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quinta-feira, 30 de maio de 2013
Encontrado na Itália manuscrito da Torá mais antigo do mundo
Encontrado na Itália manuscrito da Torá mais antigo do mundo
Exemplar que pode ser o mais antigo da Torá foi encontrado na Itália (Foto: Universidade de Bolonha/AFP)
Segundo professor, texto sagrado foi escrito no século XII.
Pergaminho foi catalogado de modo equivocado por arquivista em 1889.
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terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Maias, O Fim do Mistério - Antropologia
MAIAS, O FIM DO MISTÉRIO - Antropologia
A escrita desse povo, agora quase toda decifrada, promete elucidar mais de 1000 anos de sua nebulosa história, mascarada por lendas e preconceitos no passado
Os pântanos e florestas que cobrem boa parte da América Central abrigam, nos dias de hoje, alguns dos povos mais pobres e atrasados do mundo. O retrocesso dos últimos séculos, no entanto, é enganador. Ele interrompeu uma épica saga de nada menos que três milênios, ao longo dos quais ocorreu um dos raros momentos da história da humanidade em que inúmeros povos vizinhos subitamente despontam para a civilização. O testemunho mais impressionante desse fenômeno, na América, são as ruínas monumentais deixadas pelos maias.Em muitas histórias, ainda hoje, eles são pintados como uma gente meio mágica-que parecia ocupada apenas em adorar deuses terríveis ou em contemplar os astros, base do seu elaboradíssimo calendário. Chegou-se mesmo a especular que sua sociedade não era original da América; em vez disso, teria sido trazida por imigrantes da Antigüidade, vindos do Egito ou de algum outro lugar. Descobertas recentes, no entanto, põem por terra a mística vida maia, pois revelam que suas grandes obras não se limitavam a suntuosos templos e pirâmides, utilizados em rituais de sangue ou no culto aos governantes mortos. Havia também construções de finalidade prática, das quais as mais importantes eram vastos reservatórios que aproveitavam uma concavidade natural do terreno para coletar e armazenar a água da chuva.Tal tecnologia pode ter aberto uma inédita via para a civilização, pois era um meio de irrigar grandes parcelas de terra e, assim, ampliar a produção agrícola. Em outras palavras, significava alimento em quantidade suficiente para grandes populações. Isso foi essencial às grandes experiências históricas do passado-já que, nascidos da união de inúmeros povos, os impérios antigos deviam sua coesão, em grande parte, à capacidade de organizar a distribuição de água. Não por acaso, os faraós surgiram junto ao Rio Nilo; os reis sumérios, entre o Tigre e o Eufrates (onde é hoje o Iraque); e os monarcas chineses, às margens do Yang Tsé.Em diversas áreas da América, a ausência de grandes rios teria levado à bem-sucedida idéia dos reservatórios. Pelo menos é o que se deduz da densa população maia que, no auge, reunia dezenas de milhões de pessoas em povoados que superavam, em número, as antigas aldeias egípcias. Seus núcleos habitados, além disso, concentravam 130 pessoas por quilômetro quadrado -valor equivalente ao do Estado de São Paulo, nos dias de hoje. A expansão cultural desse povo teve inicio a partir do século I d.C.,na região de Tikal, na Guatemala. Aí se erigem as ruínas do mais portentoso conjunto cerimonial maia, dominado por uma monumental pirâmide de 70 metros, tão alta como um prédio de 23 andares.É possível que em torno dela tenha existido uma verdadeira cidade, talvez a maior que esse povo construiu. Atualmente, imagina-se que Tikal foi um mero centro administrativo e religioso, onde viviam, de fato, apenas os soberanos e sacerdotes, enquanto a população residia em aldeias agrícolas, mais ou menos distantes. Mas as ruínas incluem dezenas de construções avantajadas, que, além de santuários, podem ter sido mercados, palácios e residências. O conjunto principal ergue-se numa área de quase 100 quarteirões-em parte coberta por vastas plataformas de pedra de até 10 metros de espessura-, mas a cidade toda era dez vezes maior e cobria um quadrado de 3 quilômetros de lado.Além disso, Tikal possuía, pelo menos, seis grandes reservatórios pluviais, o maior deles com capacidade para armazenar 200 milhões de litros de água. No total, a capacidade era cinco vezes maior, isto é, 1 bilhão de litros ao ano. "Os reservatórios são um indício novo de urna forte urbanização", sugerem os antropólogos americanos Vernon Scarborough e Gary Gallopin, o primeiro da Universidade de Cincinnati e o segundo da Universidade do Estado de Nova York, ambas nos Estados Unidos. O raciocínio dos cientistas é claro: obras dessa magnitude, com centenas de metros de extensão, não poderiam ter sido realizadas por simples camponeses, inteiramente ocupados com o trabalho na terra. Para planejá-las e construí-las, deve ter sido necessário alocar trabalhadores em regime de tempo integral -isto é, homens que viviam na própria Tikal com suas famílias.Alguns desses homens, por outro lado, devem ter formado uma numerosa elite urbana, tão importante na vida hierárquica dos maias quanto a elite dos guerreiros e a dos sacerdotes. Nada disso era sequer imaginado há algumas décadas, o que é compreensível. Na época de sua descoberta, logo após a chegada de Cristóvão Colombo, em 1492, os monumentos maias estavam soterrados por uma vegetação literalmente amazônica e, já então, haviam sido abandonados fazia mais de 1000 anos. E certo que as construções estavam repletas de estranhas palavras, gravadas na pedra, onde poderia estar narrada a história dos seus construtores. Mas isso de pouco adiantava, já que ninguém conseguia decifrar os estranhos símbolos dessa escrita.Acima de tudo, a hostilidade devotada aos maias, desde o princípio, impedia qualquer análise racional da sua vida. Basta ver que muitos dos seus livros foram destruídos por motivos puramente militares-eram queimados para quebrar o ânimo dos nativos e assim facilitar sua conquista pelos espanhóis. Seus costumes, em vista disso, foram sistematicamente estigmatizados -em particular os sacrifícios de sangue, freqüentes em todas as culturas americanas. Nesses assustadores rituais, guerreiros e governantes inimigos, eram mortos a golpes de tacape, em público. Seu coração era, em seguida, extirpado e seu corpo, queimado. Essas práticas estendiam-se à intimidade dos lares onde as pessoas das castas dominantes vertiam, muitas vezes, seu próprio sangue- seu mais precioso bem, oferecido aos deuses em troca de favores.Embora repugnantes, hábitos como esse não significam que a sociedade maia era, de alguma forma, dominada por instintos sanguinários. Nem que o derramamento de sangue fosse o aspecto mais destacado de sua cultura. Em primeiro lugar, porque cultura é um conceito relativo; o que causa repugnância a um povo parece apenas normal aos olhos de outro povo. Depois, porque houve muito exagero, no passado. "Seria um erro pôr muita ênfase nos rituais de sangue", opinam, por exemplo, dois competentes estudiosos da escrita maia, os americanos David Stuart e Stephen Houston, da Universidade Vanderbilt. Eles acreditam que nos próximos anos será possível ter uma idéia mais precisa da sociedade maia, graças aos progressos na arte de decodificar sua escrita. "Metade dos símbolos para as sílabas já foi decifrada."Esses curiosos sinais representam um pequeno grupo de letras-como "wi" e "tsi", componentes da palavra "wits", que significa "colina". Ou como "a", "ha" e "wa", que formam o termo "ahaw", empregado para designar "senhor de terras" ou "governante". Ao lado dos caracteres silábicos, os maias empregavam também formas logográficas, isto é, desenhos completos para representar uma palavra. O termo "senhor de terras", por exemplo, também podia ser escrito com um simples desenho, na forma de uma face. Assim, a comparação das figuras com as palavras abre uma brecha maior para a compreensão de ambos.Ao contrário do que se supunha, os textos maias não são simples fórmulas místicas ou meras narrativas religiosas. Em grande maioria, eles descrevem eventos reais da história da América Central e do México, e podem esclarecer a desconhecida história política da região. Há grande interesse, por exemplo, em desvendar as relações entre Tikal e a cidade de Teotihuacán, que no quinto século d.C., abrigava 150 000 habitantes e era uma das maiores cidades do mundo.Tikal havia surgido 600 anos antes de Cristo, mas sua história remonta a dois e meio milênios antes disso, quando os maias iniciaram sua migração, talvez vindos de tão longe quanto a costa oeste dos Estados Unidos. Nessa época, os primeiros povos a despontar como uma civilização distinta e abrangente foram os olmecas. Mas não está claro se a região chegou a comportar verdadeiros impérios, pois as cidades fundadas durante o primeiro milênio antes de Cristo pareciam ter vida independente.No caso dos maias, os primeiros centros regionais-como Izapa e Kaminaljuyú, estabelecidos na Guatemala -criaram uma fase cultural conhecida pelo nome de Terras Altas. Quando esses centros perderam força, Tikal ergueu-se como um fenômeno marcante. Essa transição ocorreu por volta do ano 300 d.C., sob a égide de um soberano denominado Focinho Curvado, cujos emblemas exibem a imagem do deus Tlalóc, de Teotihuacán. Sabe-se também que o soberano deposto por ele era Garra de Jaguar, ligado às linhagens dominantes das Terras Altas.Portanto, insinua-se aí uma instigante trama política e há diversas outras indicações de algum tipo de aliança entre as linhagens dominantes de Tikal com as de Teotihuacán, talvez como meio de afastar a influência dos centros das Terras Altas. No governo seguinte, de Céu Tempestuoso (entre 426 e 456 d.C.), consolida-se o novo centro de poder dos maias. Nos séculos posteriores, de fato, a arquitetura e arte criada nesse período se espalhariam para leste, com a edificação de templos monumentais em localidades como Uxmal e, especialmente, Chichén Itzá. Foi a idade de ouro dos maias. Ela se encerraria abruptamente, no século IX, mais ou menos quando, ao norte, começava a erguer-se a cultura asteca.Stuart e Houston dizem que alguns textos já decifrados ilustram a intensa atividade política dos maias, nessa região. Eles contam a história de diversas cidades junto ao Lago Petebaxtun, não muito distante de Tikal. "As inscrições revelam que, nesse local, as relações entre as cidades mudaram de amistosas para hostis, e novamente para amistosas, num curto período de apenas quarenta anos."Ainda é cedo para tirar conclusões seguras a respeito dos inúmeros fatos novos levantados pela pesquisa científica. Mas o empenho com que se buscam respostas, atualmente, permite prever uma pequena revolução na história dos maias. Eles ainda somam, hoje, 4 milhões de pessoas, habitantes do México, Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador-cerca de 4% da população desses países. E possível que o resgate de sua memória perdida, além de ajudar a entender melhor o nascimento da civilização, também abra novos horizontes para o futuro desse povo.
