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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Um Santuário para os Rinocerontes - Natureza



UM SANTUÁRIO PARA OS RINOCERONTES - Natureza



Os governos de países africanos patrocinam operações de salvamento para manter fora da mira dos caçadores de chifres os sobreviventes das chacinas que quase extinguiram duas espécies desses animais.

Depois de milhões de anos de existência relativamente pacífica, este século tem sido uma calamidade para um bicho sonolento e solitário, míope e vegetariano, de casca grossa e humor imprevisível, que mede mais de 3 metros do focinho ao rabo e pesa um bom par de toneladas - o poderoso rinoceronte. Para sua desgraça, o homem cismou de acreditar que o par de chifres que ele carrega acima do nariz, o maior com uns 60 centímetros, tem extraordinárias propriedades medicinais quando reduzido a pó: analgésico, antiespasmódico, antiinflamatório, diurético e, ainda por cima, afrodisíaco.
Ao que tudo indica, os primeiros a acreditar nessa lenda foram os chineses. Outros povos do Oriente, igualmente desinformados, aderiram ao mito, apesar dos desmentidos zangados dos médicos e da negativa igualmente cabal de sucessivos testes de laboratório, o mais recente deles realizado na Suíça em 1982. Resultado: o pó de chifre de rinoceronte é vendido a peso de ouro e o animal paga por isso com a vida. Trata-se, para piorar as coisas, de um produto em alta, cujo preço multiplicou-se por cem - isso mesmo, cem - nos últimos cinco anos. Nos mercados semiclandestinos de Cingapura, Formosa e Hong Kong, o quilo de chifre transformado em pó alcança milhares de dólares, batendo folgadamente o ouro.
Além disso, no Iêmen do Norte, no Oriente Médio, um cabo de adaga esculpido do mesmo material chega a ser negociado por mais de 10 mil dólares. A caça a esse remanescente da Pré-história equivale a um verdadeiro genocídio. De fato, se no fim do século passado, como se supõe, as cinco espécies de rinocerontes existentes no mundo (duas na África e três na Ásia) somavam 1 milhão de indivíduos, hoje o total é estimado em 10 mil. A maior espécie asiática (Rhinoceros unicornis) sobrevive no Nepal e no noroeste da Índia, com mil indivíduos. Outras se extinguem nas ilhas de Java e Sunda e nas Florestas da Birmânia e Malásia. Nas savanas da África, o alvo predileto dos caçadores é o chamado rinoceronte-preto (Diceros bicornis).
No Zimbábue, país do Sudeste africano até há pouco tido como um dos derradeiros lugares seguros para essa espécie, em média um rinoceronte é abatido todos os dias a tiros de fuzil de grosso calibre. Há duas décadas, ainda existiam 60 mil rinocerontes-pretos livres, fora de reservas e parques zoológicos. Atualmente, não devem restar mais de 3 mil, cerca de quinhentos dos quais no Zimbábue, a antiga Rodésia, que considera esse bicho um símbolo nacional. O rinoceronte-preto pesa entre 1700 quilos e poucos mais de 2 toneladas, perdendo em tamanho e peso para a outra espécie de rinocerontes africanos, a dos brancos (Ceratotherium simmum), que chega a pesar 4 toneladas. 
Pretos e brancos, na realidade, têm a mesma cor de lama acinzentado-escura - os nomes são conseqüência de um mal-entendido. Os exploradores ingleses achavam que wodje - palavra de língua africana significando "grande" - queria dizer white, "branco"; a outra espécie acabou sendo conhecida como preta, por simples oposição. Apesar do tamanho e da blindagem que os reveste, ao pegar embalo os rinocerontes africanos são capazes de correr a 50 quilômetros por hora - um desempenho terrível quando eles investem contra outros bichos em rompantes de fúria, mas definitivamente insuficiente para escapar aos caçadores profissionais de armas azeitadas e mira excelente.
O rinoceronte é diferente de outros animais chifrudos: seus tão valorizados cornos têm uma composição peculiar, pois nada mais são do que um compacto de finíssimos fios de cabelo unidos pela proteína queratina, substância dura que forma também as unhas. Na Ásia está cada dia mais difícil comprar chifre de rinoceronte - não tanto por causa da vigilância dos governos, mas pela escassez de animais. Por isso, os caçadores de rinocerontes, capazes de arrancar seus chifres em menos de 45 segundos, depois de abater o animal, partiram rumo à África nesta última década. O Zimbábue, porque sempre tratou de proibir a atividade desses invasores, foi o último país procurado pelos comerciantes de chifres.
