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sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Micromundo dos Chips - Eletrônica

O MICROMUNDO DOS CHIPS - Eletrônica



Milimétricos condutores de energia são a alma da eletrônica e um dos motores do mundo moderno. Do quartzo ao circuito integrado, sua fabricação exige até trinta etapas, além de extremos cuidados.

São peças dignas de ser apreciadas pelo microscópio: as menores têm 0,3 milímetro de espessura e as maiores medem 0,5 milímetro. As áreas nunca excedem 1 centímetro quadrado. Apesar de tão minúsculas, têm embutidos milhões de transistores por onde se movimentam sem parar sinais elétricos-como carros trafegando em alta velocidade pelas ruas e avenidas de uma cidade bem planejada. Esses ínfimos circuitos incrustados nos faladíssimos chips chegam a medir 1,5 mícron-1,5 milésimo de milímetro-, ou seja, são cinqüenta vezes mais finos do que um fio de cabelo. No entanto, guardam milhões de informações-os chips utilizados nos supercomputadores IBM 3090, por bits. (O bit é a menor unidade de informação de um computador.)
Nas últimas três décadas, o chip - palavra que em inglês significa lasca, fatia ou pedaço - tornou-se a ferramenta mais preciosa da indústria eletroeletrônica mundial. E um pequeno retângulo feito de silício-substância a meio caminho entre os condutores de eletricidade, como os metais, e os isolantes, como a cerâmica usada nas linhas de alta tensão. Por isso é chamado semicondutor. O irrisório tamanho do chip é muito bem aproveitado: ali coabitam componentes de nomes exóticos, como resistores, capacitores, diodos e até os conhecidos transistores. Todos eles, quando conectados entre si, podem provocar resistência, armazenar, amplificar ou interromper a corrente elétrica. Essas possibilidades, devidamente combinadas e traduzidas em números, são a chave de qualquer sistema eletrônico moderno.
Se os chips não fossem capazes de armazenar tantos componentes num espaço tão limitado, não haveria supercomputadores, satélites de comunicação, naves espaciais nem mísseis de guerra. Aliás, não é preciso ir tão longe. Os chips estão presentes nos televisores, equipamentos de som, telefones, calculadoras, relógios, brinquedos e eletrodomésticos. Eles fazem parte de tudo o que se fabrica com um componente eletrônico em seu bojo, seja um autorama ou um liquidificador, o mecanismo de partida de um carro ou as caixas registradoras de um supermercado.
A carreira dessa micropeça é recente, mas meteórica. No final da década de 50, os engenheiros já sabiam que uma onda eletromagnética, produzida por circuitos elétricos poderia transportar milhares de informações através do espaço em poucos segundos. Teoricamente, as possibilidades eram ilimitadas. Naquela época, os transistores feitos de material semicondutor como o silício já tinham substituído as válvulas nos computadores mais rápidos. Mas o que na teoria funcionava perfeitamente, na prática dava errado. Como num jogo de armar, os transistores tinham de ser soldados quase manualmente aos outros componentes de um circuito eletrônico. Em casos mais complexos, podia-se obter até 1 milhão de conexões. Assim, embora já houvesse projetos de supercomputadores, eles esbarravam nesse problema: a tirania do número de conexões que crescia assustadoramente com a complexidade dos circuitos.
Foi quando, em 1958, um engenheiro da Texas Instruments, Jack Kilby, na época com 34 anos, descobriu uma maneira de juntar todos os componentes do circuito numa única pastilha de silício. Em vez de usar circuitos soldados um a um, Kilby percebeu que a adição de determinadas "impurezas", como fósforo ou boro, numa barra de silício altamente purificado afetaria a mobilidade dos elétrons. Se essas impurezas fossem colocadas em camadas, como num sanduíche, seria possível comprimir todos os componentes de um circuito integrado num único bloco de silício semicondutor. A tendência, com o tempo, foi manter a área do chip e diminuir o tamanho dos componentes, que, empilhados em dez camadas de material, podem medir 10 milionésimos de milímetro cada uma.
Mas, em 1958, não era apenas a Texas Instruments, empresa famosa por ter fabricado os primeiros rádios transistores, que estava interessada em circuitos integrados de silício. Outra companhia, a Fairchild Semiconductor, instalada num vale ao sul da baia de São Francisco, na Califórnia, então uma aprazível área agrícola, também fazia pesquisas semelhantes. Um de seus diretores, o físico Robert Noyce, então com 31 anos, tivera a mesma idéia de Kilby, com a diferença de alguns meses. Entre o tempo que durou a pesquisa e o aparecimento das primeiras peças, já na década de 60, Kilby e Noyce repartiram as honras de serem os inventores dos chips. O local onde funcionava a Fairchild acabaria invadido por gigantes da microeletrônica, tornando-se conhecido como Vale do Silício.
O nome pegou. Outras regiões dos Estados Unidos foram batizadas de Floresta do Silício, Pradaria da Silício, Colinas do Silício e assim por diante. O primeiro chip fabricado em 1958 tinha cinco peças fundidas numa barra de 1,5 centímetro quadrado-hoje, os chips podem ter até 5 milhões de componentes. Em trinta anos, eles diminuíram dez vezes de tamanho e multiplicaram por 1 milhão a capacidade. Isso não aconteceu por acaso.
Como subproduto do projeto espacial americano que levaria o homem à Lua, a microeletrônica foi premiada com grandes investimentos para pesquisa. Mas, nos últimos anos, com a disseminação do uso dos chips, o custo e, portanto, a competitividade das indústrias passou a fazer toda a diferença-e os japoneses tomaram a dianteira no ramo.