Mesoamérica, há 10 000 anos: berço de civilizações
Diversos povos nômades, há 10 000 anos, começaram a fixar-se na região do México e América Central, onde produziram um dos grandes inventos da pré-história: o milho. Antes disso, esse cereal era um capim cuja espiga de apenas 4 centímetros, depois do cultivo, tornou-se quase dez vezes maior. O plantio fez multiplicarem-se as aldeias permanentes, a partir de 5 000 anos atrás. A primeira grande cultura da região foi a olmeca, que construiu San Lorenzo e La Venta, entre 1200 e 900 a.C. Nos séculos seguintes, na periferia da área olmeca, floresceram cidades como Teotibnacán, numa área cultural de nome tolteca, e Monte Albán, numa área zapoteca. Ao sul, apareceram os mais antigos centros maias: Abaj Takalik, Izapa e Kaminaljuyú. Vieram, mais tarde, Tikal e Palenque e, depois, Chichén Itzá e Uxmal. Decadentes, esses últimos centros duraram até o século 14 d.C. -quando Tenochtitlán, capital do império asteca, já abrigava mais de 200 000 habitantes.
Ciência dos números, palavras e astros
Ao contrário de outros povos que chegaram ao limiar da civilização, os maias não conheciam a roda, o torno de madeira ou os metais, assim como não dispunham de animal de tração. Mas isso. em vez de diminui-los, os engrandece.. "As limitações tornam ainda mais admiráveis suas conquistas em inúmeros outros domínios", opina o arqueólogo francês Paul Gendrop. Ele refere-se, com certeza, à Arquitetura, Matemática Astronomia e escrita. Essa última parece um retrato de como nascem os símbolos. Em certos casos, ela representava as palavras por meio de figuras bem concretas, como, um rosto ou um galho de árvore; no total, existiam cerca de 1 000 símbolos desse tipo. Em outros casos, ela empregava sinais abstratos, como círculos, traços, ou formas mais complicadas.Esse segundo sistema, no entanto, era mais prático, pois as palavras podiam ser escritas com pouco mais de 100 sinais abstratos. Esses eram usados para representar sílabas, nas quais se combinavam cinco vogais e dezessete consoantes. Algumas das palavras mais importantes do vocabulário maia estavam ligadas aos seus dois calendários, onde o ano chamava-se "tún" e os meses "uinals". Num deles, considerado sagrado, o ano tinha 260 dias e era dividido em treze meses de vinte dias cada um. No outro, de uso civil, o ano tinha 365 dias e dezoito meses de vinte dias, mais cinco dias.Os dois calendários combinavam-se por meio de um incrível sistema astronômico, baseado no período de 584 dias, tempo que o planeta Vênus leva para dar uma volta completa em torno do Sol. De tal modo que, quando Vênus dava 65 voltas, passavam-se exatamente 104 anos de 365 dias e 146 anos de 260 dias. Os maias descobriram que essa coincidência de números inteiros acontecia num período mais curto-em metade de uma volta de Vênus, ou 52 anos civis. Esse período de 52 anos era, por isso, a base das suas datações históricas. A Matemática também estava associada ao calendário e aos astros, pois a numeração não se apoiava no número 10, como atualmente; em vez disso, empregava o número 20, o total de dias do mês. Os seus algarismos eram apenas três: um ponto representava o número 1; uma barra, o 5; e uma oval, o zero.
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terça-feira, 30 de outubro de 2012
Como o homem fala - Biologia
COMO O HOMEM FALA - Biologia
E canta, chora, cochicha, geme e grita, graças a um dos mais versáteis instrumentos da natureza: as cordas vocais. A ciência já consegue ver por dentro toda a sonora riqueza da voz humana.
A platéia fica de boca fechada, sem dar um pio, para ouvir uma ária da ópera Carmen. A intérprete é Celine Imbert, paulistana de 38 anos, dona de uma elogiadíssima voz de soprano, a mais rara e requintada que uma cantora lírica pode ter. Mas o silêncio dos ouvintes naquela apresentação tinha um motivo incomum. A cigana criada no século passado pelo escritor francês Prosper Mérimée e transformada em ópera por seu conterrâneo Georges Bizet (1838-1875) provavelmente jamais havia sido vista dessa maneira: em vez da dança sensual da personagem, assistia-se então à coreografia de um tubo rosado e oco, contraindo-se e esticando-se no ritmo da música. Não se tratava de uma montagem performática de Carmen, mas da gravação de um vídeo para a Escola Paulista de Medicina, há poucos meses, Celine exibia a laringe a um distinto público de pesquisadores, graças a um equipamento desenvolvido para possibilitar que os cientistas compreendam a harmonia existente entre os gritos e os sussurros, os graves e os agudos da voz humana.
Há mais tempo do que a ciência é capaz de rastrear, o homem aprendeu a erguer, com a fala, a esplêndida catedral da linguagem, o que lhe permitiu conquistar para sempre um lugar à parte entre todos os seres vivos. Mas, até há alguns anos, existia uma única maneira de observar os mecanismos da voz: segurando-se a língua para pôr um espelho dentro da garganta. Nessa situação desconfortável, o máximo que alguém consegue é soltar grunhidos. Assim, aos estudiosos restava apenas deduzir a fisiologia a partir da anatomia, imaginando como seria a ação das cordas vocais, o par de músculos produtores do som, revestidos de mucosas, que, apesar do nome sugestivo, em nada lembram violinos ou harpas. Aliás, a julgar pela aparência, esses músculos merecem a designação menos elegante de pregas vocais, preferida pelos pesquisadores. Hoje sua imagem ficou mais nítida: ao se introduzir uma delgada fibra ótica (ligada a uma câmera de TV) pelo nariz até a laringe, como se tornou possível fazer, o aparelho fonador permanece livre e desimpedido para que a pessoa examinada fale normalmente ou, como no caso de Celine Imbert, cante uma ária.
