terça-feira, 21 de outubro de 2014

Substância derivada de planta trata dependência, diz estudo da Unifesp


Substância derivada de planta trata dependência, diz estudo da Unifesp


Pesquisa com ibogaína avaliou 75 usuários drogas como cocaína e crack.
Parcela dos que continuavam longe das drogas depois de 1 ano foi de 72%.



Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) comprovou a eficácia do uso de uma substância derivada de planta, a ibogaína, no tratamento da dependência química. A equipe, liderada pelo psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, testou a estratégia em 75 pacientes com dependência química que, além de receberem a substância, também se submeteram a sessões de psicoterapia. Ao final de um ano, 72% permaneciam longe das drogas.
O estudo foi publicado no fim de setembro na revista britânica “Journal of Psychopharmacology”.
A ibogaína é derivada da raiz da planta iboga, nativa do Gabão, na África. De acordo com o médico Bruno Rasmussen Chaves, um dos autores do estudo, a substância estimula a produção do hormônio GDNF, que por sua vez estimula as conexões entre os neurônios e promove um equilíbrio dos neurotransmissores.
“O uso de drogas altera o funcionamento dessas conexões entre os neurônios, as sinapses, desequilibrando as proporções entre os neurotransmissores. A ibogaína coloca o cérebro do paciente em um estado muito semelhante de equilíbrio e funcionamento de quando nasceu. Ele volta a ter o mesmo padrão que tinha antes das drogas”, diz.
Segundo o especialista, esse reequilíbrio promove um bem-estar físico e mental, que leva o paciente a ficar mais consciente de si mesmo. Esse processo facilita o trabalho do terapeuta e faz com que o paciente tenha maior aderência à terapia. Para obter esse efeito, a recomendação é que o paciente receba uma dose única da substância.
Entenda o estudo
O estudo foi feito com 75 usuários de drogas que consumiam principalmente cocaína e crack, mas alguns usavam também álcool e maconha.
Ao todo, havia 8 mulheres e 64 homens. A princípio, eles foram submetidos a um tempo variável de psicoterapia e a exames para verificar se seu organismo estava com condições propícias para receber o medicamento à base de ibogaína. “Encaramos esse tratamento como uma pequena cirurgia. É uma coisas simples, mas não se pode fazer em uma pessoa com diabetes desequilibrada ou pressão descontrolada”, diz Chaves.
Para receber o medicamento, por via oral, eles ficaram internados por um período de 24 a 48 horas. “Nesse período, eles ficam deitados sob o efeito da medicação. Há algumas reações como tontura, náusea, vômito, tremor e um estado de confusão mental. Nesse momento, o paciente fica em um estado intermediário entre vigília e sonho”, explica Chaves.
Depois do período de internação, os pacientes iam para casa e ficavam em acompanhamento psicológico e psiquiátrico por tempo variável. Depois de um ano, 72% dos pacientes estavam abstinentes. Entre as mulheres, o índice de sucesso foi de 100% e, entre os homemns, foi de 55%.
“Isso não quer dizer que a estratégia seja muito melhor em mulheres do que homens. O grupo de mulheres era muito pequeno e, por uma coincidência feliz, todas se desenvolveram muito bem. Mas mesmo entre os homens, o índice de sucesso ainda foi 5 vezes maior do que o tratamento tradicional, só com psicoterapia”, diz o médico.
Ele observa que não é um tratamento para qualquer um, “mas para pacientes muito graves, que não responderam a outros tratamentos anteriormente e já passaram por inúmeras internações”.  Segundo ele, não há risco de a ibogaína promover dependência, pois ela não tem potencial recreativo: a experiência de consumi-la é extremamente desconfortável.
O medicamento usado no estudo é produzido no Canadá, onde a ibogaína é aprovada e usada em tratamentos contra dependência química. No Brasil, não há uma regra que regulamente a substância, mas, caso ela seja receitada por um médico, pode ser importada.

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