APOLLO 11: COM OS PÉS NA LUA
Foi a maior conquista tecnológica de todos os tempos. Mesmo hoje, 35 anos depois que o homem chegou à Lua, a imagem ao lado ainda fascina e emociona. Foram nove dias de tensão e excitação, naquele julho de 1969. A saga começou no dia 16, com 1 bilhão de pessoas à frente da televisão. Na base de lançamento da Nasa, no Cabo Canaveral, o procedimento padrão dos lançamentos espaciais: contagem regressiva, ignição dos motores, decolagem do foguete. Na tela, um rastro de fumaça branca.
O Saturno V tinha 10 metros de diâmetro e 110 de altura, o equivalente a um prédio de 36 andares. Pesava 3 mil toneladas e carregava a nave Apollo 11, com seus três módulos: o de serviço, o de comando (Colúmbia) e o lunar (Eagle). A bordo, três astronautas que entrariam para a História. Neil Armstrong era o comandante da missão; Edwin Aldrin, o piloto do módulo lunar; e Michael Collins, o piloto do módulo de comando. E não cabia mais ninguém na Apollo 11. Nos 6 metros quadrados do módulo de comando, eles só podiam ficar sentados. Nas laterais e à frente ficavam os instrumentos. Havia ainda um armário com alimentos desidratados e as bolsas plásticas que serviam de banheiro.
O módulo de serviço, logo atrás, transportava os tanques de oxigênio e combustível e uma série de equipamentos. No final estava o Eagle. Com cerca de 15 toneladas e uma cabine de apenas 2,4 metros quadrados, levava os instrumentos que seriam deixados na Lua e o material necessário para fotografar e coletar amostras. Comparar os equipamentos de hoje com os da época é covardia. A memória dos computadores de bordo da Apollo era semelhante à das agendas eletrônicas de bolso atuais. E o micro que você tem em casa, para mandar e-mails e acessar a internet, é 100 vezes mais rápido e poderoso que o equipamento de 1969. O astronauta John Glenn, que participou do programa Apollo e voltou ao espaço com mais de 60 anos, em 1998, numa missão do ônibus espacial Discovery, ficou pasmo ao ver os avanços em termos de tecnologia e informática. O mesmo vale para o conforto. Os ônibus espaciais transportam oito pessoas por até 16 dias. O espaço interno destinado à tripulação é dividido em dois: um para os comandos e instrumentos de vôo e outro para as demais atividades (máquina de comida, local para dormir e banheiro).
Há 35 anos, Collins ficou sozinho no módulo de comando, enquanto Aldrin e Armstrong manobravam o Eagle. O risco de acidentes (previstos, como danos às roupas; e imprevistos, como choques com partículas; além da possibilidade de fa-lhas mecânicas ou instrumentais) era tão grande que eles levaram uma cápsula de cianureto no macacão para abreviar a morte caso necessário.
A viagem da Apollo 11 não foi a primeira aventura humana no espaço. Na verdade, a conquista da Lua era uma espécie de grande prêmio, a cereja do bolo de uma disputa que ficou conhecida como corrida espacial. O pano de fundo era a chamada Guerra Fria. Ao final da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética haviam dividido o riquíssimo espólio da tecnologia de foguetes da Alemanha. O Saturno V, por exemplo, era fruto da evolução das temidas bombas V-1 e V-2 desenvolvidas por cientistas do regime nazista.
Os soviéticos saíram na frente da corrida espacial. Em 1957, colocaram o primeiro satélite artificial em órbita, o Sputnik 1. Uma semana depois, a cadela Laika foi o primeiro ser vivo a viajar no espaço, no Sputnik 2. No ano seguinte, os americanos criaram a Nasa e começaram seu primeiro satélite artificial, o Explorer 1. O próximo passo foi vencido, mais uma vez, pela União Soviética: em 1961, a cápsula espacial Vostok 1 levou a bordo o cosmonauta Iuri Gagárin para uma volta em torno da Terra (um passeio de 40 mil quilômetros em uma hora e 48 minutos). Só no ano seguinte os EUA mandariam o astronauta John Glenn em órbita da Terra. A Soyuz 1, lançada em 1968, era o protótipo soviético para uma viagem tripulada à Lua. Mas, na reta final, os americanos levaram a bandeirada. Gastaram cerca de 25 bilhões de dólares para lançar a Apollo, em 1969.
"Viemos em paz"
No dia 19 de julho, a nave estava no lugar previsto, a 340 mil quilômetros de distância do Cabo Canaveral, em plena órbita lunar. No dia seguinte, Armstrong e Aldrin passaram para o Eagle e começaram a descida. Num momento de grande tensão, com combustível para menos de 30 segundos, o comandante ainda teve de corrigir a trajetória para evitar que o módulo se espatifasse numa cratera cheia de rochas. Ao pôr o pé na superfície empoeirada da Lua, seis horas depois do pouso no Mar da Tranqüilidade, Armstrong falou a famosa frase: "Um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para a humanidade".