O vídeo mostra que, vez ou outra, quando a cantora inspira, as duas cordas vocais relaxadas, uma de cada lado, formam uma fenda triangular que se chama glote. Dessa maneira, o ar trafega sem obstáculos até os pulmões, onde abastece o organismo de oxigênio. Quando o diafragma, o grande músculo que separa o tórax do abdômen, expulsa o ar para fora, pode-se romper o silêncio. Se alguém resolve soltar a voz, o cérebro ordena que os músculos da laringe fechem a glote. O ar então fica no meio do caminho, preso no canal da traquéia, entre os pulmões comprimidos pelo diafragma e a glote inapelavelmente cerrada. Mas, tamanho acaba sendo o aperto ali, que o ar, sob pressão, força a passagem estreita entre as cordas vocais e estas, imediatamente depois da fuga, voltam a se unir. O pouco do gás que escapa, no entanto, é suficiente para empurrar partículas de ar que estavam na laringe; elas, por sua vez, empurram outras partículas e assim por diante, como pedras de dominó caindo uma depois de outra. O traçado dessa cadeia de partículas teria a forma de uma onda -e de fato se trata de uma onda sonora. Na verdade, as cordas vocais abrem e fecham tão rápido que não se pode notar o movimento a olho nu. Por esse motivo, ao examinar a laringe com fibra ótica, os médicos costumam recorrer a uma luz estroboscópica, como as usadas em discotecas, que dão a ilusão da imagem em câmara lenta. Nas crianças, o movimento se repete mais de 250 vezes por segundo. Com isso, a vibração do ar é grande e o resultado é uma onda mais condensada de energia ou de alta freqüência, que gera sons mais agudos. Para preservar essa voz fina e angelical é que em tempos idos surgiu a desumana idéia de castrar rapazes destinados ao canto. Isso porque, na adolescência, a entrada em cena dos hormônios sexuais, nos meninos e nas meninas, aumenta a massa muscular do organismo; as cordas vocais, em coro com essa transformação, tornam-se mais espessas e longas-desse modo, também mais resistentes à vibração.
Nas mulheres, as cordas passam a se movimentar entre 200 e 220 vezes por segundo, enquanto nos homens o ciclo vibratório é de cerca de 110 vezes. Todos podem ouvir o efeito da diferença: a voz engrossa porque a freqüência da onda sonora se torna mais baixa. Até que a laringe se acostume com a transformação, a voz desafina, o que fica mais evidente nos homens, nos quais a mudança é drástica. No entanto, mesmo entre adultos, ninguém fala no mesmo tom o tempo inteiro. "A laringe ajusta o tamanho conforme a altura do som, grave ou agudo", explica o otorrinolaringologista Paulo Pontes, da Escola Paulista de Medicina, um dos maiores especialistas brasileiros em laringe. Ele estende a mão e a compara a uma corda vocal: "Ao fechar a mão, a pele do dorso se estira e fica mais tensa; o mesmo ocorre com a mucosa da prega vocal quando ela é estirada pelo alongamento para produzir um som mais agudo. Ao se encurtar, a prega fica menos tensa-mais massa vibra e o som é mais grave. O mesmo acontece com a mão aberta: a pele relaxa, podendo formar mais dobras."
Para falar em alto e bom tom, porém, é preciso muito mais do que cordas vocais bem afinadas pela laringe: é necessária uma lubrificação adequada. Assim, a voz enrouquece quando se fica gripado, porque o excesso de muco segura as cordas vocais. O inverso, a secura, tampouco é o ideal. "É comum querer gritar de nervoso e a voz não sair", exemplifica Pontes, "porque a tensão chega a secar as glândulas salivares e, sem lubrificação, as cordas vocais não conseguem vibrar direito." Contudo, se dependesse exclusivamente do que se passa na laringe, o homem viveria quase mudo, pois o som produzido ali é tão baixo quanto o de um cochicho. Por isso, ao longo da evolução da espécie, órgãos a serviço das funções respiratória e digestiva foram se adaptando para o trabalho extra de modular a voz humana.
As ondas sonoras geradas na glote atravessam um verdadeiro sistema de amplificadores, formado pelos próprios pulmões, mais a laringe, a faringe, a boca, o nariz e por uma série de cavidades existentes nos ossos da face, os seios paranasais. Ao entrar em uma dessas estruturas, chamadas caixas de ressonância, é como se a onda sonora batesse em uma parede e ricocheteasse; desse modo, acaba se chocando com outra onda sonora no caminho. Conforme a combinação resultante do encontro, aquela primeira onda sonora pode ser amplificada, tornando-se audível. Mas também ocorre o oposto -uma onda atenuar outra. E justamente o jogo de abafar ou de aumentar o volume de certos sons que dá ao homem uma voz quase tão rica em nuances quanto a música de um piano. As cordas vocais são como o samba de Tom Jobim: emitem uma nota só, o chamado tom fundamental; outras notas podem entrar-os tons harmônicos, múltiplos do fundamental-, mas a base é uma só, de novo como na canção. Mesmo partindo de um único tom, o homem constrói toda uma gama sonora. O médico Paulo Pontes disseca a proeza: "A onda do tom fundamental, ao atravessar as caixas de ressonância, é ampliada apenas em determinadas faixas conforme o som desejado. Assim, podemos emitir, por exemplo, o som de vogais diferentes". Tudo é calculado, embora não se perceba. O sistema nervoso comanda músculos, do abdômen até a face, de tal maneira que a onda sonora termina sendo guiada para determinados pontos de determinadas caixas de ressonância, sempre de acordo com o som.
É fácil notar, por exemplo, as alterações que ocorrem na boca, que fica escancarada para emitir um "a" de exclamação ou faz bico para produzir o acachapante "u" de uma vaia. Assim como a boca, outras caixas de ressonância, graças à ação muscular, também vivem mudando de formato. "É claro que uma bela voz vai depender de fatores físicos, como estruturas do aparelho fonador perfeitas e bem-proporcionadas", cita Pontes. "No entanto, mais importante do que isso, é saber guiar a onda sonora até a caixa de ressonância certa. É essa sensibilidade que os cantores têm de especial." De fato, o jogo de caixas de ressonância é responsável pelos atributos estéticos da voz. É o trajeto da onda sonora, abafada em algumas faixas, amplificada em outras, que resulta em um tom aveludado como o de um locutor de rádio de fim de noite ou grasnante como o de um imitador do Pato Donald. No final, cada um cria maneiras exclusivas de gerar seus sons, com esse ou aquele conjunto de movimentos musculares.
"Por isso, a voz é uma espécie de impressão digital sonora", compara a fonoaudióloga paulista Mara Behlau, a única especialista credenciada a dar pareceres em tribunais brasileiros sobre identificação de vozes. Ela trabalhou junto com peritos americanos na comparação de vozes gravadas ao telefone, quando as autoridades italianas recorreram aos Estados Unidos ao investigar o seqüestro e assassínio do primeiro-ministro Aldo Moro, em 1978. Embora o fator desenvolvimento do organismo também deva ser ouvido, a rigor o aparelho fonador é esculpido pelo uso. Assim, os órgãos de fonação do brasileiro geram com facilidade os sete fonemas vogais do português-a, é, ê, i, ó, ô, u. Isso explicaria a ginástica que é para muitos brasileiros falar outras línguas. O inglês americano, por exemplo, faz soar catorze fonemas vogais-o dobro do que os músculos dos brasileiros se habituaram a realizar. Que dizer então do sueco, que vocaliza 22 sons vocálicos.
Antes de ser moldado, porém, o aparelho fonador é capaz de aprender qualquer língua sem rastros de outros sons. Análises feitas por computadores provam que os bebês no mundo inteiro emitem no mesmo tom quatro tipos de sons. O primeiro é o grito do nascimento, algo que humano algum será capaz de repetir na vida. "É um som peculiar, pois serve para expulsar o líquido contido no trato respiratório", esclarece Mara. Por sinal, o homem é o único animal que grita ao nascer; os bichos costumam vir ao mundo calados; provavelmente, especula- se, para não denunciar sua frágil presença a ouvidos predadores.
A voz do recém-nascido, qualquer que seja a sua origem, vai do tom mais grave ao mais agudo até que a mãe perceba que ele sente fome. Mas, quando o choro se limita a um único tom, insistente e monótono, é porque a voz reclama de dor. Finalmente, os bebês também soltam sons anasalados, leves gemidos que indicam prazer. "Para o resto da vida o homem associará prazer e afeto à voz anasalada", informa Mara. Segundo ela, existem apenas três línguas em que os tons anasalados predominam: o português, o francês e o polonês. "Parte da fama de românticos dos franceses e de sensualidade dos brasileiros se deve ao idioma que eles falam", acredita a especialista.
"Cada emoção tem voz própria", garante de seu lado o psicólogo Ailton Amélio da Silva, da Universidade de São Paulo, que ensina o tema para alunos de pós-graduação. Quando Ailton começou a estudar expressões faciais em filmes e novelas, há dez anos, descobriu que era necessário tirar o som, porque a voz distrai, chamando mais a atenção do que a imagem. Há quatro anos, ele inverteu o processo e passou a ouvir apenas o som das telenovelas. Com a ajuda de computadores, a gravação é fragmentada e os segmentos, remontados ao acaso. O resultado são vozes que mantêm o tom e o ritmo originais, mas que emitem ruídos sem sentido algum. "Com uma freqüência espantosa, os ouvintes costumam identificar a emoção de quem emitiu a voz", revela o pesquisador.
