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quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Cientistas desvendam causa da extinção do 'King Kong da vida real'

Cientistas desvendam causa da extinção do 'King Kong da vida real'

O Gigantopithecus blacki tinha cerca de três metros de altura e pesava mais de 250 quilos.

terça-feira, 20 de julho de 2021

Descoberta de 'homem dragão' e hominídeo de Israel muda história da evolução humana

Descoberta de 'homem dragão' e hominídeo de Israel muda história da evolução humana

Espécies previamente desconhecidas são parentes distantes dos humanos modernos.

domingo, 27 de junho de 2021

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Espécie mais rara dos grandes primatas pode ser extinta em breve, alertam pesquisadores

Espécie mais rara dos grandes primatas pode ser extinta em breve, alertam pesquisadores

Os orangotangos Tapanuli, originários de Sumatra, na Indonésia, são considerados a espécie mais rara de grandes primatas. 

terça-feira, 10 de março de 2020

Estudo revela que os neandertais sabiam nadar e mergulhar

Estudo revela que os neandertais sabiam nadar e mergulhar


Em 1949, uma extraordinária descoberta foi realizada em uma caverna na Itália: foram encontradas mais de 150 ferramentas, feitas a partir de conchas marinhas, que pertenceram aos neandertais.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Descobertos fósseis de “elo perdido” com braços de orangotango e pernas de humano

Descobertos fósseis de “elo perdido” com braços de orangotango e pernas de humano


A partir de ossos fossilizados descobertos na Alemanha, cientistas identificaram uma espécie desconhecida de primata.


quinta-feira, 21 de junho de 2018

Morre Koko - A gorila que se comunicava por sinais


Morre Koko - A gorila que se comunicava por sinais


Foi anunciado que a gorila Koko, que ficou famosa por se comunicar por linguagens de sinais, morreu dormindo aos 46 anos, nos Estados Unidos. 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Um Et na Pré-História - Antropologia


UM ET NA PRÉ-HISTÓRIA - Antropologia



Houve uma época em que, em vez de apenas uma, havia duas espécies pertencentes ao gênero humano, e igualmente inteligentes, segundo as mais recentes descobertas. Durante algum tempo, os neandertais viveram na Europa, tão distantes dos outros homens como se fossem seres de outro planeta.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

As cordiais acrobacias do Muriqui - Natureza



AS CORDIAIS ACROBACIAS DO MURIQUI - Natureza



O maior mamífero brasileiro, maior macaco do Continente, é um bicho ágil, sociável e de bom gênio. A ciência trata de conhecê-lo numa corrida contra o tempo: também ele pode desaparecer.