Nos próximos dois anos, eles prometem fabricar circuitos de 18 milhões de componentes e até o ano 2000, de 500 milhões-tudo isso no mesmo espaço minúsculo de 1 centímetro quadrado. Então, os supercomputadores já estarão superados, tendo cedido a vez aos chamados ultracomputadores. Se imaginar esses chips do futuro próximo já é difícil, que dirá construí-los. No mundo miniaturizado dos circuitos integrados, um simples grão de poeira pode adquirir as proporções de uma avalanche sobre uma rodovia movimentada. Não é de admirar, portanto, que instrumentos tão delicados exijam uma associação de paciência, capital e cérebro em níveis difíceis de serem igualados em qualquer outra atividade industrial.
Algumas universidades brasileiras já se atrevem a fazer o ciclo completo da fabricação do chip-um processo que envolve mais de trinta etapas-, mas isso não acontece ainda na indústria nacional. "Uma coisa é fazer a experiência em nível de pesquisa avançada", explica o engenheiro Armando Laganá, da Escola Politécnica da USP. "Outra coisa muito diferente é manter a competitividade industrial." Antes de pensar na fabricação dos chips, as empresas microeletrônicas devem conseguir silício puro, ou seja, tão limpo que entre 1 bilhão de átomos não haja mais do que uma dúzia de impurezas.
O Brasil possui uma das maiores jazidas de quartzo do mundo, mineral de onde é retirado o silício. Mas entre o quartzo-encontrado até no cascalho à beira dos rios do sul de Minas - e o silício monocristalino dos chips vai uma grande diferença. O quartzo é transformado em silício metálico, depois purificado até tornar-se cristal-mas ainda não está pronto para ser trabalhado. Esse cristal de silício deve ter todos os átomos em seus devidos lugares para que não haja nenhuma imperfeição no material e para que a corrente elétrica que circula pelo chip não sofra alterações. Portanto, ele é fundido em torno de uma "semente", ou núcleo monocristalino, sobre o qual vão se depositando, já então corretamente ordenados os átomos de silício. Formam-se assim os tarugos-"salames", de 1,50 metro de altura, fatiados por uma serra de diamante.
As bolachas, ou wafers, como são chamadas em inglês as finíssimas fatias de silício de 3 polegadas de diâmetro, são lapidadas ou polidas como barras de aço de uma usina siderúrgica. Essas lâminas são então divididas em centenas de chips, cujos circuitos, numa etapa posterior, serão gravados segundo um método semelhante ao da fotografia. Na curta história dos chips, esses circuitos já foram feitos a mão, embora atualmente sejam usados computadores gráficos. Curiosamente, são esses computadores que vão desenhar as memórias de outros computadores iguais a eles. Para que os circuitos sejam gravados na chapa de silício, ela é aquecida à temperatura de 1 200 graus centígrados, até que se forme uma finíssima camada protetora de óxido, com uma grande resistência elétrica. Em seguida, se cobre o wafer com material fotográfico, sobre o qual se colocam as máscaras- que se parecem às antigas chapas de vidro usadas em fotografia-onde os circuitos foram fotografados.
Ao submeter o conjunto a radiação ultravioleta, as áreas ocultas pelas máscaras ficam intactas, enquanto a luz atinge o material fotográfico, que se dissolve, deixando livre a camada de óxido de silício. Esse processo é repetido várias vezes, de acordo com o número de máscaras que forem necessárias. Em seguida, pode começar o processo de dopagem, como dizem os engenheiros. O método é o mesmo usado na gravação das máscaras, mas neste caso as áreas livres são bombardeadas ou dopadas com boro, fósforo ou arsênio, as chamadas "impurezas" que vão permitir a condutividade elétrica.
Depois, é preciso cobrir os chips com condutores de alumínio. Numa fábrica onde são feitos todo ano milhões de chips, esses processos ocorrem em salas onde o ar é mais limpo do que nos centros cirúrgicos dos hospitais. As pessoas ali só trabalham de uniformes imaculadamente brancos, com os pés, cabelos e mãos protegidos, pois a poeira trazida por elas pode prejudicar dezenas de chips incrustados numa lâmina.
No futuro, prevê-se que os chips serão confeccionados com materiais supercondutores que, por não oferecerem resistência à eletricidade, podem transmitir sinais ainda mais velozes do que se sonha com os circuitos atuais. Aliás, a preocupação dos fabricantes é conseguir chips que processem informações cada vez mais rapidamente. Para isso, já está sendo usado o arseneto de gálio como material semicondutor. O arseneto conduz elétrons até seis vezes mais depressa do que o silício, além de operar em temperaturas mais elevadas, reduzindo a necessidade de resfriar os computadores e outros sistemas eletrônicos. Como é muito caro, só é utilizado em pesquisas, como as que se desenvolvem na Unicamp, ou em supercomputadores militares americanos ou ainda na fabricação de circuitos para comunicações por microondas.
Independente do material de que são feitos -silício ou arseneto de gálio-, no final de todas as etapas de fabricação os chips ainda estão ligados às centenas num único wafer. Esse wafer então é serrado e os chips, enfim libertos, são soldados aos seus suportes mecânicos, os chamados lead-frames. É um trabalho que no Brasil ainda é mecânico na sua maior parte, além de ser executado. quase só por mulheres. São operárias que vão manusear, interligar, soldar os chips e depois implantar minúsculos fios de ouro que os manterão presos aos equipamentos eletrônicos. Encapsulado num invólucro de epóxi, o chip deixa de ter esse nome. Daí em diante, o retângulo milimétrico de silício passa a ser conhecido como circuito integrado.