Mesmo assim, desde 1985, quando o governo decretou o estado de emergência para impedir a carnificina, os guardas-florestais já encontraram aproximadamente quinhentos rinocerontes mortos. O número verdadeiro, imagina-se, deve ser até maior. O governo acabou autorizando que guardas-florestais fossem treinados como guerrilheiros com ordens de atirar para matar, instalados em vários postos de vigia ao longo dos 200 quilômetros da margem direita do rio Zambeze, na fronteira norte com Zâmbia - a porta de entrada da maioria dos caçadores. Além disso, foi iniciado um programa salvador destinado a deslocar animais do vale do Zambeze até os santuários de rinocerontes - verdadeiros esconderijos sob proteção oficial, cuja localização exata é mantida o quanto possível em segredo. Já existem seis desses refúgios, cada um com 26 mil hectares.
Para garantir a sobrevivência dos rinocerontes-pretos ainda existentes em seu território, o Zimbábue precisa ter outras dez áreas como essas. Como o país é pobre e as operações de salvamento são caras, apenas dois ou três animais são transferidos por dia. Mesmo com tais limitações os números demonstram que o projeto vale a pena: dois anos após seu início, já se conseguiu tirar nada menos de trezentos animais da mira dos caçadores. Toda a operação transcorre em ritmo de aventura. Para resgatar um rinoceronte-preto são necessários mais de cinquenta homens. Ao se avistar o animal, ele é alvejado por um projétil disparado de um fuzil que contém uma dose de tranquilizante. Esta deve ser a menor possível, pois se sabe que os rinocerontes são bastante sensíveis à droga.
Atordoado, o animal nem chega a tombar: fica parado, como se tivesse perdido a vontade ou a força para se movimentar. Nas vezes em que isso não acontece imediatamente, o rinoceronte ainda corre alguns quilômetros até o remédio produzir total efeito. Para que ele não escape, o helicóptero de onde toda a operação é coordenada indica pelo rádio o lugar em que o animal se encontra. Então, deslocam-se para ali caminhões e dezenas de homens a pé. Estes, por sinal, costumam ser os primeiros a chegar, por causa da precariedade das estradas naquelas lonjuras. Há ocasiões em que os veículos só chegam ao rinoceronte depois de quatro horas de viagem, quando o bicho já foi amarrado e deitado de lado, para evitar que sufoque, como pode acontecer caso o anestésico o faça desmoronar.
Para colocar o animal no caminhão, o ideal seria um equipamento mecânico. À falta deste, é preciso a força de quarenta homens e o serviço não dura menos de meia hora. Já no acampamento do Parque Nacional do Zimbábue, o rinoceronte é deixado numa jaula a céu aberto. Ali, um veterinário examina o seu sangue e a sua resistência motora. Em seguida, o bicho é numerado. A rotina do acampamento gira em torno das refeições desses hóspedes temporários, que parecem fazer questão de manter todo o seu espantoso peso: sempre comendo, são capazes de ingerir até 100 quilos de alimentos por dia. Por isso, é necessária uma equipe para colher galhos e mais galhos, oferecidos sem cessar aos animais.
Nem todos os rinocerontes-pretos, contudo, vão para os refúgios. Alguns são exportados para criar novas populações em outros países. O Quênia, na África Oriental, valeu-se desse recurso depois que seus rinocerontes estiveram à beira da extinção há dez anos. O Quênia, por sinal, é uma prova de que uma política inteligente de preservação da vida animal dá resultados. No começo do ano, o governo de Nairóbi anunciou orgulhosamente que o número de rinocerontes-pretos em suas quatro reservas especiais tinha superado a casa de seiscentos, um ganho de uma centena em relação aos dados estimados em 1988.
Ao chegar ao parque, o rinoceronte não é libertado de imediato. O problema é que esse animal imenso, com fama de ranzinza e capaz de reações violentas quando não está acostumado ao contato com humanos, é na realidade um grande medroso. Com o choque da captura ainda presente na memória, se fosse libertado na hora da chegada aproveitaria a oportunidade sem pestanejar: sairia feito um fugitivo em desabalada carreira, até perder o fôlego, algo extremamente perigoso para uma espécie cujo sistema respiratório é frágil em situações de sobrecarga física. Ainda enjaulado, o rinoceronte permanece observado pelos veterinários e recebe um tratamento de primeira classe, que inclui refrescantes chuveiradas todos os dias. Depois de algum tempo, quando se percebe que o rinoceronte se acostumou ao novo ambiente, é solto, enfim, para viver em paz, longe dos caçadores como seus ancestrais.