O dia amanhece. Começando a se debruçar sobre as montanhas, o sol acorda os pássaros da floresta cuidadosamente conservada da Fazenda Montes Claros, no município mineiro de Caratinga, 321 quilômetros a leste de Belo Horizonte. Aos gritos, eles disparam em busca da primeira refeição. Nos galhos mais altos das árvores, porém, outros bichos, abraçados, esperam preguiçosamente que a luz da manhã os aqueça, para só então cuidarem do desjejum vegetariano. De temperamento cordial, acrobáticos nos movimentos, eles são os muriquis, os maiores macacos das Américas e os maiores mamíferos nativos e exclusivos do Brasil. Por outros motivos também, formam uma população peculiar naquele ambiente. Para começar, tais representantes da espécie Brachyteles archnoides têm nomes próprios, quase todos em inglês, e isso se relaciona ao fato de estar em curso ali uma ambiciosa investigação científica a cargo de instituições brasileiras e americanas.
Black, Bruna e Brigitte, Cher, Cutlip e Clyde, Dian, Daniel e Diamond, Nilo, Nina e Nancy são alguns dos machos e fêmeas, adultos e jovens, cujas peripécias vêm sendo acompanhadas pela ciência tão de perto quanto permitem o habitat arbóreo, o zelo dos pesquisadores e os hábitos dos pesquisados. Graças ao dono da fazenda, Feliciano Abdalla, de 83 anos, que há mais de quarenta tomou a decisão de conservar nos 1 100 hectares da propriedade a Mata Atlântica e a integridade de seus habitantes, funciona ali desde 1976 um autêntico laboratório natural. Essa Estação Biológica, como dizem os cientistas, transformou-se no local que rendeu mais pesquisas com primatas do país.
Os primatas muriquis, às vezes chamados impropriamente monos-carvoeiros, o que costuma irritar os especialistas, fazem por merecer todas essas atenções. Em parte, por suas características, ainda mal conhecidas. Em parte, por não existirem em nenhum outro país. Mas, principalmente, porque - também eles - estão sob ameaça de extinção, dizimados pelos caçadores e pela destruição de seu magnífico território, o ecossistema único da Mata Atlântica, reduzida a menos de 10% do que devia ter sido quando aqui chegou o homem branco. Até onde é possível supor essas coisas com razoável precisão, viviam no Brasil de 400 anos atrás algo como 400 000 muriquis, designação dada pelos indígenas, querendo dizer "gente vagarosa".
Um esforço cuidadoso de recenseamento, em 1971, chegou a um total aproximado de 3 000 animais. No ano seguinte, outra contagem apurou cerca de 2 000. Os números mais recentes oscilam de 350 a não mais de 500 indivíduos, esparsos em áreas protegidas em Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. Nos 890 hectares da Estação Biológica de Caratinga, pesquisadores brasileiros e do exterior tratam de acumular conhecimentos sobre esses macacos de 1 metro de altura e 20 quilos de peso. Os 84 muriquis da Fazenda Montes Claros dividem-se em dois grupos, Matão e Jaó, com aproximadamente o mesmo número de indivíduos. Os homens e mulheres que os estudam procedem de entidades nacionais, como a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade de São Paulo, internacionais, como World Wildlife Fund, e americanas, como National Science Foundation e National Geographic Society. O primeiro pesquisador a descobrir os muriquis da Fazenda Montes Claros, em 1971, foi Álvaro Aguirre, já falecido, da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN), do Rio de Janeiro. Depois dele, biólogos e zoólogos freqüentaram sistematicamente o local ao longo da década e rodaram um filme, O lamento do muriqui que se tornaria um marco no esforço pelo conhecimento e pela preservação da espécie. Hoje pesquisam os muriquis o antropólogo Francisco Dyonísio e o casal de biólogos Adriana e José Rimoli, todos da USP.
Como seria de prever, muito tempo (e paciência) foi necessário até que os macacos se acostumassem com a presença desses humanos - os primeiros que não vinham para matá-los. Já nos contatos iniciais, os pesquisadores puderam perceber que os muriquis adotavam uma reação criativa ao que seria uma ameaça - o "comportamento de intimidação". Um macaco fica suspenso apenas pela cauda, de cabeça para baixo portanto; nessa posição, recolhe os membros e contrai os músculos da cauda para se elevar. Enquanto isso, outros membros do grupo se abraçam a fim de parecerem maiores e emitem ruídos intensos. Então, o muriqui suspenso estica rapidamente os braços e a cauda como se fosse se lançar sobre o homem. À distância de apenas 3 metros, é um susto e tanto para o observador. Hoje, habituados aos homens, a conduta dos muriquis chega a ser amigável. O espetáculo da intimidação saiu de cartaz por falta de agressores.
Foi a americana Karen Barbara Strier, bióloga da Universidade Harvard, quem teve a idéia de dar nomes aos muriquis, ao notar entre os quase quarenta membros do grupo estudado, o Matão, acentuadas diferenças - pigmentação do rosto, cor dos pêlos, temperamento -, que permitiam a identificação individual. Cutlip, por exemplo, é um macho de pelagem marrom-clara, sem pigmentação no nariz e com um corte (cut) no lábio (lip) inferior. De índole sossegada, aprecia ficar sentado nos galhos, o olhar distante. Irv, de pelagem escura que torna preto o seu rosto, por ser um dos mais velhos do grupo, recebe muitas atenções. A partir dos primeiros nomes, criou-se um código de letras para facilitar o desenho de árvores genealógicas: a inicial do nome dos filhos deveria ser sempre a mesma da mãe. Assim, Bruna e Brigite são filhas de Bess. Nilo e Nina descendem de Nancy. Cecília (homenagem à bióloga paulista Cecília Torres de Assumpção, falecida em 1987) vem de Cher.
Os muriquis se locomovem entre as árvores com extraordinária rapidez, erguendo sobre a cabeça os braços de 70 centímetros em movimentos pendulares. Os dedos igualmente longos permitem-lhes agarrar com firmeza mesmo os galhos mais distantes. Sua agilidade, comparável apenas à dos gibões da Ásia e dos macacos-aranha da Amazônia, faz deles os grandes acrobatas da floresta. Ao contrário dos símios africanos, asiáticos e europeus, porém, os muriquis (assim como os macacos-aranha) não têm o chamado polegar oponível, o quinto dedo que tanto ajuda a segurar e a manipular objetos. A ausência não é uma carência. mas uma adaptação à vida na copa das árvores. Para balançar-se de um galho a outro, dedos compridos funcionam como perfeitos ganchos; o polegar só iria atrapalhar o movimento.