O circuito brasileiro

A indústria micro eletrônica nacional tem prazo de dois anos para dominar o ciclo completo da fabricação do chip, conforme compromisso assumido com o Conin (Conselho Nacional de Informática e Automação). O objetivo é dominar a tecnologia tanto nos circuitos digitais, aqueles dos computadores, que lidam com memória, como a dos analógicos ou lineares, que processam dados contínuos, como nos televisores. Qualquer que seja o circuito, a base dos chips é sempre a mesma. Só muda a tecnologia, que permite que um número menor ou maior de componentes seja colocado num único chip.
A SID Microeletrônica, subsidiária da Sharp, com sede em Contagem, a 10 quilômetros de Belo Horizonte, é uma das três empresas brasileiras do setor mais avançadas em termos de tecnologia de chips. Mesmo assim, por enquanto, ela só trabalha com circuitos lineares. "No ano que vem", prevê seu diretor industrial, o engenheiro Wilson Leal, "começamos a fabricar circuitos para memórias." As outras duas empresas, Itautec Componentes e Elebra, desenham circuitos e realizam o estágio final de produção do chip-teste, montagem e encapsulamento. O restante é realizado por indústrias estrangeiras.
Só falta ao Brasil dominar duas etapas do ciclo de produção: a purificação do silício, do qual se obtém o cristal cilíndrico, e a elaboração de máscaras, que se segue ao projeto dos circuitos. Embora não seja capaz de transformar o silício metálico em policristal, a empresa paulista Heliodinâmica, especializada em células solares, fabrica o silício sob a forma de cristal puro. O CTI-Centro Tecnológico de Informática -, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia que faz pesquisas em informática, se comprometeu a fazer ainda este ano as máscaras dos chips nacionais.