BICHO DE FARO FINO, DADO A ACESSOS DE IRA

Há 55 milhões de anos, a família dos Rhinocerotidae era formada por espécies que circulavam também em amplas regiões da Europa. Fósseis congelados mostram que na Sibéria havia uma espécie de rinoceronte cujo corpo era coberto por espessa camada de lã. As cinco espécies que sobreviveram até os tempos atuais têm, ao contrário, um couro pelado, embora muito resistente. Enxergando como um míope sem óculos, o rinoceronte se guia por um apurado faro, graças ao qual localiza o alvo de suas chifradas. Quem o observa, aliás, tem a falsa impressão de que ele vive afiando sua arma natural, pela maneira como esfrega nos galhos das árvores os dois chifres (o rinoceronte da Índia e o de Java só possuem um).
De qualquer modo, seus acessos de fúria não parecem ter motivo claro para os zoólogos. Afinal, com a imponência de seu tamanho, o rinoceronte adulto desconhece o que é ter inimigos - qual leão se atreveria a lançar seus 200 quilos contra as 2 ou 3 toneladas desse brutamontes? O rinoceronte, além de forte, é antes de tudo um solitário. É cada um por si, a não ser nas épocas de acasalamento. Essas não são freqüentes - um fato natural que também contribui para manter relativamente baixo o crescimento demográfico dos rinocerontes. As fêmeas preferem intervalos de até quatro anos entre uma gestação e outra. Compreende-se: a gestação dura dezenove meses. Para dificultar ainda mais a sobrevivência da espécie, tende a nascer só um filhote por gravidez - e este levará oito anos até se tornar sexualmente maduro

terça-feira, 26 de abril de 2011

Os ETs caem no samba

OS ETS CAEM NO SAMBA



Alienígenas levados para autópsia na Universidade de Campinas, abduções na Amazônia, espaçonaves perseguidas pela Força Aérea Brasileira nos céus do Rio de Janeiro. Será que algum autor de novela resolveu apelar para aumentar a audiência no horário nobre? A comunidade ufóloga brasileira garante que todos os fatos acima são reais. Ou você achou que era só em Roswell, nos Estados Unidos - ou em Hollywood - que apareciam ETs? Marco Antônio Petit, presidente da Associação Fluminense de Estudos Ufológicos (Afeu) e co-editor da revista UFO (sigla em inglês para Unidentified Flying Object, ou objeto voador não-identificado), por exemplo, acredita que nossos militares são tão eficazes quanto os americanos na hora de acobertar evidências de OVNIs e sonegar informações à população. Para ele, o silêncio dos governos mundiais sobre visitas alienígenas costuma ter duas razões: evitar o pânico e monopolizar o aprendizado com a tecnologia avançada dessas civilizações. O governo, por sua vez, diz que não libera informações porque elas não existem - ou então são insuficientes para qualquer conclusão.