Outra adaptação à vida na copa das árvores é a cauda preênsil de 1,20 metro, que funciona como um quinto membro na locomoção e na alimentação. Sem pêlos na face ventral, a pele ali se assemelha à da palma das suas mãos. Sensível assim ao tato, permite ao muriqui manipular objetos tão pequenos quanto uma ervilha e carregá-los durante o deslocamento. A poderosa musculatura da cauda sustenta tranqüilamente o corpo do animal pendurado.
Capaz de destinguir cores, ele identifica facilmente árvores frutíferas e folhas tenras, seus alimentos prediletos. Os olhos frontais proporcionam-lhe uma visão binocular, como a dos humanos, felinos e algumas aves de rapina. Isso possibilita avaliar com precisão a distancia dos objetos - um atributo essencial para quem vive pulando de galho em galho.
Mesmo assim, muriqui nenhum nasce sabendo saltar. As mães precisam ajudar os filhotes nas passagens mais difíceis, usando o próprio peso para aproximar os galhos de árvores diferentes ou quando a madeira for rija demais, formando com o corpo deitado, os braços e a cauda estendidos, uma ponte sobre a qual o júnior fará a travessia. Na sociedade muriqui, cuidar dos filhotes é tarefa exclusiva das mães. Nessa espécie, em que a expectativa de vida é de vinte anos, as fêmeas são férteis um mês por ano quando copulam indistintamente com vários machos. O acasalamento às vezes ocorre na presença de terceiros, sem que isso dê motivo a conflitos - algo infreqüente entre os primatas sociais. Depois de sete a oito meses, nasce o filhote (há casos de gêmeos). Durante os primeiros oito meses de vida o filhote se mantém preso ao ventre da mãe, perto das mamas. À medida que cresce, muda de posição, ficando, primeiro, agarrado lateralmente, depois nas costas, até perder definitivamente a carona materna. O desmame não ocorre antes de ano e meio, podendo dar-se aos 2 anos.
Nesse prolongado convívio com a mãe, o filhote aprende não só a saltar como também a emitir sons - um comportamento valioso à sobrevivência dos indivíduos e à coesão do grupo. Os pesquisadores da Estação Biológica de Caratinga descobriram que os muriquis produzem nada menos de 22 vocalizações distintas, cada uma com sua finalidade específica. Incluem-se aí o choro do filhote faminto, o trinado da fêmea no cio, o grito para assustar um eventual predador (como um quati atraído por um filhote que se soltou da mãe e caiu no chão). Quando o grupo se desloca, ao contrário do que ocorre com as espécies em que os machos formam um círculo protetor em volta das fêmeas e dos filhotes, o centro muriqui é masculino e a periferia, feminina.
Cena documentada pelos pesquisadores na Fazenda Montes Claros: diante de uma apetitosa árvore frutífera um enfrentamento entre o grupo Matão e o Jaó. Dois machos matões se abraçam, gritando, os olhos voltados ora para os machos jaós, ora para o parceiro. Na tentativa de impedir a aproximação dos adversários, outros cinco indivíduos se abraçam à dupla original, formando um cacho de sete machos adultos dependurados apenas pelas caudas. No entanto, o alarido da turma do Jaó, mais numerosa naquela circunstância, acaba prevalecendo e os matões desistem daquela fonte de alimento, retirando-se, como talvez fosse o caso de dizer, com o rabo entre as pernas. A importante moral da história é que a disputa foi resolvida literalmente no grito, sem combates físicos.
A escassa beligerância é uma das características mais interessantes dos muriquis. "Tão reduzida agressividade é muito incomum", comentou, admirada, a bióloga Karen Barbara Strier. Nisso eles se distinguem de outras espécies primatas, como o macaco-prego e o bugio, conhecidos pelo temperamento briguento. Dentro do grupo, mesmo quando um filhote provoca um adulto, quebrando um galho sobre sua cabeça, por exemplo, o máximo que pode acontecer é a vitima pôr o moleque a correr, mais para se livrar dele do que para castigá-lo. Tolerantes uns com os outros, dotados de grande capacidade de convívio, sua organização social é decididamente atípica, a ponto de os pesquisadores não terem conseguido identificar uma hierarquia rígida entre os indivíduos.
Embora os machos adultos - a elite muriqui - tenham mais direitos do que os jovens e, entre aqueles, os mais velhos sejam, digamos, mais iguais que os outros, não existe nada que lembre a figura do líder, o brutamontes que conquista no tapa ou na ameaça a prioridade na obtenção de comida ou no acesso a parceiras sexuais. O macho muriqui a quem o grupo concede o direito de ser o primeiro a alimentar-se não terá necessariamente a mesma primazia no acasalamento. A discriminação sexual, porém, é evidente: machos e fêmeas circulam em patotas separadas. Os grupos tampouco se misturam, embora a norma seja menos rígida quando se trata das fêmeas.
Normalmente quando chegam à idade reprodutiva, elas migram de uma turma para outra. Esse comportamento, observam os biólogos, é benéfico à espécie, pois amplia às possibilidades de adaptação às variações do meio, ao promover trocas genéticas entre os diferentes grupos e reduzir a ocorrência de problemas de consangüinidade.
Apesar desses ganhos adaptativos, o exercício da prerrogativa feminina de ir e vir não é isento de contratempos. Black que o diga. Fêmea nascida no grupo Matão, tendo se baseando para o Jaó, resolveu, para surpresa geral, tornar à casa antiga. Pois bem: durante bons cinco meses, a dita senhora foi alvo de desdém e hostilidade, permanecendo à margem da sociedade .Teimosa, ou talvez à falta de alternativas insistiu em readquirir a cidadania original. Aos poucos, as reações agressivas dos outros começaram a diminuir e, um belo dia, ela se viu novamente aceita, passando a ser procurada pelos machos tanto quanto qualquer outra dama nos períodos férteis.
Todos esses eventos da vida muriqui são diligentemente anotados pelos pesquisadores, cientes de que ainda têm muito a aprender.
O interesse não é apenas acadêmico: o conhecimento, no caso dessa população minguante, tem por objetivo "contribuir para a continuidade de sua existência", nas palavras do antropólogo paulista Francisco Dyonísio, o Dida, cuja tese de dourado trata justamente desses bichos. Ou, segundo a bióloga Adriana Rimoli, "a coleta de informações visa não só a preservar a espécie, mas também o ecossistema em que ela vive, pois são coisas integradas". Ela dá um exemplo prático do que isso pode significar: "Se um dia o local for ameaçado pela construção de uma hidrelétrica, digamos, será possível reintroduzir os muriquis em outro ambiente natural, em vez de simplesmente jogá-los num zoológico".

