cima, ficava um braço de borracha, usado em shows de mágica. Os braços real e falso eram tocados pelos mesmos objetos, ao mesmo tempo. Foram precisos apenas 11 segundos para que eles começassem a considerar como sua a mão que estava visível, o que ficou provado pelo monitoramento da atividade cerebral e porque, no final da experiência, vários apontaram a mão de borracha como sendo a real. Já o neurologista Alvaro Pascual-Leone, de Harvard, foi mais longe: fez pessoas com a visão perfeita passarem 5 dias com óculos que bloqueavam toda a luz. Durante esse período, eles relataram um aumento nos outros sentidos e também algumas alucinações visuais. Além disso, estímulos táteis ou auditivos tornaram-se capazes de ativar o córtex visual do cérebro. Todos esses sintomas desapareceram menos de 24 horas depois que os voluntários retiraram os óculos.

As duas experiências mostram que os nossos sentidos são muito mais flexíveis e adaptáveis do que se acreditava. Por estarem todos interligados, é só limitar um pouco um deles para que outros tentem compensar a deficiência. Na primeira experiência, a visão interagiu - e acabou substituindo - a propriocepção. E, na segunda, Pascual-Leone acredita que o córtex visual dos voluntários começou a se adaptar para funcionar com estímulos não-visuais. Nos dois casos, o que interessava ao cérebro era a informação disponível. Com os dados que tinha, ele tentava montar uma imagem mental.

Descobertas como essas abriram caminho para encontrar formas de compensar deficiências como cegueira e surdez. Um dos resultados mais promissores é o vOICe, um dispositivo criado pelo inventor holandês Peter Meijer para fazer pessoas enxergarem por meio de música. Ele usa um padrão de sons para descrever imagens captadas por uma câmera, que pode ser acoplada aos óculos de um deficiente visual. Agudos indicam um objeto em posição elevada, como uma prateleira, enquanto sons mais graves indicam algo perto do chão. O volume está relacionado à luminosidade: quando mais alto o som, mais claro o objeto. A ausência de luz é representada pelo silêncio. Pode parecer estranho, mas com algum tempo de uso o sistema pode guiar uma pessoa por um ambiente.

Algo parecido pode ser feito com o paladar. O BrainPort, da Universidade de Wisconsin, EUA, é formado por 144 eletrodos dispostos em um quadrado do tamanho de um selo, que fica em contato com a língua. O alpinista Erik Weihenmayer, cego há mais de 20 anos, usou o dispositivo para projetar em sua língua as imagens captadas por uma câmera localizada em sua cabeça. Em pouco tempo de uso, foi capaz de identificar objetos e apanhar uma bola em movimento. Já a americana Cheryl Schiltz usou o BrainPort para recuperar a sensação de equilíbrio. No caso dela, um aparelho localizado também na cabeça registrava todas as vezes que ela se inclinava, indicando o desnível através dos eletrodos - ao deixar a cabeça alinhada, ela sentiria uma sensação mais forte na parte central da língua. Foi o suficiente para que Cheryl andasse pela rua, subisse e descesse escadas e até mesmo carregasse uma bandeja.
A viagem através dos sentidos está apenas começando. Cada um desses novos equipamentos levam a descobertas ainda mais profundas sobre como percebemos o mundo, que por sua vez levam a tecnologias mais avançadas. Talvez um dia os cientistas cheguem à conclusão de que temos mais de 35 sentidos ou, quem sabe, a uma resposta ainda mais radical: um só. Como o que está em jogo é nada menos a forma com que lidamos com o mundo e com que sabemos que tudo existe, é possível que essas pesquisas mudem toda a nossa relação com a realidade. O que estaremos vendo e ouvindo daqui a algumas décadas? Ninguém sabe.



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