quinta-feira, 31 de março de 2011

História Fugaz - Cachorrito de charco la palma

HISTÓRIA FUGAZ - Cachorrito de charco la palma


O cachorrito (que significa "filhote", em espanhol) era um peixe minúsculo, com não mais que quatro centímetros de comprimento. A história da extinção dessa espécie soa ainda mais triste pelo fato de a ciência ter convivido com ela por apenas cinco anos. O peixe foi descoberto em 1993, quando uma colônia com algumas dezenas de exemplares foi identificada por pesquisadores em meio a algas e plantas aquáticas de um banhado mexicano conhecido como Charco La Palma, na cidade de Aramberri, Estado de Nuevo León. A partir de 1998, contudo, os cachorritos deixaram de ser encontrados em seu habitat. Pressentindo a extinção da espécie, os cientistas haviam capturado alguns exemplares e tentado a reprodução em cativeiro, mas sem sucesso. Como não se tem notícia de outro lugar em que o Cyprinodon longidorsalis exista, a espécie foi então considerada extinta. Pelo seu tamanho, o cachorrito dava a impressão de extrema fragilidade. Mas o gênero Cyprinodon é reconhecido pela grande resistência a variações de temperatura e quantidade de oxigênio na água. Isso faz com que seja capaz de suportar condições hostis para outras espécies. Presume-se que a extinção do cachorrito tenha sido provocada pelo uso excessivo das águas do Charco La Palma para a irrigação. Nos últimos anos, os agricultores da região vêm gradativamente substituindo as plantações de trigo pela fruticultura, uma atividade que exige uso intensivo de água. Com isso, acabou sobrando - ou melhor, faltando - para o pobre cachorrito. Estudiosos estão agora preocupados em evitar o desaparecimento de outras espécies do gênero Cyprinodon que estão ameaçadas de extinção. 5

Cachorrito-de-Charco-la-Palma
Nome científico: Cyprinodon longidorsalis
Ano da extinção: 1998
Habitat: Nuevo León, México

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A fúria de Moby Dick

ESSEX: A FÚRIA DE MOBY DICK



Oceano Pacífico, 20 de novembro de 1820. Mais um dia de trabalho começava para os tripulantes do Essex, que estava há mais de um ano em alto-mar capturando baleias para extrair o óleo usado na iluminação pública e na lubrificação das máquinas industriais. Um dia que entrou para a História. O dia em que, pela primeira e única vez, foi registrado um ataque de uma baleia contra um barco. Um ataque que deixaria os 20 tripulantes à deriva durante três meses, obrigando-os até a comer os próprios companheiros mortos para não passar fome - e que serviria de inspiração para um dos maiores clássicos da literatura mundial, Moby Dick (leia mais no quadro da página 32).Hoje, a caça é largamente condenada, mas no início do século 19 a extração do óleo de baleia era uma importante atividade econômica. A ilha de Nantucket, na costa leste dos Estados Unidos, era um dos maiores centros baleeiros. Mais de 70 embarcações iam e vinham constantemente. O trajeto era bem conhecido dos marinheiros: pelo Atlântico, rumo ao sul. Os barcos, porém, só retornavam ao porto com os porões cheios.