Imitação de cérebro

No futuro, os chips poderão ser feitos de organismos vivos, tornando- se bem mais parecidos com o cérebro humano do que as atuais microplaquetas de silício. Pelo menos desde 1974, pesquisadores americanos procuram desenvolver chips que copiem a maneira como os neurônios humanos processam uma colossal quantidade de informações. De acordo com esse modelo, os transistores seriam equivalentes às sinapses-ligações entre as células nervosas por onde se transmitem os impulsos. Mas enquanto os primeiros só permitem dois estados-ligado e desligado -, as sinapses têm uma enorme variedade de estados intermediários, que fazem com que as células nervosas tanto sirvam de memória como processem informações de maneira simultânea.
Outro motivo pelo qual os cientistas procuram substituir o silício por matéria orgânica é que o número de componentes existentes num circuito convencional está atingindo seu limite. Para substituir os transistores, pesquisadores da IBM americana, por exemplo, usaram moléculas orgânicas com cargas positiva e negativa. A montagem da experiência foi semelhante à dos circuitos integrados tradicionais, ou seja, foram usadas duas camadas separadas por um isolante, prensadas entre placas metálicas. No Japão, demonstrou-se que uma proteína extraída do coração do cavalo se comporta como material semicondutor.
Em outra pesquisa, dessa vez na Universidade da Califórnia, uma equipe de cientistas se propôs a produzir chips a partir de grandes moléculas de carbono, que possuem propriedades elétricas semelhantes às do silício. Essas moléculas seriam sintetizadas pela Escherichia coli, uma bactéria do intestino normalmente usada em engenharia genética. Os resultados dessa pesquisa vão demorar pelo menos vinte anos. De seu lado, pesquisadores da AT&T Bell Laboratories anunciaram recentemente, num seminário no Canadá, terem desenvolvido chips que imitam o cérebro humano, funcionando como neurônios eletrônicos. Esses chips de 7 milímetros quadrados de área teriam 75 mil transistores, o que equivale à memória de um micro tipo Apple. A idéia é usar esses chips como censores que reconstruiriam funções nervosas lesionadas.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Quem precisa do Genoma ? - DNA

QUEM PRECISA DO GENOMA? - DNA


No curso de biologia da USP, tradicionalmente os veteranos dão uma aula inaugural repleta de bobagens para receber os calouros. Este ano aceitei, com muita honra, o convite para ser o professor dessa "aula-trote". Um dos tópicos foi a "Genética de aves de altitude". Essa suposta linha de pesquisa teria como objetivo o melhoramento genético de urubus para obter uma espécie que não voasse tão alto, evitando assim o choque com aviões.

Foi aí, então, que um dos calouros perguntou: "Se eu estou entendendo", disse ele, "vocês querem fazer melhoramento genético de urubus." "Isso mesmo", respondi. "Mas não seria mais fácil", retrucou, "buscar alguma solução nos aviões para que os urubus não entrem nas turbinas?" Como não podia dar o braço a torcer, respondi que os engenheiros não tinham uma solução aerodinamicamente viável e, como o problema persistia, os biólogos entraram em ação.

Trotes à parte, no dia seguinte fui surpreendido pela notícia de que cientistas brasileiros estão sendo festejados por terem identificado genes do verme Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose, que poderiam servir como vacina contra essa doença. Conforme o que foi divulgado, cobaias vacinadas retêm 50% a menos de vermes e, como convém às pesquisas de destaque, o resultado acabava de ser publicado em renomada revista internacional, e a devida patente dos genes já estava sendo requerida nos EUA.

A pesquisa mereceu atenção sobretudo porque a doença, conhecida também como barriga d’água, atinge 10 milhões de pessoas só no Brasil. É típica de países subdesenvolvidos e de locais sem saneamento básico, pois o verme chega ao corpo humano após o contato com as chamadas "lagoas de coceira", onde vivem os caramujos que abrigam o verme.

O trabalho baseou-se no seqüenciamento do genoma do Schistosoma e consumiu milhões de dólares dentro e fora do Brasil. Ele, contudo, parece não ter como objetivo principal erradicar a doença, e, em certa medida, segue o mesmo raciocínio absurdo do melhoramento genético de urubus. Não seria mais fácil investir em outro ponto?