Embora recentes, pesquisas nessa área já indicam pistas valiosas. Quando alguém mente, por exemplo, a voz tende a não oscilar de tom, como se o mentirosos temesse escorregar para a informação verdadeira. Quem está feliz fala mais fino e mais alto, ao contrário da voz tristonha e desanimada, mais baixa e mais grave. Fala grosso quem sente raiva, mas a voz afina e baixa de volume em situação de constrangimento. "Em épocas primitivas, quando a agressão fazia parte do convívio social, devia ser importante para cada um perceber na hora se a voz do outro revelava medo ou raiva", supõe Ailton. Algumas emoções, quando constantes, podem prejudicar a voz, de acordo com a fonoaudióloga Carla Miéle, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.
É o caso da tensão e da ansiedade. A respiração curta do ansioso fornece pouco fôlego para a emissão de sons. "Sem pressão suficiente do ar, as cordas vocais se esforçam em dobro e deixam de trabalhar em sincronia", descreve Carla. Surgem então ali nódulos, os famosos calos nas cordas vocais, um dos mais comuns distúrbios de voz. O problema aparece naqueles que abusam da voz, cantores, professores, políticos, locutores, mães que vivem gritando com os filhos-gente que, às vezes, acredita que pigarrear ajuda a combater a rouquidão, um sonoro mito. Felizmente, foi-se o tempo em que para resolver um problema de calos vocais a vítima corria o risco de ficar calada para sempre. Hoje em dia, microcirurgias retiram os calos, deixando as cordas vocais intactas. Aliás, justamente porque a Medicina atual consegue observar as cordas vocais em ação, como durante a audição de Celine Imbert, existe tratamento para a maioria de seus males, sem afetar a voz dos donos-algo que deveria fazer os cientistas cantar de alegria.
Aparelhos de som
A rigor, não existe um órgão cuja única função seja permitir a emissão de sons. Mesmo as cordas vocais fazem parte da laringe, que serve para conduzir o ar aos pulmões. Mas, ao longo da evolução da espécie humana, órgãos ligados à respiração e à digestão passaram a trabalhar também na produção da voz.
Jogo de ondas
Ao entrar em uma caixa de ressonância, a onda sonora bate e volta, cruzando com outra onda que vem atrás, no mesmo trajeto. No encontro, se uma onda for exatamente o oposto da outra, os dois sons se anularão. Se as duas ondas se encaixarem, acabarão se somando e dessa maneira o som será amplificado. Se, no entanto, as ondas não se encaixarem perfeitamente, o som original será abafado.
O rei da imitação
A voz do papagaio nada tem a ver com a do homem, a quem imita: para início de conversa, como nas demais aves seu som não é produzido por cordas vocais, mas por uma membrana, a seringe, situada entre os brônquios e a traquéia. De uma espécie de ave para outra existem diferenças na membrana, assim como nos músculos que a fazem vibrar para produzir a onda sonora-daí a diversidade do canto dos pássaros. "A seringe de uma ave canora é muito mais complexa do que a dos papagaios", compara a bióloga Elizabeth Hofling, da Universidade de São Paulo. Em compensação, o cérebro do papagaio tem uma capacidade de aprendizado maior para imitar sons." Outras aves conseguem a mesma proeza, como certas araras e as gralhas. Já os pássaros pretos, excelentes imitadores, preferem copiar outras espécies-por exemplo, canários.
A voz da verdade
Nem o mais hábil imitador consegue reproduzir exatamente o jeito de falar de outra pessoa. Na década de 30, os cientistas ainda não haviam descoberto que a voz é algo tão pessoal e intransferível quanto uma impressão digital. Apesar disso, em 1935, nos Estados Unidos, o jardineiro Bruno Hauptmann acabou executado pelo seqüestro e assassino de uma criança de 2 anos-foi a primeira vez em que se usou a voz como prova em um tribunal. Embora a memória costume falhar nessas coisas, o júri confiou no pai da vítima, Charles Lindbergh (1902-1974), o primeiro aviador a atravessar o Atlântico sem escalas, que reconheceu a voz do antigo empregado no telefone.
Equipamentos capazes de identificar vozes com segurança apareceram na Segunda Guerra Mundial: os americanos verificaram que as tropas alemãs costumavam usar os mesmos soldados para transmitir mensagens de rádio-assim, identificá-los seria uma forma de acompanhar os deslocamentos dos inimigos. Na época, era preciso comparar duas frases idênticas para saber se haviam sido ditas pela mesma pessoa. Atualmente, porém, computadores analisam mais de setenta indicações, ou parâmetros, para informar se duas vozes pertencem ao mesmo dono, ainda que falando línguas diferentes.
Erros gritantes
Na hora de abrir a boca para manifestar-se sobre voz, muita gente talvez devesse permanecer em silêncio para não propagar conceitos falsos como estes:
Quem muito grita pode arrebentar as cordas vocais As cordas vocais nunca arrebentam, deixando as pessoas mudas. Quem força muito a garganta pode, isso sim, ficar rouco de cansaço ou, a longo prazo, desenvolver calos nas cordas vocais.
Um gole de bebida alcoólica aquece a garganta e ajuda a voz a sair mais fácil O álcool não traz beneficio algum à voz; além disso, é um dos principais causadores de câncer de laringe.
O único mal do cigarro, para a voz, é diminuir o fôlego A fumaça do cigarro aumenta a quantidade de muco nas cordas, o que altera a voz.
Mel e limão ajudam a curar a rouquidão Esta pode ser uma excelente receita, mas para inflamação de garganta. Pois a glote se fecha quando se engole alimentos, impedindo que entrem no aparelho respiratório. Se uma gota de mel chegar a cair sobre as cordas vocais, o efeito será um enorme engasgo. O único remédio para a voz rouca é o silêncio.
Pigarrear ajuda a tornar a voz mais clara Pigarrear é um truque psicológico-a pessoa se assegura de que a voz está na garganta e não irá lhe falhar. Infelizmente, nada arranha mais as cordas vocais do que um simples pigarro.
Na velhice, a voz muda por falta de hormônios sexuais A diminuição de hormônios e o próprio envelhecimento da mucosa que reveste as cordas vocais podem afinar a voz na terceira idade. Mas, como qualquer outro músculo, cordas vocais exercitadas, como as dos cantores, mantêm a forma. Aliás, a voz chega ao ápice entre os 40 e os 50 anos de idade.
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terça-feira, 25 de outubro de 2011
A procura do idioma universal
À PROCURA DO IDIOMA UNIVERSAL

Nesta torre de Babel chamada Terra existem cerca de três mil línguas diferentes. Mas o intercâmbio entre os povos exige cada vez mais uma comunicação universal. E ela somente foi possível até hoje em campos específicos, como a música e a matemática. As tentativas de maior alcance foram mal-sucedidas.
Até o ano 2000, a população mundial - inclusive a do Terceiro Mundo - estará viajando tanto que a exigência de uma língua comum entre os povos será uma necessidade imperiosa. O domínio de um idioma universal para se comunicar já não será privilégio apenas dos que têm maior acesso à cultura. Ainda não se decidiu qual será esta linguagem. Sabe-se apenas que ela não deverá ter fronteiras, além de ser pensada para a próxima e não para esta geração.
A ONU (Organização das Nações Unidas) tem cinco idiomas oficiais: inglês, espanhol, russo, chinês e francês; e seus tradutores não dão conta das montanhas de papéis acumuladas sobre suas mesas. Aqueles que, por causa do trabalho, são obrigados a percorrer diversos países, acabam aprendendo vários idiomas. Mas esta circunstância, em geral, implica em um conhecimento muito superficial. Defender-se não é dominar. Por este motivo, é possível escrever até uma enciclopédia com os erros de interpretação cometidos, inclusive na área diplomática.
Na visita que fez a Moscou em maio passado, o ministro de Assuntos Exteriores da Espanha, Fernando Morán, que fala inglês, cometeu uma gafe. Quando um jornalista Ihe perguntou em inglês se havia tratado do problema do dissidente Andrei Sakharov com as autoridades soviéticas, ele respondeu que "o tema do Sahara não foi incluído nas conversações". Outro exemplo: há alguns meses, a imprensa espanhola publicou a notícia "intoxicação alimentícia mata milhares de turcos". Na realidade, as vitimas não eram turcos, mas perus. Eles traduziram a palavra turkeys (em inglês, perus) por turcos (em inglês, turks).Existem aproximadamente três mil línguas no planeta. Cerca de cem são utilizadas por mais de um milhão de pessoas. A metade da população mundial se comunica em chinês, inglês, espanhol, russo, árabe, indu e português. O comércio internacional, o turismo, a política, os descobrimentos científicos obrigaram a intercomunicação entre homens e culturas e áreas lingüísticas distintas. Já é necessária a introdução de uma língua para a humanidade. No entanto, esta idéia, de vantagens indiscutíveis, não é tão fácil de ser colocada em prática.