Um inabalável caso de amor

Há 46 anos, quando comprou a Fazenda Montes Claros, Feliciano Miguel Abdalla prometeu ao antigo dono não mexer nas matas nem nos animais que ali viviam. Era o que se podia esperar de alguém que desde pequeno tinha paixão pela terra e pelos bichos. No entanto, livrar-se dos caçadores que invadiam a região não era fácil. Certa vez, um empregado veio avisá-lo de que havia homens e cães caçando na mata. Indignado, Feliciano levantou-se, puxou as calças acima da cintura, num gesto decidido, e mandou expulsar à bala os invasores, com uma ordem expressa: "É para acertar os caçadores, não os cachorros". Pai de sete filhos, dos quais quatro mulheres, de dois casamentos, Feliciano, ou Ciano, como todos o chamam, é um homem afável, bem-humorado, bom de prosa. É também um dos fazendeiros mais ricos da região de Caratinga, no nordeste de Minas, onde nasceu: tem nada menos de doze fazendas, algumas de café e outras de gado leiteiro.
Filho de um dos muitos imigrantes libaneses que começaram a vida como mascates nos sertões das Gerais e terminaram prósperos comerciantes e fazendeiros, aos 14 anos Ciano escolheu trabalhar nas terras do pai -e nunca saiu do campo. Isso não o impediu de se tornar um homem informado, que gosta de ler e discutir sobre tudo, de política a religião. De hábitos simples, não há quem o convença a colocar luz elétrica na fazenda. Dorme pouco, acorda às 4 horas e, apesar dos 83 anos, só pára de trabalhar quando escurece. Não há um palmo da fazenda que não conheça nem um arbusto que não mereça o seu carinho. Rigoroso, não permite que se retire nem um galho sequer da mata - tão intenso o seu inabalável amor pela natureza.

A grande árvore dos primatas

Entre macacos, símios - e o próprio homem, seu aparentado -, o grupo dos primatas compreende cerca de 200 espécies, todas descendentes de um remotíssimo ancestral comum, o musaranho, pequeno mamífero comedor de insetos, do qual se originaram também seres tão diferentes entre si como os morcegos, as baleias e os tamanduás. Os primeiros primatas surgiram há uns 65 milhões de anos. Tinham hábitos noturnos, viviam tanto em árvores como no chão e se alimentavam de frutos e folhas. Por volta de 50 milhões de anos atrás, começaram a espalhar-se pelo mundo. No processo de competição por recursos vitais, acabaram varrendo do mapa outros primatas, os chamados prossímios, dos quais sobreviveram apenas os antepassados dos atuais lêmures em sossegado isolamento na ilha de Madagascar, a leste da África.
Como os símios vieram parar aqui é uma questão que divide os pesquisadores. Uma teoria sustenta que os macacos da América do Sul originaram-se de espécies africanas que atravessaram o Atlântico a bordo de jangadas - na verdade, grandes blocos de terra, recobertos de raízes, que se haviam desprendido das margens dos rios, levando consigo seus moradores. A distância relativamente pequena entre a África e a América há 40 milhões de anos torna essa hipótese plausível. Outra teoria afirma que a macacada sul-americana descende de prossímios da América do Norte que migraram por um istmo onde hoje é América Central; milhões de anos depois, quando a passagem deixou de existir, os tatataranetos daqueles viajantes, isolados, desenvolveram suas próprias linhagens e uma característica anatômica exclusiva - a cauda preênsil que funciona como um quinto membro.
Uma coisa é certa: todos os primatas sul-americanos têm um antepassado comum, tenha ele vindo por mar ou por terra. A prova está nas suas narinas achatadas e afastadas, com as aberturas orientadas lateralmente, motivo pelo qual se chamam platirrínios. Já seus primos do Velho Mundo, os catarrínios, como os gorilas, chimpanzés, babuínos e mandris, têm as narinas unidas, com as aberturas para baixo ou para a frente. Maior território da América do Sul, o Brasil é por excelência o país dos primatas, abrigando nada menos de 44 espécies, agrupadas pelos zoólogos em três famílias. Os cebídeos compreendem, entre outros, o muriqui, o bugio, o macaco-prego e o aranha, num total de 24 espécies; os calitriquídeos, como o mico-leão e o sagüi, são dezenove; calimiconídeo só existe um, o calimico-goeldi.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Neandertais podem ter produzido ferramentas de ossos


Neandertais podem ter produzido ferramentas de ossos, diz estudo

Objetos em sítio arqueológico têm idade próxima a restos de neandertais.
Pesquisa foi publicada nesta segunda-feira (29) no periódico 'PNAS'.