Por isso, era preciso contornar a América do Sul em direção ao Oceano Pacífico. Era exatamente isso que o Essex tinha feito. Naquela manhã de novembro, ele contava com aproximadamente 700 barris de óleo, metade de sua capacidade total. O céu estava claro e havia pouco vento (clima perfeito para caçar) quando os esguichos dos cetáceos foram avistados - e os botes se lançaram ao mar. O primeiro imediato Owen Chase logo teve de dar meia-volta para reparar seu barco, atingido pela cauda de uma baleia, fato bastante corriqueiro. Foi quando a tragédia começou. O camareiro Thomas Nickerson, que ajudava Chase no conserto, viu algo estranho. Era um cachalote macho, com 26 metros de comprimento, cerca de 8 toneladas e a cabeça cheia de cicatrizes. O bichão não era apenas enorme. Estava a menos de 35 metros do Essex e nadava em direção a ele, com a cauda de 6 metros de largura chacoalhando para cima e para baixo.

"Olhamos uns para os outros com total espanto, quase mudos", escreveu Chase no livro Narratives of The Wreck of the Whale-Ship Essex, em que relata o episódio. Foi tudo muito rápido. De um golpe, o animal atingiu a parte frontal do navio. Em seguida, passou por baixo do casco, arrancou a quilha e emergiu do outro lado. Afastou-se um pouco e voltou ao ataque. Em grande velocidade, atingiu o barco logo abaixo da âncora. O Essex estava condenado a ser enterrado no fundo do mar. A baleia se desvencilhou dos destroços e saiu nadando para nunca mais ser vista.

Terror no mar
Chase, 22 anos, era tripulante do Essex desde 1815. Pela primeira vez, fazia uma viagem na condição de primeiro imediato (o último passo antes de se tornar capitão). Thomas Nickerson estreava no mar e era o mais jovem dos marinheiros. Tinha apenas 14 anos e sonhava desde criança em partir com um baleeiro. Mal sabia ele que o barco, com mais de duas décadas de serviços no mar (e fama de pé-quente), faria sua última viagem. Todos estavam preparados para ficar até três anos a bordo. No momento do ataque, porém, foi só desespero. Owen, Nickerson e outros sete homens tiveram de correr para tirar o máximo de provisões dos destroços do Essex e colocar na baleeira. A poucos metros de distância, os 11 tripulantes que estavam nos dois botes que espreitavam as presas na água quase não acreditavam no que viam. "Nenhuma palavra foi dita por vários minutos", relatou Chase em seu livro. Com muito esforço, foi possível recuperar 270 quilos de bolachas, um pouco de água doce, algumas tartarugas que haviam sido capturadas nas Ilhas Galápagos e instrumentos de navegação.

Quando o sol raiou, todos se dividiram nos três barcos menores e se prepararam para partir. Tinham duas opções: ir até as ilhas Marquesas, na Polinésia, a 1200 milhas (cerca de 2 mil quilômetros), ou tentar chegar à costa da América do Sul, bem mais distante. Por medo dos canibais que, dizia-se, habitavam a região das Marquesas, escolheram a segunda alternativa. O destino se revelaria de uma trágica ironia (veja no infográfico da página 30 o percurso feito pelos náufragos).

Em meio às águas geladas do Pacífico, os marujos experimentaram novos limites de sobrevivência. Muitos nem conseguiam dormir, só de pensar no desastre. E a natureza não ajudava em nada. Os ventos fortes desviavam as baleeiras do destino sonhado e os jatos de água salgada deixavam todos molhados e com frio. Os cabelos começaram a cair e a pele queimada pelo sol cobria-se de dolorosas feridas. O primeiro grande desafio foi mesmo a fome. A pouca comida resgatada proporcionava apenas 500 calorias diárias para cada um - menos de um terço do necessário para um adulto. Para piorar, logo no terceiro dia parte das bolachas se perdeu depois que o bote de Chase foi atingido por uma onda. Em seguida, as bolachas do bote do capitão George Pollard Jr. se estragaram.