O inglês, devido ao predomínio político e econômico dos Estados Unidos, se converteu em idioma quase universal. Um em cada quatro habitantes do planeta pode se entender, mais ou menos bem, nesta língua. Mas os chineses (mais de um bilhão de habitantes) e os soviéticos (277 milhões) se negam a acertá-la; e os dois países somam mais do que a quarta parte da população mundial. Esta circunstância levou os filólogos a considerar que somente um idioma novo deixaria de lado conotações políticas e sociais, pois pertenceria a todos e a ninguém ao mesmo tempo. Não deixa de parecer absurda, no entanto, a implantação de uma língua inventada quando existem mais de três mil faladas. Anos atrás, foi apresentada a proposta de eleger o finlandês ou o nayatl (asteca), para evitar ressentimentos e lutas de poder. A sugestão, no entanto, não foi levada em consideração.
As tentativas de fabricar um meio de expressão artificial são antigas. As primeiras aproximações produziram línguas-catálogos, inúteis para a comunicação humana. Um bom exemplo disto é a invenção do escocês Dalgamo, composta de palavras divididas em partes: o n equivaleria a tudo o que se referisse a seres vivos; em combinação com a letra grega eta formaria o conceito de animais; completado com o k, animais de quatro patas.Mas um idioma vivo nunca é tão lógico, tão fechado, tão regulado. Por isso também não triunfou a fantasia de um francês chamado François Sudre, que em 1817 criou o Solresol, método baseado no solfejo: dó significava sim; ré era e; mi se tornou ou etc. A palavra solasi, ou seja, três tons ascendentes, indicaria subida, e assim seria construída uma variedade de frases. Esta linguagem permitiria também o canto, o que entusiasmou muitos dos intelectuais contemporâneos de Sudre; o poeta Victor Hugo e o imperador Napoleão III eram seus fãs incondicionais. O Solresol é hoje uma simples curiosidade da História da Lingüística.
Além dos idiomas artificiais, surgiram outras tentativas a partir da combinação de línguas vivas. No ano de 1879, o monsenhor alemão Johan Martin Schleyer inventou um sistema original, denominado Volapuk, que, em um primeiro momento, parecia uma revolução. Semelhante em sua estrutura ao húngaro e ao turco, alcançou grande êxito no final do século passado. Foram publicadas 316 gramáticas, traduzidas em 25 idiomas; 25 revistas e 283 clubes se dedicaram à promoção da língua.
Esta difusão, no entanto, foi bloqueada pelo próprio Schleyer. Durante um congresso, vários delegados propuseram a introdução de mudanças gramaticais. Schleyer as recusou violentamente, argumentando que aquele era o seu idioma e não havia autorizado ninguém a fazer modificações. Como se pode pretender que um meio de expressão pertença a apenas uma pessoa? Esta situação é ainda mais incongruente quando se trata de um modelo de linguagem universal.
Felizmente, muitas das tentativas de criação de idiomas não foram adiante. Foi o que ocorreu com o Tutônico, mistura de um mau inglês e um mau alemão, nascido no final do século passado e morto no começo deste. Surgiram ainda várias inovações lingüísticas, entre elas uma feita a partir da combinação do grego clássico, latim e chinês. Nos Estados Unidos, apareceu a idéia de promover um inglês básico, composto por 850 palavras; a idéia não prosperou porque seus defensores se esqueceram de que se tratava da língua materna de mais de duzentos milhões de pessoas que teriam um vocabulário mais rico, com expressões incompreensíveis para os praticantes da versão reduzida.
Somente o esperanto, um dos idiomas inventados, chegará a superar os cem anos de vida. Criado pelo oftalmologista polonês Ludwig Leizer Zamenhof em 1887, é formado pela síntese de várias línguas européias. Toda a sua gramática se resume a dezesseis regras, o que garante a aprendizagem no prazo de um ano. Pelas experiências comparativas, o esperanto exige um terço do tempo necessário para aprender um idioma como o francês. Atualmente, é empregado, com diferentes graus de perfeição, por dez milhões de pessoas em todo o planeta. Um grande número de romances e peças de teatro foi escrito originalmente em esperanto, para o qual já foram traduzidas cerca de dez mil obras da literatura universal. Emissoras de rádio de Viena, Varsóvia, Pequim, Berna, Roma, Sofia e Zagreb transmitem programas em esperanto. E o sistema internacional de telegrafia o aceita como meio de comunicação junto com as línguas vivas e o latim.
Apesar de tudo, o esperanto não alcançou seu objetivo e nem está a caminho de fazê-lo. Grande parte dos idiomas vivos podem ser considerados muito mais universais, ainda que tenham uma aprendizagem mais lenta. Alguns filólogos tentaram explicar a aceitação limitada do esperanto com razões de caráter fonético. Diziam que a pronúncia era complicada para pessoas de certas regiões. Por exemplo, os habitantes do Pacifico Sul teriam enorme dificuldade para pronunciar agrupamentos de letras como sp, st, sch; os chineses lutam com o r, os japoneses com o l. Mas em que linguagem isso não acontece? Só quando a fonética é ensinada desde a infância é possível ultrapassar esta barreira.
O verdadeiro motivo está no fato de que os países que possuem o predomínio econômico e político impõem sua língua nas áreas em que exercem influência. Por isso o inglês se converteu no esperanto do mundo ocidental. Apesar do seu uso estar restrito a determinados países, tamanha é a sua difusão que, dentro de uma década, os jovens de todos os países industrializados do Ocidente já poderão comunicar-se sem problemas neste idioma. De fato, nas nações mais desenvolvidas da Europa, as gerações mais jovens, com um nÍvel cultural médio, o praticam como segunda língua.
O que se pretende porém não é uma língua ocidental, mas mundial. E em grandes regiões da Terra não se percebe nenhuma inclinação pelo inglês. Portanto, ainda está pela frente a tarefa de elegê-lo linguagem universal e assumir o compromisso de ensiná-lo como primeiro idioma estrangeiro a todas as crianças do mundo. Segundo os estudos psicológicos e lingüísticos, a idade apropriada para estudar um segundo idioma é em torno dos seis anos.Apesar disso, as crianças do futuro nunca chegarão a ser bilíngües. Entre outros motivos porque o bilingüismo puro não existe. Nos casos em que o pai fala uma língua diferente ou que a família tenha emigrado para outro país, a criança estabelece inconsciente mente uma separação entre as duas línguas: a materna é recebida com mais emoção enquanto que a paterna ou a do novo país Ihe permite pensar de maneira mais madura e intelectualizada. A possibilidade de um conflito lingüístico entre a primeira e a segunda língua entre o idioma vernáculo e o estrangeiro, pode provocar atrasos na aprendizagem, principalmente se o ensino começa cedo. Não é possível esquecer também que a riqueza do pensamento caminha paralelamente à da linguagem.
O ditador soviético Stálin sonhava que, quando a revolução comunista mundial estivesse concluída, todos os homens falariam russo. Ninguém seria pressionado a fazê-lo. Mas ele estava convencido de que o ideal comunista estabeleceria laços tão estreitos na humanidade que os diversos idiomas da Terra resultariam em um único. Deixando de lado os desejos utópicos de Stálin, o certo é que existem alguns exemplos de linguagem universal no campo da cultura e da ciência. Pensemos na música, na matemática, nas fórmulas químicas. Todos os matemáticos e todos os químicos são capazes de entender os resultados dos trabalhos de seus colegas, sejam quais forem os países de origem. Todos os músicos têm condições de escrever, ler e interpretar qualquer partitura. Estamos iniciando uma nova era em que se torna mais necessário do que nunca uma base de entendimento: a era da eletrônica, que somente alcançará a plenitude quando todos os computadores se expressarem com a mesma linguagem.
Uma equipe de especialistas norte-americanos em Semiótica começou a estudar um sistema de sinalização para o futuro. O método de identificação deverá ser compreensível em qualquer linguagem humana. Trata-se de um programa governamental que tem como objetivo fazer com que todos os habitantes do planeta saibam reconhecer resíduos radioativos que a indústria atômica aloja sob a superfície. O responsável pelo projeto é Thomas Sebeok, presidente da Associação Semiótica Internacional, especializada no tema da comunicação animal e humana.
Poder falar com todos os habitantes da Terra. Entender qualquer estrangeiro. O velho sonho da humanidade. Em épocas passadas, a língua cosmopolita foi o latim; com ela se expressavam as pessoas mais cultas, os estadistas, a Igreja. Nos Estados Unidos se dá muita importância ao aprendizado do chinês. O homem conquistou o espaço e ensinou os computadores a falar, mas não superou a história bíblica da torre de Babel.
Nesta torre de Babel chamada Terra existem cerca de três mil línguas diferentes. Mas o intercâmbio entre os povos exige cada vez mais uma comunicação universal. E ela somente foi possível até hoje em campos específicos, como a música e a matemática. As tentativas de maior alcance foram mal-sucedidas.