Estátua mostra como seria exemplar de neandertal,em museu na Croácia (Foto: Frumm John/Hemis.Fr)

Um estudo recém-divulgado aponta que um grupo de neandertais, espécie de hominídeo já extinta, pode ter produzido ferramentas e ornamentos de ossos há cerca de 40 mil anos.
A pesquisa, conduzida por cientistas de instituições como o Instituto Max Planck, na Alemanha, e a Universidade de British Columbia, no Canadá, indica terem sido encontradas evidências da produção dos objetos por neandertais em dois sítios arqueológicos na França. O estudo foi publicado nesta segunda-feira (29), no periódico científico "PNAS".
Os dois sítios arqueológicos franceses, conhecidos como como Grotte du Renne e Saint Césaire, abrigam restos preservados dos hominídeos, que se extinguiram há cerca de 30 mil anos, e dos objetos. Para chegar ao resultado, os cientistas mediram a idade de 40 artefatos pré-históricos feitos de ossos encontrados em ambos os locais, usando uma técnica de datação por radiocarbono.

Em Grotte du Renne, os artefatos encontrados foram identificados como sendo de 44,5 mil a 41 mil anos atrás, idade que bate com a medição nos ossos de neandertais - os hominídeos no local teriam vivido há cerca de 41,9 mil anos, segundo os cientistas.

O resultado contradiz uma hipótese levantada anteriormente na comunidade científica, de que os artefatos encontrados nos sítios foram misturados com outras ferramentas produzidas por Homo sapiens que viveram na mesma época, e por isso provavelmente não teriam sido feitos por neandertais.
Os cientistas afirmam, no estudo, que a medição da data reforça "a ideia de que os objetos do 'Châtelperronian' (nome dado ao período em que os artefatos foram encontrados no sítio) foram produzidos pelos últimos neandertais da Europa ocidental".
As ferramentas e os ornamentos, inclusive, teriam sido produzidos após um período de contato com os Homo sapiens, o que indica que os neandertais podem ter aprendido este hábito, sugerem os pesquisadores.

domingo, 14 de outubro de 2012

Camundongos podem aprender a cantar


Camundongos podem aprender a cantar

Camundongos podem aprender a cantar, aponta estudo
Pesquisadores dizem que animais têm mecanismos cerebrais e comportamentais semelhantes a humanos.

Camundongo teria mecanismo cerebral e comportamental semelhante a humanos e pássaros (Foto: BBC)

Camundongos são capazes de aprender canções com base nos sons que escutam, afirmam 
pesquisadores americanos. Segundo novos estudos publicados no periódico "PLoS ONE", quando camundongos compartilham o mesmo espaço, eles aprendem a modular seus tons de voz entre si. E têm mecanismos cerebrais e comportamentais semelhantes a humanos e pássaros no que diz respeito à aprendizagem vocal.

Mas alguns acadêmicos se dizem céticos quanto à pesquisa, alegando que as provas são insuficientes para tais conclusões. Pesquisas prévias nesse campo haviam mostrado que camundongos machos seriam capazes de cantar canções complexas quando diante de fêmeas, e essas canções seriam uma parte importante do "namoro".

Essas "serenatas" são ultrassônicas - entre 50 e 100 Khz, muito além dos tons que podem ser captados pelos humanos. Quando esses sons são processados para se tornarem audíveis ao ouvido humano, eles soam como uma série de assobios de lamento.

Habilidade rara
Há tempos já se presume que camundongos seriam incapazes de mudar a sequência de seus tons de voz. Essa habilidade, chamada de aprendizado vocal, é rara na natureza - é restrita a alguns pássaros, como papagaios, a baleias, golfinhos, leões-marinhos, morcegos e elefantes.Mas, nos experimentos recém-divulgados, pesquisadores da Universidade de Duke (EUA) afirmam ter descoberto que os camundongos têm tanto os circuitos cerebrais como os atributos comportamentais para o aprendizado vocal. O cientista Erich Jarvis, que supervisionou o estudo, disse à BBC que as descobertas mudaram seu entendimento a respeito de como os camundongos produzem sons. "Descobrimos que, nos camundongos, os caminhos que estão ao menos modulando essas vocalizações estão no prosencéfalo, como em humanos", afirmou.
Jarvis fez a ressalva de que o estudo não apresenta provas claras de que os camundongos têm exatamente a mesma habilidade vocal que pássaros e humanos. Mas avalia que há um espectro de diferentes graus de habilidades para diferentes espécies. "Acreditamos que os camundongos estejam em um estágio intermediário de habilidade, entre uma galinha e um pássaro, ou mesmo entre um primata não-humano e um humano", afirmou o cientista.