O próximo martírio foi a sede. "A violência da sede delirante não encontra paralelo no catálogo das calamidades públicas", observou Chase na época. Resultado: gargantas irritadas, saliva grossa e língua inchada. Pouco mais de 20 dias depois, a solução foi beber a própria urina. Ao final do primeiro mês à deriva, uma esperança renasceu. O grupo avistou terra firme. Não foi muito difícil chegar até a ilha, mas ela tinha pouco (em termos de comida e bebida) a oferecer aos náufragos, que ficaram apenas uma semana e voltaram ao mar. Três marinheiros acharam melhor ficar do que se arriscar naquela viagem rumo ao desconhecido. Os outros dividiram-se nos três botes e seguiram em frente, para mais privações e perigos.

De cara com a morte
No caminho, um dos barcos se perdeu - para sempre. E em 20 de janeiro de 1821 morreu Lawson Thomas, um dos tripulantes do bote do arpoador Obed Hendricks. Era a terceira morte desde o afundamento do Essex. Até então, os corpos eram jogados ao mar. Naquele momento, uma necessidade se impôs: por que não usá-lo como alimento? Por mais que o canibalismo fosse visto como um ato incivilizado, a prática era razoavelmente disseminada nos oceanos, uma saída legítima para a sobrevivência. Cruel ironia. Meses antes, todos preferiram evitar as ilhas Marquesas por medo dos canibais. Agora, estavam prestes a comer um de seus companheiros. O jeito foi retirar todos os sinais de humanidade, como cabeça, mãos e pés. Em registros posteriores, o capitão Pollard Jr. contou que, antes de ser comidos, os órgãos e a carne eram assados numa pequena chama acesa sobre uma pedra chata no fundo do bote.

Não demorou muito para o desespero atingir níveis ainda maiores. Apenas duas semanas mais tarde, diante da absoluta falta de comida, decidiu-se fazer uma espécie de votação para definir quem seria o próximo a servir de alimento aos sobreviventes. No dia 6 de fevereiro, Owen Coffin, então com 18 anos, foi o escolhido. Ele era primo do capitão - e estava no mesmo bote. A mãe do garoto, Nancy, nunca perdoou o sobrinho por não ter impedido tamanha crueldade com o filho - e, o que é ainda pior, por ter ele próprio se alimentado daquela carne. "Ela ficou quase louca ao saber daquilo e nunca mais tolerou a presença do capitão", escreveu Nickerson.

A tragédia estava por terminar. Doze dias depois, em 18 de fevereiro de 1821, quase três meses após o naufrágio, o primeiro barco foi resgatado, navegando sem controle na altura do porto de Valparaíso, no Chile. Com os olhos saltados da cavidade do crânio e o rosto salpicado de sal e sangue, Owen Chase, Thomas Nickerson e o arpoador Benjamin Lawrence tiveram de ser carregados para dentro do navio inglês que os avistou. Cinco dias mais tarde, o bote do capitão Pollard se aproximou da Ilha de Santa Maria, também na costa chilena. Quando os tripulantes do baleeiro Dauphin avistaram a embarcação, só viram ossos. Pollard e Charles Ramsdell estavam encolhidos, cada um em uma extremidade, incapazes de se mexer. Não queriam largar, de jeito nenhum, os ossos que chupavam em desespero, único alimento que restara desde a última morte do grupo. Os três marujos que ficaram na ilha Henderson foram resgatados no dia 9 de abril.

Por mais incrível que possa parecer, os oito homens que sobreviveram à tragédia do Essex acabaram por voltar ao mar. Pollard reassumiu o posto de capitão no inverno seguinte e levou consigo Nickerson, promovido a arpoador. A viagem foi um tremendo fracasso. Pollard decidiu virar vigia noturno em Nantucket. E Nickerson transformou-se em dono de pousadas na ilha. Chase fez mais uma viagem antes de se tornar capitão. Tinha 28 anos - e prosseguiu atravessando os oceanos por vários anos. No entanto, as lembranças daquela manhã de céu azul e pouco vento nunca o deixaram em paz. Morreu em 1869, aos 71 anos, considerado louco. No fim da vida, sentia fortes dores de cabeça que acreditava ser conseqüência do naufrágio. Passou também a esconder comida no sótão de sua casa. Nem mesmo a paixão pelo mar foi capaz de fazê-lo superar as cicatrizes deixadas por aquele cachalote.