Até o ano 2000, a população mundial - inclusive a do Terceiro Mundo - estará viajando tanto que a exigência de uma língua comum entre os povos será uma necessidade imperiosa. O domínio de um idioma universal para se comunicar já não será privilégio apenas dos que têm maior acesso à cultura. Ainda não se decidiu qual será esta linguagem. Sabe-se apenas que ela não deverá ter fronteiras, além de ser pensada para a próxima e não para esta geração.
A ONU (Organização das Nações Unidas) tem cinco idiomas oficiais: inglês, espanhol, russo, chinês e francês; e seus tradutores não dão conta das montanhas de papéis acumuladas sobre suas mesas. Aqueles que, por causa do trabalho, são obrigados a percorrer diversos países, acabam aprendendo vários idiomas. Mas esta circunstância, em geral, implica em um conhecimento muito superficial. Defender-se não é dominar. Por este motivo, é possível escrever até uma enciclopédia com os erros de interpretação cometidos, inclusive na área diplomática.
Na visita que fez a Moscou em maio passado, o ministro de Assuntos Exteriores da Espanha, Fernando Morán, que fala inglês, cometeu uma gafe. Quando um jornalista Ihe perguntou em inglês se havia tratado do problema do dissidente Andrei Sakharov com as autoridades soviéticas, ele respondeu que "o tema do Sahara não foi incluído nas conversações". Outro exemplo: há alguns meses, a imprensa espanhola publicou a notícia "intoxicação alimentícia mata milhares de turcos". Na realidade, as vitimas não eram turcos, mas perus. Eles traduziram a palavra turkeys (em inglês, perus) por turcos (em inglês, turks).Existem aproximadamente três mil línguas no planeta. Cerca de cem são utilizadas por mais de um milhão de pessoas. A metade da população mundial se comunica em chinês, inglês, espanhol, russo, árabe, indu e português. O comércio internacional, o turismo, a política, os descobrimentos científicos obrigaram a intercomunicação entre homens e culturas e áreas lingüísticas distintas. Já é necessária a introdução de uma língua para a humanidade. No entanto, esta idéia, de vantagens indiscutíveis, não é tão fácil de ser colocada em prática.
O inglês, devido ao predomínio político e econômico dos Estados Unidos, se converteu em idioma quase universal. Um em cada quatro habitantes do planeta pode se entender, mais ou menos bem, nesta língua. Mas os chineses (mais de um bilhão de habitantes) e os soviéticos (277 milhões) se negam a acertá-la; e os dois países somam mais do que a quarta parte da população mundial. Esta circunstância levou os filólogos a considerar que somente um idioma novo deixaria de lado conotações políticas e sociais, pois pertenceria a todos e a ninguém ao mesmo tempo. Não deixa de parecer absurda, no entanto, a implantação de uma língua inventada quando existem mais de três mil faladas. Anos atrás, foi apresentada a proposta de eleger o finlandês ou o nayatl (asteca), para evitar ressentimentos e lutas de poder. A sugestão, no entanto, não foi levada em consideração.
As tentativas de fabricar um meio de expressão artificial são antigas. As primeiras aproximações produziram línguas-catálogos, inúteis para a comunicação humana. Um bom exemplo disto é a invenção do escocês Dalgamo, composta de palavras divididas em partes: o n equivaleria a tudo o que se referisse a seres vivos; em combinação com a letra grega eta formaria o conceito de animais; completado com o k, animais de quatro patas.Mas um idioma vivo nunca é tão lógico, tão fechado, tão regulado. Por isso também não triunfou a fantasia de um francês chamado François Sudre, que em 1817 criou o Solresol, método baseado no solfejo: dó significava sim; ré era e; mi se tornou ou etc. A palavra solasi, ou seja, três tons ascendentes, indicaria subida, e assim seria construída uma variedade de frases. Esta linguagem permitiria também o canto, o que entusiasmou muitos dos intelectuais contemporâneos de Sudre; o poeta Victor Hugo e o imperador Napoleão III eram seus fãs incondicionais. O Solresol é hoje uma simples curiosidade da História da Lingüística.
Além dos idiomas artificiais, surgiram outras tentativas a partir da combinação de línguas vivas. No ano de 1879, o monsenhor alemão Johan Martin Schleyer inventou um sistema original, denominado Volapuk, que, em um primeiro momento, parecia uma revolução. Semelhante em sua estrutura ao húngaro e ao turco, alcançou grande êxito no final do século passado. Foram publicadas 316 gramáticas, traduzidas em 25 idiomas; 25 revistas e 283 clubes se dedicaram à promoção da língua.
Esta difusão, no entanto, foi bloqueada pelo próprio Schleyer. Durante um congresso, vários delegados propuseram a introdução de mudanças gramaticais. Schleyer as recusou violentamente, argumentando que aquele era o seu idioma e não havia autorizado ninguém a fazer modificações. Como se pode pretender que um meio de expressão pertença a apenas uma pessoa? Esta situação é ainda mais incongruente quando se trata de um modelo de linguagem universal.
Felizmente, muitas das tentativas de criação de idiomas não foram adiante. Foi o que ocorreu com o Tutônico, mistura de um mau inglês e um mau alemão, nascido no final do século passado e morto no começo deste. Surgiram ainda várias inovações lingüísticas, entre elas uma feita a partir da combinação do grego clássico, latim e chinês. Nos Estados Unidos, apareceu a idéia de promover um inglês básico, composto por 850 palavras; a idéia não prosperou porque seus defensores se esqueceram de que se tratava da língua materna de mais de duzentos milhões de pessoas que teriam um vocabulário mais rico, com expressões incompreensíveis para os praticantes da versão reduzida.
Somente o esperanto, um dos idiomas inventados, chegará a superar os cem anos de vida. Criado pelo oftalmologista polonês Ludwig Leizer Zamenhof em 1887, é formado pela síntese de várias línguas européias. Toda a sua gramática se resume a dezesseis regras, o que garante a aprendizagem no prazo de um ano. Pelas experiências comparativas, o esperanto exige um terço do tempo necessário para aprender um idioma como o francês. Atualmente, é empregado, com diferentes graus de perfeição, por dez milhões de pessoas em todo o planeta. Um grande número de romances e peças de teatro foi escrito originalmente em esperanto, para o qual já foram traduzidas cerca de dez mil obras da literatura universal. Emissoras de rádio de Viena, Varsóvia, Pequim, Berna, Roma, Sofia e Zagreb transmitem programas em esperanto. E o sistema internacional de telegrafia o aceita como meio de comunicação junto com as línguas vivas e o latim.
Apesar de tudo, o esperanto não alcançou seu objetivo e nem está a caminho de fazê-lo. Grande parte dos idiomas vivos podem ser considerados muito mais universais, ainda que tenham uma aprendizagem mais lenta. Alguns filólogos tentaram explicar a aceitação limitada do esperanto com razões de caráter fonético. Diziam que a pronúncia era complicada para pessoas de certas regiões. Por exemplo, os habitantes do Pacifico Sul teriam enorme dificuldade para pronunciar agrupamentos de letras como sp, st, sch; os chineses lutam com o r, os japoneses com o l. Mas em que linguagem isso não acontece? Só quando a fonética é ensinada desde a infância é possível ultrapassar esta barreira.
O verdadeiro motivo está no fato de que os países que possuem o predomínio econômico e político impõem sua língua nas áreas em que exercem influência. Por isso o inglês se converteu no esperanto do mundo ocidental. Apesar do seu uso estar restrito a determinados países, tamanha é a sua difusão que, dentro de uma década, os jovens de todos os países industrializados do Ocidente já poderão comunicar-se sem problemas neste idioma. De fato, nas nações mais desenvolvidas da Europa, as gerações mais jovens, com um nÍvel cultural médio, o praticam como segunda língua.
O que se pretende porém não é uma língua ocidental, mas mundial. E em grandes regiões da Terra não se percebe nenhuma inclinação pelo inglês. Portanto, ainda está pela frente a tarefa de elegê-lo linguagem universal e assumir o compromisso de ensiná-lo como primeiro idioma estrangeiro a todas as crianças do mundo. Segundo os estudos psicológicos e lingüísticos, a idade apropriada para estudar um segundo idioma é em torno dos seis anos.Apesar disso, as crianças do futuro nunca chegarão a ser bilíngües. Entre outros motivos porque o bilingüismo puro não existe. Nos casos em que o pai fala uma língua diferente ou que a família tenha emigrado para outro país, a criança estabelece inconsciente mente uma separação entre as duas línguas: a materna é recebida com mais emoção enquanto que a paterna ou a do novo país Ihe permite pensar de maneira mais madura e intelectualizada. A possibilidade de um conflito lingüístico entre a primeira e a segunda língua entre o idioma vernáculo e o estrangeiro, pode provocar atrasos na aprendizagem, principalmente se o ensino começa cedo. Não é possível esquecer também que a riqueza do pensamento caminha paralelamente à da linguagem.