Viver em harmonia
Quando camundongos machos com diferentes tons vocais foram colocados no mesmo ambiente, descobriu-se que seus tons gradualmente se equilibraram após cerca de oito semanas. Segundo Jarvis, trata-se de uma evolução importante. "Ao colocarmos uma fêmea na gaiola com dois machos, descobrimos que um macho mudou seu tom para ficar parecido com o do outro", diz o pesquisador. "Em geral, o animal menor muda seu tom para se equiparar ao animal maior."
Mas nem todos os cientistas concordam. Kurt Hammerschmidt, especialista em comunicação vocal no Centro Primata Alemão, em Goettingen, lançou dúvidas a respeito das descobertas do estudo sobre camundongos machos. "A história de convergência de tons é pouco convincente", afirmou. Jarvis rebateu dizendo que o ceticismo é infundado. "A reclamação (de Hammerschmidt) é de que não usamos animais o suficiente, mas descobrimos isso (a convergência de tons) em 12 pares de camundongos. Ao menos sob o nosso ponto de vista, isso é confiável e estatisticamente significativo"



sexta-feira, 8 de julho de 2011

Inteligência Animal

INTELIGÊNCIA ANIMAL



Na floresta Kibale, em Uganda, uma família de chimpanzés se alimenta no alto de uma figueira. Ao terminar a refeição, mãe e dois filhos pulam para outra árvore. Mas falta coragem à filhote caçula, que fica onde está. Paralisada, ela começa a gritar. Para ajudá-la, a mãe se aproxima da cria e balança a figueira para os lados, até aproximá-la da árvore vizinha. Ela então agarra um ramo e com o corpo forma uma ponte natural por onde a macaquinha atravessa sã e salva.
A cena foi presenciada em 1987 pelo psicólogo Marc Hauser, da Universidade Harvard, que ficou maravilhado. Teria sido intencional? Será que a mãe visualizou a imagem de seu corpo formando a ponte? Ou será que só estava tentando ensinar a filhote a saltar, e ela espertamente aproveitou a chance?
Para quase todos nós, o encantamento com bichinhos fofos que parecem agir de caso pensado torna fácil trocar as interrogações acima por pontos finais. Pesquisadores como Hauser, no entanto, têm se dedicado a encontrar respostas científicas para decifrar a inteligência animal. Eles querem entender o que realmente se passa na mente dos bichos. E como esses processos acontecem. Uma baleia pode ter cultura? Macacos são capazes de traçar estratégias de caça ou construir ferramentas? Insetos têm memória?
Consenso existe apenas para o ponto de partida. De acordo com César Ades, um dos maiores especialistas em comportamento animal do Brasil, cientistas acreditam que a capacidade de pensar pode ter surgido independentemente em vários animais, e não somente nos mais próximos dos humanos na cadeia evolutiva. Até aí, tudo bem. Mas quais tipos de comportamentos podem ser apontados como frutos dessa habilidade? "A melhor definição para inteligência é a habilidade de resolver problemas", afirma o pesquisador Culum Brown, da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Em seu livro Wild Minds ("Mentes Selvagens", sem tradução para o português), Marc Hauser propõe que vários aspectos da nossa cognição são encontrados nos outros animais. É o que ele chama de "kit de ferramentas", um conjunto de habilidades como reconhecer a função de um objeto, ter noção de quantidade e de direção. A partir daí, os animais evoluíram de acordo com suas necessidades. "Cada espécie é ‘esperta’ à sua maneira, porque evoluiu respondendo a pressões diferentes. Não podemos compará-las", diz o pesquisador Eduardo Ottoni, da USP. A maioria é, de modo geral, equipada com mecanismos de aprendizado que podem ocorrer por dedução ou tentativa e erro e se espalhar por imitação ou pelo ensinamento entre indivíduos. Mas para alguns animais foi mais vantajoso manter-se baseado apenas no instinto. Outros tiveram de aprimorar o kit diante de dificuldades, modificar seu comportamento e transmiti-lo para as próximas gerações. Foi o que aconteceu com os humanos. Mas, se olharmos de perto, macacos, cachorros e corvos têm em seus kits ferramentas muito parecidas com as dos humanos. As nossas até podem ser mais sofisticadas, mais complexas. Mas as deles funcionam perfeitamente para o que eles precisam. É o que você verá abaixo.

Memória
Quando o estúdio Pixar colocou no filme Procurando Nemo uma peixinha que esquecia tudo em poucos segundos, estava brincando com uma idéia que por muito tempo existiu na comunidade científica: peixes teriam memória de apenas três segundos. Estudos recentes mostram que isso é balela. Esses animais são capazes de lembrar e ainda guardam as informações a longo prazo. Foi o que comprovou o pesquisador Culum Brown. Ele prendeu um grupo de peixes arco-íris australianos num tanque e os treinou para encontrar uma saída. Após cinco tentativas, todos conseguiam achá-la. Onze meses depois, o pesquisador refez o teste. Dessa vez, os peixes localizaram a saída na primeira tentativa.
Graças à memória, peixes também reconhecem outros indivíduos. Ao presenciar uma luta, o animal não apenas retém informações, como cria um ranking de lutadores. No futuro, ele evitará brigas com os fortões. Cardumes também são capazes de aprender e memorizar a se desvencilhar de redes ou então viajar em formações que os protegem de predadores.
Traços de memória também foram detectados numa das últimas espécies em que se esperaria encontrar essas características: as aranhas. Antes vistas como um daqueles animais para quem manter-se atrelado ao instinto teria sido mais útil, elas têm surpreendido os cientistas. Um estudo a apontar nesse sentido foi feito por César Ades, que analisou a reação da aranha-dos-jardins (Argiope argentata). De um modo geral, quando um inseto cai na teia, a aranha libera um veneno paralisante e envolve a presa com fios de seda para levá-la ao centro da teia, onde vai devorá-lo. Se nesse tempo outro animal for capturado, a aranha deixa a primeira presa amarrada e corre até a nova para repetir o procedimento. César descobriu que, para reencontrar a primeira presa, a aranha depende da memória. Para chegar a essa conclusão, ele retirou uma mosca amarrada na periferia. E percebeu que a aranha, sem contar com a ajuda de um marcador, como o feromônio utilizado pelas formigas, retornava exatamente ao local onde a presa estava originalmente.