Os astronautas ficaram 21 horas e 36 minutos em solo lunar, tempo para percorrer cerca de 250 metros, montar aparelhos de medição, recolher 21 quilos de amostras do solo, tirar fotos e deixar uma placa, onde está escrito: "Aqui, homens do planeta Terra pisaram pela primeira vez na Lua. Viemos em paz e por toda a humanidade". Na frente da TV, o planeta assistiu maravilhado às cenas tremidas e com muitos chiados - por mais que até hoje alguns acreditem que as imagens não passem de um filme de propaganda americano e que, na verdade, ninguém viajou até tão longe.
Para a tripulação, porém, a aventura ainda estava no meio. Faltavam ao menos duas operações arriscadíssimas: reacoplar o Eagle ao módulo de comando e acertar a inclinação exata do Colúmbia na hora de reingressar na atmosfera, para que a nave não fosse consumida pelo fogo (confira no infográfico da parte inferior destas páginas os momentos mais importantes da ida até o satélite e do regresso à Terra). No dia 24 de julho, o navio USS Hornet resgatou Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins no Oceano Pacífico. As cápsulas de cianureto não precisaram ser usadas. E eles se tornaram, para sempre, heróis da humanidade.
A AVENTURA DA IDA
Da contagem regressiva à chegada do Eagle à Lua
1. Adeus, atmosfera
Em menos de 12 minutos, três estágios do Saturno V lançaram a Apollo 11 a 185 quilômetros de altitude, numa viagem a 28 mil quilômetros por hora
2. No espaço sideral
Na órbita da Terra, bastava pouca energia para a nave ser lançada em direção à Lua. Um único motor impulsionou-a a 40 mil quilômetros por hora rumo ao satélite natural
3. Temperaturas extremas
De um lado, o calor do Sol. Do outro, o frio do espaço escuro. Para equilibrar a temperatura, uma rotação de 180 graus sobre o próprio eixo a cada 20 minutos
4. Alunissagem perigosa
Neil Armstrong assumiu o controle manual do Eagle para evitar um pouso desastroso, num local cheio de pedras. Sua pulsação chegou a 150 batimentos por minuto
DE VOLTA À TERRA
Os perigos enfrentados na viagem de retorno
5. Encomendas a bordo
Com 21 quilos de poeira e pedras lunares a bordo, Armstrong e Aldrin concluem uma manobra arriscada: o acoplamento do módulo lunar ao módulo de comando
6. Módulo de comando
Reunidos novamente no Colúmbia, os três astronautas desengatam o módulo lunar, cuja missão estava concluída. O Eagle foi abandonado na órbita da Lua
7. os riscos da reentrada
Para reentrar na atmosfera terrestre sem se incendiar (por causa do atrito com o ar), a nave precisava chegar num ângulo de mergulho predeterminado
8. O pouso no mar
Exatos oito dias, três horas e 18 minutos depois do lançamento, o módulo de comando cai nas águas do Pacífico Sul, onde os três astronautas são resgatados
1969
O traje incluía capacete e visor extraveicular, sistema de comunicação, luvas, cartucho de controle de contaminantes, bateria, dispositivo de resfriamento, bolsa com água e dispositivo de coleta de urina. Na Terra, pesava 86 quilos. Na Lua, o peso não passava de 14 quilos, devido à menor atração gravitacional
2004
A roupa é conhecida pelo nome técnico de Unidade de Mobilidade Extraveicular. O tecido ficou mais resistente e leve, mas a grande mudança é a possibilidade de acoplar, nas costas, a Unidade de Manobra Tripulada. A "mochila" permite ao astronauta locomover-se no espaço para realizar reparos na nave
Os eleitos
Neil Alden Armstrong (à esq.), o comandante da Apollo 11, estava prestes a completar 39 anos quando se tornou o primeiro homem a pisar o solo lunar. Participou da Guerra da Coréia em 1950 e depois foi para a Nasa. Em 1962, alcançou o status de astronauta. Ao sair da Nasa, tornou-se professor de Engenharia Aeroespacial e técnico em computação para aviação. O italiano Michael Collins (no centro) permaneceu no módulo de comando enquanto o Eagle descia até a Lua. Também tinha 38 anos. Entrou no terceiro grupo de astronautas, em 1963. Hoje é consultor para assuntos aeroespaciais e escritor. Edwin E. Aldrin Jr., 39 anos, foi o segundo a caminhar na Lua. Era conhecido pelo apelido, Buzz. Ph.D. em Astronáutica pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, é autor de dois livros sobre o programa espacial norte-americano.
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