O ditador soviético Stálin sonhava que, quando a revolução comunista mundial estivesse concluída, todos os homens falariam russo. Ninguém seria pressionado a fazê-lo. Mas ele estava convencido de que o ideal comunista estabeleceria laços tão estreitos na humanidade que os diversos idiomas da Terra resultariam em um único. Deixando de lado os desejos utópicos de Stálin, o certo é que existem alguns exemplos de linguagem universal no campo da cultura e da ciência. Pensemos na música, na matemática, nas fórmulas químicas. Todos os matemáticos e todos os químicos são capazes de entender os resultados dos trabalhos de seus colegas, sejam quais forem os países de origem. Todos os músicos têm condições de escrever, ler e interpretar qualquer partitura. Estamos iniciando uma nova era em que se torna mais necessário do que nunca uma base de entendimento: a era da eletrônica, que somente alcançará a plenitude quando todos os computadores se expressarem com a mesma linguagem.
Uma equipe de especialistas norte-americanos em Semiótica começou a estudar um sistema de sinalização para o futuro. O método de identificação deverá ser compreensível em qualquer linguagem humana. Trata-se de um programa governamental que tem como objetivo fazer com que todos os habitantes do planeta saibam reconhecer resíduos radioativos que a indústria atômica aloja sob a superfície. O responsável pelo projeto é Thomas Sebeok, presidente da Associação Semiótica Internacional, especializada no tema da comunicação animal e humana.
Poder falar com todos os habitantes da Terra. Entender qualquer estrangeiro. O velho sonho da humanidade. Em épocas passadas, a língua cosmopolita foi o latim; com ela se expressavam as pessoas mais cultas, os estadistas, a Igreja. Nos Estados Unidos se dá muita importância ao aprendizado do chinês. O homem conquistou o espaço e ensinou os computadores a falar, mas não superou a história bíblica da torre de Babel.
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Pesquisa
sábado, 18 de dezembro de 2010
Livro apresenta a história do O. K.
04/12/2010 08h00 - Atualizado em 04/12/2010 14h32
Livro apresenta a história do O.k., palavra mais falada do planeta
O.k. foi usado pela primeira vez como brincadeira, em 1839.
Para pesquisador, a palavra é uma filosofia inteira expressa em duas letras.

O livro do professor Metcalf, que apresenta a história
da 'palavra mais falada do planeta' (Foto:
Reprodução)“Oquei”, a palavra “mais falada e digitada do planeta”, surgiu como uma piada. Foi como uma brincadeira que um jornal de Boston criou, em 1839, a expressão “O.k.”, que designava “tudo certo” e que se propagou a ponto de ser reconhecida hoje em qualquer parte do mundo. A origem “improvável” e a trajetória do termo são objeto de um estudo recém-publicado nos Estados Unidos. Segundo o linguista Allan Metcalf, autor do livro “OK”, ela é a invenção mais sensacional da língua inglesa, e é difícil explicar por que é tão bem sucedida.
“O.k. é muito incomum, e palavras incomuns dificilmente entram no vocabulário popular. Foi uma combinação muito estranha de coincidências que ajudou essa palavra, que surgiu como uma brincadeira, a se tornar tão importante”, disse, em entrevista ao G1.
Para ele, o som da combinação dessas duas letras é muito importante, e até mesmo o formato de OK, com uma letra tão redonda e outra tão pontiaguda, ajudou a prendê-la no vocabulário. “Outras palavras semelhantes, como OW, que foi uma opção criada na mesma época, não têm o mesmo efeito e não chegaram tão longe”, disse.
O som, “oquei”, também foi responsável pela divulgação internacional do termo, diz. Seu som é importante, pois quase todos os idiomas têm letras que soam similares ao O e ao K, e aceitam bem a combinação das duas.
História e versões
Nos anos 1830, um jornal de Boston tinha o hábito de brincar com o idioma e transformar expressões em siglas, novas palavras compostas pelas iniciais. Junto a termos ilegíveis como W.O.O.O.F.C. (with one of our first citizens - com um de nossos primeiros cidadãos) e R.T.B.S. (remais to be seen - Ainda precisa ser visto), a edição de 23 de março de 1839 trazia pela primeira vez o termo “o.k. – all correct”. Era uma brincadeira que trocava as primeiras letras do “all correct” (tudo certo), de acordo com o som delas na palavra. Uma brincadeira que gerou a palavra “mais bem sucedida da língua inglesa”, segundo Metcalf.
Esta história do termo, reforçada pelo livro de Metcalf, já foi comprovada por diversos estudos nos Estados Unidos. Mesmo assim, ao longo dos mais de 170 anos em que O.k. foi usada, não faltaram pesquisas a divulgar versões alternativas para o surgimento da palavra. “A história é tão simples que às vezes parece insultar nossa inteligência. Faz com que precisemos de algo mais interessante, mesmo que não seja verdadeiro”, justifica o linguista.
Em seu livro, Metcalf apresenta nada menos de que 18 dessas versões, tanto nos Estados Unidos quanto em outros idiomas. A que mais o surpreendeu, contou, era uma que dizia que O.k. era uma variação de “okeh”, um termo indígena usado pela tribo choctaw como "está certo", no fim das frases. “Essa versão enganou muitos professores de renome, e isso foi uma coisa muito estranha para mim.”
Tecnologia e futuro
O sucesso de O.k. está muito ligado à tecnologia, Metcalf explica. A palavra surgiu na mesma época em que se desenvolviam as primeiras formas de comunicação por telégrafo e se consolidou como termo de confirmação neste tipo de diálogo à distância. Com o advento da informática, ele ganhou ainda mais força ao se tornar sinônimo de “sim”, de “aceitar”, de “faça”, em comandos no computador.
À medida que a internet se consolidou, o modelo de criação de palavras com iniciais se tornou mais popular em todo o mundo. Em inglês, a cada dia aparecem novas siglas que são usadas como se fossem palavras, frases inteiras resumidas em poucas letras, para acelerar o diálogo.
Segundo Metcalf, entretanto, não há possibilidade de nenhuma dessas novas palavras ganhar a força que O.k. tem atualmente. “Não consigo imaginar que nenhuma outra palavra nova possa chegar perto de O.k. A palavra se tornou tão importante, que é quase impossível que algo semelhante aconteça novamente. O.k. é impressionante por isso. É o último dinossauro vivo dessa geração de palavras inventadas como piada nos anos 1830, e como último dinossauro, se tornou mais atraente, interessante e mais valorizada”, disse.
Filosofia
Metcalf não é modesto em sua defesa do O.k. Além de chamar a palavra de “a mais bem sucedida” e “mais falada”, ele diz que ela é “a resposta americana a Shakespeare. É uma filosofia inteira expressa em duas letras”.
O pesquisador explica que os americanos nunca foram muito afeitos a pesquisas filosóficas, e sempre preferiram estudos mais práticos e diretos. “O.k. representa este pragmatismo da mentalidade norte-americana, de querer que as coisas funcionem e completar os objetivos, mesmo que não busque a perfeição e a explicação para tudo”, disse.
Por outro lado, completou, graças ao livro “Eu estou O.k. Você está O.k.”, Best seller de autoajuda escrito por de Thomas A. Harris, “O.k. se tornou um símbolo da tolerância, que também é parte importante da nossa filosofia. Esta expressão estimula a ideia de que é aceitável ser diferente na sociedade, o que é bem importante em nossa filosofia.”
Livro apresenta a história do O.k., palavra mais falada do planeta
O.k. foi usado pela primeira vez como brincadeira, em 1839.
Para pesquisador, a palavra é uma filosofia inteira expressa em duas letras.

O livro do professor Metcalf, que apresenta a história
da 'palavra mais falada do planeta' (Foto:
Reprodução)“Oquei”, a palavra “mais falada e digitada do planeta”, surgiu como uma piada. Foi como uma brincadeira que um jornal de Boston criou, em 1839, a expressão “O.k.”, que designava “tudo certo” e que se propagou a ponto de ser reconhecida hoje em qualquer parte do mundo. A origem “improvável” e a trajetória do termo são objeto de um estudo recém-publicado nos Estados Unidos. Segundo o linguista Allan Metcalf, autor do livro “OK”, ela é a invenção mais sensacional da língua inglesa, e é difícil explicar por que é tão bem sucedida.
“O.k. é muito incomum, e palavras incomuns dificilmente entram no vocabulário popular. Foi uma combinação muito estranha de coincidências que ajudou essa palavra, que surgiu como uma brincadeira, a se tornar tão importante”, disse, em entrevista ao G1.
Para ele, o som da combinação dessas duas letras é muito importante, e até mesmo o formato de OK, com uma letra tão redonda e outra tão pontiaguda, ajudou a prendê-la no vocabulário. “Outras palavras semelhantes, como OW, que foi uma opção criada na mesma época, não têm o mesmo efeito e não chegaram tão longe”, disse.