Sendo a doença um problema de saneamento, não seria mais fácil investir no tratamento da água? Ainda que isso não fosse possível, não seria mais fácil esclarecer a população quanto à relação de causa e efeito entre nadar em lagoas de coceira e ficar barrigudo? Não valeria a pena estudar maneiras de como reduzir as populações de caramujos, de maneira parecida com o que é feito com o mosquito transmissor da dengue? Há muito tempo existem pessoas trabalhando nessas áreas, mas seu financiamento é infinitesimal quando comparado ao dos projetos que envolvem seqüenciamento.

Isso mostra que a motivação maior de alguns cientistas não é erradicar a doença, mas sim fazer a pesquisa da moda, publicar artigos, fazer uma carreira brilhante resolvendo problemas que não existem. Poder-se-ia argumentar que se trata de pesquisa básica, em que estão sendo desenvolvidas técnicas que podem lançar luz nas teorias da biologia. Entretanto, nem esse ponto de vista é aceitável, pois o seqüenciamento é meramente uma técnica, que em boa parte pode ser executada por qualquer pessoa bem treinada e na qual não deveríamos desperdiçar nossos graduandos e pós-graduandos. Estes deveriam pensar em problemas reais e não apenas em publicar artigos e fazer carreira com pesquisas sem objetivo.

Mas o pior de toda a história é que as agências de fomento à pesquisa, como CNPq, Capes e Fapesp, entraram nessa onda: projetos que incluem os termos "genoma" ou "seqüenciamento" parecem ter chances maiores de conseguir financiamento, mesmo que seus objetivos não sejam muito claros. Esse tipo de pesquisa incrementa os "indicadores científicos" do Brasil, como número de doutores "formados", artigos publicados etc. Mas nem sempre atende aos interesses do país.

E a imprensa tem sido pouco crítica em relação a essa situação. O sensacionalismo impera, decifrar o genoma é a panacéia. Apesar de muita coisa seqüenciada, poucas são as soluções teóricas ou aplicadas. Será que decifrar genomas é o caminho para os cientistas tupiniquins?


* Mestre em biologia e professor do ensino fundamental

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A Felicidade reinventada - Prozac

A FELICIDADE REINVENTADA - Prozac



Lançado na década de 80 pelo laboratório Eli Lilly, o Prozac revolucionou o tratamento contra a depressão. O mérito da chamada "pílula da felicidade" foi reduzir os efeitos colaterais que, até então, eram muito acentuados nos outros remédios antidepressivos, trazendo uma sensação de bem-estar para o paciente. Com o Prozac, diminuiu a ocorrência de efeitos como prisão de ventre, queda da pressão sangüínea, distúrbios cardíacos, ganho de peso e tontura. Estima-se que mais de 40 milhões de pessoas no mundo já tenham usado o medicamento desde o seu surgimento, em 1986.

O princípio ativo do Prozac é o cloridrato de fluoxetina. Ele faz parte de um grupo de medicamentos chamados de "inibidores seletivos da recaptura da serotonina". A serotonina é um dos neurotransmissores do cérebro e atua na comunicação entre as células nervosas - os neurônios. Inibindo a sua recaptura pelas células nervosas, o Prozac aumenta o nível de serotonina disponível no cérebro. Isso facilita a transmissão da informação entre os neurônios e alivia os sintomas da depressão. Os antidepressivos mais antigos influenciam vários neurotransmissores ao mesmo tempo e, por isso, podem trazer mais efeitos indesejáveis. Já o Prozac atua de forma específica na serotonina.

O Prozac também tem sido usado para o combate de outras desordens, como a síndrome do pânico, a bulimia e o distúrbio obsessivo compulsivo (DOC). Críticos alertam para o uso indiscriminado do medicamento, às vezes utilizado para resolver problemas como timidez, ansiedade e tristeza, que não deveriam ser tratados com remédios. Os efeitos colaterais conhecidos do Prozac são agitação, insônia, dor de cabeça, náusea e secura na boca. A aparente ausência de efeitos perigosos transformou o Prozac num remédio fácil de ser receitado por médicos.