Tragédia em quatro momentos

1. O começo do sofrimento

O Essex foi atacado em 20 de novembro de 1820 e a tripulação se refugiou em três botes salva-vidas. No terceiro dia, uma onda quebrou sobre um dos barcos, molhando as bolachas. Os marinheiros fizeram o possível para salvar o alimento, sem sucesso

2. Chuva de peixes voadores

Perto do 20º dia no mar, um cardume de peixes voadores cercou os botes. Quatro se chocaram com as velas improvisadas. Um foi devorado no mesmo instante. Foi a primeira e única vez que todos sentiram vontade de rir - em vez de chorar - da situação em que se achavam

3. Esperança frustrada

Após um mês de naufrágio, muitos já haviam desistido de sobreviver. Mas uma ilha foi avistada e a idéia de encontrar comida e água animou o grupo. Os botes logo voltaram ao mar, mas três tripulantes optaram por ficar. Seriam resgatados, com vida, mais de três meses depois

4. O desespero da fome

Com quase três meses no Pacífico, a morte mostrou sua face. Quando o terceiro faleceu, muitos pensaram: por que não comer essa carne? Até o resgate, seis marinheiros, mortos, foram devorados e um foi assassinado para servir de alimento

Baleia famosa
O ataque ao baleeiro Essex foi um dos desastres mais comentados do século 19. Tanto que serviu de inspiração para um clássico da literatura, Moby Dick, do norte-americano Herman Melville (1819-1891). A idéia de escrever o livro veio depois que ele leu o relato de Owen Chase sobre a experiência. Na versão ficcional, o ataque da baleia é o clímax da história - enquanto na vida real ele foi apenas o início. "Moby Dick é uma colcha de retalhos. Fala de vários temas, da busca de Deus à questão do herói, o que o torna muito singular", comenta Viviane Cristine Calor, que escreveu uma tese de mestrado para a Universidade de São Paulo sobre a obra. Lançado em 1851, Moby Dick foi um fracasso comercial e de crítica. Só teve seu valor reconhecido quando Melville já havia morrido. "Ele estava à frente de seu tempo", destaca Viviane.

Atividade cruel
Pelo menos mil anos antes de Cristo os fenícios já caçavam baleias. Mas a caça em grandes embarcações, como na época do Essex, só foi adotada no século 8 da nossa era, pelos bascos. No século 19, o método de abate era o seguinte: ao avistar a presa, seis homens deixavam o navio num barco a remo e golpeavam a baleia com um arpão, para depois matá-la com uma lança. No início do século passado, as lanças foram substituídas por arpões com explosivos e os botes ganharam motor. Hoje, os baleeiros têm toda a aparelhagem necessária para transformar o animal em produtos devidamente embalados. Essas inovações tecnológicas passaram a representar um grande risco à sobrevivência desses bichos. Calcula-se que ao longo do século 20 mais de 2 milhões de baleias tenham sito mortas pelo homem - e hoje, entre as mais de 40 espécies existentes no mundo, cinco estão ameaçadas de extinção: a azul, a cinza, a bowhead, a jubarte e a franca.

A azul, a franca e a jubarte podem ser vistas na costa brasileira. Felizmente, nosso país proíbe a caça, pois é um dos membros da Comissão Baleeira Internacional, criada em 1946 para impedir a matança desordenada. Em 1986, a entidade aprovou uma moratória à caça comercial, mas nem todos os signatários (são mais de 50) a respeitam. Três países lideram o descumprimento da suspensão, alegando fins científicos para a caça: Japão, Noruega e Islândia.