O som, “oquei”, também foi responsável pela divulgação internacional do termo, diz. Seu som é importante, pois quase todos os idiomas têm letras que soam similares ao O e ao K, e aceitam bem a combinação das duas.
História e versões
Nos anos 1830, um jornal de Boston tinha o hábito de brincar com o idioma e transformar expressões em siglas, novas palavras compostas pelas iniciais. Junto a termos ilegíveis como W.O.O.O.F.C. (with one of our first citizens - com um de nossos primeiros cidadãos) e R.T.B.S. (remais to be seen - Ainda precisa ser visto), a edição de 23 de março de 1839 trazia pela primeira vez o termo “o.k. – all correct”. Era uma brincadeira que trocava as primeiras letras do “all correct” (tudo certo), de acordo com o som delas na palavra. Uma brincadeira que gerou a palavra “mais bem sucedida da língua inglesa”, segundo Metcalf.
Esta história do termo, reforçada pelo livro de Metcalf, já foi comprovada por diversos estudos nos Estados Unidos. Mesmo assim, ao longo dos mais de 170 anos em que O.k. foi usada, não faltaram pesquisas a divulgar versões alternativas para o surgimento da palavra. “A história é tão simples que às vezes parece insultar nossa inteligência. Faz com que precisemos de algo mais interessante, mesmo que não seja verdadeiro”, justifica o linguista.
Em seu livro, Metcalf apresenta nada menos de que 18 dessas versões, tanto nos Estados Unidos quanto em outros idiomas. A que mais o surpreendeu, contou, era uma que dizia que O.k. era uma variação de “okeh”, um termo indígena usado pela tribo choctaw como "está certo", no fim das frases. “Essa versão enganou muitos professores de renome, e isso foi uma coisa muito estranha para mim.”
Tecnologia e futuro
O sucesso de O.k. está muito ligado à tecnologia, Metcalf explica. A palavra surgiu na mesma época em que se desenvolviam as primeiras formas de comunicação por telégrafo e se consolidou como termo de confirmação neste tipo de diálogo à distância. Com o advento da informática, ele ganhou ainda mais força ao se tornar sinônimo de “sim”, de “aceitar”, de “faça”, em comandos no computador.
À medida que a internet se consolidou, o modelo de criação de palavras com iniciais se tornou mais popular em todo o mundo. Em inglês, a cada dia aparecem novas siglas que são usadas como se fossem palavras, frases inteiras resumidas em poucas letras, para acelerar o diálogo.
Segundo Metcalf, entretanto, não há possibilidade de nenhuma dessas novas palavras ganhar a força que O.k. tem atualmente. “Não consigo imaginar que nenhuma outra palavra nova possa chegar perto de O.k. A palavra se tornou tão importante, que é quase impossível que algo semelhante aconteça novamente. O.k. é impressionante por isso. É o último dinossauro vivo dessa geração de palavras inventadas como piada nos anos 1830, e como último dinossauro, se tornou mais atraente, interessante e mais valorizada”, disse.
Filosofia
Metcalf não é modesto em sua defesa do O.k. Além de chamar a palavra de “a mais bem sucedida” e “mais falada”, ele diz que ela é “a resposta americana a Shakespeare. É uma filosofia inteira expressa em duas letras”.
O pesquisador explica que os americanos nunca foram muito afeitos a pesquisas filosóficas, e sempre preferiram estudos mais práticos e diretos. “O.k. representa este pragmatismo da mentalidade norte-americana, de querer que as coisas funcionem e completar os objetivos, mesmo que não busque a perfeição e a explicação para tudo”, disse.
Por outro lado, completou, graças ao livro “Eu estou O.k. Você está O.k.”, Best seller de autoajuda escrito por de Thomas A. Harris, “O.k. se tornou um símbolo da tolerância, que também é parte importante da nossa filosofia. Esta expressão estimula a ideia de que é aceitável ser diferente na sociedade, o que é bem importante em nossa filosofia.”

sexta-feira, 18 de junho de 2010
Em iniciativa controversa, 'Web 2.0' vira o milionésimo termo do inglês
10/06/09 - 15h29 - Atualizado em 10/06/09 - 15h30
Em iniciativa controversa, 'Web 2.0' vira o milionésimo termo do inglês
Informação foi divulgada por grupo de monitoramente do idioma.
Linguistas criticaram iniciativa, dizendo se tratar de golpe publicitário.
Um grupo norte-americano que monitora o uso do idioma coroou "Web 2.0" como a milionésima palavra ou expressão do idioma inglês nesta quarta-feira (9), ainda que outros linguistas tenham criticado a decisão, dizendo se tratar de bobagem ou golpe publicitário.
O Global Language Monitor, que emprega uma fórmula matemática a fim de acompanhar a frequência de uso de palavras e expressões na mídia eletrônica e impressa, informou que "Web 2.0" apareceu mais de 25 mil vezes em buscas e é um termo amplamente aceito, o que faz da expressão candidata legítima à posição de milionésima palavra do inglês.
O grupo afirmou que a expressão surgiu como um termo técnico para designar uma nova geração de produtos e serviços na internet, mas que ganhou circulação muito mais ampla nos últimos seis meses.
Críticas
Outros linguistas, no entanto, denunciaram a lista como um simples golpe publicitário sem qualquer valor científico, afirmando que é impossível contar o número de palavras em uso no inglês ou chegar a um acordo quanto ao número de vezes que uma palavra teria de ser usada antes que seja aceita oficialmente.
Não existem regras definidas para esse tipo de contagem, porque não existe um
organismo capaz de arbitrar o que constitui uma palavra inglesa legítima; além disso, classificações de linguagem são complicadas pelo grande número de palavras compostas, verbos e termos obsoletos.
"Creio que seja uma fraude completa. Não é nem má ciência, mas sim pura bobagem", disse Geoffrey Nunberg, professor de linguística da Universidade da California, a jornalistas.
Paul Payack, presidente da Global Language Monitor, descartou as críticas e alegou que seu método era tecnicamente sólido. "Se você deseja contar o número de estrelas no céu, precisa primeiro definir o que é uma estrela e depois proceder à contagem. Nosso critério é bastante simples, e se for seguido permite que palavras sejam contadas. A maior parte dos estudiosos considera o que estamos fazendo como muito valioso", disse Payack.
Ele calculou que cerca de 14,7 palavras ou expressões novas em inglês sejam criadas a cada dia, e que as cinco palavras que antecederam a milionésima ilustram as mudanças que o inglês sofre devido às tendências sociais vigentes.
Em iniciativa controversa, 'Web 2.0' vira o milionésimo termo do inglês
Informação foi divulgada por grupo de monitoramente do idioma.
Linguistas criticaram iniciativa, dizendo se tratar de golpe publicitário.
Um grupo norte-americano que monitora o uso do idioma coroou "Web 2.0" como a milionésima palavra ou expressão do idioma inglês nesta quarta-feira (9), ainda que outros linguistas tenham criticado a decisão, dizendo se tratar de bobagem ou golpe publicitário.
O Global Language Monitor, que emprega uma fórmula matemática a fim de acompanhar a frequência de uso de palavras e expressões na mídia eletrônica e impressa, informou que "Web 2.0" apareceu mais de 25 mil vezes em buscas e é um termo amplamente aceito, o que faz da expressão candidata legítima à posição de milionésima palavra do inglês.
O grupo afirmou que a expressão surgiu como um termo técnico para designar uma nova geração de produtos e serviços na internet, mas que ganhou circulação muito mais ampla nos últimos seis meses.
Críticas
Outros linguistas, no entanto, denunciaram a lista como um simples golpe publicitário sem qualquer valor científico, afirmando que é impossível contar o número de palavras em uso no inglês ou chegar a um acordo quanto ao número de vezes que uma palavra teria de ser usada antes que seja aceita oficialmente.
Não existem regras definidas para esse tipo de contagem, porque não existe um
organismo capaz de arbitrar o que constitui uma palavra inglesa legítima; além disso, classificações de linguagem são complicadas pelo grande número de palavras compostas, verbos e termos obsoletos.
"Creio que seja uma fraude completa. Não é nem má ciência, mas sim pura bobagem", disse Geoffrey Nunberg, professor de linguística da Universidade da California, a jornalistas.
Paul Payack, presidente da Global Language Monitor, descartou as críticas e alegou que seu método era tecnicamente sólido. "Se você deseja contar o número de estrelas no céu, precisa primeiro definir o que é uma estrela e depois proceder à contagem. Nosso critério é bastante simples, e se for seguido permite que palavras sejam contadas. A maior parte dos estudiosos considera o que estamos fazendo como muito valioso", disse Payack.
Ele calculou que cerca de 14,7 palavras ou expressões novas em inglês sejam criadas a cada dia, e que as cinco palavras que antecederam a milionésima ilustram as mudanças que o inglês sofre devido às tendências sociais vigentes.
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