Comunicação
Quem tem cachorro costuma ter uma frase na ponta da língua para se gabar da destreza do seu animal: "É tão inteligente que só falta falar". É verdade que os cães continuam nos devendo um bate-papo, mas comunicar o que querem e entender o que as pessoas estão lhes dizendo já parecem fazer parte de suas habilidades.
Recentemente dois animais ficaram famosos: o border collie alemão Rico, de 10 anos, que consegue entender cerca de 200 palavras, e Sofia, uma legítima vira-lata "puro-sangue" brasileira de 3 anos, que demonstra o que deseja por meio de um painel com diversos símbolos.
Pesquisadores descobriram que Rico não só decorou os nomes de seus brinquedos como também é capaz de pegar, em meio a objetos familiares, um outro que não conhecia, após ouvir seu nome. A conclusão é que ele conseguiu associar a palavra nova ao objeto diferente. Os cientistas agora querem desenvolver uma mini-sintaxe com o cachorro e testar se ele entende frases mais complexas, como "pegue a bola e coloque na casinha".
Essa também é a meta do grupo de pesquisadores brasileiros que está trabalhando com Sofia. A cadelinha manuseia um painel de símbolos. Para receber carinho, comer, passear, brincar, beber água, fazer xixi ou ir para a casinha ela aperta a tecla correspondente, que emite um som com a ação. É uma capacidade que seres humanos geralmente adquirem por volta dos 3 anos de idade.
Em outras ocasiões, Sofia foi capaz de combinar símbolos para se comunicar, como quando o zootecnista Alexandre Rossi, seu dono e treinador, escondeu um osso dentro da casinha. Inicialmente, a cadela apertou a tecla brinquedo. Ao perceber que o osso havia sido escondido, Sofia apertou a tecla da casinha e logo em seguida a de brinquedo.
Sofia domina um vocabulário razoavelmente menor que o de Rico. Mas seus treinadores acreditam que ela esteja um passo à frente. Os pesquisadores conseguiram juntar um verbo e um objeto em suas ações. Ela entende, por exemplo, as diferenças entre "apontar casa" e "buscar a bola". Agora eles testam se ela sabe distinguir marcações de espaço nessas ações, como "em cima", "embaixo", "direita" e "esquerda".

Cultura
Imo é uma macaquinha especial. Sozinha, ela criou comportamentos que mudaram o estilo de vida de uma espécie japonesa (Macaca fuscata) da ilha de Koshima. No começo da década de 50, pesquisadores perceberam que ela, por alguma razão, passou a lavar a batata-doce antes de levá-la à boca. Até então, os animais simplesmente enfiavam o alimento na boca com terra e tudo. Gradualmente o comportamento se espalhou na comunidade. Após algum tempo, vários dos filhotes já repetiam a técnica, visível hoje entre quase toda a população da ilha de Koshima.
Imo, que em japonês quer dizer batata-doce, não parou por aí. Alguns anos depois ela arrumou um jeito de peneirar o trigo que era espalhado na areia pelos pesquisadores que observavam o grupo. Inicialmente os macacos pegavam os grãos um a um, e demoravam um tempão. Mas um dia Imo teve a brilhante idéia de pegar um punhado de trigo e areia e levar até a água. A vantagem da técnica foi clara: a água facilmente separava os grãos da areia, e ela pôde comer tranqüilamente. Assim como as batatas, a lavagem do trigo não demorou para se espalhar pelo grupo.
Lavar batatas não é como escrever livros ou cantar ópera. Mas o que Imo fez - desenvolver um novo comportamento e depois repassá-lo aos seus semelhantes - é algo que pesquisadores nem cogitavam ser possível duas décadas atrás. Ela transmitiu cultura.
Outro exemplo bacana é um caso curioso observado entre baleias-jubartes da costa australiana, espécie em que os machos emitem um som musical provavelmente para atrair as fêmeas. Uma verdadeira revolução cultural teve lugar por lá quando, em 1987, um grupo de cantores do Pacífico Sul abandonou totalmente sua melodia para adotar a de colegas do oceano Índico. A mudança ocorreu após um perído de convivência entre os dois bandos. Aparentemente, alguns "menestréis" que viviam na região do Pacífico se deram conta de que os colegas do Índico faziam mais sucesso com as meninas. E tudo isso graças ao canto deles. A solução foi mudar a música para não ficar no atraso com a baleiada.