Nos últimos anos, no entanto, alguns advogados de presos acusados de assassinato nos Estados Unidos começaram a alegar que seus clientes cometeram o crime sob a influência do medicamento. Houve também uma série de acusações de que o antidepressivo provocaria obsessões suicidas. Alguns pacientes chegaram a entrar com processo na Justiça contra a Eli Lilly. Os defensores do Prozac argumentam que as taxas de suicídio são mais altas entre pessoas que estão deprimidas e que a incidência de suicídio entre os que tomam Prozac não é maior do que entre os que tomam outros medicamentos antidepressivos.
Após o sucesso do Prozac, outros "inibidores da recaptura da serotonina", como Zoloft, Paxol e Nuvoz, apareceram no mercado. Nos últimos anos, foram lançadas também versões genéricas do medicamento, pois a patente expirou e laboratórios concorrentes puderam comercializar produtos com o mesmo princípio ativo do Prozac.

O impacto da descoberta
O Prozac revolucionou o tratamento contra a depressão ao reduzir os efeitos colaterais em relação a outros remédios antidepressivos. Seu sucesso estimulou o surgimento de drogas semelhantes no mercado

Virou estrela
Verdadeira febre nos Estados Unidos, o Prozac se tornou famoso no mundo inteiro por ser consumido por celebridades como o magnata do ramo imobiliário Donald Trump. Graças ao seu sucesso, o antidepressivo virou ele mesmo uma celebridade. Foi capa de inúmeras revistas e tema de diversos programas de rádio e de televisão. Apareceu até em uma citação do ator e diretor Woody Allen no filme Um Misterioso Assassinato em Manhattan (1993): "Não há nada de errado com você que não possa ser curado com um pouco de Prozac e um taco de pólo", diz seu cômico personagem. Mais recentemente, o medicamento foi tema do filme Amor, Curiosidade, Prozac e Dúvidas (2001), do diretor Miguel Santesmases, que adaptou um romance homônimo da espanhola Lucía Etxebarría, best seller na Europa. No mesmo ano foi lançado Nação Prozac, do diretor Erik Skjoldaejrg. Estrelado pelas atrizes Christina Ricci e Jessica Lange, o filme é baseado no romance autobiográfico de Elizabeth Wurtzels, ex-crítica de música da revista New Yorker. O livro conta a história de uma garota que passa por crises agudas de depressão e chega a tentar o suicídio, antes de ser tratada com Prozac.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Quem tem medo dos Clones ? - Clonagem

QUEM TEM MEDO DOS CLONES? - Clonagem



Em fevereiro de 2004, uma equipe de cientistas da Universidade Nacional de Seul, na Coréia do Sul, anunciou ter conseguido pela primeira vez clonar embriões humanos e desenvolvê-los até o estágio necessário para extrair células-tronco - células com capacidade de se transformar em qualquer tipo de tecido. A experiência torna mais próxima da realidade a clonagem humana completa, seja para fins terapêuticos, seja para fins reprodutivos.

A clonagem terapêutica possibilitaria, por exemplo, reconstituir a medula de um paraplégico ou substituir o tecido cardíaco de uma pessoa que sofreu infarto. Já a clonagem reprodutiva seria a tentativa de produzir uma cópia de um indivíduo - uma prática condenada pela maioria dos cientistas. Os pesquisadores sul-coreanos defendem a clonagem apenas para o combate a doenças e são contrários à clonagem reprodutiva.
A clonagem humana já havia sido anunciada anteriormente. Foi a primeira vez, porém, que os cientistas descreveram detalhadamente todos os passos de seu estudo. A técnica utilizada pelos sul-coreanos é semelhante à que criou a ovelha Dolly, em 1996, na Escócia. Eles coletaram óvulos de 16 mulheres, removeram o núcleo e colocaram no lugar o material genético de uma célula adulta das doadoras. Depois, usaram uma combinação química para simular um efeito semelhante a uma fecundação. A técnica funcionou em parte dos óvulos. Eles desenvolveram-se até chegar ao estágio de embriões de cinco dias, chamados blastocistos, um conjunto de cerca de 100 células. De alguns desses blastocistos os cientistas conseguiram retirar as células-tronco, que dão origem a diferentes órgãos na formação do feto. A técnica é polêmica porque, para obter as células-tronco, é necessário destruir embriões humanos. O Vaticano comparou o experimento à ação nazista em campos de concentração. "Não se pode destruir a vida humana na esperança de encontrar remédios para salvar outras vidas", afirmou o monsenhor Elio Sgrecia.