Presa fácil

Minke
Seu nome científico é Balaenoptera bonaerensis. Japão, Islândia, Groenlândia e Noruega são caçadores vorazes

Cachalote
Foi uma Physeter macrocephallus que atacou o Essex em 1820. O Japão é seu maior algoz

Sei
A Balaenoptra borealis é uma das mais rápidas. Vive em todos os oceanos e é caçada por barcos do Japão

sábado, 31 de julho de 2010

Dupla acha restos da presença de primeiros americanos

26/06/09 - 08h00 - Atualizado em 26/06/09 - 08h00

Dupla acha restos da presença de primeiros americanos em fundo de lago
Descoberta foi feita no lago Huron, um dos Grandes Lagos dos EUA.
Estruturas parecem ter sido usadas para caçar grandes herbívoros.

"O Lago Superior, dizem, nunca devolve seus mortos”. Assim cantava Gordon Lightfoot na música "The Wreck of the Edmund Fitzgerald". Entretanto, com o Lago Huron, a história é outra. Pesquisadores da Universidade de Michigan descobriram evidências de uma antiga cultura de caça debaixo das águas do lago.

Examinando uma elevação subaquática com um sonar de leitura lateral e veículos operados remotamente, John M. O'Shea, do Museu de Antropologia daquela universidade, e Guy R. Meadows, do Laboratório de Hidrodinâmica Marinha, descobriram características rochosas que lembram aquelas usadas atualmente no norte do Canadá para caçar renas. As características submersas datam de aproximadamente 7.500 a 10.000 anos atrás, quando o nível da água era muito mais baixo e a elevação era uma estreita trilha que levava de Michigan a Ontário, dividindo o lago em dois.

Os pesquisadores usaram seu conhecimento sobre práticas atuais de caça a renas, e dados de batimetria do fundo do lago, para encontrar locais de investigação promissores ao longo da elevação, disse Meadows. Entre as características encontradas estava uma linha de rochas baixas, de 1.100 pés, que parece ser uma “travessa de carros”, usada pelos Inuits para conduzir renas além de certo ponto. “Essas pessoas parecem fazer qualquer coisa da forma feita pelos Inuits”, disse Meadows.

Os pesquisadores dizem que podem também ter encontrado evidências de esconderijos de caça, grupos de rochas que os caçadores teriam ocultado para emboscar os animais. As descobertas são relatadas na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences".

As características rochosas foram provavelmente obra dos paleoamericanos, os povos que migraram da Ásia para a América do Norte. As descobertas do lago Huron são as primeiras evidências de traços arqueológicos subaquáticos na região.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Japão mata 680 baleias na Antártida

13/04/09 - 10h04 - Atualizado em 13/04/09 - 10h58

Japão mata 680 baleias na Antártida; caçada fica abaixo da meta
País diz que captura diminuiu por causa de ameaça de ativistas.
Japoneses fazem caça 'científica', mas carne é vendida em restaurantes.

A captura de baleias pelo Japão em sua mais recente caçada na Antártida ficou abaixo da meta do país após manifestações de ativistas contra a pesca desses cetáceos, disse nesta segunda-feira (13) a Agência Pesqueira do Japão.

O Japão, que considera esse tipo de pesca uma estimada tradição cultural, matou 679 baleias da espécie minke, apesar dos planos de caçar cerca de 850 animais. O país também pescou apenas uma baleia-comum, contra uma meta de 50 estimada no início da caça, em novembro. Alguns navios da frota japonesa de seis embarcações retornaram para casa após conflitos com o grupo radical Sea Shepherd Conservation Society, incluindo uma colisão que danificou um dos navios japoneses. A Agência Pesqueira japonesa disse que os navios não continuaram com a pesca em um total de 16 dias, devido ao mau tempo e aos conflitos com os ativistas.

O Japão interrompeu oficialmente a pesca comercial de baleias após entrar em acordo com uma moratória global em 1986, mas começou no ano seguinte o que é chamado de um programa de pesca científica de baleias para pesquisa. A carne de baleia pode ser encontrada em alguns supermercados e restaurantes japoneses.



PUBLICADOS BRASIL NO ORKUT

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