Planejar estratégias
Chimpanzés que habitam a floresta Taï, na Costa do Marfim, usam um sistema de caça que se assemelha à tática de um time de futebol quando querem capturar sua refeição favorita, o macaco-colobo-vermelho. Como a presa é menor, mais rápida e pode se refugiar em locais inacessíveis aos chimpanzés, os primatas desenvolveram um modo de agir em equipe para conseguir encurralá-lo.
Para isso, dividem-se em pelo menos quatro funções: o condutor, que persegue a vítima, direcionando seu caminho; o bloqueador, que sobe nas árvores para fechar as opções de fuga; o perseguidor, que seleciona o alvo e tenta a captura em movimentos rápidos; e o responsável pela emboscada, cuja missão é prever o trajeto do colobo e bloquear suas rotas. Esse último é uma espécie de centroavante do time, que se antecipa ao adversário para finalizar a jogada.
O "centroavante" é sempre um animal com mais experiência - o domínio da arte da caça leva cerca de 20 anos. Quanto mais velho, mais o chimpanzé é capaz de fazer antecipações e de menos movimentos ele precisa para atingir seu objetivo. Futebolisticamente falando, ele é uma espécie de Romário. Toca pouco na bola, mas quando o faz, quase sempre está bem colocado e marca o gol.
Também as guerras entre esses animais possuem táticas avançadas. Chimpanzés são capazes de variar estratégias de acordo com o adversário e o time à disposição para a partida. Quanto menor o exército, mais defensiva será a tática. Mas, se o bando for numeroso, a opção é fazer um ataque frontal e impactante. Também há operações em que fêmeas, jovens e idosos ficam na retaguarda, batucando e gritando, para criar a impressão de que a tropa de machos é mais numerosa. E, se as forças são iguais, geralmente um lado faz o movimento e aguarda a resposta do rival. Nesse caso, grupos de chimpanzés invadem o território inimigo para espalhar o terror e assustar rivais que perambulam desacompanhados. Em algumas ocasiões esse tipo de comando foi visto aprisionando e torturando fêmeas isoladas.

Uso de ferramentas
Pesquisadores que observam grandes primatas em florestas da África já flagraram esses animais usando todo tipo de ferramenta. Para coletar frutos em árvores espinhosas, calçam ramos lisos sob os pés, como se fossem sandálias. Outros aproveitam folhas largas como almofadas para sentar no chão úmido sem molhar o traseiro. Enfiar galhos em cupinzeiros para pegar os insetos também é freqüente. Em um nível mais avançado, alguns animais usam pedras como bigorna e martelo para abrir nozes ou coquinhos - uma pedra maior relativamente plana serve de base, onde é posicionado o fruto, que é golpeado com uma pedra menor.
A surpresa veio quando cientistas observaram que não eram apenas os grandes primatas que dominavam esse tipo de técnica. Pequenos macacos-pregos também eram capazes de usar rochas para quebrar cascas e transmitir esse conhecimento para o grupo. A descoberta gerou uma dúvida. Ao observar a habilidade em chimpanzés, imagina que ela tenha surgido em algum momento da evolução dos macacos que deram origem aos hominídeos. Mas o macaco-prego subverte essa idéia. Como poderia um animalzinho separado da nossa linhagem na evolução há mais de 40 milhões de anos aprender a usar ferramentas? Para o pesquisador da USP Eduardo Ottoni, que descobriu a proeza dos macacos-pregos no Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo, não deveríamos considerar o fato com estranheza, mas sim pensar em quais pressões no processo seletivo promoveram tal desempenho. Mais uma vez, é a espécie se adequando às necessidades que o meio impõe.
Se os pregos surpreenderam os cientistas, que dizer então de corvos da Nova Caledônia, na Oceania, que se mostraram capazes de manipular pequenos ramos para pegar insetos em buracos estreitos? O desempenho desses animais na natureza já era considerado incrível por conta da utilização de ferramentas naturais para se alimentar. Mas o que fez a fama deles foi um teste de laboratório na Universidade de Oxford em 2002. Enquanto estudava alguns corvos, o pesquisador Alex Kacelnik flagrou a fêmea Betty criando uma ferramenta. Com o intuito de comer um pedaço de alimento colocado no fundo de um tubo de ensaio, ela transformou em gancho um arame que estava por perto. O feito ganhou destaque porque levantou a suspeita de que talvez Betty compreendesse a conseqüência do ato. "Convivemos nesse planeta com animais pensantes", diz Marc Hauser. "Cada espécie, com sua mente única, favorecida pela natureza e moldada pela evolução, é capaz de enfrentar os mais fundamentais desafios que o mundo apresenta. Apesar de a mente humana deixar uma marca característica no planeta, nós certamente não estamos sozinhos nesse processo", afirma ele. A natureza pode ser mais sábia do que parece.