Sinal amarelo
Primeiro animal clonado a partir da célula adulta de um mamífero, a ovelha Dolly nasceu em 5 de julho de 1996, em um experimento conduzido pelo Instituto Roslin, de Edimburgo, na Escócia. Anunciada como um verdadeiro "milagre" da ciência, Dolly logo se tornou a ovelha mais famosa do mundo. De aparência externa normal, o animal nasceu, porém, com anomalias cromossômicas. Em 1999, os cientistas perceberam que as células de Dolly sofriam de envelhecimento precoce. Em 2002, quando estava com 5 anos e meio, foi diagnosticado que ela sofria de artrite. Finalmente, em fevereiro de 2003, depois de desenvolver uma doença pulmonar progressiva, típica de ovelhas com o dobro da sua idade, Dolly teve de ser sacrificada.
A morte prematura do animal acendeu uma luz amarela para os riscos da técnica de clonagem, ainda mais diante dos rumores de que a empresa Clonaid, ligada a uma seita religiosa, já teria clonado bebês, embora nunca tenha apresentado comprovação científica. O cientista escocês Ian Wilmut, do Instituto Roslin, considerado o "pai da Dolly", manifestou-se várias vezes contra a clonagem reprodutiva de seres humanos, pelos riscos envolvidos. Para ele, "seria completamente irresponsável pensar em produzir uma pessoa". Wilmut, no entanto, em artigo publicado em fevereiro deste ano na revista New Scientist, mostrou-se menos inflexível em relação ao uso da técnica para finalidades terapêuticas. "A clonagem pode oferecer tantos benefícios que seria imoral não fazê-la", escreveu Wilmut.

O impacto da descoberta
A clonagem de embriões humanos abre a possibilidade de, no futuro, uma pessoa usar suas próprias células para curar doenças, graças à capacidade das células-tronco de se transformar em tecidos. Mas a técnica envolve várias questões legais e éticas

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Tabela Periódica ganha 112º elemento

11/06/09 - 08h17 - Atualizado em 11/06/09 - 09h56

Tabela Periódica ganha 112º elemento
Elemento superpesado descoberto por cientistas alemães existe apenas por alguns segundos e se desfaz.

Cientistas na Alemanha estão tentando encontrar um nome para o mais novo elemento da tabela periódica, que recebeu o número 112. Depois de mais de uma década de seu descobrimento, o elemento de número atômico 112 (que é a quantidade de prótons do núcleo) foi aceito oficialmente na tabela e recebeu, temporariamente, o nome de "ununbium". Ele é superpesado e altamente instável - existe por apenas alguns milionésimos de segundo e depois de desfaz.

Demorou muito para que a descoberta da equipe alemã do Centro para Pesquisa de Íons Pesados, liderada por Sigurd Hofmann, fosse reconhecida oficialmente pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC, em inglês). É que sua existência teve que ser confirmada de maneira independente - até agora apenas quatro átomos foram observados.

A Tabela Periódica dos elementos químicos é a disposição sistemática dos elementos, na forma de uma tabela, em função de suas propriedades. É muito útil para prever as características e tendências dos átomos.

Corrida por super-pesados
Hofmann começou sua busca por elementos para a tabela periódica em 1976. Para criar o elemento 112, a equipe usou um acelerador de partículas com 120 metros de comprimento para lançar um fluxo de íons de zinco contra átomos de chumbo. Os núcleos dos dois elementos se fundiram para formar o núcleo do novo elemento.

Estes núcleos muito grandes e pesados também são muito instáveis. Eles começam a se desintegrar pouco depois de formados. Isso libera energia, que os cientistas podem medir para descobrir o tamanho do núcleo que está se desfazendo.

Mas tais experiências resultam em poucas fusões bem sucedidas, e os cientistas precisam de aceleradores de partículas cada vez mais poderosos para realizar experiências mais longas e descobrir os elementos mais evasivos e instáveis.

Equipes de pesquisadores na Rússia, nos Estados Unidos e no Japão estão participando do que Hofmann qualificou como "uma competição amistosa" para descobrir elementos novos e mais pesados.